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sábado, 23 de maio de 2015

Os segredos do mensalão, dez anos depois


A história secreta de como o ex-presidente Lula escapou do escândalo de suborno que levou à prisão congressistas, empresários e toda a cúpula do PT

Por:Daniel Pereira
VEJA


O ex-presidente Lula sobreviveu à CPI do mensalão, não foi acusado pelo Ministério Público e não pôde ser incluído no processo do Supremo Tribunal Federal: mais que habilidade
(Alex Majoli/Magnum Photos/VEJA)

Na edição de 18 de maio de 2005, VEJA publicou uma reportagem exclusiva sobre um funcionário dos Correios filmado quando embolsava uma propina de 3 000 reais. Era puxado ali o fio da meada do mensalão, o primeiro dos dois esquemas de compra de apoio político engendrados no governo do PT. Nos doze meses seguintes, o Congresso esquadrinhou cada peça dessa engrenagem criminosa abastecida com recursos desviados dos cofres públicos.

Os resultados produzidos representaram um ponto fora da curva na tradição de impunidade que beneficia os poderosos. Com base em provas colhidas pela CPI dos Correios, três deputados tiveram o mandato cassado, quarenta pes­soas foram denunciadas pelo Ministério Público e 24 condenadas pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A antiga cúpula petista foi sentenciada à prisão.

Antes cotado para a sucessão de Lula na Presidência, José Dirceu passou quase um ano atrás das grades numa penitenciária em Brasília. Banqueiros e empresários ainda estão encarcerados. Os criminosos de punho de renda foram finalmente apresentados ao castigo - não sem antes ouvir uma reprimenda moral histórica.

"São eles, corruptores e corruptos, os profanadores da República, os subversivos da ordem institucional, são delinquentes e marginais da ética do poder", disse o decano do STF, o ministro Celso de Mello.


Hoje, o mensalão ocupa um papel secundário no panteão dos escândalos nacionais. Foi superado, em cifras e ousadia, pelo petrolão, mas alguns de seus pontos ainda precisam ser elucidados. O mais intrigante deles é como o ex-­presidente Lula se livrou da responsabilidade no caso, se era, em última instância, o principal beneficiário dos votos comprados no plenário da Câmara.

VEJA desta semana desvenda como Lula escapou do risco de ser apontado como o chefe do mensalão e de responder a um processo de impeachment durante a CPI dos Correios. O sucesso da blindagem ao ex-­presidente não decorreu apenas da capacidade de negociação de seus articuladores políticos.

O PT negociou o silêncio do empresário Marcos Valério quando ele - às vésperas da conclusão da CPI dos Correios - avisou que acusaria Lula de comandar o mensalão se não recebesse uma ajuda financeira milionária.

Um empresário amigo foi convocado para pagar a fatura e Valério se recolheu. Lula se livrou da CPI, reelegeu-se em 2006 e foi o efetivo cabo eleitoral de Dilma em 2010. Em 2012, Valério contou parte de seus segredos ao Ministério Público, tentando um acordo de delação premiada.

Já era tarde.

Lula não podia mais ser incluído no processo.

O empresário cumpre uma pena de 37 anos
de prisão. Definitivamente, não fez um bom negócio.




22/05/2015

sexta-feira, 22 de maio de 2015

Lobista pagou R$ 1,15 milhão para Dirceu durante julgamento do mensalão


Para o juiz Sérgio Moro, que mandou prender Milton Pascowitch nesta quinta-feira, 21, este pagamento "coloca em dúvida" se de fato a empresa de Dirceu recebeu por "serviços de consultoria"
ISTOÉ Online
A força-tarefa da Operação Lava Jato descobriu que o lobista Milton Pascowitch repassou R$ 1,15 milhão para a empresa JD Assessoria e Consultoria, de José Dirceu, no ano de 2012, quando o Supremo Tribunal Federal (STF) julgava o processo do mensalão, no qual a Procuradoria-Geral da República acusava por corrupção o ex-ministro da Casa Civil do governo Lula.

Para o juiz Sérgio Moro, que mandou prender Pascowitch nesta quinta-feira, 21, este pagamento "coloca em dúvida" se de fato a empresa de Dirceu recebeu de Pascowitch por "serviços de consultoria".



Ao todo, a força-tarefa identificou pagamento de R$ 1,45 milhão de Pascowitch para a empresa de Dirceu - portanto, o maior volume chegou ao caixa da empresa de Dirceu justamente durante o julgamento do mensalão. "Merecem igualmente destaque pagamentos de R$ 1.457.954,70 entre 2011 e 2012 à empresa JD Assessoria e Consultoria Ltda., de titularidade de José Dirceu de Oliveira e Silva, ex-ministro-chefe da Casa Civil e liderança do Partido dos Trabalhadores, depois condenado criminalmente pelo Plenário do Supremo Tribunal Federal na Ação Penal 470", anotou o juiz Moro.

Para ele, "causa certa surpresa que, deste valor, R$ 1.157.954,70 tenham sido pagos durante o ano de 2012, quando o Plenário do Supremo Tribunal Federal julgava, na Ação Penal 470, a acusação formulada pelo Procurador Geral da República contra José Dirceu, o que coloca em dúvida se poderiam ter por causa prestação de serviços de consultoria."


22.Mai.15 


quinta-feira, 21 de maio de 2015

O HOMEM-BOMBA – Pessoa é a esperança de investigação chegar ao Executivo




Por Reinaldo Azevedo

Um indivíduo provoca pesadelos no PT: Ricardo Pessoa, o dono da UTC Engenharia, apontado pelo Ministério Público como coordenador do suposto cartel de empreiteiras. Ele era também, até outro dia, amigão de Lula. Consta que os meses que passou na prisão abalaram suas certezas sobre essa amizade. E ele estaria disposto a falar. Vai depor na semana que vem, em Brasília, depois de ter feito um acordo de delação premiada, que, por alguma razão, demorou bastante a sair.

A expectativa é que entregue o nome de políticos.

Pessoa já confessou doações ao PT feitas pelo caixa dois e lavadas na forma de contribuições legais. Só em 2014, afirma, doou R$ 30 milhões a candidatos do PT. Contratou ainda os serviços da empresa de consultoria de José Dirceu. À diferença de alguns outros empreiteiros, que já andaram conversando, ainda que indiretamente, com seus antigos parceiros — sim, eu me refiro aos petistas —, consta que o dono da UTC anda refratário a qualquer tipo de aproximação. Verdade ou não, veremos com o andamento dos fatos.

