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sábado, 23 de novembro de 2013

Um Genoíno homem de esquerda

Ele continua a ser um personagem típico do circo esquerdista, onde não há lugar senão para dois personagens, os equivalentes ideológicos de Pierrot e Arlequim: a ilusão e o cinismo.



 
Por Olavo de Carvalho
Mídia Sem Máscara
3 de maio de 1996, mais de 17 anos atrás.
Publicado no livro ‘O Imbecil Coletivo – Atualidades Inculturais Brasileiras’.


O DEPUTADO JOSÉ GENOÍNO tem hoje a fama de ser homem respeitado igualmente pela esquerda e pela direita. Contribuem muito para isso a inteligência, a polidez, a simpatia e o ar despretensioso com que S. Excia. encanta a todos os que o ouvem falar. Muito o ajudam, também, a elegância e a retidão com que ele tem cumprido os deveres da ética parlamentar, seja diante de seus companheiros de partido, seja dos adversários. Tudo isso faz dele um homem digno da distinção que hoje o cerca. Mas o motivo principal de seu prestígio é que ele encarna, segundo a opinião geral, a personificação mesma de uma “nova esquerda”, esclarecida e democrática, despida de toda pretensão totalitária e avessa ao emprego da violência como meio de acesso ao poder.

O próprio Genoíno dá verossimilhança a essa interpretação, na medida em que, sem renegar de todo sua atuação de guerrilheiro, ele a vincula a um determinado momento do passado, como coisa adequada àquele tempo e inadequada ao nosso. O Genoíno de hoje, ao contrário do de ontem, crê mais no voto, no diálogo e no império da lei do que na retórica brutal das metralhadoras.

Ele subscreve, em nome da esquerda, a máxima predileta da direita: Os tempos mudaram. E como direita e esquerda têm por dogma comum de seus respectivos evangelhos a crença piedosa no mito do progresso, o deputado torna-se assim um sacerdote da deusa ante a qual se prosternam os fiéis de ambas as igrejas: a Modernidade.

Porém, mais importante que isso é o lado moral da transformação. A edição revista e melhorada do deputado Genoíno faz dele, no consenso da opinião consagrada pelos jornais e por todas as pessoas de bem, um esquerdista diferente: alguém, em suma, que, mesmo nos momentos decisivos das radicalizações e dos confrontos mais duros, será sempre mais obediente à moral do que à ideologia, mais fiel ao compromisso democrático do que a uma estratégia para a tomada do poder, mais atento à palavra dada em público do que a lealdades secretas de conspirador e revolucionário.

Se essas qualidades já não delineassem, por si, o perfil de alguém fundamentalmente inapto para a carreira política, deixando sem explicação o sucesso parlamentar de homem tão destituído daquele mínimo de maquiavelismo e hipocrisia, que o senso comum considera indispensável a semelhante ofício, elas ainda assim imporiam, ao observador atento e conhecedor da história da esquerda, algumas constatações bastante inquietantes.

Em primeiro lugar, a rejeição que o deputado faz da violência armada não é de ordem moral: é estratégica. Num determinado quadro político-social, o uso das armas é sensato; num outro, torna-se insensato. Não se trata portanto de rejeitar o terrorismo, as bombas e o morticínio, a contestação violenta da ordem estabelecida, mas apenas de usá-los segundo um diagnóstico das condições objetivas e subjetivas que, em determinada fase do processo histórico, os aconselham ou desaconselham segundo as conveniências da estratégia revolucionária. Somente pessoas totalmente ignorantes da história das esquerdas — ou seja, a totalidade da nossa opinião pública, incluindo os jovens universitários — podem imaginar que a atitude presente do deputado Genoíno seja, nisso, algo de novo e diferente. Ela é a repetição literal e fidedigna de uma posição já adotada, em várias circunstâncias, por Marx e Lênin, Stálin e Mao, Guevara e Fidel Castro. São somente os anarquistas e os fascistas que, seguindo Bakunin e Georges Sorel respectivamente, têm o emprego da violência como um princípio incondicional e uma regra de ação permanente. Para os comunistas, a violência é e sempre foi instrumental e dependente das conveniências ou inconveniências estratégicas assinaladas pela análise realista do quadro histórico. E é precisamente isto o que ela é para o deputado Genoíno, o qual, se for sincero, há de reconhecer que expressei com exatidão o seu mais profundo pensamento a respeito desse ponto.

Em segundo lugar, é um fato histórico dos mais notórios que a esquerda mundial, nos momentos em que as conveniências a levaram a adotar predominantemente a via pacífica e democrática, tirou sempre disto um indevido proveito moral, dando ares de virtude ética ao que era apenas um meneio estratégico provisório, prestes a ceder lugar, na primeira oportunidade em que isto se fizesse necessário, ao emprego maciço dos meios sangrentos. Nunca faltaram platéias devotas que, nas fases de pacifismo estratégico, acreditassem — por ignorância ou por puro wishful thinking — estar presenciando o nascimento de uma nova esquerda, humanizada e redimida. Este espetáculo— com sua contrapartida cíclica de desilusões e autocríticas choronas — repetiu-se dezenas de vezes no curso da história do movimento esquerdista.

O deputado Genoíno, portanto, não é nada novo também sob este aspecto: ao tirar proveito do equívoco que toma por pureza moral o que é esperteza estratégica, ele continua rigorosamente dentro do padrão tradicional de conduta das esquerdas. Se ele faz isso conscientemente ou apenas se deixa deleitar num estado de embriaguez moral em que o aplauso dos enganados acaba por enganar o próprio enganador, é coisa que ignoro: não conheço as profundezas de sua psique para saber se nele predomina o maquiavelismo consciente ou a falsa consciência; o que sei é que, em qualquer dos dois casos, ele continua a ser um personagem típico do circo esquerdista, onde não há lugar senão para dois personagens, os equivalentes ideológicos de Pierrot e Arlequim: a ilusão e o cinismo.

Em terceiro lugar, nunca existiu para as esquerdas a hipótese de fazer uma opção categórica entre via armada e via pacífica, pela simples razão de que toda e qualquer estratégia revolucionária exige o emprego, ora sucessivo, ora simultâneo, dos dois instrumentos. Entre as armas da retórica e a retórica das armas, a esquerda sempre optou pelas duas. Nenhuma revolução esquerdista, em qualquer parte do mundo, se fez jamais por uma dessas vias exclusivamente, ou mesmo predominantemente. A única distinção que cabe é a seguinte: como é impossível, fisicamente, um mesmo indivíduo participar ao mesmo tempo das duas, tomando assento no parlamento às segundas, quartas e sextas e fazendo guerrilha nas selvas às terças, quintas e sábados, é inevitável que uma distribuição de funções atribua a alguns membros do movimento esquerdista o papel mais brando e civilizado, a outros o mais violento e selvagem. Assim, Trótski, na clandestinidade, preparava a insurreição armada, enquanto na cidade a intelligentzia e os deputados esquerdistas na Duma (parlamento russo) pregavam, em linguagem perfeitamente compatível com a ordem e as leis, a defesa dos direitos humanos de trabalhadores e camponeses. Somente Lênin, de longe, era a cabeça por trás dos dois braços, que atuavam com total independência mútua e não raro se hostilizavam.

