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sábado, 9 de janeiro de 2016

Cerveró delata dinheiro desviado à campanha de Jaques Wagner



Ex-diretor da Petrobras disse que houve um ‘grande aporte de recursos’ para o petista


Por Renato Onofre
O Globo


SÃO PAULO — O ex-diretor de Internacional da Petrobras Nestor Cerveró afirmou que recursos desviados da Petrobras podem ter abastecido o caixa da campanha do atual ministro-chefe da Casa Civil, Jaques Wagner (PT), ao governo da Bahia, em 2006. Os recursos teriam saído de contratos da construção de um prédio administrativo da estatal em Salvador.

Cerveró disse aos investigadores que os pagamentos eram “de conhecimento notório de todos os diretores da Petrobras”. O ex-diretor disse que quem teria direcionado as doações à campanha petista teria sido o ex-presidente da Petrobras, José Sérgio Gabrielli. Após sair da estatal, em 2012, Gabrielli assumiu uma secretaria no governo da Wagner. De acordo com o delator, houve um “grande aporte de recursos” para o petista.





Os documentos que mostram o depoimento de Cerveró foram publicados nesta sexta-feira no jornal “Valor Econômico” e obtidos pelo GLOBO. Eles foram apreendidos pela Polícia Federal no dia 25 de novembro no gabinete do senador Delcídio do Amaral (PT-MS). O senador petista está preso em Brasília acusado de tentar obstruir o trabalho da Justiça. Ele foi flagrado oferecendo dinheiro em troca do silêncio de Cerveró.


Apesar de constar nos depoimentos de Cerveró, a informação sobre o suposto pagamento de propina para a campanha de Jaques Wagner não virou um dos 28 anexos da delação do ex-diretor. Isso porque, o delator disse à Procuradoria Geral da República (PGR) que não tinha como provar as informações já que ouviu a história de duas pessoas ligadas à Gabrielli: a ouvidora geral da Petrobras, Maria Augusta, falecida em 2006, e Armando Tripodi, dirigente do Sindicato dos Petroleiros da Bahia.

Em nota, Gabrielli repudiou o que considerou de “vazamento seletivo de delações premiadas”. Ele afirmou que o testemunho de Cerveró está baseado em informações que ele “ouviu falar”. E que “não há há uma acusação explícita, até pelo próprio delator, segundo a parte do material a que o jornal se refere, sobre minha participação direta nos pretensos fatos delatados”.

O ex-presidente da Petrobras disse ainda que nunca soube de utilização de recursos ilegais dos fornecedores da Petrobras para a campanha de Jaques Wagner ao governo da Bahia.

O ministro Jaques Wagner não se pronunciou sobre o assunto.


domingo, 3 de janeiro de 2016

O Congresso que Dilma criou


Editorial do Estadão


Nas entrevistas de final de ano, a pretexto de fazer um balanço do governo em 2015 e de projetar o futuro, os ministros da presidente Dilma Rousseff têm se empenhado em demonstrar otimismo, como se o pior para a petista – o risco de impeachment – já fosse parte do passado. Trata-se de calculada candura, pois a claque palaciana evidentemente sabe que Dilma tem sobrevivido somente à base de chicanas e conchavos, suando para sustentar no Congresso uma frágil maioria, suficiente apenas para evitar o afastamento da presidente, enquanto a Operação Lava Jato inviabiliza qualquer estratégia política com prazo superior a um par de meses. Portanto, o apoio de que Dilma desfruta no momento serve unicamente para mantê-la no cargo. Se quiser ir além disso e governar de fato o país, porém, a presidente contará com apoio parlamentar especialmente escasso: Dilma é hoje a governante que tem a menor sustentação na Câmara desde 2003.

Na prática, a trajetória do apoio parlamentar a Dilma é decadente desde o início de seu primeiro mandato. No entanto, conforme dados do Basômetro, aplicativo do Estadão que calcula a taxa de governismo no Congresso, o ano de 2015 terminará com a petista amargando apenas 67% de sustentação. Esse porcentual representa quantos deputados votaram conforme a orientação do governo ao longo do ano, fazendo-se uma média simples de todas as votações.

O dado de 2015 não é surpreendente. No final de 2014, a taxa havia recuado nada menos que dez pontos porcentuais em relação ao final de 2013, chegando a 69%. A diferença em relação ao melhor momento dos governos petistas no Congresso é gritante: em 2004, o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva desfrutava de 91% de governismo.

Mesmo quando a comparação é com o pior momento de Lula, o caso de Dilma se revela de fato singular. Em 2005, quando estourou o escândalo do mensalão, o apoio ao governo caiu para 79%. Já no ano seguinte a taxa subiria para 81% – e ela jamais tornaria a ficar abaixo de 80% até o final do segundo mandato de Lula.

Quando Dilma assumiu, em 2011, ela praticamente herdou o apoio de seu padrinho, estreando com 85% de governismo. Desde então, no entanto, a taxa só faz cair, o que evidencia sua inabilidade ao lidar com o Congresso – mesmo deputados petistas não votaram sempre com o governo.

A façanha de Dilma é notável. Neste presidencialismo de coalizão, o chefe de governo praticamente compra o apoio de que necessita, por ter influência sobre a agenda do Legislativo e por ter a caneta com a qual distribui benesses, cargos e verbas. Lula, criador desse arranjo fisiológico, teve habilidade suficiente para conduzi-lo sem grandes sobressaltos, mesmo diante da crescente fragmentação partidária e dos contínuos escândalos.

Dilma, por sua vez, estabeleceu com o Congresso uma relação imperial, muito ao gosto do PT, que sempre teve a pretensão de governar sozinho. O resultado de tamanha imperícia foi que a presidente perdeu não somente apoio parlamentar, como também a capacidade de influenciar a pauta do Legislativo. O Basômetro mostra que, em 2015, apenas 37% dos projetos votados no plenário da Câmara eram de autoria da presidência. Já o governo Lula, em sua melhor fase no Congresso, em 2004, foi responsável por 86% de todos os projetos votados naquele ano.

O pior momento de Dilma até agora coincide com uma hiperatividade da Câmara, que em 2015 teve 300 votações nominais, contra apenas 92 em 2014. Isso significa que a Câmara está levando a plenário cada vez mais projetos que poderiam ter sido aprovados em votação simbólica, após acordos de lideranças, geralmente costurados pelo governo. Ou seja, os cinco anos de incompetência política de Dilma ajudaram a transformar a Câmara num amontoado de interesses dispersos, em que cada deputado parece representar apenas a si mesmo. Considerando-se mais três anos de Dilma, tal cenário não augura nada de promissor, nem para ela nem para o país.


02/01/2016