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sexta-feira, 15 de julho de 2016

Presidente pede que turcos saiam às ruas para resistir a golpe militar


Militares dizem ter tomado poder no país; aeroporto de Istambul foi fechado, diz TV estatal

Por O Globo / Agências Internacionais

Policiais fazem patrulha perto de sede militar em Ancara - TUMAY BERKIN / REUTERS

ANCARA — O primeiro-ministro da Turquia disse nesta sexta-feira que um grupo realiza uma tentativa de golpe militar para derrubar o governo. Os militares turcos afirmam que tomaram o poder no país para proteger a ordem democrática e a manutenção dos direitos humanos. Em um pronunciamento pela TV estatal, o Exército anunciou um toque de recolher e a aplicação da lei marcial.

Todos os voos que partem do aeroporto de Ataturk em Istambul foram cancelados. Segundo a TV estatal turca TRT, o terminal aéreo já foi fechado. As transmissões dos canais de televisão foram suspensas no país, além do Facebook, Twitter e Youtube. Enquanto isso, os militares fizeram um pronunciamento pela TV estatal em que anunciaram um toque de recolher e a aplicação da lei marcial.

O presidente turco, Recep Tayyip Erdogan, disse que a tentativa de golpe é um trabalho de uma minoria dentro do Exército.

— Nós vamos superar isso — disse o presidente, que pediu que as pessoas saíssem às ruas para resistir. — A cadeia de comando foi violada mas nós vamos lutar contra esta tentativa. Eu peço que a minha nação preserve suas crenças.

Já há imagens de ruas lotadas por pessoas que deixam as suas casas para reagir à tentativa de golpe militar na Turquia.

Forças de segurança turcas fecharam parcialmente duas pontes que cruzam o Estreito de Bósforo em Istambul. Já em Ancara, há relatos de aviões militares que sobrevoam a cidade a baixa altitude, segundo a imprensa local.

— Algumas pessoas ilegalmente realizaram uma ação ilegal fora da cadeia de comando — disse o primeiro-ministro turco, Binali Yildirim, nesta sexta-feira. — O governo eleito pela população continua no poder. Este governo só sairá quando as pessoas disserem isso.

Sem oferecer muitos detalhes, Yildirim afirmou que a Turquia jamais permitiria que uma iniciativa interrompesse a democracia. Ele afirmou que os envolvidos na tentativa de golpe pagariam um alto preço.

No entanto, o chefe de Estado Maior seria uma das pessoas mantidas reféns na sede das Forças Armadas. Os militares dizem que tomaram conta do país e que cercaram a sede de governo - informação negada pelo premier, segundo o qual as forças de segurança foram chamadas para tomar as atitudes necessárias.
 Militares fecham ponte sobre Bósforo - AFP

Em um comunicado enviado por email e relatado pelos canais de TV turcos, os militares disseram que todas as relações exteriores do país seriam mantidas e o Estado de Direito seria uma prioridade. Pela TV estatal, o Exército anunciou um toque de recolher e a aplicação da lei marcial.

"As Forças Armadas da Turquia tomaram completamente a administração do país para reestabelecer a ordem constitucional, os direitos humanos, as liberdades, o Estado de Direito e a segurança geral que foi danificada", diz o comunicado.

Uma autoridade turca, que não quis se identificar, disse que soldados foram enviados a outras cidades turcas, mas não especificou quais. Há relatos de que os soldados estão dentro dos prédios da televisão estatal turca TRT EM Ancara, segundo a agência Reuters. A CNN da Turquia relata que há uma mobilização extraordinária diante da sede do Estado Maior do Exército.

Testemunhas relataram que houve um tiroteio nesta sexta-feira em Ancara, além de aviões militares e helicópteros que sobrevoam a cidade. Uma televisão local mostra imagens de tanques na entrada do aeroporto de Istambul.

A Turquia tem um histórico de tentativas de golpe. O último episódio do gênero aconteceu em 1977 e forçou a renúncia do então-premier Nemettin Erbakan.

