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sábado, 27 de junho de 2015

O tesoureiro do PT e a República do pixuleco


Era essa a palavra que, por pudor, vergonha, ou puro despiste, João Vaccari Neto usava para se referir ao dinheiro de propina com que a empreiteira UTC abastecia o caixa de seu partido
Por: Robson Bonin
VEJA.com

João Vaccari Neto - República Federativa do Pixuleco
MOCH - Ricardo Pessoa contou que o tesoureiro do PT ia regularmente a seu escritório em São Paulo nos sábados para buscar dinheiro desviado dos cofres da Petrobras
(VEJA.com/VEJA)

Homem do dinheiro, João Vaccari Neto é citado em diferentes trechos da delação de Ricardo Pessoa. O tesoureiro do PT aparece cobrando propina, recebendo propina, tratando sobre propina. O empreiteiro contou que conheceu Vaccari durante o primeiro governo Lula, mas foi só a partir de 2007 que a relação entre os dois se intensificou. Por orientação do então diretor de Serviços da Petrobras, Renato Duque, um dos presos da Operação Lava-Jato, Pessoa passou a tratar das questões financeiras da quadrilha diretamente com o tesoureiro. A simbiose entre corrupto e corruptor era perfeita, a ponto de o dono da UTC em suas declarações destacar o comportamento diligente do tesoureiro: "Bastava a empresa assinar um novo contrato com a Petrobras que o Vaccari aparecia para lembrar: 'Como fica o nosso entendimento político?'". A expressão "entendimento político", é óbvio, significava pagamento de propina no dialeto da quadrilha. Aliás, propina, não. Vaccari, ao que parece, não gostava dessa palavra.

Como eram dezenas de contratos e centenas as liberações de dinheiro, corrupto e corruptor se encontravam regularmente para os tais "entendimentos políticos". João Vaccari era conhecido pelos comparsas como Moch, uma referência à sua inseparável mochila preta. Ele se tornou um assíduo frequentador da sede da UTC em São Paulo. Segundo os registros da própria empreiteira, para não chamar atenção, o tesoureiro buscava "as comissões" na empresa sempre nos sábados pela manhã. Ele chegava com seu Santa Fé prata, pegava o elevador direto para a sala de Ricardo Pessoa, no 9º andar do prédio, falava amenidades por alguns minutos e depois partia para o que interessava. Para se proteger de microfones, rabiscava os valores e os porcentuais numa folha de papel e os mostrava ao interlocutor. O tesoureiro não gostava de mencionar a palavra propina, suborno, dinheiro ou algo que o valha. Por pudor, vergonha ou por mero despiste, ele buscava o "pixuleco". Assim, a reunião terminava com a mochila do tesoureiro cheia de "pixulecos" de 50 e 100 reais. Mas, antes de sair, um último cuidado, segundo narrou Ricardo Pessoa: "Vaccari picotava a anotação e distribuía os pedaços em lixos diferentes". Foi tudo filmado.





27/06/2015

O desespero do governo do PT está em todos os jornais. Lula quer ataque à Polícia Federal e demissão de Cardozo




Felipe Moura Brasil

Globo:


“O clima é de apreensão no Palácio do Planalto. Os ministros Mercadante e Edinho Silva vinham conversando desde cedo sobre o depoimento de Ricardo Pessoa. A preocupação do governo é que a Operação Lava-Jato ganhou uma dimensão que se perdeu o controle. O Planalto já estava preocupado com a situação das empreiteiras, mas agora o problema político chegou ao próprio quarto andar do Planalto.”

Folha:

“Além do receio de que a menção à campanha à reeleição reforce a pressão pelo impeachment de Dilma, o governo acredita que a citação a ministros do Planalto por Pessoa aprofunda a instabilidade política e a incerteza do mercado.”

“Humberto Costa (PT-PE) propôs a Lula que seu encontro com as bancadas petistas ocorresse em um jantar daqui a três semanas. O ex-presidente pediu urgência e avisou que voaria para Brasília na segunda-feira.”

Estadão:

“O governo avalia que perdeu totalmente o controle da Operação Lava Jato, da Polícia Federal, e teme que a delação premiada de Ricardo Pessoa acirre o clima de confronto do país, dando munição aos adversários para ressuscitar a bandeira do impeachment. Dilma mandou o ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, cancelar uma viagem a São Paulo, por causa da crise.