Consta que Pessoa vai entregar políticos que participaram da lambança. Haverá ainda personagens a revelar? E isso me dá a oportunidade de, mais uma vez, lhes propor uma reflexão.

Você já atentaram para a lista de políticos oficialmente enrolados no petrolão? Com todo o respeito e ressalvando-se uma exceção ou outra, trata-se de uma coleção de mediocridades. Alguns deles não devem ter influência nem no condomínio em que moram. Sim, há gente graúda, como o senador Renan Calheiros (AL) e o deputado Eduardo Cunha (PMDB-RJ), respectivamente presidentes do Senado e da Câmara. Mas, reitero, são casos excepcionais. E a ironia das ironias: os investigados mais graduados são… peemedebistas.

O que estou a dizer, em suma, é que sempre me causa estranheza que um escândalo dessa magnitude tenha como protagonistas apenas empreiteiros, figuras do Legislativo e ex-diretores da Petrobras. Sim, há um peixão petista: João Vaccari Neto. Mas para por aí. Cadê o Poder Executivo nessa história?

É simplesmente impossível que esquema criminoso tão azeitado não estivesse obedecendo a um comando político ao qual, certamente, toda aquela gente se subordinava. Quem sabe Pessoa seja a esperança de chegar, vamos dizer, ao mandante ou aos mandantes.

Tomara!

21/05/2015



Padim Lula: da unção à maldição




 
JOSÉ NÊUMANNE
 Estadão

Ricardo Pessoa, ex-engenheiro da OAS e empreiteiro da UTC, foi escalado na seleção dos “campeões mundiais” ungidos com as bênçãos do padim Lula de Caetés. Egresso de uma carreira anônima de executivo da construtora baiana, cujo dono era genro de um figurão da República nos anos JK, na ditadura militar, na Nova República e no mandarinato tucano, Antônio Carlos Magalhães, o ACM – dependendo das circunstâncias, Toninho Malvadeza ou Ternura –, subiu na vida como um foguete. E caiu ao fundo do pré-sal acusado de chefiar um cartel que demoliu o patrimônio e a credibilidade da joia da coroa estatizada brasileira, no qual dava cartas para os ex-patrões da OAS e outros figurões carimbados da construção civil nacional: Camargo Corrêa e Odebrecht, entre eles. Subida ao céu e descida aos infernos sob a égide do padroeiro.

Os irmãos Joesley e Wesley Batista, filhos de José Batista Sobrinho, o Zé Mineiro, que em 1953 abriu a Casa de Carnes Mineira, um pequeno açougue em Anápolis (GO), adotaram as iniciais do nome do pai, JBS, para denominar um grupo que, no século 21, passou a ser o maior processador de proteína animal do mundo, com 152 mil empregados. Para recorrer a uma metáfora futebolística, tão ao gosto do padim, é como se a Anapolina, cuja torcida chama de xata (com x mesmo), decolasse da Série D do Campeonato Brasileiro de Futebol para ganhar o título mundial contra Barcelona ou Juventus de Turim, não importa.

Há, contudo, uma diferença capital entre os Batistas e Pessoa: enquanto este usa uma tornozeleira para não sair de casa, os goianos comemoram, ano após ano, lucros fabulosos. O máximo de incômodo pode ter sido a decisão do Tribunal de Contas da União (TCU) de exigir que o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico Social (BNDES) abra o sigilo, que tem mantido teimosamente, sobre as vultosas quantias a que a instituição pública se tem associado em suas conquistas no Brasil e alhures. O estouro da boiada, de Consuelo Dieguez, na Piauí, conta como.

Se o TCU não encontrar nada de errado nas relações entre empresa particular e banco estatal, a não ser generosidade de compadre, a esta altura do campeonato restará a constatação de que os filhos de Zé Mineiro serão privilegiados também pelo fato de o ouro do esperto alquimista de Caetés não ter virado cinzas. Mas o clã mineiro em Goiás nunca será acusado de esbanjar, pois tem multiplicado cada centavo da “viúva” injetado. Ao contrário de Eike Batista, filho de Eliezer, o badalado gestor da Vale estatal que operou o “milagre” da transformação de metal precioso em porcaria, reduzindo a pó todos os papagaios de notas de dólar que empinou e tornando uma herança de mandarim um festival de falências.

Já houve quem dissesse que o melhor negócio do mundo é um poço de petróleo bem administrado e o segundo melhor, um poço de petróleo mal administrado. Eike desafiou essa lei do mercado, mas não passou de um golden boy num ringue de pesos pesados. Se é verdadeiro o grave conteúdo das delações premiadas coletadas pela Polícia Federal (PF) e pelo Ministério Público Federal (MPF) do Paraná e que têm merecido atenção e aprovação do juiz federal Sérgio Moro, em Curitiba, a ex-maior empresa brasileira, a estatal Petrobrás, despencou do alto de desempenho e reputação invejáveis no mundo para o fundo dos próprios poços na profundeza dos mares, em caixa, patrimônio e credibilidade.

Um dos presos na investigação, antes condenado no escândalo do mensalão, o ex-deputado Pedro Corrêa disse à CPI da Petrobrás que o ex-presidente Luiz Inácio só não foi preso porque ninguém teve coragem de fazê-lo. No depoimento, ele delatou: “Lula achava que o Paulo deveria ser diretor de Abastecimento”. O delator recorreu ao testemunho de um morto, José Janene, mas não faltam vivos que se lembrem do carinho com que Lula tratava seu afilhado de “Paulinho”.

Essa talvez seja a única explicação razoável para o desabafo que o dono do dedo que ungiu os “campeões mundiais” andou fazendo em Brasília na semana passada. De acordo com relato dos colegas Andreza Matais e Ricardo Brito, da sucursal de Brasília, publicado neste jornal no sábado, o ex “admitiu” que “não atravessa uma boa fase”. Duvida quem, como o autor destas linhas, frequentou sua casa na vila operária do Jardim Assunção e sabe que hoje o padim mora em apartamento de luxo na mesma cidade de São Bernardo. E tem garantido conforto para veraneios no Guarujá em apartamento tríplex que, segundo seus acusadores, foi concluído pela OAS para a Bancoop, que não tem um histórico muito católico de entregar vivendas que vendeu. Será exagero concluir que ele cospe na própria sorte? Talvez.

