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sexta-feira, 26 de julho de 2013

O recado do papa aos corruptos da terra e a pesquisa que consumou a capitulação dos fabricantes de recordes de popularidade


Por Augusto Nunes

Nesta quinta-feira, durante a visita à Favela da Varginha, o papa Francisco disse o seguinte:

“Aqui, como em todo o Brasil, há muitos jovens. Vocês, queridos jovens, possuem uma sensibilidade especial frente às injustiças, mas muitas vezes se desiludem com notícias que falam de corrupção, com pessoas que, em vez de buscar o bem comum, procuram o seu próprio benefício. (…) Não deixem que se apague a esperança”.

Embora o recado não tenha mencionado expressamente políticos ou partidos, todo mundo deduziu que o papa resolvera cutucar o governo do PT e seus parceiros. Faz sentido: depois das manifestações de protesto que implodiram a farsa do Brasil Maravilha, ficou claro que a corrupção impune anda de mãos dadas com a seita lulopetista.

Lula acha que isso é preconceito. Tem razão. O país que presta sempre foi preconceituoso com assaltantes de cofres públicos, empresários liberados para transformar canteiros de obras em plantações de maracutaias, gatunos com imunidade parlamentar e outras vertentes da grande família dos corruptos. Neste inverno, o Brasil decente mostrou que é muito maior do que imaginavam os embusteiros no poder.

E não para de crescer, vão admitindo um a um os institutos de pesquisas que, se não tivessem colidido com a revolta da rua, já estariam atribuindo a Dilma Rousseff 100% de popularidade (ou 103%, se a margem de erro oscilasse para cima). Há poucas horas, consumou-se a capitulação do Ibope. A colecionadora de recordes agora patina nos arredores dos 30% historicamente reservados a qualquer poste do PT.

Durante vários anos, o Ibope confinou em índices inferiores a 8% os brasileiros que acham ruim ou péssimo o desempenho do governo federal. Subitamente, a taxa de descontentamento decolou. Acaba de bater em 31% — e continuará subindo. Se apenas tivessem fulminado a desfaçatez dos fabricantes de porcentagens, as manifestações de protesto iniciadas em 6 de junho já teriam valido a pena. Mas as mudanças foram muito além do comércio de estatísticas.

Os destinatários do recado do papa querem acreditar que, configurado o naufrágio de Dilma, bastará lançar a candidatura de Lula para que a festa siga seu curso. Logo saberão que lidam com um país que mudou. As multidões inconformadas com o elogio do cinismo sabem que foi o ex-presidente quem instalou no Planalto o que até recentemente qualificava de “um poste que ilumina o Brasil”. Se tentar um terceiro mandato, vai descobrir que cometeu um erro semelhante ao do amigo Paulo Maluf.

Dilma Rousseff é o Celso Pitta do Lula.
26/07/2013


Gonçalo Osório: Francisco repete no Brasil a lição de João Paulo II na Polônia de 1979






Augusto Nunes


Interessantes são as comparações feitas entre a viagem de Francisco ao Brasil e a de João Paulo II a Varsóvia, em 1979, pouco depois de ter sido escolhido (outubro de 78).

Claro que temos uma democracia enquanto a Polônia, naquela época, era parte da órbita do império soviético, com o comunismo mantido pelo Exército Vermelho.

Portanto, tinha um regime ditatorial. Mas a comparação que quero fazer é outra.

Em ambos os casos, trata-se de Papas com uma mensagem de valores frente a governantes cínicos, mentirosos, corruptos e desmoralizados. Nós, no Brasil, podemos dizer isto que o governo lulopetista é: um embuste promovido por canalhas. Os poloneses não podiam chamar o próprio regime pelo nome — e assim aqui estaríamos, não fossem as regras do regime democrático que o PT sempre combateu (e continua tentando subverter).


