Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

sexta-feira, 1 de junho de 2018

A indignação geral e os desaforos de Lula e Dilma


Imagem relacionada


José Fucs
BR18

O oportunismo de Lula, Dilma e do PT parece mesmo não ter limite. Ao mandar dizer por meio de sua pupila que está “indignado com o que foi feito com a Petrobrás”, Lula zombou mais uma vez da inteligência dos brasileiros. E Dilma, que deixou a Petrobrás à beira da falência, mostrou que é tão desaforada quanto o chefão petista, ao passar o recado de Lula para a imprensa e ainda endossá-lo, com a desenvoltura verbal de costume.

Depois da pilhagem promovida nos governos do PT, tem de ser muito caradura, para vir a público defender a Petrobrás. O mesmo vale para “companheiros” como Manuela d’Avila, do PC do B, e Guilherme Boulos, do MTST e do PSOL, que pediram a cabeça de Pedro Parente e a mudança de sua filosofia de gestão, responsável pelo renascimento da Petrobrás. Onde eles estavam quando a Petrobrás foi saqueada? O que fizeram para conter a ladroeira? Nada. Então, dá um tempo. Quem tem de ficar indignado somos nós, que pagamos pela bandalheira toda e ainda temos de ouvir esse tipo de coisa.


01.06.18

O que a queda de Parente revela sobre o Brasil


Imagem relacionada
José Fucs
BR18
A saída de Pedro Parente da Petrobrás é um sinal do quanto o capitalismo no Brasil é mal compreendido, do populismo que impera na arena política e da enorme resistência existente na própria sociedade para colocar o País nos eixos. Mais que tudo, no momento, ela amplifica as dúvidas e as preocupações sobre o futuro reservado ao País, com as escolhas que faremos nas eleições de outubro.

Parente caiu não por seus eventuais erros, mas por seus acertos. Executivo tarimbado, ele reergueu a Petrobras dos saques feitos pelo PT e por seus aliados. Procurou administrá-la como empresa privada, de olho nos resultados, sem ceder a pressões políticas e sem fazer demagogia com os preços dos combustíveis. A blindagem que promoveu contra a pilhagem dos políticos e o uso da Petrobras como ferramenta de política econômica, provocou a ira das esquerdas e da direita pitbull, que realizaram um verdadeiro massacre contra ele nos últimos dias nas redes sociais.

Pior para o Brasil. 

01.06.2018

Conselho da Petrobras nomeia Ivan Monteiro como presidente da estatal


Monteiro vai substituir Pedro Parente, que pediu demissão do cargo

Por Ramona Ordoñez
/ Gabriela Valente / Geralda Doca
O Globo
Diretor financeiro da Petrobras, Ivan Monteiro durante audiência no Senado
Marcos Oliveira/Agência Senado/28-04-2015
 

RIO - O conselho de administração da Petrobras aprovou na tarde desta sexta-feira a nomeação de Ivan Monteiro como novo presidente da estatal. Monteiro vai substituir Pedro Parente, que pediu demissão do cargo na manhã desta sexta. A reunião do conselho terminou no fim da tarde, após o fechamento do mercado.

O nome de Monteiro, que ocupava até então o cargo de diretor financeiro, é visto como um sinal de continuidade e que a política de preços seria mantida. Além de Monteiro, o nome de Solange da Silva Guedes, diretora-executiva de Exploração e Produção, também estava sendo cotado para o lugar de Parente.

— No início ele não estava aceitando, mas o presidente teria dado garantia de que ele pode administrar a empresa sem interferências políticas — contou uma alta fonte do governo sob condição de anonimato.

Monteiro é o braço direito de Pedro Parente. No entanto, chegou antes do chefe à empresa. Foi levado pelo ex-presidente da companhia, Aldemir Bendine, em 2015. Os dois trabalharam juntos no Banco do Brasil. Entraram com a saída de Graça Foster. A missão de Ivan Monteiro é consertar os erros da gestão anterior. Começou a desenhar um plano para reerguer a empresa assim que assumiu. Segundo pessoas próximas, ele ficou surpreso com a bagunça na contabilidade da empresa e começou a corrigir coisas como a falta de provisionamento para possíveis dívidas.

Após o impeachment da ex-presidente Dilma Rousseff, o comando da Petrobras foi alterado. Saiu Bendine e assumiu Parente. Ele manteve Ivan Monteiro no cargo que tocou a recuperação da empresa sem necessidade de o governo injetar dinheiro público.

— O Ivan é uma quadro forte. Se for nomeado, é um sinal de que a política de preços não será alterada — falou uma fonte da empresa.

Em 2015, o GLOBO mostrou que Monteiro alterou todo o planejamento tributário da Petrobras e deixou a contabilidade dos impostos devidos mais conservadora. A companhia deixou se arriscar com engenharias financeiras que poderiam resultar em disputas judiciais. Abandonou fórmulas sofisticadas de planejamento tributário que tinham sido a saída encontrada pelas gestões anteriores para lidar com a alta do preço internacional do petróleo no passado. Ao pagar menos impostos, a estatal não sacrificava o lucro e podia suportar o represamento dos preços da gasolina na gestão de Guido Mantega no Ministério da Fazenda.

Monteiro também coordenou a alocação de investimentos após a Operação Lava-Jato. Revisou o balanço impactado por perdas de R$ 88 bilhões pela corrupção. E também as primeiras captações feitas para salvar as finanças da empresa.

Antes de ir para a Petrobras, Ivan Monteiro era vice-presidente de Finanças do Banco do Brasil. Era considerado um dos melhores na área pelo mercado financeiro.

01 de junho de 2018


Pedro Parente pede demissão da presidência da Petrobras; relembre trajetória


Em carta, executivo diz que permanência 'deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas'.

Sob comando de Parente, Petrobras voltou a registrar lucro e preços de combustíveis disparara.


Por Darlan Alvarenga, G1

Pedro Parente, presidente da Petrobras, em conferência no Rio de Janeiro, no início de maio
(Foto: Sergio Moraes/Reuters)


A Petrobras anunciou nesta sexta-feira (1) que Pedro Parente pediu demissão do cargo de presidente da companhia. O executivo estava à frente da petroleira e maior estatal brasileira há exatos 2 anos.


"A nomeação de um CEO interino será examinada pelo Conselho de Administração da Petrobras ao longo do dia de hoje. A composição dos demais membros da diretoria executiva da companhia não sofrerá qualquer alteração", informou a estatal em comunicado.

O pedido de demissão acontece em meio aos desgastes e pressões sofridos por Parente durante a greve dos petroleiros em razão das críticas à política de preços de combustíveis adotadas pela Petrobras na sua gestão. Desde julho do ano passado, o preço da gasolina e do diesel comercializado nas refinarias dispararam mais de 50% e foi um dos pontos mais criticados pela greve dos caminhoneiros e dos petroleiros.