(…) Nos últimos dias, Dilma foi pressionada por petistas a agir para reduzir o desgaste e tomar medidas para proteger as empresas envolvidas na Lava Jato do risco de quebradeira. Ela se recusou. ‘O que querem que eu faça?’

Lula não se conformou com a resposta. Irritado, pediu que a cúpula do PT não poupasse críticas à Polícia Federal e passasse a condenar publicamente o que chamou de ‘prejulgamento’ das empreiteiras da citadas na Lava Jato.

(…) A portas fechadas, Lula e a maioria dos senadores e deputados do PT avaliam que o ministro da Justiça perdeu as condições de permanecer no cargo e deveria ser substituído porque não comanda a Polícia Federal. Dilma, porém, se recusa a demiti-lo.”

Comento:

É próprio do “chefe” dos bandidos mandar atacar a Polícia.

Lula não perdoa Cardozo, seu velho companheiro de Foro de São Paulo, pela incapacidade de boicotar 100% a Lava Jato.

Talvez queira colocar, também no lugar dele, seu fiel escudeiro Wadih Damous.

Quanto à pergunta de Dilma sapiens ‘O que querem que eu faça?’, eu respondo:

Renuncia que dói menos.


27/06/2015


sexta-feira, 26 de junho de 2015

A lista de políticos a quem Pessoa diz ter dado dinheiro obtido no Petrolão

Dinheiro ilegal doado para candidatos dentro da lei é crime?
É a primeira questão levantada pela delação premiada do dono da UTC

VEJA.com

Arte - Capa lista do delator
Ricardo Pessoa revela detalhes do esquema de corrupção da Petrobras e entrega a lista dos beneficiados com o dinheiro desviado: as campanhas eleitorais de Dilma e Lula, deputados, senadores e ministros do governo
(VEJA.com/VEJA)
O engenheiro Ricardo Pessoa, dono da construtora UTC, tem contratos bilionários com o governo, é apontado como o chefe do clube dos empreiteiros que se organizaram para saquear a Petrobras e cliente das palestras do ex-presidente Lula. Desde a sua prisão, em novembro passado, ele ameaça contar com riqueza de detalhes como petistas e governistas graúdos se beneficiaram do maior esquema de corrupção da história do país.

Nos últimos meses, Pessoa pressionou os detentores do poder - por meio de bilhetes escritos a mão - a ajudá-lo a sair da cadeia e livrá-lo de uma condenação pesada. Ao mesmo tempo, começou a negociar com as autoridades um acordo de delação premiada. o empresário se recusava a revelar o muito que testemunhou graças ao acesso privilegiado aos gabinetes mais importantes de Brasília.

O Ministério Público queria extrair dele todos os segredos da engrenagem criminosa que desviou pelo menos 6 bilhões de reais dos cofres públicos. Essa negociação arrastada e difícil acabou na semana passada, quando o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal (STF), homologou o acordo de colaboração entre o empresário e os procuradores.

VEJA teve acesso aos termos desse acerto. O conteúdo é demolidor. As confissões do empreiteiro deram origem a 40 anexos recheados de planilhas e documentos que registram o caminho do dinheiro sujo. Em cinco dias de depoimentos prestados em Brasília, Pessoa descreveu como financiou campanhas à margem da lei e distribuiu propinas.

Ele disse que usou dinheiro do petrolão para bancar despesas de 18 figuras coroadas da República. Foi com a verba desviada da estatal que a UTC doou dinheiro para as campanhas de Lula em 2006 e de Dilma em 2014. Foi com ela também que garantiu o repasse de 3,2 milhões de reais a José Dirceu, uma ajudinha providencial para que o mensaleiro pagasse suas despesas pessoais.

A UTC ascendeu ao panteão das grandes empreiteiras nacionais nos governos do PT. Ao Ministério Público, Pessoa fez questão de registrar que essa caminhada foi pavimentada com propinas. Altas somas.