Mas uma parábola futebolística é muito adequada se se juntar o que se publica nas páginas de política, polícia e esportes hoje em dia. O Corinthians não sabe, nem tem, como pagar dívida de R$ 1,15 bilhão pelo estádio ainda sem nome que o BNDES ajudou a Odebrecht a construir para o time do coração de Lula. E este e vários dos ungidos por ele enfrentam dificuldades mais amargas do que a eliminação do ex-campeão mundial da Libertadores.

O MPF leva adiante investigação sobre o poder de indicar executivos heterodoxos para gerir dinheiro público de uma amiga íntima de Lula, Rosemary Noronha, que, nomeada por ele, chefiou o escritório da Presidência da República em São Paulo. Em Portugal, o ex-premier José Sócrates, preso, responde por suspeita de protagonizar o escândalo dos sanguessugas. No processo, o colega brasileiro é citado, e não pelo feito de ser autor do prefácio de seu livro sobre tortura.

Relatam os repórteres que o preocupa mais a eventual delação premiada de Pessoa, cuja empresa tinha há sete meses R$ 10 bilhões em contratos ativos com a Petrobrás. Se este contar por que chefiava os maiores tocadores de obras de Pindorama, aí, quem sabe, a vaca tussa e a porca torça o rabo.


21/05/2015



Lava Jato: dono da UTC vai entregar nomes de políticos


Chefe do 'clube do bilhão', Ricardo Pessoa viajará para Brasília na semana que vem para prestar depoimento à Procuradoria Geral da República

Por: Laryssa Borges, de Curitiba


HOMEM BOMBA - O engenheiro Ricardo Pessoa firmou um acordo de delação premiada para revelar o que sabe sobre o escândalo da Petrobras(Marcos Bezerra/Estadão Conteúdo)

Apontado como homem-bomba entre os empreiteiros investigados na Operação Lava Jato, o empresário Ricardo Pessoa, dono da UTC Engenharia, vai prestar depoimentos na próxima semana em Brasília para detalhar o papel de políticos envolvidos no escândalo do petrolão.

Ele assinou um acordo de delação premiada no último dia 13 e citou, entre outros parlamentares, o senador e ex-ministro de Minas e Energia Edison Lobão como um dos beneficiários do esquema de fraude em contratos e distribuição de propina envolvendo a Petrobras. De acordo com a coluna Radar on-line, também foi citado o nome de Tiago Cedraz, filho do presidente do Tribunal de Contas da União (TCU), Aroldo Cedraz. O advogado teria recebido dinheiro para abrir caminhos no TCU nas obras de Angra 3.

Pessoa é apontado pelos investigadores como chefe do "clube do bilhão", cartel de empreiteiras que combinava preços de licitação e desviava recursos para o pagamento de vantagens indevidas a ex-diretores e parlamentares. A proximidade do empreiteiro com o ex-presidente Lula provoca pânico no Palácio do Planalto, já que o empresário admitiu ter destinado recursos de propina para as três últimas campanhas eleitorais do PT à Presidência da República. Em 2006, por meio de caixa dois. Em 2010 e 2014, em doações registradas na Justiça Eleitoral.

Ele também pagou 3,1 milhões de reais a José Dirceu para obter favores do PT, além de ter financiado com caixa dois a campanha de Fernando Haddad à prefeitura de São Paulo em 2012.

Conforme VEJA revelou, o empreiteiro disse a pessoas próximas que pagou despesas pessoais de Dirceu e deu 30 milhões de reais, em 2014, a candidaturas do PT, incluindo a presidencial de Dilma Rousseff - tudo com dinheiro desviado da Petrobras. Pessoa também garantiu ter na memória detalhes da participação dos ministros Jaques Wagner (Defesa) e Edinho Silva (Secretaria de Comunicação Social), tesoureiro da campanha de Dilma em 2014, na coleta de dinheiro para candidatos petistas. "O Edinho está preocupadíssimo", escreveu num bilhete, em tom de ameaça, ainda no início de sua temporada na cadeia, em Curitiba.

Atualmente Ricardo Pessoa cumpre prisão domiciliar em São Paulo. Ele estará em Brasília a partir de segunda-feira para os depoimentos, previstos para se estenderem até a próxima sexta-feira.



21/05/2015


quarta-feira, 20 de maio de 2015

Impeachment não passaria na Câmara, diz senador Aloysio Nunes (PSDB-SP)



Estadão


O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) avalia que a decisão do PSDB de optar por um pedido de ação penal contra a presidente Dilma Rousseff pelas pedaladas fiscais (manobra que consiste em atrasar repasses do Tesouro Nacional aos bancos federais para o pagamento de benefícios sociais) em vez de pedir o impeachment no Congresso Nacional é o caminho "mais adequado".

"Hoje não há 342 votos na Câmara a favor do impeachment. Se a investigação que pleiteamos concluir pela culpa da presidente, esse quórum terá mais visibilidade política", disse o senador ao Estado. "Esse caminho (a ação penal junto ao Ministério Público Federal) evita a polêmica jurídica sobre se os fatos ocorreram nesse mandato ou no anterior"

O senador Aécio Neves (MG), presidente nacional do PSDB, recebeu nesta quarta-feira, 20, do ex-ministro da Justiça, Miguel Reale Junior, um parecer recomendando que a legenda desista de pedir no Congresso Nacional a abertura de processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff. A estratégia apresentada pelo jurista, que foi ministro da Justiça do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, é entrar com um pedido de ação penal contra a presidente no Ministério Público Federal pelas pedaladas fiscais,

O parecer tentará demonstrar que a manobra contaminou a atual gestão. O documento foi debatido hoje em uma reunião em Brasília com os senadores Aloysio Nunes Ferreira (SP), Cássio Cunha Lima (PB), líder do PSDB no Senado, e os deputados Carlos Sampaio (SP), líder do PSDB na Câmara, e Bruno Araújo (PE), líder da minoria. O PSDB submeterá o parecer aos presidentes do partidos de oposição em uma reunião na manhã desta quinta-feira, 21, no gabinete de Aécio no Senado.

A opção escolhida pelo PSDB frustra a bancada do partido na Câmara, que pressionava a legenda por um pedido direto no Congresso. Essa tese perdeu força depois que o presidente da Casa, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), sinalizou que arquivaria o pedido.

