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sexta-feira, 29 de março de 2013

O fantasma do plano Collor amedronta a Europa


Para combater a crise econômica, o governo do Chipre aprova o confisco do dinheiro de correntistas dos dois maiores bancos do país e faz lembrar o pesadelo que assombrou milhões de brasileiros

IstoÉ

Mariana Queiroz Barboza

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SOB A SOMBRA DA FALÊNCIA
Fernando Collor e manifestantes cipriotas contrários
ao plano de resgate: confiscos igualmente dolorosos

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Apesar de ser uma ilha de apenas 9,5 mil quilômetros quadrados (menos da metade de Sergipe, o menor Estado brasileiro) encravada no Mar Mediterrâneo, o Chipre provocou, nos últimos dias, uma onda de pânico na Europa. Com o temor de que a falência do sistema financeiro do país contaminasse a já debilitada economia do Velho Continente, o conjunto de forças chamado de “troika” (União Europeia, Banco Central Europeu e Fundo Monetário Internacional) aprovou um plano de resgate de 10 bilhões de euros para socorrer os cipriotas. O dinheiro, porém, só será liberado com uma condição: a reforma completa do sistema financeiro do Chipre.

O surpreendente é que o programa elaborado pelo governo cipriota – e que foi chancelado pela troika – prevê o confisco dos depósitos bancários. Se você pensou no famigerado Plano Collor, não se enganou.

O mesmo confisco que traz pesadelos para os brasileiros (e que deixou como saldo a pior recessão da história recente do Brasil) será adotado agora do outro lado do oceano. Pior ainda: teme-se que esse modelo seja replicado por outros países europeus.

Na semana passada, Jeroen Dijsselbloem, ministro das finanças da Holanda e presidente do Eurogrupo, declarou que o pacote cipriota pode servir de inspiração para futuros resgates realizados na Europa.

Diante da repercussão negativa, o ministro divulgou um desmentido, dizendo que o Chipre era “um caso específico”. Ele não evitou, porém, as quedas nas bolsas de valores e a desvalorização do euro frente ao dólar.

O pacote cipriota poderá confiscar integralmente o dinheiro de quem tem mais de 100 mil euros no Banco Popular, chamado de Laiki, e até 40% dos recursos dos correntistas do Banco do Chipre. Somados, os saldos representam 11,2 bilhões de euros.

Os depósitos de até 100 mil euros são segurados devido a um acordo entre os líderes da zona do euro, mas estiveram sob ameaça na primeira proposta enviada ao Parlamento.

O plano rejeitado, que previa taxar em 6,75% os pequenos e médios poupadores, causou indignação imediata na ilha e espalhou pânico em outros países. “O confisco transmite uma situação de desconfiança do sistema bancário”, diz André Biancareli, professor do Centro de Estudos de Conjuntura Política Econômica da Universidade Estadual de Campinas. “Isso pode ser a semente para uma tragédia econômica mais significativa.”


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NAS MÃOS DE PANICOS
O presidente do BC é o alvo preferido de protestos


Na opinião da chanceler alemã, Angela Merkel, que conduziu o acordo, os custos do resgate foram bem distribuídos. Para alguns analistas, a gritaria contra as medidas se deve ao fato de o Chipre ser um paraíso fiscal – principalmente para investidores russos –, com ativos que totalizam oito vezes o PIB da ilha.

O impacto do plano de resgate deve ser sentido por toda a população. Depois de manter as instituições fechadas por mais de 10 dias, o governo anunciou sua reabertura parcial com estrito controle do fluxo de capitais para evitar uma corrida aos bancos.

Os correntistas cipriotas não poderão, por exemplo, sacar mais de 300 euros por dia, e sofrerão limites para transações comerciais e uso do cartão de crédito no Exterior. As restrições, espera-se, serão temporárias.

Na quarta-feira 27, dia do anúncio, manifestantes se reuniram em frente ao Palácio Presidencial, na capital Nicósia, para protestar contra as medidas.

Por coincidência, o presidente do Banco Central, a quem os manifestantes se referem como “traidor”, chama-se Panicos Demetriades. Dadas as atuais circunstâncias, não poderia ser mais apropriado.

Na semana passada, ISTOÉ procurou os mentores do Plano Collor: Zélia Cardoso de Mello, Ibrahim Eris, Antônio Kandir e o próprio Fernando Collor. Nenhum deles quis comentar o confisco cipriota.


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Fotos: Petros Karadjias/AP Photo; Yannis Behrakis e Gregg Newton/REUTERS


29.Mar.13

Jornal espanhol ABC condena ostentação de Dilma em Roma – que é alvo de investigação no MPF



Por Jorge Serrão
Alerta Total


  A Presidenta Dilma Rousseff ficou PT da vida com uma reportagem publicada ontem pelo jornal espanhol ABC, com o título “De Kirchner a Rousseff, o desperdício dos Bolivarianos” (“De Kirchner a Rousseff: el derroche de los bolivarianos”).

O texto traz um relatório detalhando os estilos de vida opulentos de líderes latinoamericanos "que alegam ser socialistas e anti-imperialistas”, mas na vida pessoal ou em seus governos torram dinheiro como se fossem bilionários dignos de figurar na revistinha Forbes.

Dilma odiou ser comparada com a exibicionista e consumista argentina Cristina Kirchner.

Também detestou ser incluída entre os presidentes latinos que ostentam luxúria, vaidade e gastos sem limite em sua rotina pessoal – como é o caso de Evo Morales (Bolívia), Rafael Correa (Equador), Daniel Ortega (Nicarágua), e, principalmente, o cadáver ainda insepulto Hugo Chávez Frias (Venezuela).

A matéria do ABC expôs a distância entre o discurso demagógico socialista dos líderes do Foro de São Paulo e a a prática de vida que levam – digna do mais vaidoso e selvagem capitalista.

Dilma entrou na dança dos famosos ostentadores por causa dos gastos nada franciscanos de no mínimo R$ 325 mil na viagem a Roma para participar da missa de entronização do novo Papa Francisco.

O filme dela ficou queimado com a desastrosa atuação do Itamaraty que reservou nada menos que 52 quartos em um hotel de luxo e alugou 17 carros para três dias de estadia para os eventos do Vaticano.

O jornal ABC meteu o pau na Dilma: “Essa imagem não se encaixa com o seu compromisso com os mais vulneráveis, como ele disse em sua posse, e sua aspiração de tornar o Brasil um país menos desigual”.

A farra romana da turma de Dilma já é objeto de um inquérito Civil aberto na terça-feira pelo Ministério Público Federal.

A Procuradoria da República quer apurar as "eventuais irregularidades, em especial aos gastos e ao número de integrantes da comitiva".
Evidentemente, o caso vai dar em nada, sendo providencialmente arquivado - como acontece em tais casos de abuso com dinheiro público no Brasil.

Pelo menos - se pode restar algum consolo - o movimento do MPF promove mais uma ação de desgaste contra o capimunista governo Dilma - que tem tudo para se reeleger, no que depender dos belos índices de popularidade nas pesquisas de opinião - certamente feitas com os tais "vulneráveis" que recebem algum benefício do governo federal.