Mas voltemos aos dois Papas: eles disseram na cara dos governantes aquilo que de fato são os governantes de hoje, no Brasil, e eram os governantes de então, na Polônia: enganadores que não enganam mais. Wojtyla na Praça da Vitória, em Varsóvia, naquele inesquecível verão de 79, expôs as mazelas de um regime já condenado, podre por dentro, composto apenas de aparências. Bergoglio na Favela da Varginha deu o mesmo recado: o que os Cabral e as Dilmas e os Lulas chamam de “justiça social” nada mais é do que marketing político da pior espécie.

As mazelas da sociedade brasileira são mais profundas e se localizam naquilo que nossos governantes (como os governantes da Polônia) sempre desprezaram: valores democráticos, pluralistas, genuínos. Não sou religioso nem pertenço a qualquer das denominações de fé.

Mas sinto, quando vejo esse Papa, aquela satisfação de ver o trabalho inteligente e intelectual de quem, preservando todas as formas e aparências, põe o dedo na cara desse bando de cínicos, desses medíocres que nos governam, desses canalhas que pensam que ainda nos enganam, desses corruptos safados e sem vergonha, dessa presidente incompetente e pequena — e os chama pelo que são: seres desprezíveis.
Ninguém mais lembra, hoje, quem foram os governantes da Polônia de 79.

Caíram no lixo da História.

É para onde irão Lula, Dilma e o lulopetismo.


26/07/2013


Charge





Chico Caruso

quinta-feira, 25 de julho de 2013

Aprovação do governo Dilma cai para 31%, revela pesquisa especial CNI-Ibope



Aumenta o número de brasileiros que desaprovam a maneira da presidente governar e dos que confiam em Dilma.

As áreas com as piores avaliações são saúde, segurança pública e educação


A inflação e as manifestações populares derrubaram a popularidade do governo Dilma Rousseff.

O percentual de pessoas que consideram o governo como ótimo ou bom caiu de 55% em junho para 31% neste mês, informa a Edição Especial da Pesquisa CNI-Ibope, divulgada nesta quinta-feira, 26 de julho, pela Confederação Nacional da Indústria (CNI).

O número de brasileiros que avaliam o governo como ruim ou péssimo também é de 31%.

A popularidade do governo é melhor na Região Nordeste, onde 43% dos entrevistados consideram o governo ótimo ou bom. Na Região Sudeste, esse percentual cai para 24%.


O levantamento, feito com 2.002 pessoas entre 9 e 12 de julho, mostra que a aprovação dos brasileiros em relação à maneira de governar da presidente também caiu de 71% em junho para 45% em julho.

O número de entrevistados que desaprovam a maneira da presidente governar alcançou 49% e supera o percentual de aprovação.


Além disso, a pesquisa revela que o percentual da população que confia na presidente Dilma caiu 22 pontos percentuais em relação a junho e ficou em 45% em julho, menor do que os 50% que disseram não confiar na presidente.

“A queda na popularidade da presidente também se refletiu na comparação entre seu governo e o do ex-presidente Lula”, avalia a CNI-Ibope.

Entre os entrevistados, 46% consideram o governo Dilma pior do que o de Lula e 42% acham que os dois governos são iguais. Apenas 10% consideram o governo Dilma melhor que o de Lula.


ÁREAS DE ATUAÇÃO - Na avaliação dos brasileiros, as áreas em que o governo federal tem a pior atuação são saúde (71%), segurança pública (40%) e educação (37%). As três áreas em que o governo apresenta melhor desempenho são: habitação e moradia (28%), fome e miséria (23%) e capacitação profissional (22%).

A margem de erro da pesquisa é de dois pontos percentuais.


25 de julho de 2013



quarta-feira, 24 de julho de 2013

Ciro Gomes: ‘Dilma pilota uma aliança assentada na putaria’






O Globo
Em entrevista a rádio, ex-ministro chama ainda presidente de ‘arrogante’ e ‘inexperiente’

RIO - O ex-ministro Ciro Gomes (PSB-CE) optou, na manhã desta terça-feira, por usar termos chulos para atacar adversários políticos. Depois de já ter dito que o PMDB era um “ajuntamento de assaltantes”, ele voltou à carga.

Desta vez, Ciro disse, em entrevista ao programa da rádio Verdinha AM, do Ceará, que a presidente Dilma Rousseff “pilota uma aliança assentada na putaria”.

