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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Quércia: ‘PMDB não vai entregar a mercadoria a Lula’

Quércia classifica de “arbitrária” a decisão da cúpula do PMDB de firmar um pré-acordo nupcial com a presidenciável petista Dilma Rousseff.

“Estão fazendo uma pressão sobre os diretórios estaduais, de cima pra baixo, uma coisa arbitrária. Mesmo assim, eles vão perder na convenção”.

Presidente diretório do PMDB de São Paulo, Quércia falou ao blog.

Disse que a direção do PMDB mercadeja algo que não está disponível na gôndola.

Fechado com a candidatura presidencial do tucano José Serra , Quércia declarou:

“Eles estão vendendo para o Lula uma mercadoria que não vão entregar”.

Há 18 dias, Quércia reunira-se, em Brasília, com Michel Temer (SP), presidente da Câmara e presidente licenciado do PMDB.Fora a Temer acompanhado de Jarbas Vasconcelos (PMDB-PE) e Ibsen Pinheiro (PMDB-RS).

Pregaram contra a formalização do “noivado” com Dilma.

Foram desatendidos.

Estima-se que o acordo será celebrado dentro de duas semanas, com as bênçãos de Lula, padrinho da união.

Quércia atribui a pressa a dois grão-pemedebês: José Sarney e Renan Calheiros.
Vai abaixo a entrevista:

- Michel Temer não atendeu ao vosso apelo. Por quê?

Estivemos com ele –o Jarbas, o Ibsen e eu. Dissemos que a antecipação do processo era um erro, uma precipitação. Ficou combinado que haveria outra reunião, mais ampla.


- Por que não houve a segunda conversa?

Eles estão fazendo uma pressão sobre os diretórios estaduais, de cima pra baixo, uma coisa arbitrária. Mesmo assim, eles vão perder na convenção. Não estão ouvindo a base do partido.


- Por que chama a decisão de arbitrária?

Isso nunca aconteceu no PMDB. Mesmo no tempo do doutor Ulysses [Guimarães]. Por isso conversamos com o Michel. Nós dissemos: ‘Michel, é preciso ouvir os Estados. Não se pode simplesmente fazer o jogo do governo’. Eu sou membro da Executiva do partido. A Executiva nunca discutiu isso. Mas há toda essa pressão.


- Quem faz a pressão?

Essa pressão é coisa do Renan e do Sarney.


- Temer lidera o movimento, não?

Sim, claro, porque ele está com a expectativa de ser o vice da Dilma. O Sarney e o Renan se aproveitam disso.


- Eles afirmam que a maioria da convenção é pró-Dilma.

Não podem dizer o contrário. Mas tenho sérias dúvidas disso. Eles estão vendendo para o Lula uma mercadoria que não vão entregar.


- O apoio a Dilma não virá por conta da dificuldade de decolar nas pesquisas?

Também por isso, mas não é só isso. O quadro de alguns Estados deverá se definir numa posição contra o PT.


- Que Estados são esses?

São Estados importantes, com muito peso na convenção nacional: São Paulo, Santa Catarina, Rio Grande do Sul, Pernambuco e outros do Nordeste. Há dificuldades no Mato Grosso do Sul, em Minas Gerais...


- Crê que será possível formar uma maioria pró-Serra?

Muitos companheiros acham que eles já perderiam na convenção agora. Pessoalmente, acho que, hoje, eles podem até ganhar. Mas esse quadro vai mudar. Vários diretórios ainda não querem mostrar a cara. Têm interesses a defender no governo. Acham que o Lula vai atender o que eles querem. Mais à frente essa coisa muda.


- Em que momento o PMDB deveria tomar uma decisão?

A decisão final só ocorrerá em junho, na convenção. Acho que tudo deve ser muito bem discutido. Deveríamos começar a preparar a convenção no início do ano que vem.


- O PMDB tem seis ministérios. Não deveria deixar o governo?

Se ficar decidido que o partido ficará com o governo, pode conservar os ministérios. Se o partido decidir apoiar o Serra, aí deve sair do governo. Isso a partir do momento da definição, que não é agora. É na convenção.


- Acha que o PMDB, dividido, pode não fechar com nenhum candidato?

Existe essa possibilidade de ocorrer um impasse. É uma hipótese possível. Eu trabalho pela formalização do apoio ao Serra.


- Por que Serra e não Dilma?

O Serra tem condições de governar melhor o país. Tem um projeto de crescimento econômico para o Brasil, coisa que o Lula não fez. A continuidade desse governo não seria boa para o país.


- Por quê?

Porque é um governo que não fez nada.


- Como explica a popularidade do presidente?

A situação do Lula é muito boa não porque ele está governando bem, mas porque as coisas vão indo bem a despeito do governo. Aquilo que o governo tinha que fazer não fez. O PAC, a grande proposta do governo, eles só conseguiram fazer 7% até hoje. O governo não está investindo nada.


- Não vê méritos na área social?

Houve uma ampliação do orçamento social, uma coisa positiva. Mas a questão fundamental para o crescimento são as obras de infraestrutura. Qual é a obra importante que o Lula fez depois de sete anos? Nenhuma.


- O governo não se portou bem na crise?

O Lula teve muita sorte. O mundo inteiro cresceu, não foi só o Brasil. Depois, houve essa crise. O Brasil não foi muito atingido. Mas outros países também não foram. A China e a Índia, por exemplo.


- O bom desempenho veio por inércia?

Isso se deve à política econômica, que foi herdada do governo anterior. O mérito do Lula foi o de ter aproveitado essa política econômica. Manteve a macroeconomia, o combate à inflação. Isso foi positivo. Mas são coisas que ele apenas deu continuidade. Outras coisas, que o governo deveria ter feito, ele não fez.


- O que não foi feito?

As reformas política, tributária e previdenciária não foram feitas. Ele não melhorou os portos, os aeroportos, as estradas. Não fez nada na infraestrutura. É um governo completamente inábil. Não tem projeto. O Serra, por sua experiência, pela forma como vem governando São Paulo, por ter sido ministro, tem condições de fazer.


- Apoia o Serra por que deseja disputar uma cadeira no Senado?

Essa questão de ser candidato ao Senado é relativa.


- Não Há um acordo?

Tem um acordo de o PMDB lançar o candidato. O meu nome é o que mais surge. Mas o que eu quero mesmo é evitar a continuidade do PT no governo.


- Que candidato vai apoiar para o governo de São Paulo?

Sou amigo do Aloisio [Nunes Ferreira]. Me dou bem com o [Geraldo] Alckmin também. Mas quem vai decidir isso é o PSDB e o Serra. Aquele que for o escolhido nós estaremos junto. Por ora, existem duas candidaturas.


Imagem:José Cruz/ABrOrestes
por Josias de Souza

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