Como de costume, tal “notícia negativa contra o Brasil” não terá a mínima repercussão na amestrada mídia tupiniquim – o que só confirma que por aqui temos uma liberdade de imprensa assegurada pela Constituição que não se transforma em plena liberdade de informação e expressão...

Mais malvados que os hermanos...

Voltando à reportagem do ABC, os espanhóis foram sarcasticamente irônicos com Dilma:

“A presidente não costuma realizar esses shows, e, geralmente, lidera pelo exemplo. Suas roupas são feitas por costureiros brasileiros, não usa marcas de jóias e tem pouco valor, sendo constantemente repetidas, como um conjunto de pérolas e uma pulseira de ouro inspirada nas fitas do Senhor do Bonfim da Bahia no olho de vidro turco, amuletos de boa sorte. Assim, surpreendeu tanto a ostentação de sua visita a Roma há duas semanas para participar da missa de abertura do Papa Francisco”.
Antes de tal trecho, a publicação espanhola tinha retratado Dilma como uma pessoa austera:

“A presidente do Brasil, Dilma Rousseff, é uma mulher discreta em seu estilo de vida e pessoal. Vive no Palácio da Alvorada, a residência oficial, com sua mãe e sua tia, ambas octogenárias. Em seu tempo livre é dedicado ao caminhar, ler e ouvir música clássica, uma paixão que herdou do pai búlgaro. Suas férias no Brasil são passadas em uma base militar localizada em uma base naval, na Bahia, ou com a sua filha e neto, na cidade de Porto Alegre, em teto da própria família. Geralmente trabalha mais de 12 horas por dia e só viaja para o exterior para atender a agenda de convites oficiais, cimeiras e reuniões diplomáticas”.

Gastança da Hermana Cristina

Além de Dilma, o ABC meteu o pau na hermana bolivariana da argentina:
"A presidente da Argentina faz movimentos diários da residência oficial de Olivos para a Casa Rosada de helicóptero (...) As quatro aeronaves são o transporte oficial de Cristina Fernández de Kirchner viajar para El Calafate, província de Santa Cruz do sul”.

O jornal também detonou que os filhos dela, especialmente seu filho Max" também usa o que eles chamam de "transporte público especial" de Cristina Kirchner, que sempre foi marcada pela ostentação.
28 de março de 2013

quinta-feira, 28 de março de 2013

Charge






O ato falho de Dilma




ELIANE CANTANHÊDE
FOLHA DE SP

BRASÍLIA - Pelo visto e pelos relatos da imprensa, a ida da presidente Dilma Rousseff à reunião dos Brics, em Durban, foi cheia de percalços. E de tropeços.

Dilma levou chá de cadeira do presidente da África do Sul, Jacob Zuma. Depois de quase uma hora e meia esperando, com seus ministros, imagine-se o humor da presidente. Ela voltou para o hotel e foi à abertura do encontro, mas dispensou o jantar. Não é trivial. Será que alegou uma dor de cabeça danada?

Ontem, Dilma disse em entrevista coletiva que não concorda com combate à inflação à custa do desenvolvimento. Depois, diante da reação de espanto e crítica, disse que não disse. Mas é o que ela pensa, certo?

Vejamos as frases da presidente: 1) "Não concordo com políticas de combate à inflação que olhem a questão da redução do crescimento econômico"; 2) "Esse receituário que quer matar o doente em vez de curar a doença, ele é complicado. Eu vou acabar com o crescimento do país?".

O mercado deu um pulo. Interpretou que Dilma estava assumindo a leniência com a inflação, o que, a esta altura do campeonato, é quase uma heresia. Nesses pouco mais de dois anos, o combate à inflação não chega a ser prioridade. Mas há coisas que até se pensam, mas não se dizem. Principalmente presidentes.

Pelo Blog do Planalto, Dilma tentou consertar. Acusou que sua fala foi manipulada por agentes do mercado financeiro e empurrou o abacaxi para o presidente do BC descascar.

Ele é que mostrasse por "A" mais "B" que, como disse Dilma na nova versão, "o combate à inflação é um valor em si mesmo e permanente".

Cá entre nós, a frase original de Dilma tem um fundo de verdade e combina com a ação do seu governo, já que a inflação ultrapassa o centro da meta e se aproxima do teto.

E o pior é que o Brasil não tirou nota baixa na inflação para poder tirar 10 no crescimento.

Com pibinho de 0,9% em 2012 (bem abaixo dos Brics), não brilhou em nenhum dos dois.


 28 de março de 2013


A imprensa publica o que imagina que o neurônio solitário quis dizer em dilmês


Direto ao Ponto



PUBLICADO EM 26 DE AGOSTO DE 2011
Por Augusto Nunes

Jornais e revistas nunca publicam o que disse a presidente em dilmês ─ arcaico, rústico ou castiço. Publicam a versão em português do que acham que a presidente quis dizer no estranho subdialeto que inventou.

Essa preciosidade linguística só pode ser encontrada em dois lugares: nesta coluna (sobretudo nos grandes textos de Celso Arnaldo) e no Blog do Planalto.

Talvez por temerem um pito, talvez por não entenderem nada, os redatores federais não ousam mexer no palavrório da chefe.

Transcrevem o que ouvem nas gravações, reimplantam os erres amputados dos verbos no infinitivo e ponto final.

Contemplado em sua inteireza, o dilmês em estado bruto escancara os labirintos percorridos pelo neurônio solitário quando acionado para discorrer sobre qualquer tema.

Na entrevista coletiva desta semana, por exemplo, um repórter quis saber o que a presidente tem a dizer sobre a crise econômica internacional.

O que saiu na imprensa não tem nada a ver com o que saiu da cabeça da entrevistada. Conforme a assustadora transcrição feita pelo Blog do Planalto, foi o seguinte:

“A crise internacional deve nos preocupar sempre, mas a gente tem sempre de ter consciência de uma coisa. Sabe qual é? Nós, hoje, estamos em muito, mas em muito melhores condições para enfrentar. Ela é uma crise de outra característica, é a mesma crise, começou lá atrás. Na verdade, começou no final de 2007, inicio de 2008. Ela é uma crise financeira profunda do sistema financeiro dos países envolvidos. É uma crise de confiança porque não se recupera o consumo, nem o investimento. O dinheiro está empossado, ela pode durar mais tempo do que se espera. Agora, o Brasil nessas condições deu vários passos. Hoje, nós demos mais um passo. Qual é o passo? É contar com a imensa força dos 190 milhões para investir, para consumir, para trabalhar e para empreender. Além disso, nós temos 350 bilhões de reserva, da última vez que eu vi, e temos quase 420 bilhões de depósitos compulsórios”.
Oremos.

quarta-feira, 27 de março de 2013

Feliciano, a Comissão de Direitos Humanos e a evidência escandalosa de uma fraude intelectual e política



Por Reinaldo Azevedo


O deputado Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara, expulsou uma manifestante da sala que o chamou de “racista”. O rapaz integrava a turma que queria impedir uma nova sessão da comissão. A pauta do dia nada tinha a ver com direitos dos gays, mas com a contaminação por chumbo na cidade de Santo Amaro da Purificação, na Bahia, terra de Caetano Veloso. Caetano Veloso é aquele senhor que se destaca na música e que acredita, com acerto, que o Brasil precisa de um Congresso. Mas deu a entender também que o Congresso aceitável é aquele formado por pessoas com as quais ele concorda. Se jovens cantores e compositores se inspirarem em Caetano, estarão, creio, no bom caminho no que respeita à música popular. Se pessoas interessadas em democracia política tiverem Caetano como referência, aí estamos fritos.


