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sábado, 19 de março de 2016

Datafolha: apoio ao impeachment de Dilma e rejeição de Lula batem recorde


Número de brasileiros favoráveis ao afastamento da presidente chegou a 68%

Veja.com

Dilma Rousseff e Lula durante a cerimônia de posse dos novos ministros no Palácio do Planalto, em Brasília
(Adriano Machado/Reuters)


A semana mais turbulenta dos 14 anos do governo presidencial do PT arranhou de vez a imagem de seus dois principais líderes, a presidente Dilma Rousseff e o agora ministro suspenso da Casa Civil, Luiz Inácio Lula da Silva. A mais recente pesquisa do Datafolha, divulgada neste sábado, mostrou que subiu para 68% o número de brasileiros favoráveis ao impeachment de Dilma. Além disso, Lula atingiu o maior índice de rejeição popular de sua vida: 57%. O Datafolha ouviu 2.794 eleitores nos dias 17 e 18, em 171 municípios de todo o país.

O número de apoiadores do impeachment de Dilma subiu oito pontos em relação à última pesquisa, de fevereiro. Também cresceu o número de entrevistados que defendem a renúncia de Dilma: 65% contra 58% do mês passado. Os que são contrários ao impeachment somam agora 27%, 6 pontos a menos do que no mês passado.

O aumento do apoio pelo impeachment e renúncia de Dilma acontece na sequência das grandes manifestações populares contra o governo, novas denúncias da delação premiada do senador Delcídio do Amaral e a divulgação de áudios do ex-presidente Lula, incluindo um com a própria presidente.

Segundo o Datafolha, o apoio pelo afastamento da presidente aumentou em todos os segmentos pesquisados. Em setembro de 1992, pouco antes do impeachment do então presidente Fernando Collor de Mello, 75% dos brasileiros eram favoráveis ao impedimento do presidente, enquanto apenas 18% eram contrários.

Mas apesar do grande apoio pela saída de Dilma, apenas 16% acreditam que um eventual governo do vice-presidente Michel Temer seria ótimo ou bom, enquanto 35% veem esse possível governo como ruim ou péssimo.

Lula - O retorno de Luiz Inácio Lula da Silva ao Planalto no cargo de ministro da Casa Civil, em uma evidente tentativa de obstruir o avanço das investigações da Lava Jato, derrubou de vez a popularidade do ex-presidente. Segundo o Datafolha, Lula atingiu sua maior taxa de rejeição: 57%. Seu maior índice de rejeição registrado antes deste levantamento era de 40%, em 1994, pouco antes da derrota na eleição presidencial para Fernando Henrique Cardoso.

Mesmo entre a classe mais pobre, Lula já é rejeitado por 49% da população. Ainda segundo o Datafolha, o índice cresce conforme o avanço da renda familiar dos entrevistados e chega a 74% entre aqueles que ganham dez ou mais salários mínimos por mês.

19 de março de 2016


Presidente da ADPF critica declarações do ministro da Justiça sobre vazamento na PF



Declarações do ministro provocaram reação imediata de delegados

por O Globo


BRASÍLIA — O presidente da Associação Nacional dos Delegados (ADPF), Carlos Eduardo Sobral, criticou as declarações do ministro da Justiça, Eugênio Aragão, que ameaçou afastar de investigações criminais delegados e agentes suspeitos de vazamento de informações sigilosas. Na segunda-feira, a diretoria da associação deverá se reunir para decidir se entra na Justiça com um mandado de segurança para impedir afastamentos preventivos de policiais federais.

— Lamentamos profundamente do ministro da Justiça quando ele diz que vai afastar policiais da Lava-Jato (por suspeita de vazamento seletivo de informações). Isso aí é uma interferência nas investigações — disse Sobral.

Novo ministro disse não se incomodar com críticas de Lula, que cobrou do ministro uma ‘postura de homem’ 
Roberto Jayme / TSE

Numa entrevista à Folha de São Paulo, Aragão diz que determinará o afastamento de policiais suspeitos de vazamentos de informações protegidas por sigilo. Segundo ele, vazamentos podem ocorrer a partir de agentes públicos (policiais, juízes ou procuradores) ou advogados, mas se as suspeitas recaem sobre a polícia, ele não hesitará em substituir toda a equipe de uma determinada investigação.

Para ele, não é aceitável que, num momento de quase conflagração como este, agentes públicos se apropriem de informações sigilosas para insuflar conflitos. O ministro argumenta ainda que policiais federais tem código disciplinar e não podem atuar na clandestinidade com propósitos políticos.

— O Estado não pode agir como malandro — disse Aragão.

As declarações do ministro provocaram reação imediata de delegados. Alguns deles passaram a reproduzir às críticas do ministro em grupos no WhatsApp. A associação dos delegados tem se colocado contra Aragão desde a indicação dele para o comando do Ministério da Justiça.

— Afastamento preventivo de policiais, antes da conclusão de uma investigação, é pre-julgamento. Isso não é compatível com o estado democrático de direito. Ninguém pode pré-julgar, nem mesmo o ministro da Justiça, aliás, sobretudo o ministro da Justiça — disse Sobral.

Na entrevista, o ministro também criticou delações premiadas de presos. Segundo ele, prisões não podem ser usadas como método para obtenção de acordos de delação. O ministro entende que, colaborações devem ser espontâneas e não induzidas pela força. Se não houver voluntariedade, elas podem perder a validade.

— Na medida em que decretamos prisão preventiva e temporária em relação a suspeitos para que venham delatar, essa voluntariedade pode ser colocada em dúvida porque estamos numa situação muito próximas da extorsão. Não quero nem falar em tortura — disse o ministro.

19/03/2016


Comportamento rasteiro



por Merval Pereira
O Lula que as gravações liberadas pela Operação Lava Jato revelam é um político autoritário, com uma visão nada republicana do país, que exige lealdade e gratidão daqueles que nomeou, e trata com desdém os adversários e as instituições públicas, e um homem sexista, que faz piadas de profundo mau gosto e referências grosseiras a militantes femininas de seu entorno.

O ex-presidente Lula revela ainda um tremendo desprezo pela democracia que diz respeitar, instruindo seus seguidores a agirem com violência contra adversários, para que estes sintam receio de se oporem aos petistas. Diz a seu irmão Vavá, por exemplo, que os “coxinhas” que chegarem perto de sua casa vão levar uma surra dos sindicalistas que estão de guarda.

Uma dessas conversas mais reveladoras do caráter de Lula é justamente com a presidente Dilma, onde diz que "temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um Parlamento totalmente acovardado. Temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido, não sei quantos parlamentares ameaçados. Fica todo mundo no compasso de que vai acontecer um milagre."

Coube ao decano do STF, ministro Celso de Mello, dar uma resposta à altura, pois o presidente atual, Ricardo Lewandowski, não iria falar, embora tenha sido citado diversas vezes. Tanto que iniciou a sessão de ontem lendo a pauta e chamando o primeiro processo, como se nada estivesse acontecendo no país. Celso de Mello pediu a palavra e externou o sentimento majoritário da mais alta Corte de Justiça do país:

“Esse insulto ao Poder Judiciário, além de absolutamente inaceitável e passível da mais veemente repulsa por parte desta Corte Suprema, traduz, no presente contexto da profunda crise moral que envolve os altos escalões da República, reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes que não conseguem esconder, até mesmo em razão do primarismo de seu gesto leviano e irresponsável, o temor pela prevalência do império da lei e o receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de Juízes livres e independentes, que tanto honram a Magistratura brasileira e que não hesitarão, observados os grandes princípios consagrados pelo regime democrático e respeitada a garantia constitucional do devido processo legal, em fazer recair sobre aqueles considerados culpados, em regular processo judicial, todo o peso e toda a autoridade das leis criminais de nosso País”.