O secretário de Estado americano, John Kerry, disse nesta sexta-feira que está acompanhando os eventos na Turquia. Ele disse que, independente do desenrolar dos acontecimentos, ele espera que o país possa resolver a crise preservando a paz, a estabilidade e o respeito pela continuidade.

Já o ministro das Relações Exteriores da Rússia, Serguei Lavrov, pediu que se evite qualquer confronto sangrento.

15/07/2016 
 
 

Horror em Nice



Esta nova infâmia confirma que a França é o objeto de um ódio particular dos jihadistas


Gilles Lapouge
Estadão

PARIS - Pela terceira vez em um ano e meio, a França foi atingida pelos jihadistas. Em janeiro de 2015, houve o assassinato de toda a redação do jornal Charlie Hebdo; em novembro, atentados diversos em Paris, "a morte por atacado", e na quinta-feira, na sublime cidade de Nice, às margens do Mediterrâneo, um caminhão se jogou sobre a multidão, matando 84 pessoas que admiravam os fogos de artifício da Festa Nacional de 14 de Julho.

Esta nova infâmia confirma que a França é o objeto de um ódio particular dos jihadistas. Não há nenhuma dúvida, porque é ela que, no Mali e no Oriente Médio, é um dos países que mais duramente atacam os terroristas.


Foto: AP Photo/Claude Paris
Peritos analisam caminhão usado no ataque em Nice

Outra lição: nas terras onde se instalaram, os membros do Estado Islâmico sofrem pesados danos, enquanto seus chefes recuam sob os golpes dos EUA, da Grã-Bretanha, da França e da Rússia. Além disso, para compensar seus prejuízos no Iraque, na Síria e na Líbia, os assassinos atingem alvos ocidentais diretamente na Europa.

O massacre de Nice ainda não foi reivindicado pela Al-Qaeda ou pelo EI. Indubitavelmente, foi obra de um desses "lobos solitários" que montam suas operações sozinhos, e com meios rudimentares, mas igualmente ignóbeis. No caso de Nice, um caminhão foi usado para esmagar adultos e crianças sob suas rodas gigantescas.
TRADUÇÃO DE ANNA CAPOVILLA


15 Julho 2016

Governo vai revisar plano de segurança para a Olimpíada


Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sergio Etchegoyen, informou que, após ataque na França, haverá "trabalho intenso"

Por Da redação
Veja.com

Ministro do Gabinete de Segurança Institucional (GSI), general Sergio Etchegoyen (José Cruz/Agência Brasil)

O ministro-chefe do Gabinete de Segurança Institucional (GSI) da Presidência da República, general Sergio Etchegoyen, disse nesta sexta-feira que o governo vai revisar as medidas de segurança no país para a Olimpíada após o atentado em Nice, na França, que deixou ao menos 84 mortos e 100 feridos nesta quinta-feira.

“Estamos ainda sob o efeito do choque da tragédia que atingiu a França. Desde aquele momento, o Ministério da Justiça, Ministério da Defesa e o Gabinete de Segurança Institucional estão trabalhando para que se possa garantir que continuemos no mesmo nível de segurança para os Jogos Olímpicos Rio 2016. Isso exige uma série de revisões, de novas providências e trabalho intenso daqui para a frente para que mantenhamos o nível de segurança. Obviamente, nossas preocupações subiram de patamar”, disse Etchegoyen, em entrevista coletiva no Palácio do Planalto.

Segundo Etchegoyen, os ministros da área de segurança e defesa estão revisando todo o dispositivo de segurança para identificar eventuais lacunas. Com essa revisão, haverá incremento de algumas medidas, como mais postos de controle e barreiras, além de interdições no trânsito.

“É importante que a população entenda que vai trocar um pouco de conforto por muita segurança. Estamos prontos para os Jogos 2016, apenas vamos revisar nossos procedimentos. Temos o dever, a partir do que aconteceu [atentado na França], de revisar todos os nossos procedimentos para checar se há lacunas. Necessitamos fazer uma auditoria sobre nosso planejamento para ver se sobra alguma lacuna que tenhamos, por alguma razão, negligenciado”, acrescentou.