Mas volto. “Racismo” é crime. Acusar alguém de “racista” corresponde a acusá-lo de ter cometido um crime. Não havendo provas, trata-se de calúnia, o que também é… crime!!! A imprensa brasileira tem sido vergonhosa nesse caso. Ela é livre para odiar Feliciano o quanto quiser; é livre para considera-lo o mais despreparado dos seres para essa comissão ou qualquer outra. Mas é uma estupidez acusar alguém de homofobia por ser contra o casamento gay ou de racismo porque cita (e mal) um trecho da Bíblia. Isso é militância, não é jornalismo. Eu opino bastante, sim, quebro o pau a valer. Mas não atribuo nem às pessoas que mais desprezo crimes que não cometeram só para facilitar a minha crítica. Ao contrário até: prefiro a crítica difícil; prefiro demonstrar o erro de quem considero aparentemente certo a evidenciar o obviamente errado. Que graça há nisso?

Feliciano mandou retirar o rapaz da Câmara. Se quiser, pode processá-lo, sim, e aí o moço teria de provar que Feliciano cometeu racismo — se não o fizer, caracteriza-se a calúnia.

Muito bem! Expulso, e com motivos, da sala, Marcelo Regis Pereira, de 35 anos, antropólogo, gravou um vídeo, que já está no YouTube. Diz-se vítima de preconceito — e a imprensa está dando corda — por ser, atenção!, “negro, gay e pobre”.

Vejam o vídeo.

Volto em seguida.
 
Voltei
Negro, como se vê, Pereira não é. Como ele mesmo diz, assim ele se “autodeclara”. Eu posso me “autodeclarar” índio, por exemplo. Tenho legitimidade pra isso. Meu bisavô paterno mal arranhava o português. Aliás, a melhor parte que há em mim é o Espírito da Floresta. Feliciano, que tem comprovadamente a mãe negra, deve ser mais negro do que o acusador.


Ele chama o outro de “racista”, é expulso da sala e diz “Fizeram isso porque sou gay”. Ainda que isso estivesse na cara, ser gay não lhe dá o direito de ofender os outros. Ou dá? Mas como Feliciano poderia saber? Está escrito na testa? Há gente que parece e é, que não parece e é, que parece e não é… A menos que devamos estabelecer agora um outro padrão. Ofendido por alguém, ao reagir, devemos antes indagar: “Por favor, cidadão, como o senhor define a sua sexualidade? Hétero? Ah, então vou responder”. Ou no outro caso: “Ah, o senhor é gay? Então eu peço desculpas por tê-lo levado a me ofender”.

O rapaz tem 35 anos e é antropólogo. Não existe faculdade de antropologia no Brasil. É uma pós-graduação. Isso quer dizer que ele tem um curso universitário e uma especialização. É esse o padrão da pobreza no Brasil? Tome tento, meu senhor! Tenha compostura! Não seja ridículo! Pobre não tem cara, não! Mas a pobreza, ah, essa tem? Revejam: é o caso dele? Ademais, meus caros, “universitário com especialização” se declarar ”pobre”, num país como o Brasil, ofende a inteligência de qualquer pessoa de bom senso.

Esse vídeo é a manifestação do mais escancarado oportunismo. Faltassem evidências da pantomima que está em curso, agora não falta mais, está aí.


De fato, há gente acreditando que é legítimo invadir uma comissão, subir na mesa, chamar o outro de racista etc. Uma vez coibida a agressão, então é hora de gritar: “Preconceito!” Com a pressurosa colaboração da imprensa, esse troço está indo longe demais!

Se e quando, na comissão, Feliciano fizer alguma coisa que esteja fora de sua competência e de seu direito legal, então que se proteste — aliás, a praça é imensa! Tentar arrancá-lo de lá porque não gostam de suas opiniões é intolerância, sim. De resto, esses fanáticos não se dão conta de que, na prática, estão dando à luz um herói. Já volto ao tema.

A farsa, enfim, se revela.


27/03/2013

Presidente do STF nega mais tempo para recursos de réus do mensalão


Defesa de condenados quer prazo maior para poder analisar votos de ministros do Supremo

FOLHA DE SÃO PAULO

Advogados fazem nova solicitação, com o argumento de que negativa inviabiliza 'direito de defesa'

FELIPE SELIGMAN
DE BRASÍLIA

Sob o argumento de que o julgamento do mensalão foi "amplamente divulgado", o presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, negou pedidos dos réus que queriam mais tempo para elaborar os recursos e cópia dos votos revisados dos ministros antes da publicação oficial do resultado.

Ele analisou dois requerimentos feitos pelas defesas de Ramon Hollerbach, ex-sócio do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, e do petista José Dirceu.

A negativa de Barbosa gerou reação das principais defesas que atuaram no caso.


Ontem, horas depois da decisão ter sido divulgada, 15 advogados, entre os quais o ex-ministro Márcio Thomaz Bastos, Arnaldo Malheiros Filho, Alberto Toron e José Luís de Oliveira Lima, entraram com um novo pedido. Sobre essa solicitação Barbosa ainda não se manifestou.


Eles afirmaram que a falta de acesso prévio às manifestações por escrito dos ministros e a não ampliação dos prazos "inviabilizaria o direto de defesa".


O novo embate entre Barbosa, relator do mensalão, e a defesa dos réus ocorre porque os advogados terão o prazo regimental de cinco dias para elaborar recursos assim que for publicado o acórdão (resultado do caso).


Houve 25 punidos pelo esquema de desvio de dinheiro público e compra de votos de parlamentares nos primeiros anos do governo Lula.

O documento com os votos dos ministros terá milhares de páginas e deveria ser publicado em 1º de abril, quando terão passado 60 dias do fim do julgamento, descontados recessos e feriados.


Como alguns ministros ainda não entregaram suas contribuições, a expectativa é que a publicação do acórdão só ocorra após o dia 8.

O presidente do STF afirma que as defesas conhecem bem o que foi decidido e não precisam do acesso antecipado ou um maior prazo para eventuais questionamentos.


"Todos os interessados no conteúdo das sessões públicas de julgamento, em especial os réus e seus advogados, puderam assisti-las pessoalmente no plenário desta corte", disse, em sua decisão.


