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sábado, 23 de abril de 2016

Lula é tratado como se tivesse foro privilegiado


Lula está na mira da Lava Jato; Lula teve a nomeação para o ministério da Casa Civil sustada, por ser clara tentativa de obstrução da Justiça.

Por Mario Sabino

E o que aconteceu de efetivo até agora?

Nada.

O juiz Sergio Moro foi obrigado por Teori Zavascki a encaminhar a Rodrigo Janot os autos dos inquéritos em que Lula é citado. E, obviamente, tudo encontra-se parado até Janot mandar a sua avaliação para Teori — que, por sua vez, avaliará se devolve os autos para Moro ou não.

O STF também adiou para depois da decisão do Senado sobre o impeachment o julgamento do mandado de segurança contra a nomeação de Lula. Os ministros acreditam que, se os senadores aceitarem a denúncia contra Dilma Rousseff, o mandado perderá o objeto e, assim, eles evitarão expor-se a um caso "polêmico".

Em resumo, o STF, atacado pelo petista em conversa telefônica grampeada pela Lava Jato, continua a tratar Lula com reverência e medo.

A reverência é descabida. Como ex-presidente da República, ele não tem foro privilegiado. Como ex-presidente da República, os seus crimes deveriam ser examinados pelos magistrados com mais rapidez do que a dispensada ao cidadão comum, visto que milhões de brasileiros confiaram-lhe o voto e por Lula foram traídos.

O medo é inexplicável. Os ministros do STF realmente acreditam que o petista é capaz de retaliar o tribunal ou incendiar o país, uma vez que tenha a posse definitivamente anulada? Qual é a "polêmica" nessa matéria?

Ao privilegiar indevidamente Lula, seja por reverência, medo — ou, pior, partidarismo —, a mais alta instância da Justiça brasileira desaponta e cria um ambiente de insegurança jurídica que contamina todas as esferas da vida nacional.

23 de abril de 2016

Denúncia do sítio em Atibaia (SP) será primeira acusação contra Lula na Lava Jato


Independente da decisão do STF, que determinará se compete à Procuradoria em Brasília ou em Curitiba processar ex-presidente, força-tarefa considera ter provas para levar petista a banco dos réus por envolvimento no esquema de corrupção e lavagem de dinheiro na Petrobrás


Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo
e Julia Affonso
Estadão


A força-tarefa da Operação Lava Jato considera ter elementos para levar o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva ao banco dos réus, acusado de envolvimento com a organização criminosa que corrompeu e lavou dinheiro desviado da Petrobrás – independente de qual instância ele será processado. O inquérito sobre a compra e reforma do Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), será a primeira acusação formal entregue à Justiça.

O Supremo Tribunal Federal (STF) decidirá ainda se Lula pode assumir o cargo de ministro da Casa Civil e se ele será denunciado pela Procuradoria Geral da República (PGR), considerando o direito ao foro especial por prerrogativa de função, ou se as acusações poderão ser apresentadas pela Procuradoria, em Curitiba, diretamente ao juiz federal Sérgio Moro – dos processos em primeiro grau da Lava Jato.

Alvo em Curitiba de três frentes de apuração na Lava Jato – as outras duas envolvem o tríplex 164 A, da OAS, no Guarujá, e os pagamentos e repasses para o ex-presidente via sua empresa de palestras, a LILS, e para o Instituto Lula -, a que envolve o sítio de Atibaia é a mais robusta, na avaliação dos investigadores. Os inquéritos estão suspensos depois que ele foi nomeado ministro da Casa Civil pela presidente Dilma Rousseff, no dia 17, e o tema foi levado ao Supremo.





A peça apontará a família do ex-prefeito de Campinas (SP) e amigo de Lula Jacó Bittar (PT) como “laranjas” na ocultação da propriedade, adquirida em 2010 pelo valor declarado de R$ 1,5 milhão. Os registros de escritura em nome dos donos oficiais, um “contrato de gaveta” em nome do ex-presidente e da mulher, Marisa Letícia, encontrado nas buscas e depoimentos dos investigados farão parte da acusação

O compadre e defensor jurídico do ex-presidente Roberto Teixeira também será citado como parte da operação de formalização do negócio. Oficialmente a propriedade está registrada em nome de um dos filhos de Bittar, Fernando Bittar, e do empresário Jonas Suassuna – ambos sócios do filho de Lula. O registro de compra do imóvel foi realizado pelo escritório de Teixeira.