A lista dos favorecidos

Valores
Campanha de Dilma em 2014 7,5 milhões de reais
Campanha de Lula em 2006 2,4 milhões de reais
Ministro Edinho Silva (PT) *
Ministro Aloizio Mercadante (PT) 250.000 reais
Senador Fernando Collor (PTB) 20 milhões de reais
Senador Edison Lobão (PMDB) 1 milhão de reais
Senador Gim Argello (PTB) 5 milhões de reais
Senador Ciro Nogueira (PP) 2 milhões de reais
Senador Aloysio Nunes (PSDB) 200.000 reais
Senador Benedito de Lira (PP) 400.000 reais
Deputado José de Fillipi (PT) 750.000 reais
Deputado Arthur Lira (PP) 1 milhão de reais
Deputado Júlio Delgado (PSB) 150.000 reais
Deputado Dudu da Fonte (PP) 300.000 reais
Prefeito de São Paulo Fernando Haddad (PT) 2,6 milhões de reais
O ex-tesoureiro do PT João Vaccari Neto 15 milhões de reais
O ex-ministro José Dirceu 3,2 milhões de reais
O ex-presidente da Transpetro Sergio Machado 1 milhão de reais


* Como tesoureiro, arrecadou dinheiro para a campanha de Dilma de 2014



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terça-feira, 23 de junho de 2015

Documentos mostram relação de proximidade entre Lula e empreiteiros, diz jornal



 
Ex-presidente defendia interesses de empresários em viagens patrocinadas para o exterior
Do R7
  Lula era chamado de "Brahma"
pelos diretores da OAS
Heinrich Aikawa/Instituto Lula

A operação Lava Jato teve acesso a documentos que provam relação próxima entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva com executivos das maiores empreiteiras do País. As informações são do jornal Folha de S.Paulo desta segunda-feira (22).

O ex-presidente era chamado de “Brahma” pelos diretores da OAS. Lula defendia os interesses dos empresários em viagens patrocinadas para o exterior. Em 2013, por exemplo, Lula dirigiu-se ao presidente do Peru sugerindo aliança com o empresariado em Lima.

A delegação com executivos da OAS, Camargo Corrêa, Odebrecht e Andrade Gutierrez, além de empresas do porte da Embraer e Eletrobras, viajou do Peru à Colômbia e ao Equador. Depois de cinco meses, o ex-presidente fez mais uma viagem sob patrocínio empresarial.

Conversas por mensagens de texto mostram que a OAS não só deixou um avião à disposição do ex-presidente, como também ajudou a definir sua agenda em viagem feita para o Chile em novembro de 2013. As conversas foram capturadas em celulares de executivos da OAS.

Em uma conversa, o então presidente da OAS, Léo Pinheiro, chama lula de “Brahma” e discute o roteiro com o executivo da empreiteira, Cesar Uzeda, que diz: “A agenda nem de longe produz os efeitos das anteriores do governo do Brahma, no entanto acho que ajuda a lubrificar as relações. (A senhora [Dilma] não leva jeito, discurso fraco, confuso e desarticulado, falta carisma)”.

Depois, Pinheiro responde: “O Brahma quer fazer a palestra dia 24/25 ou 26/11 em Santiago. Seria uma mesa redonda para 20 a 30 pessoas. Quem poderíamos convidar e onde?”

Mensagens indicam que a agenda de Lula no Chile foi fechada com Clara Ant, ex-assessora da Presidência e diretora do Instituto Lula. Na véspera da viagem, Uzeda diz para “checar com Paulo Okamotto se é conveniente irmos no mesmo avião”.

Em 2011, em viagem à Guiné Equatorial, como representante do governo Dilma, Lula colocou entre os integrantes de sua delegação oficial Alexandrino Alencar, executivo da Odebrecht. Ele foi preso nesta sexta-feira (19).

O ex-presidente e Alexandrino são conhecidos de longa data. Em livro, Andrés Sanchez, ex-presidente do Corinthians, conta sobre viagem em 2009 que Alexandrino fez a Brasília com Emílio Odebrecht, presidente do conselho de administração da empresa. Naquela época, Lula pediu ajuda à Odebrecht para a construção do estádio do Corinthians.

A presença de Alexandrino no grupo causou estranheza no Itamaraty, que pediu informações à assessoria do ex-presidente Lula.


23/6/2015


segunda-feira, 22 de junho de 2015

BC força a mão na alta dos juros e vai quebrar muita gente





Entrevista
José Roberto Mendonça de Barros
Folha de São Paulo
O economista José Roberto Mendonça de Barros, 71, sócio da MB Associados, concedeu entrevista  para a repórter Raquel Landin, publicada na Folha de S. Paulo deste domingo, e avisou que o Banco Central exagera no aumentos de juros e agrava a recessão.