Os advogados dizem que, se não tiverem acesso ao conteúdo antecipadamente, vão precisar de ao menos 30 dias para analisar esse material.


Thomaz Bastos disse à Folha que o argumento de Barbosa é "falacioso", pois a maioria dos ministros não leu o voto durante as sessões, prometendo juntar manifestação escrita posteriormente.


"Quase nenhum ministro apresentou o voto escrito durante o julgamento. Como podemos saber o que questionar? Isso, na minha opinião, é um cerceamento completo de defesa", afirmou.


No documento entregue ontem, ele e seus colegas também disseram ser "humanamente impossível cumprir os exíguos prazos".

"Ninguém, por mais conhecedor das minúcias do processo que seja, consegue ler mais de 5.000 folhas em cinco dias e ainda por cima redigir uma peça apta a defender os interesses de seu patrocinado."

terça-feira, 26 de março de 2013

ESPELHOS PARTIDOS




“Somos nosso passado. Somos este quimérico museu de formas inconstantes; este amontoado de espelhos partidos”.

Jorge Luís Borges


Por Maria Lucia Victor Barbosa



Para entender a América Latina, é preciso voltar no tempo como fiz em um dos meus livros, “América Latina – em busca do paraíso”. Constatar, tomando emprestada a expressão do genial pensador espanhol, José Ortega y Gasset, nossa “embriogenia defeituosa”.

E, apesar das diferenças entre a colônia portuguesa e as colônias espanholas, entender que as origens coloniais lusas fizeram igualmente de nós uma sociedade invertebrada.


Afinal não tivemos como na “Espanha invertebrada” de Gasset “a comunidade de propósitos” que faz com que grupos integrantes “convivam não por estar juntos, mas sim por fazer algo, juntos”.

Ao mesmo tempo, nossas sociedades desiguais, o isolamento entre as camadas sociais, a falta de “minorias seletas” que comandassem o processo de emancipação, a inexistência do espírito associativo – substituído pela vivência do pequeno mundo familiar ou clânico – gerarão o desequilíbrio estrutural cujas manifestações mais graves até hoje sentidas são: o atraso econômico, a mentalidade do atraso, o autoritarismo, o paternalismo, o clientelismo, o nepotismo, o patrimonialismo, e a corrupção endêmica.


No nosso subdesenvolvimento político e econômico somos envolvidos por um sentimento estranho, a um tempo de altivez e de inferioridade, sendo que preferimos descarregar nossa frustração em possíveis culpados utilizando, inclusive, a equivocada fórmula que diz que uns são pobres porque outros são ricos.

Assim, culpamos especialmente os Estados Unidos por nossas mazelas e fraquezas. Só nos esquecemos de perguntar o que fizemos a nós mesmos.


Fatos recentes ocorridos em nosso país e na América Latina demonstram que as características acima apontadas permanecem, pois fazem parte de uma cultura plasmada ao longo dos séculos. E aqui me refiro à cultura no sentido do complexo de valores, atitudes e comportamentos.

Um desses fatos foi a visita da corajosa dissidente cubana, Yoani Sanchez, que enfrenta a tirania dos irmãos Castro pedindo liberdade e democracia para seu país. Isto tem um preço na Cuba totalitária e Yoani o tem pagado com prisões e torturas. Entretanto, suas armas não são as armas assassinas de Fidel Castro e de “Che” Guevara, mas as palavras postadas no seu blog.

Pois bem, a mando do embaixador de Cuba, Carlos Zamora Rodriguez — mando esse que contou com o apoio do governo brasileiro – calúnias e difamações foram divulgadas, contra a moça, pela ‘REDEPT13’.

Note-se que, hipocritamente, petistas costumam falar em direitos humanos e democracia. Ao mesmo tempo, Yoani foi perseguida por grupelhos agressivos de ‘perfeitos idiotas brasileiros’. Eles foram uma espécie de milícia fascista à moda de Mussolini e de Chávez, e exerceram feroz intimidação que associa truculência, ignorância, fanatismo.

Os jovens que ajudam fazer do Brasil um satélite de Cuba são portadores da mesma idiotice analisada por Plinio Apuleyo de Mendoza, Carlos Alberto Montaner e Álvaro Vargas Llosa no “Manual do Perfeito Idiota Latino-Americano”.

Essa “doença”, segundo Mario Vargas Llosa, que fez a apresentação do livro, não é congênita, mas tem outra índole:

“É postiça, deliberada e eleita, se adota conscientemente por preguiça intelectual, modorra ética e oportunismo civil”. “É ideológica e política, mas, acima de tudo, frívola, pois revela a abdicação da faculdade de pensar por conta própria”.


Outro fato marcante na América Latina foi a morte de Hugo Chávez, típico tiranete populista latino-americano que levou algum benefício aos pobres através de caridades oficiais, mas destruiu a economia venezuelana. Chávez, ao se perpetuar no poder, foi uma fraude democrática. Ele subjugou o Legislativo, o Judiciário e o Exército, impôs a censura dos meios de comunicação, perseguiu seus opositores de maneira implacável.

Até a sua morte, que não se sabe quando ocorreu realmente, foi envolvida numa rocambolesca e misteriosa farsa a cargo do sucessor por Chávez ungido para dar continuidade ao governo, Nicolás Maduro. Este mentiu o que pode, inventou lorotas, falou em mumificação do chefe e ocupou o cargo de presidente inconstitucionalmente. Agora está em campanha e certamente vai se eleger para que Chávez continue a governar do além.

O PT deve ter uma ponta de inveja do companheiro Chávez porque não conseguiu alcançar a radicalização venezuelana. Porém, está a caminho. Dilma, a sucessora ungida por Lula é presidente e candidata.

Portanto, ela tem a caneta e os recursos materiais das bondades, além do tempo que desejar na mídia. Um poder que os demais candidatos não dispõem o que dificulta enfrentá-la.


Ah, sim, e pela primeira vez, foi eleito um Papa latino-americano. Dilma disse que ele é normal (?), e que Deus é brasileiro.

Desconfio que seja argentino, pois elegeu um Papa da Argentina.

Talvez, o diabo seja brasileiro, pois a presidente em campanha jurou que vai fazer o diabo.


E assim vamos nós, sociedades em busca de si mesmas, tão parecidas entre si por serem os fragmentos de um espelho partido.

Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga.

mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com.br

23/03/2013

Depois de gastar quase 10 casas populares em Roma, a presidente que erra o sinal da cruz tropeça nos mortos que acusou



Por Augusto Nunes

Estudantes protestam em frente da Catedral Metropolitana de Petrópolis

COM PRESENÇA DE DILMA, MISSA EM PETRÓPOLIS É PALCO DE PROTESTOS, informou o título da seguinte nota publicada pelo site do Globo: A entrada da Catedral São Pedro de Alcântara, de Petrópolis, onde nesta segunda-feira se realizou a missa de sétimo dia das 33 vítimas das chuvas da semana passada, se tornou palco de uma manifestação contra a falta de ação das autoridades para preparar a cidade para temporais. Cerca de cem pessoas pediram mais transparência nos gastos públicos e a realização de obras de contenção de encostas. Os manifestantes carregavam cartazes com mensagens como “Não queremos sua oração, mas sua ação”, “Lamentar não ressuscita” e “Queremos atitude”. Os protestos podiam ser ouvidos no interior da catedral durante a celebração feita pelo bispo diocesano de Petrópolis, dom Gregório Paixão.