Etchegoyen informou que o presidente interino Michel Temer vai coordenar hoje, às 16 horas, no Palácio do Planalto, reunião com os ministros da Defesa, da Justiça e do GSI para tratar da segurança na Olimpíada após o atentado na França.

(Com Agência Brasil)
 15 jul 2016

quinta-feira, 14 de julho de 2016

Charge





Miguel Falcão


Rodrigo Maia (DEM-RJ) é o novo presidente da Câmara dos Deputados


Deputado do Rio recebeu 285 votos no segundo turno
Por O Globo

Rodrigo Maia (DEM-RJ) é o novo presidente da Câmara dos Deputados
Ailton de Freitas / Agência O Globo

BRASÍLIA - O deputado Rodrigo Maia (DEM-RJ) é o novo presidente da Câmara. Ele foi eleito no segundo turno da votação com 285 votos, derrotando o candidato do PSD, Rogério Rosso (DF), que recebeu 170. Maia também venceu o primeiro turno com 120 votos contra 106 de Rosso. Ele será o segundo na linha sucessória da Presidência da República e poderá assumir o cargo em caso de viagem do presidente interino Michel Temer.

Antes mesmo da votação, o candidato do PSD reconheceu que estava em desvantagem e previu uma derrota por 30 a 40 votos, apesar de ter recebido o apoio do PP.

Além de PSDB, DEM, PSB e PPS, o candidato do DEM recebeu o apoio no segundo turno do PR, que tem 43 deputados, PCdoB, PDT e PTN, além das bancadas do PMDB do Rio de Janeiro e de Minas Gerais e do candidato derrotado do partido, Marcelo Castro, que recebeu 70 votos.

O PMDB, maior partido na Câmara, decidiu liberar a bancada. O PT, que tem 58 parlamentares, também. A legenda apostava na vitória de Castro, ex-ministro do governo Dilma Rousseff.

Ex-líder do PFL e ex-presidente do DEM, Maia fez oposição ferrenha aos governos Lula e Dilma e não tinha trânsito na Câmara nas gestões petistas. Cotado para ser líder do governo Temer na Câmara, ele acabou preterido por André Moura (PSC-SE), que teve o apoio de Cunha e dos partidos do centrão.Filho do ex-prefeito do Rio Cesar Maia, ele é casado com Patrícia Vasconcelos, enteada de Moreira Franco, assessor especial de privatizações do governo Temer.

No discurso antes da votação no segundo turno, o deputado do DEM foi aplaudido ao defender que, caso eleito, governará junto com os outros 512 parlamentares:

- Podem ter certeza: se eu sentar naquela cadeira, serei um de 513. Vamos governar essa casa juntos.

Maia defendeu também o fim do "império dos líderes" e que se dê mais espaço aos demais parlamentares.

- Nós vamos devolver o plenário à sua soberania. Nosso voto hoje tem veto, porque poucos decidem pela gente. É melhor votar com calma, mas votar a matéria de forma correta. É o que cada um de nós quer, e vamos trabalhar para acabar com o império dos líderes. Eles são fundamentais, mas não são os únicos com direito a palavra.

Deputados fazem fila para votar para presidente da Câmara
Jorge William / Agência O Globo




Ele disse ainda que quer fazer com que os deputados voltem a se orgulhar da profissão que escolheram, e que, para isso, é preciso uma Câmara forte:

- Está faltando uma Câmara dos Deputados forte, que nos orgulhemos de usar esse broche, que passamos a ter vergonha para não sermos vaiados na rua.

Maia disse que foi criticado por ter interlocução com os partidos de esquerda, mas defendeu uma oposição forte para fiscalizar o governo que apoia:

- Quem quer calar a oposição não quer democracia. Queremos uma oposição forte ao nosso governo, que vai nos ajudar a enxergar os nossos erros - afirmou.