Do mesmo modo, no tempo em que o jovem Genoíno treinava guerrilha no Araguaia, os deputados e senadores da esquerda, no Congresso, auxiliados pela intelectualidade urbana e pela imprensa de oposição, procuravam obstar por meios legais e pacíficos a ação do governo militar.

A esquerda, naquele tempo, não optou pela via armada: acrescentou-a, apenas, ao combate parlamentar e legal, atuando em dois planos, como quem mantém o adversário distraído por um abundante fluxo de argumentos enquanto junta forças para chutá-lo no baixo ventre.

É absolutamente necessário, ao sucesso de qualquer estratégia revolucionária, que as duas mãos da revolução atuem independentemente e sem que se possa identificar por trás delas o menor sinal de um comando unificado. A convergência dos resultados de uma e de outra — o abalo e destruição do adversário — deve parecer, até o último momento, pura obra do acaso. Não é incomum que o comando estratégico chegue a tornar-se invisível, abstendo-se de interferir e deixando que as duas alas atuem de maneira realmente incoordenada, para só forçar a unificação do movimento no instante do desenlace. Foi precisamente o que fez Lênin em seu exílio europeu. O comando de uma revolução é um ser evanescente e ambíguo, que, durante todo o tempo em que as águas correm na direção desejada, se mantém na posição de um discreto observador a quem ninguém, à primeira vista, atribuiria qualquer poder significativo.

Ora, não havendo opção entre legalidade e ilegalidade, ação parlamentar e ação de guerra, combate de palavras e combate militar, mas sim sempre convergência e articulação mesmo por trás da duplicidade aparentemente incoerente das duas correntes de atuação, o deputado Genoíno sabe que, ao assumir sua aparente opção pela via pacífica, está simplesmente desempenhando um dos papéis do enredo revolucionário, seguro de que alguém estará se incumbindo do papel complementar e fazendo a parte suja do serviço, sem comprometer em nada a imagem de bonzinho que as circunstâncias e conveniências da estratégia esquerdista atribuíram no momento à pessoa do deputado.

José Genoíno sabe que, excluída do campo de sua atuação pessoal, a parte violenta da ação revolucionária não foi de maneira alguma excluída da estratégia global do esquerdismo. Apenas, o papel que cabe hoje a José Genoíno é aquele que, nos seus tempos de guerrilheiro, incumbia a Francisco Pinto no Congresso, a Mário Martins no Senado, a Ênio Silveira e não sei mais quantos na luta cultural, ao passo que o papel que então foi de José Genoíno é desempenhado hoje por José Rainha e suas legiões de posseiros armados.

E, se sabe tudo isso, Genoíno sabe também que sua pretensa opção pela via pacífica é pura pantomima para disfarçar o que não passa de redistribuição de funções segundo as idades e os talentos de cada combatente, no quadro de uma estratégia esquerdista que, hoje como ontem, no Brasil como na Rússia, discursa em cima e bate em baixo, com suas duas mãos de sempre. Se não fosse puro fingimento de militante fiel, se fosse genuína e não apenas genoínica, a recusa da violência imporia ao deputado o dever de não apenas condenar em termos veementes as operações de guerra empreendidas por José Rainha, mas, com toda a coerência lógica, a obrigação de exigir que fossem punidas com os rigores da lei, malgrado o discurso ético-social que lhes serve de pretexto. Se, em vez disso, o próprio Genoíno as aprova tacitamente e as justifica em nome de não sei quantas racionalizações moralizantes, gastando em benefício delas o seu próprio prestígio de pacifista inofensivo, é porque está lá precisamente para esse fim, para dar à violência a cobertura retórica e a legitimação política sem a qual ela perderia toda aura de respeitabilidade e seria condenada como banditismo puro e simples. Já tendo passado da idade de dar tiros, que é coisa feia, o deputado foi transferido, na periódica rotatividade dos quadros esquerdistas, para a seção de embelezamento.

Tudo isso é de uma obviedade patente, e o fato de que mesmo pessoas letradas se recusem a enxergá-lo, ou, enxergando-o, teimem em escondê-lo aos olhos dos demais, só se explica pela mesma mistura e alternância de ingenuidade e cinismo, que mencionei acima, e que constitui a típica receita mental da platéia esquerdista, tal como o Arlequim da falsa consciência e o Pierrot da consciência pérfida são os únicos personagens no palco da sua fantasia. Desafio publicamente o deputado Genoíno a provar com fatos e razões — e não mediante artifícios de retórica depreciativa ou apelos sentimentais — que meu diagnóstico é falso ou deficiente em algum ponto. Caso ele o prove, estarei disposto a abjurar minha opinião imediatamente.


sexta-feira, 22 de novembro de 2013

Acusação que atinge tucanos foi passada à PF pelo ministro da Justiça



Ex-diretor da Siemens aponta envolvimento de secretários do governo paulista com cartel do metrô e pede cargo na Vale em troca de documentos que comprovariam as informações
Alana Rizzo
Veja.com


Ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo (Ueslei Marcelino/Reuters)

O ministro da Justiça, José Eduardo Cardozo, admitiu hoje a VEJA, por meio de sua assessoria, que foi ele quem repassou à Polícia Federal o depoimento de um ex-executivo da Siemens que acusa a cúpula do PSDB em São Paulo de envolvimento com o cartel que operava em licitações de trens e metrô no estado. A informação desmente a versão da PF, subordinada ao Ministério da Justiça, que até então atribuía a origem do documento ao Conselho Administrativo de Defesa Econômica, o Cade. Revelado na quinta-feira, o depoimento envolveu pela primeira vez políticos da cúpula do PSDB nesse caso.

No documento, cujo destinatário é desconhecido, o ex-executivo da Siemens Everton Rheinheimer, que trabalhou na empresa por 22 anos até 2007, afirma ter provas do envolvimento dos políticos, sem no entanto apresentá-las. “Tenho em meu poder uma série de documentos (originais) que provam a existência de um forte esquema de corrupção no estado de São Paulo durante os governos [Mário] Covas,[Geraldo] Alckmin e [José] Serra e que tinha como objetivo principal o abastecimento do caixa dois do PSDB e do DEM”, disse. Em troca das informações, Rheinheimer pede ao destinatário do texto um cargo na direção da Vale.

“O acordo que proponho a seguir não tem nenhum risco, mas envolve minha indicação para uma diretoria-executiva da Vale no médio prazo”, diz o ex-executivo. Como é sabido, nem o Cade nem a Polícia Federal e nem Ministério Público têm o poder de fazer nomeações para a mineradora. Essa prerrogativa é dos acionistas da ex-estatal, incluindo o governo federal — que detém 5% das suas ações — e representantes do partido do governo com influência na empresa.