Por essa a presidente não esperava. Depois de dar um pito nos mortos e repreender os sobreviventes que teimam em adiar a mudança para as 6 mil casas que não construiu, Dilma Rousseff imaginou que as coisas haviam ficado muito claras: os culpados por tragédias do gênero são as vítimas. Ao reaparecer na Região Serrana, portanto, seria decerto recepcionada por uma demasia de flagelados grávidos de gratidão, ansiosos por pedir-lhe desculpas e agradecer a visita a Petrópolis.

Não é qualquer cidade que tem a honra de ver de perto uma recordista mundial de popularidade. Segundo o Ibope, falta só a adesão de um punhado de descontentes profissionais para que todos os brasileiros, incluídos os bebês de colo e os nonagenários senis, os doidos varridos e os gênios da raça, passem os dias aplaudindo de pé o desempenho da presidente. Segundo o Datafolha, tudo anda tão bem que, a um ano e meio da eleição, está resolvido que Dilma ficará alojado no Planalto até 2018.

Ou porque não sabem disso, ou porque são eles os que impedem a chegada aos 100% de popularidade, dezenas de nativos resolveram piorar o humor da visitante com a cobrança de promessas não cumpridas. Os manifestantes seriam milhares se a oposição oficial tivesse voltado das férias para contar aos moradores da Região Serrana como foi a passagem por Roma da comitiva mais gorda da história do Vaticano. O Planalto não revelou o número exato de viajantes. Passaram de 50.

A agenda oficial só previa a conversa de meia hora com o Papa Francisco. Prevenida, a chefe convocou o exército que costuma mobilizar nos giros pelo exterior (veja reportagem na seção O País quer Saber). Escoltada pelos ministros Aloizio Mercadante, Gilberto Carvalho, Helena Chagas e Antonio Patriota, Dilma Rousseff enfrentou os rigores da primavera europeia entrincheirada no Westin Excelsior. É um dos mais caros da cidade. A diária da suíte Villa La Cupola chega a R$ 52 mil.

O restante da comitiva e parte da equipe técnica foram instalados no também estrelado Parco dei Principi. A delegação brasileira ocupou, segundo a Folha, 52 suítes. Foram 25, corrigiu Helena Chagas. Com a placidez de quem revela quanto gastou numa loja 1,99, representantes do Itamaraty juraram que a viagem consumiu R$ 324 mil. Espertamente, a conta excluiu a dinheirama investida num esquema logístico de impressionar general americano no comando de tropas de ocupação.

Para que os craques do desperdício (e a montanha de malas) circulassem com o devido conforto, foram alugados um carro blindado de luxo, sete veículos sedan com motorista, quatro vans executivas com capacidade para 15 pessoas cada, um microônibus, um caminhão-baú e dois furgões. Esse colosso sobre rodas fez a gastança subir para mais de meio milhão de reais. Uma casa popular custa cerca de R$ 60 mil. Dilma e seu bando torraram quase dez numa única viagem.

A diária da suíte Via Veneto (foto) custa R$ 7.300

Uma das casas destruídas pelas chuvas em Petrópolis, onde 33 pessoas morreram soterradas.

Nenhuma das 6 mil casas prometidas em 2011 foi construída até agora.

Por falta de obras prontas, Dilma inaugurou em Petrópolis outro monumento ao cinismo: prometeu construir em 2013 o que jurou que seria concluído em 2011. E aproveitou a missa para reapresentar a fantasia de pecadora convertida. Cara de primeira comunhão, voz de noviça obediente, caprichou na pose de quem já consegue distinguir um terço de um colar e decorou a primeira parte do Salve Rainha.

Em outubro de 2010, durante uma celebração religiosa no Santuário Nacional de Aparecida, a Band revelou ao país que a ex-aluna de colégio de freiras não sabia quando nem como fazer o sinal da cruz. Num momento, só ela não movimenta o polegar. Noutro, só ela faz o movimento. E erra: em vez de mover o dedo da esquerda para a direita, faz o contrário. Deve ter estudado sinal da cruz com Frei Betto. Ou com o ex-seminarista Gilberto Carvalho.

                      

                            26/03/2013


Barbosa nega pedido de Dirceu para ter acesso aos votos


Ex- ministro pediu que o STF divulgasse o teor dos votos para que já fosse possível elaborar recurso

José Dirceu foi condenado a dez anos e dez meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha no processo do mensalão

Michel Filho / Arquivo O Globo 07/10/2012


BRASÍLIA — O presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), Joaquim Barbosa, negou o pedido do ex-ministro da Casa Civil José Dirceu de antecipação dos votos do julgamento do mensalão, antes mesmo da publicação do acórdão – o documento final com os votos e considerações dos ministros em plenário.

A defesa de Dirceu, condenado a dez anos e dez meses de prisão por corrupção ativa e formação de quadrilha, pediu que o STF divulgasse o teor dos votos para que já fosse possível elaborar os embargos de declaração, os recursos que esclarecem alguma obscuridade ou contradição de uma decisão judicial.

Em despacho no último dia 20, Joaquim – que foi o relator da ação penal do mensalão – negou o pedido.


O ex-ministro não foi o único a sofrer uma derrota antes da publicação do acórdão. Ex-sócio de Marcos Valério – o operador do esquema –, Ramon Hollerbach pediu a concessão de um prazo de 30 dias para os embargos de declaração, e não os cinco dias previstos em lei.

A defesa do empresário alegou a "excepcionalidade" do julgamento, o mais longo e complexo da história do STF. Joaquim discordou do argumento e negou o pedido. Hollerbach foi condenado a 29 anos, sete meses e 20 dias de prisão, mais uma multa de R$ 2,79 milhões, pela prática dos crimes de corrupção ativa, peculato, lavagem de dinheiro, evasão de divisas e formação de quadrilha.


Dirceu também apontou a "complexidade" do julgamento, que durou mais de quatro meses, para pedir a antecipação do voto para os embargos de declaração. "Os votos proferidos quando do julgamento foram amplamente divulgados e, inclusive, transmitidos pela TV Justiça.

Além disso, todos os interessados no conteúdo das sessões públicas do julgamento puderam assisti-las no plenário desta Corte", argumentou Joaquim no despacho que indeferiu o pedido da defesa de Dirceu. "Ainda não foram disponibilizados todos os votos proferidos pelos ministros que participaram do julgamento", completou.


Na resposta à defesa de Hollerbach, Joaquim disse que os advogados já poderiam ter dado início à elaboração dos embargos de declaração "desde o final do ano passado". "Embora o acórdão ainda não tenha sido publicado, o seu conteúdo já é do conhecimento de todos."