Obra de presente. Com base nas notas fiscais localizadas nas buscas e apreensões, depoimentos colhidos e movimentações bancárias analisadas, a Lava Jato também vinculará os desvios de recursos na Petrobrás à reforma executada no sítio e a manutenção de bens referentes a Lula. OAS, Odebrecht e o pecuarista José Carlos Bumlai serão vinculados aos serviços executados, como compensação por obras loteadas pelo cartel.










Considerado pela Lava Jato um “resolve problemas” de Lula, o papel de Bumlai como responsável por parte da obra de reforma no sítio, como favor ao amigo ex-presidente será destacado na denúncia. Um dos pontos é o empréstimo do arquiteto Igenes Irigaray Neto, que trabalhava nas usinas do pecuarista e foi enviado para Atibaia para cuidar da reforma. Notas de compra de material em seu nome ajudarão a comprovar materialmente sua ligação com os serviços.


No caso da OAS, ela será citada pelo custeio da mudança e armazenamento de bens de Lula, retirados de Brasília, após ele deixar a Presidência.

Em documento enviado ao STF, a defesa de Lula sustenta que o sítio foi comprado pelo amigo Jacó Bittar para convívio das duas famílias, após ele deixar a presidência, em 2011. Ao Estado, o defensor de Lula, Cristiano Zanin Martins, informou que o “MPF tem conhecimento, em virtude de provas documentais, de que (i) o sítio foi comprado com recursos provenientes de Jacó Bittar e de seu sócio Jonas Suassuna; (ii) que Fernando Bittar e Jonas Suassuna custearam, com seu próprio patrimônio, reformas e melhorias no imóvel; (iii) que Fernando Bittar e sua família frequentaram o sítio com a mesma intensidade dos membros da família do ex-Presidente Lula, estes últimos na condição de convidados”.

“O ex-Presidente Lula e seus familiares foram submetidos a uma ilegal devassa por decisões do juiz Sérgio Moro, a pedido do MPF. A despeito disso, não lograram localizar qualquer elemento concreto que pudesse basear uma acusação — seja em relação à propriedade do imóvel, seja em relação às reformas feitas no imóvel”, disse o advogado de Lula.

Para a Procuradoria, todo material encontrado no sítio, bem como as notas de compra em nome do segurança do ex-presidente Rogério Pimentel apontam que ele era o verdadeiro dono da propriedade. Notas como compra de material para piscina, bem como os registros de envio de materiais – como itens da adega presidencial – farão parte desse item.


Os procuradores apontarão que “o ex-presidente da República tinha ciência do estratagema criminoso e dele se beneficiou”. Segundo sustentará a denúncia, as etapas de aquisição, reforma e decoração do sítio em Atibaia “revelam operações sucessivas de lavagem de dinheiro no interesse de Luiz Inácio Lula da Silva”. A origem ilícita dos recursos empregados na compra, reforma e decoração do imóvel, advindos de crimes antecedentes praticados pela Odebrecht, OAS e Usina São Fernando (de Bumlai) integram os elementos que apontarão os estratagemas para dissimulação e ocultação do negócio.



Quebra-cabeça. Até março, procuradores da força-tarefa da Lava Jato em Curitiba consideravam estar a um delator de completar o quebra cabeça acusatório contra Lula – como se tivessem o cenário da imagem já definido, restando apenas uma peça para completar o desenho.

A delação do senador Delcídio Amaral (ex-PT-MS), ex-líder do governo no Senado, ajudou a definir esse cenário, em que Lula é pintado pela Procuradoria como um dos líderes, junto com personagens como o ex-ministro José Dirceu – que será condenado no próximo mês pelo juiz Sérgio Moro -, do esquema de sistematização da corrupção no governo. Além do fatiamento político entre partidos da base – PT, PMDB, PP e PTB -, teriam sido criadas regras para a propina, por meio do qual foi montada a base de sustentação para a governabilidade, uma versão ampliada do mensalão.





