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sábado, 15 de dezembro de 2012

Lula deve, sim, explicações


Quem não deve não teme


Editorial

O Estado de S.Paulo

Pelo mais elementar bom senso, a vítima de acusações caluniosas é sempre a principal interessada na imediata e rigorosa apuração das maquinações que a atingem, para que a verdade cristalina venha à tona, eliminando qualquer resquício de dúvida sobre uma reputação ilibada.

Por que, então, diante da torrente de denúncias que têm colocado a reverenciada figura de Luiz Inácio Lula da Silva na berlinda, ele próprio e o PT têm preferido atacar a se defender, esforçando-se para desqualificar liminarmente os acusadores e as acusações?

Por que a presidente Dilma Rousseff, que vinha primando por manter prudente distância do mar de sujeira que ameaça o lulopetismo, decidiu agora mobilizar o governo na tentativa de blindar seu padrinho?

Por que não exigem, todos, que se abra rapidamente uma investigação oficial do Ministério Público que coloque em pratos limpos toda essa infamante campanha articulada pelas forças do mal para destruir Lula e o PT?
Afinal, quem não deve não teme.

Mas a verdade, e é por isso que o lulopetismo anda batendo cabeça em evidente sintoma de pânico, é que Lula deve, sim.

Deve, pelo menos, muitas explicações à Nação.

Muitos preferem não ver, outros não conseguem, mas o desapreço do Grande Chefe por aquilo que os petistas ideológicos chamam de "moral burguesa" é marca registrada de seu comportamento.

Até mesmo como chefe de governo, Lula deu claras demonstrações desse desvio de conduta nas várias oportunidades em que, ao longo de seus dois mandatos, não hesitou em tratar publicamente com indulgência ou com inconveniente deboche os companheiros "aloprados" pegos com a boca na botija.

E despediu-se da Presidência demonstrando em grande estilo como se sente "mais igual" do que todo mundo, ao ordenar ao obsequioso chanceler Celso Amorim que, ao arrepio da lei, distribuísse passaportes diplomáticos para toda a sua prole.

E logo depois, já como ex-presidente, "a convite" do então ministro da Defesa, foi refestelar-se às expensas do agradecido povo brasileiro em dependências do Exército nas praias do Guarujá.

Comportamento típico de quem se considera todo-poderoso, acima do bem e do mal.

Não exatamente de alguém que, como apregoam seus acólitos, ostenta "reputação ilibada".

Lula, portanto, deve realmente muitas explicações ao País. Mas prefere, com o apoio da habitual corte de bajuladores e beneficiários de sua liderança, fazer aquilo em que ele próprio e o PT são craques: atacar.

A estratégia para blindá-lo está se desenvolvendo em vários planos: no comando do partido, na base aliada e nos quadros governamentais, por decisão, até certo ponto surpreendente, de Dilma Rousseff.

Vários ministros já procuraram jornalistas para protestar contra a "falsidade impressionante" das denúncias que envolvem o Grande Chefe.

A direção nacional do PT, por sua vez, divulgou mais uma nota oficial, desta vez conclamando a militância, parlamentares e governadores a "expressarem sua indignação diante de mais esse ataque, essa sucessão de mentiras envelhecidas que a mídia conservadora, com setores do Ministério Público, insiste em continuar veiculando".

Como de hábito em manifestações de autoria de Rui Falcão, boa parte da nota, e do depoimento gravado veiculado pelo site oficial do PT, dedica-se a atacar a imprensa, porque dá ouvidos às mentiras de "um condenado".

Para o PT, definitivamente, Marcos Valério não está entre os condenados injustamente pelo STF.

Na base aliada, além do notório José Sarney, para quem Lula está acima de qualquer suspeita, agora Fernando Collor - logo quem! -, dá uma mãozinha, como presidente da Comissão de Controle das Atividades de Inteligência do Congresso, ao fogo de encontro solicitado pelo líder petista na Câmara, Jilmar Tatto: propôs o convite a FHC e ao procurador-geral Roberto Gurgel para deporem sobre supostas irregularidades cometidas, no passado, sob suas respectivas responsabilidades. Como explicou Tatto, "se eles querem guerra, vão ter".
Não há dúvida.

Pela primeira vez, desde que chegou ao governo em 2003, Lula sentiu um golpe.

Pela primeira vez teme as consequências dos seus atos.

Esta história está apenas começando.

15 de dezembro de 2012

ESCÂNDALO BILIONÁRIO NA PETROBRAS – Resta, agora, saber se, ao fim da apuração, alguém vai para a cadeia! Ou: Quem privatizou a Petrobras mesmo?



É do balacobaco!

Por Reinaldo Azevedo
Desde que Sérgio Gabrielli, o buliçoso ex-presidente da Petrobras, deixou a empresa, os esqueletos não param de pular do armário.

A presidente Dilma Rousseff o pôs para correr. Ele se alojou na Secretaria de Planejamento da Bahia e é tido como o provável candidato do PT à sucessão de Jaques Wagner.

Dilma, é verdade, nunca gostou dele, desde quando era ministra. A questão pessoal importa menos. Depois de ler o que segue, é preciso responder outra coisa: o que ela pretende fazer com as lambanças perpetradas na Petrobras na gestão Gabrielli?

Uma delas, apenas uma, abriu um rombo na empresa que passa de UM BILHÃO DE DÓLARES. Conto os passos da reportagem da impressionante reportagem de Malu Gaspar na VEJA desta semana. Prestem atenção!
1: Em janeiro de 2005, a empresa belga Astra Oil comprou uma refinaria americana chamada Pasadena Refining System Inc. por irrisórios US$ 42,5 milhões. Por que tão barata? Porque era considerada ultrapassada e pequena para os padrões americanos.
2: ATENÇÃO PARA A MÁGICA – No ano seguinte, com aquele mico na mão, os belgas encontraram pela frente a generosidade brasileira e venderam 50% das ações para a Petrobras. Sabem por quanto? Por US$ 360 milhões! Vocês entenderam direitinho: aquilo que os belgas haviam comprado por US$ 22,5 milhões (a metade da refinaria velha) foi repassado aos “brasileiros bonzinhos” por US$ 360 milhões. 1500% de valorização em um aninho. A Astra sabia que não é todo dia que se encontram brasileiros tão generosos pela frente e comemorou: “Foi um triunfo financeiro acima de qualquer expectativa razoável”.
3 – Um dado importante: o homem dos belgas que negociou com a Petrobras é Alberto Feilhaber, um brasileiro. Que bom! Mais do que isso: ele havia sido funcionário da Petrobras por 20 anos e se transferiu para o escritório da Astra nos EUA. Quem preparou o papelório para o negócio foi Nestor Cerveró, à frente da área internacional da Petrobras. Veja viu a documentação. Fica evidente o objetivo de privilegiar os belgas em detrimento dos interesses brasileiros. Cerveró é agora diretor financeiro da BR Distribuidora.
Calma! O escândalo mal começou
Se você acha que o que aconteceu até agora já dá cadeia, é porque ainda não sabe do resto.
4 – A Pasadena Refining System Inc., cuja metade a Petrobrás comprou dos belgas a preço de ouro, vejam vocês!, não tinha capacidade para refinar o petróleo brasileiro, considerado pesado. Para tanto, seria preciso um investimento de mais US$ 1,5 bilhão! Belgas e brasileiros dividiriam a conta, a menos que…
5 – … a menos que se desentendessem! Nesse caso, a Petrobras se comprometia a comprar a metade dos belgas — aos quais havia prometido uma remuneração de 6,9% ao ano, mesmo em um cenário de prejuízo!!!
6 – E não é que o desentendimento aconteceu??? Sem acordo, os belgas decidiram executar o contrato e pediram pela sua parte, prestem atenção, outros US$ 700 milhões. Ulalá! Isso foi em 2008. Lembrem-se que a estrovenga inteira lhes havia custado apenas US$ 45 milhões! Já haviam passado metade do mico adiante por US$ 360 milhões e pediam mais US$ 700 milhões pela outra. Não é todo dia que aparecem ou otários ou malandros, certo?
7 – É aí que entra a então ministra-chefe da Casa Civil, Dilma Rousseff, então presidente do Conselho de Administração da Petrobras. Ela acusou o absurdo da operação e deu uma esculhambada em Gabrielli numa reunião. DEPOIS NUNCA MAIS TOCOU NO ASSUNTO.
8 – A Petrobras se negou a pagar, e os belgas foram à Justiça americana, que leva a sério a máxima do “pacta sunt servanda”. Execute-se o contrato. A Petrobras teve de pagar, sim, em junho deste ano, não mais US$ 700 milhões, mas US$ 839 milhões!!!
9 – Depois de tomar na cabeça, a Petrobras decidiu se livrar de uma refinaria velha, que, ademais, não serve para processar o petróleo brasileiro. Foi ao mercado. Recebeu uma única proposta, da multinacional americana Valero. O grupo topa pagar pela sucata toda US$ 180 milhões.
10 – Isto mesmo: a Petrobras comprou metade da Pasadena em 2006 por US$ 365 milhões; foi obrigada pela Justiça a ficar com a outra metade por US$ 839 milhões e, agora, se quiser se livrar do prejuízo operacional continuado, terá de se contentar com US$ 180 milhões. Trata-se de uma dos milagres da gestão Gabrielli: como transformar US$ 1,199 bilhão em US$ 180 milhões; como reduzir um investimento à sua (quase) sétima parte.
11 – Graça Foster, a atual presidente, não sabe o que fazer. Se realizar o negócio, e só tem uma proposta, terá de incorporar um espeto de mais de US$ 1 bilhão.
12 - Diz o procurador do TCU Marinus Marsico: “Tudo indica que a Petrobras fez concessões atípicas à Astra. Isso aconteceu em pleno ano eleitoral”.
13 Dilma, reitero, botou Gabrielli pra correr. Mas nunca mais tocou no assunto.
Encerro
Durante a campanha eleitoral de 2010, o então presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli, fez propaganda de modo explícito, despudorado. Chegou a afirmar, o que é mentira descarada, que o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, durante a sua gestão, tinha planos de privatizar a Petrobras.
Leram o que vai acima?