Além de criticar a base aliada, Ciro fez duras críticas à presidente. Ciro chega a chamá-la de “arrogante” e “inexperiente”.


- Incrível a Dilma convocar uma rede de televisão e falar quase dez minutos para não dizer absolutamente nada. Inventar uma lambança de uma Constituinte exclusiva para fazer uma reforma política. Nenhum cartaz na rua pedindo reforma política, embora seja uma agenda emergente (...) Depois trocar os pés pelas mãos nesse negócio dos médicos (programa Mais Médicos) - dispara.

Ciro diz ainda que a presidente tem que fazer uma “reforma profunda do ministério” e cortar pastas da administração.

- A Dilma não é uma má pessoa. É uma pessoa decente, trabalhadora. Ela é meio arrogante e muito inexperiente. Muito, muito, muito inexperiente. Ou seja: isso já tava dito. Eu cansei de falar muitas vezes... e cercada de gente de quinta categoria. Esse é o grande problema. Pilotando uma aliança que é assentada na base da putaria - diz ele.
                       23/07/13


O papa e o palanque de Dilma



Fiel à ideia, por ela mesma proclamada, de que em campanha eleitoral é permitido fazer "o diabo", a presidente Dilma Rousseff transformou seu encontro protocolar com o papa Francisco num ato de palanque
O Estado de S.Paulo

Esse comportamento condiz perfeitamente com um governo fundado em artimanhas marqueteiras e disposto a fazer de tudo para recuperar a popularidade perdida.

Em lugar de dirigir algumas palavras de boas-vindas ao papa e desejar-lhe sucesso na Jornada Mundial da Juventude, Dilma fez um discurso mais longo que o do próprio pontífice, o que já foi, em si, um despropósito. Em seu pronunciamento, a presidente Dilma Rousseff empenhou-se não em recepcionar o papa, mas em explorar a figura do pontífice para fazer o elogio dos governos lulopetistas e reafirmar sua missão quase mística de salvar os miseráveis de todo o mundo.

"O Brasil muito se orgulha de ter alcançado extraordinários resultados nos últimos dez anos na redução da pobreza, na superação da miséria e na garantia da segurança alimentar à nossa população", discursou Dilma, reafirmando o evangelho petista segundo o qual só houve avanços sociais "nos últimos dez anos" e que, antes disso, só havia trevas.

Investida da condição de missionária, Dilma destacou também que seu governo "tem buscado apoiar a disseminação das experiências brasileiras em outros países", como o Bolsa Família, o programa assistencialista que deveria ser apenas temporário, mas que vai se perpetuando graças à incapacidade do governo de criar condições para que seus beneficiários possam dele abrir mão.

Em seguida, a presidente achou adequado convidar Francisco a integrar uma "ampla aliança global de combate à fome e à pobreza, uma aliança de solidariedade, uma aliança de cooperação e humanitarismo", naturalmente liderada pelo messianismo lulista.

A título de dar razão à voz dos jovens que saíram às ruas em protestos, Dilma tornou a dizer que as manifestações foram o efeito da melhoria de vida dos brasileiros, pois "inclusão social provoca cobrança de mais inclusão social, qualidade de vida desperta anseios por mais qualidade de vida". E então a presidente e candidata à reeleição fez escancaradas promessas de campanha: "Para nós, todos os avanços que conquistamos são só um começo. Nossa estratégia de desenvolvimento sempre vai exigir mais, tal como querem todos os brasileiros e todas as brasileiras. Exigem de nós aceleração e aprofundamento das mudanças que iniciamos há dez anos". Só faltou entregar um santinho a Francisco e pedir-lhe voto.

O contraste com o sereno discurso do papa acentuou ainda mais o deslocamento da fala eleitoreira de Dilma. Em seu rápido pronunciamento, Francisco não fez menção aos protestos nas ruas nem a questões políticas, preferindo dirigir-se aos jovens e deixando claro que sua visita tem caráter eminentemente religioso. Ele disse que a juventude é "a janela pela qual o futuro entra no mundo" e cobrou de sua geração que dê aos jovens condições para seu pleno desenvolvimento intelectual, material e moral.

