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sábado, 7 de abril de 2012

Diretor da Petrobras, em elogio ao governo Dilma, recomenda à oposição: “Enfia o dedo e rasga!”







Com a palavra, Graça Foster,
a severa!


José Eduardo Dutra, como sabem, é ex-presidente do PT. Tem um perfil no Twitter. Identifica-se assim:


A Petrobras, como todos vocês sabem, é uma empresa de capital misto, com ações negociadas em bolsa, e deve se orientar segundo as regras do mercado.

No que diz respeito à política, tem de ser neutra, ainda que sua direção seja nomeada pelo governo.

Pois bem…

Este que se identifica como “Diretor Corporativo e de Serviços” — é ele quem evoca a sua condição de dirigente da empresa em sua página pessoal — decidiu fazer um comentário no Twitter sobre a pesquisa CNI-Ibope.

E o fez nestes termos:


É isto: ex-senador da República, ex-presidente da Petrobras Distribuidora, ex-presidente do PT, atual diretor da empresa, Dutra houve por bem mandar, suponho, as pessoas eventualmente descontentes com o resultado da pesquisa “enfiar o dedo e rasgar”.

E teve o mau gosto adicional de atribuir a sua falta de educação, a sua falta de decoro, a sua falta de limites a Sergipe!!!

Não!

Os sergipanos não têm qualquer responsabilidade na fala desavergonhada de Dutra — que nasceu, lembre-se por amor à precisão, no Rio.

Os cariocas também não têm nada com isso.

A falta de vergonha de Dutra é de sua inteira responsabilidade.


Um dos Três Porquinhos

Naquela que me pareceu, à época, uma boa definição, Dutra foi classificado, em 2010, pela então candidata Dilma Rousseff como um “dos Três Porquinhos”.

Os outros dois eram José Eduardo Cardozo (atual ministro da Justiça) e Antônio Palocci, que foi defenestrado da Casa Civil.

Só na fábula porquinhos não fazem… porcaria e gostam de casa limpinha.


A doença

Em abril do ano passado, Dutra deixou a presidência do PT.

Estaria com uma depressão severa.

Ele mesmo chegou a comentar seu estado de saúde, alegando alguns estranhos transtornos.

Parece que andou tendo algumas ausências e coisa e tal. No dia 25 daquele mês, escrevi aqui:
“Dutra representa boa parte das coisas que abomino em política, o que não me impede de realmente torcer pela sua recuperação. Quero voltar a torrar a sua paciência no Twitter.

Abomino o pensamento, não o pensador.

Em 2006, passei por algumas poucas e boas, como sabem muitos de vocês. Chegaram ecos do mundo das sombras torcendo pelo pior.

Eu, sinceramente, senti pena de quem folgava com a minha fragilidade.

Que grandeza ou graça pode haver numa luta assim?

Somos aqueles que apostam sempre na saúde e no bem-estar, para que as divergências restem límpidas e possam ser exercitadas com clareza.

Pretendo que isso se espelhe nos comentários.

Que Dutra volte à sua trincheira, que jamais será a minha.”

Não há menor possibilidade de este blog condescender com a desgraça alheia. Parece que Dutra recuperou a saúde, com o que, sinceramente, folgo. E também está de volta à delinquência política.
Certamente há pessoas insatisfeitas com os números da pesquisa Ibope — conheço alguns lulistas, por exemplo, e alguns peemedebistas…

Digamos que a maioria delas seja de oposição.

Eu lhes pergunto: cabe a um dirigente de uma empresa, nomeado pelo governo para uma função técnica (não para fazer proselitismo), manifestar-se nesses termos?

QUE OUTRA DEMOCRACIA DO MUNDO ACEITARIA COMO REGULAR UM PROCEDIMENTO COMO ESSE?

Ocorre, minhas caras e meus caros, que não há democracia no mundo em que o Estado tenha o tamanho que tem o brasileiro, com a sua consequente onipresença.

Nesta manhã, escrevi um texto indagando — e ensaiando uma resposta — por que há tanta corrupção no Brasil.

Esse tuíte desbocado de Dutra explica tudo: aqueles que assumem cargos públicos, a direção de estatais, de autarquias etc.
conferem a si mesmos todos os direitos. Não se sentem obrigados a seguir nem as regras mínimas do decoro e da boa educação.


Imaginem se um dirigente da oposição sugerisse ao governo federal: “Enfia o dedo e rasga”.

Os petistas fariam um grande escarcéu. As feministas do oficialismo falariam em “apologia velada do estupro”, acusariam o “machismo da imagem” etc.

O Comisariado do Povo GLTBXPTOYZ emitiria um comunicado indignado…

Como é um petista falando, tudo pode!

Dona Graça Foster, presidente da Petrobras, está com a palavra. É evidente que o comportamento de Dutra não está adequado ao código de conduta dos funcionários da Petrobras.

Mas ele é um dos milhares de petistas que exercem cargos de confiança. Se Graça não obrigá-lo a se desculpar — E REITERO QUE SUA PÁGINA TRAZ O SEU PERFIL DE HOMEM DA PETROBRAS — e a retirar aquele tuíte, estará endossando suas palavras.

Isso significa que a presidente da Petrobras, numa eventual altercação com algum oposicionista, poderia ouvir algo semelhante e considerar que imagem tão delicada é parte da linguagem política regular, a ser exercitada, inclusive, nos corredores da Petrobras.

Se Dutra pode, na condição de homem de empresa, dizer isso, então ele pode muitas outras coisas que não constam do rol de procedimentos oficiais da Petrobras.


Agora, segundo se sabe, Dutra não está mais doente.

Está curado!

Esse é o Dutra normal.

Esse é político que, ao se referir a eventuais oposicionistas, recorre a uma metáfora de violação e violência, ainda que num castigo autoimpingido.

A imprensa também não vai pegar no seu pé porque ele está na categoria dos “amigos”.


Se o deputado Jair Bolsonoro (PP-RJ), por exemplo, dissesse algo semelhante, alguém tentaria entrar com uma representação contra ele no Conselho de Ética da Câmara.

E olhem que Bolsonaro foi eleito por milhares; Dutra, por uma só pessoa.

De todo modo, não consta que o parlamentar tenha se manifestado de forma tão escrachada.

A corrupção de fato, aquela que rouba dinheiro público, é só a segunda etapa de uma corrupção anterior: a de valores.

Antes de roubar o nosso dinheiro, eles roubam a nossa capacidade de nos indignar.

Para esse mal de Dutra, meus caros, não há remédio.

A depressão é um transtorno que pode ser corrigido com um reequilíbrio neuroquímico.

