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sexta-feira, 31 de agosto de 2018

O TSE precisa afirmar o óbvio: um presidiário condenado em segunda instância – qualquer presidiário condenado em segunda instância – não pode ser candidato a coisa alguma



Editorial

Com um voto claro e sereno, o ministro Luís Roberto Barroso, relator do caso de Luiz Inácio Lula da Silva no Tribunal Superior Eleitoral, conduz a corte, neste momento, a barrar a candidatura do ex-presidente. Não poderia ser diferente.

Juridicamente, não há controvérsia. Em casos semelhantes, juízes indeferiram monocraticamente tentativas de registro de candidatos ficha-suja. Lula recebeu a deferência de ser julgado pelo plenário do TSE.

O caso de Lula é translúcido. Lula foi condenado por um colegiado em segunda instância. A Lei da Ficha Limpa proíbe que pessoas condenadas em segunda instância – presas ou não, aliás – possam concorrer a qualquer cargo eletivo.

Pode-se questionar, como alguns dos ministros questionaram reservadamente, se o TSE não deveria aguardar as alegações finais – o que adiaria a decisão inevitável por mais alguns dias. Trata-se da única questão sujeita a questionamento legítimo por parte da defesa de Lula.

Contudo, a urgência e a extrema relevância do caso de Lula conduziram às duas atitudes – uma favorável a Lula e outra desfavorável (politicamente). A favorável: não negar a candidatura monocraticamente. A contrária: julgar com rapidez, dispensando mais manifestações e alegações. (Entende-se que não há provas a se produzir.)

É inequívoco – irretorquível – que o TSE, caso negue daqui a pouco a candidatura a Lula, obedecerá não só a Lei da Ficha Limpa como os princípios constitucionais da República. Sairá fortalecido o Estado Democrático de Direito e a noção elementar de que a lei vale para todos. Inclusive, ou especialmente, para um brasileiro que já ocupou o mais alto cargo da Repúbllica – e que, por crimes cometidos em virtude desse cargo, encontra-se encarcerado, após condenação em segundo grau.

Estará enterrada uma ficção jurídica que havia se tornado, pela competência narrativa do PT e o subsequente desejo de parte dos brasileiros, uma realidade política. Lamentável que se tenha chegado a esse ponto – para o país, para as instituições e para os eleitores de Lula

Ainda assim, os direitos fundamentais de Lula continuarão a ser respeitados no plano eleitoral. (Como já aconteceu e ainda transcorre na esfera criminal, frise-se.) Ele poderá recorrer ao próprio TSE e, ainda, ao STF.

É fundamental ressaltar, no entanto, que se chegou a esse ponto em razão das ações de Lula e do PT, que insistiram nessa ficção jurídica mesmo cientes dos efeitos deletérios dela para o país. Não adianta se vitimizar. A responsabilidade é de Lula e do PT – não do Judiciário. Prosseguiram nesse curso de ação para obter ganhos eleitorais, ao arrepio da lei e da moralidade mínima que deveria nortear líderes políticos, à esquerda ou à direita.

Coube – e cabe – ao Poder Judiciário aplicar a Constituição e as leis da República. É o que as mulheres e os homens desse Poder e do Ministério Público Federal estão tentando fazer mais uma vez, hoje. Os “homens de preto”, como são chamados na agressiva propaganda do PT, podem ocasionalmente errar – não é o caso de hoje. Ainda que errem, costumam ter em mente princípios constitucionais e o bem da República. Ao contrário daqueles que colocam, sempre e em primeiro lugar, os próprios interesses, por mais mesquinhos e danosos que se configurem à coletividade.

agosto 31, 2018


quarta-feira, 29 de agosto de 2018

MP pede quebra de sigilo de empresas que vendem elogios a candidatos na internet


Procurador eleitoral quer que Apple informe em 48h identidade de usuários

Por Mateus Coutinho / Bruno Góes
Logo do Twitter em computador
Loica Venance/AFP/20-11-2017


BELO HORIZONTE E BRASÍLIA — O procurador regional eleitoral auxiliar Bruno Nominato pediu nesta terça-feira a quebra dos sigilos fiscal de seis empresas envolvidas no esquema de difusão de conteúdo remunerado em apoio a candidatos do PT e do PR. O procurador ainda pediu que a Apple informe em 48 horas todos os usuários que baixaram os aplicativos O Brasil Feliz de Novo, usado para propagar conteúdos favoráveis a candidatos petista — incluindo o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, candidato do PT, preso em Curitiba desde abril — e Follow, utilizado também para difusão de notícias de candidatos do PT e do PR, conforme revelou O GLOBO nesta quarta.

O procurador pede ainda que o Twitter informe os dados cadastrais dos usuários @pppholanda, @delucca, @choracuica e @cadefeminista além de @joycelular e @AgenciaLajoy e que todo o conteúdo das quebras pedidas por ele seja compartilhado com todas as Procuradorias Regionais Eleitorais do Brasil, pois candidatos de outras regiões do país podem ter se beneficiado das postagens.


O perfis @joycelular e @AgenciaLajoy são de Joyce Falete e sua empresa que trabalhava no núcleo de captação de influenciadores digitais do bunker estruturado pelo deputado e candidato ao Senado por Minas Gerais, Miguel Corrêa (PT). O perfil @pppholanda pertence à jornalista e militante Paula Holanda, que foi a primeira a denunciar o caso no domingo, em uma série de comentários no Twitter em que afirmou ter recebido a oferta para fazer postagens positivas para a petista Gleisi Hoffmann, que tenta uma vaga na Câmara, o candidato do PT ao governo de São Paulo, Luiz Marinho, e o candidato à reeleição ao governo do Piauí, Wellington Dias.