"Não trago nem ouro nem prata", disse Francisco, repetindo fala de São Pedro, o primeiro papa, para enfatizar o despojamento de seu papado e a necessidade de retomar a essência dos valores espirituais. Segundo o Vaticano, essa mensagem norteará os discursos de Francisco sobre temas políticos, nos quais refutará "a opressão de interesses egoístas".

Em outras oportunidades, quando ainda era o cardeal Jorge Mario Bergoglio, o papa já criticou a substituição da política pela mera propaganda. "Endeusamos a estatística e o marketing", disse Bergoglio, no que poderia ser uma descrição dos governos lulopetistas. Para ele, "seria necessário distinguir entre a Política com P maiúsculo e a política com P minúsculo".

Como Francisco deve ter percebido logo em seu primeiro dia no Brasil, é longo o caminho para o resgate da política como atividade nobre, para, em suas palavras, acentuar valores "sem se imiscuir na pequenez da política partidária".
24 de julho de 2013

domingo, 21 de julho de 2013

Imagina no Leblon: o desfiladeiro de Sérgio Cabral



Como o governador do Rio se tornou o alvo principal dos manifestantes, um mês depois de iniciados os protestos e com passeatas esvaziadas no resto do país

João Marcello Erthal e Cecília Ritto
Veja.com
 

Governador Sérgio Cabral é o mais atacado nos protestos do Rio de Janeiro
(Marcelo Fonseca/Folhapress)

Diante do crescimento dos protestos, o governador acusou uma “antecipação de campanha” nociva ao Rio de Janeiro. O primeiro a levantar bandeiras para 2014, no entanto, foi o próprio PMDB, com o prefeito reeleito Eduardo Paes anunciando Pezão como pré-candidato já no discurso de comemoração ao resultado das urnas em 2012

Passado um mês do início dos protestos pela redução das passagens de ônibus, o Rio de Janeiro mantém, no eixo entre o Leblon e o Palácio Guanabara, um foco permanente de manifestações. Os endereços de residência e trabalho do governador Sérgio Cabral são os pontos de encontro de grupos que pedem desde o cancelamento da Copa do Mundo de 2014 até a suspensão das concessões de linhas de ônibus na cidade – dois assuntos fora da alçada de decisão do Executivo do estado.

O desfiladeiro da popularidade do peemedebista reeleito em primeiro turno em 2010, com a maior vantagem já obtida em uma eleição para o governo (66%), começou a ser cavado ainda em 2011, quando um acidente de helicóptero expôs a proximidade com o empreiteiro Fernando Cavendish, dono da Delta e detentor de contratos milionários com o governo.

Menos de um ano depois, o mesmo empresário apareceu em fotos de uma viagem a Paris ao lado do governador e seu primeiro escalão, no episódio que ficou conhecido como o escândalo dos guardanapos.

Desde então, a visibilidade dos grandes eventos no Rio, palco da final da Copa das Confederações, e as críticas à atuação da Polícia Militar aumentaram o abismo entre o Guanabara e a rua – separados atualmente por duas fileiras de alambrados.

“O mandato do governador do Rio se fragilizou com a exposição de questões éticas e morais. E a pauta das ruas passa justamente por essas duas questões. Cabral encarnou isso e tornou-se o principal alvo dos manifestantes”, explica o sociólogo Paulo Baía, da UFRJ, que estuda há seis anos demandas por reconhecimento, direito e respeito que parte de ações nas ruas.

Baía aponta a ausência do governador como uma falha na estratégia adotada por Cabral para lidar com os protestos. “Nos outros estados, governadores e prefeitos foram rápidos em tomar algum tipo de medida para oferecer algum tipo de resposta.

A Câmara, o Senado e a Presidência foram pelo mesmo caminho. Cabral não, e acabou perdendo base no setor que mais o apoiava, a classe média mais abastada”, analisa. Cabral optou por ficar fora de um momento decisivo da reação aos protestos.