20/05/2015



O pesadelo de Lula



Editorial do Estadão


“Não estou numa fase muito boa”, teria repetido o ex-presidente Lula nas conversas que manteve na sexta-feira em Brasília. Poderia ser um tardio reconhecimento das consequências do que fez ou deixou de fazer nos últimos 12 anos. Afinal, se o País vai de mal a pior, o grande responsável por essa situação não poderia sentir-se de modo diferente. Mas não se imagine que Lula está preocupado com os destinos do País. O que o incomoda são as perspectivas sombrias que se abatem sobre seu próprio futuro político.


A crise que levou o País à retração econômica não é, como tenta justificar a presidente Dilma Rousseff, consequência da conjuntura internacional desfavorável, mas resultado de erros do governo do PT. É a prova mais evidente do esgotamento de um modelo que era viável enquanto o País surfava nas ondas de um mercado internacional favorável a economias cujo crescimento depende das exportações de matérias-primas, como a brasileira. Enquanto foi possível, o governo petista irresponsavelmente estimulou a gastança interna, elevando as despesas públicas e ampliando o consumo. Investimentos ambiciosos foram prometidos pelo governo. Dispondo de emprego e tendo acesso a crédito abundante, a classe média foi às compras, iludida pela propaganda oficial que lhe prometia quase o paraíso.

O sonho acabou. Agora, faltam salário e crédito para comprar eletrodomésticos, casa própria e automóvel, e não há recursos públicos para investir em bens sociais e em infraestrutura. O governo tenta cortar na própria carne – e na dos assalariados – para botar ordem nas suas contas e evitar a completa perda de credibilidade.

O PT colhe o que plantou. E o dono do PT paga o preço da soberba, da ambição e da autoconfiança desmedidas que o levaram a tratar o Brasil como sua propriedade por oito anos e ao erro fatal, do qual já se deu conta, de se valer de sua popularidade para escolher uma sucessora que lhe garantisse sua volta triunfal ao Planalto – se fosse possível, já em 2014.

O erro de Lula em 2010 foi imaginar que Dilma Rousseff permaneceria docilmente submetida à sua vontade de todo-poderoso Pai da Pátria – e, claro, do PT. Muito menos “pragmática” do que ele, cega pelo mesmo radicalismo dogmático dos grupos nos quais militou durante a ditadura militar, Dilma não se deu conta da encruzilhada em que o País se encontrava quando assumiu o poder e assim colocou, ela e o País, no caminho errado.

Em seus dois últimos anos na Presidência, Lula lograra minimizar os efeitos da crise internacional sobre o Brasil. Mas a crise impunha ao País a necessidade de se ater aos fundamentos macroeconômicos herdados da era FHC. Lula até que os preservara, mas começou a afrouxá-los, iludido pelos resultados positivos da economia brasileira. Por isso, quando a crise de 2008 se abateu sobre o mundo globalizado, países com finanças públicas mais organizadas e governos mais atentos e fiscalmente responsáveis escaparam dos seus efeitos com relativa rapidez, mas o Brasil não.

Ao chegar à Presidência, em 2011, Dilma ampliou a intervenção do Estado na economia. Reelegeu-se prometendo exatamente o contrário do que era necessário e urgente fazer. Atolou-se e levou junto o PT ao pântano do descrédito popular em que se encontra. Enquanto o País, acéfalo, fica nas mãos do mais puro oportunismo político encastelado no comando do Congresso Nacional, o PT e Lula falam em “repactuar” o partido, seja lá o que isso signifique.

Não adianta Lula declarar-se incomodado, tentar reformular o PT mudando toda a direção nacional, convocar personalidades de seu círculo de relações para encontrar uma saída para o beco em que se meteu.

A culpa por “tudo isso que está aí” – como ele gostava de proclamar antes de 2002 para apontar o alvo de sua fúria oposicionista – é dele, Luiz Inácio Lula da Silva.
Dilma é apenas uma coadjuvante desmoralizada politicamente ao ser apanhada nas mentiras do marketing político que a reelegeu. Foi praticamente abandonada pelo próprio partido, que hesita em apoiá-la nas medidas de ajuste fiscal.


A presidente ainda tem três anos e meio de mandato. É impossível prever o que virá, mas talvez lhe esteja reservado o papel involuntário de eliminar, com seus desacertos, qualquer possibilidade de volta de Lula ao poder.

20 de maio de 2015




A polêmica ferrovia que a China quer construir na América do Sul



Ferrovia Transoceânica deve ganhar novo impulso com visita de premiê chinês, Li Keqiang, à América do Sul

Por Gerardo Lissardy
Da BBC Mundo


Uma ferrovia que começa no Rio de Janeiro banhada pelo Oceano Atlântico, atravessa a Floresta Amazônica e a Cordilheira dos Andes e termina na costa peruana em pleno Oceano Pacífico: este é o ambicioso plano que a China quer consolidar na América do Sul.

O projeto ganhou novo impulso com a visita do primeiro-ministro chinês, Li Keqiang, à região, que começou na noite da última segunda-feira no Brasil e ainda inclui escalas na Colômbia, no Peru e no Chile.

Nesta terça-feira, Li Keqiang se encontrou com a presidente Dilma Rousseff em Brasília. Na ocasião, foram assinados 35 acordos de cooperação entre os dois países, englobando áreas como planejamento estratégico, transportes, infraestrutura, energia e agricultura.

Durante o encontro, a presidente Dilma declarou que Brasil, China e Peru iniciaram os estudos de viabilidade da conexão ferroviária entre o Atlântico e o Pacífico. "Trata-se da ferrovia transcontinental que vai cruzar o nosso país no sentido leste oeste cortando o continente sul-americano", disse a presidente que, logo depois, em conversa com repórteres, classificou a ferrovia como "estratégica para o Brasil".

De Brasília, Li Keqiang segue para o Rio de Janeiro, onde deve participar da inauguração de uma exposição de marcas chinesas e de um passeio de barco pela baía de Guanabara. A agenda do premiê chinês no Brasil termina na próxima quinta-feira.
Ferrovia

Com o projeto da ferrovia, Pequim pretende aumentar sua presença econômica no continente e facilitar o acesso a matérias-primas, o que também gera interesse do Brasil e do Peru.

Em declaração no início da tarde desta terça-feira durante o encontro com Li Keqiang, a presidente Dilma Rousseff afirmou que, com a ferrovia, "um novo caminho para a Ásia se abrirá para o Brasil, reduzindo distâncias e custos".

Especialistas acreditam que a construção da estrada de ferro marcaria uma nova fase na relação da China com a região. No entanto, para que o projeto saia do papel, será necessário superar grandes desafios de engenharia, ambientais e políticos, dizem analistas ouvidos pela BBC.