O prazo regimental para a publicação do acórdão, de 60 dias, termina no próximo dia 1º.

Esse prazo é recorrentemente desrespeitado no STF e nem todos os ministros finalizaram a revisão de seus votos para o documento final, o que deve atrasar a publicação.


26/03/13

O tirano e o caixeiro-viajante



Levar a Odebrecht ao país do ditador Obiang, como fez Lula, é dar aval a um regime corrupto até as entranhas

Por Clóvis Rossi Folha de S. Paulo

Deu domingo na Folha: na sua única viagem internacional como representante oficial do governo Dilma Rousseff, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva levou na delegação à Guiné Equatorial um diretor da Odebrechet.

"A Odebrecht entrou na Guiné Equatorial após a visita de Lula, sendo favorita para obras na parte continental, onde está sendo construída uma capital administrativa", dizia ainda o texto.
No mesmíssimo domingo, deu em "El País": "Fazer negócios com o clã familiar que lidera Teodoro Obiang [ditador da Guiné Equatorial desde 1979] é arriscado. O pagamento de comissões é obrigatório e as disputas comerciais, muitas vezes fictícias, derivam, às vezes, em extorsão, ameaças e em perda do investimento para salvar a vida".

Não é fantasia do jornal: a Chancelaria espanhola acaba de divulgar nota na qual adverte que estão ocorrendo casos de empresários espanhóis e estrangeiros que não podem abandonar a antiga colônia espanhola por desentendimentos com seus sócios locais.

O passaporte é confiscado e ficam impedidos de deixar o país até que desistam de suas propriedades.

Conclusão do jornal: "Este sistema corrupto impregna até o último rincão da administração guineana".
Não por acaso, o ditador Teodoro Obiang ficou em oitavo lugar na lista dos governantes mais ricos do mundo, apesar de chefiar um país obscenamente pobre.

Traçado o perfil da Guiné Equatorial e de seu tirano, cabe perguntar: as empresas brasileiras que atuam no país são imunes à máquina de corrupção lá instalada ou, ao contrário, engraxam os mecanismos que enriquecem o clã Obiang? Segundo a reportagem da Folha, além da Odebrecht fazem negócios na Guiné também a ARG, a Andrade Gutierrez, a Queiroz Galvão e a OAS.

Parece supina ingenuidade acreditar que tenham obtido a concessão de obras sem pagar qualquer pedágio aos Obiang, se, como diz "El País", a corrupção impregna tudo.

Que Lula trabalhe como caixeiro-viajante dessas empresas já é esquisito, mas, convenhamos, é o que fazem hoje em dia não apenas ex-presidentes mas até presidentes/primeiros-ministros em pleno exercício do cargo.

Mas que feche os olhos para uma tirania obscena como, entre tantas outras, a de Obiang, no cargo há 34 anos, vira também uma obscenidade, mais ainda como representante oficial de um governo que diz pôr direitos humanos no centro de sua política externa.

Prestaria um serviço mais decente se se dedicasse exclusivamente aos países africanos que vão penosamente estabelecendo regimes democráticos. Segundo levantamento recente da "Economist", se, ao término da Guerra Fria, 30 anos atrás, só três Estados africanos, dos 53 então existentes, eram democráticos, hoje já são 25, de "vários tons", e muitos mais fizeram eleições, "imperfeitas, mas valiosas" (22 só no ano passado).

Para que, então, sujar as mãos com um tirano?

26 de março de 2013


Caetano, Wagner Moura, Jean Wyllys e Chico Alencar se acham democratas? Então vamos ver o que eles pensam sobre o regime democrático e o Parlamento


                    Por Reinaldo Azevedo


Ouvi dizer que haviam convocado uma manifestação de repúdio ao preconceito e coisa e tal na sede da ABI (Associação Brasileira de Imprensa), no Rio. Pensei: “Que bom! A ABI ainda estava sob os miasmas da corrupção ativa e da formação de quadrilha, que ali se juntaram no evento em defesa de José Dirceu”. 

Aí falaram que o Caetano Veloso, o Wagner Moura e a Preta Gil iriam.

“Ah, então é coisa de sustança intelectual.”

Imaginei que os três estavam decididos a protestar contra a Funarte, que barrou a inscrição de um trabalho de dez bailarinos negros no “Prêmio Funarte de Arte Negra” porque a pessoa jurídica à qual são ligados tem um diretor branco.

Pensei: “O autodeclarado mulato Caetano Veloso não concorda com isso”.
Mas não! Tratava-se de mais uma manifestação contra Marco Feliciano (PSC-SP), presidente da Comissão de Direitos Humanos e Minorias da Câmara.

Com alguns nomes estrelados do mundo das Artes & Espetáculos & Celebridades, a convocação logo juntou 600 pessoas, sob o comando do deputado federal Jean Wyllys (PSOL-RJ) e do deputado estadual Marcelo Freixo (PSOL-RJ).
Repetiram-se as acusações de racismo e homofobia contra Feliciano. Eu jamais votaria nele para deputado. Tampouco o escolheria, se dependesse de mim, para presidir qualquer comissão.

Mas o fato é que a acusação de homofobia é só uma tentativa de puni-lo por delito de opinião e que a de racismo vai além do ridículo.

Feliciano tem o direito de ler errado a Bíblia, embora não deva. E é mais mulato do que Caetano Veloso.
O cantor, aliás, como de costume, arranhou a dialética: “Não é admissível que essa Comissão de Direitos Humanos e de Minoria esteja sendo dirigida e presidida por um pastor que expressou nitidamente a intolerância, tanto da ordem sexual como racial. É fato conhecido e notório. Esse é um momento que nós deveríamos estar reunidos para tentar defender o que significa ter um Congresso. Porque o maior perigo é levar o povo brasileiro a desprezar esse nível do exercício do Poder Legislativo. Isso pode criar uma má impressão do que é democracia. Estamos reunidos aqui hoje para dizer que no Congresso não se podem fazer coisas absurdas, significa também dizer que nós não queremos viver sem o Congresso”.
“Fatos conhecidos e notórios”, em casos assim, costumam se confundir com linchamento. As duas coisas são falsas. E isso é apenas um fato. Caetano deveria nos explicar “o que significa ter um Congresso”.

Eu entendo que significa, entre outras coisas, haver lá gente com a qual não concordo. E eu não concordo com Feliciano. Mas também não concordo com Caetano.

O povo anda tendo algum desprezo pelo Congresso, mas por razões que passam longe dessas evocadas pelo artista.

Cito o caso do mensalão, que, salvo engano, nunca levou a nossa vestal baiana para a praça — embora esteja certo de que ele não concorda com aquela sem-vergonhice.
Caetano não é burro, não! Conhece a língua portuguesa, mas se expressa numa espécie de idioleto, o “caetanês”, que pode ser surpreendentemente autoritário:

“Estamos reunidos aqui hoje para dizer que, no Congresso, não se podem fazer coisas absurdas; significa também dizer que nós não queremos viver sem o Congresso”.