Apesar de escalado para anunciar, ao lado do prefeito Eduardo Paes, a redução nas tarifas de transporte interestadual, preferiu não aparecer, deixando para o afilhado político o anúncio.

Rompeu, assim, o combinado entre os governantes do Rio e de São Paulo, onde o prefeito petista Fernando Haddad comunicou o recuo no reajuste ao lado do governador Geraldo Alckmin.

Cabral não foi o único com dificuldade de entender o grito das ruas. Mas algumas declarações infelizes indicam um descompasso com o tom dos protestos.

Quando vieram à tona as viagens diárias do governador no helicóptero do estado, usado também para levar família, empregados e o cachorro Juquinha para os fins de semana em Mangaratiba, ele se defendeu alegando não ser o único.

“Não sou o primeiro a fazer isso no Brasil. Outros fazem também, e faço de acordo com o cargo que eu ocupo. Não é nenhuma estripulia”, afirmou.

Naquele momento, como agora, os manifestantes interpelaram os governantes não só pelo que consideram ilegal, mas pelos abusos que parecem ‘acobertados’ pela legalidade.

“No primeiro mandato, as notícias sobre Cabral eram positivas. E ele tem mérito: trouxe de volta a autoestima do estado. No segundo mandato, no entanto, lutas políticas fizeram vazar questões antiéticas, com a exposição de uma simbiose entre as esferas pública e privada”, diz Baía.

Charge






Amarildo

A visita do papa Francisco




"Ide e fazei discípulos entre as nações"

 
O Estado de S.Paulo

O papa Francisco chega amanhã ao Brasil para a Jornada Mundial da Juventude, ocasião que está sendo considerada como uma espécie de estreia de um pontificado voltado para a recuperação do papel destacado da Igreja Católica na defesa dos mais pobres e na denúncia das desigualdades sociais.

Com essa disposição, o papa encontrará no Brasil uma audiência especialmente sensível, em meio a protestos por melhores condições de vida e contra a corrupção.

A imagem de um pontífice humilde e genuinamente interessado nos necessitados está sendo cultivada desde a eleição do cardeal Jorge Mario Bergoglio, em 13 de março, e afirmada na escolha do nome - homenagem a São Francisco de Assis, aquele que se dedica aos mais pobres dentre os pobres.

A atenção especial aos desassistidos deverá marcar esta que é a primeira viagem internacional de Francisco e que, portanto, está tomada de expectativa mundial.

O fato de que o papa falará aos jovens é especialmente importante. A mensagem central de Francisco, segundo a qual as considerações de caráter estritamente econômico não podem ser mais valorizadas do que o ser humano, tem o potencial de ir além do rebanho católico, pois é de natureza universal. Trata-se de um convite para que os jovens de todas as crenças se engajem na tarefa de superar as desigualdades.

Em 2007, na Conferência Geral do Episcopado Latino-Americano e Caribenho, em Aparecida (SP), o então cardeal Bergoglio supervisionou a redação de um documento que atacou a "avidez do mercado" e a ideia de que a felicidade está no bem-estar econômico e na "satisfação hedonista".

Agora como papa, Bergoglio terá a oportunidade de enfatizar essa crítica, e a Igreja acredita que ela será bem recebida, porque as recentes manifestações de rua no Brasil e em outras partes do mundo, protagonizadas justamente pelos jovens, indicam maior consciência social.

As palavras de Francisco têm sido acompanhadas de atitudes firmes e autênticas. No início de julho, o papa foi a Lampedusa, ilha italiana que é o ponto de passagem para os milhares de imigrantes ilegais que, vindos da África e do Oriente Médio, tentam entrar na Europa. Foi o primeiro pontífice a fazê-lo. Ao lembrar que centenas de pessoas já morreram em naufrágios na região e que outras tantas se encontram na ilha sem conseguir completar a jornada rumo a uma vida melhor, Francisco disse que "ninguém chora esses mortos" e lamentou que o mundo tenha perdido "o sentido da responsabilidade fraterna".