"Seria uma grande conquista e uma peça-chave da relação da China com a América do Sul, se esse projeto realmente sair do papel", diz Kevin Gallagher, professor da Universidade de Boston e autor de estudos sobre a relação China-América Latina.

"Todo o projeto é uma grande promessa, mas deve ser bem feito ou pode se tornar um pesadelo", ressalva.

Intercâmbio

Keqiang começa sua visita ao Brasil em meio a um momento de desaceleração da economia chinesa e das sul-americanas.

A região deve crescer menos de 1% neste ano, de acordo com o FMI (Fundo Monetário Internacional), em parte por causa de uma atividade econômica mais fraca no Brasil. E a falta de infraestrutura continua a ser um dos principais problemas do país.

A China, por sua vez, necessita de recursos naturais para sustentar sua expansão econômica e tem interesse primordial na construção de projetos ferroviários em outras regiões do globo.

Ferrovia liga litoral do Rio de Janeiro ao do Peru


Neste contexto, a Ferrovia Transoceânica, cujo custo é estimado em até US$ 10 bilhões (R$ 30 bilhões), poderia cobrir as necessidades dos vários países envolvidos.


"Próximo passo"

Com a popularidade em baixa e abalada por escândalos de corrupção, Dilma prepara um programa de concessões de infraestrutura previsto para ser lançado em junho.

Segundo informações do jornal Folha de S.Paulo, trechos da ferrovia até a fronteira com o Peru estariam contemplados na segunda etapa das licitações.

Estudos técnicos já foram iniciados em solo brasileiro para ligar o porto de Açu, no Rio de Janeiro, a Porto Velho, na bacia amazônica.

A ligação da capital de Rondônia ao Pacífico daria a produtores brasileiros uma alternativa sobre o Atlântico e o Canal do Panamá para enviar matérias-primas para a China.

"Há uma lógica econômica por trás do projeto", disse João Augusto Castro Neves, analista para América Latina da consultoria Eurasia Group.

Apetite chinês por matérias-primas da América do Sul está por trás de projeto

Nos últimos anos, a relação entre a China e o Brasil é muito focada no aspecto comercial, com o aumento das exportações de produtos como soja e ferro para o gigante asiático.

Mas, segundo Castro Neves, obras como a da Ferrovia Transoceânica poderiam agregar valor a esse vínculo. "É o próximo passo no relacionamento", diz ele à BBC.
Protestos

O projeto exacerbou as já tensas relações entre o Peru e a Bolívia, cujo presidente, Evo Morales, protestou ao saber que a estrada de ferro passaria por fora do território boliviano.

"Não sei se o Peru está jogando sujo", disse Morales em outubro. Segundo ele, a ferrovia seria "mais curta, mais barata" se passasse pela Bolívia.

No entanto, o presidente peruano Ollanta Humala descartou essa possibilidade em novembro, comentando sobre um acordo com a China para iniciar os estudos do projeto.

O trem vai passar "pelo norte do Peru, por razões de interesse nacional", disse Humala.

Juan Carlos Zevallos, economista que presidiu a agência reguladora de transportes peruana OSITRAN argumenta que a região apresenta "desenvolvimento consolidado" de infraestrutura para explorar a estrada de ferro, incluindo o porto de Paita, ponto de chegada da ferrovia.

Na opinião de Zevallos, o projeto facilitaria a entrada de produtos peruanos no Brasil, o maior mercado regional. "Esse é o interesse", disse ele à BBC.
'Problemas'

Construção de ferrovia pode gerar problemas com grupos indígenas, apontam especialistas

Especialistas antecipam possíveis problemas com grupos indígenas e defensores do meio ambiente, dada a possibilidade de que o trem passe por áreas consideradas sensíveis.

"Uma estrada no meio da Amazônia para atender ao mercado chinês (...) seria uma ilusão acreditar que não vai haver impacto", critica Paulo Adario, diretor da Campanha Amazônia do Greenpeace.

Adario observou, contudo, que "a ferrovia tem menor impacto do que a rodovia para o escoamento da produção" e defendeu que sejam feitos estudos para medir o impacto socioambiental da obra.

Também há desafios de engenharia e custos para a construção de um trem que cruze a Cordilheira dos Andes e desemboque no Pacífico.

Castro Neves alertou que, se não houver planejamento adequado, o projeto pode terminar paralisado, como outras grandes promessas de investimentos na infraestrutura da região.

"A questão não é apenas injetar dinheiro", diz ele.

Gallagher disse que o projeto vai representar "um verdadeiro teste para a relação" entre Pequim e da região.

"Se conseguir construir um trem de alta velocidade que funcione e facilite o comércio com a América Latina, de modo inclusivo e sem prejudicar o meio ambiente, a China tem tudo para se tornar a nova 'queridinha' da América Latina", conclui.


19 maio 2015


Morre ciclista esfaqueado na Lagoa: menor assassino é “vítima da sociedade”?



O médico Jaime Gold, morto por menores de idade sem reagir ao assalto


Por Rodrigo Constantino


Recomenda a prudência não escrever um texto sob o domínio da raiva. Melhor respirar fundo, contar até dez e deixar a bile se acalmar para escrever com a cabeça, e não com o fígado. O Dr. Bruce Banner é mais racional do que o incrível Hulk. Mas ei, às vezes precisamos do monstro verde para nos salvar!

Acordo hoje cedo com a notícia de que o ciclista de 57 anos esfaqueado ontem na Lagoa não resistiu aos ferimentos e morreu. Segundo testemunhas, ele não tentou reagir ao assalto, como manda o manual dos policiais na cidade do caos, ou “maravilhosa” para alguns.

Mesmo assim, os dois menores que o abordaram resolveram usar a faca, arma branca que os “gênios” sociólogos ainda não decidiram banir para resolver o problema da criminalidade carioca. Violência gratuita, de animais incapazes de qualquer empatia.

Revolta, é o sentimento que vem imediatamente à tona. Raiva, muita raiva. Do governo estadual, que quebrou o estado e agora não tem mais dinheiro para segurança, o item principal da pauta do estado. Como desabafou Felipe Moura Brasil, havia somente uma viatura policial na região naquela noite!

Raiva também desses “intelectuais” de esquerda que, preocupados apenas com sua própria imagem de bondosos, repetem chavões idiotas que transformam o algoz em “vítima da sociedade”. Pura vaidade insensível.