Não existe antidepressivo que corrija o caráter.


quarta-feira, 4 de abril de 2012

Assessora de Perillo pede demissão, mas é preciso saber como Cachoeira obtinha informações da PF

 
Mal contado

 Como noticiado na manhã desta quarta-feira (4), a chefe de gabinete do governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), pediu exoneração do cargo
  Por admin
Ucho.info



Na carta de demissão (ao final da reportagem) enviada ao chefe do Executivo, Eliane Gonçalves Pinheiro, acusada de ter ligações com o bicheiro Carlinhos Cachoeira, disse que seu nome foi confundido com o de pessoa homônima.

Classificando a imprensa como “implacável”, Eliane Pinheiro destacou na carta que “em qualquer país civilizado, somente os tribunais aplicam penas e, mesmo assim, após um processo de apuração de culpas e mediante o exercício do direito de defesa.

Esse não me é dado diante das regras estabelecidas pela histeria coletiva em que se transformam as denúncias em nosso país hoje em dia”.


De acordo com reportagem do jornal o “O Globo”, Eliane Gonçalves Pinheiro recebeu um telefone celular exclusivo para falar com Cachoeira, que a ela repassaria informações sigilosas sobre operações da Polícia Federal.

Se a PF tem provas irrefutáveis de que se trata da pessoa que chefiava o gabinete da governadoria de Goiás, nada mais correto do que deixar o cargo.

Do contrário, trata-se de uma injustiça construída por uma polícia de Estado que tem atuado como se fosse de governo.


Eliane Pinheiro, como qualquer cidadão brasileiro, goza do preceito constitucional da presunção da inocência, e como tal tem o direito de se defender e ser considerada inocente até o trânsito em julgado de eventual sentença condenatória.

Enquanto a imprensa chapa-branca se dedica a publicar denúncias contra os adversários do Palácio do Planalto, ninguém se preocupou em descobrir como Carlinhos Cachoeira conseguia informações sigilosas sobre operações da Polícia Federal.


A política não é ofício de inocentes, é verdade, mas é no mínimo estranha uma operação policial que flagra apenas adversários do governo atual.

Enquanto os inimigos dos palacianos estampam as manchetes, o escândalo envolvendo a ministra Ideli Salvatti é empurrado para a fila do esquecimento.

UM GOVERNO DE “MENTIRINHA”.




Além das obras tão badaladas da Transposição do Rio São Francisco, cujo trabalhos estão parados e sobre as quais escrevi Esgoto a céu aberto (24/3), vou tomando conhecimento que nada está funcionando no governo Dilma Rousseff, a não ser suas destemperadas grossuras

Por Giulio Sanmartini


Os programas usados na sua campanha eleitoral, estão paralizados ou com realizações pífias.

As quatro principais hidrelétricas planejadas pelo governo na Amazônia -valor estimado em R$ 56,6 bilhões- estão com projetos paralisados.

No dia 29/3, operários dos dois principais canteiros de Belo Monte, no rio Xingu (PA), interromperam atividades. O movimento foi motivado por reivindicações trabalhistas. No rio Madeira (RO), as usinas de Jirau e de Santo Antônio enfrentam greves que, mesmo consideradas ilegais, não chegaram ao fim.

Também dias antes, a usina de Teles Pires, na divisa entre Mato Grosso e Pará, teve obras suspensas pela Justiça Federal.

O Ministério de Minas e Energia afirma que as paralisações causam “pequenos atrasos conjunturais” que não impactarão o suprimento de energia a longo prazo. É…, pode ser!



Outro dos grandes programas, do qual foi feito uso eleitoreiro, Minha Casa Minha Vida, está numa situação que seria cômica, se não fosse trágica.


Prédios, vilas e até bairros fantasmas podem ser encontrados Brasil afora. São construções novas, prontas para receber a população mais pobre, que só não estão ocupadas por falta de energia elétrica. Ao todo, mais de cem mil residências construídas para atender à faixa de renda mais baixa do programa Minha Casa, Minha Vida estão concluídas, mas sem moradores. Esses imóveis estão à espera apenas da ligação da energia para serem ocupados.

Em Mogi das Cruzes, interior de São Paulo, encontra-se um exemplo do problema que compromete os resultados do principal programa habitacional do governo Dilma Rousseff. Em abril de 2011, a incorporadora Faleiros pediu à distribuidora EDP Bandeirante a ligação elétrica de três empreendimentos com cerca de 500 unidades residenciais no valor de até R$ 52 mil cada, para moradores com renda de até três salários mínimos, beneficiados pelo programa.

A ligação foi feita em um dos empreendimentos há poucas semanas e os outros dois ainda continuam sem energia elétrica.

Problemas similares foram verificados em Minas Gerais, Bahia e Rio Grande do Norte.

A “presidenta”, num arroubo etílico de seu antecessor, foi cognominada de A mãe PAC (Programa de Aceleração do Crescimento), mas na realidade está se revelando um malvada madrasta.

O Programa não tem feito jus ao nome quando o assunto é saneamento. Estudo inédito do Instituto Trata Brasil mostra que apenas 7%, ou oito das 114 obras voltadas às redes de coleta e sistemas de tratamento de esgotos em municípios com mais de 500 mil habitantes, estavam concluídas em dezembro de 2011.

O levantamento aponta ainda que 60% estão paralisadas, atrasadas ou não foram iniciadas. Os dados foram fornecidos por Ministério das Cidades, Caixa Econômica Federal, Siafi (Sistema Integrado de Informação Financeira do governo federal) e BNDES.

As 114 obras totalizam R$ 4,4 bilhões.

O PAC foi lançado em 2007 e nem 10% das obras foram concluídas em 2011. Houve deficiência grande na qualidade dos projetos enviados ao governo federal e muitos tiveram que ser refeitos.

Segundo o Trata Brasil, o Norte tem 100% das obras do PAC paralisadas, seguido por Centro-Oeste (70%) e Nordeste (34%).

Como se pode constatar, o governo, por incompetência, não anda para frente, mas em compensação, para traz, o faz em vertiginosa velocidade.

(*) Fotomontagem: Dilma promovendo o PAC e o Minha Casa Minha Vida

04/04/2012

Charges



ideli, a prática

atrás da moita


www.sponholz.arq.br

Hora de julgar


Se todos são ladrões, ninguém é ladrão?



Por Merval Pereira

A crise política em que se envolveu o senador Demóstenes Torres, agora sem partido depois de se desfiliar do DEM para não ser expulso, está excitando a imaginação de uma ala dos governistas, que vê na desgraça do oposicionista antigo paladino da ética na política a negação de qualquer tipo de crítica aos famosos “malfeitos” dos aliados do governo, mesmo os mais antigos como o mensalão, que está para ser julgado pelo Supremo.