Pela manhã, Parente se reuniu com o presidente Michel Temer no Palácio do Planalto, em Brasília. Na véspera, o executivo se encontrou com o ministro da Fazenda, Eduardo Guardia.

"Minha permanência na presidência da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas", disse o executivo na carta de demissão.

Ações da Petrobras desabam

Por volta das 13h, as ações da Petrobras desabavam mais de 19% na Bovespa, enquanto que o Ibovespa recuava perto de 1%. Mais cedo, a negociação de papéis da petroleira chegaram a ser interrompidas devido à forte queda.

Pedro Parente, presidente da Petrobras, pede demissão do cargo


Segundo dados da Economática, por volta das 13h desta sexta, a companhia estava avaliada em R$ 215,7 bilhões, contra os R$ 388,8 bilhões da máxima do ano, registrada no dia 16 de maio. Ou seja, em 15 dias, a Petrobras encolheu R$ 173 bilhões em valor de mercado. No fechamento do último pregão, a petroleira estava avaliada em R$ 271,5 bilhões.


Apesar do tombo nos últimos dias, as ações da Petrobras continuam em situação bem melhor do que 2 anos atrás. No dia 1 de junho de 2016, dia em que Parente tomou posse, a companhia estava avaliada na bolsa em R$ 123,3 bilhões.

Trajetória na Petrobras

Parente estava no comando da Petrobras desde 1º de junho de 2016. Aos 63 anos, o carioca substituiu Aldemir Bendine - que havia renunciado ao cargo e que seria preso um ano depois, no âmbito da operação Lava Jato - e se deparou com uma das maiores crises pelas quais a companhia já enfrentou.

Sob o comando de Parente, a Petrobras voltou a operar no azul, após 4 anos no vermelho. No 1º trimestre, a companhia registrou lucro líquido de R$ 6,961 bilhões, o melhor resultado dos últimos 5 anos. Já a dívida líquida da Petrobras encerrou o 1º trimestre em R$ 270,7 bilhões, após ter chegado a R$ 391 bilhões no final de 20105.

Uma das saídas de Parente para reduzir endividamento e recuperar o caixa foi vender parte dos ativos da empresa e reduzir o número de funcionários.

Em 2017, as agências de classificação de risco Moody's e Standard&Poor's elevaram a nota da Petrobras, destacando a gestão da dívida - considerada um dos maiores desafios -, a melhora da governança e a chamada "política de desinvestimentos", que permitiu a entrada de caixa de US$ 6,4 bilhões para a empresa em 2017. Até 2018, a empresa tem a meta de levantar mais US$ 21 bilhões com as vendas de ativos.

O número de funcionários diretos recuou de 78,4 mil em 2015 para 62,7 mil no fim de 2017, entre cortes e programa de demissão voluntária (PDV). Os terceirizados, por sua vez, passaram de 132 mil a 100 mil.

A estatal empresa voltou a cumprir as metas de produção e, no ano passado, bateu recorde pelo 4º ano consecutivo, com 2,15 milhões de barris por dia.

Os bons resultados financeiros obtidos por Parente à frente da Petrobras levou o executivo a ser eleito também para o cargo de presidente conselho de administração de outra empresa em crise, a BRF, em substituição a Abilio Diniz.

Em maio deste ano, Petrobras chegou a retomar o posto de maior empresa brasileira de capital aberto em valor de mercado, em meio à valorização das ações na esteira da alta dos preços do petróleo e anúncio distribuição de R$ 652 milhões para acionistas.

Começava também em maio, no entanto, o pior momento de Parente na estatal desde que assumira o cargo. O primeiro tombo nas ações ocorreu no dia 24 de maio, com os investidores reagindo mal ao anúncio de redução de 10% no preço do diesel e às medidas anunciadas pelo governo para subsidiar o preço do combustível. A interpretação do mercado foi que a petroleira cedeu a pressões políticas, perdendo a credibilidade.

Em apenas 8 pregões, a empresa chegou a perder R$ 126 bilhões em valor de mercado em meio à greve dos caminhoneiros e voltou a perder o posto de empresa brasileira mais valiosa na Bolsa.
 
O presidente da Petrobras, Pedro Parente, durante a cerimônia de abertura de capital da BR em 15 de dezembro de 2017
(Foto: Taís Laporta/G1)


Disparada nos preços do diesel e da gasolina

Sob a gestão Parente, a Petrobras adotou novo formato na política de ajuste de preços de combustíveis em 3 de julho do ano passado. Com a nova metodologia, os reajustes passaram a acontecer com maior frequência, inclusive diariamente, refletindo as variações do petróleo e derivados no mercado internacional, e também do dólar.

Se por um lado, a nova política favoreceu o caixa da Petrobras, a trajetória dos dois preços que determinam o valor do combustível (preço do petróleo e dólar) ficou cada vez mais desfavorável para os consumidores brasileiros. Na semana que antecedeu a paralisação dos caminhoneiros, a gasolina e o diesel sofreram altas por cinco dias consecutivos nas refinarias.


Confira a íntegra da carta de Pedro Parente:

Excelentíssimo Senhor Presidente da República,

Quando Vossa Excelência me estendeu o honroso convite para ser presidente da Petrobras, conversamos longamente sobre a minha visão de como poderia trabalhar para recuperar a empresa, que passava por graves dificuldades, sem aportes de capital do Tesouro, que na ocasião se mencionava ser indispensável e da ordem de dezenas de bilhões de reais. Vossa Excelência concordou inteiramente com a minha visão e me concedeu a autonomia necessária para levar a cabo tão difícil missão.

Durante o período em que fui presidente da empresa, contei com o pleno apoio de seu Conselho. A trajetória da Petrobras nesse período foi acompanhada de perto pela imprensa, pela opinião pública, e por seus investidores e acionistas. Os resultados obtidos revelam o acerto do conjunto das medidas que adotamos, que vão muito além da política de preços.

Faço um julgamento sereno de meu desempenho, e me sinto autorizado a dizer que o que prometi, foi entregue, graças ao trabalho abnegado de um time de executivos, gerentes e o apoio de uma grande parte da força de trabalho da empresa, sempre, repito, com o decidido apoio de seu Conselho.

A Petrobras é hoje uma empresa com reputação recuperada, indicadores de segurança em linha com as melhores empresas do setor, resultados financeiros muito positivos, como demonstrado pelo último resultado divulgado, dívida em franca trajetória de redução e um planejamento estratégico que tem se mostrado capaz de fazer a empresa investir de forma responsável e duradoura, gerando empregos e riqueza para o nosso país. E isso tudo sem qualquer aporte de capital do Tesouro Nacional, conforme nossa conversa inicial. Me parece, assim, que as bases de uma trajetória virtuosa para a Petrobras estão lançadas.