O deputado citou nomes que disse admirar ao chegar à Câmara. Um deles foi o do ex-deputado José Genoino, condenado no mensalão.

Em seguida, Rogério Rosso (PSD-DF) iniciou seu discurso pedindo que o adversário subisse à tribuna para abraçá-lo.

- Rodrigo, quero te dar um abraço para que qualquer um que for eleito, a gente possa recomeçar - disse Rosso.

Visivelmente constrangido, Rodrigo Maia subiu e abraçou o adversário.

Rogério Rosso chama Rodrigo Maia para abraça-lo na tribuna da Câmara antes da votação
Jorge William / Agência O Globo


14/07/2016


Maia e Rosso disputam segundo turno da eleição na Câmara

Deputado do DEM recebeu 120 votos, enquanto líder do PSD obteve 106. Ex-ministro de Dilma, Marcelo Castro (PMDB-PI) ficou de fora
Por Da Redação

Os deputados Rodrigo Maia e Rogério Rosso (Ueslei Marceino/Reuters - Luis Macedo/Câmara dos Deputados)

Os deputados federais Rodrigo Maia (DEM-RJ) e Rogério Rosso (PSD-DF) vão disputar o segundo turno da eleição para a presidência da Câmara. Nenhum dos candidatos obteve maioria absoluta dos votos. Maia recebeu 120 votos no primeiro turno da disputa para a escolha do sucessor de Eduardo Cunha (PMDB-RJ). Rosso ficou em segundo, com 106 votos. Em uma derrota para o PT, o peemedebista Marcelo Castro, ex-ministro de Dilma Rousseff e apoiado pelo partido, ficou de fora, tendo recebido apenas 70 votos.

Filho do ex-governador do Rio de Janeiro César Maia, o deputado Rodrigo Maia tem o apoio de PSDB, PPS, DEM e PSB para chegar ao comando da Casa. Ligado a Cunha, Rosso integra o bloco de partidos do chamado “centrão”.

Próximos passos – Depois de um intervalo de cerca de uma hora, os dois candidatos que seguem na disputa vão discursar na tribuna da Câmara. Em seguida, será realizada a votação do segundo turno.

Confira o placar do primeiro turno:
Rodrigo Maia (DEM-RJ): 120
Rogério Rosso (PSD-DF): 106
Marcelo Castro (PMDB-PI): 70
Giacobo (PR-PR): 59
Esperidião Amin (PP-SC): 36
Luiza Erundina (Psol-SP): 22
Fábio Ramalho (PMDB-MG): 18
Orlando Silva (PCdoB-SP): 16
Cristiane Brasil (PTB-RJ): 13
Carlos Henrique Gaguim (PTN-TO): 13
Carlos Manato (SD-ES): 10
Miro Teixeira (Rede-RJ): 6
Evair Vieira de Melo (PV-ES): 5


O deputado Rodrigo Maia ( DEM-RJ), discursa durante sessão de eleição do novo presidente da Casa - 13/07/2016 (Ueslei Marcelino/Reuters)

Sessão extraordinária para eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados - 13/07/2016 (Gustavo Lima/Câmara dos Deputados)

Sessão extraordinária para eleição do novo presidente da Câmara dos Deputados - 13/07/2016 (Ueslei Marcelino/Reuters)

13 jul 2016

segunda-feira, 11 de julho de 2016

Perícia do TSE evidencia que a campanha de Dilma lavou dinheiro do Petrolão


Durante auditoria realizada pelo Tribunal Eleitoral, as gráficas VTPB, Focal e Red Seg, que receberam R$ 52 milhões da campanha da presidente afastada, em 2014, não comprovam que prestaram os serviços declarados

Débora Bergamasco
IstoÉ

CAMPANHA EM XEQUE

Esquema envolvendo a Focal, a VTPB e a Red Seg movimentou R$ 52 milhões em 2014 (Crédito:AP Photo/Eraldo Peres)


