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sábado, 13 de maio de 2017

Palocci decide fazer acordo de delação com Lava Jato

Petista dispensa José Roberto Batochio e outros três advogados contrários à colaboração e negocia acordo com o MPF

Por João Pedroso de Campos
Veja.com

(Vagner Rosario/VEJA.com)


O ex-ministro da Fazenda e da Casa Civil Antonio Palocci decidiu negociar um acordo de delação premiada com a força-tarefa da Operação Lava Jato e comunicou a decisão a seu advogado, o criminalista José Roberto Batochio, que defendeu o petista desde que ele foi preso e é contrário aos acordos de delação firmados na Lava Jato. Palocci está detido na carceragem da Polícia Federal em Curitiba desde setembro de 2016, quando foi deflagrada a Operação Omertà, 35ª fase da operação.


A negociação da delação premiada de Palocci será conduzida pelos advogados Adriano Bretas, Tracy Reinaldeti, Matteus Beresa de Paula Macedo e André Luis Pontarolli, do escritório Bretas Advogados, localizado na capital paranaense. A equipe de Bretas havia sido contratada no final de abril pelo ex-ministro, mas acabou dispensada uma semana depois. Com a decisão de Antonio Palocci de colaborar com as investigações da Lava Jato, no entanto, os advogados, especialistas delação premiada, foram recontratados.

Batochio, que também defende o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, protocolou no final da tarde desta sexta-feira a renúncia à defesa de Palocci, acompanhado pelos advogados Guilherme Octávio Batochio, Ricardo Toledo Santos Filho e Leonardo Vinícios Batochio. Na petição encaminhada ao juiz federal Sergio Moro, os defensores dizem que “deixam o patrocínio da causa, tendo em vista a mudança de orientação da defesa técnica por parte do constituinte”.

Logo após a saída dos advogados liderados por José Roberto Batochio da causa, Palocci oficializou Bretas, Reinaldeti, Macedo e Pontarolli como seus advogados no autos. Os advogados Alessandro Silverio e Bruno Augusto Gonçalves Vianna, que já integravam a defesa de Palocci, continuam no caso, ao menos por enquanto.

O que pesa contra Palocci

Antonio Palocci é réu em dois processos sob responsabilidade de Moro na Lava Jato, acusado em ambos dos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Um deles apura uma “conta-corrente da propina” mantida entre o ex-ministro, o Partido dos Trabalhadores e a Odebrecht, que teria recheado campanhas petistas em 2008 e 2012 com dinheiro desviado da Petrobras. Palocci já foi ouvido pelo juiz federal nesta ação penal. Em sua oitiva, o “italiano” das planilhas da empreiteira deixou claro ao magistrado que colaboraria com as investigações.

“Fico à sua disposição. Todos os nomes que optei por não falar aqui por sensibilidade da informação estão à sua disposição para o dia que o senhor quiser. E se o senhor estiver com agenda muito ocupada e determinar uma pessoa, eu imediatamente apresento todos esses fatos, com nome, endereço, operações realizadas e coisas que certamente vão ser do interesse da Lava Jato, que realiza uma investigação de importância”, afirmou o petista, acrescentando que as informações podem abrir um “caminho” que pode render mais um ano de trabalho a Moro. “Mas um trabalho que faz bem ao Brasil”, completou.

Na outra ação penal em que figura no banco dos réus, Palocci é acusado pelo Ministério Público Federal de intermediar pagamentos de 13 milhões de reais em vantagens indevidas pela empreiteira ao ex-presidente Lula.

Parte do dinheiro, 12,4 milhões de reais, teria sido gasta na compra de um terreno para abrigar a sede do Instituto Lula em São Paulo – o instituto acabou sendo construído em outro endereço. Outros 504.000 reais teriam sido usados na compra da cobertura contígua à de Lula no edifício Hill House, em São Bernardo do Campo (SP). As duas compras teriam sido feitas por meio de laranjas. Moro iniciou as oitivas de testemunhas neste processo nesta semana. Ainda não há previsão para depoimento do ex-presidente.

Além dos processos a que já responde na Justiça Federal, Antonio Palocci foi largamente citado nas delações premiadas de executivos da Odebrecht e dos marqueteiros João Santana e Mônica Moura, tornadas públicos ontem pelo Supremo Tribunal Federal (STF).
12 maio 2017


sexta-feira, 12 de maio de 2017

Palocci decide fazer delação e afasta advogado contrário ao acordo


O ex-ministro Antonio Palocci, durante fase da Lava Jato em 2016



MARIO CESAR CARVALHO
FOLHA DE SÃO PAULO


O ex-ministro Antonio Palocci decidiu negociar um acordo de delação premiada com os procuradores da Operação Lava Jato. Na tarde desta sexta (12), ele avisou seu advogado de defesa, o criminalista José Roberto Batochio, que ele terá de se afastar do caso, o que deve ocorrer ainda hoje.

A negociação do acordo será feita por dois advogados de Curitiba, Adriano Bretas e Tracy Reinaldet. Os dois já haviam sido contratados por Palocci, mas, sem maiores explicações, o ex-ministro rompeu o acerto inicial. Nesta semana Palocci retomou as conversas com Bretas e Reinaldeti e decidiu que partiria para a delação. Réu em dois processos em Curitiba, Palocci teme que suas condenações possam ultrapassar os 30 anos de prisão.

A Folha apurou que o afastamento de Batochio foi uma exigência da força-tarefa da Lava Jato porque o criminalista é contrário a esse tipo de acordo.

A colunista Mônica Bergamo havia antecipado nesta sexta (12) que o ex-ministro tinha retomado as negociações com o advogado Adriano Bretas sobre delação.

O próximo passo para Palocci será desistir do pedido de habeas corpus que está para ser julgado pelo STF (Supremo Tribunal Federal). O ministro Edson Fachin decidiu que o pedido não será julgado pela segunda turma do Supremo, que soltou quatro investigados da Lava Jato em menos de uma semana: o ex-ministro José Dirceu, os empresários Eike Batista e José Carlos Bumlai e o ex-tesoureiro do PP João Cláudio Genu. A decisão de Fachin foi vista pela defesa de Palocci como uma manobra para evitar mais uma derrota.

Pesou na decisão de Palocci a operação que a Polícia Federal deflagrou nesta sexta (12), em torno de repasses do BNDES para o grupo JBS, num total de R$ 8,1 bilhões. Palocci é apontado nas investigações como um dos intermediários dos financiamentos que geraram supostas propinas para o PT. Uma das hipóteses investigadas pela PF e pelos procuradores é que o partido ficava com parte dos repasses do BNDES.

