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sábado, 5 de dezembro de 2015

Depoimento de Pessoa deixa claro que é uma sorte Dilma poder ser impichada apenas por crimes fiscais


Detalhes da delação do empreiteiro, tornada pública, reproduzem a rotina do que tem jeito de quadrilha, cara de quadrilha, modos de quadrilha

Por Reinaldo Azevedo


Publiquei há pouco um post sobe a absurda entrevista de Edinho Silva, ministro da Comunicação Social, e afirmei ser um acinte que seja ele um dos homens fortes de Dilma e ministro da Comunicação Social.

Pois é… Nesta sexta, veio a público o conteúdo da delação premiada de Ricardo Pessoa, dono da Constran e da UTC. Está tudo lá — inclusive por que Edinho está sendo investigado e não poderia ser ministro.

Pessoa contou que, além da conta corrente mantida para abastecer o partido com o dinheiro da corrupção — e quem cuidava dessa área era João Vaccari Neto —, o partido queria um extra de R$ 10 milhões.

Quem cuidou do assunto? Edinho. Foram três reuniões. Numa delas, o agora ministro lembrou a Pessoa: “O senhor tem obras no governo e na Petrobras, então o senhor tem que contribuir. O senhor quer continuar tendo?”.

Pessoa diz que nem entendeu como ameaça, ora vejam… Ele só compreendeu que, na vigência do segundo mandato de Dilma, a sem-vergonhice continuaria. Combinou R$ 10 milhões, que seriam doados por dentro, com registro. Repassou R$ 7,5 milhões e foi preso antes de pagar o resto.

Pessoa contou mais. O pagamento foi acertado num restaurante árabe da rua Haddock Lobo, em São Paulo. Quem pegou o cheque foi Manoel de Araújo Sobrinho, que era, pasmem!, gerente macrorregional da Região Sudoeste da Presidência da República, cargo da Secretaria de Relações Institucionais”.

Muito bem! E para onde foi Araújo Sobrinho quando Edinho virou ministro? Ora, tornou-se seu chefe de gabinete. Caiu depois que a delação de Pessoa veio a público. Entenderam? Caiu o chefe de gabinete, mas Edinho ficou.

Outras lambanças
Em seu depoimento, Pessoa revelou que doou R$ 2,4 milhões à campanha de Lula de 2006 pelo caixa dois. Também costumava presentar o petista com cortes de tecido (R$ 2,5 mil cada) e cachaça da Reserva UTC. Entendo.

A conta corrente corrupção abasteceu também a campanha de Fernando Haddad em 2012 — R$ 2,6 milhões, pelo caixa dois. Transferiu o dinheiro a pedido de Vaccari. E foi adiante.

Disse ter doado R$ 150 mil ao deputado Júlio Delgado (PSB-MG) para evitar uma convocação pela CPI da Petrobras. A Paulinho da Força (SD-SP), deu outro tanto para que trabalhadores ligados à Força Sindical não criassem dificuldades na Hidrelétrica São Manoel. E disse ter pagado mesada de R$ 50 mil ao advogado Tiago Cedraz, filho de Aroldo Cedraz, presidente do TCU, para ter informações privilegiadas sobre o tribunal.

Amigão de Dilma
Pessoa afirmou também que Valter Cardeal, amigão do peito de Dilma e então diretor-geral da Eletrobras, pleiteou um desconto de 10% na construção da usina nuclear de Angra 3. As empresas do consórcio acabaram fazendo por 6%.

Os outros 4%, conta Pessoa, Cardeal pediu que fossem repassados na forma de doações eleitorais. Na transcrição da delação, lê-se: “Pelo que Ricardo Pessoa tem conhecimento, Valter Luis Cardeal é pessoa próxima da senhora presidenta da República, Dilma Rousseff”.

É, meus caros, não deixa de ser surpreendente que Dilma corra o risco de ser impichada apenas pelos crimes fiscais que cometeu, também eles crimes de responsabilidade.

Ela deveria considerar isso uma sorte.


05/12/2015

quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

PT desiste de recorrer contra decisão de Cunha e finge que o fez por causa de Gilmar Mendes


Mandado de Segurança não tinha o menor fundamento.

Partido sabia que seria derrotado

Por Reinaldo Azevedo

A má-fé petista é um troço sem limites. Deputados petistas haviam protocolado um mandado de segurança no Supremo contra a decisão de Eduardo Cunha, que deu início à tramitação da denúncia contra Dilma Rousseff, mas desistiram. E o fizeram depois que o ministro Gilmar Mendes foi sorteado relator. A notícia está no Radar.

Muito bem. Os petistas fingem que estão retirando o recurso porque, afinal, Gilmar lhes seria um ministro hostil, como se fosse mera questão de gosto. Como se, com um outro qualquer, eles levassem alguma chance. E é claro que não.

Ora, nada menos de duas liminares — de Teori Zavascki e Rosa Weber — decidiram que caberia a Eduardo Cunha, e só a ele, a palavra final.

Mais: para admitir uma denúncia, nesse caso, basta que o presidente da Câmara forme a sua convicção com base dos argumentos apresentados — que têm de estar amparados, claro, em lei. E eles estão. Fim de papo.

Os petistas sabem que não havia a menor chance de o Supremo se meter nessa historia, até porque estaria proibido de fazer julgamento de mérito: trata-se apenas de saber se Cunha pode ou não pode fazer o que fez. E é claro que pode.

A argumentação de que as pedaladas não foram dolosas é uma tolice. Basta que ações da presidente transgridam, como transgrediram, a Lei 1.079.

Os petistas desistiram da ação porque ela não tinha fundamento.


03/12/2015 

Mercado comemora impeachment, mas alegria deve durar pouco



Até que algo seja definido, situação da economia vai piorar antes de melhorar
 

Processo de impeachment dificulta aprovação de medidas fiscais, o que deve ponderar alegria do mercado
(Pixabay)


Por
Thais Folego e Weruska Goeking


SÃO PAULO - O pedido de abertura de impeachment contra Dilma Rousseff abre a possibilidade de alternância de poder que acabou não ocorrendo nas eleições presidenciais de 2014. E por isso o mercado está comemorando: ações sobem e dólar desce. Mas como o processo pode ser longo e doloroso, essa alegria deve durar pouco.


Isso porque o futuro da política ainda está cercado de dúvidas e os economistas consultados por O Financista são claros: até que algo seja definido, a situação da economia vai piorar antes de melhorar.

"Isso não é o início de um rally da bolsa que vai ser duradouro. É uma reprecificação para esse cenário em que há uma probabilidade maior que a anterior de mudança da presidente, que tem sua governabilidade afetada pela crise política e econômica", avalia o chefe de investimentos da gestora de recursos AZ Quest Investimentos, Alexandre Silvério.

Durante o processo de impeachment a situação econômica vai piorar, porque isso dificulta a aprovação de medidas fiscais, afirma Juan Jensen, economista e sócio da 4E Consultoria. “Provavelmente teremos rebaixamento de rating.”