Em outra conversa, Lula faz uma piada sexista sobre sua assessora Clara Ant, que provoca gargalhadas em Dilma: “entraram cinco homens na casa dela, ela pensou que fosse um presente de Deus, mas era a Polícia Federal”. Em outra conversa, com Jaques Wagner, os dois gozam os problemas que a senadora Marta Suplicy teve nas manifestações: "A Marta teve que se trancar na Fiesp. Foi chamada de puta, vagabunda, vira-casaca.", diz Lula, ao que Wagner responde: "É bom pra nega aprender."

Tanto quando falar com Wagner para que Dilma pressione a ministra Rosa Weber, quanto com o ex-ministro Vanucchi, Lula trata as mulheres de maneira no mínimo grosseira: “Se os homens não têm saco, vamos ver se uma mulher corajosa pode fazer o que os homens não fizeram". E, ao falar sobre a necessidade de mobilizar as mulheres do partido para assediar um juiz de Rondônia acusado de maltratar a mulher, Lula pergunta: “Cadê as mulheres de grelo duro do PT?”.

O ex-presidente Lula mostra bem seu “republicanismo” quando manda o ministro da Fazenda Nelson Barbosa ver o que a Receita Federal está fazendo no Instituto Lula. Cobra de Rodrigo Janot, o Procurador-Geral da República, gratidão por ter sido nomeado, e recebeu de troco o comentário de que ministério não blinda ninguém, e que não deve a Lula gratidão nenhuma.

Com o deputado petista Wadhi Dhemous, que já foi presidente nacional da OAB e está no Congresso graças a uma manobra de Lula, pois era suplente do PT, o ex-presidente mostra toda a sua visão “democrática”, quando fala sobre o juiz Sergio Moro e os procuradores da Lava Jato: “Bicho, eles têm que ter medo. Eles têm que ter preocupação...”.

Enfim, para quem é tido como um grande articulador político, Lula queimou todas as pontes e revelou-se um desqualificado, com um padrão moral rasteiro.
18/03/2016


Delcídio: “Lula comandava o esquema”


Delcídio do Amaral, ex-líder do governo, diz que tanto Lula como Dilma tinham pleno conhecimento da corrupção na Petrobras — e, juntos, tramaram para sabotar as investigações, inclusive vazando informações sigilosas para os investigados
Veja.com


O Senador Delcídio do Amaral
(Jefferson Coppola/VEJA)
O senador Delcídio do Amaral participou do maior ato político da história do país. No domingo 13, ele pegou uma moto Harley-Davidson, emprestada do irmão, e rumou para a Avenida Paulista, onde protestou contra a corrupção e o governo do qual já foi líder.

Delcídio se juntou à multidão sem tirar o capacete. Temia ser reconhecido e hostilizado. Com medo de ser obrigado pela polícia a remover o disfarce, ficou pouco tempo entre os manifestantes, o suficiente para perceber que tomara a decisão correta ao colaborar para as investigações. "Errei, mas não roubei nem sou corrupto. Posso não ser santo, mas não sou bandido."

Na semana passada, Delcídio conversou com VEJA por mais de três horas. Emocionou-se ao falar da família e ao revisitar as agruras dos três meses de prisão. Licenciado do mandato por questões médicas, destacou o papel de comando de Lula no petrolão, o de Dilma como herdeira e beneficiária do esquema e a trama do governo para tentar obstruir as investigações da Lava-Jato.

O ex-líder do governo quer acertar suas contas com a sociedade ajudando as autoridades a unir os poucos e decisivos pontos que ainda faltam para expor todo o enredo do mais audacioso caso de corrupção da história. A seguir, suas principais revelações.

Por que delatar o governo do qual o senhor foi líder?

Eu errei ao participar de uma operação destinada a calar uma testemunha, mas errei a mando do Lula. Ele e a presidente Dilma é que tentam de forma sistemática obstruir os trabalhos da Justiça, como ficou claro com a divulgação das conversas gravadas entre os dois. O Lula negociou diretamente com as bancadas as indicações para as diretorias da Petrobras e tinha pleno conhecimento do uso que os partidos faziam das diretorias, principalmente no que diz respeito ao financiamento de campanhas. O Lula comandava o esquema.

Qual é o grau de envolvimento da presidente Dilma?

A Dilma herdou e se beneficiou diretamente do esquema, que financiou as campanhas eleitorais dela. A Dilma também sabia de tudo. A diferença é que ela fingia não ter nada a ver com o caso.

Lula e Dilma atuam em sintonia para abafar as investigações?

Nem sempre foi assim. O Lula tinha a certeza de que a Dilma e o José Eduardo Cardozo (ex-ministro da Justiça, o atual titular da Advocacia-Geral da União) tinham um acordo cujo objetivo era blindá-la contra as investigações. A condenação dele seria a redenção dela, que poderia, então, posar de defensora intransigente do combate à corrupção. O governo poderia não ir bem em outras frentes, mas ela seria lembrada como a presidente que lutou contra a corrupção.

Como o ex-presidente reagia a essa estratégia de Dilma?


Com pragmatismo. O Lula sabia que eu tinha acesso aos servidores da Petrobras e a executivos de empreiteiras que tinham contratos com a estatal. Ele me consultava para saber o que esses personagens ameaçavam contar e os riscos que ele, Lula, enfrentaria nas próximas etapas da investigação. Mas sempre alegava que estava preocupado com a possibilidade de fulano ou beltrano serem alcançados pela Lava-Jato. O Lula queria parecer solidário, mas estava mesmo era cuidando dos próprios interesses. Tanto que me pediu que eu procurasse e acalmasse o Nestor Cerveró, o José Carlos Bumlai e o Renato Duque. Na primeira vez em que o Lula me procurou, eu nem era líder do governo. Foi logo depois da prisão do Paulo Roberto Costa (ex-diretor de Abastecimento da Petrobras, preso em março de 2014). Ele estava muito preocupado. Sabia do tamanho do Paulo Roberto na operação, da profusão de negócios fechados por ele e do amplo leque de partidos e políticos que ele atendia. O Lula me disse assim: "É bom a gente acompanhar isso aí. Tem muita gente pendurada lá, inclusive do PT". Na época, ninguém imaginava aonde isso ia chegar.

Quem mais ajudava o ex-presidente na Lava-Jato?

O cara da confiança do Lula é o ex-deputado Sigmaringa Seixas (advogado do ex-presidente e da OAS), que participou ativamente da escolha de integrantes da cúpula do Poder Judiciário e tem relação de proximidade com ministros dos tribunais superiores.

Quando Lula e Dilma passam a trabalhar juntos contra a Lava-Jato?

A presidente sempre mantinha a visão de que nada tinha a ver com o petrolão. Ela era convencida disso pelo Aloizio Mercadante (o atual ministro da Educação), para quem a investigação só atingiria o governo anterior e a cúpula do Congresso. Para Mercadante, Dilma escaparia ilesa, fortalecida e pronta para imprimir sua marca no país. Lula sabia da influência do Mercadante. Uma vez me disse que, se ele continuasse atrapalhando, revelaria como o ministro se safou do caso dos aloprados (em setembro de 2006, assessores de Mercadante, então candidato ao governo de São Paulo, tentaram comprar um dossiê fajuto contra o tucano José Serra). O Lula me disse uma vez bem assim: "Esse Mercadante... Ele não sabe o que eu fiz para salvar a pele dele".

O que fez a presidente mudar de postura?

O cerco da Lava-­Jato ao Palácio do Planalto. O petrolão financiou a reeleição da Dilma. O ministro Edinho Silva, tesoureiro da campanha em 2014, adotou o achaque como estratégia de arrecadação. Procurava os empresários sempre com o mesmo discurso: "Você está com a gente ou não está? Você quer ou não quer manter seus contratos?". A extorsão foi mais ostensiva no segundo turno. O Edinho pressionou Ricardo Pessoa, da UTC, José Antunes, da Engevix, e Otávio Azevedo, da Andrade Gutierrez. Acho que Lula e Dilma começaram a ajustar os ponteiros em meados do ano passado. Foi quando surgiu a ideia de nomeá-lo ministro.