Outra influência na decisão de Palocci foi a delação da Odebrecht. Documentos apreendidos pela Polícia Federal, depois incluídos no acordo da Odebrecht, apontam que o ex-ministro foi responsável por administrar repasses no valor de R$ 128 milhões entre 2008 e 2013.

Palocci era chamado de "Italiano" nos comunicados internos da Obebrecht sobre repasses para o PT. O ex-ministro ficou negando por meses que era o "Italiano", mas o codinome foi confirmado por Marcelo Odebrecht, ex-presidente do grupo que leva o seu sobrenome.

Ex-ministro da Fazenda de Lula e chefe da Casa Civil de Dilma, Palocci foi preso em setembro do ano passado numa fase da Lava Jato chamada Omertà, que quer dizer "lei do silêncio" no linguajar dos mafiosos italianos e era, ao mesmo tempo, uma referência ao apelido que o ex-ministro tinha nos registros da Odebrecht.

A delação de Palocci é vista com potencial explosivo para atingir o sistema financeiro porque ele era o principal interlocutor do PT junto aos bancos. Ele deve também citar alguns dos maiores empresários do país, como Joesley Batista, da JBS, e Abílio Diniz.

Uma auditoria interna do Pão de Açúcar apontou que uma empresa de Palocci recebeu R$ 5,5 milhões do grupo entre 2009 e 2010 sem comprovação de que os serviços de consultoria que justificavam o pagamento fossem comprovados. Procuradores suspeitam que o pagamento possa ter alguma relação com a campanha de Dilma Rousseff (PT), de 2010, na qual foi eleita presidente pela primeira vez.

Procurado pela Folha, o grupo JBS informou que não iria se manifestar.

Abílio Diniz afirma em nota que a auditoria que apontou a inexistência prestados por Palocci foi realizada pelo grupo Casino e no período analisado (2009-10) ele não exercia função executiva na empresa. Ocupava o conselho de administração junto com o francês Jean Charles Naouri. Segundo a nota, a relação do Pão de Açúcar "sempre foi com o escritório de Márcio Thomaz Bastos, nunca com Antonio Palocci".

Diniz diz que "o contrato da Projeto Consultoria, de Antonio Palocci,com o escritório de Márcio Thomaz Bastos, inclusive, já foi objeto de investigação, tendo sido encerrado por não apresentar indícios de irregularidades".
12/05/2017

Mônica Moura diz que Dilma 'era um poste para eleger' na campanha de 2010


Marqueteira disse à PGR que, na eleição de 2010, a avaliação era de que a petista ia ser derrotada.


Ela explicou que João Santana exigiu em contrato para o PT não interferir na comunicação da campanha.


Por G1 e TV Globo, Brasília

Mônica Moura diz que Dilma 'era um poste para eleger' na campanha de 2010


Uma das delatoras da Lava Jato, a marqueteira Mônica Moura relatou à Procuradoria Geral da República (PGR) que o marido dela, o publicitário João Santana, exigiu em contrato na eleição de 2010 autonomia para tomar as decisões da primeira campanha presidencial de Dilma Rousseff. Mônica afirmou aos procuradores da República que, à época, a avaliação era de que a petista ia perder. "Era impossível, era um poste para eleger", avaliou a marqueteira.

A declaração foi dada por Mônica Moura em um dos depoimentos de sua delação premiada. Ela e João Santana fecharam um acordo de colaboração com a PGR para reduzir a pena de prisão.

Nesta quinta (11), o relator da Lava Jato no Supremo Tribunal Federal (STF, ministro Edson Fachin, derrubou o sigilo das delações premiadas do casal de marqueteiros. Os vídeos dos depoimentos foram divulgados nesta sexta (12).




"Numa campanha, por exemplo, como a da Dilma, de 2010, dificílima, todo mundo apostava que ia perder. Era impossÍvel, era um poste pra eleger. O João nãoo aceitava que, por exemplo, ficassem 10, 12 pessoas do PT dando opinião no programa [eleitoral]. A nossa parte era o marketing. TV, rádio, música, jingle. O João não permitia, colocava no início, como cláusula: 'eu não aceito que fique aqui um conglomerado de gente do PT, todo mundo dando opinião", declarou a publicitária em um dos vídeos da delação premiada.

O casal João Santana foi o responsável pelas duas campanhas eleitorais de Dilma, em 2010 e 2014. Afilhada política do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, a petista venceu, em 2010, o tucano José Serra (SP) no segundo turno com a assessoria de comunicação de João Santana.

O marqueteiro e a mulher dele foram presos em 23 de fevereiro do ano passado, na 23ª fase da Lava Jato – batizada de Acarajé. Eles foram soltos seis meses depois por ordem do juiz federal Sérgio Moro, responsável pela Lava Jato na primeira instância.


Em fevereiro deste ano, o magistrado do Paraná condenou o casal a 8 anos e 4 meses de prisão por lavagem de dinheiro.


12/05/2017

STF divulga vídeos das delações de João Santana e Mônica Moura



FOLHA DE SÃO PAULO


O STF (Supremo Tribunal Federal) publicou, nesta sexta-feira (12), os vídeos dos depoimentos do acordo de delação premiada de João Santana, marqueteiro da campanha de 2014 da chapa Dilma-Temer, e sua mulher, Mônica Moura, para a Operação Lava Jato.

As colaborações gravadas fazem parte do termo fechado entre os dois com o Ministério Público Federal, homologado pela Justiça no início de abril. Moura e Santana foram presos em fevereiro de 2016, na 23ª fase da investigação, suspeitos de receber da Odebrecht e do lobista Zwi Skornicki dinheiro desviado da Petrobras.

Nas delações, os dois delataram envolvimento em campanha de políticos com prerrogativa de foro privilegiado, além dos ex-presidentes Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff, de quem foram responsáveis pelas campanhas eleitorais em 2006, 2010 e 2014. Como parte do acordo fechado, os marqueteiros também terão que pagar R$ 80 milhões.

As defesas dos dois petistas negam as acusações.

Confira os vídeos a seguir na íntegra aqui!