No dia 20 de abril, a ministra Maria Thereza de Assis Moura, corregedora-geral da Justiça Eleitoral, autorizou a apuração das suspeitas de que a campanha à reeleição da presidente Dilma Rousseff, em 2014, havia utilizado gráficas para lavar dinheiro do Petrolão. Na última semana, o relatório entrou em fase final de redação e uma perícia deverá ser oficialmente divulgada no próximo mês. ISTOÉ apurou que as evidências de lavagem de recursos desviados da Petrobras se confirmaram. As empresas VTPB, Focal e Red Seg não conseguiram comprovar que prestaram os serviços declarados durante as últimas eleições, o que reforçam os indícios de que eram mesmo de fachada e serviram de ponte para o pagamento de propinas do Petrolão. Juntas, elas receberam uma fábula da campanha de Dilma em 2014: R$ 52 milhões.


A Focal foi a segunda que mais recebeu recursos do PT, só ficando atrás do marqueteiro João Santana. Um total de R$ 24 milhões. Mas a gráfica, assim como a VTPB e a Red Seg, simplesmente não apresentou notas fiscais, comprovantes de pagamento, ordens de serviço, contratos trabalhistas ou de subcontratação de terceiros, além de extratos de transferências bancárias que justificassem as atividades exercidas para a campanha de Dilma a um custo milionário. Esses documentos eram fundamentais para provar que as gráficas não foram usadas como laranjas pelo PT para esquentar dinheiro ilegal. A ausência da papelada compromete a campanha de Dilma e incrementa o caldo político que pode levar ao seu afastamento definitivo em agosto, no derradeiro julgamento do impeachment. “A ausência da devida comprovação de gastos eleitorais, principalmente quando envolver altos valores, pode indicar a ocorrência de graves fraudes e até lavagem de dinheiro, com sérias consequências”, afirmou o presidente do TSE, Gilmar Mendes.


ILÍCITO

Para o presidente do TSE, Gilmar Mendes, a ausência de comprovação dos gastos eleitorais indica a existência de fraudes graves
(Crédito:Ailton de Freitas/Agência O Globo)


Os peritos do TSE visitaram as três gráficas entre maio e junho. Seus donos contaram histórias mirabolantes na tentativa de atestar que colocaram seu maquinário a serviço da petista em 2014. Por isso, teriam sido aquinhoadas com os R$ 52 milhões declarados pela campanha de Dilma. As versões, repetidas também à ISTOÉ, não param em pé. Para comprová-las, as empresas tinham até o dia 24 de junho para entregar a farta documentação exigida pela Justiça Eleitoral. O não fornecimento das provas exigidas pela Justiça Eleitoral torna muito difícil a absolvição das gráficas pela perícia do TSE.


Quem for hoje às dependências da Focal vai se deparar com uma estrutura ínfima. A empresa de Carlos Cortegoso, ex-garçom de Lula, fica localizada em São Paulo e exibe uma portinha que seria incompatível com o volume de produtos que ela declarou ter fornecido à campanha de Dilma em 2014. Dividida em dois pisos de cerca de 40 metros quadrados cada um, a empresa conta com apenas duas impressoras e só três funcionários trabalham por lá. Os proprietários argumentam que, durante o período da campanha, a empresa chegou a ter 200 funcionários, quando ainda estava sediada em São Bernardo do Campo, cidade vizinha à capital paulista, em um espaço bem maior. Entretanto, não foram apresentados ao TSE contratos de trabalho desses colaboradores. Como desculpa, argumentaram que eram prestados serviços semanais, sem vínculo trabalhista. Alegaram ainda que os equipamentos de offset utilizados para atender ao PT estariam acondicionados em outro imóvel de Cortegoso. Todavia, o empresário não apresentou as notas fiscais das máquinas, nem comprovou ainda que a tralha estava registrada nos ativos da companhia em 2014. “Existem algumas pequenas irregularidades no sentido fiscal, mas no sentido de criminal não tem nada”, jurou Cortegoso, abordado pela reportagem da revista. Carece de explicação ainda como uma gráfica, sediada em São Bernardo, poderia ter erguido palanques para a campanha à reeleição de Dilma Rousseff Brasil afora, conforme declarou ao TSE. Até a última semana, porém, mais essa atividade suspeita não havia sido justificada aos peritos do tribunal.