O documento do ex-executivo envolve quatro secretários do governo do Estado de São Paulo, três do PSDB – Edson Aparecido (Casa Civil), Jurandir Fernandes (Transportes Metropolitanos) e José Aníbal (Energia) e um do DEM, Rodrigo Garcia (Desenvolvimento Econômico), além do senador Aloysio Nunes Ferreira (PSDB) e do deputado Arnaldo Jardim (PPS). Todos negam as informações.

A VEJA, a assessoria do ministro informou que ele costuma receber denúncias e encaminhá-las aos órgãos responsáveis. Não explicou, no entanto, por que ele passou a semana inteira em silêncio enquanto se discutia a origem do documento, atribuída ao Cade. Cardozo só admitiu que foi ele quem passou o depoimento à Polícia Federal depois de questionado pela reportagem da revista.
11.22.2013

KENNEDYS: Glamour, poder, paixão e tragédia


Por Ricardo Setti
 


JACKIE E JACK — Com apelidos quase idênticos, Jacqueline e Kennedy tinham consciência do poder da sedução que emanavam juntos. Um fotógrafo de moda, Mark Shaw, ajudou a projetá-los, registrando momentos descontraídos ou mais posados, em fotos em que tudo era impecável: produção, iluminação e, principalmente, os modelos

Reportagem de Vilma Gryzinski, publicada em edição impressa de VEJA

GLAMOUR, PODER, PAIXÃO E TRAGÉDIA

Atos públicos de grandeza, fraquezas da vida privada, casamento “perfeito” e os tiros que continuam a ecoar pelo mundo alimentam as múltiplas narrativas sobre John Kennedy

Jacqueline Kennedy beijou o pé do marido morto, que despontava “mais branco do que o lençol” estendido sobre o resto do corpo na sala de cirurgia do Hospital Park­land, em Dallas. Puxou o lençol para cobri-lo. Sobre a fina barreira de tecido, deu mais beijos de despedida.

Como nas tragédias gregas, tantas vezes evocadas para narrar a saga dos Kennedy, o personagem principal já era um mito. Mas nos dias, meses e anos subsequentes o mito seria filtrado, modulado, sintetizado. Jacqueline teria um papel essencial nisso, e não é impossível que tivesse começado a pensar a respeito quando ainda vestia a roupa cor-de-rosa e as luvas empapadas de sangue, endurecidas por pedaços do cérebro do presidente assassinado, como indicam os detalhes do enterro épico planejados pela viúva que mesmerizou o mundo com o véu negro e os olhos sem lágrimas.



UMA IMAGEM, 1355 PALAVRAS Nos Estados Unidos, o discurso de posse de John Kennedy, em 20 de janeiro de 1961, tornou-se provavelmente o mais citado do século XX. Cada uma das 1355 palavras, pronunciadas em catorze minutos, parece manter um vigor imune às infinitas repetições, desde as conhecidíssimas “Não perguntem o que seu país pode fazer por vocês, mas o que vocês podem fazer pelo seu país” até as sombrias referências à ameaça de guerra nuclear — “O mundo hoje é muito diferente, pois o homem detém
em suas mãos mortais o poder de abolir todas as formas de pobreza humana e todas as formas de vida humana”. Dinâmico e carismático, com uma mulher que o olhava com adoração (na foto, num dos bailes do dia da posse) e uma família feita para ser fotografada, ele era a própria encarnação da “tocha passada a uma nova geração de americanos” (Foto: Paul Schultzer / Getty Images)



Fez isso tão bem que até hoje é difícil separar acontecimentos históricos da imagem que se passou a fazer deles. Como toda boa história, a de Jack e Jackie, os apelidos quase xifópagos dos dois, continua a ser reescrita por quem a conta e por quem a ouve.

Pessoas normais têm contradições, mas em figuras mitológicas como John Fitzgerald Kennedy as qualidades, os defeitos e as características que não podem ser classificadas como uma coisa nem outra, embora igualmente impressionantes, assumem uma dimensão impossível de ser domada sob uma única narrativa.

Ele era eloquente, dinâmico, carismático. E também inclinado a riscos extremos e manobras obscuras. Citava os clássicos gregos e negociava votos com mafiosos. Escrevia livros e discursos espetaculares – e, quando não o fazia, amigos escritores cediam as próprias palavras e se sentiam felizes por isso.

Filho de um milionário dominador, foi contra as ideias do pai quando ainda se discutia se os Estados Unidos deveriam ou não participar da II Guerra Mundial. Falsificou um atestado sobre a própria e precária saúde, escondendo as muitas fragilidades, para poder ocupar uma posição de combate na selvagem frente de guerra do Pacífico.


John F. Kennedy beija sua pequena filha Caroline (Foto: Werner Baroni / AFP)

Liderou os sobreviventes do naufrágio da embarcação que comandava, nadou até uma ilha, escreveu uma mensagem a ponta de faca num coco verde e convenceu um habitante nativo a entregá-lo numa base americana em outra ilha, mas parece ter se sentido culpado por sobreviver enquanto o irmão mais velho explodiu num avião na Inglaterra.

Escolheu uma das garotas mais promissoras e independentes da alta sociedade para se casar e lhe abriu um espaço sem precedentes quando se tornou presidente. Viciado em sexo, traía-a incansavelmente, às vezes de forma torpe. Em alguns aspectos, estava tão à esquerda quanto hoje o presidente Barack Obama, que tem um poder parecido de inspirar e provocar sentimentos positivos – embora seja difícil imaginar Obama sujando os sapatos de golfe, que dirá salvando um companheiro queimado, a nado, com o colete salva-vidas dele preso pelos dentes. Em outras questões políticas, fecharia com membros do Tea Party.

Fez o programa para enviar o homem à Lua e mandou cubanos anticastristas para o desastre da invasão da Baía dos Porcos. Lá, abandonou-os à própria sorte. Abandonou também o aliado americano no Vietnã do Sul, o presidente Ngo Dinh Diem, assassinado vinte dias antes que o próprio Kennedy.


A GRAÇA DO ESTADO — Acontecimentos políticos dramáticos alternaram explosões de agonia e de euforia durante os dois anos e dez meses do governo Kennedy: a invasão fracassada de Cuba, a crise que quase jogou o mundo numa guerra nuclear, o impacto da construção do Muro de Berlim, o lançamento do programa para enviar astronautas à Lua, as conquistas do movimento pela igualdade dos negros. Tudo isso pontuado por momentos de graça e elegância protagonizados por Jacqueline, com seus próprios capítulos de destaque, como a visita de Estado à França, em 1961 (Foto: AP)


A encrenca nascente do Vietnã já levava sua assinatura. Durante os dois anos e dez meses de seu governo, fez discursos espetaculares pela liberdade e pela paz, mas o mundo esteve mais perto do que nunca de acabar, incinerado numa guerra nuclear resultante da crise desencadeada quando a União Soviética instalou secretamente mísseis com ogivas atômicas em Cuba.