A greve dos caminhoneiros e suas graves consequências para a vida do País desencadearam um intenso e por vezes emocional debate sobre as origens dessa crise e colocaram a política de preços da Petrobras sob intenso questionamento. Poucos conseguem enxergar que ela reflete choques que alcançaram a economia global, com seus efeitos no País. Movimentos na cotação do petróleo e do câmbio elevaram os preços dos derivados, magnificaram as distorções de tributação no setor e levaram o governo a buscar alternativas para a solução da greve, definindo-se pela concessão de subvenção ao consumidor de diesel.

Tenho refletido muito sobre tudo o que aconteceu. Está claro, Sr. Presidente, que novas discussões serão necessárias. E, diante deste quadro fica claro que a minha permanência na presidencia da Petrobras deixou de ser positiva e de contribuir para a construção das alternativas que o governo tem pela frente. Sempre procurei demonstrar, em minha trajetória na vida pública que, acima de tudo, meu compromisso é com o bem público. Não tenho qualquer apego a cargos ou posições e não serei um empecilho para que essas alternativas sejam discutidas.

Sendo assim, por meio desta carta, apresento meu pedido de demissão do cargo de Presidente da Petrobras, em caráter irrevogável e irretratável. Coloco-me à disposição para fazer a transição pelo período necessário para aquele que vier a me substituir.

Vossa Excelência tem sido impecável na visão de gestão profissional da Petrobras. Permita-me, Sr. Presidente, registrar a minha sugestão de que, para continuar com essa histórica contribuição para a empresa — que foi nesse período gerida sem qualquer interferência política — Vossa Excelência se apoie nas regras corporativas, que tanto foram aperfeiçoadas nesses dois anos, e na contribuição do Conselho de Administração para a escolha do novo presidente da Petrobras.

A poucos brasileiros foi dada a honra de presidir a Petrobras. Tenho plena consciência disso e sou muito grato a que, por um período de dois anos, essa honra única me tenha sido conferida por Vossa Excelência.

Quero finalmente registrar o meu agradecimento ao Conselho de Administração, meus colegas da Diretoria Executiva, minha equipe de apoio direto, os demais gestores da empresa e toda força de trabalho que fazem a Petrobras ser a grande empresa que é, orgulho de todos os brasileiros.

Respeitosamente,


Pedro Parente



quinta-feira, 31 de maio de 2018

Virou baderna


Defensores da volta do regime militar, sindicalistas oportunistas e líderes trabalhistas que pedem a libertação do ex-presidente Lula se apropriaram da greve dos caminhoneiros e afundaram o País no caos.
Os prejuízos econômicos ultrapassam os R$ 75 bilhões e atrasam o crescimento

FORÇA A polícia e o exército tiveram que agir para garantir o direito de ir e vir e de abastecimento dos postos

/ OPORTUNISMO
Defensores do regime militar e motoboys pegaram carona na paralisação

/CAOS
O uso político e a violência marcaram o movimento

(Crédito: Divulgação)



André Solitto, Cilene Pereira, Giorgia Cavicchioli e Luisa Purchio
IstoÉ



Foram dias em que o País viveu sob o signo do caos, com cenas assustadoras como só se vê no cinema-catástrofe: pessoas brigando por comida nos mercados, ladrões roubando gasolina até de ambulâncias e muita gente preferindo ficar em casa a enfrentar o clima de salve-se quem puder que tomou conta das cidades. Ao menos quatro pessoas morreram em decorrência da baderna. A primeira vítima foi um homem que faleceu depois de ser atropelado durante um protesto na rodovia MG-010, em Minas Gerais, na quinta-feira 24. Na quarta-feira 30, o caminhoneiro José Batistella foi morto em Vilhena, Rondônia, após ser atingido por uma pedra quando tentou furar um bloqueio. O suspeito pelo ataque foi preso. Outros dois motoristas morreram ao longo da paralisação, vítimas de infarto. A greve dos caminhoneiros, que teve início na segunda-feira 21, deixou o Brasil sem combustível, sem alimentos, sem transporte público, sem insumos hospitalares, sem aulas. Portos não funcionaram, inclusive o de Santos, maior da América Latina , vários aeroportos cancelaram voos e terminais rodoviários refizeram as escalas de viagens porque não havia como tirar os ônibus do lugar. O que a paralisação provocou, porém, não foi apenas o desabastecimento e a insegurança. Ela ensejou o oportunismo de setores radicais que se infiltraram no movimento para espalhar o terror.



Quando finalmente os combustíveis começaram a chegar aos postos, a partir da quarta-feira e ainda de maneira muito lenta, filas imensas se formaram com motoristas angustiados e ansiosos para retomar a vida. O alívio de poder encher o tanque parecia trazer a normalidade de volta. No entanto, sobraram várias perguntas. A qual vida e a qual País retornaremos? Os impactos nas esferas social, política e econômica foram imensos, a maioria ainda impossível de ser estimada e que só chegará à luz de forma precisa depois de passar pela análise da história. Mas o que já é possível ser mensurado perturba. Do ponto de vista econômico, o País todo perdeu. Uma estimativa da soma dos prejuízos aponta para a cifra astronômica de R$ 75 bilhões. A principal reivindicação dos caminhoneiros que iniciaram a paralisação era a baixa no preço do diesel. Ainda na primeira semana de greve, lideranças dos caminhoneiros conseguiram arrancar do governo federal não só o compromisso de que o preço do diesel seria reduzido como o de que a Petrobrás só reajustaria os preços mensalmente. Estabeleceu-se uma trégua de quinze dias. Ela não durou sequer um. Nenhum caminhão deixou os bloqueios e o desabastecimento se agravou. Três dias depois, uma nova reunião de emergência realizada em Brasília selou um acordo que parecia ter encerrado de vez a paralisação. O preço do diesel foi reduzido em 0,46 centavos, os motoristas ficaram isentos do pagamento de pedágio dos eixos suspensos quando trafegam vazios e todas as outras reivindicações foram aceitas por um governo acuado. Também não bastou. Os bloqueios persistiram por mais quatro dias, perdendo adesão lentamente, até praticamente se esgotarem na quinta-feira 31.


Enquanto isso, o Brasil agonizou. A Petrobrás foi a primeira grande vítima. O impacto imediato foi ser derrubada do primeiro para o quarto lugar na lista de empresas mais valiosas do Brasil. A companhia retomou a liderança dias depois, mas um grande estrago havia sido feito. Os preços das ações da empresa despencaram por pregões seguidos e ela chegou a perder R$ 126 bilhões em valor de mercado. A estatal petrolífera não está sozinha no rombo fenomenal causado, em parte, pela própria estratégia de recuperação adotada há um ano por seu atual presidente, Pedro Parente. Só no setor agropecuário a conta das perdas chega a R$ 10 bilhões. Não havia como escoar a produção. Animais morreram por falta de insumos (foram cerca de 70 milhões de aves mortas) e alimentos, jogados fora. Estima-se que 300 milhões de litros de leite tenham sido descartados. No comércio, foram R$ 27 bilhões de perdas, basicamente porque as pessoas só saíram de casa quando realmente precisaram. Era preciso economizar o pouco de combustível para usar em situações imprescindíveis.