As dependências da empresa VTPB são ainda mais inacreditáveis, em termos de estrutura física. É uma gráfica muito engraçada, não tem impressora, não tem nada. Nem scanner, sequer máquina de xerox. O endereço fiscal fica registrado em uma kitnet no bairro da Casa Verde, zona norte de São Paulo. Os donos da empresa dizem sem corar a face que a estrutura micro não é conflitante com os R$ 22,9 milhões repassados pela campanha da presidente afastada nas últimas eleições. A empresa, segundo suas explicações, trabalha fazendo a intermediação entre os políticos que precisam de santinhos, por exemplo, e as gráficas que os produzem. Contudo, não foram apresentadas notas fiscais ou contratos que comprovem essas subcontratações. Tampouco comprovantes de pagamentos ou ordens de serviço.

Infográfico: Rica Ramos

Mas quem lacrou mesmo foi a Rede Seg. Abastecida com R$ 6,15 milhões da campanha de Dilma, a gráfica sequer entregou cópias ou originais do livro contábil, porque ele simplesmente não existe. A gráfica – 8ª maior beneficiária de dinheiro da campanha que reelegeu a presidente da República em 2014 – não faz contabilidade escriturada da empresa. Isto, por si só, já configuraria, no mínimo, um “ilícito fiscal”, segundo advogados ouvidos pela ISTOÉ. A Red Seg também está lotada em um imóvel que abriga somente uma guilhotina de papel e uma impressora, que também é filha única. Os documentos do estabelecimento apontam como proprietário Vivaldo Dias da Silva. Um ano antes da campanha, de acordo com dados do Ministério do Trabalho, ele era motorista e ganhava salário de R$ 1.490.

As suspeitas de que o montante repassado à Focal, VTPB e Red Seg era oriundo do esquema do Petrolão foram levantadas a partir da delação premiada de donos de empreiteiras presos em decorrência dos desdobramentos da operação Lava Jato. O mandatário da UTC, Ricardo Pessoa, que assinou a colaboração com o Ministério Público, afirmou que repassou R$ 7,5 milhões à campanha de Dilma Rousseff (PT). E que o dinheiro teve origem no Petrolão. O mesmo empresário contou que realizou três repasses de R$ 2,5 milhões. Ao que tudo indica, uma dessas parcelas serviu para saldar notas fiscais da VTPB e Focal. O repasse ocorreu em 27 de agosto ao tesoureiro Edinho Silva, ex-ministro das Comunicações, que realizou quatro depósitos na conta da VTPB no total de R$ 1,7 milhão. Outros R$ 672,6 mil irrigaram os cofres da Focal. Aproximadamente R$ 1,8 milhão teve como destino a gráfica Red Seg. Esses não foram os únicos repasses feitos pela campanha de Dilma às fornecedoras suspeitas de lavagem de dinheiro. Os maiores montantes destinados à Focal e à VTPB também são de 2014 e da ordem de R$ 24 milhões e R$ 23 milhões, respectivamente.


MOVIMENTAÇÕES IRREGULARES

O COAF já apontava para a ocorrência de lavagem de dinheiro pela gráfica VTPB (foto) durante a campanha à reeleição de Dilma
Chamou a atenção do TSE o volume gasto pelo comitê eleitoral de Dilma com serviços de confecção de faixas e santinhos. No dia 29 de julho do ano passado, o ministro Gilmar Mendes, que ocupava a cadeira de vice-presidente da corte eleitoral, pediu à Polícia Federal que investigasse as três empresas. No documento, Mendes recomendou que os agentes concentrassem as atenções na empresa Focal. A PF aproveitou e relacionou a VTPB no bojo da apuração. Um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) já apontava para a existência de crime de lavagem de dinheiro praticado pela VTPB uma vez que havia a comunicação de movimentação atípica nas contas da empresa.