A expectativa de perda do grau de investimento pela Moody’s e pela Fitch, seguindo os passos da Standard & Poor’s (S&P), já estava nas contas do mercado, mas o processo de impeachment pode antecipar essas decisões.

“Não me surpreenderia se antes mesmo do Natal o Brasil recebesse este ‘presente’ de fim de ano das agências, presente bem adequado num ano que não aconteceu”, afirma André Perfeito, economista-chefe da Gradual Investimentos.

Independentemente do resultado do processo de impedimento, a agenda fiscal vai ficar parada no próximo mês com foco no embate político em torno da questão, avalia o JP Morgan em relatório, que espera que mais uma agência rebaixe o Brasil para grau especulativo (“junk”), como a S&P já classifica o Brasil.

Mercado feliz

O impasse político que está em vigor há meses tem sido altamente prejudicial para os números fiscais e econômicos, que parecem piorar a cada dia, diz o banco Nomura. E o impeachment poderia acabar com esse impasse, por isso a reação ao lançamento do processo de impeachment ter sido positiva.

O fato de o vice-presidente Michel Temer, que poderia ascender ao poder, ser geralmente visto como uma alternativa amigável ao mercado também sustenta o otimismo.

Algumas razões, no entanto, indicam que é improvável que este sentimento positivo dure muito no mercado. Não só porque um impeachment de fato ainda está longe de acontecer, mas porque pode ser uma viagem atribulada ao longo dos próximos meses à medida que o processo caminhe.

“Eventos de cauda [riscos extremos] incluem o governo se deslocar para a esquerda para o apoio popular mais perto do Partido dos Trabalhadores”, afirma o Nomura. O banco avalia que a fragilidade fiscal não só continuará como pode aumentar durante o processo, com potenciais implicações negativas para o rating do Brasil.

“O mercado ainda não está fazendo conta e reage com o fígado às notícias de ontem. A saída de Dilma é envolta ainda de muita incerteza”, afirma o economista-chefe da Gradual Investimentos.

Dilma sai, Dilma fica


Ao fim do processo, há duas possibilidades: Dilma fica ou Dilma sai. Em qualquer uma delas, a chegada a uma solução deve trazer maior tranquilidade aos mercados financeiros.

“A probabilidade maior continua sendo dela não sofrer o impeachment. Independentemente dela sofrer ou não, o risco político após o processo diminui e abre espaço para um quadro econômico um pouco melhor mais a frente, entre 2017 e 2018”, avalia Jensen.

No fim das contas, se havia alguma chance de que o ano de 2016 não fosse totalmente perdido para a economia, o processo de impeachment deu a certeza de que é isso que vai acontecer. Por outro lado, a manutenção das pressões sobre a presidente sem uma definição sobre o pedido de impeachment poderia ser ainda mais prejudicial. O mercado não gosta de incertezas.

 03/12/2015


Dilma mentiu quando disse que não faria barganha, diz Cunha


Na quarta, ele aceitou dar seguimento a pedido de impeachment de Dilma.
Na TV, a presidente disse que não aceitaria fazer barganhas com o deputado.



Por Fernanda Calgaro
Do G1, em Brasília


O presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), afirmou nesta quinta-feira (3) que a presidente Dilma Rousseff mentiu à nação quando disse que não faria barganha sobre o caso dele no Conselho de Ética. De acordo com ele, Dilma chamou o deputado André Moura (PSC-SE), um dos aliados do presidente da Câmara, para propor que, em troca da aprovação da CPMF, o PT votasse a favor de Cunha no Conselho de Ética.

Cunha aceitou nesta quarta dar prosseguimento ao pedido de impeachment da presidente Dilma. Logo depois, ela fez um pronunciamento na TV do governo para dar uma resposta à decisão. Dilma ressaltou que não faria barganha com o deputado para que ele arquivasse o pedido de impeachment.

"Eu quero deixar bem claro que a presidente mentiu à nação quando disse que o seu governo não autorizou qualquer barganha. Ela simplesmente estava participando de uma negociação. O ministro [Jaques Wagner, da Casa Civil], levou um deputado ao gabinete e lá a presidente queria que tivesse o comprometimento de aprovar a CPMF. Eu não sabia da presença do deputado e sequer do conteúdo do diálogo e simplesmente foi me trazida a proposta", afirmou Cunha em entrevista coletiva que ele convocou para esta manhã na Câmara.

O presidente da Câmara é alvo de processo no Conselho de Ética e, nos últimos dias, foi comentado em Brasília que o PT poderia estar negociando os três votos que têm no colegiado. Nesta quarta, no entanto, antes da decisão sobre o pedido de impeachment, o partido anunciou que votaria contra Cunha.

O G1 procurou a Secretaria de Imprensa da Presidência para saber se Dilma vai se pronunciar sobre as declarações de Cunha, e aguardava resposta até a última atualização desta reportagem. Também deixou recado na secretária eletrônica de André Moura.

Quando questionado pelos jornalistas sobre o que tratava a "barganha", o presidente da Câmara respondeu: "os votos do PT [no Conselho de Ética] e o comprometimento da aprovação da CPMF".

"André Moura que esteve com ela, levado pelo Wagner. A barganha veio sim, proposta pelo governo, e eu me recusei a aceitar. A presidente mentiu, esse é o ponto fundamental que eu queria dizer", continuou Cunha.


03/12/2015

Não há lugar para dilmas e cunhas no Brasil que vai brotar das cinzas do lulopetismo

Por Augusto Nunes

O pedido de impeachment formulado por Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr foi entregue em 21 de outubro ao presidente da Câmara, que certamente leu o documento antes de dormir. Por que demorou tanto para descobrir que os argumentos arrolados pelos dois juristas tinham solidez suficiente para justificar a abertura do processo? Por que deixou para fazer neste 2 de dezembro o que poderia ter feito há 40 dias? Porque o terceiro homem na linha de sucessão não tem tempo para pensar no país, nos brasileiros ou em outras irrelevâncias. Eduardo Cunha só pensa em Eduardo Cunha.


O presidente da Câmara dos Deputados foi denunciado por corrupção, em 10 de agosto, pelo procurador-geral Rodrigo Janot. De lá para cá, nem mesmo em feriados e dias santos deixou de aparecer no noticiário político-policial. Para livrar-se da enrascada em que se meteu com a descoberta das contas na Suiça, virou exportador de carne enlatada (para países africanos), namorou a oposição, flertou com o PT e por pouco não voltou a amasiar-se com o governo. Por que Dilma demorou 100 dias para descobrir que Eduardo Cunha faz o que fazem seus bandidos de estimação? Porque só pensa em manter o emprego.

Nesta quarta-feira, Cunha fez a coisa certa porque deu errado o acordo que lhe garantiria o apoio do PT no Conselho de Ética. Melhor assim. Mas o Brasil decente não lhe deve nada. O que está em curso é uma ofensiva do país que presta contra um fantasma que zanza pelo Planalto. É um confronto entre a nação com cérebro e uma nulidade desmoralizada pela corrupção e pela inépcia. Esse embate não pode ser reduzido a um duelo entre filhote do baixíssimo clero e a mãe do Petrolão. O Brasil que há de brotar das cinzas do lulopetismo não tem lugar para nenhum dos dois.