ANSEIO
Houve contínuas manifestações pedindo a entrada dos militares

(Crédito:Fábio Motta)

Nos hospitais, a situação foi se tornando cada dia mais dramática. A primeira providência tomada pela maioria dos estabelecimentos foi suspender procedimentos e exames que não fossem de emergência. A Federação Nacional dos Hospitais foi obrigada a fazer um apelo público aos caminhoneiros para que permitissem a passagem de veículos carregando insumos vitais, como oxigênio. Em clínicas de hemodiálise, cada dia a mais de paralisação foi um pesadelo. “Começamos a ficar muito preocupados, achando que os insumos chegariam no dia seguinte. E eles não chegavam”, conta o nefrologista Luis de Miranda, dono de uma clínica de hemodiálise de Criciúma, em Santa Catarina, onde tratamentos foram redesenhados para que menos materiais fossem usados. Os estoques nos bancos de sangue desabaram. “Estamos apelando para que a população não deixe de doar. A situação é crítica”, afirmou Dante Langhi, diretor da Hemorrede de São Paulo, no início da semana passada.

Infiltrados

Tão assustador quanto ver sumir itens essenciais à sobrevivência foi a percepção de que o governo havia perdido qualquer possibilidade de controle de um movimento que fugia ao comando inclusive daqueles que se intitulavam seus comandantes. O alerta soou depois que nada mudou após a primeira reunião entre representantes de algumas das entidades associadas aos caminhoneiros e os ministros Eduardo Guardia, Carlos Marun, Valter Casemiro e Eliseu Padilha. Depois do segundo encontro, no domingo, a celebração de um acordo divulgado em rede nacional pelo presidente Michel Temer e, mesmo assim, a permanência da paralisação por dias a fio, ficou evidente que o monstro andava sozinho.

A estruturação da greve fugiu aos padrões que normalmente norteiam movimentos do tipo. Primeiro porque houve também participação das empresas transportadoras, o que configura locaute. A Polícia Federal abriu 54 inquéritos para apurar a questão. Depois, porque ela ganhou força graças à comunicação por redes sociais nas quais nem sempre o criador do grupo estava de fato ligado às entidades que se apresentaram como representantes dos grevistas. Isso fez com que a grande maioria dos caminhoneiros parados nas estradas obedecesse a lideranças de origens obscuras, que agiam por meio de uma rede de comunicação própria e afastada de qualquer comando central. Até a quarta-feira 30, a polícia havia prendido sete infiltrados — nenhum era caminhoneiro.


Ao longo dos três primeiros dias da semana passada, chegou-se a um ponto grotesco. José da Fonseca Lopes, presidente da Associação Brasileira dos Caminhoneiros e um dos interlocutores que visitaram o Palácio do Planalto, admitiu que havia gente infiltrada no movimento. Não se tratava mais da greve de uma categoria. Passou a se tratar de um movimento político insuflado por indivíduos que nada tinham a ver com os motoristas. Eles se apropriaram da mobilização e fizeram dela moeda de troca por bandeiras contrárias às regras da democracia. Um dos pleitos passou a ser a saída do presidente Michel Temer. Um dos expoentes do movimento foi André Janones, ex-candidato a prefeito de Ituiutaba, em Minas Gerais, pelo PSC, e filiado ao PT entre 2003 e 2012. Assim que pegou carona na mobilização dos caminhoneiros, Janones ganhou milhares de seguidores no Facebook e seus vídeos pedindo a continuidade da greve enquanto o presidente Michel Temer não saísse do cargo se espalharam. Nas redes, Janones se define como “mineiro, cristão, advogado e jornalista.” Incita seus 700 mil seguidores a “quebrar o sistema.”

Houve mais dois grupos atuantes, usando de força para impedir que a maioria dos motoristas retomasse o trabalho: os que pediam intervenção militar e os que defendiam a libertação do ex-presidente Luis Inácio Lula da Silva. Segundo líderes das entidades tradicionalmente representantes dos caminhoneiros, os três movimentos alheios à categoria representavam de 10% a 15% do comando da paralisação. Fora os que haviam se infiltrado, virando líderes do dia para a noite, houve apoio em manifestações públicas realizadas em pontos das estradas que estavam obstruídos e em outros locais das cidades. Em São Paulo e no Rio de Janeiro, viu-se com frequência grupos segurando cartazes pedindo a volta dos militares ao poder. Ao primeiro olhar, é difícil entender como três grupos com aspirações tão distintas podem ter se vinculado a um mesmo movimento. Cada um a seu modo, eles tentaram se apropriar de uma mobilização que, no princípio, contou com o apoio da população. Segundo pesquisa do DataFolha, 87% da população defendeu a paralisação. De alguma maneira, ela catalisou a insatisfação popular e o cansaço diante de uma recuperação econômica lenta depois de uma recessão que produziu os 13,4 milhões de desempregados existentes hoje no Brasil. Foi somente depois do agravamento do desabastecimento, da dificuldade para conseguir um ônibus ou atendimento médico, por exemplo, que manifestações mais críticas foram ouvidas.

Além dos cifrões


Outras categorias como motoristas de vans, motoboys e estivadores também promoveram protestos oportunistas. O maior exemplo foi a paralisação chamada pela Federação Única dos Petroleiros (FUP) para a quarta-feira 30 e suspensa no dia seguinte. O movimento havia nascido mês antes, logo após a prisão do ex-presidente Lula, com o objetivo de ser uma forma de resistência. Dias depois da prisão de Lula em Curitiba, documentos da própria entidade deixam o objetivo claro, tratando o ex-presidente como o “primeiro preso político desde 1964” e afirmando que o único caminho de protesto seria uma greve.

Passado o caos, a tendência é o País voltar à normalidade, porém ainda mais embalado pelo radicalismo de opiniões e encontrando dificuldade para acelerar o crescimento. Do ponto de vista político, o governo de Michel Temer se mostrou frágil. “Os oportunistas só conseguiram se infiltrar por causa da fragilidade da autoridade do presidente”, analisa o cientista político Rodrigo Prando, do Instituto Mackenzie. No aspecto econômico, a previsão de crescimento do PIB, antes de 3% nesse ano, caiu para 2%. Mas o impacto futuro desses onze dias vai além dos cifrões. “Há perdas indiretas, como falta de credibilidade do governo, insegurança jurídica e imprevisibilidade regulatória”, diz Cláudio Frischtak, presidente da Inter.B Consultoria. São problemas que o Brasil conhece muito bem.

Oportunismo político

Na terça-feira 29, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun, telefonou para o líder do PT na Câmara, Paulo Pimenta (RS). Pediu que, em nome do País, o PT intercedesse para que os caminhoneiros retornassem e se evitasse a paralisação dos petroleiros. A resposta foi não. “Ligou para a pessoa errada”, disse, depois, o líder do PT. Explicitava-se ali uma inusitada e irresponsável aliança entre a esquerda que grita “Fora Temer” e “Lula livre” e a direita que pede “intervenção militar”. O conservador militar Jair Bolsonaro (PSL), em uma de suas postagens no twitter, escreveu: “O governo, de forma covarde, trabalha para colocar na conta dos caminhoneiros a responsabilidade pelos futuros prejuízos causados pela paralisação”.