Agora respondam: quem privatizou a Petrobras?

E noto, meus caros: empresas privadas não são tratadas desse modo porque seus donos ou acionistas não permitem.

A Petrobras, como fica claro, foi privatizada, sim, mas por um partido.

Por isso, foi tratada como se fosse terra de ninguém.

15/12/2012

Gravações revelam como a quadrilha de Rose tentou tumultuar o julgamento do mensalão


Documentos exclusivos mostram como turma de Rosemary Noronha e dos irmãos Vieira tentou influenciar juízes e atenuar as penas dos mensaleiros

DIEGO ESCOSTEGUY, COM MARCELO ROCHA, MURILO RAMOS, FLÁVIA TAVARES E LEANDRO LOYOLA

 Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA deste fim de semana


Às 9h47 do dia 12 de novembro deste ano, a chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, ou Rose, ligou para Paulo Vieira, diretor da Agência Nacional de Águas, espécie de operador jurídico da quadrilha descoberta pela Polícia Federal na Operação Porto Seguro.

No telefonema de 11 minutos, interceptado pela PF e a que ÉPOCA teve acesso, os dois não discutem como vender facilidades a empresários interessados em canetadas do governo – nem a distribuição do butim da quadrilha, conforme já se revelou.

Ambos discutem o julgamento do mensalão.

Naquele dia, os ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), como já se esperava, viriam a definir as penas dos principais integrantes do núcleo político do mensalão: os petistas José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares.
Na conversa, Paulo Vieira pede a Rose que consiga o apoio de Dirceu para as articulações secretas que ele, Paulo, fazia em Brasília.

Elas tinham um objetivo claro: tumultuar o julgamento.

Ou, ao menos, impedir que os mensaleiros cumprissem suas penas.

AMIGOS Paulo Vieira e Rosemary Noronha. Eles temem pela sorte do amigo José Dirceu (Foto:  Sergio Lima/Folhapress e Jorge Araújo/Folhapress)


Capa da revista ÉPOCA - edição 761 (Foto: Reprodução/Revista ÉPOCA)
 
“Eu vou protocolar amanhã ou quarta aquela outra questão que eu queria que você mostrasse para o JD (José Dirceu). Você lembra qual é, né?”, diz Paulo Vieira no diálogo.

Embora ele não tenha especificado a que “questão” se referia, naquele momento integrantes da quadrilha dos pareceres – Paulo Vieira, o deputado Valdemar Costa Neto, condenado pelo mensalão, e o empresário e ex-senador Gilberto Miranda – movimentavam-se nos bastidores para pressionar os ministros do Supremo a mudar votos, aliviar nas penas ou acatar futuros recursos dos advogados dos réus.

Queriam até nomear um amigo para o STF, na vaga aberta pela aposentadoria do ministro Carlos Ayres Britto.

Contavam com a proximidade de Rose com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e com Dirceu, como demonstram as provas reunidas pela PF. Os delegados miravam na quadrilha dos pareceres. Acabaram acertando numa operação para melar o julgamento do mensalão.


Capa da edição 761 (Foto: ÉPOCA)
 


Na conversa, Rose sabia do que Paulo falava. Mas Paulo estava preocupado com a disposição de Dirceu em articular ao lado da quadrilha: “Não sei se o JD está com cabeça para mexer com essas coisas”. Rose o tranquiliza: “Eu vou viajar com ele (Dirceu) no feriado. Nós vamos para a Bahia. Eu converso bastante com ele. (…) Ele não pode ficar preso dentro de casa, né. A vida corre. Eu falo com ele. Eu tive com ele no feriado, eu falo com ele”. Paulo pergunta, então, como está o ânimo de Dirceu. Rose diz: “Está bastante chateado. Estão preparando umas coisas. (…) É o Gilberto Miranda que está ajudando ele. Estão fazendo várias reuniões na casa dele”. Paulo conhecia essas articulações – participava delas. “Isso eu tenho mais ou menos ideia do que eles estão falando”, diz ele. Ato contínuo, Rose conta como ficou sabendo das articulações: “Ele (Dirceu) me disse… A mulher dele (de Dirceu, Evanise Santos) disse que eles têm reunião lá na casa dele (Gilberto Miranda)”. Paulo diz: “O Gilberto Miranda é muito bem (sic) para articular, viu. (…) Eu não sabia que eles estavam apostando tantas fichas dessa questão, tá”. “Parece que tão”, diz Rose.

 
JANTARES Gilberto Miranda (à esq.) e Valdemar Costa Neto (ao lado). Eles fizeram reuniões para tentar adiar o cumprimento da pena de Valdemar (Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo )
JANTARES

Gilberto Miranda (à esq.) e Valdemar Costa Neto (ao lado).
Eles fizeram reuniões para tentar adiar o cumprimento da pena de Valdemar


(Foto: Dida Sampaio/Estadão Conteúdo )
 

Paulo sonda Rose sobre a eventual participação de Lula nas operações de bastidores para melar o julgamento.

De acordo com a PF, quando ambos falam de “Deus”, é a Lula que se referem.

Segue-se o diálogo:

– Eu não sabia que o JD (Dirceu) tava dando esse peso todo para o Giba (Gilberto Miranda), não. Mas eu continuo apostando que o melhor peso que tem é o… Deus, viu – diz Paulo.
– É, mas ele não vai fazer absolutamente nada – responde Rose.
– Você está achando que Deus não está a fim de…
– Não! Eu acho que não está a fim, não.
– É! Às vezes ele tem medo de arrumar confusão, né, Rose?

Antes que Rose explicasse a que problemas se referia, Paulo a interrompe. Diz que eles não podem “falar essas coisas por telefone”. Paulo, porém, não seguia o próprio conselho. Muito menos os demais integrantes da turma conhecida como quadrilha dos pareceres – uma turma que, agora se descobre, era bem mais influente do que se imaginava.

