Reportagem
de capa da recente edição da revista VEJA joga luz em parte
considerável dos porões do petrolão. Pessoa, preso desde novembro, está
disposto a falar, e a revista revela um tanto do que ele tem a dizer. E O
QUE ELE QUER DIZER DESDE QUE JANOT (E LEMBREM-SE DE QUE VOLTAREI AO
PROCURADOR-GERAL…) QUEIRA OUVI-LO NUM PROCESSO DE DELAÇÃO PREMIADA?
Sintetizo as informações da revista. A edição já está nas bancas.
– A UTC doou por baixo do pano R$ 30 milhões à campanha eleitoral do PT em 2014;
– R$ 10 milhões desses R$ 30 milhões foram para a campanha de Dilma Rousseff;
– o esquema de roubalheira na Petrobras começou em 2003, organizado, originalmente, por Delúbio Soares;
– a UTC financiou diretamente a campanha dos petistas Jaques Wagner ao governo da Bahia, em 2006 e 2010, e de Rui Costa em 2014;
– em 2011, João Vaccari Neto
procurou a UTC para a empreiteira, digamos, dar uma ajudazinha para José
Dirceu resolver seus problemas pessoais: a empreiteira simulou um
contrato de consultoria com a empresa do chefão petista no valor de R$
2,3 milhões;
– Pessoa se reuniu com Edinho
Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, entre o primeiro e o segundo
turnos para acertar a “doação” extracurricular de R$ 3,5 milhões.
O MINISTÉRIO PÚBLICO, QUE AQUI SINTETIZO NA PESSOA DE RODRIGO JANOT, QUER OU NÃO OUVIR O QUE PESSOA TEM A DIZER?
A natureza do jogo
Atenção, leitores, para a natureza do jogo.
O
escândalo do petróleo é um terreno fértil para erigir bandidos e
mocinhos, vilões e heróis. Também abre o caminho para que tacanhices
ideológicas e interesses pessoais contrariados se manifestem. Então
vamos ver o conjunto das facilidades interessadas que se anunciam por
aí:
a: chegou a hora de pegar os empreiteiros, os grandes bandidos do Brasil;
b: tudo isso é fruto do mau-caratismo das elites, que espoliam o país;
c: não fosse o corruptor (o ativo), não haveria o corrupto (o passivo) — como se o contrário também não fosse verdade;
d: o estado não tem como se livrar da canga imposta pelas empreiteiras;
e: o que se vê aí é o mal decorrente da formação de cartel;
f: e, finalmente, não se descarte, “o empreiteiro X não gosta de mim, e eu não gosto dele, mas a gente pode resolver”…
Adiante.
Por isso, é preciso entender a natureza do processo, deixando de lado o
fígado, a ideologia e o interesse. No dia 2 de fevereiro, escrevi aqui
um post cujo título era este: “Afinal,
os empreiteiros corromperam os políticos, ou os políticos corromperam
os empreiteiros? Ou ainda: Juiz Sérgio Moro tem de tomar cuidado para
não aliviar a carga do ombro dos companheiros”.

Nesse meu texto, escrevi:
“O Ministério Público Federal
criou uma página com esclarecimentos sobre a Lava-Jato. Acho a
iniciativa louvável, sim, embora haja ali um tantinho de proselitismo,
de que a página deveria ser escoimada. A ilustração-síntese sugere que
tudo começa com um grupo de empresários que decide praticar fraudes.
Para tanto, corrompem agentes públicos, com a ajuda de doleiros. Com a
devida vênia, isso frauda é a história. Cadê o projeto de poder dali?
Não se trata de uma questão de gosto, de leitura, de ideologia, de viés,
mas de fato. Em sua página, infelizmente, o MP omite a essência do que
estava em curso: havia um partido no comando da operação. Aliás, isso
está no depoimento do próprio Paulo Roberto Costa, segundo quem o PT
ficava com parte considerável mesmo da propina que era paga ao PP.
(…)
No esforço de manter parte da
investigação na 13ª Vara Federal, em Curitiba, para que não migre toda
para o Supremo Tribunal Federal, o juiz Sergio Moro tem impedido que
empreiteiros e ex-diretores da Petrobras citem nomes de políticos com
mandato. Vamos ser claros: não deixa de ser uma forma incômoda de
condução do processo, que leva, ademais, a uma suposição errada — a de
que o esquema tinha um braço de funcionamento que independia da
política. Isso é simplesmente mentira.
A síntese é a seguinte: é preciso
que o dito rigor de Sérgio Moro não acabe contribuindo para aliviar o
peso sobre as costas do PT, que é, afinal, desde sempre, o maestro da
ópera, não é mesmo? Se os verdadeiros responsáveis restarem impunes — ou
receberem uma pena branda —, tudo seguirá igual no estado brasileiro.”