Outro indício de que as empresas fornecedoras possam fazer parte do esquema de lavagem de dinheiro, por meio de serviços gráficos, refere-se à prestação de contas da campanha da petista. Há centenas de recibos eleitorais de doações de materiais e serviços. Parte deles está em nome dos mesmos financiadores diretos da campanha. Ou seja, o “produto” doado é produzido pelas mesmas empresas suspeitas, mas leva o carimbo de outra campanha. É o caso do deputado Vicentinho. Ele encomendou à Focal Comunicação a produção de centenas de faixas para a campanha da presidente. O que intriga a investigação é que o petista, que arrecadou pouco mais de R$ 1,4 milhão, tenha ainda contribuído materialmente para a reeleição de Dilma com R$ 350 milhões.


TRIANGULAÇÃO
Repasse a Edinho Silva, tesoureiro da campanha de Dilma, feito pela UTC serviu para saldar “notas frias” da VTPB
(Crédito:Eliaria Andrade/Agência O Globo)


Também intrigou os técnicos do TSE o fato de valores declarados nos recibos de doação de materiais serem muitas vezes bem abaixo do valor praticado no mercado. Do total da produção de santinhos pela Axis Grafica, de São Caetano do Sul (RS), o Comitê Financeiro do PT doou para a campanha de Dilma 6,5% de um total de 30 mil, ou 1.950 itens. O valor declarado pela campanha foi de apenas R$ 14,62. Mas uma no mercado gráfico o valor médio é de R$ 1,8 mil para a quantidade total encomendada e de R$ 121 equivalente ao percentual doado.


A ministra Maria Thereza, relatora do pedido de cassação de Dilma no TSE, ainda está pedindo o compartilhamento de provas e informações obtidas pelas investigações da PF. À ISTOÉ, o ministro Gilmar Mendes ponderou que “nem todas as diligências foram cumpridas pelo TSE e há outras em curso, de modo que há de se aguardar uma maior quantidade de elementos para elaboração do relatório final da perícia”. O prazo é de 90 dias, que alcançará meados de agosto. Até lá, é possível que o afastamento definitivo de Dilma Rousseff já tenha sido julgado pelo Senado.


Colaborou Ary Filgueira

08.07.16

domingo, 10 de julho de 2016

Cunha sai do jogo. E agora?

Eduardo Cunha renuncia à presidência da Câmara para salvar seu mandato – e o governo Temer se livra de um aliado incômodo


ALANA RIZZO, ANA CLARA COSTA E TALITA FERNANDES

ÉPOCA

A renúncia de Eduardo Cunha à presidência da Câmara era questão de tempo. No domingo, 3 de julho, Cunha finalmente concebeu que seu tempo se esgotara. Afastado do cargo há dois meses por decisão do Supremo Tribunal Federal, e perto de ser cassado por quebra de decoro parlamentar, ele não só não tinha mais saída, como o arranjo de um interino em seu posto começava a incomodar o Palácio do Planalto. A pressão da família, em especial da esposa, Cláudia Cruz, ré na Lava Jato, de seus advogados e de aliados políticos o fez dar um passo definitivo. Naquele domingo, Cunha começou a escrever sua carta de renúncia. A data escolhida para tornar o documento público era a terça-feira, dia 5, quando se completavam exatamente dois meses de seu afastamento. O dia chegou, e Cunha, que nunca quis perder poder, hesitou. Deixou para o dia seguinte, quarta-feira. Adiou de novo, para não misturar o fato negativo com o aniversário de uma das filhas. Foi quando o deputado Osmar Serraglio, seu colega de PMDB, presidente da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara, anunciou que o recurso apresentado pela defesa de Cunha contra a cassação seria analisado nesta segunda-feira, dia 11. A derrota era quase certa. Não dava mais para esperar.