O Congresso faz o que o povo quer, repetia Ibsen Pinheiro, presidente da Câmara durante o processo de impeachment de Fernando Collor. Também desta vez assim será. Os cunhas e as dilmas não passam de figurantes. Acabarão confinados em asteriscos nas páginas escritas por milhões de indignados. Esses sim são os reais protagonistas da história. E sabem que o fim da era da canalhice começa pela remoção do poste que Lula instalou no coração do poder.

                   03 de dezembro de 2015


quarta-feira, 2 de dezembro de 2015

Já começou a festa na Avenida Paulista


Movimento Brasil Livre e Vem Pra Rua promovem uma comemoração na capital paulista


Por Reinaldo Azevedo

O centro do encontro é, como quase sempre, o vão livre do Masp.




02/12/2015

Dilma ataca Cunha, mente e nada fala sobre razões do impeachment


A presidente Dilma Roussef durante coletiva no Palácio do Planalto após o presidente da Camâra, Eduardo Cunha, autorizar a abertura de um processo de impeachment
(Ueslei Marcelino/VEJA)

Presidente usou discurso para atribuir acolhimento do pedido de impeachment a revanche.

Disse que nunca barganhou com o peemedebista e se calou sobre mérito do documento que pede sua deposição

Por Laryssa Borges, de Brasília
Veja.com


A presidente Dilma Rousseff se pronunciou por volta das 20h30 desta quarta-feira sobre a decisão do presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), de acolher o pedido de impeachment contra ela. Metade do discurso foi dedicado a cotoveladas em Cunha. A outra, a mentiras - a presidente negou que o Planalto tenha tentado barganhar o arquivamento do documento em troca dos votos petistas a favor de Cunha no Conselho de Ética. Nenhuma frase tratou do mérito do pedido encaminhado pelos juristas Hélio Bicudo, Janaina Paschoal e Miguel Reale Jr.

Ao tomar conhecimento da decisão de Cunha, a presidente se reuniu com seus ministros mais próximos, como Jaques Wagner (Casa Civil) e José Eduardo Cardozo (Justiça).

Em seu pronunciamento, ela estava acompanhada por onze ministros, inclusive do PMDB, partido de Eduardo Cunha. Dilma tentou solapar a legitimidade do processo impeachment com o argumento de que Cunha já não tem condições de presidir a Câmara.

Em um ataque direto a Cunha, ela afirmou que "não possui bens no exterior" e que "nunca coagiu ou tentou coagir" pessoas. Cunha responde a inquérito no Supremo Tribunal Federal (STF) por suspeitas de ter contas secretas na Suíça onde teriam sido depositadas propinas do escândalo do petrolão e foi oficialmente acusado pelo doleiro Alberto Youssef de ter mandado o coagir na CPI da Petrobras.

Ela afirmou que recebeu com "indignação" a atitude do deputado. Dilma disse que a tentativa de deposição não tem fundamento e que o processo que pode levar a seu afastamento do Palácio do Planalto é uma ofensiva "contra um mandato democrático conferido a mim pelo povo brasileiro". A presidente reforçou, assim, o discurso petista, já propalado nas redes sociais do partido, segundo o qual o impeachment seria um golpe contra a democracia. "Não podemos deixar conveniências e interesses inconfessáveis abalar a democracia", resumiu. "[Os argumentos] são inconsistentes. Não existe nenhum ato ilícito praticado por mim", alegou.

Dilma afirmou ainda que nunca autorizou qualquer tipo de barganha entre representantes do governo e o presidente da Câmara. "Eu jamais aceitaria qualquer tipo de barganha que colocasse em risco o funcionamento das instituições ou o Estado democrático de direito", disse. No entanto, durante toda a tarde o governo procurou Cunha para oferecer-lhe uma última tentativa de acordo: não apenas os três votos no Conselho de Ética como uma defesa pública do peemedebista.

O pedido - A linha de defesa adotada no governo é de eficácia duvidosa. Não é o caráter de Cunha que estará em julgamento a partir de agora: a decisão de dar seguimento ao processo é do Congresso e a questão que os parlamentares terão de analisar é a das pedaladas fiscais.

No dia 21 de outubro, o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), recebeu o pedido de impeachment que começará a tramitar no Congresso. Elaborado pelos juristas Hélio Bicudo e Miguel Reale Jr e pela criminalista Janaina Paschoal, o documento elenca argumentos com base nos quais a petista deveria perder o mandato. Os autores alegam que Dilma cometeu crime de responsabilidade, por exemplo, por manter as chamadas pedaladas fiscais em 2015, com atrasos de repasses de recursos do Tesouro a bancos públicos, como o Banco do Brasil, o BNDES e a Caixa Econômica, e omissão de passivos da União junto a essas instituições.

A tese considerada crucial por Cunha, porém, foi o fato de o governo federal ter editado decretos sem número para abrir créditos sem autorização do Congresso Nacional. Isso já foi motivo para a rejeição das contas do governo e, na avaliação do peemedebista, configura crime de responsabilidade. "A argumentação para 2015 envolve a edição de decretos sem número no montante de 2,5 bilhões de reais que foram editados em descumprimento à lei orçamentária", disse o presidente da Câmara. Pela Lei 1079, de 1950, é crime de responsabilidade "infringir, patentemente, e de qualquer modo, dispositivo da lei orçamentária" e "ordenar ou autorizar a abertura de crédito em desacordo com os limites estabelecidos pelo Senado Federal, sem fundamento na lei orçamentária ou na de crédito adicional ou com inobservância de prescrição legal". Sobre esses fatos, Dilma se calou.

Confira a íntegra do pronunciamento da presidente:
Boa noite a todos. Dirijo agora uma palavra de esclarecimento a todos os brasileiros e a todas as brasileiras. No dia de hoje, vocês viram foi aprovado pelo Congresso Nacional o projeto de lei que atualiza a meta fiscal, permitindo continuidade de serviços públicos fundamentais para todos os brasileiros. Ainda hoje recebi com indignação a decisão do senhor presidente da Câmara dos Deputados de processar pedido de impeachment contra mandato democraticamente conferido a mim pelo povo brasileiro. São inconsistentes e improcedentes as razões que fundamentam esse pedido. Não existe nenhum ato ilícito praticado por mim. Não paira contra mim nenhuma suspeita de desvio de dinheiro público. Não possuo conta no exterior, nem ocultei do conhecimento público a existência de bens pessoais, nunca coagi nem tentei coagir instituições ou pessoas na busca de satisfazer meus interesses. Meu passado e meu presente atestam a minha idoneidade e meu inquestionável compromisso com as leis e a coisa pública. Nos últimos tempos e em especial nos últimos dias, a imprensa noticiou que havia interesse na barganha dos votos de membros da base governista no Conselho de Ética da Câmara dos Deputados. Em troca haveria o arquivamento dos pedidos de impeachment. Eu jamais aceitaria ou concordaria com quaisquer tipos de barganha, muito menos aquelas que atentam contra o livre funcionamento das instituições democráticas do meu país, bloqueiam a justiça ou ofendam os princípios morais e éticos que devem governar a vida pública. Tenho convicção e absoluta tranquilidade quanto à improcedência desse pedido, bem como a seu justo arquivamento. Não podemos deixar as conveniências e os interesses indefensáveis abalarem a democracia e a estabilidade do nosso país. Devemos ter tranquilidade e confiar nas nossas instituições e no Estado democrático de Direito. Obrigada e todos vocês e muito boa noite.
02/12/2015

Charge









Sponholz

Cunha aceita pedido de impeachment de Dilma Rousseff


Presidente da Câmara acatou argumentos da peça apresentada pelos juristas Hélico Bicudo e Miguel Reale.