12/05/2017

quinta-feira, 11 de maio de 2017

Decisões dependiam da 'palavra final do chefe', diz Santana sobre campanha de Lula


Marqueteiro firmou acordo de delação premiada com o Ministério Público Federal


Por André de Souza
O Globo

Decisões dependiam da 'palavra final do chefe', diz o marqueteiro João Santana sobre campanha de Lula, em delação premiada
Geraldo Bubniak / Agência O Globo 01/08/2016

BRASÍLIA — O marqueteiro João Santana disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia de todos os detalhes, inclusive pagamentos por meio de caixa dois, em sua campanha vitoriosa à reeleição, em 2006. Segundo ele, o ex-ministro Antonio Palocci lhe dizia que as decisões definitivas relativas aos pagamentos dependiam da "palavra final do chefe". O delator contou ainda que a ex-presidente Dilma Rousseff também sabia dos pagamentos por caixa dois. O marqueteiro fez as campanhas dela em 2010 e 2014.

"João Santana relata conversas nas quais Lula e Dilma demonstraram possuir conhecimento sobre o custeio de suas campanhas mediante a utilização de recursos de caixa 2", diz trecho do resumo prestado pelo delator em 7 de março deste ano.

Nesta quinta-feira, o ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo das delações de Santana, de sua mulher, a empresária Mônica Moura, e André Santana, que trabalhava para o casal.

"Apesar de nunca ter participado de discussões finais de preços ou contratos - tarefa de Mônica Moura - João Santana participou dos encaminhamentos iniciais e decisivos com Antonio Palocci. Nestes encontros ficou claro que Lula sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis, porque Antonio Palocci, então Ministro da Fazenda, sempre alegava que as decisões definitivas dependiam da 'palavra final do chefe'", diz trecho de um dos anexos da delação.

Em depoimento prestado em 6 de março, Santana foi indagado sobre quais questões que, segundo Palocci, dependeriam do respaldo do chefe. João Santana respondeu que eram questões referentes aos valores totais de seus honorários nas campanhas.

No mesmo dia, Santana contou que, em 2006, pediu a Palocci que todos os pagamentos fossem realizados de forma oficial, a fim de evitar os erros da campanha de 2002 e do mensalão. Alguns meses depois, porém, Palocci disse que estava com dificuldades de pagar pela via oficial e avisou que seria necessário pagar por meio do caixa dois da Odebrecht, via contas no exterior.

ALERTA VERMELHO

Em determinado momento, diante dos atrasos nos pagamentos, Santana contou que tratou do assunto com Lula. O ex-presidente teria se mostrado surpreso.

"Durante a campanha presidencial de 2006, João Santana mencionou pessoalmente para Lula, em duas oportunidades, que não estava recebendo os pagamentos. Disse para Lula que se não houvesse pagamentos, precisaria paralisar seus serviços na campanha. Lula se mostrou surpreso", diz trecho de resumo de depoimento prestado em 6 de março.

Segundo Santana, em momentos críticos de atraso nos pagamentos, Mônica Moura dava o "alerta vermelho" a Lula ou Dilma, ameaçando interromper os trabalhos. Com Lula, isso foi feito duas vezes: na reta final do primeiro turno de 2006, e entre o primeiro e o segundo turno daquela campanha. Santana relata que possuía "convívio íntimo inegável" com Lula e Dilma, assim tem plenas condições de expor detalhes de caixa dois nas campanhas dos petistas.


11/05/2017


Charge



Sponholz

Palocci intermediou caixa dois para campanha de Lula


Informação consta da delação premiada do casal de marqueteiros petistas, cujo sigilo foi levantado hoje pelo STF

Por Renato Onofre
e Eduardo Gonçalves
Veja.com
O marqueteiro João Santana e sua mulher, Mônica Moura, deixam a sede da Superintendência da Polícia Federal, em Curitiba
(Paulo Lisboa/Folhapress)



No acordo de colaboração premiada, cujo sigilo foi levantado nesta quinta-feira pelo Supremo Tribunal Federal, o casal de marqueteiros João Santana e Mônica Moura relata que o ex-ministro Fazenda Antônio Palocci intermediou os pagamentos por fora para a campanha à reeleição do ex-presidente Lula, em 2006, logo após vir à tona o escândalo do mensalão. De acordo com o relato do marqueteiro petista, Lula teria incumbido a Palocci que intermediasse a contratação dele para a campanha de reeleição.


À Procuradoria-geral da República, Mônica Moura afirmou que a primeira negociação com Palocci ocorreu em seu escritório particular em São Paulo quando ele já não era mais ministro — ele foi titular da Fazenda de 2003 a 2006. Na ocasião, ele teria dito a ela que parte do dinheiro teria que ser pago de maneira não oficial em espécie e a outra parte pela Odebrecht. Para isso, orientou-a a procurar o executivo Pedro Novis, que à época comandava a empreiteira.

Para Mônica, Lula sabia do montante não contabilizado destinado à sua campanha, porque Palocci falou por diversas vezes que teria que consultá-lo e ter a sua autorização devido ao valor alto. A campanha, segundo a delatora, custou 24 milhões de reais — 13,7 milhões de reais entrou via caixa 1 e cerca de 10 milhões via caixa dois.

O casal prosseguiu, contando que o combinado era que metade dos 10 milhões seriam pagos por Palocci em dinheiro vivo com o objetivo de criar empecilhos para o rastreamento dos valores. E a outra metade seria quitada pela Odebrecht em transferência para contas no exterior.

Mônica Moura detalha que, entre 2006 e 2007, viajou constantemente a São Paulo para recolher o dinheiro em espécie, que geralmente era entregue dentro de caixas de roupas e sapatos por Juscelino Dourado, ex-chefe de gabinete de Palocci. O ponto de encontro usual era a loja de chá Tee Gschwendner do shopping Iguatemi, na Zona de Sul de São Paulo.

Os outros 5 milhões de reais foram transferidos pela Odebrecht para a conta Shellbill, sediada na Suíça, entre 2006 e 2007.

Para ter o acordo de delação premiada fechado, o casal entregou três documentos à procuradoria — os contratos dos repasses oficiais, o extrato da conta na Suíça e uma agenda de Mônica na qual constava as reuniões com o ex-assessor de Palocci, as viagens para São Paulo e jantares com Palocci.