Folha - Por que a economia brasileira está em recessão?
José Roberto Mendonça de Barros - A economia brasileira está caindo em degraus, e não desacelerando devagar. Tivemos uma combinação de crise política e ajuste fiscal. Logo no primeiro mês do mandato a presidente perdeu o poder de determinar a agenda do país para o Congresso. Isso jamais aconteceu e teve um efeito imediato nas expectativas para a economia. No fim de janeiro, já estava totalmente claro que tínhamos grandes problemas em grandes setores.

Que setores?
Houve uma parada súbita de vendas no setor automotivo e no mercado imobiliário. Além disso, temos a crise na Petrobras e em seus fornecedores. Com esses três setores paralisados, está configurado um grande problema de PIB. A crise da Petrobras ajudou a paralisar o mercado de crédito e consolidar a virada no mercado de trabalho. No início do ano, a Petrobras suspendeu contratos com fornecedores, que desativaram obras no país inteiro: as refinarias no Nordeste, o Comperj, a fábrica de fertilizantes em Mato Grosso. Quando desmancha um canteiro de obras desse porte, é a rádio peão ao vivo dizendo que o mercado de trabalho virou de forma definitiva.

O desemprego vai aumentar?
O desemprego vai subir continuamente até o fim do ano e chegar a um patamar de 9%. Como a taxa estava em apenas 5%, será um aumento significativo. As demissões vão continuar ocorrendo porque nem todas as empresas perceberam rapidamente que o mercado tinha virado. O comércio ainda estava vendendo bem. Na construção civil, chega a um ponto em que a obra não pode parar. No setor automotivo, os acordos com sindicatos são muito cheios de regras. Por isso, demorou para o ajuste no mercado de trabalho ocorrer.

Existe algum setor da economia que vai bem?
A rigor, só agronegócio, tecnologia da informação e um pouco da área de saúde. É insuficiente para gerar uma recuperação da atividade. Construção civil, indústria de máquinas, setor automotivo, petróleo, setor elétrico --todos os grandes setores pararam de investir. E, com o desemprego, os consumidores vão reduzir a demanda, o que afeta o comércio. Poucas vezes na economia vimos tantos setores piorarem tão fortemente ao mesmo tempo. Também não podemos contar com a exportação, porque demora uns dois anos para as vendas reagirem. Ou seja, hoje não temos fonte de crescimento do PIB.

Há alguma perspectiva de recuperação da economia neste ano ou no próximo?
Estamos estimando queda do PIB de 1,5% a 2% neste ano. Em 2016, um crescimento nulo será o teto. É ilusão achar que o pior já ficou para trás. Esse autoengano circulou pelo governo em Brasília, mas não vejo isso em nenhuma hipótese. A prisão dos presidentes da Odebrecht e da Andrade Gutierrez na sexta-feira reforça a percepção de que os investimentos podem cair 8% neste ano e 4% no ano que vem. O deserto que teremos que atravessar em 2015 e 2016 será ainda mais quente.

O que o governo pode fazer para estimular a economia?
O papel do governo é prosseguir no ajuste fiscal e complementá-lo com uma política monetária menos esticada e com reformas de longo prazo. A questão central é a Previdência e, por isso, é tão grave acabar com o fator previdenciário. Além disso, é preciso colocar na rua ações construtivas que permitam uma recuperação de demanda no futuro: investimentos em infraestrutura, aumento de produtividade e uma política comercial que dê suporte à exportação industrial. Isso é que daria um horizonte para a economia, o que todos nós queremos, mas muito pouco tem sido feito.

Você disse que a política monetária está muito esticada. Na sua opinião, o BC está subindo demais os juros?
O Banco Central foi reconhecidamente leniente com a inflação por três anos consecutivos e de repente encasquetou --e a palavra é essa mesmo-- que as estimativas para o IPCA têm que convergir para a meta de 4,5% no fim de 2016. A mensagem do BC é que não vai parar de aumentar os juros enquanto isso não acontecer. Não acho que isso seja o mais adequado, porque a inflação vai cair em 2016 por causa da recessão e porque o grande impacto do reajuste da energia já terá passado. Forçar a mão nos juros é destruir a demanda, o que vai quebrar muita gente. E, se isso acontece, a arrecadação diminui e atrapalha o ajuste fiscal. É um meio tiro no pé.