A coincidência dos dois fatos – a derrocada de Demóstenes e o julgamento do STF –seria uma boa notícia para os mensaleiros, e leva a que esses governistas considerem que o enfraquecimento da oposição os fortalece no tribunal.

Nada mais absurdo. A tese geral de que um político que fazia o papel de ético se revelando um corrupto enfraquece as críticas oposicionistas à corrupção no governo só serve para os que querem igualar os contrários.

Se todos são ladrões, ninguém é ladrão, parecem raciocinar.

Nada mais falso.




Os padrões éticos de fazer política continuarão valendo, e é por isso que o senador Demóstenes Torres corre o sério risco de perder seu mandato no Conselho de Ética do Senado.

É certo que o perderá apenas por que colecionou inimizades no papel de justiceiro que desempenhava com raro brilho, e agora receberá o troco dos adversários que um dia combateu, como os senadores Renan Calheiros e José Sarney.

Mas a base para a sua punição continuará sendo a conduta fora dos padrões considerados éticos, e a quebra do decoro parlamentar ao mentir da Tribuna do Senado dizendo que não sabia o que todo mundo sabia, que Carlinhos Cachoeira era um contraventor.

Não importa que muitos outros, que quebraram o decoro ou mentiram, continuem incólumes no Congresso.

As gravações da Polícia Federal demonstram que Demóstenes tanto sabia o que seu amigo Carlinhos Cachoeira era que o flagraram aconselhando o bicheiro a não apoiar o projeto que criminalizava o jogo do bicho.

“E aí pega você”.

Cachoeira,que via mais longe, tranquilizou seu amigo: “Mas aí legaliza também né?”.

As circunstâncias estão levando o senador Demóstenes Torres para a cassação de seu mandato por caminhos tortos, mas razões corretas.

A tese específica de que foi o bicheiro Carlinhos Cachoeira quem armou a gravação que provocou a ira do então deputado Roberto Jefferson, originando sua denúncia sobre o mensalão, não justifica, como querem alguns, o enfraquecimento das denúncias contra os mensaleiros, em especial contra o ex-ministro José Dirceu, acusado pelo Procurador-Geral da República de ser o chefe da quadrilha.




As imagens conseguidas pela revista Veja em que um diretor dos Correios, Mauricio Marinho,recebe um suborno de R$ 3 mil, divulgadas no Jornal Nacional e que se tornaram um ícone do combate à corrupção, teriam sido gravadas, segundo a nova versão divulgada pelo jornalismo oficial, a mando do bicheiro Carlinhos Cachoeira para vingar seu amigo Demóstenes Torres.
Nessa versão novinha em folha, que surge agora às vésperas do julgamento do mensalão para tentar misturar alhos com bugalhos, o senador goiano estaria pleiteando ser nomeado Secretário Nacional de Justiça,e foi vetado pelo então todo-poderoso chefe do Gabinete Civil José Dirceu.

A represália teria como objetivo criar um problema para o PTB, que indicara o diretor dos Correios, e provocar uma crise na base aliada.

Mas o que essa intrigalhada toda tem a ver com o mensalão?


Já se sabia há muito tempo que o vídeo da propina provocou a reação do presidente do PTB contra José Dirceu por que Jefferson considerou que ele havia sido feito a mando do PT para tirar do PTB uma fatia de poder dos Correios, a mesma disputa de bastidores, aliás, que se desenrola hoje, entre o PT e partidos da base.

Se o vídeo foi feito por um empresário ligado ao PT, como se acreditava até recentemente, ou a mando do bicheiro Carlinhos Cachoeira, não importa.

O fato é que, sentindo-se traído por Dirceu, o então deputado Roberto Jefferson disparou sua metralhadora giratória revelando o maior escândalo de corrupção política registrado no país nos anos recentes.
Não existisse o esquema, a reação de Roberto Jefferson seria outra, mas como existia – de acordo com o Procurador-Geral da República e o relator do processo no STF, Ministro Joaquim Barbosa – ele se vingou revelando o plano que fora concebido dentro do Gabinete Civil da Presidência da República.

Aliás,a existência desse mensalão já fora denunciada ao próprio Presidente Lula pelo então governador de Goiás Marconi Perillo.

Portanto,a nova versão em nada muda a essência da questão: o mensalão existiu e estará sendo julgado em breve pelo Supremo Tribunal Federal com base no que foi apurado em mais de sete anos de tramitação do processo.

4.4.2012

terça-feira, 3 de abril de 2012

Charges








segunda-feira, 2 de abril de 2012

“NÃO É TRADIÇÃO LULA GANHAR EM SÃO PAULO”



Depois de vencer prévias, José Serra foca na briga pelo seu retorno à Prefeitura


SONIA RACY E PAULA BONELLI

Estadão
 

Salvo imprevisto, muitos acreditam que haverá um aprofundamento da polarização entre PSDB e PT nesta disputa pela Prefeitura de São Paulo. Tendo como protagonistas José Serra e Fernando Haddad, a briga não se resume a mais uma eleição municipal. O Brasil inteiro estará de olho no resultado deste pleito e tudo mais que ele possa significar.
José Serra resolveu ser candidato há menos de um mês. No início do ano, avisou que não queria mais ser prefeito. “Não queria, mas a necessidade de aumentar a chance de vitória foi posta pelo PSDB e por nossos aliados”, justificou em conversa com a coluna, na sua casa no bairro Alto de Pinheiros. Bastante à vontade, falou sobre tudo, até sobre seu escorregão em relação ao “papelzinho”. Aqui vão os principais trechos da entrevista:

Seus adversários vão explorar, na campanha, a sua saída da Prefeitura no meio do mandato. Já estão ironizando o “papelzinho” que o sr. assinou. Como vai enfrentar isso?
Quando usei essa palavra eu não quis dar um tom jocoso. Mas é importante dizer que a população de São Paulo apoiou duas vezes a minha decisão. Em 2006, tive mais votos no primeiro turno para governador do que para prefeito em 2004. Em 2010, apesar de ter perdido a eleição nacional, ganhei da Dilma em São Paulo. Quem não tem nada a mostrar só pode acusar. Não funcionou duas vezes e não vai funcionar a terceira. O que nós vamos debater nesta eleição é quem pode fazer mais pela cidade de São Paulo.
O PT fará um grande esforço para entrar no Estado e na capital. O sr. vê algum perigo de uma hegemonia partidária no País, como advertiu o Sérgio Guerra?
É legítimo que o PT queira ganhar, não só a Prefeitura como o Estado. Mas é uma ambição também alimentada pelo fato de querer ser hegemônico. O PT não convive bem com a política, ele tenta controlar até os próprios aliados. O PT não ama a política no sentido de lidar com adversário e compartilhar com aliados. Não me refiro a todos, mas a estratégia petista na internet é da destruição dos adversários, não do debate.
Essa percepção da hegemonia petista foi o gatilho para sua candidatura?
Não é só isso, eu me tornei candidato também pelo gosto de poder administrar novamente a cidade. Um decisão tomada por necessidade, mas sem gosto, é uma decisão muito áspera, difícil. E tomar a decisão só por gosto, sem necessidade, é um tipo de narcisismo, que não está entre os meus defeitos.
O sr. faz análise?
Atualmente, não.
Alguém lhe deu alta?
Não, em análise nunca se tem alta. Se não, não é boa análise. Em matéria de análise sempre fui multinacional. Fiz no Chile, nos EUA e no Brasil.
Que balanço o sr. faz da última eleição? Esta vai ser mais fácil?
Pelo meu temperamento, toda eleição é difícil. Você lida com incertezas e com o espírito das pessoas, que ninguém consegue monitorar.
O Lula está apoiando um candidato em São Paulo…
Sem dúvida. Ele apoiou o Genoino em 2002, perdeu a eleição. Apoiou a Marta em 2004, perdeu. Apoiou a Marta em 2008, perdeu. Apoiou o Mercadante em 2010, perdeu. Apoiou a Dilma em 2010 e eu ganhei em São Paulo, na Capital e no interior. A tradição do Lula é não ganhar dos nossos candidatos em São Paulo. O que não significa que ele não possa ganhar um dia. Estou dizendo, apenas, que não é a tradição até agora.
O que mudou em você da última eleição para cá?
Difícil. Essa é uma pergunta que você poderia responder melhor. Você vê que eu estou, fisicamente, mais descontraído.]
Quais os riscos desta vez?
Toda eleição tem um risco. Na vida pública vive-se correndo riscos, estou acostumado. Bem jovem, enfrentei riscos imensos na política estudantil. Eu era o principal dirigente estudantil do Brasil na época do golpe de 1964, por exemplo. Paguei um preço altíssimo e depois, no Chile, com o golpe militar, fui preso. Então, eu já corri riscos na vida consideráveis. Já teve astrólogo que disse que eu vou viver assim toda a minha vida. Não estou dizendo que acredito, mas não acho que se faça tudo pela razão, muita coisa eu faço pela intuição.
Perguntado sobre o mensalão, o Haddad comentou que nunca ninguém tinha perguntado ao senhor se o livro Privataria Tucana teria impacto na campanha (ver ao lado).
Vou repetir o que já disse. O livro é um lixo. Na última campanha, o PT se especializou em atacar a minha família.
O que achou da experiência da prévia?
É um exercício democrático. Os EUA têm uma tradição longa, aqui não há nenhuma. Lá tem eleição a cada dois anos para deputado, fora eleição para prefeito, governador e presidente. Os partidos são mais enraizados na sociedade. Aqui, tenho a impressão de que foi a primeira vez que se fez uma prévia de maior alcance. Acho positiva, aquece a militância para a campanha. Eu fui talvez o principal proponente de prévia no PSDB, ano passado, muito antes de pensar em ser candidato.
Por que no Brasil nunca houve essa tradição?
Fazer prévia não é fácil. Há o risco de aprofundamento das diferenças. Se não houver uma estrutura adequada, acaba sendo um tiro no pé.
A gestão Serra-Kassab foi um período único?
Acho que houve dois períodos. Quando o Kassab era meu vice, seguiu estritamente o nosso programa de governo. Até onde pôde, foi com a mesma equipe – porque alguns vieram comigo para o Estado, como o Mauro Ricardo, nas Finanças. Reeleito, Kassab montou sua administração, harmoniosa com as parcerias com o Estado.
Faria algo diferente dele?
Não sou de descartar programa de antecessores. Se eu atuasse descartando, não teria feito mais telecentros que a Marta ou dado continuidade aos CEUs. E não teria ampliado o Bilhete Único. Veja que nesses três casos não mudamos o nome, prática usual na política. Nós não fazemos isso.
O senhor é um realizador, mas também tem fama de desagregador. Como explica isso?
Creio que capacidade de realizar e de agregar andam juntas. No governo Montoro, na Prefeitura, no Ministério da Saúde, sempre formei equipes que podem ser consideradas as melhores em cada época, sem qualquer desarmonia interna. Sempre parti de uma base técnica bastante ampla. Já era economista e especialista em algumas questões de gestão pública mesmo antes de ocupar cargo.
Quando percebeu que a política era o seu caminho?
Desde criança. Lia jornais a partir dos sete anos e meus parentes dizem que eu já discutia política, ainda criança. Eu não me lembro. Aos 10 anos já era bastante informado. Quando chegou a TV, não tínhamos dinheiro para comprá-la, então eu lia jornal. Só fui ver TV quando tinha 14 anos.
A sua mãe o incentivou?
Não. Nunca ninguém incentivou. Minha família era muito modesta e despolitizada.
E a fama de hipocondríaco…
Não sou, mas tenho fama. Do ponto de vista político, não é ruim, não. Toda a população achava divertido ter um ministro da Saúde hipocondríaco. Não sei de onde vem essa fama. Sou cuidadoso, mas não gosto de ficar tomando remédio.
Não gosta de hospital?
Não. Eu visitei muito hospital, unidades novas de saúde, lidei com questões importantes de saúde pública no Brasil, mas se ver alguém aplicar uma injeção me dá tontura. Quando fui tirar sangue, jamais fui capaz de olhar.
O que gosta de fazer quando não está trabalhando?
Ficar com meus netos e ir ao cinema. E quando posso, viajar. O que é dificílimo. Ir pro exterior para trabalhar é fácil, mas lazer puro é difícil.
No cinema tem um gênero preferido? Viu Tudo pelo Poder?
Achei regular. O filme é meio simplista, mas gostei. Gosto de filme papo-cabeça, de faroeste, de comédia, enfim, de todo tipo de filme desde que seja um bom espetáculo.
E música?
Gosto de música clássica, mas também de MPB. Lembra do (senador do PSDB) Artur da Távola? Uma vez nós passamos uma tarde, em que o plenário não conseguia se reunir, na minha sala vendo quem sabia mais letras de músicas do Orlando Silva. Empatou. O Artur era um musicólogo. Mas eu também conheço muito de música popular antiga.
O senhor é filho único. Isso teve alguma influência na sua personalidade?
Deve ter tido. É muito difícil sentir isso. Dizem que filho único é autocentrado porque não tem concorrente. Eu vi porque tenho dois filhos. Embora sejam dois filhos únicos, porque meu filho nasceu quatro anos depois da minha filha.
De menino, que tipo de aluno o senhor era?
Embora fosse tímido, era muito falador e não era um modelo de disciplina. Tinha boas notas em aplicação e más notas em comportamento. Mas eram coisas muito ingênuas, se você comparar com certas coisas de agora.
Se fosse dar notas a si mesmo, hoje, daria quanto de aplicação e de comportamento?
De aplicação daria nota 10. Quando tenho algo a cumprir, me dedico totalmente. E de comportamento prefiro não me dar uma nota (risos). Uma vez fui para a aula com uma dor tremenda no pé, pois tinha cortado a unha na noite anterior e cortei um pedaço da carne. Passei a noite com o dedo inflamado. Aí o professor me escolheu para declinar verbos em latim e eu disse: “Professor, eu não estou em condições de declinar esse verbo”. E ele: “Mas o que o você tem?”. Aí eu expliquei que estava com dor no dedo do pé e a sala inteira caiu na gargalhada.
Há uma crise internacional preocupando todo mundo. Como você vê o panorama?
Acho que a economia brasileira vive, há muitos anos, um processo de empurrar com a barriga a solução de seus problemas. Temos um modelo que está consumindo os preços altos das commodities. A economia está se desindustrializando, mas a população está consumindo bastante porque temos preços de commodities em alta. Só que o modelo primário exportador não é capaz de levar o Brasil, a médio e longo prazo, a um processo de desenvolvimento sustentável. Nosso desafio seria ter em 2030 uma renda por habitante semelhante, hoje, à renda dos países considerados desenvolvidos. Não será pelo caminho da economia primária exportadora que chegaremos lá.
Há pelo menos vinte anos que se bate nesta tecla.
Eu sou o que mais bateu na tecla.
Mas, e o cenário lá fora?
Não acho nada catastrófico, você pode ter surpresas. O Pedro Malan disse outro dia que em economia é difícil até prever o passado. Imagine o futuro! Estou preocupado porque a fase de bonança que vive o Brasil é transitória. Mas, do ponto de vista da economia mundial, depende muito da Europa. E qual é o nó da Europa? É que não é uma crise estritamente econômica. Se a Europa fosse um país federativo, como os EUA ou o Brasil, provavelmente não haveria esse problema. Só que eles criaram uma moeda única numa confederação. Então, o orçamento da União no Brasil é 20% do PIB, nos EUA é outro tanto, na Europa é 1% do PIB. Você não tem mecanismos de compensação. A Europa não é integrada nem no mercado de trabalho, muito menos do ponto de vista fiscal.