 11 maio 2017


‘Um tanto triste’, diz procurador da Lava Jato sobre Lula responsabilizar Marisa



Carlos Fernando Lima, veterano da força-tarefa do Ministério Público Federal, lembra que ex-primeira dama 'não está aí para se defender'

Daniel Weterman,
enviado especial a Curitiba
Estadão
Carlos Fernando dos Santos Lima.
FOTO RODOLFO BUHRER/ESTADÃO

O procurador Carlos Fernando dos Santos Lima, um dos principais nomes da força-tarefa da Operação Lava Jato no Ministério Público Federal (MPF), afirmou que o depoimento do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ao juiz Sérgio Moro, ontem em Curitiba (PR), não teve nenhuma consistência e é positivo para a acusação.

Em entrevista ao Broadcast Político no dia seguinte ao encontro com Lula no prédio da Justiça Federal, o procurador, que estava na sala do interrogatório na tarde de ontem, lamentou o fato de o petista ter imputado à ex-primeira-dama Marisa Letícia, morta em fevereiro, a intenção de adquirir o triplex no Guarujá, objeto da ação penal, como investimento.

“No geral, eu não vi nenhuma consistência nas alegações (de Lula). Infelizmente, as afirmações em relação à Dona Marisa a responsabilizando por tudo é um tanto triste de se ver feitas nesse momento até porque, como o ex-presidente disse, ela não está aí para se defender”, disse.

O procurador avaliou que o depoimento “transcorreu como tinha que transcorrer” e criticou os advogados do petista por ter criticado o MPF e acusado os procuradores e o juiz Sérgio Moro de terem feito perguntas que não constam na denúncia. “Talvez a defesa devesse olhar os autos com mais cuidado”, disse.

Para Lima, a afirmação dada pelos advogados de Lula em coletiva de imprensa após a audiência sobre a atuação de Moro e do MPF no interrogatório “talvez sirva para confundir” e é “inadmissível”. “Para nós, ela é absolutamente sem sentido e capciosa”, completou.

Comentando o embate travado entre Lula e Moro quando o juiz questionou o réu sobre afirmações feitas na semana passada, quando o petista disse que prenderia quem hoje “inventa mentiras contra ele”, o procurador minimizou os efeitos das declarações de Lula. “Presidente não manda prender. Então isso era uma coisa que só podia ser uma forma de se expressar um pouco mais eloquente”, disse.

O procurador afirmou que, obrigatoriamente, o MPF vai pedir mais diligências antes das alegações finais no processo. Lima disse que os procuradores estão definindo neste momento o conteúdo dos próximos pedidos à Justiça.

11 de maio de 2015

quarta-feira, 10 de maio de 2017

Viva alma inocenta



Lula, como sempre, caprichou na pose de vítima das elites, o homem providencial a escandir a prosa dos injustiçados.


É o que lhe resta



Por Eliziário Goulart Rocha


Depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sérgio Moro, em Curitiba
(//Reprodução)


O primeiro encontro entre Luís Inácio Lula da Silva e o juiz Sérgio Moro foi o que se esperava que fosse: um exercício de paciência do condutor da Lava Jato e um exercício da cara de pau do ex-presidente. Nada de novo, o enrolador vocacional apenas reafirmou que não sabia o que todo brasileiro que quer saber sempre soube que ele sabia. O palavrório de palanque proferido durante o interrogatório de cinco horas foi capaz de convencer somente forasteiros de longínquas paragens, visitantes alienígenas e nativos alienados. A viva alma mais honesta do Brasil em todos os tempos declarou-se inocenta, o que vale tanto quanto uma cédula de três reais.


Enquanto ainda acalenta o sonho de se livrar das grades e voltar ao poder para mandar prender juízes e jornalistas que não integram o time dos amestrados, Lula, como sempre, caprichou na pose de vítima das elites, o homem providencial a escandir a prosa dos injustiçados. É o que lhe resta. É o que seguirá fazendo. Até quem luta bravamente para seguir não sabendo o que sabe sobre o homem que nada sabe tem seus limites. A claque alugada míngua a olhos vistos.

Réu em outras quatro ações penais, Lula nem terá de se preparar para futuros depoimentos, basta repetir a estratégia da negação eterna, enquanto a trupe de advogados faz de tudo para postergar e, quando não dá, tentar tirar o juiz do sério e causar alguma sensação nas ruas. Imagina que, quanto mais a situação se arrastar, melhor. Talvez. Mas talvez a redução gradual dos que ainda fingem não saber o que sabem sobre o homem que nada sabe venha a se converter em tremendo gol contra. Nada, é claro, que revogue a platitude da viva alma inocenta.


10 de maio de 2015



O circo armado por Lula tem um culpado no picadeiro


O ex-presidente que, ao contrário de Vargas, saiu da história para cair na vida, não tem álibis nem atenuantes para os muitos crimes que cometeu



Por Augusto Nunes
Veja.com

Lula é recepcionado por militantes e apoiadores nos arredores da Justiça Federal em Curitiba antes de depoimento ao juiz Sergio Moro - 10/05/2017
(Vagner Rosário/VEJA.com)


É compreensível que Lula e sua trupe de bacharéis tenham feito o diabo para adiar até o fim dos tempos o primeiro encontro com Sérgio Moro. E foi tão previsível quanto a mudança das estações do ano a tentativa do bando, tão logo se consumou o fiasco da tentativa de fuga, de transformar Curitiba em picadeiro, tribunal em palanque e depoimento de réu culpado em discurseira de perseguido político de botequim.


O ex-presidente que, ao contrário de Getúlio Vargas, saiu da história para cair na vida, não tem álibis nem atenuantes para os muitos crimes que cometeu. Sobretudo por isso, o que está em curso nesta quarta-feira não pode ser reduzido a um duelo entre um defensor da Justiça e um fora da lei. O que se vê é o confronto entre dois brasis. De um lado, está escancarado o Brasil do passado, uma velharia agonizante que até agora só condenava os lulas à perpétua impunidade. Do outro lado se vislumbra o Brasil do futuro, que está nascendo graças à Lava Jato. Neste país em trabalhos de parto, todos são iguais perante a lei.

O circo armado por Lula para escapar de punições judiciais merecidíssimas transformou em certeza a suspeita que vinha crescendo entre jornalistas do mundo inteiro: o ex-presidente que se fantasia de pai dos pobres é o chefe do maior esquema corrupto da história. O depoimento de hoje vai aguçar, entre os que conhecem as duas ofensivas contra a impunidade institucionalizada, a sensação de que a Lava Jato tem tudo para ir muito além das fronteiras expandidas pela Operação Mãos Limpas.

A imprensa italiana, por exemplo, tem tratado como reprise de quinta categoria as reações desesperadas, patéticas ou apenas ridículas dos políticos envolvidos até o pescoço nas bandalheiras. É coisa de cobra mal matada. É medo de cadeia, hoje epidêmico entre a turma do foro privilegiado.