A figura do delator bomba é considerada peça faltante ainda no caso do tríplex no Guarujá, que deve ser a segunda peça de acusação formal a Justiça contra Lula, segundo esperam os investigadores. Lula será denunciado nesse caso por lavagem de dinheiro, sendo beneficiado pela OAS, uma das líderes do cartel que atuava Petrobrás, com a reforma e decoração do imóvel com dinheiro oriundo de corrupção. As tratativas para um acordo com o ex-presidente da empreiteira José Aldemário Pinheiro, o Léo Pinheiro, mesmo que distantes de um final, poderão completar esse quadro.

O inquérito considerado o mais incipiente é o que trata das palestras, pós-Presidência, via empresa LILS, Palestras, Eventos e das doações ao Instituto Lula. Nessa frente, um delator que confirme que os repasses e pagamentos por palestras podem ter ocultado propina é essencial para investigadores.

COM A PALAVRA, O EX-PRESIDENTE LUIZ INÁCIO LULA DA SILVA

Por meio de assessoria de imprensa, o criminalista Cristiano Zanin Martins, defensor do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, divulgou nota:

“Toda a documentação relativa à compra do sítio Santa Bárbara, inclusive com a origem dos recursos utilizados, foi apresentada ao Ministério Público Federal por Fernando Bittar em 18/03/2016.

O MPF tem conhecimento, em virtude de provas documentais, de que (i) o sítio foi comprado com recursos provenientes de Jacó Bittar e de seu sócio Jonas Suassuna; (ii) que Fernando Bittar e Jonas Suassuna custearam, com seu próprio patrimônio, reformas e melhorias no imóvel; (iii) que Fernando Bittar e sua família frequentaram o sítio com a mesma intensidade dos membros da família do ex-Presidente Lula, estes últimos na condição de convidados.

O ex-Presidente Lula e seus familiares foram submetidos a uma ilegal devassa por decisões do juiz Sérgio Moro, a pedido do MPF. A despeito disso, não lograram localizar qualquer elemento concreto que pudesse basear uma acusação — seja em relação à propriedade do imóvel, seja em relação às reformas feitas no imóvel.

É muito grave, especialmente diante do histórico acima, a informação de que alguns membros do MPF, inclusive da sua principal estrutura, teriam antecipado a jornalistas de “O Estado de S.Paulo” que pretendem apresentar denúncias em série contra o ex-Presidente Lula, seus familiares e amigos.

Tal conduta, se confirmada, representará um verdadeiro atentado à Constituição Federal, pois alguns membros do MPF estarão utilizando de um amplo poder que lhes foi conferido para ferir a dignidade de pessoas e para tentar subverter o princípio da presunção de inocência, não só mediante a formulação de denúncias contra pessoas que sabem serem inocentes, mas ao darem publicidade antecipada a esse ato.

Configurará, ainda, um atentado a Tratados Internacionais dos quais o Brasil é signatário, que asseguram, dentre outras coisas, o direito à integridade pessoal — física, psíquica e moral — e a presunção de inocência, inclusive como regra de tratamento, impedindo que seja feito qualquer juízo moral antecipado, fundado em situações juridicamente ainda não definidas.

Por isso, caso esse grave fato seja confirmado, serão tomadas todas as providências para restabelecer as garantias constitucionais e aquelas estabelecidas nos Tratados Internacionais e, ainda, para que sejam punidos todos os agentes que insistem em desrespeitar o segredo de justiça estabelecido pela mais Alta Corte do País.

Cristiano Zanin Martins”

23/04/2016


sexta-feira, 22 de abril de 2016

Dois vice-líderes do governo no Senado anunciam voto contra Dilma


Wellington Fagundes (PR-MT) e Hélio José (PMDB-DF) discursaram nesta sexta-feira

Por Eduardo Bresciani
O Globo

Em discurso no plenário, o senador Hélio José (PMDB-DF)
Pedro França / Agência Senado

BRASÍLIA — Dois vice-líderes do governo no Senado anunciaram nesta sexta-feira em pronunciamentos na tribuna da Casa que votarão pela admissibilidade do processo de impeachment contra a presidente Dilma Rousseff. Caso a admissibilidade seja aprovada pelo Senado, a presidente será afastada por até 180 dias enquanto é feito o julgamento do mérito do processo. Wellington Fagundes (PR-MT) e Hélio José (PMDB-DF) ainda não tinham se posicionado sobre o processo.

