Decisões dependiam da 'palavra final do chefe', diz o marqueteiro João Santana sobre campanha de Lula, em delação premiada
Geraldo Bubniak / Agência O Globo 01/08/2016
BRASÍLIA — O marqueteiro João Santana disse que o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva sabia de todos os detalhes, inclusive pagamentos por meio de caixa dois, em sua campanha vitoriosa à reeleição, em 2006. Segundo ele, o ex-ministro Antonio Palocci lhe dizia que as decisões definitivas relativas aos pagamentos dependiam da "palavra final do chefe". O delator contou ainda que a ex-presidente Dilma Rousseff também sabia dos pagamentos por caixa dois. O marqueteiro fez as campanhas dela em 2010 e 2014.
"João Santana relata conversas nas quais Lula e Dilma demonstraram possuir conhecimento sobre o custeio de suas campanhas mediante a utilização de recursos de caixa 2", diz trecho do resumo prestado pelo delator em 7 de março deste ano.
Nesta quinta-feira, o ministro Edson Fachin, relator dos processos da Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), levantou o sigilo das delações de Santana, de sua mulher, a empresária Mônica Moura, e André Santana, que trabalhava para o casal.
"Apesar de nunca ter participado de discussões finais de preços ou contratos - tarefa de Mônica Moura - João Santana participou dos encaminhamentos iniciais e decisivos com Antonio Palocci. Nestes encontros ficou claro que Lula sabia de todos os detalhes, de todos os pagamentos por fora recebidos pela Pólis, porque Antonio Palocci, então Ministro da Fazenda, sempre alegava que as decisões definitivas dependiam da 'palavra final do chefe'", diz trecho de um dos anexos da delação.
Em depoimento prestado em 6 de março, Santana foi indagado sobre quais questões que, segundo Palocci, dependeriam do respaldo do chefe. João Santana respondeu que eram questões referentes aos valores totais de seus honorários nas campanhas.
No mesmo dia, Santana contou que, em 2006, pediu a Palocci que todos os pagamentos fossem realizados de forma oficial, a fim de evitar os erros da campanha de 2002 e do mensalão. Alguns meses depois, porém, Palocci disse que estava com dificuldades de pagar pela via oficial e avisou que seria necessário pagar por meio do caixa dois da Odebrecht, via contas no exterior.
ALERTA VERMELHO
Em determinado momento, diante dos atrasos nos pagamentos, Santana contou que tratou do assunto com Lula. O ex-presidente teria se mostrado surpreso.
"Durante a campanha presidencial de 2006, João Santana mencionou pessoalmente para Lula, em duas oportunidades, que não estava recebendo os pagamentos. Disse para Lula que se não houvesse pagamentos, precisaria paralisar seus serviços na campanha. Lula se mostrou surpreso", diz trecho de resumo de depoimento prestado em 6 de março.
Segundo Santana, em momentos críticos de atraso nos pagamentos, Mônica Moura dava o "alerta vermelho" a Lula ou Dilma, ameaçando interromper os trabalhos. Com Lula, isso foi feito duas vezes: na reta final do primeiro turno de 2006, e entre o primeiro e o segundo turno daquela campanha. Santana relata que possuía "convívio íntimo inegável" com Lula e Dilma, assim tem plenas condições de expor detalhes de caixa dois nas campanhas dos petistas.
11/05/2017
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