18/03/2016



Acabou!

 

Diálogos interceptados pela Lava Jato mostram que a presidente Dilma agiu para obstruir a Justiça, o que configura crime de responsabilidade, e sua permanência no cargo torna-se insustentável


Por Sérgio Pardellas
Revista IstoÉ




A presidente Dilma Rousseff perdeu as condições de permanecer na cadeira de presidente da República. Desde a semana passada, o terceiro andar do Palácio do Planalto abriga uma mandatária indigna do cargo para o qual fora eleita pelos brasileiros por duas ocasiões. Em seu juramento de posse, Dilma prometeu manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis e promover o bem geral do povo brasileiro. No discurso subsequente, comprometeu-se a lutar para que “o braço da justiça alcançasse a todos de forma igualitária”.

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Na última semana, os diálogos divulgados pela força-tarefa da Lava Jato, obtidos a partir de grampos telefônicos realizados no aparelho celular do ex-presidente Lula e de outros investigados, comprovaram o desprezo da presidente da República às leis, à Constituição e aos interesses da sociedade. As escutas mostraram ainda de maneira inequívoca que, ao contrário da retórica inaugural do seu mandato, Dilma pouco se importa com o princípio constitucional da igualdade – ainda mais perante a Justiça. 
 
Nas conversas, ficou claro que Dilma agiu pessoalmente, ao lado de Lula, na tentativa de obstruir a Justiça. As armações, muitas delas engendradas no interior do gabinete presidencial, tinham o único propósito de evitar a prisão preventiva de Lula, já encaminhada, assegurando-lhe o privilégio de foro. Não seria a primeira, nem a segunda ou a terceira vez que o governo – e Dilma – atuariam com o objetivo de interferir nas investigações, conforme revelou o conteúdo extraído da delação do ex-líder do governo, Delcídio do Amaral (MS), antecipada há duas semanas por ISTOÉ. 
 
Mas os áudios, contendo o peso das palavras e das vozes inconfundíveis dos mais altos hierarcas da República, conferiram publicidade e materialidade à trama – o que é indiscutivelmente fortíssimo e grave tanto do ponto de vista político como jurídico. Nos últimos dias, a Procuradoria-Geral da República estudava abrir investigação contra a presidente. Independentemente da decisão do MP, a manutenção de Dilma na Presidência é insustentável. Se um gesto de grandeza - inerente aos estadistas - lhe escapar, ou seja, a renúncia, onde a presidente pela primeira vez desde a eleição colocaria os interesses nacionais acima das conveniências pessoais e políticas, a trilha do impeachment no Congresso será uma realidade. 
 
Na última quinta-feira 17, a Comissão foi instalada. Em 45 dias, o assunto deve estar liquidado – muito provavelmente em desfavor de Dilma. Como se já não fossem suficientes para apeá-la do poder as fortes evidências de abuso de poder político e econômico na campanha à reeleição e as comprovadas pedaladas fiscais, as conversas divulgadas na semana passada expuseram o cometimento de outro crime: o de responsabilidade – por atentar contra as decisões judiciais e o livre exercício do Poder Judiciário. 
 
Na Constituição, está tipificado no artigo 85 incisos II e VII. No principal diálogo, mantido entre a presidente e o antecessor na quarta-feira 16, Dilma disse a Lula que enviaria a ele um “termo de posse” de ministro para ser utilizado “em caso de necessidade”. Numa espécie de corrida contra o relógio, a presidente trabalhava ali para impedir que Lula fosse preso antes de sua nomeação para a Casa Civil. Segundo apurou ISTOÉ, àquela altura, o Planalto já tinha informações seguras de que o Ministério Público, em Curitiba, estava de prontidão para pedir a preventiva do petista. 
 
Os pedidos de prisão estavam prontos para serem levados ao juiz Sérgio Moro na quinta-feira 17, portanto cinco dias antes da previsão inicial de posse de Lula. As bases para a detenção do ex-presidente petista eram as seguidas tentativas de impor obstáculos às ações do Judiciário – atestadas pelos grampos. O conjunto de áudios impressionou os investigadores pelo desassombro dos interlocutores ao tratar de transgressões à legislação e pela promoção, sem qualquer pudor, de seguidas afrontas ao Judiciário (mais detalhes nos trechos ao final desta reportagem).
 
Mas Dilma, a mesma que prometeu durante sua posse fazer com que “o braço da justiça alcançasse a todos de forma igualitária” entrou em cena, dando guarida ao companheiro. Correu para que o assessor Jorge Messias, subchefe de assuntos jurídicos da Casa Civil, já no aeroporto, recebesse o termo de posse antecipado para Lula usar em caso de necessidade. Os atos seguintes corroborariam o desejo de Dilma de livrar Lula dos problemas com a Justiça. Enquanto o presidente do PT, Rui Falcão, informava que a posse de Lula só ocorreria na terça-feira 22, o Planalto mandava circular uma edição extra do Diário Oficial formalizando a nomeação. 
 
Ao manobrar para obstruir a Justiça, empossando Lula como ministro da Casa Civil e transformando o Palácio do Planalto num refúgio para o denunciado e trincheira política para fins político-partidários, a presidente mostrou seu total desprezo em relação aos anseios da população e provocou uma escalada de indignação na sociedade. O Judiciário, em peso, se levantou contra o conteúdo dos grampos. Falando em nome do STF, o decano Celso de Mello reagiu com contundência: “Esse insulto ao Poder Judiciário, além de absolutamente inaceitável e passível da mais veemente repulsa por parte desta Corte Suprema, traduz reação torpe e indigna, típica de mentes autocráticas e arrogantes que não conseguem esconder o temor pela prevalência do império da lei e o receio pela atuação firme, justa, impessoal e isenta de juízes livres e independentes”, afirmou. 
 
Revoltados, os manifestantes voltaram a ocupar as principais avenidas do País, os arredores do Congresso e o entorno do Palácio do Planalto. A maioria, num clamor pela “Renúncia já” da presidente Dilma. Na sexta-feira 18, atos reuniram os militantes pró-governo de sempre, mas em menor número. No Congresso, a começar pelo PRB, partidos da base de sustentação do governo deflagraram o processo de deserção. Na sequência do PRB, foi a vez do PP abandonar a nau governista. No dia 29, o maior partido da base aliada, o PMDB, pretende oficializar o desembarque. 
 
No empenho para justificar o injustificável, o governo alegou que a divulgação do grampo teria sido ilegal. “Afronta direitos e garantias da Presidência da República”, afirmou. Com o País em chamas, a presidente da República se portou da pior maneira possível. Momentos conflagrados, como o atual, exige dos governantes serenidade para impedir a instalação do caos. Dilma fez o inverso. Como se o Palácio do Planalto fosse sua propriedade particular, a presidente adotou um tom incendiário. Ao tentar desqualificar os grampos, falou em “ilegalidade”, “conjuração” e disse que “é assim que começam os golpes”. 
 
A reação virulenta, com vocabulário típico de militante, não de estadista, é de quem tem culpa no cartório. Como aqui, na Itália, a reação dos corruptos contra a Operação Mãos Limpas também consistiu em acusar os investigadores de cometerem abusos. “Essas acusações nunca se comprovaram, mas serviram para reduzir o apoio da opinião pública à operação e permitir uma reação do sistema corrupto. Foram aprovadas leis contra a investigação, uma delas proibindo a prisão preventiva por corrupção. Esse é o risco que corremos”, alertou Deltan Dallagnol, coordenador da força-tarefa da Lava Jato.
 