– Vamos votar, sim, pela admissibilidade, porque politicamente o país já está maduro para isso. A população se manifestou e, felizmente, não tivemos nenhum incidente. Não tivermos morte, ou seja, a democracia está funcionando plenamente no país. Os poderes estão funcionando plenamente – disse Fagundes, que é titular na comissão que analisará o processo.

– Eu já deixei claro que a questão da admissibilidade do processo e, consequentemente, a questão do nosso presidente Temer, presidente nacional do nosso Partido, assumir por 180 dias é, praticamente, na minha visão, normal nessa circunstância. Na comissão de admissibilidade, serei pela admissão do processo – disse Hélio José, suplente na comissão.

Com a declaração de Fagundes, já são 15 os senadores que se declararam a favor e apenas cinco contrários ao processo. O senador Raimundo Lira (PMDB-PB) tinha se declarado a favor, mas como foi indicado para presidir o colegiado pediu para que seu status fosse alterado para “indeciso”.

Os dois vice-líderes do governo que discursaram nesta sexta-feira ressaltaram que o voto deles não antecipa o posicionamento deles quanto à condenação de Dilma ao final do processo. Eles afirmam que para esta fase vão analisar o decorrer do trabalho no Senado para decidirem. O senador Hélio José mencionou o fato de ser vice-líder do governo, mas ressaltou que representa na Casa tanto Dilma quanto o vice Michel Temer.

22 de abril de 2016



Dono da Engevix delata Temer, Renan, Erenice e propina para campanha de Dilma



José Antunes Sobrinho, preso desde setembro, resolveu entregar à Lava Jato tudo – ou grande parte – do que sabe


DANIEL HAIDAR, ANA CLARA COSTA
E DIEGO ESCOSTEGUY


Trecho da reportagem de capa de ÉPOCA desta semana:


O engenheiro José Antunes Sobrinho, de 63 anos, prosperou nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e Dilma Rousseff. Ele é um dos donos da Engevix, empreiteira que ascendeu a partir de 2003, por meio de contratos, financiamentos e empréstimos obtidos com estatais e bancos públicos. A empresa valia R$ 141 milhões em 2004. Dez anos depois, faturava R$ 3,3 bilhões. O modelo de negócios de Antunes era simples e eficiente, adaptado ao capitalismo de Estado promovido pelos governos petistas. Consistia em corromper quem detivesse a caneta capaz de liberar dinheiro público à empresa dele. Ou, se esse estratagema não fosse suficiente, corromper os chefes políticos e amigos influentes daqueles que detivessem as canetas.

Antunes e seus sócios pagavam propina, portanto, para conseguir o acesso ao dinheiro público barato que, por sua vez, permitiria à Engevix conseguir, mediante mais propina, os grandes contratos públicos de serviços e obras, em estatais como Petrobras, Eletronuclear, Furnas, Infraero e Belo Monte.


Antunes era bom no que fazia, conforme atestam os números da Engevix. Talvez bom demais. A exemplo de outros empreiteiros que seguiam o mesmo modelo de negócios, foi preso na Operação Lava Jato. Tornou-se acusado de corrupção, lavagem de dinheiro e, entre outros crimes, de participar do cartel de empreiteiras que, associado em especial aos políticos do PT e do PMDB, destruiu a Petrobras e devastou outras estatais durante os governos Lula e Dilma.

Preso desde setembro em Curitiba, Antunes resolveu entregar aos procuradores da Lava Jato tudo – ou grande parte – do que sabe. As negociações, que estão em estágio avançado, passaram a envolver recentemente a equipe do procurador-geral da República, Rodrigo Janot. Muitos dos crimes admitidos por Antunes envolvem, direta ou indiretamente, políticos com foro privilegiado – aqueles que, muitas vezes, são os donos de fato de quem move as canetas nas estatais.


ÉPOCA obteve acesso, na íntegra e com exclusividade, à última proposta de delação entregue pelos advogados de Antunes aos procuradores. São 30 anexos, cada um deles com fatos, pessoas e crimes distintos.


No documento e em conversas com procuradores da República, Antunes disse ter pago propina a operadores que falavam em nome do vice-presidente da República, Michel Temer, e do presidente do Senado, Renan Calheiros, ambos do PMDB. Segundo ele, nos governos petistas, os dois patrocinaram a nomeação de afilhados políticos em estatais como Petrobras e Eletronuclear.