ÉPOCA teve acesso, com exclusividade, ao relatório que a PF preparou sobre todas as autoridades que conversavam com integrantes da quadrilha ou eram por eles citadas – aqueles que fazem jus a foro privilegiado na Justiça.

No documento de 98 páginas, há um capítulo para cada uma das 18 autoridades. Cada capítulo descreve em detalhes as circunstâncias em que elas aparecem nas investigações.

Estar no relatório, é bom deixar claro, não significa integrar a quadrilha; nem é prova de algum crime – embora, em alguns casos, como de Valdemar Costa Neto, as evidências sejam fortes.

Como essas autoridades têm o privilégio de ser investigadas e, eventualmente, julgadas nos tribunais de Brasília, os delegados da PF enviaram o relatório, na quarta-feira da semana passada, ao presidente do STF, Joaquim Barbosa, e ao procurador-geral da República, Roberto Gurgel. Caberá aos dois avaliar se há elementos suficientes para iniciar uma investigação.

Há integrantes das cúpulas dos Três Poderes no relatório. Isso demonstra o trânsito privilegiado da quadrilha em Brasília.

Há ministros do governo Dilma, como Luís Inácio Adams, da Advocacia-Geral da União, coração do esquema na capital (leia o quadro abaixo).

Há ministros do Superior Tribunal de Justiça (STJ) e do STF, como Dias Toffoli, antecessor de Adams na AGU.

Há seis deputados federais, entre eles Valdemar Costa Neto, além do presidente do Senado, José Sarney.

Há, finalmente, prefeitos, como Gilberto Kassab, de São Paulo – ele pede a Gilberto Miranda, segundo a PF, ajuda para uma indicação ao STJ.

O relatório traz, em suma, um catálogo do poder. Quanto mais se aproxima do poder, mais revela a trama para salvar os mensaleiros.

Os telefonemas e e-mails captados pela PF demonstram que a quadrilha se preocupava com os rumos do julgamento antes mesmo que ele começasse.

No dia 10 de junho de 2012, às 17 horas, os irmãos Paulo e Rubens Vieira, ambos indiciados pela Polícia Federal e denunciados pelo Ministério Público, conversaram por 12 minutos sobre o mensalão.

Quatro dias antes, o Supremo definira o cronograma do julgamento. Os dois tentavam antever a posição de alguns ministros no julgamento previsto para iniciar-se em agosto.

Falaram sobre as expectativas de que fossem definidas penas mínimas.

Paulo diz que seria interessante a transmissão das sessões. “Sabe por quê? Os ministros vão explodir de vaidade, moço. Se um ministro explodir de vaidade, vai brigar um com outro”, diz ele. Rubens concordou: “Vai, vai”.

Paulo afirmou: “O ideal é isso aí, porque todo mundo já sabe que o julgamento é político e que eles não vão sair de lá ilesos. Então, o negócio agora é tumultuar o processo”.

Duas horas depois, Paulo ligou para Rose. Ela contou que almoçara com Dirceu no feriado de Corpus Christi (7 de junho).

Segundo ela, Dirceu fizera uma previsão de ser condenado a quatro anos de prisão. “Ele (Dirceu) está mais aliviado que marcou. Agora, tem uma conversa que foi à revelia, sem o cara saber, que o Toffoli não sabia, tava inclusive voando para São Paulo e a Ivanise (Evanise Santos, a mulher de Dirceu) viu ele no avião, no horário da reunião”, diz Rose.

Trata-se da reunião administrativa entre os ministros do STF, em que se definiu que o julgamento aconteceria no segundo semestre.

Apesar da narrativa de Rose, Toffoli fora avisado da reunião pelo então presidente da corte, ministro Carlos Ayres Britto. Não compareceu.


a mensagem investigação 761 (Foto: reprodução Revista Época)

As primeiras semanas do julgamento, entre agosto e setembro, mostraram quão equivocada era a relativa confiança da quadrilha de que Dirceu e Valdemar se safariam.

Naquele momento, as condenações sucediam-se diariamente. Estava evidente que os principais réus, aqueles de quem Paulo e seus comparsas dependiam politicamente, seriam condenados.

Paulo resolveu, então, “cuidar da parte política”. O primeiro alvo, segundo as gravações, foi o ministro Dias Toffoli. Na noite de 27 de setembro, a PF interceptou um e-mail entre carla.margarida@bol.com.br e guatapara.sp@bol.com.br.

Os dois endereços eletrônicos eram usados por Paulo para se comunicar com diferentes advogados próximos à quadrilha.

A PF não conseguiu identificar a quem Paulo se dirigiu ao escrever o e-mail. Na mensagem – Assunto: “Urgente”–, discutiu-se o julgamento do mensalão e o caso de Valdemar.

De acordo com o texto, Valdemar, já condenado pelo crimes de lavagem e corrupção passiva, precisaria de quatro votos favoráveis na acusação de formação de quadrilha.

Isso abriria espaço para recurso.

“Gostaria de conseguir o voto do ministro Toffoli, pois assim conseguimos completar, pois o Marco Aurélio irá votar a favor dele”, diz o texto.

Toffoli seria o primeiro a votar na sessão seguinte. O e-mail se encerra com um apelo: “É uma questão de vida ou morte, minha irmã (…) Fale que ele já ajudou muito um familiar seu, que você ama muito”.

Não se sabe se o e-mail foi endereçado a uma advogada ou a Rose.

O voto de Toffoli, naquele momento, não era óbvio. Lewandowski, com quem Toffoli sempre votava, condenara Valdemar nesse crime. Toffoli votou por sua absolvição do crime de formação de quadrilha. Fez o mesmo em relação aos demais réus do núcleo político.

Valdemar, ao fim, pegou sete anos e dez meses de pena – condenação que o livra, por pouco, da cadeia. Não há evidência no relatório de que o “trabalho político” de Paulo tenha tido qualquer influência na decisão de Toffoli.

Caberá a Gurgel decidir se é o caso de investigar o assunto.

Procurado por ÉPOCA, Toffoli afirmou que não tem conhecimento dos diálogos da Operação Porto Seguro e que não tem “relacionamento” com Paulo Vieira.

Ele afirmou que “conhece Rosemary Nóvoa de Noronha e Evanise Santos, sendo que ambas trabalharam na Presidência da República”, onde Toffoli também trabalhou no primeiro mandato de Lula.

Quanto às menções ao julgamento do mensalão, Toffoli afirmou que recebeu os advogados de defesa dos réus para entrega de memoriais, incluindo o advogado Marcelo Bessa, defensor de Valdemar.

“Tal fato é da rotina do julgamento de qualquer processo”, disse.

No início de novembro, quando os ministros terminavam de definir as penas dos réus já condenados, a quadrilha entrou em pânico.

E bolou novas formas de livrar os mensaleiros.

Paulo e Valdemar, que trocaram ao menos 38 telefonemas e se encontraram múltiplas vezes no curso do julgamento, eram os mais preocupados.

É nesse momento que foi acionado o empresário Gilberto Miranda. Segundo a PF, ele patrocinava as propinas do grupo e usava a influência que detinha junto aos senadores do PMDB para fazer negócios no governo – e tentar ajudar os mensaleiros.

No dia 1º de novembro, Miranda entrou em ação. Receberia Sarney para um jantar em sua casa, de modo, segundo Miranda, a conversar sobre a defesa dos mensaleiros – e, segundo Paulo, a “segurar” o julgamento.

No final da tarde, Sarney ligou para Miranda e confirmou presença no jantar.

Naqueles dias, Miranda trabalhava para que o jurista Saulo Ramos apresentasse recursos no processo do mensalão.

A atuação de Ramos, segundo Miranda, poderia “segurar em três anos” a execução da pena de Valdemar.

Por meio de sua assessoria, o senador José Sarney afirmou que não conversou com Valdemar Costa Neto nem atuou para que o amigo Saulo Ramos entrasse em sua defesa.