Seguimento do processo agora terá de ser votado em plenário

Por Marcela Mattos, de Brasília
Veja.com

A presidente Dilma Rousseff
(Ueslei Marcelino/Reuters)


A crise política que o governo Dilma Rousseff atravessa atingiu nesta quarta-feira seu mais alto grau até agora: o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), aceitou o pedido de impeachment contra a presidente. Cunha deu aval à representação ingressada no dia 21 de outubro pelos juristas Hélio Bicudo, Miguel Reale Júnior e Janaína Paschoal e que foi endossada por partidos de oposição. A decisão se dá justamente no dia em que a bancada do PT fechou questão pela continuidade das investigações contra Cunha no Conselho de Ética, que podem dar ensejo à perda do seu mandato. Pressionado pela militância, a bancada acabou por ir contra os interesses do Palácio do Planalto, que trabalhava para poupar o peemedebista do processo de cassação - ao negar a Cunha os três votos que o salvariam no colegiado, a legenda acabou por selar também o destino de Dilma.

Pouco depois do anúncio petista, o gabinete de Cunha foi palco de um verdadeiro entra e sai de deputados: o peemedebista convocou aliados e membros da oposição para informá-los de que estava decidido a anunciar uma decisão até hoje e consultar os parlamentares sobre o caminho a seguir. Instaurou-se, então, um clima de grande expectativa. Participaram das reuniões com o presidente da Casa o ex-deputado Sandro Mabel (PL-GO) e os deputados Paulinho da Força (SD-SP), Lúcio Vieira Lima (PMDB-BA), Jovair Arantes (PTB-GO), Eduardo da Fonte (PP-PE) e Mendonça Filho (DEM-PE). Além do impeachment, os parlamentares discutiram alternativas para barrar o seguimento do processo contra Cunha no Conselho de Ética. A oposição, então, se reuniu no gabinete do PSDB.

O documento protocolado pelos juristas traz uma série de alegações técnicas e jurídicas para sustentar os argumentos de que a petista deve perder o cargo por ter cometido crimes de responsabilidade ao incidir na prática das chamas pedaladas fiscais.

A autorização de Cunha é apenas o primeiro passo para o processo de impeachment. Agora, deve ser criada uma comissão composta por representantes de todas as bancadas da Câmara para emitir um parecer favorável ou contrário à continuidade da ação e será aberto prazo para a presidente apresentar sua defesa. O processo ainda precisa ser colocado em votação pelo presidente da Câmara e aceito por pelo menos dois terços dos deputados - ou seja, 342 congressistas. Mas com a popularidade no chão, a economia em frangalhos, acuada pelos tribunais e sem apoio no Congresso, Dilma terá dificuldades para evitar a abertura do processo.

Os juristas apresentaram dois pedidos de afastamento de Dilma Rousseff. O último deles, protocolado no fim de outubro, foi atualizado com a acusação de que as chamadas pedaladas fiscais, já condenadas pelo Tribunal de Contas da União (TCU), se perpetuaram também neste ano - ou seja, no atual mandato. Isso pavimentou o caminho para a admissão do pedido, uma vez que Cunha havia dito que não aceitaria nada que não dissesse respeito ao mandato iniciado em janeiro.

Na peça que pede o impedimento de Dilma Rousseff, os autores citam ainda a corrupção sistêmica desvendada pela Operação Lava Jato e dizem que a ação da Polícia Federal "realizou verdadeira devassa em todos os negócios feitos pela Petrobrás, constatando, a partir de colaborações premiadas intentadas por Paulo Roberto Costa e Alberto Youssef, que as obras e realizações propaladas como grandes conquistas do Governo Dilma não passavam de meio para sangrar a promissora estatal que, atualmente, encontra-se completamente descapitalizada e desacreditada".

O fator Cunha - Na tentativa de evitar a decisão que se deu hoje, o Palácio do Planalto havia dado início a negociações com Cunha, um desafeto de Dilma Rousseff: agiria para poupá-lo da cassação em troca do engavetamento do processo de impeachment. O acordo se tornou explícito quando o peemedebista adiou o anúncio de sua decisão, mesmo tendo garantido que o faria até o fim de novembro. Enquanto isso, seus aliados, com a ajuda de petistas, encaixavam sucessivas manobras para adiar a votação, no Conselho de Ética, do parecer do relator Fausto Pinato (PRB-SP) que pede o prosseguimento das investigações contra Cunha.

Eleito em fevereiro após concorrer com o candidato petista Arlindo Chinaglia (SP), o peemedebista impôs uma série de derrotas ao Planalto e autorizou a criação de CPIs para pressionar a gestão petista. A proposta do impeachment passou a ser colocada na mesa depois que o presidente da Câmara foi alvo de denúncia pelo Ministério Público no escândalo do petrolão. Para Cunha, o governo, em busca de retaliação, teve influência na ação da Procuradoria.

Rompido com o Planalto desde o episódio, Cunha se aproximou ainda mais da oposição e passou a fazer reuniões em sua casa para discutir o andamento do processo de impeachment. Um acordo para rejeitar o pedido e, em seguida, pautar um recurso em plenário chegou a ser ventilado. No entanto, a situação foi revertida após o peemedebista se enrolar ainda mais na Lava Jato e aparecer como proprietário de contas na Suíça.

Sem se posicionar sobre o afastamento de Dilma, Cunha acabou abandonado pelo PSDB e passou a negociar com o governo para salvar o seu próprio mandato. O acordo de proteção mútua foi articulado pelo ex-presidente Lula, que defendeu a petistas a necessidade de poupar Cunha para salvar o mandato de Dilma. Diante da avalanche de indícios contra Cunha, porém, a pressão sobre o presidente da Câmara não deu trégua.

As derrotas de Dilma - Também não cessou o desgaste da presidente Dilma Rousseff: ela acumula desde outubro importantes derrotas no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), no Supremo Tribunal Federal (STF), no Tribunal de Contas da União (TCU) e no Congresso. O TSE reabriu uma ação que pode resultar na cassação do mandato de Dilma e do vice Michel Temer, acusados pelo PSDB de abuso de poder político e econômico na eleição do ano passado.

