Em privado, o ex-presidente exibe mais do
que nervos à flor da pele. Na presença de amigos íntimos, parlamentares e
um ex-deputado com trânsito nos tribunais superiores, Lula desabou em
choro, ao comentar o processo de deterioração do PT. Como se pouco ou
nada tivesse a ver com a débâcle ética, moral e eleitoral da legenda,
ele lamentou: “Abrimos demais o partido. Fomos muito permissivos”,
justificou. Talvez naquela atmosfera de emoção, Lula tenha recordado de
suas palavras enunciadas em histórica entrevista à ISTOÉ no longínquo
fevereiro de 78, quando na condição de principal líder sindical do ABC
paulista começava a vislumbrar o que viria a ser o PT, criado em 1980.
“Para fazer um partido dos trabalhadores é preciso reunir os
trabalhadores, discutir com os trabalhadores, fazer um programa que
atenda às necessidades dos trabalhadores. Aí pode nascer um partido de
baixo para cima”, disse na ocasião. Hoje, o PT, depois de 12 anos no
poder, não reúne mais os trabalhadores, não discute com eles, muito
menos implementa políticas que observem as suas necessidades. Pelo
contrário, o governo Dilma virou as costas para os trabalhadores,
segundo eles mesmos, ao vetar as alterações no fator previdenciário,
mudar as regras do seguro para os demitidos com carteira assinada e
adotar medidas que levam à inflação e à escalada do desemprego. Agora
crítico mordaz da própria obra, Lula sabe em seu íntimo que não pode se
eximir da culpa pela iminente derrocada do projeto pavimentado por ele
mesmo.