Na noite da quarta-feira, Cunha chamou um grupo de amigos, advogados e os deputados mais próximos para conversar. Deixou de fora aqueles aliados que pudessem vazar que sua renúncia era iminente, como os deputados Paulinho da Força, do Solidariedade de São Paulo, e Lúcio Vieira Lima, do PMDB baiano. Ao Palácio do Planalto, mandou um recado pelo ex-deputado Sandro Mabel, que ocupa informalmente o cargo de assessor especial do presidente interino, Michel Temer, para a Câmara. Cuidadoso, evitou usar menções diretas; só avisou a Temer que “faria um pronunciamento na manhã seguinte”. Oficialmente, o Palácio do Planalto diz que Temer soube sobre a renúncia “pela imprensa” durante uma reunião e assistiu ao pronunciamento de Cunha pela televisão, ao lado dos ministros da Fazenda, Henrique Meirelles, e da Casa Civil, Eliseu Padilha.
Cunha chegou com aparente normalidade à Câmara na tarde de quinta-feira. Foi à Secretaria-Geral da Mesa e protocolou a carta de renúncia, como manda a regra. Apesar da postura decidida, estava claramente constrangido – o rubor que tomava conta do seu rosto sinalizava o desconforto. Há uma década, outro presidente da Câmara, o folclórico Severino Cavalcante, fizera o mesmo que Cunha. Severino, entretanto, teve o privilégio de renunciar de seu lugar devido, seu assento na mesa diretora, diante do plenário. Apanhado por uma vergonhosa e reles cobrança de propina de um dono de restaurante – caiu por um cheque de R$ 10 mil –, Severino subiu ao seu lugar e leu um discurso, ouvido pelos deputados que lotavam o local em um silêncio sepulcral.

Impedido pelo Supremo até mesmo de entrar no plenário, Eduardo Cunha teve de se contentar com bem menos formalidade e liturgia. Caminhou para o Salão Nobre e renunciou para jornalistas e uns poucos colegas. Fez isso tentando aparentar bom humor, ao dizer que estava com saudades de falar com a imprensa. Quando começou a ler a carta, o tom mudou: ao fazer agradecimentos, a voz embargou e uma lágrima escorreu quando mencionou a esposa e a filha Danielle Dytz, ambas investigadas na Lava Jato e sob a jurisdição do juiz Sergio Moro, a partir de investigações sobre o deputado. Ninguém esperava testemunhar o dia em que o frio Eduardo Cunha, aquele que se mantém impassível quando xingado por manifestantes ou atacado por algum adversário a seu lado, choraria em público. Quem convive com Cunha jura que as lágrimas foram sinceras. Quem descarta a possibilidade de Cunha estar abalado e estudar a possibilidade de colaborar com a Lava Jato ouve: “Você já teve uma filha investigada sob os cuidados do Moro?”.

Entretanto, apenas os inocentes enxergam uma desistência na decisão de Cunha de renunciar. Trata-se, na verdade, de outro passo na longa estratégia dele de ganhar tempo para preservar o mandato. Cunha foi o presidente da Câmara mais poderoso desde Ulysses Guimarães, no governo José Sarney (1985-1990). Após anos de presidências dóceis ao Executivo, Cunha derrotou o governo Dilma Rousseff em praticamente tudo. Controlador de uma maioria dispersa por partidos grandes, médios e pequenos, formada basicamente pelo extenso baixo clero, conseguiu feitos impensáveis, entre eles cumprir todos os ritos para aprovar o impeachment da presidente Dilma Rousseff. Desde que surgiram as primeiras suspeitas da Operação Lava Jato sobre sua atuação paralela à política, há um ano, Cunha usa essa rede de apoios a seu favor. Opera com a lógica de alongar períodos e instalar curvas no que deveria ser uma linha reta processual.

08/07/2016