Tantos filmes depois, muita gente conhece os principais lances dramáticos: os mísseis clandestinos são fotografados por aviões espiões, Kennedy manda fazer um bloqueio naval em volta de Cuba e navios de guerra soviéticos vão avançando, avançando, até ficarem literalmente a dezenas de metros dos americanos, quando Nikita Kruschev recua, temeroso das terríveis consequências (e também tendo obtido certas concessões).



Jackie — viagem sozinha à Índia — A maioria de suas roupas era feita por um costureiro baseado nos Estados Unidos desde a campanha presidencial do marido, que havia concorrido com Richard Nixon. Na época, disse que não queria aparecer usando “roupas de Paris enquanto a senhora Nixon faz as suas na máquina de costura” (Foto: AP)


Uma história menos pública da época dessa crise revela outra camada das narrativas em torno de Kennedy: o casamento com a fina e eternamente impecável Jacqueline não tinha nada de arranjo de fachada. Quando soube que seria mandada para longe da Casa Branca, alvo primário numa guerra nuclear, ela não aceitou. “Vamos todos ficar aqui. Mesmo se não tiver lugar no abrigo antiaéreo da Casa Branca, ficarei no gramado”, disse. “Quero ficar com você, morrer com você. E as crianças também.”

Que mulher expõe os filhos ao risco de um bombardeio nuclear? Uma mulher loucamente apaixonada e num dos piores lugares em que poderia estar nessas circunstâncias: casada com um homem de libido hiperativa, criado pelo pai desde menino a buscar relações constantes e variadas, a maioria delas coisa de meia hora entre conhecer, conquistar e consumar, algumas mais longas, umas poucas incrivelmente complicadas – a amante que também se envolveu com um chefão mafioso, a casada com um medalhão da CIA, a que espionava para os alemães, a que era Marilyn Monroe.



PARA MOSTRAR A “ELES” — “As mulheres dos republicanos vão estar com casacos de visom e pulseiras de brilhantes. Vamos mostrar aos texanos o que é realmente bom gosto”, propôs Kennedy ao pedir à mulher que usasse seu tailleur mais chique, um híbrido cor-de-rosa feito numa butique de Nova York com tecido e acabamentos mandados pela maison Chanel. Jacqueline não quis se trocar para a viagem com o corpo do marido. Desceu em Washington de mãos dadas com o cunhado Bob Kennedy e arrependida por ter lavado o sangue do rosto e do cabelo. Queria ter mostrado bem “o que eles fizeram” (Foto: AP)


A morte precoce de Marilyn combinou-se ao assassinato do presidente para alimentar a torrente de teorias conspiratórias que continua a jorrar até hoje. O mais provável é que a deprimida atriz tenha sido apenas um nome estrelado a mais na lista de conquistas de Kennedy, ao lado de outras beldades da época como Kim Novak e Angie Dickinson.

À veterana Marlene Dietrich perguntou se também tinha se envolvido com o pai dele, outro caçador de estrelas. Ela respondeu que não. “Preciso de carne fresca todos os dias, senão fico com dor de cabeça”, era a espantosa explicação de Kennedy para os íntimos. Os seguranças se horrorizavam com os riscos que o fluxo constante de “conhecidas” criava, quando na verdade o perigo estava em um único e desconhecido homem.

Jacqueline podia enganar a si mesma em relação às traições do marido, mas tinha a mente perfeitamente clara sobre a imagem heroica que queria deixar dele depois do assassinato. Como a editora de livros que viria a ser, depois de passar de viúva sacralizada a interesseira descontrolada via casamento com o milionário grego Aristóteles Onassis, ela eliminou as passagens ruins e exaltou as boas de Kennedy.

Uma semana depois de segurar seu corpo nos braços, chamou um jornalista de confiança e falou durante quatro horas sobre a vida, a morte e a “magia” do marido. Foi aí que fez a comparação entre o governo dele e a corte do rei Artur, evocando um trecho do musical Camelot, o nome do castelo do personagem mítico. A palavra foi infinitamente replicada como sinônimo de uma era encantada.



Para o enterro, usou como referência o cerimonial de outro presidente
assassinado, Abraham Lincoln (Foto: AP)

Como acontece com outros grandes líderes políticos, Kennedy, descrito por um biógrafo como “um dos homens mais complicados e enigmáticos que já ocuparam a Casa Branca”, pode ser usado por diferentes correntes ideológicas. O programa para mandar o primeiro homem à Lua é evocado como exemplo da grandeza, da singularidade e da incomparável capacidade de realização dos americanos. Portanto, coisa de “direita”.

As políticas sociais são sempre consideradas “progressistas”. O histórico discurso que fez à nação em 11 de junho de 1963 de alguma maneira reflete isso. Em alguns estados do Sul, ainda havia muita resistência das autoridades ao fim da discriminação vigente entre brancos e negros em lugares públicos, em especial as escolas.

Kennedy fez um apelo à consciência, aos valores morais e até aos ensinamentos bíblicos para acabar com essa “indignidade arbitrária”, mas não tratou os que ainda defendiam a segregação como inimigos ou aberrações – mesmo porque era o Partido Democrata que governava os sulistas. “É um problema que todos nós enfrentamos, no Norte ou no Sul”, conciliou.

Secretamente, havia autorizado que o FBI grampeasse o líder negro Martin Luther King. O exercício do poder é complicado e a democracia não é perfeita. A última frase foi pronunciada por Kennedy em outro discurso célebre, o de Berlim, com um adendo: “Mas nunca tivemos de erguer um muro para não deixar nosso povo sair”.

Tornou-se um lugar-comum, mas dito por ele, daquela forma e naquele momento, teve uma grandiosidade que continua a atravessar as camadas de uma história infinitamente repetida.

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22.11.2013


Visitas demais




É antiga e vale para quase todos os países a constatação de que, embora todos os cidadãos sejam iguais perante as leis, sempre há alguns que são mais iguais que os outros.

Estão nesse caso os petistas do primeiro escalão do partido que cumprem pena no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília. Pelas normas da prisão, os presos têm direito a visitas nas quartas e quintas-feiras. Mas isso não vale para os três petistas José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares. Na última terça-feira, o jornal constatou a presença na Papuda de quase 20 pessoas visitando os presidiários do PT José Dirceu, José Genoíno e Delúbio Soares.

Os visitantes se aproveitaram de uma prerrogativa concedida — sabe-se lá por que motivo — a parlamentares de visitarem presídios quando quiserem. É óbvio que esse direito existe para que senadores e deputados obtenham informações necessárias ao cumprimento de seus deveres legislativos.