Em síntese: “Queremos (eles querem) um Congresso, desde que ele faça coisas com as quais concordemos; se passar a fazer coisas com as quais outros concordam, aí a gente começa a pôr em dúvida a existência do Congresso”.
Quando pego no pé de Caetano, alguns amigos, admiradores de sua música, protestam. Ora, eu também gosto de muitas das suas canções. Mas o pensador da democracia pode ser de uma impressionante ligeireza.
Wagner Moura, que incorporou, definitivamente, o papel de Capitão Nascimento das causas politicamente corretas também estava lá, com aquele seu ar de pensador grave. Tentou negar que exista preconceito religioso na pressão contra Feliciano: “Acho muito desonesto os parlamentares do PSC dizerem que a oposição ao nome do Feliciano à presidência é uma intolerância contra a figura dele. É, portanto, significativa a presença de vários líderes religiosos aqui, inclusive os pastores presbiterianos”.
Havia pastores presbiterianos lá, que, obviamente, concordavam com o pleito de Moura. Isso significa dizer, portanto, que Moura não tem intolerância nenhuma contra pastores desde que os pastores concordem com… Moura!
Ainda bem que o deputado Chico Alencar (PSOL-RJ) estava lá para dizer a verdade: “Hoje ou amanhã, o Feliciano pode ser trocado e entrar um deputado que não diz tanta coisa que choque, mas pode representar a mesma política de anulação da comissão”. Vale dizer: Alencar quer é destituir a comissão inteira. Feliciano é apenas o primeiro da lista.
Jean Wyllys, numa demonstração que entende perfeitamente a independência entre os Poderes herdada lá de Montesquieu, cobrou que Dilma — sim, que a chefe do Executivo! — faça alguma coisa. E pensou, indo a altitudes inéditas:

“O governo sabe se meter no Legislativo quando é de seu interesse”.

A sabedoria convencional estaria a indicar que o deputado Wyllys — que é representante de um Poder, não apenas dos gays — deveria é protestar contra a ingerência do governo no Legislativo…

Mas quê!

Ele quer é ainda mais ingerência. Quando é a favor de causas que ele defende, então essa ingerência é boa. Entenderam?
Wyllys extrapolou. Leio no Globo: Jean Wyllys ressaltou que a iniciativa do protesto não é apenas lutar contra a permanência de Marco Feliciano à frente da comissão, mas também, segundo o parlamentar, lutar contra o “projeto fundamentalista” que Feliciano representa. Ele disse ainda que os possíveis pré-candidatos à Presidência da República em 2014, Dilma Rousseff (PT), Aécio Neves (PSDB), Marina Silva (REDE) e Eduardo Campos (PSB) deveriam participar deste debate. “Toda a sociedade está engajada. E o comportamento dessas quatro pessoas potenciais candidatos no ano que vem é ignorar esse movimento. Isso é inadmissível”, declarou o deputado, lembrando de questões referentes aos direitos LGBT e à religião. Para ele, este tema foi ignorado na última eleição para a Presidência da República, em 2010.
Eu não concordo com uma vírgula do que pensa o deputado Feliciano. Mas noto, pelas palavras de Wyllys, que ele tem certa propensão a eliminar do mundo dos vivos os que o contestam. E, obviamente, nesses termos, não terei como concordar com ele, com Caetano, com Moura e com a psolada toda porque vai que amanhã eles tentem me eliminar também, né?
Lamento! As palavras estão aí e fazem sentido. Essa gente não tem como dar aula de tolerância a ninguém. Até porque o seu protesto é seletivo, politicamente orientado.

O silêncio sobre a violência institucional ocorrida na Funarte diz tudo.
Chico Alencar deu o fecho de ouro: “Ouvi dizer que ele (Feliciano) disse que só sairia morto. Nós, defensores dos direitos humanos, queremos matá-lo politicamente”.

 Alencar me força a lembrar que socialistas defensores de direitos humanos são mesmo uma novidade na história, coisa recente. Como não podem — não nas democracias ao menos — matar seus adversários fisicamente, tentam matá-los moralmente.
Não por acaso, um dos fundadores do PSOL, ali mesmo no Rio de Chico Alencar e Freixo, é Achile Lollo. Está tudo contado aqui. Quem é ele? Trata-se de um terrorista italiano que, em 1973, despejou gasolina sob a porta de um apartamento, na Itália, onde estavam um gari, sua mulher e seis filhos. Ateou fogo. Morreram uma criança de 8 anos, Stefano, e seu irmão mais velho, de 22, Virgilio. O gari era membro de um partido neofascista. Como Lollo não gostava do fascismo, então ele resolveu incendiar crianças, entenderam? Um verdadeiro humanista!!!
Não! O pensamento de Feliciano não me serve e eu o combato. Mas toda essa gente que fala aí acima não tem a menor, a mais remota, a mais pálida ideia do que seja um regime democrático.
Encerro com esta ilustração.

A PIRA HUMANISTA – O jovem Virgílio, minutos antes de morrer carbonizado, vítima de um atentado terrorista praticado por Achille Lollo, que hoje vive livre, leve e solto no Rio. Foi um dos fundadores do PSOL, que hoje pretende dar aula de democracia

26/03/2013



segunda-feira, 25 de março de 2013

Ideólogo é a mãe


Quem pode ser mais patético do que aquele que usa como ofensa o próprio termo que mais apropriadamente o define?


Por Olavo de Carvalho
Artigos - Cultura

A baixeza de caráter sempre acaba transparecendo na deformidade da linguagem, especialmente sob a forma dos cacoetes de estilo e da impropriedade do vocabulário.

Em artigo recente e muito oportuno, Roberto Romano lembra um desses cacoetes, que se tornou marca registrada da linguagem fascista: o uso de aspas pejorativas como armas de extermínio das reputações.
Quando não se sabe o que alegar contra um sujeito, apela-se a esses sinais gráficos na esperança de que, fincados dos dois lados de um qualificativo -- mesmo que seja o simples nome de uma atividade profissional --, valham magicamente como sua total e peremptória negação.

Entre aspas, a vitória transfigura-se em derrota, o talento em inépcia, o advogado em rábula, o general em recruta e o santo em charlatão: pelo menos tal é a expectativa dos aspeadores.

Disso deveria saber eu, que cheguei a ser, no dizer de Bruno Tolentino, “o mais aspeado filósofo brasileiro” -- mas por que deveria preocupar-me com um truque bobo que só revela, nos seus praticantes, a mentalidade pueril e um toque de analfabetismo funcional?

Escritores que se prezam empregam as aspas para indicar citações, conotações alusivas ou ambigüidades deliberadas, e evitam dar-lhes sentido pejorativo porque sabem que isso é só para aqueles a quem a natureza avara negou até mesmo o dom de insultar criativamente, tão abundante na linguagem popular do Brasil.

Mas outra deformidade típica, endêmica nos jornais e nas cátedras deste país, é o vício de forçar um termo a carregar-se de conotação ofensiva até fazê-lo perder o último vestígio de referência à sua significação própria.