Antunes também afirmou ter pago milhões em propina ao caixa clandestino do PT, em razão de vantagens indevidas obtidas pela Engevix na Caixa, no fundo de pensão do banco, a Funcef, em Belo Monte, na Petrobras e no Banco do Nordeste. Ainda de acordo com Antunes, o PT, em especial por meio de José Dirceu e João Vaccari, ambos presos na Lava Jato, também patrocinava afilhados políticos nesses órgãos públicos.

Antunes disse que foi pressionado por Edinho Silva, então arrecadador de Dilma e hoje ministro no Planalto, a financiar a campanha da presidente em 2014.



Antunes e boa parte dos principais delatores da Lava Jato afirmam que esse modelo de negócios só era possível graças à maior das canetas: a do presidente da República. Sem ela, seja com Lula, seja com Dilma, nenhum desses afilhados políticos estariam nos postos para os quais foram despachados por PT e PMDB, os dois principais partidos da coalizão governista. Para manter boas relações com o Planalto, Antunes diz que pagou para ter a influência do advogado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma, conforme revelou ÉPOCA.

Afirma que pagou, também, para a ex-ministra da Casa Civil Erenice Guerra, que foi, até 2010, a principal assessora de Dilma. A seguir, alguns dos principais episódios narrados por Antunes. Se sua proposta de delação for aceita, o depoimento, somado a provas que Antunes promete apresentar, pode ser valioso para as investigações da Lava Jato.



com Alana Rizzo, Aline Ribeiro, Thais Lazzeri e Vinicius Gorczeski

21/04/2016



“O objetivo era conseguir agenda com a presidente”, diz ex-vice-presidente da Engevix




Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, encontrou-se com empreiteiro investigado na Lava Jato e sinalizou que iria ajudá-lo a marcar audiência com a presidente, segundo relato de executivo que participou da reunião

THIAGO BRONZATTO
E ANA CLARA COSTA



O encontro realizado entre Carlos Araújo, ex-marido de Dilma Rousseff, e o empreiteiro José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, conforme revelou ÉPOCA, foi intermediado pelo engenheiro gaúcho Paulo Zuch. Ex-vice-presidente da Desenvix, empresa de energia do grupo Engevix, Zuch é um velho conhecido de Dilma. Ele foi um dos diretores da estatal Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), do Rio Grande do Sul, quando a petista era secretária de Minas e Energia do Estado gaúcho. Mesmo quando Dilma virou ministra de Minas e Energia no governo Lula, o engenheiro mantinha contato com ela, pois trabalhava na Companhia Energética Rio das Antas (Ceran). Mas é com Araújo com quem Zuch mantém uma relação mais estreita. O executivo da Engevix ajudou Araújo a levantar R$ 50 mil, via Lei Rouanet, para um projeto cultural de seu companheiro dos tempos de luta armada, Jair Krischke. Em meados de 2013, Zuch pediu para que o ex-marido de Dilma recebesse o seu amigo e patrão, José Antunes. “O objetivo era conseguir agenda com a presidente”, diz Zuch a ÉPOCA. “E ele [Carlos Araújo] disse: 'Sim, vou ver'”, revela o ex-executivo da Engevix.

Paulo Fraga Zuch, ex-vice-presidente da Desenvix, empresa de energia da Engevix
(Foto: Reprodução)


No mesmo período em que Antunes se reuniu com o ex-marido da presidente, Zuch realizou uma transferência de R$ 200 mil para a Ribas & Ribas, empresa controlada pelo casal Nilton Belsarena e Eunice Ribas, amigos há mais de 30 anos de Dilma e Araújo. Belsanara, junto com Zuch, ajudou a convencer Carlos Araújo a se encontrar com Antunes. Um mês depois da transação financeira, o engenheiro gaúcho recebeu o mesmo valor da Enerbio, fornecedora da Engevix. Segundo ele, o dinheiro enviado para a Ribas & Ribas, dona da Funerária Séria, tinha como finalidade comprar uma fração de um terreno em Porto Alegre para construir um empreendimento imobiliário. O contrato dessa operação de compra de imóvel foi assinado somente um ano depois da transferência de recursos – e o local adquirido está tomado por mato, sem qualquer vestígio de obra iniciada. A reunião entre Antunes e o ex-marido da presidente foi levantada na negociação de proposta de delação premiada do sócio da Engevix tratada com a força-tarefa. O depoimento exclusivo de Zuch sobre o encontro pode ser uma peça-chave nas apurações dos fatos. A seguir, os principais trechos das entrevistas gravadas com Zuch.