Mas o PT se aproveita disso apenas para melhorar a vida de seus membros que cumprem pena por crimes que deveriam envergonhar qualquer partido político. Pelo visto, para a cúpula do PT, José Dirceu e seus companheiros de prisão são heróis vítimas de uma decisão cruel do Judiciário. E, ao abusarem de uma norma criada para facilitar o trabalho de membros do Congresso, mostram desrespeito ao Poder Legislativo.

Além disso, não é exagero constatar que se trata de uma ofensa aos ministros do Supremo Tribunal Federal que, numa decisão que pode ser considerada histórica, mostraram à opinião pública do país que a classe política não está acima das leis.

Os petistas — e, provavelmente, políticos da maioria dos partidos — parece que não concordam com isso. E, pelo visto, mostram também que são solidários com seus companheiros condenados pela mais alta instância da Justiça do país.

O PT é, sem dúvida, um dos partidos mais importantes do país. Por isso mesmo, seus membros mais poderosos deveriam cuidar melhor de sua imagem. A solidariedade escancarada com aqueles que sujaram essa imagem é um comportamento equivocado — tanto do ponto de vista político como moral.

22.11.2013

FOTOS HISTÓRICAS – No 50º aniversário da morte de John F. Kennedy, uma compilação com imagens do mito em público e na intimidade


Vasto Mundo


Por Ricardo Setti


Imagem inédita até recentemente mostra Kennedy observado por admiradores em plena campanha presidencial de 1960: ícone do século 20
(Foto: Paul Schutzer – Time&Life Pictures/Getty Images)
Há exatos 50 anos, John Fitzgerald Kennedy recebia três tiros – um dos quais na cabeça – e morria no atendado durante visita a Dallas, nos Estados Unidos, que provocou um terremoto político e semeou dúvidas que perduram até hoje.

Seu mandato como o 35º presidente americano não durou nem três anos – precisamente entre 20 de janeiro de 1961 e 22 de novembro de 1963, data do assassinato -, mas antes mesmo seu carisma de popstar e a embalagem progressista de muitas de suas ideias, misturada à dureza de implacável protagonista da Guerra Fria, já lhe garantiam, antes da morte, um lugar especial entre as figuras mais icônicas do século XX.

Essa aura pode ser contemplada na compilação especial de fotos organizada pela revista americana Life, uma das que melhor cobriu a vida e a carreira política do presidente assassinado aos 46 anos. A seguir, algumas pérolas deste acervo, incluindo fotografias nunca antes publicadas pela própria Life.


Em 1952, durante encontro com eleitoras em campanha pelo senado por Massachusetts – cargo que exerceria entre o ano seguinte e 1960
(Foto: Yale Joel – Time & Life Pictures/Getty Images)


Em 1953, velejando com a então namorada Jacqueline Bouvier em Cape Cod, no
nordeste dos EUA
(Foto: Hy Peskin Collection)



O casamento, em setembro de 1953; a partir de então ela seria conhecida como Jaqueline (ou “Jackie”) Kennedy
(Foto: Lisa Larsen Time & Life Pictures/Getty Images)



Com Robert, irmão mais novo, político como ele – e que igualmente seria assassinado, em 1968 – e o sobrinho Bobby Jr., casa em Hickory Hill, 1957
(Foto: Paul Schutzer – Time&Life Pictures/Getty Images)



Foto clássica ao lado de Robert Kennedy, 1958
(Foto: Paul Schutzer – Time&Life Pictures/Getty Images)


Em 1958, com a filha mais velha, Caroline Bouvier Kennedy, nascida em novembro do ano anterior
(Foto: Ed Clark – Time & Life Pictures/Getty Images)



A família em casa em Georgetown, 1958
(Foto: Nina Leen: Time & Life Pictures/Getty Images)


A foto sua da qual mais gostava, feita em 1959 nas dunas de Hyannis, em Massachusetts
(Foto: Mark Shaw -mptvimages.com)

Cumplicidade com Robert em hotel de Los Angeles durante a Convenção do Partido Democrata de 1960 (Time&Life Pictures/Getty Images)


Retorno triunfal da convenção, em situação curiosamente semelhante à de seu futuro assassinato: desfilando em carro aberto, na companhia de Jackie
(Foto: Paul Schutzer – Time&Life Pictures/Getty Images)

Alegria na companhia de Caroline após a nomeação como candidato presidencial, 1960
(Foto:Alfred Eisenstaedt – Time & Life Pictures/Getty Images)


Imagem inédita de Kennedy discursando sobre uma cadeira de cozinha durante campanha de 1960, no estado americano de West Virginia
(Foto: Hank Walker – Time & Life Pictures/Getty Images)


Na mesma ocasião, agora tendo um carro como “palanque”; também publicada pela primeira vez apenas agora
(Foto: Hank Walker -Time & Life Pictures/Getty Images)


Debate televisivo com o oponente Richard Nixon (Foto: Ed Clark – Time & Life Pictures/Getty Images)

Imagem nunca antes publicada pela Life mostra o então candidato saltando de um carro durante a campanha de 1960
(Foto: Paul Schutzer – Time & Life Pictures/Getty Images



Outra imagem inédita capta admiradoras de Kennedy contidas pela polícia no estado de Michigan, 1960
(Foto: Paul Schutzer – Time&Life Pictures/Getty Images)

A cantora Marian Anderson entoa a voz na posse de Kennedy como presidente, a 20 de janeiro de 1961 (Foto: George Silk – Time&Life Pictures/Getty Images)


Harry Truman, o 33º presidente, assina o programa do tradicional baile inaugural de Kennedy como presidente, 20 de janeiro de 1961
(Foto: Paul Schutzer – Time&Life Pictures/Getty Images)


Outro registro do baile
(Foto: Paul Schutzer – Time&Life Pictures/Getty Images)


No Salão Oval da Casa Branca, 1961
(Foto: Cornell Capa – Magnum)


Em Cam David com o antecessor Dwight D. Eisenhower, em reunião para tratar da a Invasão da Baía dos Porcos, em Cuba, por anti-castristas ligados aos EUA, 1961
(Foto: Ed Clark – Time&Life Pictures/Getty Images)


Anunciando o embargo a Cuba pela TV em 1962
(Foto: Ralph Crane – Time&Life Pictures/Getty Images)
22/11/2013

Puxa-sacos de ladrões!





Intimidar o Judiciário é delinquência; a doença do petista é real; a construção do mártir é uma farsa



POR REINALDO AZEVEDO
FOLHA DE SÃO PAULO 

No Brasil, não há presos políticos, mas políticos presos. A diferença entre uma coisa e outra é a que existe entre a ditadura cubana, que o governo petista financia, e a democracia, que o petismo difama. Se, no entanto, houvesse, a carcereira seria Dilma Rousseff. Ela pode fazer o STF sair com a toga entre as pernas. Basta evocar o inciso 12 do artigo 84 da Constituição: "Compete privativamente ao presidente da República (...) conceder indulto e comutar penas, com audiência, se necessário, dos órgãos instituídos em lei". Também vale para "presidentas".