O que nenhum jornalista de qualquer país entende é a proteção oferecida por ministros do Supremo Tribunal Federal a bandidos de carteirinha. Por que, em vez de estender-lhes a mão, o STF não ajuda a manter algemados os pulsos dos ladrões irrecuperáveis? Essa é a pergunta que mais tenho ouvido na Itália. Essa é certamente a pergunta que se fazem neste momento milhões de brasileiros decentes.


 10 maio 2017


As provas contra Lula: 3 mil evidências, 13 casos e R$ 80 milhões em propina


As investigações apontam pagamentos em dinheiro, depósitos bancários e imóveis – para o ex-presidente e para parentes

DIEGO ESCOSTEGUY
Época

AS PROVAS CONTRA LULA
ÉPOCA analisou cerca de 3 mil evidências contra o ex-presidente. Elas indicam que o petista recebeu mais de R$ 80 milhões do cartel do petrolão, em dinheiro, depósitos bancários e imóveis – para si e para parentes (Foto: Wilton Junior/Estadão Conteúdo/AE)


No fim da tarde de uma segunda-feira recente, o ex-­presidente Luiz Inácio Lula da Silva subiu ao palco de um evento organizado pelo PT em Brasília. Empunhou sua melhor arma: o microfone. Aos profissionais da imprensa que cobriam o evento, um seminário para discutir os rumos da economia brasileira, o ex-presidente dispensou uma ironia: “Essa imprensa tão democrática, que me trata maravilhosamente bem e, por isso, eu os amo, de coração”. Lula estava a fim de debochar. Não demorou para começar a troça sobre os cinco processos criminais a que responde na Justiça. Disse que há três anos ouve acusações sem o direito de se defender, como se não tivesse advogados. “Eu acho que está chegando a hora de parar com o falatório e mostrar prova. Eu acho que está chegando a hora em que a prova tem de aparecer em cima do papel”, disse, alterado. Lula repetia, mais uma vez, sua tática diante dos casos em que é réu: sempre negar e nunca se explicar. E prosseguiu: “Eu quero que eles mostrem R$ 1 numa conta minha fora desse país ou indevida. Não precisa falar que me deu 100 milhão, 500 milhão, 800 milhão... Prove um. Não estou pedindo dois. Um desvio de conduta quando eu era presidente ou depois da Presidência”. Encerrou o discurso aplaudido, aos gritos de “Brasil urgente, Lula presidente!”.


A alma mais honesta do Brasil, como o ex-presidente já se definiu, sem vestígio de fina ironia, talvez precise consultar seus advogados – ou seus processos. Há, sim, provas abundantes contra Lula, espalhadas em investigações que correm em Brasília e em Curitiba. Estão em processos no Supremo Tribunal Federal, em duas Varas da Justiça Federal em Brasília e na 13ª Vara Federal em Curitiba, aos cuidados do juiz Sergio Moro. Envolvem uma ampla e formidável gama de crimes: corrupção, lavagem de dinheiro, organização criminosa, crime contra a Administração Pública, fraude em licitações, cartel, tráfico de influência e obstrução da Justiça. O Ministério Público Federal, a Polícia Federal, além de órgãos como a Receita e o Tribunal de Contas da União, com a ajuda prestimosa de investigadores suíços e americanos, produziram, desde o começo da Lava Jato, terabytes de evidências que implicam direta e indiretamente Lula no cometimento de crimes graves. Não é fortuito que, mesmo antes da delação da Odebrecht, Lula já fosse réu em cinco processos – três em Brasília e dois em Curitiba. Também não é fortuito que os procuradores da força-tarefa da Lava Jato, após anos de investigação, acusem Lula de ser o “comandante máximo” da propinocracia que definiu os mandatos presidenciais do petista, desfalcando os cofres públicos em bilhões de reais e arruinando estatais, em especial a Petrobras.

A estratégia de Lula é clara e simples. Transformar processos jurídicos em campanhas políticas – e transformar procuradores, policiais e juízes em atores políticos desejosos de abater o maior líder popular do país. Lula não discute as provas, os fatos ou as questões jurídicas dos crimes que lhe são imputados. Discute narrativas e movimentos políticos. Nesta quarta-feira, dia 10, quando estiver diante de Moro pela primeira vez, depondo no processo em que é réu por corrupção e lavagem de dinheiro, acusado de receber propina da OAS por meio do tríplex em Guarujá, Lula tentará converter um ato processual (um depoimento) num ato político (um comício).

Se não conseguir desviar a atenção, saindo pela tangente política, Lula terá imensa dificuldade para lidar com as provas – sim, com elas. Nesses processos e em algumas investigações ainda iniciais, todos robustecidos pela recente delação da Odebrecht, existem, por baixo, cerca de 3 mil evidências contra Lula. Elas foram analisadas por ÉPOCA. Algumas provas são fracas – palavrórios, diria Lula. Mas a vasta maioria corrobora ou comprova os crimes imputados ao petista pelos procuradores. Dito de outro modo: existe “prova em cima de papel” à beça. Há, como o leitor pode imaginar, toda sorte de evidência: extratos bancários, documentos fiscais, comprovantes de pagamento no Brasil e no exterior, contratos fajutos, notas fiscais frias, e-mails, trocas de mensagens, planilhas, vídeos, fotos, registros de encontros clandestinos, depoimentos incriminadores da maioria dos empresários que pagavam Lula. E isso até o momento. As investigações prosseguem em variadas direções. Aguardem-se, apesar de alguns percalços, delações de homens próximos a Lula, como Antonio Palocci e Léo Pinheiro, da OAS. Renato Duque, ex-executivo da Petrobras, deu um depoimento na sexta-­feira, dia 5, em que afirma que Lula demonstrava conhecer profundamente os esquemas do petrolão. Existem outras colaborações decisivas em estágio inicial de negociação. Envolvem crimes no BNDES, na Sete Brasil e nos fundos de pensão. Haja prova em cima de papel.

Trata-se até agora de um conjunto probatório, como gostam de dizer os investigadores, para lá de formidável. Individualmente e isoladas, as provas podem – apenas – impressionar. Coletivamente, organizadas em função do que pretendem provar, são destruidoras; em alguns casos, aparentemente irrefutáveis. Nesses, podem ser suficientes para afastar qualquer dúvida razoável e, portanto, convencer juízes a condenar Lula por crimes cometidos, sempre se respeitando o direito ao contraditório e à ampla defesa – e ao direito a recorrer de possíveis condenações, como qualquer brasileiro. Não é possível saber o desfecho de nenhum desses processos.