Ao mesmo tempo em que divulgava alentadas notas oficiais, nos bastidores, como é do seu feitio, o Planalto atuava para tentar desmontar os áudios. Num esforço para desconstruir o episódio, emissários do Planalto procuraram o perito Ricardo Molina. Num primeiro momento, pressionaram-no para atestar que o grampo fora feito no telefone da presidente Dilma e não no de Lula, uma vez que a gravação revela sons ambientes do gabinete presidencial. Molina rechaçou a hipótese e disse ao interlocutor de Lula e Dilma que a gravação era perfeitamente regular. 
 
Explicou que se alguém liga para um telefone grampeado, a gravação passa a ocorrer no primeiro toque, mesmo antes de ser atendido. Daí a gravação dos sons ambiente do gabinete de Dilma. Diante da recusa inicial, o governo partiu para uma outra estratégia. O Planalto queria que o perito considerasse a gravação clandestina devido a diferença de tempo entre o fim da autorização para as gravações, às 11h12 da quarta-feira 16, e a interceptação do diálogo, ocorrido às 13h32. Molina não se dobrou. 
 
Lembrou ainda, em sintonia com os argumentos de Moro, ser natural em todos os casos de interceptação telefônica um delay tanto no início como no fim da operação. Como das outras vezes em que o governo tentou interferir nas investigações, a tentativa foi em vão. Contrariando discurso da campanha, em que prometeu combater a corrupção e apoiar a Lava Jato, Dilma envidou todos os esforços no sentido de atrapalhar as investigações. 
 
As investidas não se limitaram àquelas confirmadas pelos grampos divulgados semana passada. Em sua delação premiada, o senador Delcídio do Amaral contou que a presidente tentou por três ocasiões interferir na Lava Jato. Uma delas, contou com o envolvimento pessoal dele próprio: a nomeação do ministro Marcelo Navarro ao STJ em troca do compromisso de votar pela soltura de presos envolvidos no esquema do Petrolão. 
 
A estratégia foi tratada numa conversa mantida entre Delcídio e Dilma nos jardins do Palácio da Alvorada. Na delação, o senador denunciou ainda a tentativa do governo de comprar o seu silêncio. O emissário de Dilma nessa empreitada foi o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. O discurso da “liberdade para investigar” era o único da campanha à reeleição que ainda parava em pé. Este ruiu nas últimas semanas. Não resta mais nenhum para contar história. Em breve, ao que tudo indica, pode não restar mais presidenta.
 
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O Roteiro do Crime
 
PARTE 1
 
Ouvidos e lidas de forma aleatória, os áudios e as transcrições das gravações feitas pela Polícia Federal nas escutas autorizadas na Operação Lava Jato assombram pela crueza dos diálogos e pela comprovação de que seus protagonistas agiram para obstruir a Justiça e encobrir delitos cometidos por autoridades e líderes petistas. Reunidas em ordem cronológica a partir da data em que foram gravadas, as conversas revelam ainda mais: havia em curso uma ação orquestrada, que configura uma prática continuada e típica de uma organização criminosa. Nos últimos dias, com revelação por ISTOÉ da delação premiada do ex-líder do Governo no Senado, Delcídio do Amaral, e a iminência de um pedido de prisão do ex-presidente Lula, essa ação se intensificou. Mas, como mostra o histórico das gravações reveladas na semana passada pela PF, o plano já havia sido desenhado há algum tempo.
 
Sexta-feira, 26/02/2016
 
17:12:00 – Lula X Roberto Teixeira
Roberto Teixeira, advogado de Lula, manda um recado para o cliente e amigo através de Valmir Moraes da Silva, segurança que atende todas as ligações no celular utilizado pelo ex-presidente. Pela primeira vez é registrado o nome de um ministro do STF. “Fala pra ele, fala pro “nosso amigo” aí que o nome daquele assunto é ROSA WEBER...”, diz Teixeira, pedindo em seguida que Lula ligue de volta para conversar a respeito. Menos de 15 minutos depois, em outra ligação interceptada, Teixeira fala direto com Lula, que pede para ele explicar o que era o recado. O advogado explica e indica que o caminho para chegar à ministra Rosa Weber seria o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, que ele trata como “baianinho”. Leia o trecho:
Lula – Só para lembrar. O que é essa pessoa, esse nome que você falou? 
Teixeira – Aquela “coisa” caiu com “ela”. 
Lula – Caiu com ela? Tá bom. 
Teixeira - Agora, eu sei que aquele “baianinho” está indo embora (saindo de um evento no Rio de Janeiro). Eu acho que ele que é o caminho para falar com ela. 
Lula – Eu vou tentar falar com ele.
Ao fim da ligação, após se despedir de Teixeira, ouve-se Lula dizer a outra pessoa, provavelmente Moraes: “Me liga com o Wagner”.
 
17:16:09 – Lula X Jaques Wagner
Menos de um minuto depois, Wagner está na linha com Lula. É uma sexta-feira. Lula diz ao ministro que ele tem de falar “com uma pessoa em Brasília”. “É ela?”, pergunta Wagner. “Aquilo que você falou? Se você... se der para você, ela marcou segunda de noite.” Lula responde: “Bicho, é o seguinte: se eu não tiver preso, eu vou! (RISADAS) Caralho!” Nas conversas, outro advogado de Lula, Cristiano Zanin Martins, aparece como a pessoa a fazer a ponte com Rosa. Nas gravações seguintes Lula insiste para falar urgentemente com Cristiano.
 
Sábado, 27/02/2016

10:52:00 – Lula X Paulo Vanucchi
Lula trata com o amigo Paulo Vanucchi, diretor do Instituto Lula, sobre ações para inibir o trabalho de procuradores da República. Ele reclama da atuação dos procuradores e, sobretudo, da falta de influência sobre eles de alguém que identifica como Aragão -- que a PF acredita se tratar do então subprocurador geral da República e atual ministro da Justiça, Eugênio Aragão. “Eu às vezes fico pensando até que o Aragão deveria cumprir um papel de homem naquela porra, porque o Aragão parece nosso amigo, parece, parece, mas tá sempre dizendo “olha...””. Em seguida, Lula avisa que vai pedir a intervenção da senadora Maria de Fátima Bezerra e da deputada Maria do Rosário em tratativas relacionadas a alguém de os investigadores supõem ser o procurador Douglas Kirchner, que participou das investigações sobre tráfico de influência no BNDES: “Nós vamos pegar esse de Rondônia agora, eu vou colocar a Fátima Bezerra e a Maria do Rosário em cima dele”, diz Lula a Vanucchi.
 
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PARTE 2
 
22:34:32 Lula X Lindbergh Farias
À tarde, Lula conversa com Wagner e o deputado Paulo Teixeira, que o procuram com um assunto que tratam como “urgente, urgente, urgente”. Combinam de falar a partir de uma linha fixa em um hotel, com medo de interceptação. À noite, a PF grava um diálogo de Lula com o presidente do PT, Rui Falcão. O ex-presidente revela ter sido informado de que pode haver uma operação de busca e apreensão, na segunda-feira, em sua casa, nas casas de seus filhos e na de Paulo Okamoto, presidente do Instituto Lula.
Quatro minutos depois, conversa com o senador Lindbergh Farias. O assunto é, mais uma vez, a ação do “promotor de Rondônia”. Diz ao senador que “tem a história do promotor de Rondônia, que pegou um caso meu agora, que a mulherada tem que ir para cima dele” e então se refere a atuar sobre outro nome chave nas investigações: o procurador geral da República, Rodrigo Janot. “Terça feira tem que trucar o Janot e triturar”.
 