Paulo Vannuchi, um devoto da democracia à moda Carlos Marighella, comparou a condenação de José Dirceu à extradição de Olga Benário. É? Foi o STF que autorizou o envio para a Alemanha nazista de uma judia comunista. O fascistoide Getúlio Vargas, hoje herói das esquerdas, poderia ter impedido o ato obsceno. Deu de ombros. Que Dilma não cometa o mesmo erro e liberte a súcia de heróis. Ironia não tem nota de rodapé --ou vira alfafa.

Está em curso um processo inédito de satanização do Judiciário. A sanha difamatória, na semana em que se comemora o Dia da Consciência Negra, não poupa nem a cor da pele de Joaquim Barbosa. Racistas virtuosos acham que ele se comporta como um "negro de alma branca". Lula lhe teria feito um favor, e ele não beija a mão de nhonhô...

Protestar contra os três dias de regime fechado para José Genoino é do jogo. Intimidar o Judiciário é delinquência política. A doença do petista é real; a construção do mártir é uma farsa. No dia da prisão, ele recusou exame médico preventivo no IML. Era parte da pantomima do falso herói trágico. Barbosa não cometeu uma só ilegalidade. A gritaria é fruto da máquina de propaganda do PT, que se aproveita da ignorância específica de jornalistas. Não são obrigados a saber tudo; o problema, em certos casos, é a imodéstia...

Um dos bons fundamentos do cristianismo é amar o pecador, não o pecado. Fiel à tradição das esquerdas, o PT ama é o pecado mesmo. O pecador é só o executor da tarefa em nome da causa. Leiam a peça "As Mãos Sujas", de Sartre, escrita antes de o autor se tornar um comunista babão. É esquemática, mas vai ao cerne do surrealismo socialista.

Alguns de nossos cronistas precisam ler. Outros precisam ler Padre Vieira. No "Sermão do Bom Ladrão", ele cita a descompostura que Alexandre Magno passou num pirata. O homem responde ao Lula da Macedônia: "Basta, senhor, que eu, porque roubo em uma barca, sou ladrão, e vós, porque roubais em uma armada, sois imperador?" Vieira emenda: "Assim é. (...) o roubar com pouco poder faz os piratas, o roubar com muito, os Alexandres."

Na quarta, reportagem de Flávia Foreque, no site da Folha, foi ao ponto. Um grupo de deputados do PT visitou os varões de Plutarco na Papuda. Parentes de presos sem pedigree ideológico começaram a xingar os petistas: "Puxa-saco de ladrões!". A deputada Marina Sant'Anna (PT-GO) quis dialogar. Sem sucesso. A mulher de um dos piratas resumiu: "Qual é a diferença [entre presos do mensalão e os demais]? Só porque tem nível superior, porque roubou do povo?" Vieira via diferença, sim. Os bacanas são mais covardes.

Indulto já, presidente! Até porque, entrando no 12º ano de governo e com mensaleiros em cana, o PT descobriu a precariedade das prisões. Este ano vai terminar com uma queda de 34,2% no valor destinado ao Plano Nacional de Apoio ao Sistema Prisional: R$ 238 milhões, contra R$ 361,9 milhões em 2012. Nas cadeias, só havia piratas "pobres de tão pretos e pretos de tão pobres". Agora há os Alexandres vermelhos, mas não de vergonha.

22.11.2013

quinta-feira, 21 de novembro de 2013

MENSALÃO: No caso de Genoino, há uma torcida sinistra para torná-lo um “mártir”



Genoino no momento em que se entregou à Polícia Federal: partidos políticos costumam atropelar tudo o que for possível para atingir seus objetivos.
No caso de Genoino, há quem torça para que ele se torne um “mártir” do mensalão

(Foto: Ivan Pacheco)

Antes tarde do que nunca — e cautela nunca é demais: hoje, quinta-feira, 21, o ministro Joaquim Barbosa, presidente do Supremo Tribunal Federal, determinou provisoriamente a prisão domiciliar ao deputado José Genoino, um dos condenados no caso do mensalão, que passou mal na Penitenciária da Papuda, em Brasília, onde está detido desde sexta-feira passada.

O ex-presidente do PT foi levado ao Instituto de Cardiologia do Distrito Federal (ICDF), no Hospital das Forças Armadas, em Brasília, após passar mal no Complexo da Papuda. A decisão do presidente do Supremo é provisória e tem validade até que uma junta médica de cardiologistas analise o quadro clínico do mensaleiro.

Antes, Barbosa já ordenara a realização dessa perícia médica para analisar o estado de saúde do deputado. Em sua decisão, o ministro destacou que a avaliação de Genoino deveria ser feita por, no mínimo, três médicos cardiologistas indicados pelos diretores do Hospital Universitário de Brasília (HUB). O ministro quer saber se, para o adequado tratamento do deputado, é necessário que ele permaneça em sua casa, em prisão domiciliar, ou internado em unidade hospitalar.

Acho que o ministro Joaquim demorou, mas fez a coisa certa.

Com saúde de ninguém se brinca — seja ele quem for.

E, no caso, por chocante que possa parecer dizer e escrever isso, há no ar um sinistro aspecto de “torcida”, que se nota por parte de gente do PT, para que a saúde de Genoino se deteriore a ponto de que ele se torne um “mártir” no caso do mensalão, cujas condenações, como se sabe, o PT não aceita por considerar que houve um “julgamento político”.

Partidos políticos, sobretudo os fanatizados por ideologias, passam por cima de tudo o que for possível atropelar para atingir seus objetivos. Se as condições de Genoino convergirem para que o PT use sua imagem como a de um “mártir”, não tenho dúvidas de que isso será feito.

Ninguém em sã consciência, ninguém com os sentimentos medianos de uma decente pessoa deseja que o deputado piore de saúde ou — Deus não permita — morra. Uma coisa é combater as ideias de um político. Outra, muito diferente, e detestável, é desejar-lhe mal como pessoa. Quem acredita nos direitos humanos e os defende para todos os cidadãos não pode pensar assim. E o cenário de um detento com direito à prisão semi-aberta morrendo no regime fechado, por falta de vagas, além de significar uma tragédia para a família do deputado jogaria no lixo o julgamento mais importante da história recente do país, revertendo dramaticamente o sentimento espalhado pelo país de que, enfim, se fez justiça num caso envolvendo poderosos.

Assim que Genoino foi preso, sua defesa em juízo encaminhou pedido de prisão domiciliar alegando ser “grave” seu estado de saúde. Pessoalmente, não tenho razão alguma para duvidar. O réu condenado sofreu uma cirurgia no meio do ano para reparar uma ruptura na parede interna da aorta, a mais importante artéria do corpo, e, no hospital Sírio-Libanês, enquanto se recuperava, sofreu um pequeno derrame. Sua hospitalização durou mais de dois meses.