Ainda assim, os milhares de fatos presentes neles, na forma de provas judiciais, revelam um Lula bem diferente daquele que encanta ao microfone. As provas jogam nova luz sobre a trajetória de Lula desde que assumiu o Planalto. Assoma um político que conheceu três momentos distintos. O primeiro momento deu-se como um presidente da República que decidiu testar os limites do fisiologismo e clientelismo da política brasileira. A partir de 2003, e com mais força em 2004, Lula começou a agir para beneficiar, em atos sucessivos, empreiteiras e grandes grupos empresariais, por meio de homens de confiança em postos-­chave no governo. Era, naquele momento, um político cujas campanhas e base aliada eram financiadas, comprovadamente, com dinheiro de propina desses mesmos empresários – entre outros. Era um político que caíra nas graças do cartel de empreiteiras que rapinava a Petrobras e comprava leis no Congresso.

O segundo momento sobreveio entre 2009 e 2010, conforme o tempo dele no poder se aproximava do fim – e, com Dilma Rousseff como sucessora, todos, em tese, continuariam a prosperar. Nesse ponto, assomou um político que, pelo que as provas e depoimentos indicam, passaria a viver às custas das propinas geradas pelo cartel que ajudara a criar. Entre 2009 e 2010, o cartel, em especial Odebrecht e OAS, passou a se movimentar para assegurar que Lula e sua família tivessem uma vida confortável. Faziam isso porque, como já explicaram, deviam propina ao ex-presidente e, não menos importante, pela expectativa de que ele usasse sua influência junto a Dilma Rousseff para manter o dinheiro do governo entrando nas empresas – como fez, de fato, em algumas ocasiões.

Nesse período de final de mandato, houve uma série de operações fraudulentas e clandestinas, comandadas pelo cartel, que resultaram na multiplicação do patrimônio de Lula. Usaram-se laranjas e intrincadas transações financeiras para esconder a origem do dinheiro dos novos bens do ex-presidente. Mas, hoje, esses estratagemas foram descobertos, com fartura de provas, pelos investigadores. Da Odebrecht, Lula ganhou o prédio para abrigar seu instituto, um apartamento em São Bernardo do Campo, onde mora até hoje, e a reforma de um sítio em Atibaia que, todas as provas demonstram, pertence ao petista, e não é somente “frequentado” por ele. Da OAS, ganhou o famoso tríplex em Guarujá, assim como as reformas pedidas por ele – o apartamento só ficou pronto após a Lava Jato, de modo que não houve tempo para que Lula e família se mudassem para lá. A mesma OAS passou a bancar o armazenamento do acervo presidencial do petista. Todas essas operações – todas – foram feitas clandestinamente, para ocultar o vínculo entre Lula e as empreiteiras. Todas foram debitadas do caixa de propinas que Lula mantinha junto às empreiteiras.

Além de dar moradia a Lula, as empreiteiras passaram a bancar o ex-presidente e sua família, além de pessoas próximas. Havia, segundo as provas disponíveis, pagamentos de propina da Odebrecht a um dos filhos do presidente, a um irmão dele, a um sobrinho e a Paulo Okamotto, presidente do Instituto Lula e um dos assessores mais próximos de Lula. Havia pagamentos em dinheiro vivo e, em alguns, casos, por meio de empresas – como a de um filho e a de um sobrinho. Havia, ainda, os pagamentos à empresa de palestras de Lula e ao próprio Instituto Lula. Na maioria dos casos, segundo as evidências, não se tratava de doação ou contratação para palestras, embora essas tenham acontecido em alguns casos. Trata-se de propina disfarçada de doação. Até que a Lava Jato mudasse tudo, Lula e seus familiares receberam, de acordo com as evidências disponíveis e se obedecendo a um cálculo conservador, cerca de R$ 82 milhões em vantagens indevidas – bens ou pagamentos ilegais.

O terceiro momento de Lula, aquele que as provas revelam com mais nitidez, precipita-se em março de 2014, quando irrompe a Lava Jato. O petista, que sabia o que fizera e intuía o potencial da operação, preocupou-se. É esse Lula preocupado – quiçá desesperado – que aparece nos processos de obstrução da Justiça. Que, segundo depoimentos e documentos, tenta destruir provas. Tenta, em verdade, destruir a Lava Jato, para por ela não ser destruído. Há semanas, dias antes do discurso de Lula em Brasília, a voz rouca de Léo Pinheiro sacudira Curitiba. Diante do juiz Sergio Moro, Léo Pinheiro expunha segredos guardados por anos. “Eu tive um encontro com o presidente, em junho... bom, isso tem anotado na minha agenda, foram vários encontros.” Era 20 de abril e Léo falava de um encontro mantido há quase três anos, em maio de 2014, quando a Lava Jato começava a preocupar. “O presidente, textualmente, me fez a seguinte pergunta: ‘Léo’, e eu notei até que ele estava um pouco irritado, ‘você fez algum pagamento a João Vaccari no exterior?’. Eu disse: ‘Não, presidente, nunca fiz nenhum pagamento dessas contas que nós temos com Vaccari no exterior’. ‘Como é que você está procedendo os pagamentos para o PT?’. ‘Através do João Vaccari. Estou pagando, estamos fazendo os pagamentos através de orientação do Vaccari, caixa dois e doações diversas que nós fizemos a diretórios e tal’. ‘Você tem algum registro de algum encontro, de conta, de alguma coisa feita com o João Vaccari com você? Se tiver, destrua. Ponto. Acho que quanto a isso não tem dúvida’.”