Bolsonaro assina o projeto de lei que prevê punição de até quatro anos de cadeia para quem obstruir vias públicas, como fizeram os caminhoneiros para dificultar a passagem dos colegas que não queriam aderir. Como se vende como o candidato da “ordem”, nada melhor do que incitar a desordem para que, em outubro, ele surja na figura de salvador, um messias que colocará tudo no lugar, em meio ao caos.


Os petistas, assim como Bolsonaro, apostam no “quanto pior, melhor” por duas razões: consolidar a narrativa de que Lula e Dilma foram vítimas de um golpe político-jurídico e alimentar a tese de que Lula seria o único capaz de reunificar o País. Para quem hoje não tem nada em que se agarrar, qualquer coisa é lucro.

Na mesma esteira de oportunismo político, não poderiam faltar declarações da presidente nacional do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR). Ela conseguiu a proeza de dizer que, nos governos petistas, não houve prejuízos à Petrobras, mesmo com a política de intervenção na formação dos preços dos combustíveis, feita “a bem do cidadão”, segundo reforçou. Em 13 anos do PT no poder, foram 16 reajustes, lembrou ela. Enquanto isso, desde 2016, no início da gestão Michel Temer, houve 229 correções. O que Gleisi não contou é que o saqueamento dos cofres da Petrobras quase quebrou a empresa.
(Ary Filgueira)

31/05/18


Uma crise aparente

 
De gestor exemplar no apagão de FHC a pivô da greve dos caminhoneiros, Pedro Parente colhe os frutos de sua política de reajustes diários no preço do combustível num país de inflação baixa e economia cambaleante


LUCILA SOARES, COM RENAN SETTE E RAMONA ORDOÑEZ
ÉPOCA

 Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana
Capa Revista Época
Ed 1040-Home560
(Foto: Época)

A paralisação dos caminhoneiros esvaziou prateleiras nos supermercados, fechou postos de combustível, cancelou voos, suspendeu aulas, afetou o funcionamento de hospitais, provocou perdas econômicas ainda não totalmente contabilizadas e jogou na berlinda o presidente da Petrobras, Pedro Parente, um gestor até agora incensado como grande especialista em debelar crises. Convidado a assumir a empresa em meio ao turbilhão da Operação Lava Jato, ainda com Michel Temer interino na Presidência, Parente vinha acumulando êxitos. O balanço do primeiro trimestre de 2018 foi divulgado como a mais bem-acabada tradução do sucesso: lucro de R$ 4,45 bilhões, revertendo prejuízo de R$ 1,25 bilhão registrado no mesmo período de 2017. Esse resultado, avaliou Parente na ocasião, contribuiria para tornar ainda mais atraentes os leilões de blocos de exploração programados para este ano. Acertou.

Os que haviam sido realizados até agora foram um sucesso, fato que promete se repetir no próximo dia 7, quando está prevista a Quarta Rodada de Partilha de Produção para venda de blocos na área do pré-sal, com participação de 16 empresas de 12 países, um recorde. Parecia que, mais uma vez, se cobriria de glória o engenheiro que enfrentou galhardamente tarefas espinhosas como a coordenação do racionamento de energia em 2001 e o comando da transição do governo FHC depois da eleição de Lula, em 2002. Mas não.


Depois de até ter sido sugerido como candidato a presidente da República no site de uma corretora, a situação de Parente ficou claudicante. Ele foi apontado por parte da direita e da esquerda como pivô da crise desencadeada pela paralisação dos caminhoneiros.

Aos adversários de sempre, como a Associação dos Engenheiros da Petrobras (Aepet) e a Frente Única dos Petroleiros (FUP), que desde o início questionam os rumos “neoliberais” da companhia, juntam-se vozes de todos os matizes ideológicos contra a política de preços praticada desde outubro de 2016, que atrelou os preços do diesel e da gasolina às flutuações do dólar e do valor do petróleo no mercado internacional. De início, com reajustes mensais. A partir de junho de 2017, com variações até diárias.


Desde essa mudança, o preço do diesel foi reajustado 121 vezes, resultando em alta de 56,5%, segundo o Centro Brasileiro de Infraestrutura (CBIE). Só neste ano, o diesel subiu 38 vezes. A Petrobras pondera que é responsável por pouco mais de 50% desse preço, e cerca de um terço do preço da gasolina. Sobre o valor cobrado na refinaria, incidem impostos federais (Cide e PIS/Cofins) e o ICMS (estadual), e ainda há a margem da revenda, uma vez que a lei brasileira garante liberdade de preços no mercado de combustíveis e derivados.

Isso reduz a responsabilidade da companhia sobre o preço ao consumidor e pode impedir que as variações nas refinarias cheguem até a ponta. Por outro lado, essa situação permite que os preços subam nas bombas sem que haja qualquer alteração nas refinarias.


Na hora de cobrar, no entanto, é a Petrobras que leva pedrada. De Guilherme Boulos, do PSOL, a Jair Bolsonaro, do PSL (este último indo contra o pensamento do autor de seu programa econômico, o economista Paulo Guedes), todos condenam a variação diária dos preços dos combustíveis. Ciro Gomes, do PDT, classificou de “criminosos” os preços e pediu publicamente a cabeça do “senhor Parente” durante entrevista ao programa Roda viva, da TV Cultura.

E Henrique Meirelles, do MDB, que acompanhou à frente do Ministério da Fazenda todos os movimentos da Petrobras, agora fala na necessidade de um fundo de estabilização que absorva eventuais oscilações das cotações internacionais.


Em um país do tamanho do Brasil, onde dois terços do transporte de carga são feitos por caminhões, o impacto de variações diárias no preço do diesel é previsível. Junte-se a essa escolha equivocada, feita nos anos JK, o fato de que o caminhoneiro autônomo está para o transporte rodoviário como o motorista de Uber está para o transporte urbano de passageiros, representando uma saída para um grande contingente de desempregados, e está pronta uma fórmula explosiva, como se constatou há pouco mais de dez dias.

Não deveria surpreender, mas surpreendeu. E o motivo está expresso em uma fala espantosamente singela de Parente em um café da manhã com jornalistas, no início de 2017. Ao divulgar os dados sobre produção de petróleo no Brasil no ano anterior, ele respondeu a uma pergunta sobre a política de preços adotada pela empresa explicando que os combustíveis são commodities, por isso não têm preço fixado, e precisam seguir o movimento do mercado internacional. “É como acontece com uma padaria quando o trigo aumenta, e ela tem de refletir isso no preço do pão.

Acontece na soja, no café e no minério de ferro. Então, aqui não é uma questão que a Petrobras esteja criando qualquer situação. Ela está reagindo a movimentos dos preços das commodities nos mercados internacionais”, disse.