02.abril.2012


Que Democracia??




O povo, sabotado em instrução, em informação, em consciência, em dignidade, não consegue discernir para escolher, não percebe o jogo de interesses ao qual é submetido


Por Eduardo Marinho




Que Democracia??

O estado democrático é uma falácia, um engodo, uma farsa, uma fraude.

É a ditadura do poder econômico, o domínio das estruturas sociais pelo mercado financeiro e pelas grandes empresas.

A administração pública, a começar pelos três poderes, executivo, legislativo e judiciário, está dominada pela influência de uma minoria ínfima da população, desviando as prioridades do estado para os seus interesses econômicos, negligenciando as funções principais de servir à coletividade como um todo.


Mantém-se o povo ignorante, desinformado, desmoralizado e amedrontado.

Ignorante, negando-lhe uma educação que mereça esse nome;

desinformado, controlando a mídia e as comunicações, deturpando informações, omitindo, distorcendo, de acordo com o interesse dos poucos que dominam;

desmoralizado, criminalizando qualquer movimento que agregue, esclareça, conscientize e defenda a maioria, dividindo e isolando os indivíduos com a ideologia da competição e do consumo compulsivo através de uma publicidade massacrante, repetitiva, insidiosa, desonesta;

amedrontado, entre a exclusão social e o aparato da “segurança pública”.

Periodicamente, alimenta-se a farsa, simulando-se eleições “democráticas”, obrigando à votação em massa, após campanhas publicitárias milionárias, mentirosas, onde o único compromisso que se pensa em honrar é com os financiadores dessas campanhas, esquecendo-se os eleitores.

São estatísticas.



O povo, sabotado em instrução, em informação, em consciência, em dignidade, não consegue discernir para escolher, não percebe o jogo de interesses ao qual é submetido.

Muitos entram no jogo, negociam vantagens, migalhas... e sustentam o controle do jogo.

Outros, não querem “nem saber de política”, querem é consumir, desfrutar, possuir, ostentar, ainda que seja sua própria miséria, sua própria pobreza mal disfarçada, sua média classe, sua mediocridade.

São os prisioneiros da publicidade, dependem de estímulos externos para sentirem alguma razão no existir.

São a grande maioria das pessoas.

Há outros e muitos tipos, mas poucos interessados no que fazem nossos empregados – os políticos, executivos e funcionários públicos em cargos de chefia - e como controlá-los e mantê-los a serviço da coletividade como um todo, priorizando as situações de fragilidade e não os interesses dos mais ricos entre os mais ricos.

Que não me venham falar em democracia.

A ditadura se impõe, insidiosa ou descarada, sobre a ignorância onde é mantida a maioria.

O resto é jogo de cena.


Eduardo Marinho


02.04.2012


domingo, 1 de abril de 2012


Não nos devemos esquecer de que a responsabilidade não é só dos que transgridem e da pouca repressão, mas da própria sociedade - isto é, de todos nós -, por aceitar o inaceitável e reagir pouco diante dos escândalos


                                   Por Fernando Henrique Cardoso

                                                                               O Estado de S.Paulo


Houve tempo em que se dizia que ou o Brasil acabava com a saúva ou a saúva acabaria com o Brasil. As saúvas andam por aí, não acabaram, nem o Brasil acabou.

Será a mesma coisa com a corrupção?

Que ela anda vivinha por aí não restam dúvidas, que acabe com o Brasil é pouco provável, que acabe no Brasil, tampouco. Mas que causa danos enormes é indiscutível.

Haverá quem diga que sempre houve corrupção no País e pelo mundo afora, o que provavelmente é certo, mas a partir de certo nível de sua existência e, pior, da aceitação tácita de suas práticas como "fatos da vida", se ela não acaba com o País, deforma-o de modo inaceitável. Estamo-nos aproximando desse limiar.

Há formas e formas de corrupção, especialmente das instituições e da vida política. As mais tradicionais entre nós são o clientelismo - a prática de atender os amigos, e os amigos dos amigos, nomeando-os para funções públicas -, a troca de favores e o patrimonialismo, isto é, a confusão entre público e privado, entre Estado e família.

Tudo isso é antigo e deita raízes na Península Ibérica. A frase famosa "é dando que se recebe", de inspiração dita franciscana, referia-se mais à troca de favores do que ao recebimento de dinheiro. Por certo, um sistema político assentado nessas práticas já supõe o desdém pela lei e é tendente a permitir deslizes mais propriamente qualificados como corrupção.