Terça-feira, 01/03/2016
 
09:12:07 – Lula X Edinho Silva
Lula cancela uma viagem a Brasília por conta da saída de José Eduardo Cardozo do Ministério da Justiça. Pela manhã, conversa com o ministro Edinho Silva, da Comunicação Social. Falam de futebol e, ao fim do diálogo, comentam sobre o sucessor de Cardoso, Wellington César lima e Silva. Lula avisa a Edinho: “é importante você ficar atento, porque vai sair muitas críticas à indicação do novo ministro, com o objetivo de encurralá-lo”. E continua: “no fundo no fundo eles querem evitar que qualquer ministro acabe com o vazamento da Polícia Federal.” Edinho promete falar com Jacques Wagner, responsável pela indicação de Wellington. Na conversa, eles dão a entender que o novo ministro seria uma marionete de Wagner na Justiça e poderia tentar operar mudanças na PF.
Edinho – Não, pode deixar, eu marquei uma conversa com o Jaques pra gente poder tirar uma estratégia e outra coisa que tem que evitar que é uma coisa que começou hoje na imprensa, é a idéia de que o Jaques é o “super ministro” da casa civil. 
Lula – Vai cair, se ele for forte ele vai cair. 
Edinho – É isso.. 
Lula – Diga pro Wagner que ministro forte cai 
Edinho – Ele precisa, ele precisa arrumar um jeito de dar uma recuada.. de.. de.. porque é o que a imprensa vai tentar fazer. 
Lula – Aham. 
Edinho – Ou seja, tudo que der certo no Ministério da Justiça é dele, tudo que der errado vai ser dele também. 
Lula – Aham. 
 
Quinta-feira, 03/03/2016
 
10h00
A edição de ISTOÉ com trechos da delação de Delcídio do Amaral começa a circular e agita o País. Em seu depoimento, o senador cita várias tentativas de Lula e Dilma de interferir nas investigações da Operação Lava Jato. Conta que Dilma pediu a ele, em uma conversa nos jardins do Palácio do Alvorada, para que conversasse com o ministro Marcelo Navarro, dp STJ, para que “confirmasse o compromisso de soltura” dos empresários Marcelo Odebrecht e Otávio Azevedo. E revela que tratou do assunto com Navarro num encontro em pleno Palácio do Planalto. Delcídio também falou que Lula lhe pediu que intermediasse pagamentos de uma mesada à família do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró, como forma de tentar convencê-lo a não fazer delação à força-tarefa da Lava Jato, em mais um esquema para burlar as investigações. 
 
Sexta-feira, 04/03/2016
 
13:02:01 – Lula X Dilma e Lula X Wagner
Lula está na sede do PT em São Paulo. Acaba de chegar, após ser objeto de condução 
 
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PARTE 3
 
Coercitiva para prestar depoimento para a PF em uma sala reservada do aeroporto de Congonhas. Ele , sua família e seu instituto haviam sido alvo da Operação Alheteia, 24ª fase da Lava Jato. Dilma liga para ele. Ele relata detalhes da operação e declara guerra à Justiça, reforçando a tese de que esse é o alvo a ser atingido por seu grupo. “Não tem mais trégua, não tem que ficar acreditando na luta jurídica”, afirmou Lula em um dos trechos da gravação. Mais adiante, falou do STF e do STJ . “Temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado”, disse a Dilma. Em seguida, atacou o Congresso e seus presidentes. “Nós temos um parlamento totalmente acovardado. Um presidente da Câmara, fodido. O presidente do Senado, fodido”, afirmou o ex-presidente, dizendo depois que há muitos parlamentares ameaçados. 
 
Dilma e Lula discutiram a divulgação, pela ISTOÉ, da delação de Delcídio
Dilma – O senhor não acha estranho aquela história de quinta-feira, a ISTOÉ antecipar...
Lula – Eu acho estranho a liberação do Delcídio, a ISTOÉ antecipar. Eu acho, ô Dilma, uma coisa...
Dilma – E logo no dia seguinte, na sexta-feira, o senhor ser chamado.
Lula – É um espetáculo de pirotecnia sem precedentes, querida. É o seguinte: eles estão convencidos que com a imprensa chefiando, sabe, qualquer processo investigatório, eles conseguem refundar a República.
Parte do diálogo foi captado e divulgado em um vídeo feito pela deputada Jandira Feghali. Pouco antes de ela dizer que Lula estava tranquilo após a operação, vê-se e ouve-se ao fundo o ex-presidente dizendo “eles que enfiem no cu e tomem conta disso”. Ele se referia a deixar na frente da sede da Justiça Federal de Curitiba todo o acervo que recolheu em seus oito anos na Presidência.
 
Em seguida, Dilma passa o telefone a Wagner, que também conversa com Lula. O assunto é recorrente: cooptar a ministra Rosa Weber, do STF. Ambos defendem a tese de que a operação da PF visava a se antecipar a uma eventual posição de Rosa favorável a Lula em um pedido para tirar seu processo da competência da Lava Jato, levando para o STF. “Eles tão tentando antecipar tudo isso... Porque ela poderia tirar isso da Lava Jato. O Moro fez um espetáculo pra comprometer a Suprema Corte” disse Lula. Logo depois, o ex-presidente insiste na questão de buscar uma reunião com a ministra e pede a Wagner que peça à própria Dilma (que aqui trata por ELA) para entrar nessa operação. “Mas viu querido, ELA tá falando dessa reunião. ô Wagner, eu queria que você visse agora, falar com ELA... Já que ELA tá aí, falar o negócio da Rosa Weber, que tá na mão dela pra decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram”.
 
Segunda-feira, 07/03/2016
 
11:05:51 Lula X Nelson Barbosa
A estratégia de interferir nas investigações avança para outro front. Lula tenta convencer o ministro da Fazenda, Nelson Barbosa, a monitorar o trabalho dos técnicos da receita Federal que cooperam com a Lava Jato e eventualmente descobrir o que eles apuraram a seu respeito. “Era preciso você chamar o responsável e falar ‘que porra que é essa?’” Barbosa, monossilábico, resiste ao assédio.
Lula - Ô, Nelson, vou te falar uma coisa por telefone, isso daqui. O importante é que a Polícia Federal esteja gravando. É preciso acompanhar o que a Receita tá fazendo junto com a Polícia Federal, bicho! 
Barbosa: Não, é... (Gagueja) Eles fazem parte. 
Lula – É, mas você precisa se inteirar do que eles estão fazendo no Instituto. Se eles fizessem isso com meia dúzia de grandes empresas, resolvia o problema de arrecadação do Estado. 
 
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PARTE 4
 
Barbosa - “Uhumm”, sei. 
Lula – Sabe? Eu acho que eles estão sendo filho da puta demais. 
 
20:21:06 Lula X Sigmaringa Seixas
As articulações de Lula não param. Lula tem duas ligações interceptadas com o ex-deputado Sigmaringa Seixas, um de seus advogados em Brasília. Nas duas eles falam de Janot. Na segunda delas, à noite, eles discutem um plano para constranger o procurador geral da República. A ideia do advogado é apresentar um requerimento formalizando proposta de devolução do acervo de Lula à PGR. Lula é contra. “Eu estou cansado das coisas formais. Sabe...se esse cara fosse formal ele não seria Procurador Geral da República. Ele tinha tomado no cu. Tinha ficado em terceiro lugar. Esse é o dado”, afirma. Sigmaringa insiste: “ Pois é. Mas ele se tiver...se a gente formalizar, inclusive, jogando pra imprensa, ele vai ficar constrangido. Se for lá conversar ele diz não e pronto. Ou não diz, né.”
 
Terça-feira, 08/03/2016
 
18:11:24 Lula X Alberto Carlos de Almeida
O cientista político Alberto Carlos de Almeida defende junto ao ex-presidente que a única solução para evitar a prisão é a nomeação para o ministério. O argumento do advogado é direto: “Quando aquilo entra no Judiciário, você está condenado, efetivamente.” Depois, é incisivo na proposição: “Eu acho, tá, tem uma coisa que tá na mão de vocês, é MINISTÉRIO, acabou, porra!”. Almeida propõe um “arranjo”, que incluiria também a nomeação do ex-ministro Antonio Palocci para a Fazenda, como forma de solucionar a crise e “botar o mercado no bolso”. “Vocês têm os quadros e a faca e o queijo pra reencaminhar a discussão, politicamente falando, tá? E é você e nosso amigo lá. Foda-se, tá todo mundo queimado. A Lava Jato queimou todo mundo, a Câmara, o Senado. Porra antes era só ele que tava queimado, agora é todo mundo. E daí?”