31/05/2018


Governo corta benefícios ao exportador e reduz verba para projetos sociais para viabilizar diesel mais barato


Só no Ministério da Educação, cortes serão de R$ R$ 55,1 milhões


Por Gabriela Valente
O Globo

O secretário da Receita Federal, Jorge Rachid
Jorge William/Agência O Globo/30-04-2018


BRASÍLIA — A redução de R$ 0,46 no litro do óleo diesel nas refinarias já está em vigor. A medida custará R$ 13,5 bilhões aos contribuintes brasileiros. Para bancar a solução da crise que paralisou o país neste mês, a equipe econômica realizou cortes em programas de todas as áreas, incluindo Saúde e Educação.


Só no Ministério da Educação os cortes serão de R$ R$ 55,1 milhões. O dinheiro estava previsto no orçamento para concessão de bolsas no Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies). Do Ministério dos Transportes foram mais de R$ 400 milhões, além de outros R$ 500 milhões que eram previstos como fundo de contingência do Fundo da Marinha Mercante.

A arrecadação extra de R$ 4 bilhões arcará com a retirada R$ 0,16 em impostos. Para compensar o corte de mais R$ 0,30, o governo gastará R$ 9,6 bilhões que já estavam no orçamento para repassar dinheiro para as empresas de refino.

Segundo o G1, também haverá corte em programas sociais como políticas para juventude, violência contra mulheres, políticas sobre drogas e fortalecimento do SUS.

O governo cortou benefícios tributário para exportadores, fabricantes de refrigerante, indústria química, além de reonerar a folha de pagamento de 39 setores. Ainda foram canceladas capitalizações de empresas estatais e usada a receita extra. No entanto, não há certeza que a queda chegue integralmente às bombas dos postos.

— Isso foge ao escopo do Ministério da Fazenda. Há institutos de concorrência como Procon e Cade (Conselho de Acompanhamento de Defesa Econômica) e a ANP (Agência Nacional do Petróleo). Cada um tem que exercer o seu papel de forma a trabalhar no seu segmento de especialização. No que cabe à Fazenda para superar a crise, é atuar na questão tributária e na questão da subvenção — falou o chefe da assessoria econômica do Ministério da Fazenda, Marcos Mendes.

Foram 96 páginas de medidas numa edição extra no Diário Oficial. São dois decretos, uma medida provisória e a sanção do projeto de Lei que cortou subsídios sobre a folha de pagamento dados para várias empresas. Ficaram com benefícios sobre os salários 17 setores. O presidente Michel Temer vetou 11 deles, mas preservou a desoneração de empresas de tecnologia de informação, comunicação, call center, por exemplo.

Essa é uma das quatro medidas tributárias para arrecadar mais. A equipe econômica também extinguiu um programa especial feito para o setor químico. Ainda quase zerou o Reintegra, um programa feito para incentivar empresas exportadoras. E ainda reduziu o crédito que fabricantes de refrigerantes tinham quando compravam o xarope para fazer o produto.

Segundo o secretário da Receita, Jorge Rachid, os técnicos constaram que, geralmente, as indústrias compram o insumo na Zona Franca de Manaus, mas se creditavam do imposto não pago mesmo assim. Mais uma vez, ele defendeu o corte de benefícios tributários.

— Todos os contribuintes pagam para poucos serem beneficiados. Não é ideal gerar privilégio para um ou outro — falou o secretário em entrevista coletiva concedida nesta quinta-feira. — O decreto já está vigendo hoje. O diesel deve sair das refinarias com o valor já reduzido.

MECANISMO PARA COMPENSAR AS REFINARIAS

Além das medidas tributárias, a equipe econômica também desenhou um mecanismo para garantir a subvenção do combustível, ou seja, o pagamento de R$ 0,30 por litro nas refinarias. Até o dia 7 de junho, a Petrobras congelou o preço e já banca sozinha uma queda de R$ 0,2335. Nesse período, o governo usará o dinheiro do contribuinte para pagar R$ 0,07 para as empresas.

A partir da segunda semana do mês que vem, o governo federal terá de arcar com todo o valor. Um novo decreto deve ser editado na semana que vem para garantir que esse benefício seja estendido até o fim do ano.

Essa nova legislação também detalhará o mecanismo criado para compensar as refinarias. Para fazer o pagamento, os técnicos criaram uma conta para cada empresa que aderir ao programa. A ANP fixará um preço de referência para o diesel. O governo calculará diariamente o valor a ser repassado para cada uma delas no fim do mês. Ele leva em consideração o câmbio e o preço internacional do petróleo.

Para receber o benefício, a refinaria tem de cobrar um preço máximo estabelecido mensalmente. Quem vender por isso ou por menos, receberá a diferença dos R$ 0,30.

— É uma questão temporária num período atípico. O custo do programa será integralmente arcado pelos contribuintes e não haverá impacto na rentabilidade das empresas _ Marcos Mendes. — Essas medidas suavizam o preço e dão previsibilidade.

Esse mecanismo é chamado de “conta gráfica”. É uma ferramenta contábil, que vigora durante tempo definido e registra créditos e débitos. No caso do diesel, quando houver uma queda do preço internacional do petróleo ou o câmbio for mais favorável, o valor de referência do mês seguinte refletirá isso.

CORTE DE GASTOS

Todo esse programa para bancar a subvenção às refinarias custará R$ 9,6 bilhões. O governo aproveitou uma folga que conseguiu no orçamento nos quatro primeiros do ano porque arrecadou mais que previa. Esse dinheiro, entretanto, não era suficiente. Teve de cortar R$ 3,4 bilhões de gastos que estavam previstos no orçamento, mas ainda não foram liberados para os ministérios fazerem.

São cortes em todas as áreas num valor de R$ 1,2 bilhão. A equipe econômica também cancelou as capitalizações previstas em empresas estatais, que somariam R$ 2,2 bilhões neste ano. Justificou que, assim, é possível cumprir a promessa de baixar o preço do diesel e também garantir o cumprimento da meta de manter o rombo das contas públicas em até R$ 159 bilhões em 2018.

— A distribuição dos cortes é a mais pulverizada possível. Vai exigir um rigor maior dos ministérios em relação ao gastos — frisou o secretario-executivo do Ministério do Planejamento, Gleisson Cardoso Rubin.

Só no Ministério da Educação os cortes serão de R$ R$ 55,1 milhões. O dinheiro estava previsto no orçamento para concessão de bolsas no Programa de Estímulo à Reestruturação e ao Fortalecimento das Instituições de Ensino Superior (Proies). Do Ministério dos Transportes, foram mais de R$ 400 milhões, além de outros R$ 500 milhões que eram previstos como fundo de contingência do Fundo da Marinha Mercante.