O gesto indicou que o papa não se furtará a tratar de questões espinhosas, como a imigração e a economia, se isso for necessário para a defesa daqueles que são esquecidos. A busca enfática por justiça social reposiciona a Igreja no momento em que ela tenta se recuperar de diversos escândalos internos e reduzir o distanciamento que marcou o pontificado de Bento XVI, de modo a estancar a sangria de fiéis.

O Brasil é, nesse sentido, um caso de particular preocupação para o Vaticano. No maior país católico do mundo, o número daqueles que se declaram católicos caiu de 83% para 68% entre 1991 e 2010. Já os evangélicos saltaram de 9% para 20% no mesmo período.

Mesmo sem abrir mão das convicções doutrinárias - não se prevê que essa "revolução franciscana" faça concessões à Teologia da Libertação ou altere a posição do Vaticano sobre aborto e casamento entre homossexuais -, o papa espera sensibilizar os desgarrados, demonstrando que a Igreja, sob sua direção, está atenta a seus problemas e disposta a concentrar esforços para superá-los.

Nessa estratégia, cada gesto do papa conta. Por essa razão, o Vaticano já mandou avisar que Francisco dispensa proteção extraordinária em sua visita ao Brasil, pois quer estar o mais perto possível das pessoas.

A Jornada Mundial da Juventude, cujo tema é "Ide e fazei discípulos entre as nações", é a tradução mais importante, até aqui, desse momento de transição da Igreja. Com a mobilização proporcionada pelo carismático Francisco, a intenção é provar que é possível renová-la, apelando para a simplicidade.
21 de julho de 2013

O fantasma da órfã

A propalada truculência da presidente está virando folclore e em lugar de força, mais parece denunciar exasperação impotente


POR JOÃO UBALDO RIBEIRO

O GLOBO

Atribuem ao presidente Kennedy a observação de que a vitória tem muitos pais, mas a derrota é órfã.

Melancólica verdade, sobretudo na política, que sempre a confirma sem perdão, bastando ver como as mãos políticas que hoje afagam são as mesmas que ontem apedrejavam e vice-versa.

Em nosso caso, temos ainda uma tradição de adesismo por que zelar, bem como a prevalência do Sonho Brasileiro, que é descolar uma mamata vitalícia em algum lugar do governo ou do estado, porque aqui governo e estado são a mesma coisa.

Entra um governo novo e declara “o estado é nosso e só faz o que nós queremos”.

Isso torna impossível a realização do sonho sem que o sonhador abandone o inditoso derrotado e passe para o lado do futuroso vencedor.

Suponho que devemos encarar essas coisas com compreensão e até caridade, pois o pessoal está apenas querendo sobreviver e subir na vida, é natural.

Vários outros princípios e paradigmas de conduta estão também envolvidos na questão, entre os quais sobressai o “farinha pouca, meu pirão primeiro”, farol ético que parece nortear nossa formação coletiva, tal o vigor com que se evidencia no comportamento de nossos governantes.

Às vezes penso que a frase devia constar de algum emblema nacional, é muito injusto que não receba o reconhecimento merecido.

No momento, a farinha ainda não está propriamente pouca, mas há sempre os previdentes, que não querem deixar seu pirão aos cuidados do acaso. Melhor tratar de farejar os ares e descortinar por onde anda a temível assombração da derrota, para ir-se afastando dela quanto antes.

Não sei se já começou a debandada, mas acho que pelo menos há alguns sinais dela, difusos nos noticiários e comentários políticos.

O moral do governo não parece andar muito alto. O saco de gatos dos ministérios é um espetáculo triste, desanimado, desarvorado e sem aparentar saber muito para onde ir, ou o que fazer.

Ninguém — arrisco-me a dizer que nem mesmo a presidente — é capaz de lembrar todos os ministérios e muito menos todos os ministros.

Sabe-se que muitos destes se esgueiram obscuramente pelos corredores e salas dos fundos do poder, sem sequer terem a chance de dar um bom-dia à presidente, quanto mais de despachar alguma coisa.

