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sexta-feira, 22 de abril de 2016

“O objetivo era conseguir agenda com a presidente”, diz ex-vice-presidente da Engevix




Carlos Araújo, ex-marido de Dilma, encontrou-se com empreiteiro investigado na Lava Jato e sinalizou que iria ajudá-lo a marcar audiência com a presidente, segundo relato de executivo que participou da reunião

THIAGO BRONZATTO
E ANA CLARA COSTA



O encontro realizado entre Carlos Araújo, ex-marido de Dilma Rousseff, e o empreiteiro José Antunes Sobrinho, sócio da Engevix, conforme revelou ÉPOCA, foi intermediado pelo engenheiro gaúcho Paulo Zuch. Ex-vice-presidente da Desenvix, empresa de energia do grupo Engevix, Zuch é um velho conhecido de Dilma. Ele foi um dos diretores da estatal Companhia Estadual de Energia Elétrica (CEEE), do Rio Grande do Sul, quando a petista era secretária de Minas e Energia do Estado gaúcho. Mesmo quando Dilma virou ministra de Minas e Energia no governo Lula, o engenheiro mantinha contato com ela, pois trabalhava na Companhia Energética Rio das Antas (Ceran). Mas é com Araújo com quem Zuch mantém uma relação mais estreita. O executivo da Engevix ajudou Araújo a levantar R$ 50 mil, via Lei Rouanet, para um projeto cultural de seu companheiro dos tempos de luta armada, Jair Krischke. Em meados de 2013, Zuch pediu para que o ex-marido de Dilma recebesse o seu amigo e patrão, José Antunes. “O objetivo era conseguir agenda com a presidente”, diz Zuch a ÉPOCA. “E ele [Carlos Araújo] disse: 'Sim, vou ver'”, revela o ex-executivo da Engevix.

Paulo Fraga Zuch, ex-vice-presidente da Desenvix, empresa de energia da Engevix
(Foto: Reprodução)


No mesmo período em que Antunes se reuniu com o ex-marido da presidente, Zuch realizou uma transferência de R$ 200 mil para a Ribas & Ribas, empresa controlada pelo casal Nilton Belsarena e Eunice Ribas, amigos há mais de 30 anos de Dilma e Araújo. Belsanara, junto com Zuch, ajudou a convencer Carlos Araújo a se encontrar com Antunes. Um mês depois da transação financeira, o engenheiro gaúcho recebeu o mesmo valor da Enerbio, fornecedora da Engevix. Segundo ele, o dinheiro enviado para a Ribas & Ribas, dona da Funerária Séria, tinha como finalidade comprar uma fração de um terreno em Porto Alegre para construir um empreendimento imobiliário. O contrato dessa operação de compra de imóvel foi assinado somente um ano depois da transferência de recursos – e o local adquirido está tomado por mato, sem qualquer vestígio de obra iniciada. A reunião entre Antunes e o ex-marido da presidente foi levantada na negociação de proposta de delação premiada do sócio da Engevix tratada com a força-tarefa. O depoimento exclusivo de Zuch sobre o encontro pode ser uma peça-chave nas apurações dos fatos. A seguir, os principais trechos das entrevistas gravadas com Zuch.


ÉPOCA – Por que Antunes, sócio da Engevix, queria que o senhor intermediasse uma reunião com o advogado Carlos Araújo, ex-marido da presidente Dilma Rousseff?

Paulo Zuch – Vocês conhecem a piada da freira entregando santinho na frente do bordel? Tinha um bordel com a porta aberta e uma freira entrou para entregar santinhos lá dentro. Tiraram uma foto dela. Ela está até hoje tentando explicar que não é prostituta. Estou me sentindo igual à freira. O Antunes pediu para ter uma conversa com o Carlos. Não me lembro se foi final de 2013 ou início de 2014. O objetivo disso aí era: ele queria uma audiência com a presidente. Mas essa audiência não foi conseguida. Na conversa deles, conheci a história da Via Campesina, da vida do Tom Jobim, e foi uma história de generalidades. A intenção do Antunes era mostrar ao Carlos Araújo que ele tinha uma empresa competente. E que ia ter condições de tocar o aeroporto de Brasília. Basicamente foi isso que eu ouvi. Tchê, em momento nenhum ouvi falar de benefício ou de compensação. Eu sou amigo do Carlos Araújo, sou daqui, nasci aqui, me criei aqui. E conheço, tchê, o pessoal da área política e de administração. Por isso ele me pediu. Faz uns três ou quatro anos que nos conhecemos [Zuch e Araújo]. Nos conhecemos com uma aproximação de conversa sobre situação do país. A primeira conversa que eu tive com ele foi para discutir situação do país. Mais uma coisa cultural. Inclusive até dessa primeira conversa, tinha um projeto de Lei Rouanet que eu acabei buscando o apoio de uma das empresas. Isso foi uma das coisas da minha aproximação com ele. Ele era muito amigo do cara que estava fazendo o livro. Eu acho que esse livro saiu, foi montado uma espécie de museu. Foi um trabalho bacana que foi desenvolvido. Ele me contou essa história e eu ajudei a buscar recurso para ela. Nós fizemos uma conversa de aproximação e surgiu essa história do livro. Foi há três ou quatro anos. O livro era sobre a história política do país. Eu ajudei o amigo dele a captar recurso junto à Ceran.