“O jantar foi rotineiro encontro social entre amigos. Saulo e Gilberto são amigos de muitos anos do presidente Sarney. Vez por outra jantam juntos. O presidente Sarney não faz gestões para que Saulo Ramos atue em defesa de ninguém.”

Valdemar diz que conversou com Sarney sobre a contratação de Ramos – mas que, até agora, nada prosperou. Ramos não confirma ter ido a um jantar com Sarney e Miranda, embora admita ser “íntimo” de ambos.

Nos momentos finais do julgamento, a quadrilha tornou-se agressiva nos comentários – e nas ofensivas aos ministros.

Num diálogo de 4 de novembro, Miranda afirma, sobre os ministros Ricardo Lewandowski e Joaquim Barbosa: “Lewandowski é muito fraco, é uma porcaria, ficou atabalhoado, e aquele ‘crioulo’ (sic) ficou citando página tal, página tal, que não tem nada a ver”.

No dia 22 de novembro, pouco antes de a Operação Porto Seguro ser deflagrada, os diálogos revelam a tentativa da quadrilha de influenciar o voto de Lewandowski sobre Valdemar.

Paulo Vieira chama essa tentativa de “missão São Bernardo”, referência à região de origem de Lewandowski e às boas relações entre as famílias dele e de Luiz Marinho, atual prefeito da cidade paulista.

Nos telefonemas, Paulo orienta Valdemar a pedir ajuda a Marinho e diz como ele deveria conversar com Marinho: “É que o senhor precisa de uma força. Ele (Marinho)…com uma palavra resolve isso aí. As famílias são próximas, entendeu?”.

Quatro dias depois, Lewandowski daria seu voto em relação à aplicação da pena a Valdemar, já condenado por corrupção passiva e lavagem de dinheiro.

Quase três horas depois dessa conversa, Valdemar liga para Paulo Vieira, a fim de contar como foi a reunião com Luiz Marinho. Diz que ele (Marinho) já havia entrado em contato com o cara (Lewandowski). “Já mandou levar...porque não dá tempo, né, Paulo? É segunda-feira”, afirma Valdemar. “Já mandou levar o memorial lá, já falou com o cara, que trabalha..que o cara nomeou um lá. Ele mandou por torpedo. Aí o cara eu já mandei, falei que vai o Fabeti. Eu liguei pra Fabeti pra levar o material na mão dele (…) Você tinha razão.”
A PF grafou equivocadamente o nome do advogado Rafael Favetti, que integra a equipe jurídica de defesa de Valdemar no processo do mensalão. Procurado por ÉPOCA, Favetti afirma ter sido orientado por Valdemar a procurar o ministro Lewandowski no dia seguinte.

“Entreguei o memorial a um assessor do ministro Lewandowski. Mas entreguei o memorial a outros ministros também”, disse Favetti. Lewandowski nega ter sido procurado por Marinho, embora o conheça. “Fui rigoroso no julgamento com o deputado Valdemar. Se havia alguma articulação, o tiro saiu pela culatra”, afirmou.

Lewandowski condenou Valdemar a sete anos e dez meses pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro. Foi seguido pela maioria dos ministros. Apesar da clareza dos diálogos, Valdemar e Marinho negam ter conversado sobre o mensalão no encontro.

A ousadia dos mensaleiros também veio a público na terça-feira da semana passada, quando o jornal O Estado de S. Paulo publicou detalhes do depoimento que o operador do esquema, Marcos Valério, deu à Procuradoria-Geral da República (PGR) no dia 24 de setembro.

Nele, Valério incrimina o ex-presidente Lula. Diz, entre outras coisas, que Lula deu um “ok” para a liberação do dinheiro do mensalão – e que pagou suas despesas pessoais. Lula e os demais envolvidos negaram com veemência as acusações de Valério.

Nos últimos dois meses, ÉPOCA investigou, com seis pessoas próximas ao caso e a Valério, os bastidores desse movimento desesperado. Valério decidiu entregar à PGR o que dizia saber sobre Lula não para tentar diminuir sua pena no mensalão, mas nos demais processos que ainda enfrenta por causa do esquema. E também, ao menos na avaliação de Gurgel, para tumultuar o andamento do julgamento do mensalão.

Há três semanas, Valério prestou novo depoimento ao MP, contando mais detalhes e apresentando mais provas do que disse. Gurgel, porém, ainda acha inconsistentes tanto a versão narrada por Valério quanto as (poucas) provas apresentadas até agora por ele. A cautela de Gurgel, aparentemente, tem razão de ser.

A dois amigos, Valério disse que não entregou tudo o que tem ao MP. “Eu morro se fizer isso”, disse a eles. Valério também disse a Gurgel que morreria se contasse tudo. “Acho que ele quer apenas tumultuar o julgamento”, disse Gurgel a colegas. Não é o único. 

 
PALESTRAS O advogado-geral da União, Luís Inácio Adams, e seu ex-adjunto, José Weber Holanda. Adams não vê conflito de interesses em dar conferências em escritórios de advocacia (Foto: Andre Dusek/Estadão Conteúdo e Paulo de Araújo/CB/D.A Press )


sexta-feira, 14 de dezembro de 2012

Charge



roque sarney

Vídeo que circula em Portugal sobre o ex-presidente Lula



Marcos Valério e Cachoeira é pouco? Vieira, mais um quadrilheiro ameaça o PT



Estadão
CoroneLeaks

Apontado pela Polícia Federal como chefe da máfia dos pareceres, o ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) Paulo Rodrigues Vieira quer agora negociar uma delação premiada com o Ministério Público.

Vieira ameaça contar detalhes do esquema e envolver novos personagens no escândalo revelado pela Operação Porto Seguro, que também derrubou a então chefe de gabinete da Presidência em São Paulo, Rosemary Noronha.

Em conversas reservadas, o ex-diretor da ANA disse que não sairá do caso como chefe de quadrilha e promete denunciar gente “mais graúda”.

Com isso, ele espera obter do Ministério Público um tratamento menos severo e empurrar para outros a posição de comando do grupo, que praticava tráfico de influência nos bastidores do poder.

Na prática, quer algum benefício legal no futuro, como a redução de pena, caso seja condenado.

Vieira trocou o advogado Pierpaolo Bottini pelo defensor Michel Darre, no intuito de apresentar uma estratégia mais agressiva de defesa. Bottini afirmou que deixou o caso por motivos pessoais.

Darre, por sua vez, disse que ainda está estudando o processo. “Há muita coisa a ser levantada e eu pedi a meu cliente para ter paciência”, comentou o advogado.

“Entrei no processo para verificar qual a melhor medida a ser tomada.”

O ex-diretor da ANA foi indiciado pela Polícia Federal por crimes de corrupção ativa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e formação de quadrilha.

Ele e seu irmão Rubens deixaram a prisão no último dia 30, beneficiados por habeas corpus. Rubens era diretor da Agência Nacional de Aviação Civil (Anac) e atuava como consultor jurídico do grupo, que tinha ramificações na Advocacia-Geral da União (AGU) e em várias repartições públicas, para venda de pareceres fraudulentos a empresários.

Um dos “clientes” era o ex-senador Gilberto Miranda (PMDB).

A Polícia Federal suspeita agora que Rosemary Noronha, também indiciada, e os irmãos Vieira tenham praticado lavagem de dinheiro para ocultar bens adquiridos de forma ilícita.

Rose foi nomeada pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva - de quem é muito próxima desde os anos 90 - e conseguiu com ele a indicação de Paulo e Rubens para as agências reguladoras.

Em e-mails trocados com Paulo, Rose se referia a Lula como “PR” e pedia dinheiro. Nessas mensagens, expressões cifradas como “livros”, “exemplares” e “volume” eram usadas para designar verba.

Investigações da PF mostram que a máfia dos pareceres financiou para Rose um cruzeiro (R$ 2,5 mil), uma cirurgia no ouvido (R$ 7,5 mil), um Pajero (R$ 55 mil), móveis para a filha (R$ 5 mil) e o pagamento da dívida de um carro de seu irmão (R$ 2,3 mil), além de outras despesas.