Estão sempre “preocupados” com os marginais, nunca com suas vítimas. Acham que todo crime é culpa das “desigualdades”, e nunca da maldade de alguns bichos disfarçados de seres humanos. O que pode justificar um ato desses? Que tipo de mazela social daria a desculpa para um moleque furar sua vítima até a morte?

Mas não falem de redução da maioridade penal com esses “intelectuais” que eles ficam horrorizados! Em entrevista ontem mesmo a atriz Marieta Severo repetiu isso, “chocada” com o avanço da agenda “conservadora” no país, com a religião e tudo mais. Tinha que ser ex-mulher de Chico Buarque mesmo…

Essa elite de artistas e “intelectuais” perdeu qualquer elo com a realidade. Entre um vinho orgânico e outro, após os discursos de como amam as pobres crianças africanas e odeiam o capitalismo ganancioso, essa esquerda caviar conclui que liberdade se resume a poder transar com quem quiser com o “direito” de não ser julgada pelos outros, abortar o feto depois como se fosse uma unha encravada, e injetar qualquer entorpecente em praça pública.

Liberdade de ir e vir, de pedalar tranquilamente em sua cidade sem que dois monstros resolvam te esfaquear? Isso é besteira, coisa de liberal chato, de conservador “coxinha”, elitista.

Estou cansado de tudo isso. Sim, o texto tem tom de desabafo. Não quero aqui persuadir os indecisos, pois quem ainda se coloca como “neutro” entre essas duas visões de mundo tem sérios problemas cognitivos. Há um limite para a indecisão, para o “neutralismo” ou o relativismo. Ou deveria haver.

Estamos falando de vidas humanas, de cidadãos ordeiros que pagam seus pesados impostos e não têm sequer o direito de pedalar em paz! A cidade está tomada pelos marginais, a violência foi banalizada, e esses moleques matam por nada, por prazer, por diversão, por adrenalina, e claro, com a consciência da impunidade, em boa parte produzida pelo Estatuto da Criança e do Adolescente que transforma galalaus assassinos em crianças indefesas e inimputáveis.

Até quando? Quanto sangue mais teremos que derramar dos inocentes para que a sociedade reaja contra os marginais e contra esse discurso podre da esquerda, que os transforma em “vítimas sociais”? Se a vítima fosse parte de alguma “minoria” a reação da turma dos “direitos humanos” seria diferente?

Chega de tanto descaso!

Chega de tanta inversão moral!

Não aguentamos mais!


20/05/2015

Ricardo Pessoa é o sonho de qualquer investigador



De Augusto Nunes

Por Carlos Brickmann


Meninos, ouvi: crise política é o que teremos agora. Nada dessas coisas simples, de oposição e governo, de coxinhas e melancias ─ que, como comprovaram os tucanos na sabatina de Luiz Edson Fachin, são parte do mesmo lanche.

Renan e Eduardo Cunha estão no alvo do procurador Rodrigo Janot e procuram alvejá-lo primeiro. Renan e Cunha miram em Dilma e o PT mira nos dois, mas também quer pegar Janot, por desconfiar que ele mire em Lula e também em Dilma. Dilma adora Renan e Cunha, de preferência ao forno com batatas e maçã na boca, e é indiferente a Collor, que atira em Janot (são quatro representações – e, se uma for aceita por Renan, que foi aliado, inimigo, aliado e hoje em dia sabe-se lá o que de Collor, Janot pode ser afastado – e, como foi Janot que convenceu Ricardo Pessoa, o empreiteiro da UTC, a aderir à delação premiada, seu afastamento pode atrasar as denúncias previstas. Como tem gente torcendo por isso!)

Ricardo Pessoa é o sonho de qualquer investigador. Não ouviu dizer: ele sabe (e já insinuou que atingirá autoridades, e já disse que deu dinheiro por fora para a campanha de Dilma). Ele estava no lugar certo, na hora certa, em contato com as pessoas certas. Tem condições de causar um terremoto na política deste país.

Drummond, num festejado poema, contou que João amava Teresa que amava Raimundo que amava Maria que amava Joaquim que amava Lili que não amava ninguém. O título do poema é Quadrilha. Na versão atual, em que todos se odeiam e se aliam apenas para alvejar terceiros, o título poderia ser Quadrilhas.



O comando da zona
O Brasil tem suas peculiaridades. Por exemplo, condenou PC Farias por seu papel como intermediário em propinas, sem apontar quem pagou nem quem recebeu. E, tanto no Mensalão como no Petrolão, os fatos simplesmente ocorrem, sem que ninguém os coordene, sem que ninguém planeje nada. Chega-se à conclusão de que tanto no Governo quanto em estatais de prestígio há dois tipos de pessoas: algumas não são capazes de nada, outras são capazes de tudo.
Ricardo Pessoa tem condições de lançar luz na escuridão: quem cafetina este bordel?


Questão de números

O advogado João Carlos Biagini, leitor desta coluna, faz uma síntese interessante dos aspectos esotéricos da crise. O processo corre na 13ª Vara Criminal de Curitiba. Ricardo Pessoa assinou o acordo de delação premiada no dia 13. E 13 é o número de um de nossos inúmeros partidos.
Coincidência ou aviso de bomba?


Salsicha escandalosa

O primeiro-ministro da Prússia, Bismarck, disse que quanto menos soubermos como são feitas as leis e as salsichas melhor dormiremos à noite. Se Bismarck soubesse como são feitas no Brasil as concorrências para comprar salsichas, certamente, nas palavras que nossa presidente tanto aprecia, ficaria estarrecido.

A Prefeitura petista de São Paulo comprou 268 toneladas de salsichas para a merenda escolar, em concorrência pública, pagando R$ 2,14 milhões. O vereador Gilberto Natalini, do PV, como diria Dilma, ficou estarrecido: comprou salsichas em diversas lojas, pagando de R$ 3,48 a R$ 7,69 o quilo. A Prefeitura comprou direto do fabricante, a Brazil Foods, a R$ 7.99 o quilo. O Tribunal de Contas do Município refez a pesquisa de Natalini, limitando-se às salsichas Sadia, marca comprada pela Prefeitura. E encontrou R$ 7,41 o quilo. Cinquenta e oito centavos de diferença no quilo, em 268 mil quilos. É dinheiro! Mas a Prefeitura explica: entre outros motivos, está incluído no preço o custo de logística da entrega.