A alteração na tributação do setor de bebidas é uma demanda antiga dos fabricantes regionais. O pedido era feito desde 2005 pela Associação dos Fabricantes de Refrigerantes do Brasil (Afrebras). A entidade diz que 160 fábricas de pequenos refrigerantes nos últimos 10 anos. A medida deve poupar R$ 740 milhões até o fim do ano nos cofres públicos.

“São absurdos os valores em créditos tributários”, diz a nota da associação que critica a apropriação do imposto por grandes fabricantes. “Essas empresas compensam esses créditos gerados na fabricação de concentrados para abater tributos de bebidas alcoólicas, por exemplo. Uma atitude simples, que promove justiça ao setor de bebidas brasileiro, e que traz enormes benefícios aos cofres públicos”.

Na contramão, o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e de Bebidas Não Alcoólicas (ABIR), Alexandre K. Jobim, diz que os fabricantes foram surpreendidos. Falou, em nota, que a medida impacta profundamente o setor, independentemente de a indústria estar instalada na Zona Franca de Manaus ou não. Disse ainda que a entidade compreende o grave momento econômico nacional, a crise fiscal profunda, mas que nada justifica a ausência de diálogo com o setor. E sugere que pode haver alta de preços e que investimentos devem ser suspensos.

"É cedo para dizer (se haverá impacto no preço para o consumidor). Cada associado tem sua política de formação de preços, que varia de acordo com os custos de cada empresa. O certo é que o setor está fortemente pressionado e investimentos programados no Brasil deverão ser cancelados", afirmou Jobim. "Com essa alíquota, não faz sentido nenhum as empresas ficarem em Manaus. Claro que elas irão procurar alternativas mais lógicas para instalar suas fábricas de concentrado. É muito estranho que essa medida tenha sido tomada apenas contra um setor, o de concentrados de refrigerantes, quando há vários outros setores e produtos que têm benefícios ainda maiores que o nosso".


31/05/2018

Nenhum de nós lhes deve nada. Eles nos devem tudo, a começar pela vida

#ValeAPenaLerDeNovo:
Enquanto lutávamos pela destruição dos porões da tortura, eles se distraíam em cursinhos de guerrilha ou com manifestos delirantes



Por Augusto Nunes
Veja.com
José Dirceu durante manifestação estudantil na Rua Maria Antonia, em 1968 (Arquivo/Estadão Conteúdo)

Publicado em 24 de dezembro de 2013

“Ainda bem que a gente não chegou ao poder: se isso acontecesse, teria de devolver no dia seguinte”, disse Vladimir Palmeira, em maio de 2008, num debate entre veteranos de 1968. “A gente sabia muito pouco, não tinha preparo para governar país nenhum”. Certíssimo. “A gente não tinha nem mesmo um projeto de poder”. Errado. Os comandantes do movimento estudantil (e, sobretudo, seus mentores na clandestinidade) tinham um projeto, sim. Tão claro quanto perverso: substituir a ditadura militar pela ditadura do proletariado.

Quem não tinha projeto de poder era a “massa de manobra”, como se referiam os chefes à multidão de jovens ingênuos, generosos, anônimos, que repetiam palavras-de-ordem cujo real significado ignoravam e cumpriam ordens e instruções vindas de cima. Os soldados rasos lutavam pela liberdade. Os comandantes planejavam suprimi-la. O rebanho sonhava com a ressurreição da democracia. Os pastores queriam muito mais, confirma Daniel Aarão Reis, ex-militante do MR-8, ex-exilado e hoje professor de História na Universidade Federal Fluminense.

“As esquerdas radicais não queriam restaurar a democracia, considerada um conceito burguês, mas instaurar o socialismo por meio de uma ditadura revolucionária”, fala de cadeira Aarão Reis, principal ideólogo de uma dissidência do PCB que desembocou no MR-8. “Não compartilho da lenda segundo a qual fomos ­ o braço armado de uma resistência democrática. Não existe um só documento dessas organizações que optaram pela luta armada que as apresente como instrumento da resistência democrática”.

Recrutados na massa de manobra, os alunos dos cursinhos intensivos de revolução ainda estavam na terceira vírgula de O Capital e no quinto parágrafo de Engels quando descobriam que desistir das aulas semanais era crime sem perdão. “Ele desbundou”, desdenhavam os mestres de qualquer discípulo sumido. Meia dúzia de panfletos de Lenin depois, os aprendizes descobriam que se haviam tornado oficiais do exército mobilizado para sepultar o capitalismo e conduzir o povo ao paraíso comunista.

Muitos se diplomavam sem sequer desconfiar da grande missão. Mas gente como Vladimir Palmeira tinha idade e milhagem suficientes para saber que perseguia um regime ainda mais selvagem, brutal e infame que o imposto ao Brasil. Conviviam com tutores de larga milhagem. O sessentão Carlos Marighela, por exemplo, ensinava aos pupilos da ALN a beleza que há em “matar com naturalidade”, ou por que “ser terrorista é motivo de orgulho”. Deveriam todos orgulhar-se da escolha feita quando confrontados com a bifurcação escavada pelo AI-5.

A rota certa era a esquerda, avisavam os que nunca tinham dúvidas. Passava pela luta armada e levava à luz. A outra era a errada. Passava pela rendição vergonhosa e levava à cumplicidade ostensiva com os donos do poder. Ou, na menos lamentável das hipóteses, aos campos da omissão onde se amontoavam desertores da guerra justa. A falácia foi implodida pelos que se mantiveram lúcidos, recusaram a idiotia maniqueísta e percorreram o caminho da resistência democrática.

Estivemos certos desde sempre. Desarmados, prosseguimos o combate contra quem os derrotara em poucos meses. Enquanto lutávamos pela destruição dos porões da tortura, eles se distraíam em cursinhos de guerrilha ou no parto de manifestos delirantes. Estavam longe quando militares ultradireitistas tentaram trucidar a abertura política. Só se livraram do cárcere e do exílio porque conseguimos a anistia, restabelecemos as eleições diretas e restauramos a democracia. Nós vencemos. Eles perderam todas. Alguns enfim conseguiram tornar-se contemporâneos do mundo ao redor. Quase todos permaneceram com a cabeça estacionada em algum lugar do passado. E voltaram com a pose dos condenados ao triunfo.

Fantasiados de feridos de guerra, os sessentões de 68 se apropriaram de indenizações milionárias, empregos federais, mesadas de filho mimado. Com a velha arrogância, seguem convencidos de que quem está com eles tem razão. Passa a fazer parte da esquerda, formada por guerreiros a serviço das causas populares. Quem não se junta ao bando é inimigo do povo, lacaio dos patrões, reacionário, elitista, golpista vocacional. O comportamento e a discurseira dos dirceus, franklins, dilmas, genoínos, palmeiras, garcias, tarsos, vannuchis e o resto da turma confirmam: passados tantos anos, estão prontos para errar de novo. Infiltrados no governo de um presidente que não lê, não sabe escrever, merece zero em conhecimentos gerais e faz qualquer negócio para desfrutar do poder, eles aparelharam o Estado e vão forjando alianças com o que há de pior na vizinhança para eternizar-se no controle do país. Se não roubam , associam-se a ladrões. Se não matam, tornam-se comparsas de homicidas.