ÉPOCA – Por que Antunes, sócio da Engevix, queria que o senhor intermediasse uma reunião com o advogado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff?

Paulo Zuch – Vocês conhecem a piada da freira entregando santinho na frente do bordel? Tinha um bordel com a porta aberta e uma freira entrou para entregar santinhos lá dentro. Tiraram uma foto dela. Ela está até hoje tentando explicar que não é prostituta. Estou me sentindo igual à freira. O Antunes pediu para ter uma conversa com o Carlos. Não me lembro se foi final de 2013 ou início de 2014. O objetivo disso aí era: ele queria uma audiência com a presidente. Mas essa audiência não foi conseguida. Na conversa deles, conheci a história da Via Campesina, da vida do Tom Jobim, e foi uma história de generalidades. A intenção do Antunes era mostrar ao Carlos Araújo que ele tinha uma empresa competente. E que ia ter condições de tocar o aeroporto de Brasília. Basicamente foi isso que eu ouvi. Tchê, em momento nenhum ouvi falar de benefício ou de compensação. Eu sou amigo do Carlos Araújo, sou daqui, nasci aqui, me criei aqui. E conheço, tchê, o pessoal da área política e de administração. Por isso ele me pediu. Faz uns três ou quatro anos que nos conhecemos [Zuch e Araújo]. Nos conhecemos com uma aproximação de conversa sobre situação do país. A primeira conversa que eu tive com ele foi para discutir situação do país. Mais uma coisa cultural. Inclusive até dessa primeira conversa, tinha um projeto de Lei Rouanet que eu acabei buscando o apoio de uma das empresas. Isso foi uma das coisas da minha aproximação com ele. Ele era muito amigo do cara que estava fazendo o livro. Eu acho que esse livro saiu, foi montado uma espécie de museu. Foi um trabalho bacana que foi desenvolvido. Ele me contou essa história e eu ajudei a buscar recurso para ela. Nós fizemos uma conversa de aproximação e surgiu essa história do livro. Foi há três ou quatro anos. O livro era sobre a história política do país. Eu ajudei o amigo dele a captar recurso junto à Ceran.


ÉPOCA – Por que Carlos Araújo seria útil para agendar um encontro com a presidente ao invés do Ministro da Casa Civil ou do chefe de gabinete de Dilma?
Zuch – Porque ele tinha tentado com Deus e o mundo. Isso é uma característica do Antunes. Ele sai pedindo para todo mundo. Era costume dele. Falava: “Vai fazer tal coisa”. E aí pedia para outra pessoa a mesma coisa. Ele tem umas características interessantes. Agora, recorrer a ele é suposição do Antunes. Ele queria uma agenda com ela [Dilma]. Ele acreditava que ele sentando com a presidente e contando o que a empresa dele fazia... Ele ficou conversando por três horas com o Carlos Araújo e entre uma história e outra contava um pouco sobre a empresa. Mas, cara, vou te dizer, que eu lembre, e eu acompanhei a conversa quase toda, foi a questão do aeroporto. O que aconteceu: a Engevix tinha ganhado o primeiro aeroporto de São Gonçalo do Amarante no RN. Aí teve a licitação dos três: Brasília, Guarulhos e Campinas. Eles ganharam Brasília. Precisavam de um operador e acabaram se juntando com a Argentina, a Corporación América. Aí ficou aquela coisa. Como ganhou em Brasilia, começou uma coisa de “esses caras não vão conseguir fazer”. Houve a preocupação do Antunes de tirar a imagem de incompetente. E por isso ele quis essa conversa. Queria explicar. Tanto que no fim da conversa, o Carlos disse: “Tu é o empresário que o Brasil precisa”.