Tudo bem – mas, quando uma rede de supermercados compra salsichas, não há aquilo a que chamamos “frete”, e que para a Prefeitura é “custo de logística da entrega”? Irão as salsichas encontrar seus compradores, disciplinadamente, a pé?


Um político coerente
Quando foi ministro da Educação, o hoje prefeito de São Paulo, Fernando Haddad, PT, não conseguiu promover um único ENEM sem problemas. Como prefeito, não conseguiu até agora entregar os uniformes para alunos de escolas municipais. O ano letivo começou em 4 de fevereiro.
Deve ter faltado tempo.


terça-feira, 19 de maio de 2015

Fernando Collor não vale o que diz


Teori mandou o Banco Central quebrar o sigilo bancário de 12 empresas da família Collor - entre elas, o jornal Gazeta de Alagoas e a TV Gazeta de Alagoas


Fernando Collor, senador (PTB-AL)
(Foto: Pedro França / Agência Senado)




Por Ricardo Noblat

Fará um ano na próxima semana que o senador Fernando Collor de Melo (PTB-AL) assomou à tribuna do Senado para dizer com um tom de voz indignado:

• Que não conhecia e que jamais manteve qualquer relação política ou pessoal com o doleiro Alberto Yousseff, o pagador de propinas do esquema de roubo na Petrobras;

• Que a Justiça Federal do Paraná havia informado que não existiam indícios de envolvimento dele com a operação Lava Jato;

• Que as menções ao seu nome se deviam ao fato de os meios de comunicação estarem “inconformados” e “desiludidos” por ele ter sido absolvido pelo Supremo Tribunal Federal (STF) das acusações que levaram o Congresso a cassar seu mandato de presidente da República em 1992.

Pois bem: ontem, o ministro Teori Zavascki, relator da Lava-Jato no STF, determinou a quebra de sigilo bancário e fiscal de Collor no período de 1º de janeiro de 2011 a 1º de abril de 2014.

Assim, Teori atendeu ao pedido da Procuradoria Geral da República para instruir o inquérito aberto para investigar se o senador participou de fraudes na Petrobras.

Collor é suspeito de ter cometido lavagem de dinheiro e de ter recebido cerca de R$ 3 milhões em propina em um negócio da BR Distribuidora, empresa subsidiária da Petrobras.

Teori mandou o Banco Central quebrar o sigilo bancário de 12 empresas da família Collor - entre elas, o jornal Gazeta de Alagoas e a TV Gazeta de Alagoas.

O juiz federal do Paraná Sérgio Moro, responsável pelo processo da Lava Jato, informou ao STF que policiais federais apreenderam no escritório de Youssef oito comprovantes de depósitos bancários que tiveram Collor como beneficiário.


19/05/2015

Senhores senadores, o país que já nasceu e está nas ruas pede que vocês rejeitem o nome de Fachin; é o que pede a autonomia do Parlamento brasileiro





Por Reinaldo Azevedo

Se o Senado brasileiro fosse um ente com personalidade e consciência, teria o dever moral e político de rejeitar o nome do advogado Luiz Edson Fachin, indicado para o Supremo Tribunal Federal pela presidente Dilma Rousseff. Faltassem motivos robustos, e não faltam, o empenho da máquina do Executivo para aprovar o nome caracteriza uma indevida intromissão de um Poder nos dois outros. Cabe à presidente fazer a indicação; cabe ao Senado sabatinar e votar. Cabalar votos, da maneira desabrida como tem acontecido — com assessores do Planalto fazendo até treinamento intensivo com o candidato —, vai muito além do razoável. Não foram os senadores que transformaram Fachin numa questão ideológica; foi Dilma Rousseff. Se é assim, que seja rejeitado.


Pouco me importam os motivos de Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente do Senado, para, dizem, não se esforçar por Fachin. Para começo de conversa, ele tem o direito de não se comportar como cabo eleitoral. Mais do que isso: tem o direito de trabalhar contra a postulação. Os bons ou maus motivos de Renan não melhoram a resposta sofrível que o advogado deu ao questionamento sobre a sua dupla militância — advogado privado e procurador do Paraná — quando Constituição estadual e Lei Complementar o proibiam. Cabe a pergunta óbvia de resposta idem: é com essa clarividência que ele lerá as leis e a Constituição se for aprovado para o Supremo?

Atenção, senhores senadores! O governo Dilma passa. Daqui a quatro anos (no melhor cenário para ela), já ninguém se importará com a agora presidente, e, se a gestão restar como exemplo, certamente estará na categoria daqueles a não serem seguidos. Mas é diferente com o Supremo. Se Fachin for aprovado, ele terá 18 anos pela frente no tribunal. O CARGO NÃO É DO GOVERNO. O CARGO É DO ESTADO BRASILEIRO. E É PRECISO QUE O SENADO OUÇA OS APELOS DA REALIDADE.

Chega a ser ofensivo para o Brasil que ora temos a indicação de um perfil como o de Fachin. Uma presidente que se vê na contingência de desmontar as armadilhas criadas por ela própria no primeiro mandato (acho que nem preciso dar exemplos); uma presidente que é obrigada a se esconder da população em razão do estelionato eleitoral; uma presidente que teve de omitir o país real para se eleger; uma presidente que pertence a um partido hoje amaldiçoado nas ruas, e por bons motivos, essa presidente, senhores senadores, não poderia ter feito indicação pior para o Supremo. HÁ POUCO MAIS DE SETE MESES, O SENHOR LUIZ EDSON FACHIN, JÁ CANDIDATO A MAGISTRADO, NÃO VIU PROBLEMA NENHUM EM SE COMPORTAR COMO PROSÉLITO. Tinha o direito de fazê-lo? Claro que sim! E nós temos o direito de não querer um cabo eleitoral se escondendo debaixo de uma toga.

Se ministro, Fachin não sairá com Dilma Rousseff em 2018 — na hipótese de seu mandato chegar ao fim. Ele permanecerá por muito tempo no Supremo ainda. Se ele próprio não respeita a sua trajetória e simulou na sabatina o que, até ontem, não pensava, a mim cabe respeitá-la. Dou crédito a tudo o que ele escreveu e pensou antes.

Entre João Pedro Stedile e a propriedade privada, eu escolho a propriedade privada. E, por isso, acho que Fachin tem de ser recusado.

Entre o juiz que julga com a testa e o juiz que julga com o texto, eu escolho o que julga com o texto. E, por isso, acho que Fachin tem de ser recusado.