Quarta-feira, 09/03/2016
 
12:13:18 Lula X Wellington Dias
A tese do refúgio no Ministério prospera no PT, mas Lula ainda não está convencido e dá a entender que a própria presidente Dilma já havia comprado a ideia de blindá-lo com um cargo. Ao governador Wellington Dias, do Piauí, que o incentiva a aceitar, o ex-presidente afirma: “Deixa eu te falar, eu vou ter uma conversar com ELA (Dilma) porque não é fácil. (...) Não é uma tarefa fácil. Eu jamais irei pro governo pra me proteger.” Poucas horas depois, em outra ligação, o ex-ministro Gilberto carvalho também apela a Lula para que pense melhor e aceite o convite de Dilma. Ainda naquela tarde, novos fatos o colocariam mais próximo de mudar de ideia.
 
19:22:49 – Lula X Vagner Freitas
O Ministério Público de São Paulo pede a denúncia contra Lula no caso Bancoop – no dia seguinte, requereria também a prisão preventiva do ex-presidente. Ao advogado ele pergunta: “que palhaçada que é essa que o Ministério Público de São Paulo me denunciou?” A partir daí, O ex-presidente recebe várias ligações. Em uma delas, com o presidente da CUT, Vagner Freitas, ele demonstra pela primeira vez sua disposição de ceder ao convite para o Ministério. Diz ao aliado que está com “muita indecisão” e que precisa decidir rapidamente. “a pessoa lá tem muita pressa, muita pressa.... Muita pressa, muita pressa, muita pressa... Tá assim uma coisa de desespero...”
 
Quinta-feira, 10/03/2016
 
17:34:42 – Jaques Wagner X Rui Falcão
O celular é o de Lula, mas quem dialoga são dois caciques petistas. O cenário é confuso. Os promotores paulistas haviam pedido a prisão preventiva do ex-presidente, acusado de lavagem de dinheiro. Wagner e Falcão avaliam a hipótese de uma nomeação relâmpago de Lula, para evitar o pior. 
 
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PARTE 5
 
clima é de urgência, mas surge uma dúvida: não seria tarde demais?
Falcão – A outra coisa é o seguinte: se nomear ele hoje, o que que acontece? 
Wagner – Aí não sei, eu tô por fora. 
Falcão -- Então, consulta isso também...
Wagner – Mas ele já decidiu? 
Falcão – Não, mas nós “tamo”... Todo mundo pressionou ele aqui. Fernando Haddad, todo movimento sindical, todo mundo. 
Wagner – Tá bom.
 
Sexta-Feira, 11/03/2016
 
19:53:33 – Lula X Vavá
É antevéspera da megamanifestação contra o governo de Dilma e a proposta de transformar Lula em ministro é repudiada pela oposição. Lula recebe uma ligação de apoio do irmão Vavá, que lhe pede calma. Ele responde mostrando espírito de luta: “Domingo, domingo eu vou ficar um pouco escondido, porque, porque vai ter um monte de peão na porta de casa pra bater nos coxinha. Se os coxinhas aparecer, vão levar tanta porrada que eles nem sabem o que vai acontecer.”

Segunda-feira, 14/03/2016
 
19:13:09 – Lula X Jaques Wagner
As manifestações surpreenderam o governo. Lula partiu o para o confronto e define sua posição.Aceita refugiar-se na Casa Civil para escapar das decisões do juiz Sergio Moro e tentar ajudar Dilma a manter-se no Planalto. Ele pede a Wagner que marque uma conversa com a presidente em Brasília na manhã de terça, quando definiriam os detalhes da nomeação. Logo no início do diálogo, ele brinca com o então dono do cargo: “Você viu que eu já tirei você da Casa Civil, né porra?”
 
Terça-feira, 15/03
 
Enquanto Lula e Dilma conversam, o ministro Teori Zavaski, do STF, decide pela homologação da delação premiada de Delcídio do Amaral. Liberada do sigilo, ela revela novos detalhes do depoimento do senador. O mais grave deles também tem um áudio: um assessor de Delcídio, José Eduardo Marzagão, gravou uma conversa que teve em dezembro com o ministro da Educação, Aloizio Mercadante. Na época, Delcídio estava preso, acusado justamente de tentar obstruir o trabalho da Justiça ao tramar a fuga do ex-diretor da Petrobras, Nestor Cerveró, um dos principais operadores do Petrolão. Mercadante insinuou que estava disposto a ajudar Delcídio a resolver sua situação, desde que esse não fizesse a delação. Para Delcídio, Mercadante agia como um emissário de Dilma.
 
Quarta-feira, 16/09
 
13h32 – Lula X Dilma
O dia da oficialização do sim de Lula a Dilma foi também o de uma sucessão de fatos que desmontariam a estratégia petista. Às 11h20, o juiz Moro decretou a queda do sigilo do processo que corria contra Lula. Estabeleceu-se uma corrida contra o tempo. Com medo de um pedido imediato de prisão contra Lula, Dilma acelerou o passo. Quando os primeiros grampos foram revelados, no fim da tarde, uma gravação feita poucas horas antes flagrou a presidente informando ao seu antecessor que já havia enviado o termo de posse. “E só usa em caso de necessidade...”, disse ela. Mais que palavras, outros atos confirmavam que a intenção de ambos era livrá-lo de problemas com a Justiça. Enquanto Rui Falcão publicava um post informando que a posse de Lula só aconteceria na próxima terça 22, o governo decidiu publicar uma edição extra do Diário Oficial com o ato de nomeação, oferecendo foro privilegiado a Lula ainda naquela tarde. A posse foi antecipada para o dia seguinte, num movimento que surpreendeu até o beneficiado. Lula já havia embarcado de volta para São Paulo. Teve de ir novamente a Brasília no dia seguinte para a cerimônia
 
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Obstrução da justiça
 
Dilma telefona para Lula às 13h32 da quarta-feira 16 para dizer que está lhe encaminhando uma cópia do Termo de Posse. Trata-se de documento que quando assinado passaria a conferir a Lula o direito de ser investigado pelo STF e não pelo juiz Sergio Moro. O diálogo, segundo juristas, comprova que a presidente cometeu crime ao tentar interferir no trabalho da Justiça.
 
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Dilma – Alô.
Lula – Alô.
Dilma – Lula, deixa eu te falar uma coisa...
Lula – Fala querida.
Dilma – Seguinte, eu tô mandando o Messias (sub-chefe de assuntos jurídicos da Casa Civil) junto com o papel pra gente ter ele, e só usa em caso de necessidade, que é o Termo de Posse, tá?
Lula – Tá bom. Eu tô aqui. Fico aguardando.
Dilma – tchau.
Lula – Tchau, querida.
 
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Ataques à Justiça e ao Legislativo
 
Depois de ser conduzido pela PF para prestar depoimento na Lava Jato, Lula telefona para Dilma dispara ofensas contra o STF, o STJ e o Congresso e diz ter medo do que chama de “república de Curitiba”.
 