O exemplo mais renitente é o uso comunista do adjetivo “fascista”: na ânsia de associar a seus adversários a lembrança sinistra das ditaduras de Hitler e Mussolini, estampam-no com entusiasmo feroz no rosto dos que defendem a liberdade de mercado, a redução do poder do Estado, a independência entre os poderes e as garantias legais da democracia parlamentar – o oposto simétrico de qualquer coisa que mereça, na escala objetiva, o nome de “fascismo”.

Não por coincidência, as pessoas que fazem isso são as mesmas que mais freqüentemente apelam ao recurso fascista das aspas pejorativas.

Outro exemplo é o uso da palavra “ideólogo” como rótulo depreciativo.

“Ideologia” é um sistema de idéias destinadas não a descrever ou analisar a realidade, mas a criar e fortalecer a unidade de um partido, grupo ou movimento político e a orientar, justificando-os e enaltecendo-os, os seus planos para a tomada e manutenção do poder.

Basta compreender essa definição para perceber imediatamente que aqueles que tentam rebaixar o meu trabalho rotulando-me “ideólogo” são nada mais que charlatães e difamadores desprovidos do mais mínimo fragmento de credibilidade.

Para que essa rotulação tivesse algum valor, seria preciso que os rotuladores pudessem responder às seguintes perguntas: Que partido? Que grupo? Que movimento? Que planos?

Não podem.

O público a que me dirijo não constitui um grupamento político nem mesmo num sentido remotamente analógico, não tem nenhuma unidade organizacional ou atividade militante e nem sequer encontros ou congressos onde pudesse sonhar com uma vaga tomada do poder num futuro hipotético e inalcançável. E por mais meticulosamente que se examinem os meus escritos e aulas, não se encontrará aí o menor esboço de algum plano nesse sentido.

Quanto aos grupos e classes existentes para além das fronteiras desse círculo, é mais que óbvio que não me dirijo a nenhum deles em especial, não os represento no mais mínimo que seja e não tenho sequer por eles um pouco de afeição ou respeito, condição sine qua non para que desejasse orientá-los ou liderá-los politicamente. Seria eu o ideólogo da burguesia, essa classe que não sonha senão em abrigar-se à sombra do Estado? Dos militares, que se rebaixaram à condição de funcionários públicos, totalmente esquecidos de que seu dever de lealdade é para com o Estado e não para com qualquer partido que o açambarque e prostitua a serviço de seus próprios interesses? Dos estudantes, que só pensam em comunismo, sexo e drogas? Dos pobres e oprimidos, que não lêm uma só linha do que escrevo e só acreditam no Big Brother Brasil?

Ricos ou pobres, fardados ou à paisana, meus leitores, ouvintes e alunos são indivíduos isolados, sem a menor ambição ou possibilidade de agir politicamente.

Chamar “ideólogo” a quem há anos se dirige a essas pessoas sem lhes acenar nem de longe com algum projeto político é esvaziar a palavra “ideologia” de todo significado substantivo para fazer dela um grotesco arremedo de insulto, um porrete de isopor, uma faca sem cabo nem lâmina que só expõe ao ridículo o seu usuário, especialmente quando este é, ele próprio, o porta-voz notório de um grupo político atuante e constituído. Quem pode ser mais patético do que aquele que usa como ofensa o próprio termo que mais apropriadamente o define?

Não por coincidência, os que se entregam a esse exercício de masoquismo inconsciente não estão só na esquerda, como os srs. Caio Navarro de Toledo, Adalberto Monteiro, Altamiro Borges ou a equipe do Vermelho.org, mas também alguns na direita, como o prof. Alexandre Dugin ou os srs. Rodrigo Constantino e Joel Pinheiro. Em vista do exposto, a esses todos a única resposta merecida seria “Ideólogo é a mãe”, se justamente o último dos mencionados não constituísse exceção, de vez que, no seu caso, ideólogo não é a mãe e sim o pai – ideólogo do partido da Marina Silva.

Publicado no Diário do Comércio

 21 Março 2013

Como destruir a Petrobras


Ao usar a Petrobras para tentar resolver os problemas do país, o governo está asfixiando a maior empresa brasileira. Hoje, ela é a pior entre as grandes companhias de petróleo do mundo

Germano Lüders
EXAME.com

Plataforma da Petrobras em Campos, RJ

São Paulo - As últimas seis décadas, o Brasil tem mantido uma turbulenta e pouco saudável relação com sua maior empresa, a Petrobras. Desde que foi criada, em 1953, o país deposita sobre os ombros da Petrobras uma responsabilidade no mínimo exagerada. Por mais de 40 anos, coube a ela, e só a ela, explorar petróleo no Brasil.

O monopólio, que só acabou no fim dos anos 90, tornou mais lento e custoso o caminho até a autossuficiência. Mas a verdade é que tamanha responsabilidade deu origem a uma empresa de capacidade técnica e solidez financeira inquestionáveis.

A descoberta do potencial do petróleo escondido na camada do pré-sal, em 2006, foi comemorada como algo que levaria a Petrobras a outro patamar. Mas, talvez de maneira coerente com nossa história, o país aproveitou essa oportunidade para dar à Petrobras outras missões. Não bastava a já dificílima tarefa de tornar o pré-sal viável.

Nos últimos anos, o governo usou a empresa para segurar a inflação, criar uma indústria nacional do petróleo, fazer política externa à custa de seu caixa, gerar empregos.

Tudo somado, tem-se a receita para o desastre atual: a Petrobras, sete anos após a descoberta do pré-sal, é hoje a pior entre as grandes petroleiras do mundo. Em sua tentativa de usar a Petrobras para resolver os problemas do país, o governo está asfixiando a maior empresa do Brasil.

No dia 4 de fevereiro, a Petrobras anunciou seu pior resultado em oito anos. O lucro da empresa caiu 36% entre 2011 e 2012. Os custos de operação dobraram em seis anos. A produção de petróleo caiu. E, pior, a companhia deu aos investidores um sinal de que está com problemas de caixa — em outras palavras, de que o dinheiro está acabando.

Os acionistas foram informados de que o pagamento de dividendos aos detentores de ações ordinárias (com direito a voto) seria reduzido à metade.

O objetivo é economizar 3,5 bilhões de reais. “Foi uma decisão para manter o caixa da companhia”, afirmou Maria das Graças Foster, presidente da empresa. As ações da Petrobras chegaram ao menor patamar desde 2005. E Graça Foster, com a franqueza habitual, avisou que no primeiro semestre de 2013 as coisas piorariam ainda mais.

São números ruins, como o desempenho das ações atesta. Mas apenas uma comparação internacional é capaz de dar a real dimensão da crise em que a Petrobras se enfiou — ou, mais precisamente, foi enfiada.

Das dez maiores empresas de petróleo do mundo, a estatal brasileira é a pior nos quesitos fundamentais. Sua rentabilidade em 2012 foi um terço da média de suas principais concorrentes — e a previsão é que o desempenho seja o pior também neste ano.
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