ÉPOCA – Por que Carlos Araújo seria útil para agendar um encontro com a presidente ao invés do Ministro da Casa Civil ou do chefe de gabinete de Dilma?
Zuch – Porque ele tinha tentado com Deus e o mundo. Isso é uma característica do Antunes. Ele sai pedindo para todo mundo. Era costume dele. Falava: “Vai fazer tal coisa”. E aí pedia para outra pessoa a mesma coisa. Ele tem umas características interessantes. Agora, recorrer a ele é suposição do Antunes. Ele queria uma agenda com ela [Dilma]. Ele acreditava que ele sentando com a presidente e contando o que a empresa dele fazia... Ele ficou conversando por três horas com o Carlos Araújo e entre uma história e outra contava um pouco sobre a empresa. Mas, cara, vou te dizer, que eu lembre, e eu acompanhei a conversa quase toda, foi a questão do aeroporto. O que aconteceu: a Engevix tinha ganhado o primeiro aeroporto de São Gonçalo do Amarante no RN. Aí teve a licitação dos três: Brasília, Guarulhos e Campinas. Eles ganharam Brasília. Precisavam de um operador e acabaram se juntando com a Argentina, a Corporación América. Aí ficou aquela coisa. Como ganhou em Brasilia, começou uma coisa de “esses caras não vão conseguir fazer”. Houve a preocupação do Antunes de tirar a imagem de incompetente. E por isso ele quis essa conversa. Queria explicar. Tanto que no fim da conversa, o Carlos disse: “Tu é o empresário que o Brasil precisa”.

ÉPOCA – Mas por que procurar um advogado trabalhista de Porto Alegre? Qual a interferência dele na agenda da presidente Dilma?
Zuch – Ele tentou o mundo. Ele contou ao Carlos toda a história de bom moço e o fechamento era: gostaria de conversar com a presidenta. E ele [Carlos Araújo] disse: Sim, vou ver. Pega a história do Carlos Araújo. Imagina pela história dele quantas pessoas ele tem de conhecimento. Se tu identificar gente do Rio Grande do Sul que está no governo, ele conhece todo mundo. Tem uma porrada de gente. O Carlos tem relacionamento político pelo histórico político dele. Puxa os cargos dele. Ele foi durante muito tempo um cacique do PDT. É um cara que tem uma monstra relação. O objetivo era conseguir agenda com a presidente.

ÉPOCA – Qual a sua relação com a presidente Dilma?
Zuch – Eu tinha uma boa relação com ela, quando era secretária de energia do Rio Grande do Sul e quando era ministra de energia no governo Lula. Quando fiz uma usina do Ceran, ela participou da inauguração. Eu tinha contato em função das questões institucionais de trabalho.

ÉPOCA – Carlos Araújo recebeu dinheiro da Engevix para tentar intermediar um encontro entre Antunes e a presidente Dilma?
Zuch – Não tenho conhecimento nenhum de que o Carlos foi contratado. Em todo o acompanhamento que eu fiz eu nunca vi tratativas ou hipóteses de pagamento. Em momento nenhum eu vi nada disso. Não tenho como te dizer que não aconteceu. Mas eu não tenho conhecimento. E institucionalmente não passaria por mim. Seria uma surpresa para mim esse comportamento do Antunes. Por toda história dele. O que eu sempre acompanhei foi a seguinte história: eu sou um empresário que vai fazer as coisas e gostaria de falar com a presidente. A única coisa que tratei de dinheiro foi a contribuição de R$ 50 mil reais da Ceran via Lei Rouanet. Isso foi em 2012 ou 2013.

ÉPOCA – Por que o senhor repassou R$ 200 mil para uma funerária praticamente no mesmo período do encontro entre o ex-marido de Dilma e Antunes?

Zuch – Esse dinheiro não foi para o Carlos Araújo. Isso aí é de uma, de uma...É repasse que o Antunes fez pra mim que ele estava me devendo. Não foi para o Carlos Araújo. O Artur me pediu para não evoluir na conversa (Arthur Garrastazu é o advogado de Paulo Zuch). Com certeza, não foi repasse para o Carlos Araújo. Eu te afirmo categoricamente. Eu juro. Ele (Antunes) estava me devendo mais de R$ 2 milhões em bonificação e nunca acertou comigo. E em função de eu estar fazendo esses auxílios e tal ele me repassou isso aí como parte de pagamento de bonificação. Mas não tem nada a ver com o Carlos Araújo.


ÉPOCA – Mas por que o senhor efetuou um repasse para uma funerária?

Zuch – É que essa funerária é detentora de uma área de terra onde a gente está desenvolvendo um projeto. Teve um encaminhamento, uma transferência que eu acabei fazendo. Mas não tem nada a ver com o Carlos Araújo. É para uma detentora de área, chamada Ribas & Ribas. É uma empresa que tem uma área em Porto Alegre e que está desenvolvendo o projeto. Mas conversa com meu advogado.


ÉPOCA – E quem é, afinal, o dono dessa empresa? O senhor o conhece?
Zuch – Eu não sei. O dono, ué. Ribas é o sobrenome. Conversa com o Garrastazu sobre isso. Ele vai te ajudar. Passei para a Ribas & Ribas e, depois, o dinheiro chegou na minha conta via uma empresa de prestação de serviço da Engevix, chamada Enerbio. Eu adquiri participação num terreno da Ribas & Ribas, que está fazendo loteamento. E a Ribas & Ribas tem uma funerária. Esse dinheiro não foi para o Carlos.

ÉPOCA – E qual foi a participação do dono da Ribas & Ribas na reunião entre Antunes e Araújo?
Zuch – Ele ajudou na aproximação [com o Carlos Araújo].

ÉPOCA – Como ele ajudou?


Zuch – Ele tem mais contato. Ele é muito amigo do Carlos. Ele é quase família do Carlos.


ÉPOCA – O senhor declarou esse terreno em seu imposto de renda?

Zuch – Tenho que olhar. Tchê, eu tenho que checar, porque essa é uma declaração que está no nome da minha empresa.

19/01/2016

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