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Reação: Celso de Mello, o decano do STF, disse que Lula foi autocrático e arrogante
 
Dilma – Como você está?
Lula – É um espetáculo de pirotecnia sem precedentes, entendeu querida? É o seguinte: eles estão convencidos de que com a imprensa chefiando, sabe, qualquer processo investigatório, eles conseguem refundar a República.
Dilma – É isso ai...
Lula – Nós temos uma Suprema Corte totalmente acovardada, Nós temos um Superior Tribunal de Justiça totalmente acovardado, um parlamento totalmente acovardado. Somente nos últimos tempos é que PT e PCdoB começaram a acordar e a brigar... Nós temos um presidente da Câmara fodido, um presidente do Senado fodido, não sei quantos parlamentares ameaçados. Sinceramente estou assustado com a república de Curitiba. A partir de um juiz da primeira instância tudo pode acontecer nesse País. 
 
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Interferência no STF
 
Em 4 de março, o ex-presidente conversa com o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, e através dele pede a Dilma que fale com Rosa Weber (foto), ministra do STF, que iria julgar se o juiz Sergio Moro poderia ou não continuar a investiga-lo.
 
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Lula – Eu queria que você visse agora, falar com ela (Dilma), já que ela está aí, falar o negócio da Rosa Weber...
Jaques Wagner – Sei. Tá bom.
Lula – Está na mão dela (Rosa Weber) para decidir. Se homem não tem saco, quem sabe uma mulher corajosa possa fazer o que os homens não fizeram.
Jaques wagner – Falou. Combinado.
 
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“Janot tinha tomado no cu”
 
O ex-presidente Lula conversa com o advogado Sigmaringa Seixas e pede abertamente que ele pressione o Procurador-Geral da República, Rodrigo Janot (foto), a abrir investigação contra Aécio Neves. Durante a conversa, Lula diz que Janot é ingrato e não corresponde ao fato de ter sido indicado para o cargo.
 
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Lula - Eu estou cansado das coisas formais. Sabe…se esse cara fosse formal ele não seria Procurador -Geral da República. Ele tinha tomado no cu. Tinha ficado em terceiro lugar. Esse é o dado.
Sigmaringa - Pois é, mas os deputados…
Lula - Quando os cara precisa não tem formalidade. Quando a gente precisa tá cheio de formalidade. Vá se foder porra. Bom, fale com o Cristiano.
Sigmaringa - Mas não é isso. É porque nós vamos. Eu vou falar com ele. Eu vou combinar com ele tá. Porque deputado pode fazer outra coisa. Eles podem fazer qualquer coisa.
Lula - Eu não sei o quê que eu pedi pra você de manhã. Mas era uma coisa simples que não precisava de formalidade.
Sigmaringa - Não. Mas simples ele vai dizer não. Ele não vai receber. Eu conversei com gente só.
Lula - É porque ele recusou quatros pedidos de investigação ao Aécio e aceitou a primeira de um bandido do Acre contra mim.
Sigmaringa - Pois é…mas se fizer uma petição…
Lula - Essa é a gratidão…Essa é a gratidão dele por ele ser Procurador.
 
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Ofensa da primeira-dama
 
Em 23 de fevereiro, a ex-primeira dama Marisa Letícia (foto), conversa como filho Fábio Luiz, o Lulinha, sobre os panelaços. Ela minimiza os protestos, diz que partem dos “coxinhas” e ofende os manifestantes.
 
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Lulinha – As pessoas estão se manifestando, têm direito constitucional de bater panelas. 
Marisa – Eles que enfiem as panelas no cu... Isso vem dos prédios dos coxinhas. Vem desses prédio que custam 500 mil e eles ainda estão pagando. A favela não se manifestou ...
 
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Ironia com Marta Suplicy
 
Depois das manifestações do domingo 13, em conversa telefônica, Lula e o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner, comentam em tom de deboche as vaias e ofensas recebidas pela senadora Marta Suplicy (foto), ex-petista, na Avenida Paulista.
 
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Lula – como foi a manifestação na Bahia?
Jaques Wagner – Ah, teve 10, 15 mil. O Aleluia foi falar, tomou uma vaia da porra, e ninguém mais quis falar. Generalizou. Virou uma manifestação contra a política...
Lula - ... E aqui em São Paulo ninguém conseguiu falar dos dirigentes. Marta, Aécio. A Marta teve que se trancar na Fiesp. Foi chamada de puta, vagabunda, vira-casaca.
Jaques Wagner – É bom para nega aprender....
 
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“Eles têm que ter medo”
 
No dia 28 de fevereiro, em conversa com o deputado Wadih Damous (PT-RJ), o ex-presidente Lula afirma que a bancada do PT deve impor medo o juiz Sérgio Moro.
 
Lula – Tô botando muita fé que se nossa bancada tiver animada ela pode fazer a diferença nesse processo com o Moro, com Lava Jato, com qualquer coisa, sabe?
Damous – A bancada tá outra bancada.
Lula – Eles têm que ter em conta o seguinte, bicho, eles têm que ter medo.
Damous – Aham...
Lula – Eles têm que ter preocupação. Um filho da puta desses qualquer que fala merda, ele tem que dormir sabendo que no dia seguinte vai ter dez deputados na casa dele enchendo o saco, no escritório dele enchendo o saco, vai ter representação no Supremo Tribunal Federal...
Damous – Ahan...
Lula - ... Seu um filho da puta desse pode pegar e achincalhar a agente, porque a agente não pode achincalhar?
 
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“Não tem ministro da Justiça”
 
Na final da tarde de 10 de março, o presidente do PT, Rui Falcão, liga para o então ministro da Casa Civil, Jaques Wagner (foto) e exige que o governo interfira no Judiciário, pois o Ministério Público paulista havia pedido a prisão preventiva de Lula. Na mesma conversa, Rui Falcão insinua que nomear o ex-presidente ministro poderia resolver o problema.
 
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Rui – Oi Jaques. O louco do Conserino (Cássio Conserino, promotor em São Paulo) aqui pediu a preventiva do Lula.
Jaques Wagner – É, eu vi porra.
Rui – Sim, e vocês não vão deslocar alguém para cá, como é que é?
Jaques Wagner – Deslocar em que sentido?
Rui – Acho que tem que vir alguém para cá, porra. Para se mexer aqui também.
Jaques Wagner – Mas alguém quem? Só para eu entender ....
Rui – Não tem ministro da Justiça...
Jaques Wagner – Não, tem ministro da Justiça. Ele está no Ministério, claro. Está no posto.
Rui – Alguma iniciativa vocês precisam tomar... Tá nas mãos de uma juíza que pode tomar uma decisão ainda hoje....
Jaques Wagner – Tá bom. Deixa eu fazer alguma coisa aqui...
Rui – Outra coisa: se nomear ele hoje o que acontece?
Jaques Wagner – Ai não sei. Tô por fora...
Rui - ...Alerta a presidente. Toma a decisão de estado-maior ai.
 
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“Sítio de pobre”
 
O prefeito do Rio, Eduardo Paes (foto), telefona para Lula três dias depois de o ex-presidente ter sido levado para depor e faz brincadeiras de mau gosto, inclusive referentes a brincadeiras com a presidente Dilma e o governador do Estado, Luiz Fernando Pezão.
 
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Paes – A minha vida começou com Lula e Sérgio Cabral e está com Dilma e Pezão. Puta que me pariu..
Lula – Você é abençoado por Deus, com essa Olimpíada....
Paes – Segurar olimpíada com vossa excelência e o Sérgio Cabral é uma coisa. Segurar com aquele bom humor da Dilma e do Pezão...
Lula – Não é fácil, querido.
Paes – ... Da próxima vez, o senhor me para com essa vida de pobre, com essa tua alma de pobre, comprando esses barcos de merda, sitiozinho vagabundo...
Lula – (risos)
Paes – Eu, todo mundo fala aqui no meio, eu falo o seguinte: imagina se fosse aqui no Rio esse sítio dele, não é em Petrópolis, não é em Itaipava. É como se fosse Maricá. É uma merda de lugar, porra!
 