Fica aquela pasmaceira, interrompida por momentos de falatório vago e repetitivo, que não prenunciam nada de importante. E há, seguramente, ministros que, se perguntados de surpresa, não saberão bem o que fazem suas pastas, acrescido o pormenor de que vários ministérios, ou grande parte deles, não fazem nada mesmo, a não ser dar despesa.

A reação às manifestações de rua mostrou um esforço atarantado para manter a aparência de calma, equilíbrio e controle da situação, quando era visível que não havia nada disso e estava todo mundo de olho arregalado e sem saber o que dizer ou, pior ainda, fazer.

Comentou-se em toda parte que, como já teria acontecido antes com frequência, a presidente peregrinou ao ex-presidente, para saber dele como agir, porque ela mesma não fazia ideia, o que vem sublinhando a imagem de despreparo e insegurança mal articulada que ela cada vez mais projeta.

Ouvidos também os vizires do momento, saiu do Planalto uma voz chocha e pouco inspiradora, naquele tom de professora repetindo uma aula decorada a contragosto e sem nenhum entusiasmo ou até confiança, propondo absurdos, tentando espertezas quase amadorísticas e, em última análise, mostrando a incompetência do esquema que a rodeia.

A tal governabilidade, que tanto mal tem produzido, tão pouco bem tem causado e nunca funcionou direito, servindo basicamente para o intricado jogo das nomeações, colocações, favores e outros objetivos dos nossos homens públicos, está cada vez mais caindo pelas tabelas.

Todo dia um cai fora, outro proclama dissidência e independência, formam-se alas e subalas, o rebuliço surdinado é grande. A turma da base aliada, que sempre deu trabalho e aporrinhação e nunca agiu pelos belos olhos da nação, começa a enxergar um governo fraco e a querer distância dele, ainda mais com as ruas pressionando.

A corte continua lá, o ex-presidente continua lá, mas é de se acreditar que, de agora em diante, a solidão da presidente vai agravar-se.

A inflação está voltando e as negativas e bravatas das autoridades não convencem, diante da realidade dos preços. As declarações otimistas do ministro da Fazenda são recebidas quase com deboche.

O crescimento é minguado, e a economia cambaleia cada vez mais e o governo caracteriza seu comportamento por ações meramente conjunturais e pontuais, respondendo de forma superficial e casuística aos problemas que aparecem.

Os índices de popularidade da presidente desabaram e mesmo um antes improvável segundo turno nas eleições já está sendo previsto. Até uma surpreendente vaia de prefeitos ela tomou em Brasília. Tudo isso com certeza provoca inquietude na alma e comichões nos pés de quem quer ficar longe da órfã derrota.

Para completar o quadro, o governo não dispõe de um Big Bang para apresentar, no encerramento destes seus quatro anos. Nenhuma grande obra, nenhum grande passo, nenhum grande marco.

Inflação subindo, PIB baixando, educação alarmante, saúde escangalhada, infraestrutura desmantelada, transporte urbano infernal, segurança pública impotente, estrutura fiscal pervertida, ferrovia Norte-Sul em descalabro, transposição do São Francisco roubada e sucateada — nada a apresentar, nada a trombetear, nada a comemorar.

A propalada truculência da presidente está virando folclore e em lugar de força, mais parece denunciar exasperação impotente.

Cara de derrota para o governo e ninguém vai querer ser o pai dela. Mas receio que não terão dificuldade em apontar a mãe.

21.07.2013

A queda



O valor das empresas do grupo X despencou, enquanto as dívidas pareciam se multiplicar

O BNDES pode perder bilhões do nosso dinheiro


  RODRIGO CONSTANTINO



Eike Batista está para a economia como Lula está para a política. O “sucesso” de ambos, em suas respectivas áreas, tem a mesma origem. Trata-se de um fenômeno bem mais abrangente, que permitiu a ascensão meteórica de ambos como gurus: Eike virou o Midas dos negócios, enquanto Lula era o gênio da política. Tudo mentira.

Esse fenômeno pode ser resumido, basicamente, ao crescimento chinês somado ao baixo custo de capital nos países desenvolvidos. As reformas da era FHC, que criaram os pilares de uma macroeconomia mais sólida, também ajudaram. Mas o grosso veio de fora. Ventos externos impulsionaram nossa economia. Fomos uma cigarra que ganhou na loteria.