Laudo do Instituto Médico Legal (IML) atesta que ele precisa de alimentação especial e medicamentos adequados. A perícia concluiu que Genoino é “paciente com doença grave, crônica e que necessita de cuidados gerais”.
21/11/2013



Joaquim Barbosa não praticou uma só ilegalidade; gritaria é fruto da máquina de difamação do PT. Tire suas dúvidas





Por Reinaldo Azevedo

Joaquim Barbosa, relator do mensalão e presidente do Supremo Tribunal Federal, não cometeu ilegalidade nenhuma ao determinar a prisão dos mensaleiros.

Nada!

Zero!

A gritaria é só decorrência da máquina de propaganda e de difamação do petismo. Os presos estão sob a guarda da Polícia Federal, que também é polícia judiciária. A Vara de Execução Penal que cumpre as determinações do Supremo é a do Distrito Federal.

Pergunta com resposta óbvia: o deputado Natan Donadon (sem partido) cumpre pena em Rondônia ou na Papuda?

Agora, sim: executadas as prisões, analisam-se os pedidos para cumprimento em outros estados por esta ou por aquela razão.
Wadih Damous, presidente do Comissão de Direitos Humanos da OAB, saiu atirando contra a Joaquim Barbosa. É o que ele sempre faz quando seus “companheiros” de esquerda estão em apuros. Esse senhor vinha se especializando, nos últimos tempos, em sair em defesa de mascarados violentos no Rio. Agora, arrumou uma causa ainda mais especiosa…

O Conselho Federal da OAB, ainda bem!, preferiu deixar o homem falando sozinho e não endossou seu chilique. Sabia que havia na gritaria mais ideologia do que questão técnica.

Leiam abaixo algumas perguntas e respostas sobre a prisão dos mensaleiros, pubicadas na VEJA.com.
Por Laryssa Borges

1. É legal transportar os condenados para Brasília previamente, mesmo antes da definição do local definitivo para o cumprimento da pena?
Sim. O juiz responsável pela execução se encarrega de estabelecer todas as condições para o cumprimento da pena e isso pressupõe que todos os réus possam ser levados ao local onde fica o magistrado. A justificativa para a transferência dos condenados baseia-se, por exemplo, na possibilidade de o juiz achar necessário convocar audiências, determinar exames médicos ou verificar previamente condições de cumprimento de prisões em regime semiaberto. No caso do mensalão, o ministro Joaquim Barbosa, do Supremo Tribunal Federal, dividiu as funções de execução com o juiz Ademar Silva de Vasconcelos, da Vara de Execução Penal (VEP) do DF. Caberá ao relator do mensalão, por exemplo, analisar pedidos de indulto e liberdade condicional, enquanto a Vara será responsável por emitir guias de recolhimento dos mensaleiros e calcular as multas impostas aos condenados.
2. É legal determinar a prisão de um condenado mesmo sem a expedição da carta de sentença? A Lei de Execução Penal e o Conselho Nacional de Justiça (CNJ) exigem a expedição da carta de sentença para se documentar o início do processo de execução da pena, mas não estabelecem nenhum tipo de sanção caso a guia não seja encaminhada previamente ao juiz. Para juristas, a divulgação do documento é um ato meramente protocolar e administrativo, ou seja, não se pode classificar como ilegal a prisão de um condenado sem a carta se sentença.
3. Um condenado reconhecidamente em estado de saúde debilitada pode cumprir a pena normalmente em um presídio, independentemente de ser na ala para regime fechado ou semiaberto? Sim. A decisão cabe ao juiz de execução, que, para proferir seu veredicto, pode pedir laudos periciais e análises de juntas médicas especializadas. Com base nesses documentos, o juiz pode negar, por exemplo, pedido de prisão domiciliar e determinar que o detento continue no presídio. O condenado tem direito à assistência de médicos, enfermeiros, dentistas, psicólogos e nutricionistas, mas caso ele precise de atendimento específico na área da saúde, a direção do presídio e o juiz da execução podem conceder autorização especial para tratamento fora da unidade prisional.
5. O juiz pode se recusar a enviar um preso para cumprir pena perto da família? Sim, desde que fundamente sua decisão. Em geral, os argumentos utilizados pelos juízes para negar pedidos desta natureza são questões de segurança, ausência de vagas e alertas para evitar que o condenado exerça influência de dentro da cadeia. Em casos específicos, o criminoso pode ser transportado para presídios distantes do local onde sua família vive. É o caso de presos que são encaminhados, por exemplo, aos presídios de segurança máxima no interior de São Paulo.
6. O juiz pode se negar a autorizar trabalho externo para um condenado em regime semiaberto? Sim. A Lei de Execução Penal não prevê o trabalho externo como um direito automático dos condenados em regime semiaberto. Para pedir o benefício, o condenado precisa apresentar carta com proposta de emprego na unidade prisional onde estiver cumprindo pena. O presídio encaminhará uma assistente social ao local do emprego para fazer um relatório sobre as condições de trabalho. Por lei, o trabalho externo só é autorizado quando o condenado tiver cumprido, no mínimo, um sexto da pena, mas o Superior Tribunal de Justiça (STJ) tem jurisprudência que autoriza o trabalho independentemente deste cumprimento. O Supremo Tribunal Federal (STF), entretanto, tem decisões em sentido contrário exigindo a comprovação de cumprimento prévio de parte da sentença.
7. Em que circunstâncias um condenado pode utilizar tornozeleira eletrônica? O juiz, a seu critério, pode decidir se um condenado que cumpre pena nos regimes semiaberto ou domiciliar deve ser fiscalizado por meio de tornozeleira ou colar eletrônico. As tornozeleiras devem ser equipadas de sistemas GPS, blindadas e à prova de fogo e de água. No caso dos condenados no mensalão, a tornozeleira eletrônica pode ser usada para evitar que seja necessário deixar policiais federais na vigilância dos detentos.
8. Que tipo de trabalho o condenado pode fazer na prisão? E em regime semiaberto? Cabe ao juiz analisar subjetivamente que atividades podem ser desenvolvidas pelo condenado, desde que as atividades tenham dever social e respeitem a dignidade humana. O trabalho do detento tem de necessariamente ter finalidade educativa e produtiva. O condenado pode trabalhar enquanto cumpre pena, inclusive em regime fechado, sendo remunerado por isso. A cada três dias de trabalho, o preso tem direito a redução de um dia da pena. A jornada é de seis a oito horas diárias, com descanso aos domingos e feriados. O trabalho externo é permitido para presos em regime fechado somente em obras públicas ou empreendimentos de entidades privadas, desde que tomadas cautelas contra fugas. A Lei de Execução Penal não traz orientação expressa sobre o trabalho dos condenados em regime semiaberto, mas cabe ao juiz autorizar ou não que o detento exerça atividade externa.