Entre os valores essenciais da família — e parte do desastre social brasileiro se deve à sua desestruturação — e os modismos de minorias extremadas com os quais o advogado sempre se alinhou, eu escolho os primeiros. E, por isso, acho que Fachin tem de ser recusado.

Ademais, não nutro, confesso, simpatia por quem sabe se mostrar educado, quase servil, quando o que está em jogo é um dos 11 postos mais cobiçados do país. Antes disso, e não faz tempo, Fachin rebaixava à condição de mera “gosma” o pensamento daqueles que não comungavam de suas exóticas teses sobre as “famílias plurais”. De resto, não é verdade que sua obsessão em mudar a natureza desse ente constituía mera especulação acadêmica. Ele se mobilizou reiteradas vezes para ver triunfar as suas teses. Entendo, sim, que a investidura do cargo possa lhe emprestar gravidade nova caso chegue lá, mas cabe a pergunta: vai lhe mudar o pensamento?

Será que, no momento em que o petismo é rejeitado pela população de forma peremptória, clara e inequívoca nas ruas — e assim é por muitos bilhões de bons motivos —, é o caso de mandar para a mais alta corte do país um procurador dos valores — ou antivalores — mais profundos desse partido?

Ponderem, senhores senadores, que Dilma começou a fazer, para cargos de estado, escolhas de pessoas com valores estranhos aos interesses do país. Para a função de representante do Brasil na OEA, por exemplo, indicou o diplomata Guilherme Patriota, um palestrante do Foro de São Paulo e que merece o título — e é outro cuja trajetória reconheço — de pensador brasileiro filobolivariano.

A tradição republicana confere ao Senado o papel de zelar pela estabilidade do país. Temos de ter no Supremo alguém cujos valores estejam afinados com uma sociedade aberta, pluralista, democrática, onde vige, sim, a economia de mercado. Se e quando o PT fizer a revolução socialista — não sei o que partido faria com seus empreiteiros de estimação… —, então que Fachin vá para a nossa corte suprema. Enquanto isso não acontecer… De resto, não custa lembrar: ele já demonstrou em texto um desprezo nada solene por esse ente ao qual agora pede apoio.

O voto é secreto, senhores! É preciso deixar claro à presidente Dilma que o Brasil não faz segredo sobre as suas escolhas. O futuro que eles prepararam para nós não nos serve.

Fachin tem de ser a primeira recusa.

Depois, Guilherme Patriota.

É preciso evidenciar que os senadores não esperam ganhar do Planalto uma almofada para o conforto dos joelhos. Votam de pé.


19/05/2015



segunda-feira, 18 de maio de 2015

Dono da UTC diz que ex-senador do PTB recebeu propina para atrapalhar CPI



Ao negociar delação, Ricardo Pessoa citou Gim Argello


Por Vinicius Sassine
O Globo


BRASÍLIA — O dono das construtoras UTC e Constran, Ricardo Pessoa, afirmou nas tratativas para o acordo de delação premiada com a Procuradoria-Geral da República que o ex-senador Gim Argello (PTB-DF) recebeu dinheiro para atrapalhar as investigações de CPI da Petrobras que funcionou em 2014, segundo fontes com acesso à apuração em curso no Supremo Tribunal Federal (STF). Gim Argello, por indicação da base do governo no Senado, foi vice-presidente da CPI mista da Petrobras.

Ao longo de 2014, o senador desempenhou por diversas vezes um papel de protagonismo na comissão, presidindo reuniões e oitivas. A suposta ação de Gim Argello, um dos principais articuladores da base governista no primeiro mandato da presidente Dilma Rousseff, teria envolvido recebimento de propina, conforme o relato inicial de Pessoa divulgado ontem pelo GLOBO. Procurado, Gim Argello não foi localizado.

Além da suposta ação do petebista na CPI da Petrobras, o empreiteiro relatou a atuação de um parente de um ministro do Tribunal de Contas da União, dizem fontes com acesso à investigação. A suspeita é de venda de informações privilegiadas. O acordo de delação tramita sob sigilo.


Pessoa é suspeito de chefiar o cartel de empreiteiras. Após ficar seis meses preso em Curitiba, está em prisão domiciliar. O acordo de delação premiada foi assinado na sede da PGR, em Brasília, na última quarta. Homologada a delação pelo STF, Pessoa começa a prestar os depoimentos e detalhar o envolvimento de cada citado.

Gim Argello participou das duas CPIs da Petrobras que funcionaram em 2014. Além de ter sido vice-presidente na comissão mista, formada por senadores e deputados, foi indicado para a comissão exclusiva do Senado. Na prática, apenas a primeira funcionou, entre maio e dezembro de 2014. As empreiteiras investigadas na Operação Lava-Jato acabaram blindadas na CPI: nenhum executivo foi convocado, nem sigilos foram quebrados.

— Em hora nenhuma tivemos condição para isso, quorum para isso. Acho que foi a eleição — disse Gim Argello em reportagem do GLOBO de 8 de dezembro.

O relatório final da CPI mista, do deputado Marco Maia (PT-RS), foi aprovado dia 17. O texto recomendou o indiciamento de ex-diretores da Petrobras e de executivos de empreiteiras investigadas na Lava-Jato. Gim Argello presidiu essa sessão. Outro delator da Lava-Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, também relatou pagamento de propina para interferência numa CPI. Uma comissão foi instalada em 2009 para investigar a Petrobras, e, diz Costa, o então presidente do PSDB, Sérgio Guerra, morto em 2014, recebeu R$ 10 milhões para dificultar os trabalhos.

Também investigado na Lava-Jato e citado na delação de Pessoa, o senador Edison Lobão (PMDB-MA) é suspeito de ser sócio oculto de um grupo de empresas sediado nas Ilhas Cayman, um paraíso fiscal, segundo reportagem publicada ontem pelo jornal “O Estado de S. Paulo”. Um inquérito foi aberto no STF em fevereiro para investigar a suspeita de lavagem de dinheiro. A holding Diamond Mountain captaria, segundo o jornal, recursos de fundos de pensão de estatais, fornecedores da Petrobras e empresas privadas. O advogado de Lobão, Antônio Carlos de Almeida Castro, negou o envolvimento e qualquer relação de seu cliente com a empresa, e disse ser “incompreensível“ a ilação feita. Em nota, a Diamond Mountain afirmou não ter nenhuma relação com o senador e não existir “sociedade formal nem oculta entre a empresa e o político”.

18/05/2015