Já o TCU reprovou as contas de 2014 da presidente e recomendou ao Congresso que faça o mesmo. Dilma foi formalmente acusada de usar bancos públicos para cobrir despesas da União, o que é proibido por lei - pouco antes, o STF havia negado pedido do Planalto para suspender o relator do caso, ministro Augusto Nardes. Há dois meses, amargando a pior avaliação popular da história, a presidente afastou seus ministros mais próximos e nomeou pessoas ligadas a Lula e ao PMDB. Na semana seguinte, sofreu duas derrotas na Câmara.

Com o país mergulhado na crise política, o vendaval econômico não deu trégua. Nesta terça-feira o IBGE informou que Entre janeiro e setembro, o Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro encolheu 3,2%. Esse é o pior desempenho da economia brasileira para esse período desde o início da série histórica, em 1996.

Reportagem de VEJA publicada no início deste mês revelou que o vice-presidente Michel Temer (PMDB) se prepara para a possibilidade, cada dia mais real, de Dilma Rousseff ser afastada do poder. Temer já conversa com políticos, juristas e empresários enquanto traça um plano para si e para o Brasil pós-Dilma.

Sem apoio popular nem parlamentar, diante de um cenário de recessão e inflação, a presidente Dilma já há muito não governa - apenas se sustenta no cargo. Agora, contudo, ficará mais difícil fazê-lo até 2018.

02/12/2015

Charge






Sponholz

Bumlai ajuda fornecedor do PT a faturar R$ 2,4 milhões do Votorantim



Pecuarista sofreu prejuízo para resgatar amigos do ex-presidente Lula e entregou imóveis pelo preço de custo a um fornecedor da campanha de Dilma


DANIEL HAIDAR
Época



Preso na semana passada, o empresário José Carlos Bumlai, amigo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, acabou enredado na Operação Lava Jato como uma espécie de operador do PT. Ele é suspeito de desviar fradulentamente um empréstimo do Banco Schahin de R$ 12 milhões para honrar compromissos do PT e de atuar ilegalmente pela compensação do calote com a Schahin para que o grupo faturasse um contrato de US$ 1,6 bilhão com a Petrobras. Mas essas não foram as únicas operações em que ele impulsionou lucros altos de amigos e fornecedores do PT.



Bumlai foi preso dia 24 por agentes da Polícia Federal
(Foto: Aílton de Freitas/Agência O Globo)

No fim de maio de 2006, Bumlai despontou como bombeiro de um velho amigo do ex-presidente Lula. Laerte Demarchi, sócio do restaurante São Judas Tadeu com três irmãos, tinha uma dívida de R$ 3,9 milhões a saldar com o banco Bradesco, de acordo com documentos obtidos por ÉPOCA. Laerte é amigo de Lula desde os comícios do Sindicato dos Metalúrgicos do ABC. Uma empresa do filho de Laerte, a Demarchi Soluções em Alimentação, apareceu em um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) como destinatária de R$ 350 mil em pagamentos atípicos da empresa de palestras de Lula, a Lils. Foi Laerte quem sugeriu o lema "Lulinha paz e amor" na campanha de 2002. Os dois amigos de Lula se conheceram no sítio do pecuarista durante a campanha de 2002.

Em uma operação sem nenhuma vantagem financeira, o pecuarista se dispôs a ajudar os Demarchi. Aceitou receber 11 imóveis da família, avaliados para efeitos fiscais em R$ 3 milhões. Em troca, Bumlai ficou responsável por quitar, em até dois meses, R$ 3,4 milhões da dívida com o Bradesco enquanto a família quitou outros R$ 500 mil. O pecuarista não explicou a ÉPOCA por que aceitou sofrer um prejuízo de R$ 380 mil na operação.

Para livrar os irmãos Demarchi, amigos de Lula, de uma eventual execução de garantias pelo Bradesco, Bumlai ficou com as propriedades (terrenos e casas). Esperava-se que Bumlai buscasse recuperar o prejuízo ao revendê-las. Mas não foi essa a preocupação do pecuarista, ou, se foi, os lucros foram devidamente omitidos da Receita Federal.

Entre setembro de 2009 e junho de 2011, Bumlai revendeu os 11 imóveis. Todas as transações foram em espécie e registradas quase pelo mesmo valor adquirido pelo pecuarista. De acordo com os registros cartoriais obtidos por ÉPOCA, Bumlai só ganhou R$ 33 mil de diferença entre o custo e a venda das propriedades.

Embora Bumlai tenha saído com prejuízo de sua aventura imobiliária no ABC, ajudou um velho operador de campanhas do PT a ganhar muito dinheiro. Carlos Roberto Cortegoso comprou sete imóveis de Bumlai. No total, Cortegoso pagou R$ 2.081.436,00 pelas propriedades do amigo do presidente Lula.

Cortegoso foi garçom do restaurante São Judas Tadeu, é casado com uma prima dos irmãos Demarchi e recebeu pelo menos R$ 400 mil do esquema do mensalão, pagos pelo publicitário Marcos Valério de Souza. A Focal, uma das empresas de Cortegoso, apareceu na lista entregue pelo operador do mensalão à CPI dos Correios. Mas o escândalo não deixou Cortegoso melindrado ou fora do circuito. Em 2014, ele faturou R$ 24 milhões como o segundo maior prestador de serviços da campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff. A mesma Focal foi a destinatária dos recursos, mas, desta vez, estava registrada em nome do motorista Elias Mattos e da filha de Cortegoso, Carla Regina Cortegoso. Só depois da eleição Cortegoso admitiu que ainda era o controlador da Focal. Pela suspeita de lavagem de dinheiro, ele é investigado pela Polícia Federal pela suspeita de lavagem de dinheiro pelas transações na campanha petista.

Cortegoso e Bumlai dizem que não se conheciam e que foi fruto do acaso que, logo eles, fizessem sucessivas transações imobiliárias, registradas de janeiro de 2010 e junho de 2011. Embora Bumlai tenha saído no prejuízo, pelos valores declarados ao Fisco, Cortegoso não tem do que reclamar. Só com dois lotes ele conseguiu faturar R$ 2,4 milhões, pagos de uma só vez em transferência eletrônica pelo comprador: o banco Votorantim.

Cortegoso teve lucro de 330% na operação com o Votorantim, onde o Banco do Brasil divide o controle com a família fundadora desde 2009. Os dois imóveis foram adquiridos para pertencer a um fundo imobiliário administrado pela gestora do grupo Votorantim. O fundo promete rendimento de até 9% ao ano com o aluguel de imóveis para instalação de agências do Banco do Brasil. Um acordo comercial fechado com o BB garante o aluguel dos imóveis.

Pelo acerto entre Votorantim e BB, cabe à primeira instituição financeira adquirir os imóveis e reformá-los a partir de uma "microrregião" determinada pelo BB. Até hoje, a agência não foi inaugurada. O banco diz que falta apenas o alvará da Prefeitura de São Bernardo do Campo.


Ninguém explica por que foram escolhidos especificamente imóveis de um operador de campanhas do PT para instalação de agências do BB. Procurado, o Votorantim disse que ""o fundo de investimento imobiliário BB Renda Corporativa, administrado pela Votorantim Asset Management, segue rigorosamente os padrões estabelecidos pelos órgãos reguladores e todos os critérios técnicos, inclusive auditorias regulares, são observados em suas operações".