Gilberto Miranda entrou no esquema para conseguir vantagens e aumentar o lucro de seus negócios.

O ex-senador se beneficiou da compra de pareceres para a ocupação de duas ilhas: a de Bagres, em Santos, e a de Cabras, em Ilhabela, onde construiu uma mansão.

Foi na ilha de Bagres, área de proteção permanente, que Miranda obteve aprovação de um projeto para a construção de um complexo portuário, em 2013, no valor de R$ 2 bilhões.

A presidente Dilma Rousseff está preocupada com os desdobramentos do caso, que também derrubou José Weber Holanda, até então braço direito do advogado-geral da União, Luís Inácio Adams.

Weber atuava com Paulo para ajudar Miranda. Antes de anunciar o pacote dos portos, na semana passada, Dilma convocou uma força-tarefa para fazer um pente-fino nas medidas e evitar surpresas.

Até a crise, Adams era cotado para ocupar uma vaga no Supremo Tribunal Federal. Hoje, está desgastado.


Na Esplanada, ministros temem que a análise de computadores apreendidos no escritório da Presidência, em São Paulo, envolva novas repartições no escândalo.

Depois do depoimento do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza à Procuradoria-Geral da República, apontando o dedo para Lula no mensalão, sem provas, petistas estão apreensivos com a escalada de denúncias.


13.12.2012

quinta-feira, 13 de dezembro de 2012

A apuração se impõe



Opinião do Estadão


Imagem: Abobado
Embora nada contenham de realmente novo, são graves demais para não serem rigorosamente investigadas as denúncias do publicitário Marcos Valério Fernandes de Souza sobre o envolvimento pessoal do então presidente Luiz Inácio Lula da Silva com o mensalão.

Como revelou anteontem este jornal, em 24 de setembro passado o operador do esquema, condenado na antevéspera pelo Supremo Tribunal Federal (STF), mas antes de ser apenado a 40 anos de prisão, procurou a Procuradoria-Geral da República para acusar Lula de praticamente tudo de que ele já foi acusado desde que o ex-guerrilheiro e fundador do PT Paulo de Tarso Venceslau foi expulso do partido por ter revelado, de público, o método petista de governar visando, a qualquer preço, à maior permanência possível no poder e à ampliação máxima da esfera do governo.

De novo, realmente, apenas as despesas pessoais de Lula bancadas por dinheiro sujo do PT.

Além disso, no depoimento que se estende por 13 páginas, Valério fez ainda diversas outras afirmações, entre elas a de que Paulo Okamotto, amigo próximo de Lula e atual diretor do instituto que leva o seu nome, o teria ameaçado de morte se não se "comportasse".

Em Paris, onde foi colhido pela notícia, Lula se limitou a dizer que é tudo "mentira". Para a presidente Dilma Rousseff, trata-se de uma "lamentável" tentativa de destituir o antecessor da "imensa carga de respeito" do povo brasileiro por ele.

O presidente petista, Rui Falcão, declarou que "a mídia e o Ministério Público não deveriam dar crédito a alguém que, condenado, tenta reduzir suas penas caluniando o PT". Aqui e ali, talvez para fomentar uma conveniente confusão, se disse que o Estado "denunciou" Lula.

O que o jornal fez foi apenas noticiar com apropriado destaque as denúncias de Valério.

A desqualificação do denunciante, por sua vez, visa claramente a impedir que as suas imputações sejam apuradas.

O que conta, como também é óbvio, não são os motivos que o levaram a falar aos procuradores, mas o que possa haver de verdadeiro nas suas palavras.

A título algum, portanto, podem ser descartadas de antemão, por ser o que é quem as proferiu. Assim se manifestaram o presidente do STF, Joaquim Barbosa (que teve acesso "oficiosamente" ao texto), e dois de seus pares, os ministros Gilmar Mendes e Marco Aurélio Mello, ao defender que Lula seja investigado. A decisão cabe ao procurador-geral Roberto Gurgel.

Ele vai esperar o término do julgamento do mensalão, na próxima semana, para resolver se tomará a si a incumbência ou se a encaminhará a uma instância inferior do organismo, dado que Lula, ex-presidente, não goza de foro privilegiado.

Estará decepcionando quem passou a admirá-lo pela atuação que teve no caso do mensalão, se decidir pelo arquivamento das denúncias. Pressões nesse sentido não faltarão.

No julgamento do mensalão, Dilma instruiu a sua equipe a não se manifestar — o assunto, argumentou, não envolvia o seu governo.

Desta vez, porém, fez saber que o Planalto se engajará na blindagem de Lula, desacreditando aquele que, pela primeira vez — e com presumível conhecimento de causa — apontou o dedo para o antecessor.

A base aliada não perdeu tempo em fazer a sua parte, a começar do titular do Senado, José Sarney. Quando esteve no pelourinho por irregularidades na Casa, anos atrás, Lula disse que ele não poderia ser tratado como "uma pessoa comum".

Sarney acaba de retribuir a barretada, alçando Lula à condição de "patrimônio do País". Bons democratas que são, cada qual, portanto, considera o outro invulnerável por definição.

A rigor, foi o que o ex-presidente vinha conseguindo, ao se manter no vestíbulo dos escândalos que inundavam a copa e a cozinha de seu governo e as dependências em geral de seu partido.

A mágica, ao que tudo indica, parou de funcionar. Algo realmente novo e mais grave do que tudo que se sabia até agora surgiu há cerca de três semanas, quando a Polícia Federal expôs os malfeitos da namorada de Lula, Rosemary Noronha, na chefia do escritório da Presidência da República em São Paulo, em que ele a colocou.

Agora vem Marcos Valério pôr em xeque mais uma vez o alegado alheamento de Lula das enormidades que os seus principais companheiros cometiam em benefício do governo petista.

Essa história está apenas começando.
13 dezembro, 2012

PT considera inevitável investigação contra Lula


Ex-presidente vai se defender em caravanas pelo país


Júnia Gama
o globo


Lula da Silva discursa no Fórum do Progresso Social, em Paris
Ricardo Stuckert/Instituto Lula

BRASÍLIA Com as novas acusações feitas por Marcos Valério, operador do mensalão, em depoimento dado em setembro ao Ministério Público, dirigentes do PT e fontes palacianas, inclusive os mais próximos ao ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, consideram nos bastidores que será inevitável uma investigação contra ele.

Para enfrentar os escândalos dos últimos meses, Lula disse a amigos que sua ação de defesa mais enfática começará em fevereiro ou março de 2013, quando voltará a fazer pelo país as caravanas que ficaram famosas em suas primeiras campanhas ao Palácio do Planalto. O ex-presidente considera que a melhor forma de responder às acusações é conversar diretamente com o povo e defender o seu legado.
Diante da crise política que vem minando a imagem do ex-presidente, o PT também aposta que a reedição das caravanas, com o esperado fortalecimento do apoio popular, pode blindar Lula do ataque da oposição e ajudar o partido.

O sinal vermelho no “QG Lulista” foi aceso após o último escândalo envolvendo Lula, o da Operação Porto Seguro, que indiciou Rosemary Noronha, ex-funcionária da Presidência da República em São Paulo e próxima ao ex-presidente.

Este episódio soma-se ao julgamento do mensalão, que provoca sério desgaste a Lula e ao PT, e, agora, a seus desdobramentos, como o novo depoimento de Marcos Valério — ele sustenta, segundo o jornal “O Estado de S. Paulo”, que Lula sabia do esquema e teve contas pessoais pagas por ele.


Candidatura de lula em 2014 fora dos planos

Segundo interlocutores do ex-presidente, ele quer muito levar adiante o projeto das caravanas, para resgatar sua imagem. A ideia é mostrar que se trata do “mesmo Lulinha de antes” e defender uma perspectiva de futuro, já que o núcleo petista admite que o partido sai avariado das sucessivas denúncias e escândalos.