O BC está pagando o preço dos erros passados? O banco pode parar de elevar os juros sem perder credibilidade?
Querem recuperar três anos em três meses. É a mesma coisa de quem está com excesso de peso tentar resolver o problema correndo três horas no sábado. Vai ter um ataque do coração. Hoje não existe mais essa alternativa de parar de subir os juros, porque o BC caiu numa armadilha depois de tudo que já disse. Com esses juros altos, o BC está atraindo capital especulativo e afundando o câmbio. Se o dólar ficar abaixo de R$ 3, o único sinal positivo para os empresários também se tornará uma dúvida.

22 de junho de 2015


SEMINÁRIO DE LULA – Para Okamotto, a democracia é uma masturbação com ambições de ser uma suruba





Por Reinaldo Azevedo

Não sei se o Brahma estava em seu estado normal ou se alterado por algum fator exógeno. O fato é que convidou Felipe González, ex-primeiro-ministro da Espanha, para debater democracia no instituto que leva o seu nome, e ele mesmo, Lula, defendeu a ditadura, ainda que com outras palavras. O homem rasgou a fantasia quando o tema “imprensa” surgiu à mesa. Tomou a palavra e defendeu a “regulamentação” da mídia, que, segundo ele, é comandada no Brasil por nove famílias e constitui a verdadeira oposição. Mais uma vez, o chefão petista traiu a real intenção do PT nesse caso: é controlar conteúdo, sim. Mais: se a mídia fosse a oposição, então ele estaria querendo controlar a… oposição!

Que coisa, né? Há dias, Felipe González esteve na Venezuela. Também ele tentou falar com os presos políticos, a exemplo do que fizeram os senadores brasileiros. Também ele não conseguiu. Deixou o país hostilizado pelo governo de Nicolás Maduro, que é um queridinho de… Lula. Entenderam? Nesse particular, o político espanhol pensa o que pensa a oposição brasileira, que o chefão petista chama de golpista. Há, portanto, uma diferença entre González e o ex-presidente brasileiro: um pode falar em nome da democracia; o outro não.

Quem abriu o seminário foi Paulo Okamotto, que é, assim, uma espécie de porão de Lula. Tudo o que diz respeito à vida do Babalorixá de Banânia, que é mais escuro e que não deve ser exposto na sala de visitas, está no subsolo, no departamento Okamotto, o homem que viajava com o Brahma a serviço das empreiteiras. Eu não conhecia o lado, digamos, pensador do camarada Okamotto. O país e o mundo estavam privados, até esta segunda, de um filósofo político inigualável.

Ouvindo Okamotto, a gente descobre que a democracia é, assim, uma espécie de masturbação que anseia ser uma suruba. Ele definiu de forma singularmente criativa esse regime político: seria o “exercício solitário de pensar o que é bom para as pessoas”. Ninguém nunca havia atingido essa altitude antes. Nem vai atingir. Calma que há mais.

O parceiro de viagens do Brahma refletiu também sobre as redes sociais. Segundo esse criativo pensador, elas “complicam a democracia”. Huuummm… Quando o PT atuava praticamente sozinho nas ditas-cujas, certamente ele não via complicação nenhuma. O PT, como esquecer, criou até uma coisa chamada “MAV” — Militância de Ambientes Virtuais, cujo objetivo é policiar as redes, trolar quem não é petista, assediar moralmente as pessoas, atacá-las, chamá-las de reacionárias, golpistas etc. No PT, quem cuida do tema é um de seus dirigentes mais poderosos: Alberto Cantalice, vice-presidente. Que gente exótica!

Okamotto só passou a achar que as redes sociais complicam a democracia quando os petistas começaram a perder a guerra virtual — e como perdem! O partido é motivo de chacota. É por isso que o governo veio com aquela cascata de uso responsável das redes. Como sempre, na raiz de todas as iniciativas dessa gente, está o ânimo para censurar.

Sempre que Lula se vê diante de uma personalidade internacional, ele decide refletir com aparente profundidade. Quase repetindo Reinaldo Azevedo, a quem ele atacou no congresso do partido, afirmou que o PT está velho e precisa de uma revolução: “Nós temos que definir se queremos salvar nossa pele, nossos cargos, ou nosso projeto”. Huuummm… Eu diria que os companheiros querem tudo isso. E, de preferência, com uma excelente remuneração. Ah, sim! Repetisse integralmente Reinaldo Azevedo, teria dito: o PT já morreu.