A demanda voraz da China por recursos naturais, que por sorte o Brasil tem em abundância, fez com que o valor de nossas exportações disparasse. Por outro lado, após a crise de 2008 os principais bancos centrais do mundo injetaram trilhões de liquidez nos mercados. Isso fez com que o custo do dinheiro ficasse muito reduzido, até negativo se descontada a inflação.

Desesperados por retorno financeiro, os investidores do mundo todo começaram a mergulhar em aventuras nos países em desenvolvimento. Algo análogo a alguém que está recebendo bebida grátis desde cedo na festa, e começa a relaxar seu critério de julgamento, passando a achar qualquer feiosa uma legítima “top model”.

Houve uma enxurrada de fluxo de capitais para países como o Brasil. A própria presidente Dilma chegou a reclamar do “tsunami monetário”. Os investidores estavam em lua de mel com o país, eufóricos com o gigante que finalmente havia acordado. Havia mesmo?

O fato é que essa loteria permitiu o surgimento dos fenômenos Eike Batista e Lula. Eike, um empresário ousado, convenceu-se de que era realmente fora de série, que tinha um poder miraculoso de multiplicar dólares em velocidade espantosa, colocando um X no nome da empresa e vendendo sonhos.

Lula, por sua vez, encantou-se com a adulação das massas, compradas pelas esmolas estatais, possíveis justamente porque jorravam recursos nos cofres públicos. A classe média também estava em êxtase, pois o câmbio se valorizava e o crédito se expandia. Imóveis valorizados, carros novos na garagem, e Miami acessível ao bolso.

O metalúrgico, que perdera três eleições seguidas, tornava-se, quase da noite para o dia, um “gênio da política”, um líder carismático espetacular, acima até mesmo do mensalão. Confiante desse poder, Lula escolheu um “poste” para ocupar seu lugar. E o “poste” venceu! Nada iria convencê-lo de que isso tudo era efeito de um fenômeno mais complexo do que ele compreendia.

Dilma passou por uma remodelagem completa dos marqueteiros, virou uma eficiente gestora por decreto, uma “faxineira ética”, intolerante com os “malfeitos”. Tudo piada de mau gosto, que ainda era engolida pelo público porque a economia não tinha entrado na fase da ressaca. O inverno chegou.

O crescimento chinês desacelerou, e há riscos de um mergulho mais profundo à frente. A economia americana se recuperou parcialmente, e isso fez com que o custo do capital subisse um pouco. Os ventos externos pararam de soprar. Os problemas plantados pela enorme incompetência de um governo intervencionista, arrogante e perdulário começaram a aparecer.

A maré baixou, e ficou visível que o Brasil nadava nu. O BNDES emprestou rios de dinheiro a taxas subsidiadas para os “campeões nacionais”, entre eles o próprio Eike Batista. O Banco Central foi negligente com a inflação, que furou o topo da meta e permaneceu elevada, apesar do fraco crescimento econômico. Os investidores começaram a temer as intervenções arbitrárias de um governo prepotente, e adiaram planos de investimento.

A liquidez começou a secar. O fluxo se inverteu. E o povo começou a ficar muito impaciente. Eike Batista se viu sem acesso a novos recursos para manter seu castelo de cartas. As empresas do grupo X despencaram de valor, sendo quase dizimadas enquanto as dívidas, estas sim, pareciam se multiplicar. A palavra calote passou a ser mencionada. O BNDES pode perder bilhões do nosso dinheiro.

Já a presidente Dilma, criatura de Lula, mergulhou em seu inferno astral. Sua popularidade desabou, os investidores travaram diante de tantas incertezas, e todos parecem cansados de tamanha incompetência.

Eike e Lula deveriam ler Camus: “Brincamos de imortais, mas, ao fim de algumas semanas, já nem sequer sabemos se poderemos nos arrastar até o dia seguinte.”

Rodrigo Constantino, economista, preside o Instituto Liberal

9/07/13