O Banco do Brasil afirmou que "escolhe a micro região considerando regras de governança e diversos fatores, dentre eles segurança, negócios, fluxos de clientes. Cabe ao fundo escolher o ponto que melhor atenda às condições estabelecidas".

Bumlai afirmou que não conheceu Cortegoso e que os negócios atenderam a seus interesses. "No momento de vender os imóveis dados em pagamento pelos avalizados, houve a interveniência de corretagem, de modo que o Sr. Bumlai não conheceu o mencionado Carlos Cortegozo, até o momento da outorga de escritura, nem mesmo depois, uma vez que não houve encontro das partes para as assinaturas.

Os valores de compra e venda dos referidos imóveis atenderam ao interesse negocial do Sr. Bumlai, não configurando qualquer ilegalidade". Procurado, Cortegoso declarou que "frequentava o restuarante e falaram que o cara queria vender terrenos ali". Preferiu não falar sobre a lógica financeira de seu negócio com Bumlai.



01/12/2015

José Carlos Bumlai, o amigão de Lula caiu na Lava Jato


Delatores entregam o lobista, último anteparo de Lula no petrolão.

Agora, os procuradores buscam subir na cadeia de comando do esquema


DANIEL HAIDAR
Época


No dia 16 de setembro, o lobista Fernando Soa­res, o Fernando Baiano, deixou por algumas horas sua modorrenta rotina de preso, em Curitiba, para entregar, formalmente, as negociatas do homem que representa o último anteparo do ex-­presidente Luiz Inácio Lula da Silva, principal alvo dos procuradores da Lava Jato. Trata-se de um anteparo poderoso, desconhecido do público, embora famoso – ou infame, a depender do interlocutor – em Brasília.

Ele se chama José Carlos Bumlai. Apresentava-se como pecuarista até o início do governo Lula, em 2003, quando passou a se apresentar às pessoas certas como amigo do presidente, o amigo que poderia resolver qualquer problema. No poder, soluções para problemas costumam custar caro. Homens de negócio como Bumlai sabem disso – vivem disso.

Naquele dia de setembro, Baiano se tornava o primeiro operador a confessar quanto custavam as soluções que envolviam Lula. Abriu oficialmente o caminho para que os procuradores subam na cadeia de comando do petrolão.


Baiano disse que, em 2011, pouco após a saída de Lula do Planalto, precisou de Bumlai. Queria incluir o estaleiro OSX, do empresário Eike Batista, na disputa por contratos com a Sete Brasil, uma associação entre fundos de pensão, bancos e a Petrobras, montada para arrendar sondas à estatal.

Baiano marcou um encontro no escritório de Bumlai em São Paulo, na Avenida Brigadeiro Luís Antônio, 3.530, mesmo endereço da LLCS, empresa de dois filhos de Lula, Fábio Luiz e Luiz Cláudio. O lobista estava certo de que Bumlai poderia ajudar – o presidente da Sete Brasil na ocasião era João Carlos Ferraz, alçado ao cargo pelo PT. Dias depois da reunião, o pecuarista pediu a Baiano que o presidente da OSX, Luiz Carneiro, telefonasse para João Carlos Ferraz. Uma reunião entre os executivos e os lobistas ocorreu logo depois.

Nessa reunião, Baiano tentou emplacar o valor de sua comissão: queria 5% da OSX caso o negócio com a Sete Brasil fosse fechado. Baiano e Bumlai decidiram que dividiriam a bolada que Baiano recebesse. Mas faltava um empurrão.


"Estive com Bumlai duas vezes, pedindo ajuda para ser diretor", disse o lobista João Augusto Henriques

Mesmo depois do encontro de executivos, o negócio estava enrolado. Baiano pressionou Bumlai e pediu uma “providência mais incisiva”. Queria um “peso maior” interferindo para que a transação fosse concretizada. O “peso maior”, Bumlai sempre soube, era Lula. Segundo Baiano, depois de instruí-lo sobre o que falar, Bumlai levou Ferraz para conversar com Lula no Instituto Lula (leia os recortes abaixo).

Dias depois, Baiano procurou Ferraz. Em seu depoimento, ele afirma que Ferraz disse que Lula prometera “ajudar a dar mais velocidade nos assuntos da Sete Brasil para viabilizar uma consolidação mais rápida da indústria naval brasileira”. Uma nova reunião ficou acertada para ocorrer um mês depois, no Instituto.

PERSONAGENS
1 - O lobista Fernando Baiano pagou propina a Bumlai e diz que ele levou um empresário até Lula
(Foto: Geraldo Bubniak/AGB/Estadão Conteúdo)




2 - Trecho do depoimento de Baiano sobre Bumlai

(Foto: reprodução)



3 - Fábio Luiz (à esq.) e Luiz Cláudio, filhos de Lula. Ele e o irmão têm um escritório no mesmo prédio de Bumlai

(Fotos: Juca Varella/Estadão Conteúdo e Paulo Pinto/Estadão Conteúdo)

O que Lula poderia fazer pela Sete Brasil e pela indústria naval, já fora da Presidência, é um ponto a ser apurado. O que Bumlai poderia fazer, graças à proximidade com Lula, está muito claro. Bumlai frequenta a intimidade do casal Lula desde os tempos em que ele morava na Granja do Torto. Desde então, nunca fez segredo – ao contrário – do que essa amizade valia. Envolveu-se em rolos com os dois principais operadores do PT no primeiro governo Lula, ambos presos: Delúbio Soares, o ex-tesoureiro do partido, e Marcos Valério Fernandes de Souza, o sujeito que viabilizou o mensalão.

Na delação, Baiano diz quais são os métodos do amigo de Lula – e como eles funcionam. Bumlai, narrou Baiano, se sentiu à vontade para pedir um adiantamento da comissão da OSX. Queria R$ 3 milhões. Disse que estava sendo cobrado por uma nora do ex-­presidente Lula “para pagar uma dívida ou uma parcela de um imóvel” (não disse qual nora seria). Baiano afirma ter entregado um pouco menos, R$ 2 milhões, a Bumlai.

Uma nota fiscal fria da Usina São Fernando, uma das empresas de Bumlai, foi emitida para acobertar a propina. Apesar do pedido do pecuarista, foram pagos pouco menos. O negócio da OSX com a Sete Brasil não saiu, mas Bumlai levou o seu.


 Há anos, o pecuarista sul-mato-­grossense José Carlos Costa Marques Bumlai vive o papel de amigo de Lula. Bumlai conheceu Lula durante a campanha presidencial de 2002, por intermédio do então governador de Mato Grosso do Sul, Zeca do PT. Tornou-se integrante do Conselho de Desenvolvimento Econômico Social, o “Conselhão” de Lula, e, ao longo do tempo, passou a filtrar nomeações políticas para os maiores cargos da República, como diretorias na Petrobras.