Com a retomada das viagens, que Lula empreendeu pela primeira vez durante os anos 1990, pretende-se conseguir uma mobilização popular para manter alta a aprovação do ex-presidente e fortalecê-lo como cabo eleitoral do partido.

Essas mesmas fontes, que têm contatos frequentes com o ex-presidente, afirmam que não há hipótese de Lula ser candidato a presidente em 2014. Com as caravanas, o seu intuito seria somente o de consertar o estrago em sua imagem durante este ano, considerado “duro politicamente”, para continuar sendo eficiente como “garoto propaganda” do PT e do grupo aliado.

Muitas desses interlocutores de Lula já estão defendendo, reservadamente, que o PT abra mão da cabeça de chapa da disputa presidencial de 2018, embora seja ainda enorme no partido a resistência a essa tese. O próprio Lula, em conversas com seu grupo e com a presidente Dilma Rousseff, reconhece que o PT chegará desgastado em 2018 — já se levando em conta a eventual reeleição de Dilma em 2014.

Com a crescente preocupação de petistas a respeito dos movimentos do governador de Pernambuco, Eduardo Campos, dirigentes petistas já trataram com Lula a ideia de que o presidente de honra do PSB — um aliado histórico do PT — já deve ter uma sinalização de que, no campo governista, terá preferência em 2018. É uma forma, dizem os petistas, de impedir desde já que o PSB leve adiante o projeto de candidatura própria ou caia nos braços da oposição, e se mantenha no apoio à reeleição da presidente Dilma.

Negociação com psb pode afastar PMDB

A intenção de Lula seria, segundo seus amigos no PT, promover uma forte, mas ainda discreta, negociação com o governador de Pernambuco e presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, para que ele permaneça aliado em 2014, com perspectiva de poder em 2018. É também um sinal de que pode haver distanciamento do PMDB, que já anunciou projeto de candidatura própria em 2018.

No núcleo mais próximo a Lula e Dilma, avalia-se que a alternância do poder com o PSB seria mais natural, o que poderia ajudar a renovar o projeto do PT — comprometido pelo impacto de denúncias de corrupção e pelo longo tempo de permanência à frente do Palácio do Planalto.

Os planos de Lula — retomar as chamadas “caravanas da cidadania” e articular alianças para eleições — foram expostos por ele em conversas recentes com os companheiros de partido e, estrategicamente, vem sendo comentados em rodas políticas. Soam como um aviso aos opositores de que Lula não vai se abater facilmente e pretende explorar seu capital político, fortalecendo sua popularidade.

Mesmo com todos os desmentidos enfáticos de petistas, é grande a preocupação no núcleo do governo e do PT com as novas declarações do operador do mensalão ao Ministério Público. Mais até do que o escândalo anterior, que envolveu a funcionária de confiança de Lula em São Paulo.

Charge



 Amarildo




Bizarro cordão sanitário na Europa: imprensa é mantida a distância de Lula. O orador loquaz é lacônico sobre acusações de Marcos Valério, operador do mensalão




A assessoria de Luis Inácio Lula da Silva não tem medido esforços para manter a imprensa distante do ex-presidente. Longe do Brasil, Lula está na Europa desde que Rosemary Noronha, ex-chefe do escritório da Presidência da República em São Paulo, mulher de confiança do ex-presidente, foi indiciada por corrupção, tráfico de influência, falsidade ideológica e formação de quadrilha.

As medidas de isolamento — lembram um bizarro cordão sanitário com seguranças nervosos — aumentaram desde terça-feira, 11 de dezembro, quando O Estado de São Paulo revelou detalhes do depoimento do publicitário Marcos Valério à Procuradoria Geral da República.

O operador do mensalão e condenado pelo Supremo Tribunal Federal a mais de 40 anos de prisão, declarou que o dinheiro do esquema – que comprou voto de parlamentares do Congresso Nacional entre 2003 e 2005 – também serviu para pagar “despesar pessoais” do ex-presidente e que Lula deu “ok” para os empréstimos com os bancos BMG e Rural que viriam a irrigar o esquema.

O empresário mineiro afirmou também que foi ameaçado de morte por Paulo Okamotto, o presidente do Instituto Lula que junto com a Fundação Jean Jaurés co-organizou em Paris, o Fórum do Progresso Social. Lula foi convidado de honra do evento com lugar de destaque na abertura e encerramento, quando discursou.

Até que detalhes do depoimento de Valério tornarem-se públicas, as poltronas para os jornalistas eram próximas do palco. Desde então, o lugar reservado a imprensa passou a ser uma área vigiada por seguranças, no fundo do auditório.

Lula fez um discurso a seu estilo, no qual os ingrediente demagógicos são conhecidos de cor nos mais fundos rincões do Brasil. O show ainda é novidade em Paris.

Divertiu a platéia com tiradas jocosas e chegou arrancar aplausos quando disse que não entendia por que a ONU de 1948 conseguiu criar o Estado de Israel e a ONU de 2012 não consegue proclamar o Estado Palestino. Jactou-se ao relatar que rodou o mundo inteiro.

“Fui até no Timor Leste, embora sem saber bem o que fazer lá”, confessou.

Lula continua orador verboso sobre suas histórias. A novidade agora é dizer que seu “câncer não foi 100% curado” o obriga tomar mais água, senha para o amigo Paulo Okamotto subir ao palco com uma garrafinha de mineral.

No que diz respeito as acusação de Marcos Valério, o ex-presidente continua lacônico. Terminada a fala que durou uma hora e 20 minutos, driblou a imprensa cercada por seguranças, e saiu pelos fundos.

Antes de voltar para São Paulo, na sexta-feira, 13 de dezembro, Lula fará escala em Barcelona. “Coisa rápida”, diz o assessor José Crispiano que se joga em último recurso, de corpo e alma, entre os jornalistas e seu chefe. Isso nos momentos em que, aparentemente, se considera a Cruz Vermelha – pelos modos gentis, está mais para a Sétima de Cavalaria.

Na capital da Catalunha, o ex-presidente receberá o 24º Prêmio Internacional do governo autônomo espanhol que recentemente se declarou falido. Lula irá recolher 80 mil euros e uma escultura de Antoni Tàpies. Um jornalista telefonou para saber qual era a agenda do ex-presidente na segunda maior cidade do reino de Juan Carlos.

Foi informado que a assessoria de Lula havia dado instruções que agenda do ex-presidente era fechada. Sabe-se lá o que isso quer dizer.


12/12/2012

quarta-feira, 12 de dezembro de 2012

Língua nos dentes



Língua nos dentes
Dora Kramer
O Estado de S.Paulo

Ás do volante na ultrapassagem de obstáculos, o ex-presidente Luiz Inácio da Silva agora está diante de um quase intransponível: a abertura de inquérito policial para investigar as denúncias feitas por Marcos Valério Fernandes de Souza à Procuradoria-Geral da República, apontando Lula como ator principal do mensalão.

Se o operador do esquema disse a verdade ou se mentiu não é algo que possa ser revolvido com negativas, tentativas de desacreditar o acusador ou acusações sobre conspirações de natureza política.

Inclusive porque a história está muito mais "amarrada" do que deixam transparecer o Ministério Público e o Supremo Tribunal Federal. Roberto Gurgel tomou outro depoimento de Marcos Valério além daquele revelado ontem pelo Estado.

No curso do julgamento, o STF fez reuniões administrativas ainda sob a presidência de Carlos Ayres Britto para tratar do assunto.

Ficou acertado o início do processo de negociação da delação premiada, mas mantido em sigilo para impedir que novos fatos interferissem no julgamento em curso e que agora está na fase de conclusão.

A depender da qualidade das informações que venha a fornecer, Marcos Valério terá benefícios nos processos relativos ao mensalão em tramitação na primeira instância e em novos que venham a ser abertos.

Mas é possível que obtenha do relator Joaquim Barbosa um regime especial de prisão (cela isolada ou na companhia de preso com curso superior, acesso facilitado a visitas, direito a livros e televisão) na hora da definição da execução da pena.