ÉPOCA – Mas por que procurar um advogado trabalhista de Porto Alegre? Qual a interferência dele na agenda da presidente Dilma?
Zuch – Ele tentou o mundo. Ele contou ao Carlos toda a história de bom moço e o fechamento era: gostaria de conversar com a presidenta. E ele [Carlos Araújo] disse: Sim, vou ver. Pega a história do Carlos Araújo. Imagina pela história dele quantas pessoas ele tem de conhecimento. Se tu identificar gente do Rio Grande do Sul que está no governo, ele conhece todo mundo. Tem uma porrada de gente. O Carlos tem relacionamento político pelo histórico político dele. Puxa os cargos dele. Ele foi durante muito tempo um cacique do PDT. É um cara que tem uma monstra relação. O objetivo era conseguir agenda com a presidente.

ÉPOCA – Qual a sua relação com a presidente Dilma?
Zuch – Eu tinha uma boa relação com ela, quando era secretária de energia do Rio Grande do Sul e quando era ministra de energia no governo Lula. Quando fiz uma usina do Ceran, ela participou da inauguração. Eu tinha contato em função das questões institucionais de trabalho.

ÉPOCA – Carlos Araújo recebeu dinheiro da Engevix para tentar intermediar um encontro entre Antunes e a presidente Dilma?
Zuch – Não tenho conhecimento nenhum de que o Carlos foi contratado. Em todo o acompanhamento que eu fiz eu nunca vi tratativas ou hipóteses de pagamento. Em momento nenhum eu vi nada disso. Não tenho como te dizer que não aconteceu. Mas eu não tenho conhecimento. E institucionalmente não passaria por mim. Seria uma surpresa para mim esse comportamento do Antunes. Por toda história dele. O que eu sempre acompanhei foi a seguinte história: eu sou um empresário que vai fazer as coisas e gostaria de falar com a presidente. A única coisa que tratei de dinheiro foi a contribuição de R$ 50 mil reais da Ceran via Lei Rouanet. Isso foi em 2012 ou 2013.

ÉPOCA – Por que o senhor repassou R$ 200 mil para uma funerária praticamente no mesmo período do encontro entre o ex-marido de Dilma e Antunes?

Zuch – Esse dinheiro não foi para o Carlos Araújo. Isso aí é de uma, de uma...É repasse que o Antunes fez pra mim que ele estava me devendo. Não foi para o Carlos Araújo. O Artur me pediu para não evoluir na conversa (Arthur Garrastazu é o advogado de Paulo Zuch). Com certeza, não foi repasse para o Carlos Araújo. Eu te afirmo categoricamente. Eu juro. Ele (Antunes) estava me devendo mais de R$ 2 milhões em bonificação e nunca acertou comigo. E em função de eu estar fazendo esses auxílios e tal ele me repassou isso aí como parte de pagamento de bonificação. Mas não tem nada a ver com o Carlos Araújo.


ÉPOCA – Mas por que o senhor efetuou um repasse para uma funerária?

Zuch – É que essa funerária é detentora de uma área de terra onde a gente está desenvolvendo um projeto. Teve um encaminhamento, uma transferência que eu acabei fazendo. Mas não tem nada a ver com o Carlos Araújo. É para uma detentora de área, chamada Ribas & Ribas. É uma empresa que tem uma área em Porto Alegre e que está desenvolvendo o projeto. Mas conversa com meu advogado.


ÉPOCA – E quem é, afinal, o dono dessa empresa? O senhor o conhece?
Zuch – Eu não sei. O dono, ué. Ribas é o sobrenome. Conversa com o Garrastazu sobre isso. Ele vai te ajudar. Passei para a Ribas & Ribas e, depois, o dinheiro chegou na minha conta via uma empresa de prestação de serviço da Engevix, chamada Enerbio. Eu adquiri participação num terreno da Ribas & Ribas, que está fazendo loteamento. E a Ribas & Ribas tem uma funerária. Esse dinheiro não foi para o Carlos.

ÉPOCA – E qual foi a participação do dono da Ribas & Ribas na reunião entre Antunes e Araújo?
Zuch – Ele ajudou na aproximação [com o Carlos Araújo].

ÉPOCA – Como ele ajudou?


Zuch – Ele tem mais contato. Ele é muito amigo do Carlos. Ele é quase família do Carlos.


ÉPOCA – O senhor declarou esse terreno em seu imposto de renda?

Zuch – Tenho que olhar. Tchê, eu tenho que checar, porque essa é uma declaração que está no nome da minha empresa.

19/01/2016