Lula, como Renato Duque confirmou em depoimento a Moro na sexta-feira, estava se mexendo para descobrir quanto estava sob risco. No depoimento, Duque, que fora indicado pelo PT e pelo próprio Lula à Diretoria de Serviços da Petrobras, destruiu o antigo chefe. Disse, como Léo Pinheiro, que Lula “tinha o pleno conhecimento de tudo, tinha o comando”. Referia-se ao petrolão. Nas últimas semanas, Duque e o ex-ministro Palocci disputavam quem fecharia antes um acordo de delação premiada, em busca de pena menor. Ambos pretendiam entregar informações sobre Lula, pois suas defesas detectaram que a Lava Jato queria mais elementos para cravar que o então presidente não só sabia da existência, como comandava o esquema de corrupção na Petrobras. Palocci recuou duas ou três casas em sua negociação, após a libertação do ex-ministro José Dirceu. Duque aproveitou para avançar. Disse que encontrou Lula pessoalmente três vezes. “Nessas três vezes ficou claro, muito claro para mim, que ele tinha pleno conhecimento de tudo, tinha o comando”, disse Duque. No último encontro, em 2014, segundo Duque, Lula perguntou se ele tinha recebido dinheiro na Suíça da holandesa SBM, fornecedora da Petrobras. Duque diz que negou. Lula, então, perguntou: “Olha, e das sondas? Tem alguma coisa?”. Lula se referia a negócios da Sete Brasil, a estatal criada para turbinar o petrolão. Duque afirma que mentiu a Lula ao dizer que não tinha. Ouviu do então presidente, de saída do cargo: “Olha, presta atenção no que vou te dizer. Se tiver alguma coisa, não pode ter, entendeu? Não pode ter nada no teu nome, entendeu?”.

No ano seguinte, Lula prosseguiu em sua tentativa desesperada de sabotar a Lava Jato. Em maio de 2015, o então senador Delcídio do Amaral foi à sede do Instituto Lula, em São Paulo. Àquela altura, líder do governo no Senado, Delcídio era um interlocutor frequente de Lula sobre a situação precária do governo Dilma no Congresso, mas, principalmente, sobre o avanço da Lava Jato em direção ao coração petista. Na conversa, Lula se disse preocupado com a possibilidade de seu amigo, o pecuarista José Carlos Bumlai, ser engolfado pela operação. Delcídio percebeu que fora convocado para discutir o assunto. Avisou que Bumlai poderia ser preso devido às delações do lobista Fernando Baiano e do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró. Delcídio também tinha medo disso, pois recebera propina junto com Cerveró. Então, contou a Lula que, quatro meses antes, recebera um pedido de ajuda financeira de Bernardo, filho de Cerveró. Delcídio afirma que Lula determinou que era preciso ajudar Bumlai.

Assim, Delcídio passou a trabalhar. Dias depois, encontrou-se com Maurício, filho de Bumlai, e “transmitiu o recado e as preocupações de Lula”. Maurício topou a empreitada: era preciso bancar as despesas com advogado e sustentar a família para “segurar” a delação de Cerveró e, assim, tentar salvar o pai de Maurício. Nos meses seguintes, Maurício Bumlai entregou R$ 250 mil em espécie a um assessor de Delcídio, em encontros em São Paulo. O dinheiro era levado depois à família Cerveró. Quando, em setembro, ÉPOCA publicou que Cerveró fechara um acordo de delação, Maurício interrompeu os pagamentos. Em novembro de 2015, Delcídio foi preso, por ordem do Supremo, por tentar obstruir a Lava Jato.

Por meio de nota, o Instituto Lula afirma que “não há nenhum” ato ilegal nas delações dos executivos da Odebrecht e que as delações não são provas, mas “informações prestadas por réus confessos que apenas podem dar origem a uma investigação. Por enquanto, o que existe são depoimentos feitos aos procuradores, a acusação, divulgados de forma espetacular”. Sobre a “conta Amigo”, a nota afirma ser “a mais absurda de todas as ilações no depoimento de Marcelo Odebrecht”. “Se for verdadeiro o depoimento, Marcelo Odebrecht teria feito, na verdade, um aprovisionamento em sua contabilidade para eventuais e futuras transferências ou pagamentos. A ser verdadeira, trata-se, como está claro, de uma decisão interna da empresa. Uma ‘conta’ meramente virtual, que nunca se materializou em benefícios diretos ou indiretos para Lula.” Sobre a ajuda da Odebrecht a Luís Cláudio, um dos filhos de Lula, o Instituto Lula afirma que “mesmo considerando real o relato de delatores que precisam de provas, Emílio Odebrecht e Alexandrino Alencar relatam que a ajuda para o filho de Lula iniciar um campeonato de futebol americano foi voluntária e após diversas conversas e análises do projeto”. Sobre a mesada de R$ 5 mil que a Odebrecht pagou por anos a Frei Chico, irmão do ex-presidente, a nota afirma que “não só Lula não pediu, como não foi dito que Lula teria pedido”. Afirma que o principal assessor de Lula, Paulo Okamotto, “negou ter recebido qualquer ‘mesada’ de Alexandrino Alencar”. O Instituto diz que a Odebrecht não inventou Lula como palestrante e que “as palestras eram lícitas e legítimas”.


STJ nega pedidos de Lula para gravar e adiar depoimento a Moro


Um terceiro pedido, para tirar Moro do processo, ainda não foi analisado


Por André de Souza
O Globo

BRASÍLIA - O ministro Felix Fischer, do Superior Tribunal de Justiça (STJ), negou dois pedidos da defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva relacionados ao processo em que é réu em Curitiba e no qual vai depor na tarde desta quarta-feira. Os advogados de Lula tinham solicitado o adiamento do depoimento e o direito de gravá-lo com uma equipe independente. A defesa também queria que o juiz federal Sérgio Moro fosse considerado suspeito para julgar a ação penal, mas esse terceiro pedido ainda não foi analisado pelo ministro Felix Fischer.

Os advogados recorreram na noite de ontem, contra decisões do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que contrariam pedidos feitos anteriormente pela defesa. No depoimento que vai prestar nesta quarta, Lula será questionado sobre a aquisição de um apartamento triplex no Guarujá, no litoral de São Paulo. As íntegras das decisões do STJ não foram divulgadas ainda.

Em um dos pedidos negados, os advogados queriam que fosse concedida uma medida liminar para suspender a tramitação da ação penal em até 90 dias, adiando, portanto, o depoimento. No pedido, os advogados alegaram que não teriam tempo de preparar o cliente por causa do volume de documentos. A defesa estimava que cerca de 100 mil páginas foram juntadas ao processo entre 28 de abril e 2 de maio.

Segundo o Ministério Público Federal (MPF), Lula foi beneficiado por uma melhora do apartamento, que passou a ser o tríplex, e pelas reformas feitas no imóvel, assim como a compra de móveis sob medida. O tríplex está em nome da empreiteira OAS, investigada na Lava-Jato. O ex-presidente nega ser dono da unidade.