Lula promove um seminário de última hora para ver se consegue, repetindo a sua expressão, sair do volume morto. Vai ser difícil, né? Até porque ele tem a sua natureza. Ao citar uma figura pública internacional que teria sido injustamente vitimada, não teve dúvida e saiu em defesa de Saddam Hussein. Perguntou a González: “Alguma vez ele te causou problema?”. Eis uma pergunta que deveria ser feita, por exemplo, a milhares de curdos e iranianos mortos, vítimas do gás sarin. É nojento! Não impressiona que seja um aliado incondicional de Nicolás Maduro. González deve ter pensando: “Caramba! Olhem aonde vim parar!”.

É impressionante que o Brasil tenha produzido essa monstruosidade política disfarçada de operário bonachão e bom camarada.



22/06/2015



Charge





Elementar, caro Watson !
Sponholz


Ameaça de Dirceu a Lula, se concretizada, explodirá o PT


Desta vez, Dirceu não cairá sozinho



Pedro do Coutto


O título constitui, creio, uma síntese em cores e consequências fortes, que se pode extrair da excelente reportagem de Daniel Pereira, publicada na edição da Revista Veja que está nas bancas, a respeito do episódio do mensalão e a ponte entre aquele escândalo de ontem e o assalto gigantesco de hoje praticado contra a Petrobrás. A matéria abrange o papel representado por Marcos Valério, o grande condenado de 2005, uma entrevista com declarações entre aspas de José Dirceu, além de afirmações do senador Delcídio Amaral, que presidiu a CPI dos Correios, onde tudo começou, do deputado Osmar Serraglio, relator, e do alte. Roberto Carvalho, ministro da Marinha de 2003 a 2007, primeiro governo Lula.

Todas as versões publicadas convergem para uma questão básica; o presidente Luis Inácio tinha conhecimento do esquema articulado por José Dirceu e operado por Marcos Valério, ambos condenados, aliás, pelo STF. Especialmente Valério, punido a mais de 40 anos em regime de prisão fechada. Deve estar vivendo tempos de desespero.

Outro preso solitário no peso da pena imposta, hoje sem amigos solidários, extremamente preocupado, na véspera de um descontrole emocional, é o ex-ministro José Dirceu, como revela Daniel Pereira.

Temendo ser novamente preso por sua suposta participação no esquema de roubo a Petrobrás, ele agora emite sinais de que pode contar o que sabe sobre os dois esquemas de corrupção, mensalão e petróleo, usados pelo governo – acrescenta a reportagem – para comprar o apoio de partidos aliados. Dirceu, assim, pode-se deduzir, focaliza a passagem do falso sistema político de um governo para outro, já que o de Dilma Rousseff começou em 2011. Amigos de Dirceu garantem que, se cumprir a promessa, diz Daniel Pereira (ameaça, digo eu), José Dirceu vai expor o antigo chefe.

MUDANÇA PARA PORTUGAL


O ex-primeiro ministro de Lula, o capitão do time, comunica que, se não for preso de novo, tem planos de se mudar para Portugal com a esposa e sua filha mais nova. A reportagem possui grande importância política e deve ser lida, na íntegra, por todos. Pois afirmações convergentes surgem em seus capítulos.

O reflexo mais importante, claro, no caso da ameaça vir a ser cumprida, será a fatal explosão definitiva do PT, produzindo uma avalanche contra o governo, abalando ainda mais sua estabilidade. Dilma Rousseff ficará sozinha no campo da luta partidária. Isso porque, pelo menos, o Partido dos Trabalhadores terá sua divisão interna mais exposta à opinião pública.

CENÁRIO IMPREVISÍVEL

Mais exposta porque, atingido, Lula partirá para o início de sua campanha as eleições presidenciais de 2018, buscando suceder no Palácio do Planalto a antecessora que elegeu por duas vezes. Curioso tal panorama. Mas quem poderia prever tal desfecho? Ninguém. Aliás, em matéria de política, pessoa alguma pode prever qualquer coisa. Quem poderia prever o suicídio de Vargas, renúncia de Jânio, cassação de Lacerda pelo movimento de 64 do qual foi o principal líder, a morte de Tancredo Neves que levou José Sarney à presidência da República? Para não estender demais a lista de exemplos, quem poderia pensar que a cassação de José Dirceu representaria o surgimento da candidatura de Dilma Rousseff em 2010?

Os fatos, portanto, são imprevistos, as consequências nem tanto. Dependem da concretização dos compromissos e promessas. No caso de Dirceu, agora, da ameaça com a qual ele acena, registrada por Daniel Pereira nas páginas imperdíveis da Veja desta semana.