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“Você está condenado efetivamente”
 
Em 8 de março, Lula recebe telefonema do cientista político Antônio Carlos de Almeida, que lhe sugere virar ministro de Dilma como sendo a única saída para escapar da prisão e de Sergio Moro. Sugere também a nomeação de Antônio Palocci (foto) para o Ministério da Fazenda.
 
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Roberto – Eles te condenaram efetivamente, tá? Não tem defesa jurídica que salve...
Lula – uhumm
Roberto – é uma decisão individual daquele cara lá de Curitiba. Ele pega e toma a decisão e está tomada. Acabou.
Lula – Uhumm
Roberto - .. Eu acho, tá, tem uma coisa que tá na mão de vocês, é ministério. Acabou porra!
Lula – Uhumm
Roberto - ... é uma guerra política. Uma disputa política, o cara lá é juiz mas é tucano, formação opus dei e o cacete a quatro, entendeu... ... vai que esse cara é maluco e ousado o suficiente para tomar uma decisão nessa direção (prisão)? Você tem uma coisa na tua mão hoje. Usa caralho!!
Lula – Uhumm
Roberto ... Agora você tem uma coisa na tua mão porra: você, o PT, a Dilma... Faz isso e foda-se! Vai ter porrada? Vão criticar? E dai? Numa boa, você resolve outro problema, que é a governabilidade. Você e a Dilma, um depende do outro... Fiz um ensaio. Você ministro e o Palocci na Fazenda.
Lula – ... Para mim é muito difícil essa hipótese.
 
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Minuta encontrada pela Lava Jato reforça que sítio é mesmo de Lula 
 
Por Marcelo Rocha
 
No dia da Operação Aletheia, a 24ª da Lava Jato, a Polícia Federal vasculhou o apartamento 122 do condomínio Hill House, em São Bernardo do Campo, onde o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva mora. Entre os papeis recolhidos pelos agentes federais estava a minuta, não assinada, de um contrato de compra e venda do Sítio de Atibaia (SP). No documento, de seis páginas, o empresário Fernando Bittar transfere o sítio ao casal Lula da Silva por R$ 800 mil. Há uma referência à data da negociação: julho de 2012. 
 
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Atibaia: Durante busca no sítio, foram encontrados pertences de Lula e Marisa
 
A minuta é considerada pelos integrantes da força-tarefa da Lava Jato uma forte evidência sobre quem, de fato, é o dono do imóvel. O sítio é usado regularmente por Lula e familiares desde que ele deixou a Presidência, em janeiro de 2011. Foram, desde então, mais de 100 visitas ao local. A defesa do ex-presidente vai argumentar na Justiça que o documento indica apenas que ele cogitou comprar o terreno, reforçando a versão que tem sustentado de que não é o proprietário. Mas essa alegação está ficando cada vez mais difícil de ficar de pé diante de tantos indícios que apontam o contrário.
 
Outra evidência coletada nesse sentido veio das interceptações realizadas pela PF, autorizadas pelo juiz Sérgio Moro. Fábio Lula da Silva, um dos filhos do ex-presidente, foi gravado conversando com Kalil Bittar – irmão de Fernando Bittar. A gravação foi feita dias antes de uma manifestação marcada para acontecer em frente ao sítio. Fábio pede a Kalil que organize um churrasco no local no mesmo dia, para manter o sítio ocupado. “Causa estranheza o fato de que apesar de, oficialmente, o sítio de Atibaia ser de propriedade de Fernando Bittar e Jonas Suassuna, Kalil Bittar pede autorização de Fábio Silva para convidar determinadas pessoas para o churrasco (...),”, afirma a PF. 
 
Há ainda um outro documento, também recolhido pela PF em São Bernardo do Campo, sobre as melhorias realizadas na propriedade durante a reforma, com o cronograma de cada providência. As obras foram feitas no local pelas construtoras Odebrecht e OAS, ambas enroladas no Petrolão. Nesse caso, desconfiam as autoridades, as duas empreiteiras teriam reformado o sítio como forma de escamotear propina destinada a Lula. Enquanto o ex-presidente era conduzido à delegacia da PF no aeroporto de Congonhas para prestar depoimento durante a Operação Aletheia, uma equipe de seis peritos se dirigiu a Atibaia para inspecionar o Sítio Santa Bárbara. 
 
Os peritos federais passaram um pente fino nas dependências da propriedade rural. Vasculharam a casa principal e outras duas edificações que funcionam como ponto de apoio, um espaço Gourmet e o anexo da piscina, além da casa de barco e do píer. O resultado do trabalho veio a público na semana passada, após o juiz Moro levantar o sigilo do inquérito aberto no início deste ano pela polícia para investigar a propriedade do sítio e a troco do quê empreiteiras do Petrolão deram uma recauchutado no local para o ex-presidente frequentar.
 
Entre os 11 quesitos a serem analisados pelos peritos estava a pergunta: Seria possível indicar o uso do imóvel por Bittar ou Suassuna, em nome de quem está registrado o terreno? Resposta: “Não foi identificado qualquer objeto de uso pessoal que pudesse indicar o uso do imóvel por Jonas Suassuna e Fernando Bittar”, afirmaram os peritos. “A única referência ao Sr. Fernando Bittar são alguns croquis localizados no interior de uma pasta rosa, cuja destinatária era a sra. Marisa Letícia Lula da Silva.” Em contrapartida, os sinais da presença frequente da família Lula no local saltaram aos olhos dos peritos, como a adega de vinhos e outras bebidas do ex-presidente, os coletes para os times de futebol, e os cosméticos da ex-primeira-dama. 
 
Em diálogo, Bittar pede permissão de Lulinha para churrasco
 
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“Fui escalado por Dilma e Lula para barrar a Lava Jato”
 
Na esteira da homologação do seu acordo de delação premiada, Delcídio do Amaral (PT-MS) deu mais ênfase às próprias revelações. “Cadê o governo que se dizia republicano, que nada interferiria nas investigações?”, questionou o senador ao colunista Lauro Jardim, do jornal O Globo. “Na minha delação, fica claro que fui escalado, como líder do governo, pela Dilma e pelo Lula, para barrar a Lava-Jato.” O sul-matogrossense também atacou o ministro-chefe da Secretaria de Comunicação Social da Presidência da República, Edinho Silva e disse que o petista “não sairá vivo” da Lava Jato. “Ele arrecadava recursos ameaçando, na linha do ‘ou está com a gente ou está contra’”, denunciou Delcídio.
 
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Na avaliação do líder da minoria na Câmara, Miguel Haddad (PSDB-SP), a delação “ilustra claramente que este governo acabou e chegou ao seu limite”. Segundo o tucano, as denúncias se somam à forte adesão aos protestos contra o governo no último domingo 13, quando “o povo convocou o Congresso a derrubar o PT”. Declaradamente contra o governo, o peemedebista Lúcio Vieira Lima (BA) classificou a delação de Delcídio como o verdadeiro “divisor de águas” da Lava Jato. Pelo acerto celebrado com os investigadores, Delcídio se comprometeu a devolver R$ 1,5 milhão aos cofres públicos em até dez anos e a cumprir, por um ano e meio, pena em regime equivalente ao semiaberto domiciliar. 
 
Além disso, ele teve a promessa de que, no STF, sua condenação não superaria 15 anos de reclusão. Por ora, e caso não tenha seu mandato cassado pelos colegas senadores, ele continua a exercer suas funções parlamentares, mas é proibido de frequentar locais como restaurantes, bares e shoppings. O senador também ficou impedido de manter contato reservado com outros réus e investigados na Lava Jato, exceto quando a conversa tiver cunho institucional e a presença de pelo menos duas testemunhas. (Mel Bleil Gallo)
 
 
Créditos das fotos desta matéria: ANDRE COELHO/Ag. O Globo; STF; Sergio Lima/Folhapressfotos: Marcelo Liso/AFBpress; Divulgação; Adriano Machado/ag. istoe; Nadia Sussman/Bloomberg

19.Mar.16