Em outro pedido, dessa vez apresentado pela Defensoria Pública, o ministro Raul Araújo, também do STJ, manteve a decisão da Justiça de Curitiba que proibiu a montagem de acampamentos nas ruas e praças da capital paranaense nesta quarta-feira. Ele também manteve o bloqueio de áreas específicas da cidade para pedestres e veículos, nas imediações da Justiça Federal.

10/05/2017

terça-feira, 9 de maio de 2017

Defesa recorre ao STJ para que Sérgio Moro não julgue Lula



A 21 horas do depoimento do ex-presidente, advogados ainda tentam adiamento


Por Rayanderson Guerra
/ Gabriela Viana
O Globo


Former Brazilian president Luiz Inacio Lula da Silva reacts during a seminar "Strategies for the Brazilian Economy", in Brasilia, Brazil April 24, 2017.
REUTERS
/Ueslei Marcelino - UESLEI MARCELINO / REUTERS


RIO — Os advogados do ex-presidente Lula entraram, no intervalo de 59 minutos, com três pedidos de habeas corpus, no início da noite desta terça-feira, no Superior Tribunal de Justiça (STJ), recorrendo de decisões do Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4) que contrariam pedidos feitos anteriormente pela defesa. Os pedidos foram feitos às 17h40, 18h04 e 18h39. O primeiro (HC nº 398570) pede que o STJ considere o juiz federal Sérgio Moro suspeito para julgar a ação penal. No segundo (HC nº 398577), a defesa argumenta pelo direito de gravar todo o depoimento de Lula com uma equipe independente. E no terceiro (HC nº 398589), além de pedir o adiamento do depoimento no processo, os advogados pedem "pleno acesso aos documentos" e, após isso, 90 dias para a análise. Todos esses pedidos foram negados pelo TRF-4. Os três autos foram remetidos para a 5ª turma do STJ e serão relatados pelo ministro Félix Fisher.


A expectativa A defesa do ex-presidente havia pedido que fosse concedida uma medida liminar para suspender a tramitação da Ação Penal em até 90 dias. No pedido, os advogados alegaram que não teriam tempo de preparar o cliente por causa do volume de documentos. A defesa estimava que cerca de 100 mil páginas foram juntadas ao processo entre 28 de abril e 2 de maio. O pedido foi negado pelo tribunal, que alegou 'falta de previsão legal'.


Pedido de Habeas Corpus para a suspensão do processo
Reprodução

"No tocante ao prazo de 90 (noventa) dias para o exame do material apresentado pela Petrobras, não merece acolhimento o pedido por falta de previsão legal. A documentação juntada em meio digital é inédita para todas os atores processuais (defesa, acusação e juízo). Não se desconsidera que a existência de milhares de páginas para exame demanda longo tempo, mas foge do razoável a defesa pretender o sobrestamento da ação penal até a aferição da integralidade da documentação por ela própria solicitada, quando a inicial acusatória está suficientemente instruída".


Habeas corpus nº 398570 no STJ
Reprodução

Sobre o pedido da defesa para o adiamento do depoimento do ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, que será realizado nesta quarta-feira, o TRF4 alegou que mudanças foram feitas para que Lula pudesse comparecer e que, por isso, não há razão para atrasar os esclarecimentos.

"Medidas excepcionais foram tomadas para evitar tumulto e garantir a segurança nas proximidades do fórum federal; prazos foram suspensos, o acesso ao prédio-sede da Subseção Judiciária será restrito a pessoas previamente identificadas e o trânsito nas imediações será afetado, medidas que vem mobilizando vários órgãos da capital paranaense. Assim, ausente flagrante ilegalidade e possibilitada pela própria autoridade coatora a apresentação de documentação até a fase do art. 402 do CPP e, ainda, a eventual repetição de atos processuais já realizados, não há razão para o deferimento de suspensão do interrogatório do paciente e sobrestamento da ação penal".


Defesa de Lula entra com habeas corpus - Reprodução

O GLOBO entrou em contato com os quatro advogados do ex-presidente Lula: Roberto Teixeira, Valeska Teixeira, Alfredo Ermírio de Araújo Andrade e Kaíque Rodrigues de Almeida, que informou que apenas Cristiano Zanin iria se pronunciar sobre o caso. Até às 20h53, a defesa ainda não havia se pronunciado.

MORO MARCOU 15 AUDIÊNCIA POR DIA PARA OUVIR TESTEMUNHAS


Juiz Sérgio Moro
Estão marcadas 119 audiências de defesa apenas entre os dias 12 de junho e 12 de julho

André Coelho / Agência O Globo


O juiz Sergio Moro marcou até 15 audiências num único dia para acelerar as oitivas das 87 testemunhas de defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva no processo em que ele é acusado por ter recebido vantagens da Odebrecht - as compras de uma cobertura vizinha à da família, em São Bernardo do Campo, que está em nome de terceiros, e de um imóvel em Indianópolis, que seria destinado à sede do Instituto Lula mas que a entidade não usou. Moro chegou a considerar o número de testemunhas excessivo e determinar que Lula acompanhasse todas as audiências presencialmente, em Curitiba, mas os advogados do ex-presidente recorreram e derrubaram a decisão no Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF4).


Por enquanto, estão marcadas 119 audiências de defesa apenas entre os dias 12 de junho e 12 de julho. Além das testemunhas arroladas por Lula, a Justiça tem de ouvir também as arroladas pelos outros oito réus no processo, entre eles o ex-ministro Antonio Palocci e o empresário Marcelo Odebrecht.

ESQUEMA DE SEGURANÇA FOI MONTADO PARA DEPOIMENTO

Um forte esquema de segurança foi montado para esta quarta-feira em Curitiba. Helicópteros serão usados para reforço durante o depoimento do ex-presidente Lula ao juiz Sergio Moro. Desde a manhã desta terça-feira, a Secretaria da Segurança Pública do Paraná, em parceria com as forças policiais, adota medidas de fiscalização e controle do fluxo nas estradas e no entorno da capital paranaense. Além da patrulha com helicópteros, a Polícia Militar inicia o bloqueio no entorno do prédio da Justiça Federal a partir das 23 horas de hoje. Pessoas sem credencial não poderão acessar a área demarcada.

No final de semana, a Justiça do Paraná determinou que pedestres e veículos não autorizados estarão sujeitos à multa de R$ 100 mil se entrarem na área próxima ao prédio da Justiça Federal entre às 23h de segunda-feira e às 23h de quarta-feira (10). A montagem de estruturas e acampamentos será punida com multa diária de R$ 50 mil.




09/05/2017