Mesmo quando não haja suborno de funcionários ou vantagem pecuniária pela concessão de favores, prática que os juristas chamam de prevaricação, os apoios políticos obtidos dessa maneira são baseados em nomeações que implicam gasto público.

Progressivamente, tais procedimentos levam a burocracia a deixar de responder ao mérito, ao profissionalismo. Com o tempo, as gorjetas e mesmo o desvio de recursos - o que mais diretamente se chama de corrupção - aumentam como consequência desse sistema.

Nos dias que correm, entretanto, não se trata apenas de clientelismo, que por certo continua a existir, ao menos parcialmente, mas de algo mais complexo. Se o sistema patrimonialista tradicional já contaminava nossa vida política, a ele se acrescenta agora algo mais grave.

Com o desenvolvimento acelerado do capitalismo e com a presença abrangente dos governos na vida econômica nacional, as oportunidades de negócios entremeados por decisões dependentes do poder público ampliaram-se consideravelmente.

E as pressões políticas se deslocaram do mero favoritismo para o "negocismo". Há contratos por todo lado a serem firmados com entes públicos, tanto no âmbito federal como no estadual e no municipal.

Crescentemente, os apoios políticos passam a depender do atendimento do apetite voraz de setores partidários que só se dispõem a "colaborar" se devidamente azeitados pelo controle de partes do governo que permitam decisões sobre obras e contratos. Mudaram, portanto, o tipo de corrupção predominante e o papel dela na engrenagem do poder.

Dia chegará - se não houver reação - em que a corrupção passará a ser condição de governabilidade, como ocorre nos chamados narcoestados.

Não, naturalmente, em função do tráfico de drogas e do jogo (que também se podem propagar), mas da disponibilidade do uso da caneta para firmar ordens de serviço ou contratos importantes.

Não por acaso se ouvem vozes, cada vez mais numerosas, na mídia, no Congresso e mesmo no governo, a clamar contra a corrupção. E o que é mais entristecedor, algumas delas por puro farisaísmo, como ainda agora, em clamoroso caso que afeta o Senado e sabe Deus que outros ramos do poder.

O perigo, não obstante, é que se crie uma expectativa de que um líder autoritário ou um partido-salvador seja o antídoto para coibir a disseminação de tais práticas.

Em outros países já vimos líderes supostamente moralizadores se engolfarem no que diziam combater, e a experiência com partidos "puritanos", mesmo entre nós, tem mostrado que nem eles escapam, aqui ou ali, das tentações de manter o poder ao preço por ele cobrado.

Quando este passa a ter a conivência com o setor gris da sociedade, lá se vão abaixo as belas palavras, deixando um rastro de desânimo e revolta nos que neles acreditaram.

A experiência histórica mostra, contudo, que há caminhos de recuperação da moral pública. Na década de 1920, nos Estados Unidos, havia práticas dessa natureza em abundância. O controle político exercido por bandos corruptos aboletados nas câmaras municipais, como em Nova York, por exemplo, onde o Tammany Hall deixou fama, é arquiconhecido.

As ligações entre o proibicionismo do álcool e o poder político, da mesma forma. Pouco a pouco, sem nunca, por certo, eliminar a corrupção completamente, o caráter sistêmico desse tipo de procedimento foi sendo desmantelado.

À custa de quê? Pregação, justiça e castigo. Hoje, bem ou mal, os "graúdos", ao menos alguns deles, também vão para a cadeia. Ainda recentemente, em outro país, a Espanha, depois de rumoroso escândalo, alto personagem político foi condenado e está atrás das grades.

Não há outro meio de restabelecer a saúde pública senão a exemplaridade dos líderes maiores, condenando os desvios e não participando deles, o aperfeiçoamento dos sistemas de controle do gasto público e a ação enérgica da Justiça.

A despeito do desânimo causado pela multiplicação de práticas corruptas e pela impunidade vigente, há sinais alvissareiros. É inegável que os sistemas de controle, tanto os tribunais de contas como as auditorias governamentais e as Promotorias, estão mais alerta e a mídia tem clamado contra o mau uso do dinheiro e do patrimônio públicos.

A ação do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e as decisões do Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a validade da Lei da Ficha Limpa mostram que o clamor começa a despertar reações.

Mas é preciso mais. Necessitamos de uma reforma do sistema de decisões judiciais, na linha do que foi proposto pelo ministro Peluso, para acelerar a conclusão dos processos e dificultar que bons advogados posterguem a consumação da justiça.

Só quando se puserem na cadeia os poderosos que tenham sido condenados por crimes de colarinho branco, o temor, não da vergonha, mas do cárcere coibirá os abusos.

Não nos esqueçamos, porém, de que existe uma cultura de tolerância que precisa ser alterada. Não faltam conhecidos corruptos a serem brindados em festas elegantes e terem quem os ouça como se impolutos fossem.

As mudanças culturais são lentas e dependem de pregação, pedagogia e exemplaridade.

Será pedir muito?

E não nos devemos esquecer de que a responsabilidade não é só dos que transgridem e da pouca repressão, mas da própria sociedade - isto é, de todos nós -, por aceitar o inaceitável e reagir pouco diante dos escândalos.

FERNANDO HENRIQUE CARDOSO - socíólogo, foi presidente da República

1 de abril de 2012


"A palavra está com Demóstenes", diz Agripino


Presidente do DEM cobra resposta do senador sobre ligação com Carlinhos Cachoeira e diz que o caso precisa ser resolvido de forma rápida
Gabriel Castro
Com Demóstenes sangrando, torna-se mais evidente a falta de quadros de peso no DEM para reerguer o partido (AE)

A situação de Demóstenes Torres (DEM-GO) dentro de seu partido se agrava a cada dia.

O silêncio do senador e a enxurrada de novas denúncias têm minado o apoio ao parlamentar.

O presidente da legenda, José Agripino Maia, ainda espera a resposta que o colega prometeu dar na tribuna assim que tivesse acesso ao inquérito, o que já foi garantido: a defesa do senador terá o material em mãos nesta sexta-feira.

"Agora, a palavra está com ele, para cumprir aquilo que disse",
afirma Agripino.

Demóstenes, que tem se mantido em silêncio, havia prometido subir à tribuna para se defender assim que fosse informado das acusações.

De acordo com o comandante do DEM, as novas revelações tornam mais grave a situação do senador: "São fatos pesados que exigem esclarecimentos".

Agripino espera que Demóstenes apresente, já na semana que vem, sua versão dos fatos. A expectativa é de que, logo depois, a executiva da legenda se reúna para discutir o caso.