Para a elaboração das respostas, o site de VEJA se baseou na Lei de Execução Penal, em documentos do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) e do Tribunal de Justiça do Distrito Federal e ouviu dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF), além do ex-ministro da Justiça Miguel Reale Júnior e do ex-presidente do STF Carlos Velloso.

21/11/2013

quarta-feira, 20 de novembro de 2013

Charge



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os anjos da cara suja

sponholz

terça-feira, 19 de novembro de 2013

A carta da “troika” “Dirceu-Delúbio-Genoino” de ódio à democracia. Ou: Um sotaque bolchevique para três corruptores


Por Reinaldo Azevedo



Nunca antes na história destepaiz o crime foi tão digno, tão senhor de si, tão cheio de honra. José Dirceu, José Genoino e Delúbio Soares insistem na farsa de que são presos políticos. Resolveram redigir uma carta, em lulês, a língua que se fala por lá, tornada pública por advogados. Dizem não aceitar “humilhação” e preferir o “risco e a dignidade”. O que isso quer dizer? Ora, nada! Trata-se apenas da demonização da Justiça. Os petistas estão tentando ver se o “povo” sai às ruas em defesa do crime. Até agora, não aconteceu. Abaixo, seguem os garranchos da “troika” de ódio ao estado de direito e à democracia. O que é “troika”? É “trinca”, “trio”, “grupo de três coisas semelhantes”. Escolhi a palavra russa para dar à coisa um sotaque bolchevique. É a carta-testamento de três corruptores e, por enquanto ao menos, três quadrilheiros. Mais uma vez, tentam pegar uma carona em Getúlio Vargas. É patético. Mas não creio que corram o risco de terminar como aquele, não é? Getúlio foi ao extremo porque era do tipo que acreditava na própria farsa. O petismo resolveu reviver o mito como comédia.


19/11/2013

Mentor do escândalo dos dólares na cueca e irmão do mensaleiro Genoino, José Nobre ameaça o STF


Sem limites

 

Por admin
Parte do processo do Mensalão do PT chegou ao fim com a prisão dos envolvidos no esquema criminoso de compra de parlamentares através de mesadas, pagas com dinheiro público desviado do Banco do Brasil, mas a ousadia continua a jorrar das entranhas do maior escândalo de corrupção da história nacional.

Certos de que a Ação Penal 470 terminaria como piada de salão, como afirmou o mensaleiro Delúbio Soares, os petistas condenados insistem em defender a tese de que são presos políticos e que o julgamento foi de exceção. Estratégia imunda e rasteira, típica de quem se envolve em casos de corrupção apostando na impunidade.

Abusando da vitimização na esteira de uma cardiopatia, o ex-presidente nacional do PT, José Genoino, quer cumprir a pena em prisão domiciliar por causa dos problemas de saúde. Trata-se de um direito do apenado que a Justiça deve analisar, como já providenciou o ministro Joaquim Barbosa, mas não custa destacar que para um cardiopata, que recentemente submeteu-se a cirurgia na aorta, Genoino está com a circunferência abdominal extremamente avantajada. Situação que não condiz com quem sofre de hipertensão.

Ademais, alguém que está com a saúde debilitada não encontra disposição para espetáculos midiáticos, como foi o momento em que cerrou o punho à porta da sede da Polícia Federal, em São Paulo, como se estivesse repetindo um gesto tipicamente bolchevique.


O ápice do absurdo nessa epopeia ficou por conta do deputado federal José Nobre Guimarães (CE), líder do PT na Câmara, irmão de Genoino. Mentor do escândalo dos dólares na cueca, Guimarães disse que sua família processará o Supremo Tribunal Federal, na pessoa do presidente Joaquim Barbosa, caso aconteça algo grave com José Genoino no cárcere. José Nobre Guimarães precisa compreender que o irmão não está passando uma temporada em SPA de luxo, mas cumprindo pena de prisão por envolvimento em corrupção e outros quesitos penais.

Se antes de colocar o pé no avião da Polícia Federal (o camburão com asas), que o levou de São Paulo a Brasília, José Genoino era um cidadão comum como outro qualquer, sujeito às garras da lei, agora que está na condição de presidiário essa condição de isonomia é ainda mais latente. No cárcere, os únicos itens do currículo levados em conta são os crimes cometidos pelo apenado. Fama e concentração de poder ficam retidas na porta do presídio.

O que os brasileiros não devem aceitar de forma passiva é que um cidadão como José Nobre Guimarães, representante do partido responsável pelo período mais corrupto da história nacional e envolvido em um escândalo bizarro, dê lições de moral e ameace o Judiciário, como se no País não existissem leis capazes de coibir tais abusos. O Judiciário precisa abandonar a frouxidão, assumir o seu papel de poder republicano constituído e fazer valer a lei, não sem antes manter a ordem.



19/11/2013

No Dia da República, o Brasil lembrou um país em que todos são iguais perante a lei





Por Augusto Nunes

No vídeo de 5:11 , o Implicante resumiu a enorme relevância histórica do 15 de Novembro de 2013 com uma sequência de contrapontos entre a luz e a treva, a verdade e a mentira, a honestidade e a corrupção, a honradez e a indecência, a Justiça e o crime.

No Dia da República, para surpresa dos muito céticos e para assombro dos muito cínicos, a prisão dos quadrilheiros do mensalão, transmitida ao vivo pela TV, fez o Brasil ficar parecido, ao menos por algumas horas, com países onde todos são iguais perante a lei.

Arrogantes, presunçosos, atrevidos, os bandidos de estimação dos donos do poder só conseguiram acreditar que lhes fora confiscado o direito à perpétua impunidade depois de confrontados com os mandados expedidos pelo ministro Joaquim Barbosa e entregues por agentes da Polícia Federal.

Se soubessem ouvir os gritos do silêncio, teriam escutado nitidamente a voz de prisão berrada em coro por milhões de brasileiros que ─ apesar de tudo, apesar de tantos, apesar de todos ─ permaneceram agarrados à crença de que ainda há juízes no Brasil.

Os integrantes da resistência democrática venceram, e o triunfo pertence a todos: tanto aos que nunca perderam a fé quanto aos que sucumbiram a compreeensíveis surtos de ceticismo (e agora sabem que é preciso combater o bom combate sobretudo em tempos especialmente sombrios).

Nenhuma noite é suficientemente longa para assassinar a manhã. Demorou oito anos, mas os bandidos conheceram a insônia de cadeia. É muito mais opressiva, perturbadora, aguda. É também bastante pedagógica.

O Brasil, obviamente, não foi transferido para o Primeiro Mundo depois deste 15 de Novembro.

Mas soube que é possível ficar bem melhor no curto espaço de um dia.

Os brasileiros vão aprendendo que o país será o que eles quiserem.

Períodos históricos são frequentemente estrelados por farsantes.

Mas o protagonista é sempre o povo.

Ele é o condutor, desde que seja capaz de pensar, refletir, escolher; decidir.


19.11.2013