Sequestradores da liberdade e assassinos da democracia jamais deixam de sonhar com o pesadelo. Não têm cura. Nenhum democrata lhes deve nada. Eles é que nos devem tudo, a começar pela vida.

 28 maio 2018


quarta-feira, 30 de maio de 2018

Agência de inteligência deixa Planalto 'vendido' na crise dos caminhoneiros

 
Temer não recebeu nenhum relatório de inteligência sobre a gravidade da paralisação

Por Letícia Fernandes / Robson Bonin
O Globo
Reunião do gabinete formado para acompanhar a paralisação dos caminhoneiros, no Planalto
Marcos Corrêa/Presidência/29-05-2018


 BRASÍLIA — Criada para gerenciar crises e alertar o presidente da República sobre situações com “potencial de risco à estabilidade institucional”, a Agência Brasileira de Inteligência (Abin) não conseguiu detectar qualquer ato que pudesse ter chamado a atenção do governo para a gravidade do movimento que estava sendo arquitetado pelos caminhoneiros com o apoio financeiro de empresários do setor. Nas palavras de um auxiliar presidencial, a Abin deixou o governo do presidente Michel Temer completamente “vendido” e no “escuro” durante uma das maiores crises de abastecimento do país.

LEIA: Crise mostra disputa de poder entre ministros do núcleo duro do Planalto

Um auxiliar direto do presidente disse ao GLOBO que Michel Temer não recebeu da agência nenhum relatório de inteligência sobre o caso e que as reuniões do governo “já começaram em cima do incêndio”.


— Não é que o palácio tenha dormido no ponto. Ninguém no governo imaginava que as empresas de transporte fossem atuar nos bastidores para transformar os atos em uma tentativa de derrubar o presidente da Petrobras. As empresas operaram os caminhoneiros para atacar a política de preços da Petrobras e ninguém na inteligência nos avisou — disse.

A falta de atuação da Abin foi percebida na segunda-feira, durante a reunião do comitê de crise instalado no Palácio do Planalto. O ministro do Gabinete de Segurança Institucional da Presidência da República (GSI), Sérgio Etchegoyen, quis saber da advogada-geral da União, Grace Mendonça, como estava a aplicação de multas a empresas de transporte envolvidas na paralisação dos caminhoneiros. Até aquele momento, disse a ministra, o órgão não havia processado nenhuma penalidade porque ainda desconhecia a identidade dos infratores.

Contrariado, Etchegoyen pediu a lista de empresários envolvidos nas paralisações a Janér Tesch, diretor da agência. Era o oitavo dia de bloqueios em estradas. Com o país mergulhado no caos, Etchegoyen ouviu uma resposta constrangedora. O serviço secreto brasileiro, encarregado de abastecer o presidente da República de informações de inteligência, também não possuía uma lista de empresários a apontar.

Organizada a partir de grupos de WhatsApp, a greve dos caminhoneiros cresceu em volume e só conseguiu chegar ao décimo dia, nesta quarta-feira, por causa do suporte financeiro e logístico dos empresários do ramo de transportes. A Abin, além de não identificar ameaças durante a organização do movimento, também não conseguiu identificar o crescimento das paralisações.

— Nas reuniões, a gente perguntava para o pessoal da Abin o que aconteceria e eles só diziam que melhoraria no dia seguinte. Só que não melhorou — diz um integrante do comitê de crise.

Com um orçamento previsto para 2018 de R$ 670 milhões, de acordo com levantamento feita pelo Contas Abertas a pedido do GLOBO, a Abin tem escritórios em todas as capitais brasileiras e em 14 países. Até segunda-feira, a agência já havia gasto R$ 194 milhões desse orçamento sem conseguir prever um único ato dos caminhoneiros organizado a partir do WhatsApp.

— Esses caras da Abin são analógicos. Esse tipo de comunicação horizontal, feita via WhatsApp, está fora da capacidade deles — diz um auxiliar da área de Segurança do governo.

Por causa da ausência de informações de inteligência, o Palácio do Planalto acreditou que estava negociando o fim das paralisações com um grupo de “líderes” sindicais que, na verdade, não representavam a categoria. Na quinta-feira, anunciou um acordo que acabou rejeitado pelos caminhoneiros.

Ao perceber o envolvimento de empresários nas paralisações, outros órgãos de segurança, como a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal passaram a agir. A PF anunciou a abertura de inquéritos para investigar empresários por locaute. E a PRF, com a ajuda das Forças Armadas passaram a registrar placas de caminhões nos bloqueios para identificar os proprietários e, com isso, levantar que empresas dariam suporte aos grevistas. Foi a partir desse levantamento de placas que a PRF conseguiu apresentar ao governo, nesta terça-feira, o primeiro relatório de multas, com 718 autuações.

Diante da continuidade da greve, Temer foi obrigado a entrar pessoalmente no gerenciamento da crise na manhã de sexta-feira. Um dia antes, ele havia cumprido agendas oficiais no Rio de Janeiro e em Minas Gerais, como se nada estivesse acontecendo no país. Com o governo atordoado, Temer anunciou em um pronunciamento no Planalto o emprego das Forças Armadas na desmobilização da greve. O ato acabou inflamando o país e desagradando os militares, que foram chamados de última hora, sem serem consultados a respeito da viabilidade da operação.

— Nesse processo de desgaste do governo, qualquer gripe vira pneumonia. Para não agravar a situação, o comando orientou as tropas a negociar sempre, sem violência. O caminho foi abrir os eixos de logística, garantir a retomada do abastecimento de combustíveis e o bem-estar social — disse ao GLOBO um general ligado ao comando do Exército.

Depois de Temer assinar um decreto nacional de Garantia da Lei e da Ordem e ameaçar confiscar os caminhões dos grevistas, os relatórios de monitoramento de redes sociais da Presidência mostraram um avanço no apoio dos brasileiros ao movimento. A greve chegou a ter 90% de apoio dos usuários das redes no fim de semana.

— A Abin falhou muito ao minimizar a ebulição desse movimento nas redes sociais. Quando o governo viu, a situação já tinha saído do controle. A inteligência deveria ter monitorado o tamanho disso nas redes — disse um auxiliar de Temer.

O número só começou a cair a partir do anúncio do governo de um segundo acordo, quando o Palácio do Planalto decidiu aceitar todas as exigências dos caminhoneiros.

— A gravidade do desabastecimento de combustíveis e de alimentos no país, com desdobramentos na área da saúde começou a pesar. As pessoas perceberam que, com o atendimento das reivindicações, era chegada a hora de encerrar as manifestações. O apoio nas redes caiu de 90% para 35% — disse um integrante do comitê de crise.

A Abin foi procurada, mas ainda não se manifestou.

30/05/2018