O encontro estava marcado para a próxima terça-feira, mas foi cancelado porque, com o feriado de Páscoa, muitos parlamentares estarão fora de Brasília.

Agripino diz que o veredito sobre Demóstenes deve ser dado nas próximas semanas. "É preciso que haja uma decisão rápida", afirmou.

Ele acredita que, dessa forma, não haja reflexos do caso sobre a imagem do partido nas eleições municipais – o primeiro passo da legenda na tentativa de se reerguer depois de sucessivos revezes nos últimos anos.

Ainda segundo o presidente do partido, o DEM não vai titubear se for preciso expulsar da sigla o senador, um dos nomes mais promissores do partido antes do surgimento do escândalo.
Acusações

Demóstenes Torres foi atingido em cheio pela operação Monte Carlo, da Polícia Federal. As autoridades desmontaram uma extensa rede criminosa comandada por Carlinhos Cachoeira, empresário e controlador da máfia dos caça-níqueis no estado de Goiás.

Foram presos policiais militares, civis e federais que tinham participação no esquema. Mas a maior surpresa veio de conversas entre Demóstenes Torres e Cachoeira, interceptadas pelos policiais.
 

Além de ter recebido do criminoso um presente de casamento no valor de 30 000 dólares, o senador foi flagrado pedindo auxílio financeiro e negociando o uso de um jatinho de Cachoeira.

O parlamentar também usou sua influência para facilitar negócios do chefe de quadrilha, que está preso.

Conversas reveladas pelo Jornal Nacional nesta quinta-feira tornaram a situação do senador ainda mais complicada.

Cachoeira aparece negociando recursos com comparsas e, em vários trechos, cita o nome do parlamentar. Carlinhos Cachoeira chega a falar em "um milhão do Demóstenes".

Horas antes, o PSOL entregou ao Conselho de Ética do Senado um pedido de abertura de processo por quebra de decoro parlamentar.

O procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) a abertura de inquérito contra o parlamentar.

Demóstenes e José Dirceu: dois casos emblemáticos da República.


 Ou: Como reagem os moralmente doentes e os moralmente saudáveis diante do caso







Peço que vocês leiam com muita atenção este texto


Já escrevi vários posts sobre a situação do senador Demóstenes Torres (DEM-GO). Publiquei, aliás, a primeira entrevista com ele tão logo veio a público reportagem da VEJA — e foi a VEJA a primeira a tratar do assunto em letra impressa — sobre o caso. Sabia-se bem menos do que hoje a respeito. Algumas das perguntas feitas então:
- O senhor é um dos mais severos críticos dos desmandos do petismo. Não pega mal para alguém com esse perfil ser flagrado conversando com Carlinhos Cachoeira?
- O senhor já foi secretário de Segurança de Goiás, entre 1999 e 2002. Não é impróprio alguém nessa posição ter amizade com um contraventor?
- Mas que tanto o senhor tinha para falar com Cachoeira?

Alguns vagabundos, que hoje são empregados do quadrilheiro-chefe da República, tentaram ligar meu nome às acusações contra Demóstenes. Ele seria “a fonte” e o “interlocutor” de Reinaldo Azevedo, como se falar com políticos não fosse uma obrigação do jornalista — e olhem que até falo pouco… O que é impróprio para jornalista é ser cúmplice de criminosos. Aliás, jornalistas falam com políticos e com o resto da humanidade — inclusive com aquela parte que chamo “imprópria para consumo… humano”. Boa parte das falcatruas que são reveladas, o que serve para proteger os cofres públicos, nasce da denúncia de pessoas envolvidas em esquemas que têm interesses contrariados. Conversar com uma fonte não é se comprometer com ela. Esse caso está ainda no começo. Eu posso lhes assegurar que os decentes da imprensa rirão por último. Mas, até lá, cumpre fazer algumas observações importantes.

As perguntas que lhe fiz, reproduzidas acima, nada tinham de “levantada de bola”. Ele só está numa situação muito difícil porque não tem boas respostas pra elas e porque o que vazou até agora indica que elas são pouco satisfatórias. Sim, eu lamento profundamente a desgraça política de Demóstenes porque, em si, independentemente do mérito (e falarei, sim, do mérito), o fato é ruim para o Brasil. Qualquer democracia do mundo precisa de uma oposição atuante. É a sua existência que demonstra, como lembro sempre, que o regime é democrático. Governos existem também nas ditaduras, mas só os regimes que asseguram as liberdades públicas e individuais contam com oposições organizadas e legais.

Lamento a situação de Demóstenes — e não sou o único — POR AQUILO QUE SE CONHECIA DE SUA ATUAÇÃO, não por aquilo que não se conhecia. A essa altura, ele próprio deve saber que dificilmente conseguirá se recuperar politicamente. Em certa medida, nem o ex-governador José Roberto Arruda, do DF, caiu de tão alto. Havia um halo de desconfiança que cercava Arruda em razão dos episódios ligados à quebra de sigilo do painel eletrônico do Senado. Mais: a política no Distrito Federal tem algumas características próprias que a tornam especialmente perversa mesmo para os padrões da lambança geral. Demóstenes estava em outro patamar e certamente sabe disso.

Os moralmente saudáveis e os doentes

Há uma reação de justa indignação dos moralmente saudáveis com a derrocada de Demóstenes. Não eram poucos os que acreditavam na sua pregação e que, atenção!, ainda acreditam naqueles valores que ele anunciava. E fazem muito bem! Eram e são bons valores. Se ele próprio, como apontam os indícios, não levava o que dizia na ponta do lápis, isso não depõe contra aqueles fundamentos, não! Eles continuam corretos.

Essas são pessoas de bem! Ninguém, até agora, me enviou comentários afirmando que isso tudo é só uma tramoia do PT; que Demóstenes foi obrigado a fazer essas coisas para sobreviver politicamente; que ele age como agem todos; que há também petistas — e os há!!! — na lista de políticos amigos de Cachoeira. Aliás, nota à margem: existe um vídeo em que o contraventor promete dinheiro a um deputado do… PT!!!

Não! Os antigos admiradores de Demóstenes não recorreram a essas estratégias. Isso é desculpa de petista! Isso é desculpa de petralha! Isso é desculpa do JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista)! Isso é desculpa de quem dá trela para José Dirceu! Os ex-admiradores de Demóstenes estão sinceramente decepcionados e não se mostram dispostos a perdoá-lo, AINDA QUE ELE TENHA SIDO ALVO DE UMA ILEGALIDADE CONTINUADA, ao contrário do que diz o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (já chego lá). Ocorre que essa ilegalidade não muda a natureza e o conteúdo dos diálogos.