Não por acaso esse assunto foi ventilado há poucos dias no STF. A forma de cumprimento das sentenças ficará a cargo de Barbosa e não de juiz de vara de execuções.

Embora Valério não seja visto como testemunha confiável, seu melhor ou pior destino está atrelado às provas que possa apresentar. Ele mentiu muito, prometeu demais, entregou quase nada e agora sua única chance de salvar em parte a pele é falar a verdade.

Por que não falou antes? Primeiro porque o advogado dele era contra o recurso da delação e, segundo, porque percebeu tarde que a rede de proteção prometida pelo PT não existia.

Condenado a 40 anos e com a perspectiva de passar o resto da vida na cadeia devido aos outros processos, a única opção era tentar reduzir os danos. Como o mensalão propriamente dito já estava desvendado, de novidade relevante só o papel de Lula.

Agora o Ministério Público tem dois caminhos: arquivar o caso ou pedir ao Supremo que determine abertura de investigação.

Para arquivar, no entanto, é preciso que não reste dúvida sobre a existência de indícios de que houve crime. E os vestígios estão presentes em pelo menos um dos episódios narrados por Marcos Valério.

É o caso do depósito de "cerca de R$ 100 mil" na conta da empresa Caso, segundo Valério, para pagar despesas pessoais do então presidente da República.

Na quebra de sigilo ordenada pela CPI dos Correios, em 2005, aparece o registro de R$ 98.500 depositados na firma de propriedade de Freud Godoy assessor direto de Lula, coordenador de segurança de suas quatro campanhas presidenciais e até 2006 com sala no Palácio do Planalto.

Um personagem complicado, obrigado a se demitir quando foi apontado por um dos "aloprados" presos com dinheiro para compra de dossiê contra adversários políticos como o mandante do negócio.

Esse e outros relatos de Marcos Valério por si acionam os botões da engrenagem investigativa que, como uma máquina quando ligada, funciona à revelia das vontades.

Lula poderá de novo alegar que não sabia de nada?

Poderá, mas desta vez há personagens notórios demais, detalhes verossímeis demais e um arsenal imponderável demais nas mãos de um homem que, além de não ter nada a perder, não esquece os maus bocados vividos em experiência traumática na cadeia.

Ouvir Valério? Não. Aprovado convite para ouvir FHC e Gurgel



Comissão mista barrou convocação de Adams, Gleisi e Rosemary


Por Ricardo Noblat 
Fernanda Krakovics
e Is
abel Braga
O Globo

Em ação articulada, a base aliada conseguiu adiar nesta quarta-feira a votação, na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) do Senado, para convocar o publicitário Marcos Valério para prestar esclarecimentos sobre as acusações feitas, em depoimento à PGR, de que o ex-presidente Lula deu aval para o esquema de desvio de recursos públicos para financiar o PT e comprar apoio no Congresso.

Mais tarde, na Comissão Mista de Controle das Atividades de Inteligência, parlamentares da base também evitaram a convocação dos ministros da Advocacia-Geral da União, Luís Inácio Adams, e da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, além do convite à ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary Noronha, derrotando requerimentos apresentados pela oposição.

Ao mesmo tempo, conseguiram aprovar convite para ouvir o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o atual procurador-geral da República, Roberto Gurgel.

- Se eles querem guerra, vão ter! É a primeira vez que participo desta comissão e gostei - afirmou o líder do PT na Câmara, Jilmar Tatto (SP), autor do requerimento de convite relativo ao ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

Em seu requerimento, Tatto usou como argumento para chamar o ex-presidente tucano para esclarecer dúvidas em relação à chamada Lista de Furnas. Segundo o líder petista, a lista traz nomes de pessoas ligadas ao governo tucano que teriam recebido recursos ilegais.

- É o esquema de financiamento de campanha do PSDB. Recursos para a campanha presidencial do Fernando Henrique em 1998. Sempre dizem que a lista é falsa, mas um perito analisou recentemente e disse que é verdadeira. Essa comissão serve para pensar para o futuro. Nada melhor do que convidar o presidente para explicar os fatos, a influência do ex-presidente sobre Furnas e Eletrobrás, como se deu essa relação e evitar que isso volte a acontecer no Brasil - justificou Tatto.

Como são convites e não convocações, nem Fernando Henrique, nem Gurgel precisam comparecer. No caso de Gurgel, o autor foi o presidente da Comissão de Mista de Inteligência, Fernando Collor (PTB-AL), que tentou a convocação na CPI do Cachoeira e não conseguiu. Collor defendeu o convite argumentando que Gurgel poderá explicar melhor à comissão como é a interação entre o Ministério Público e a Policia Federal e citou operações recentes como a Vegas e Monte Carlo.
12.12.2012


Vejam quem está de novo na área! O ex-jornalista Franklin Martins! E ele só pensa naquilo: regular a mídia…





Por Reinaldo Azevedo

Quando ainda jornalista, Franklin Martins era um entusiasta da tese de que o mensalão nunca existiu.

Quando a sua luta com os fatos ficou escancarada, foi demitido da Globo.

Depois de uma passagem pela Band, encontrou o seu lugar: ministro da Comunicação Social de Lula.

Não se duvide de que foi eficiente para fazer aquilo que fez.

Centralizava a assessoria de imprensa, a rede oficial de notícias (Agência Brasil e LulaNews) e, sobretudo, a publicidade oficial, inclusive a das estatais.

É no seu mandarinato que ganha impulso essa modalidade exótica de subimprensa: sites, blogs e veículos financiados com dinheiro público para difamar os “inimigos do regime”.

Ele saiu, mas a prática continuou.

A linguagem ficou ainda mais violenta.

As baixarias se exacerbaram.

Franklin fazia a “luta” parecer um embate ideológico.

Sem a sua orientação, é lama pura.

Franklin voltou à cena, informa o Painel, da Folha. Os amigos de Lula o querem como porta-voz do ex. Mas ele esteve também com Dilma. O homem promete lutar no Congresso para aprovar o seu marco regulatório para a mídia. Será que Dilma não está mais convencida de que basta o controle remoto?

Pois é…

Franklin volta, ainda que informalmente?

Quem sabe seja didático em certos casos.

Havia gente por aí que parecia convencida de que existe diálogo entre a corda e o pescoço.

Eu acho que não há. Leiam as notas do Painel.
O especialista

Preocupados com o abalo na imagem de Luiz Inácio Lula da Silva em razão do Rosegate e do novo depoimento de Marcos Valério ao Ministério Público, envolvendo o ex-presidente no mensalão e em outras acusações, amigos de Lula o aconselharam a contratar o ex-ministro Franklin Martins como seu porta-voz.

A avaliação de petistas é que os atuais assessores de Lula não têm experiência em comunicação e que ele precisa fazer uma declaração mais alentada sobre as acusações.

Na área
Franklin Martins se reuniu no Planalto com Dilma Rousseff há uma semana. Ele disse que irá trabalhar para aprovar o marco regulatório da imprensa no Congresso. Petistas voltaram levantar a bandeira de regulação da mídia após o julgamento do mensalão no STF.

12/12/2012


PF investiga Rose e irmãos Vieira por suspeita de lavagem


Investigação
Bens adquiridos por meio de corrupção teriam sido ocultados pela quadrilha
PF afirma que Paulo Vieira colocou bens em nome de familiares e funcionários
(Raylton Alves/Banco de imagens ANA)

A Polícia Federal vai abrir inquérito para investigar por lavagem de dinheiro a ex-chefe de gabinete da Presidência da República em São Paulo, Rosemary de Noronha, e outras pessoas investigadas pela Operação Porto Seguro – que desarticulou um esquema de compra de pareceres técnicos de órgãos públicos para beneficiar empresas.

A PF suspeita que bens adquiridos de forma ilícita, a partir de atos de corrupção, teriam sido ocultados ou dissimulados pela organização integrada por Rose e Paulo Vieira, ex-diretor da Agência Nacional de Águas (ANA) apontado como chefe do grupo.