No dia 4 de fevereiro, voltei à carga com outro post, cujo título era:
“É preciso cuidado para que o tão aplaudido rigor de Moro e do MP não
acabe servindo, de novo!, à impunidade dos petistas! Ou: A tese
impossível.”

Muita gente ficou bravinha, como se eu ligasse pra isso. Prestem atenção ao que escrevi ali.
É possível que, até agora, eu não
tenha me feito entender, mas eu sou mais chatinho do que o Pequeno
Príncipe, e jamais desisto de uma questão. Então vamos ver.
Todas as ações penais que correm
na 13ª Vara Federal de Curitiba estão atreladas a uma tese: as
empreiteiras formaram um cartel para corromper “agentes públicos” na
Petrobras. Os nomes dos políticos com mandato eventualmente envolvidos
nas falcatruas são enviados ao Supremo Tribunal Federal pelo Ministério
Público.
Infiro, prestem atenção!, que
parte considerável do PT — e o núcleo ligado à presidente Dilma em
particular — está satisfeito com essa, digamos, divisão. Não se fala
nome de político com mandato na presença do juiz Sérgio Moro. Isso é
para outra instância. Estes chegam ao Supremo pelas mãos do MP.
Parece que o juiz e o MP se
atribuíram uma missão: “Aqui, nós vamos punir os corruptores da
Petrobras”. Tudo indica que o objetivo é manter os empresários presos
até que admitam o crime de cartel. Se isso acontecer, então Justiça e
Ministério Público dão por cumprida a sua missão.
Qual é o problema dessa tese? Ela
favorece, obviamente, os políticos larápios. Sim, talvez o Supremo se
encarregue deles, vamos ver, mas estará consolidada uma farsa
monumental: a de que as empreiteiras cometeram crimes que não estavam
necessariamente conectados com a política. E isso simplesmente não
aconteceu.
A tese do “cartel”, diga-se, é um
tanto cediça. Se existia, por que as empresas negociavam caso a caso
com a quadrilha? Esse dito cartel, ou o que tenha existido, poderia ter
operado sem os políticos na outra ponta — e sem um grupo político em
particular: o PT?
Retomo
É preciso saber ler linhas, entrelinhas
e, claro!, conversar com as pessoas que estão escrevendo, não importa o
papel que desempenhem, esse capítulo da história. Nem tudo se resolve
com imaginação. Estava na cara, E A REPORTAGEM DA VEJA EXPLICITA, ISTO — É UMA INTERPRETAÇÃO MINHA, NÃO DA REVISTA — QUE O MP ESTÁ FAZENDO CORPO MOLE NO CASO DE RICARDO PESSOA.
O
empresário quer falar, mas parece que o MP não quer ouvir. O empresário
quer fazer acordo de delação premiada, mas parece que Rodrigo Janot não
gosta do que ele tem a dizer. O empresário quer falar, mas parece que
suas informações não se coadunam com a determinação do Ministério
Público e do juiz Sérgio Moro — que não se encarrega dos políticos — de
provar a formação do cartel — uma tese, lamento!, fácil e errada.
O que se
viu no petrolão e no mensalão foi a constituição de uma quadrilha, de
uma organização criminosa, de caráter essencialmente político, para
financiar um projeto de poder. A prisão preventiva não pode ser usada
como instrumento para que o acusado ou o réu confesse aquilo que a
autoridade — juiz ou Ministério Público — quer ouvir.
Por
enquanto, da forma como as coisas estão sendo encaminhadas, tudo aponta
para uma punição severa dos empreiteiros que não quiserem confessar o
que querem que eles confessem, não necessariamente o que aconteceu,
preservando a verdadeira natureza do crime. Por isso lamentei aqui
quando o juiz Moro se insurgiu contra as testemunhas de defesa arroladas
por Ricardo Pessoa. Entre eles, estão Jaques Wagner — agora se entende
por quê — e José de Filippi Jr., ex-tesoureiro das campanhas de Lula e
Dilma. Até hoje o juiz não explicou por que ficou zangado.
E É POR
ISSO TUDO QUE EU AINDA VOU ESCREVER UM OUTRO POST, ESPECIFICAMENTE SOBRE
RODRIGO JANOT. UMA FRASE QUE ELE DISSE A UM INTERLOCUTOR ESTÁ
MARTELANDO AQUI NA MINHA CABEÇA. E VOCÊS SABERÃO QUAL É. UMA COISA É
CERTA: O GOVERNO DILMA E OS PETISTAS TAMBÉM NÃO QUEREM QUE
PESSOA FAÇA DELAÇÃO PREMIADA, A EXEMPLO DO PROCURADOR-GERAL DA
REPÚBLICA. POR ISSO JOSÉ EDUARDO CARDOZO FOI À LUTA.
ESSE CASO,
MEUS CAROS, COMPORTA MUITO MAIS NUANCES DO QUE INVENTAR BANDIDOS DE
MANUAL. E quem acompanha este blog leu aqui, antes, a natureza do jogo.
No próximo post, Janot.
21/02/2015