O senador é um homem inteligente. Sabe que aqueles que o elegeram e que o admiravam não o perdoarão politicamente. E é por isso que, segundo leio, teria comentado com pessoas de seu círculo que está politicamente liquidado. Salvo um evento formidável, vindo de outra esfera, não creio que consiga se sair bem desse inferno.

Essa é a reação das pessoas saudáveis. Mais: elas querem que Demóstenes, confirmadas as ligações com Cachoeira, pague pelo que fez. Não há votos em favor da impunidade, não! Os que o admiravam são muito diferentes dos, como é mesmo, “amigos de José Dirceu”. Estes querem impunidade mesmo! Estes acham que o Zé só estava comandando a “revolução petista” por outros meios; estes acham que o Zé só estava agindo como agem todos, mas em favor do “lado certo”, o PT.

O SENADOR DEMÓSTENES TORRES SABE QUE, HOJE, O SEU PIOR INIMIGO É A SUA PRÓPRIA ATUAÇÃO NO SENADO, A PARTE CONHECIDA, QUE ERA EXCELENTE! E SEU SEGUNDO PIOR INIMIGO SÃO EXATAMENTE AS PESSOAS QUE O ADMIRAVAM EM RAZÃO DESSES VALORES. No caso de Dirceu é diferente: os valores dos seus admiradores o protegem porque iguais aos seus. Trazida à luz a relação de Demóstenes com Cachoeira, ele caiu em desgraça. Pego com a boca na botija, o Zé virou herói.

Acho que a carreira de Demóstenes está acabada. Já o Zé, como a gente viu, fez fama e fortuna. Não estivesse com os direitos políticos suspensos, haveria petistas bastantes para elegê-lo deputado. Afinal, o Zé, processado no STF por formação de quadrilha, cassado pela Câmara por corrupção, virou até “colunista político”, além de “consultor de empresa privada”.

A reação daqueles que tendem a inviabilizar a carreira política de Demóstenes é a reação de pessoas moralmente saudáveis. A reação daqueles que garantiram a sobrevivência de Dirceu — que o transformaram, pasmem!, em oráculo, que ainda votariam nele e que agora vibram com a desgraça do senador do DEM — é moralmente doente.

Mais sobre os doentes

E são justamente esses doentes, inclusive no colunismo político — coisa de vigaristas mesmo! — que tentam estabelecer conexões entre as ligações de Demóstenes com Cachoeira e sua oposição ao governo Dilma, como se só pessoa com víncuações suspeitas pudessem se opor ao PT. É mesmo?
- Então ninguém pode se opor ao PT do mensalão por bons motivos?
- Então ninguém pode se opor ao PT dos aloprados por bons motivos?
- Então ninguém pode se opor ao PT de Erenice Guerra, ex-braço-direito da própria Dilma, por bons motivos?
- Então ninguém pode se opor ao PT das lanchas de Santa Catarina (ver posts abaixo) por bons motivos?

Uma ova!

São exatamente as pessoas que não aceitam a moral elástica do petismo que estão a dizer a Demóstenes: “Assim não dá, senador! Isso é coisa da turma do lado de lá! Não somos petistas! Não justificamos os malfeitos das pessoas que estão do lado de cá!”

Polícia política

Tão logo o senador Demóstenes foi capturado na rede de influências de Carlinhos Cachoeira, seu caso deveria ter sido remetido ao STF. “Ah, não era ele o alvo da escuta…” Isso é conversa mole! No que diz respeito à questão propriamente criminal, dificilmente as eventuais provas contra Demóstenes não serão impugnadas. Ocorre que, politicamente — e Demóstenes é político —, isso não tem a menor relevância.

Quero chamar a atenção de vocês para outro aspecto. Repararam que o método empregado com Demóstenes é muito parecido com aquele que destruiu Arruda? Faz-se uma operação secreta, vão se colecionando provas ou indícios e depois começa o trabalho de vazamento, de modo que a pessoa colhida não tem para onde correr. Não por acaso, os “peixões” capturados são justamente lideranças da oposição.

Fizeram coisa errada? Que paguem! Quanto a isso, não há a menor dúvida. Quem gosta de impunidade são os amigos do Zé Dirceu! Mas por que essa mesma PF não emprega igual método contra petistas? Quantos resistiram a essa forma de investigação? Digamos que a Polícia Federal não tenha cometido uma só ilegalidade nessa ação. Diremos, então: eis aí uma instituição que serve ao Estado. Ocorre que começa a ficar caracterizado que os alvos são seletivos. SER DE OPOSIÇÃO NO PAÍS PASSOU A COMPORTAR UM RISCO ADICIONAL. E esse particular não caracteriza uma polícia de estado, mas uma polícia política.

Dado o andamento dos fatos, pergunta-se: de quais garantias dispõem os demais senadores da República — na verdade, o conjunto dos parlamentares — de que não estão sendo monitorados, sob a desculpa de que não são eles os alvos da investigação? A resposta: nenhumas! (o certo é “nenhumas” mesmo…). Fica uma advertência no ar: “Tomem cuidado!”

Caminhando para a conclusão

Que Demóstenes pague pelo que fez. Aliás, os vazamentos todos já caracterizam uma antecipação de pena, é evidente. É a correta atuação do senador — a parte que conhecíamos — que, entendo, inviabiliza o seu futuro político. Mas é justamente a atuação asquerosa de um Zé Dirceu (e de outros mensaleiros que estão de volta à Câmara) que lhe dá um futuro político! Não é mesmo um paradoxo interessante?


Os crimes dos adversários do PT crimes são! E isso é correto! Os crimes do PT, ora vejam!, transformam-se em virtudes, em atos de resistência! E isso é um crime adicional — no caso, moral. Ou não lemos ontem na coluna de Mônica Bergamo, da Folha, que os amigos do Zé (quem? quem?) pensam até em recorrer à OEA caso ele seja condenado???

Vigaristas atuando a soldo na rede, notórios bandidos que vivem de joelhos para o poder, esbirros de mensaleiros, tentam comprometer até mesmo o jornalismo que se dedica ao trabalho honesto, como ficará evidente pela enésima vez. É gente que está vibrando com a destruição de Demóstenes não porque cultive bons princípios, mas porque a serviço de bandidos que estão no poder.

Encerro reafirmando aos leitores que o senador Demóstenes está numa situação crítica NÃO PORQUE TENHA VIVIDO CONFORME O QUE PREGAVA, mas porque, é bem provável, DEIXOU DE FAZÊ-LO. Não havia e não há nada de errado com aqueles princípios. Eles continuam bons. Em suma, os maiores algozes de Demóstenes são aqueles que ele conseguiu conquistar com a sua atuação, tanto quanto os maiores defensores de Dirceu são aqueles que ele também conseguiu conquistar!


30/03/2012