Em ofício enviado à Justiça Federal, o delegado Ricardo Hiroshi, que preside o inquérito da Porto Seguro, pediu e obteve autorização para abrir uma apuração específica sobre lavagem de dinheiro.

Rose já foi indiciada por outros quatro crimes: corrupção passiva, tráfico de influência, falsidade ideológica e formação de quadrilha.

A PF enquadrou Paulo Vieira nos crimes de corrupção ativa, falsidade ideológica, falsificação de documento particular e formação de quadrilha.

Laranjas – Nos relatórios da operação, os investigadores anotaram que Vieira registrou carros e imóveis em nome de parentes e funcionários.

Rosemary usava um Mitsubishi Pajero TR4 que pertencia à suposta quadrilha. Hoje, o veículo é avaliado em 55 000 reias. Vieira também seria o dono de um apartamento em Brasília registrado no nome de seu irmão Marcelo e de outro, em Ubatuba (SP), no nome de sua mulher.

"Alguns dos bens apontados não estão registrados em nome do investigado, mas foram reunidos indícios de que poderiam ter sido pagos por ele (ou por sua ordem) ou registrados em nomes de pessoas próximas a ele, por sua determinação", anotaram os policiais.

O delegado responsável pela investigação pediu que a Justiça autorize o uso policial dos carros apreendidos na operação e de um apartamento em São Paulo. Segundo o inquérito, há "claras evidências de que tais bens foram adquiridos como produtos dos crimes praticados e apurados."

O inquérito pede especificamente o sequestro de um flat adquirido por Vieira na Alameda Lorena, nos Jardins, bairro nobre da capital paulista.

E-mails interceptados durante a operação revelam que o apartamento foi comprado em abril de 2010 por 192 000.

Vieira pediu à corretora que a escritura fosse passada em seu nome e que fosse informado no documento o valor de 80 000 reais.

Paulo também registrou um Land Rover, comprado por 300 000 reais, no nome de Patricia Baptistella, diretora da faculdade de sua família.

Um telefonema gravado pela operação indica que Vieira tentava evitar que o acúmulo de bens levantasse suspeitas sobre ele.

A PF apura o enriquecimento ilícito de Vieira e seus irmãos. Um e-mail interceptado em junho revela que Paulo é sócio da P1 Serviços Gerais, que teve um faturamento de 1,1 milhão de reais de agosto de 2011 a maio de 2012.

Defesa
– O advogado Celso Vilardi, que defende Rosemary Noronha, foi enfático: "Não vejo nenhuma base para se cogitar de lavagem de dinheiro no que toca à minha cliente".
Pierpaolo Bottini, que defende Paulo Vieira, informou que vai requisitar judicialmente averiguação das contas do analista do TCU Cyonil Borges e da mulher dele.
(Com Estadão Conteúdo)

Banco do Brasil arrecadava 'pedágio' para o PT, afirma Marcos Valério




Empresário relatou que 2% do valor destinado a agências de publicidade seria direcionado para contas do partido



Felipe Recondo, Alana Rizzo e Fausto Macedo
O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O empresário Marcos Valério Fernandes de Souza afirmou no depoimento prestado em 24 de setembro à Procuradoria-Geral da República que dirigentes do Banco do Brasil estipularam, a partir de 2003, uma espécie de “pedágio” às agências de publicidade que prestavam serviços para a instituição financeira pública: 2% de todos os contratos eram enviados para o caixa do PT, acusou o homem apontado como o operador do mensalão pelo Supremo Tribunal Federal.

Em dois anos, os repasses do Banco do Brasil às cinco agências de publicidade com quem mantinha contrato superaram R$ 400 milhões - uma delas era a DNA Propaganda, de Valério.

Ou seja, segundo o empresário disse à Procuradoria-Geral da República em setembro, os desvios que abasteceram o mensalão podem ter sido bem maiores do que os que levaram o Supremo Tribunal Federal a condenar Valério e o ex-diretor do Banco do Brasil Henrique Pizzolato.



Segundo os ministros da Corte, R$ 2,9 milhões foram desviados do contrato da DNA com o Banco do Brasil para o mensalão. Outros R$ 74 milhões foram desviados do contrato da DNA com o Fundo Visanet, do qual a instituição financeira pública fazia parte.

Contexto
. O Estado revelou nesta terça-feira, 11, que, neste mesmo depoimento de três horas e meia, dado à subprocuradora da República Cláudia Sampaio e à procuradora da República Raquel Branquinho, o empresário mineiro afirmou que dinheiro do esquema que pagou parlamentares do Congresso Nacional entre 2003 e 2005 também serviu para bancar “despesas pessoais” do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

O dinheiro foi depositado, disse Valério, na conta de uma empresa de Freud Godoy, que foi assessor pessoal de Lula.

O empresário mineiro afirmou ainda, entre uma série de novas acusações, que o ex-presidente deu “ok” para os empréstimos com os bancos BMG e Rural que viriam a irrigar o mensalão.

Na ocasião do depoimento, o empresário mineiro, além de fazer novas revelações, afirmou que ainda tinha mais a dizer sobre o caso.

Queria, em troca, proteção e redução da sua pena - ele viria a ser condenado a mais de 40 anos pelo Supremo por sua participação no mensalão; Valério responde ainda a outros processos, como o do mensalão mineiro, no qual políticos são acusados de desviar dinheiro público do governo de Minas Gerais a fim de abastecer, no ano de 1998, a campanha à reeleição do então governador tucano Eduardo Azeredo, ex-presidente nacional do PSDB e hoje deputado federal.

Segundo Valério disse no depoimento, o suposto esquema de desvio de dinheiro público que teria de ir para a publicidade foi criado por Pizzolato e Ivan Guimarães, ex-presidente do Banco Popular do Brasil, que integra a estrutura do Banco do Brasil.

O ex-diretor do Banco do Brasil negou nesta terça-feira que tenha cobrado “pedágio” das agências de publicidade. Guimarães não foi localizado pela reportagem.

Participação. No período de operação plena do mensalão, entre 2003 a 2004, quando uma série de parlamentares fez saques das contas das empresas de Valério, o Banco do Brasil pagou, segundo dados CPI dos Correios, pelo menos R$ 434 milhões a agências de publicidade.

Ao longo desse período de dois anos, a agência DNA, uma das empresa de Valério que detinha um dos contratos com o Banco do Brasil, aumentou sua participação nos acordos enquanto o bolo recebido pelas demais agências declinava aos poucos.

Ainda no primeiro ano de governo do ex-presidente Lula, em 2003, a DNA, que já trabalhava com o Banco do Brasil durante o governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, conseguiu renovar o contrato com a instituição financeira pública.

Renovações
. O valor estimado dos gastos anuais de publicidade com a DNA era de R$ 152,8 milhões, segundo informações do Ministério Público Federal. A renovação teria rendido a Pizzolato mais de R$ 300 mil de contrapartida, segundo dados usados pelos ministros do Supremo para condenar o ex-diretor do banco corrupção passiva, lavagem de dinheiro e peculato, com pena de 12 anos e sete meses de prisão.

Além da DNA, a licitação 01/2003 originou contratos com a Ogilvy Brasil Comunicação Ltda e a D+Brasil Comunicação Total. Já havia contratos em andamento desde 2002 com as agências Grottera Comunicação e Lowe Lintas Partners , que continuaram a ser prorrogados a partir de 2003, início do governo Lula.

Abrangência. Os contratos firmados em setembro de 2003 entre o Banco do Brasil e as cinco agências alcançavam todo o conglomerado do Banco do Brasil, incluindo empresas ou entidades que fossem criadas e a Fundação Banco do Brasil.

Comandado por Ivan Guimarães, o Banco Popular do Brasil funcionava como uma subsidiária integral, cuja autorização de funcionamento foi publicada em dezembro de 2003. Guimarães também esteve envolvido no episódio da compra do apartamento da ex-mulher de José Dirceu por Rogério Tolentino, sócio de Marcos Valério.


12 de dezembro de 2012