O lobista João Augusto Henriques, que quase se tornou diretor na área internacional da estatal e agora está preso na Lava Jato, disse a ÉPOCA em 2013: “Estive com Bumlai duas vezes, pedindo ajuda para ser diretor. Era um cara muito forte no PT”.

As pessoas que importam sabiam que Bumlai tinha o privilégio do acesso rápido no Palácio do Planalto, era ouvido por Lula nas pescarias e nos churrascos na Granja do Torto, onde o petista sempre esteve mais à vontade. Era muito próximo também de Dona Marisa.


O nome de Bumlai foi citado inicialmente nos depoimentos do acordo de delação premiada firmado pelo ex-diretor de Abastecimento da Petrobras Paulo Roberto Costa. Foi ele o primeiro a relatar a proximidade entre Fernando Baiano e Bumlai. Agora, um ano depois, os testemunhos de Baiano começam a esclarecer as tarefas de Bumlai no petrolão. Tanto que os procuradores já preparam uma ofensiva contra o amigo de Lula. Acumulam-se elementos que permitem isso.

Nestor Cerveró, ex-diretor de Internacional da Petrobras, contou o que sabia de Bum­lai para tentar obter seu acordo de delação premiada. Cerveró disse que o PT tomou um empréstimo de R$ 50 milhões no Banco Schahin para quitar uma dívida da campanha eleitoral de 2006. Na hora de pagar, o PT ofereceu contratos na Petrobras: Cerveró recebeu ordens de Bumlai para direcionar o contrato bilionário de uma sonda ao braço de construção da Schahin.

Outro delator, Eduardo Musa, também ex-­diretor da Sete Brasil, confirmou a história de Cerveró – e acrescentou que Bumlai participou também do empréstimo no Banco Schahin.


Bumlai é engenheiro de origem. Aprendeu a circular entre políticos e negócios após 30 anos de trabalho na Constran, quando a empresa pertencia a Olacyr de Moraes. Durante os governos Sarney e Collor, Bumlai foi o homem da Constran em Brasília.Seu trabalho era prestar – e cobrar – favores a políticos. Depois, Bumlai migrou para a pecuária e o setor de energia. Chegou a ter 150 mil cabeças de gado. Uma de suas fazendas, a São Gabriel, foi vendida por R$ 20,9 milhões ao Incra em 2005. Há uma investigação em curso para saber se esse valor foi superfaturado em R$ 7,5 milhões.

Dois anos mais tarde, Bumlai se associou ao Grupo Bertin na construção da Usina São Fernando, em Dourados, Mato Grosso do Sul, quando a ideia de um país produtor de etanol fazia brilhar os olhos de empresários e de Lula. Em 2011, o Bertin vendeu sua parte e Bumlai ficou sozinho na usina, que é administrada por seus filhos, Guilherme e Maurício.

Abatida pela crise no setor, a São Fernando começou a definhar e entrou em recuperação judicial em 2013. Somente com o BNDES, a usina tem R$ 300 milhões de dívida – o total é de R$ 1,2 bilhão. A falência da usina pode ser decretada em breve.

Mas Bumlai é um homem fiel. Manteve-se ativo na defesa dos interesses tanto de Lula, quanto do Bertin, quanto da Constran, que hoje pertence ao mesmo grupo da empreiteira UTC. Bumlai ajudou o Bertin a participar do consórcio responsável pela construção da usina de Belo Monte, obra de mais de R$ 30 bilhões, com seu braço de construção civil, a Contern. Pela Constran, o pecua­rista se encarregou de colar em Lula em suas viagens pelo mundo em busca de negócios para empreiteiras. Conforme ÉPOCA revelou em abril de 2014, Bum­lai viajou com Lula para Acra, capital de Gana, em 2008.

Na época, Bumlai era conselheiro da Constran, que chegou a comemorar publicamente uma parceria com uma empresa local para produzir etanol.

A Constran entrava com a usina, a parceira com a cana, e o BNDES com US$ 260 milhões para a empreitada. Pouco depois, a Constran foi passada para trás e substituída pela Odebrecht, empreiteira que pagou a Lula quase R$ 4 milhões nos últimos anos – em troca, oficialmente, de palestras.


Bumlai foi com Lula para Gana para instalar uma usina de álcool pela Constran. A obra foi para a Odebrecht

Além de atuar, segundo Baiano, para pagar dívidas dos filhos de Lula e fechar contratos na Petrobras, Bumlai mantinha frequentes contatos com Delúbio Soares, segundo extratos telefônicos da CPI que investigou o mensalão. Na Operação Vampiro, em que a Polícia Federal investigou fraudes em licitações no Ministério da Saúde, ainda no começo do governo Lula, o nome de Bumlai também apareceu, em depoimentos e grampos telefônicos, como arrecadador de fundos para o PT, ao lado de Delúbio. Bumlai era o arrecadador alternativo do PT. Fez de um quarto do hotel Naoum, no setor hoteleiro sul, em Brasília, sua banca de negócios.


Em depoimentos que prestou ao Ministério Público, o operador do mensalão, Marcos Valério, disse que, em 2003, o PT pediu a ele que resolvesse uma chantagem que o chefe de gabinete de Lula, Gilberto Carvalho, sofria. O chantagista era o empresário Ronan Maria Pinto, que, de acordo com Valério, amea­çava fazer revelações sobre o assassinato do prefeito de Santo André, Celso Daniel. Valério conta que o PT pediu R$ 6 milhões para pagar ao chantagista.

O publicitário diz que preferiu não bancar essa conta. Mas garante que o dinheiro foi pago por Bumlai, que conseguiu os recursos a partir de um empréstimo no – de novo – Banco Schahin. Um documento do Banco Central divulgado neste ano mostra que, em outubro de 2004, Bumlai pediu um empréstimo de R$ 12 milhões ao Banco Schahin.

ESCRITÓRIO
O hotel Naoum, em Brasília. Nele, Bumlai recebia parlamentares e acertava seus negócios com o governo nos tempos de Lula
(Foto: reprodução)

Bumlai também apareceu em um escândalo de pagamentos de propina em Campinas, em 2011. A investigação desse caso foi reaberta no começo deste ano, porque o esquema envolve empreiteiras agora enroscadas na Lava Jato. Bumlai não é um dos investigados. Mas era, de acordo com escutas telefônicas, o elo entre a Constran e a prefeitura de Campinas em um contrato milionário com a empresa de saneamento da cidade, a Sanasa, para as obras de construção de uma estação de tratamento de esgoto.

Segundo o Ministério Público, as empreiteiras envolvidas no negócio, entre elas a Constran e a Camargo Corrêa, pagavam propinas, que variavam de 5% a 7%, para patrocinar um esquema de mensalinho na Câmara de Campinas. O vice-prefeito era do PT.




Na semana passada, Lula procurou apagar os laços de amizade com Bumlai. Disse, em nota emitida pelo Instituto Lula, que “não se envolveu como intermediário de empresas e não autorizou José Carlos Bumlai a usar o nome dele para qualquer tipo de lobby”. Lula disse ainda que nenhuma de suas noras recebeu qualquer quantia de Fernando Baiano.

O advogado Arnaldo Malheiros, que defende Bumlai, afirma que o pecuarista tomou um empréstimo, como pessoa física, de Baiano, no valor de R$ 1,5 milhão. A operação, segundo Malheiros, foi contabilizada por um contrato de mútuo, declarado à Receita Federal. Malheiros diz que o lobista foi procurado para o empréstimo, porque Bumlai tinha acabado de delegar a Fernando Baiano a tarefa de vender uma termelétrica.

Malheiros disse ainda que Bumlai está em “estado de endividamento muito grande” e que “não estaria nesse estado” se tivesse tirado proveito da amizade com Lula.


Luiz Carneiro, ex-presidente da Sete Brasil, não quis comentar as afirmações de Baiano. O advogado Sérgio Bermudes, que defende Eike Batista, disse que o empresário nega ter feito qualquer pagamento ilícito a alguém.

01/11/2015


Por que o PT tem tanto medo de Cerveró

Além de colocar Dilma, Lula, Palocci e Gabrielli no Petrolão, ex-diretor Internacional da Petrobras pode levar a Lava Jato para dentro do BNDES


Mário Simas Filho
ISTOÉ Independente - Brasil


Desde 14 de janeiro, quando os agentes da Lava Jato levaram o ex-diretor de Assuntos Internacionais da Petrobras, Nestor Cerveró, para a carceragem de Polícia Federal em Curitiba (PR), petistas de alto escalão vinham demonstrando uma enorme preocupação com uma possível delação premiada. Ao longo dos últimos dois meses, em conversas reservadas, amigos de Lula que têm o hábito de frequentar o instituto que carrega o nome do ex-presidente, mais de uma vez disseram que uma delação de Cerveró teria maior teor explosivo do que as colaborações policiais que pudessem ser feitas por empresários e lideranças políticas. No Palácio do Planalto, entre os mais próximos da presidente Dilma, a conversa não era diferente. Na semana passada, quando ficou praticamente sacramentada a delação de Cerveró, o que era preocupação se transformou em medo explícito. Petistas e aliados têm a certeza de que as revelações do ex-diretor da Petrobras podem levar tanto Dilma como Lula para o olho do furacão, além de comprometer outros líderes ilustres como José Dirceu, Antônio Palocci, Graça Foster e José Sérgio Gabrieli. Na noite da quinta-feira 26, era voz corrente tanto no Planalto como no Instituto Lula que Cerveró detém informações que vão além das falcatruas perpetradas na compra da refinaria de Pasadena, nos EUA – um negócio que trouxe à estatal um prejuízo avaliado em cerca de US$ 800 milhões – e que pode efetivamente vincular a presidente Dilma ao escândalo do Petrolão (leia reportagem na pág. 48). “Como conhece muito bem os negócios feitos pela Petrobras fora do País, o Cerveró poderá colocar a Lava Jato dentro do BNDES”, avalia um cacique petista que conversa frequentemente com o ex-presidente Lula.


ELE ESTREMECE O PODER
Delação de Nestor Cerveró transcenderá compra de Pasadena

Mais do que Pasadena, o que assusta os petistas é a possibilidade de Cerveró detalhar outras operações irregulares feitas pela Petrobras no exterior e que teriam servido para bancar o PT, os petistas e muitas de suas campanhas. Já sabem, por exemplo, que em depoimento prestado aos investigadores da Lava Jato, Cerveró revelou que a campanha de Lula em 2006 recebeu de forma irregular cerca de R$ 50 milhões que teriam sido desviados da Petrobras. A operação se deu a partir de um contrato de exploração de petróleo em águas profundas no litoral de Angola. Cerveró detalhou a operação e revelou que a estatal entrou no negócio com aproximadamente US$ 300 milhões sabendo que teria prejuízo e que estariam aportando recursos em áreas pouco viáveis. Procuradores que ouviram o depoimento, dizem que Cerveró afirmou ter ouvido de Manuel Domingos, ex-presidente da estatal angolana de petróleo, que entre R$ 40 milhões e R$ 50 milhões pagos pela Petrobras voltaram ao Brasil para abastecer a campanha do PT. No mesmo depoimento, Cerveró teria dito que toda a operação foi feita com o consentimento e orientação do ex-ministro Antônio Palocci, que na época era membro do Conselho de Administração da Petrobras. Há cerca de duas semanas, os procuradores e delegados da Lava Jato informaram ao ministro Teori Zavaski, do Supremo Tribunal Federal, que essas revelações de Cerveró acabaram confirmando o que já dissera em delação premiada um ex-funcionário da Petrobras cujo nome é mantido em sigilo. As declarações do ex-funcionário foram prestadas no primeiro trimestre do ano passado. “O caso de Pasadena pode ser apenas um capítulo de um roteiro bem mais amplo. E Cerveró poderá nos esclarecer muita coisa”, disse à ISTOÉ na quinta-feira 26 um dos procuradores da Lava Jato.

Outro caso que os procuradores esperam contar com a colaboração de Cerveró para comprovar o pagamento de propinas diz respeito à venda da refinaria de San Lourenço, na Argentina, que envolve o ex-presidente da estatal, José Sérgio Gabrielli. Ao contrário do que ocorreu em Pasadena, quando a estatal brasileira fez uma compra superfaturada, na operação da refinaria de San Lourenço, a Petrobras fez uma venda subfaturada e arcou com um prejuízo de US$ 100 milhões. Já há na Polícia Federal um inquérito que investiga o pagamento de propinas com remessas de dinheiro feitas da Argentina para o Brasil. Cerveró disse aos procuradores que a Gabrieli autorizou a venda desprezando diversos relatórios e avaliações internacionais. Uma delas foi feita pela Petrobras Argentina e encaminhada à matriz, no Rio de Janeiro. Segundo esse estudo e relatórios de auditorias independentes também já em poder da PF, o valor da refinaria incluindo 360 postos de distribuição e estoques de combustível poderia chegar a US$ 351 milhões, mas a Petrobras concretizou a venda por US$ 102 milhões.


Funcionário da Petrobras desde 1975, Nestor Cerveró assumiu a diretoria Internacional da empresa em 2003. Inicialmente ocupou uma cota destinada ao PMDB, mas com o aval do senador Delcídio do Amaral (PT-MS). Com o passar dos anos, ganhou a confiança de Lula e do ex-presidente José Sérgio Gabrielli. Permaneceu na diretoria Internacional até 2008, quando foi transferido à BR Distribuidora, onde ficou até março de 2014. Condenado a mais de 17 anos de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, Cerveró é apontado pela Lava Jato como um operador que pode ter recebido propinas superiores a US$ 30 milhões. “Chegamos a Cerveró a partir das delações feitas pelo doleiro Alberto Youssef e por Paulo Roberto Costa, mas temos a certeza de que ele pode nos contar muito mais do que os dois disseram”, conclui um dos procuradores responsáveis por conduzir a deleção premiada do homem que mais assusta o PT.

Fotos: Paulo Lisboa/Folhapress

28.Nov.15