Para o procurador, a compra de influenciadores pode configurar infração eleitoral, uma vez que a legislação só prevê o impulsionamento remunerado de notícias a partir de serviços oferecidos pelas próprias redes sociais, o que não é o caso dos aplicativos criados pelo deputado federal petista. "Assim, ante a necessidade de se apurar as notícias de possível violação da lei eleitoral por parte das pessoas jurídicas anteriormente referidas, necessária tanto a quebra do sigilo de informações cadastrais das respectivas pessoas jurídicas, bem como dos respectivos usuários responsáveis pelas contas do Twitter", escreve o procurador no pedido encaminhado ao TRE-MG.

Na lista de sigilos que o MP Eleitoral tenta obter acesso, estão a empresa de Joyce, as empresas Fórmula e Follow, de Miguel Corrêa, a Golz Tecnologia, a Be Connected e a 2x3 Inteligência Digital, de parceiros de Corrêa. As duas empresas de Corrêa e a Golz são registradas no mesmo endereço, onde funcionava o bunker de produção e difusão de conteúdo para candidatos do PT e do PR. O MP Eleitoral quer acesso a todas as notas fiscais eletrônicas fornecidas por estas empresas nos últimos sessenta dias.

A Be Connected pertence a Rodrigo Cardoso, que trabalha no mesmo bunker de produção de notícias junto com a sobrinha de Corrêa Lidia Corrêa, CEO da Follow. A empresa de Cardoso também foi denunciada ainda no domingo como sendo a responsável por pedir a Joyce à contratação dos influenciadores digitais para fazer campanha para o PT.

Após o caso vir à tona, o GLOBO revelou como funcionava a rede de monitoramento, produção e distribuição de conteúdo para ao menos 14 candidatos nas eleições deste ano por meio do pagamento de ativistas e influenciadores digitais. O esquema contava ainda com o aplicativo Follow, que permite a produção e curadoria de notícias em um aplicativo que pode ser baixado por qualquer pessoa, que faz o cadastro e pode receber dinheiro para compartilhar determinados conteúdos indicados no aplicativo em suas redes sociais.

Na prática a medida dribla mecanismos de segurança de redes sociais, pois ao invés de robôs são pessoas que compartilham conteúdos favoráveis a políticos sem mencionar que estão sendo pagas para tanto. Diante disso, o procurador Nominato quer saber todas as pessoas que baixaram o aplicativo para apurar como se deu a rede de difusão de notícias.

29/08/2018

segunda-feira, 27 de agosto de 2018

Esquema de propaganda ilegal da internet oferecia R$ 1.500 mensais por elogios a petistas


E-mail apresentando a proposta foi enviado a influenciadores digitais


Por Bruno Góes / Mateus Coutinho
O Globo



Agência Follow é de propriedade do deputado e candidato do PT ao Senado por Minas Gerais, Miguel Corrêa - Jorge William / O Globo - 17-12-2013


BRASÍLIA — Influenciadores digitais que replicaram conteúdos elogiosos a candidatos do PT nas redes sociais receberam oferta de pelo menos R$ 1.500 por mês para participar de ações na internet, segundo e-mail original de uma proposta obtido pelo GLOBO. No documento, Isabella Bomtempo, dona de um e-mail com o domínio da aceleradora VBuilders, diz que trabalha para uma agência e gostaria de promover "ações de militância política para a esquerda". Segundo fonte ouvida pelo GLOBO, Isabella trabalha para a agência Follow, de propriedade do deputado federal e candidato do PT ao Senado por Minas Gerais, Miguel Corrêa.

Oficialmente, quem admitiu ter prestado serviços ao PT para "monitorar redes sociais" e "indicar influencers" foram, respectivamente, as agências BeConnect e Lajoy. Ambas as empresas negam ter pagado para pessoas conhecidas postarem conteúdo elogiosos a candidatos do PT.

No e-mail enviado por Isabella, há alguns exemplos de pautas que seriam exploradas para os contratados postarem conteúdos na internet: "Fale sobre como o governo golpista atual está tirando verbas da educação e congelando os investimentos por 20 anos; Fale sobre a candidatura do Lula de maneira descontraída; Fale sobre como as mulheres são pouco representadas na política; Fale como a direita não apoia e não sustenta abertamente os LGBT's e por aí vai..."

Na mesma proposta, ela oferece um valor ao influenciador:

"Temos de verba R$ 1.500,00 por mês para a entrega de 1 conteúdo por dia publicado na sua rede social mais relevante, pode ser 1 tweet, 1 story, você escolhe...".

O GLOBO não conseguiu contato com Isabella Bomtempo. Desde que o caso foi denunciado por uma das participantes do grupo, que se recusou a fazer propaganda para o governador do Piauí, Wellington Dias, o PT não se pronunciou.

Rodrigo Cardoso, dono da BeConnect, disse que sua empresa foi contratada pelo PT. Ele tem uma ligação direta com o deputado Miguel Corrêa, dono da Follow. Rodrigo foi nomeado como secretário no gabinete do parlamentar no dia 4 de julho deste ano. Ele também namora uma sobrinha do parlamentar, que é sócia da Follow.

A Follow, segundo o próprio Miguel Corrêa, desenvolveu o aplicativo "Brasil Feliz de Novo"— batizado com o nome da coligação do PT na campanha nacional —, no qual usuários que se dispõem a militar têm acesso a uma série de notícias positivas ao partido disponíveis para compartilhamento. No aplicativo, há ainda um ranking dos usuários mais ativos.

Desde o domingo, O GLOBO tenta contato telefônico Joyce Falete, dono da Lajoy, que se diz responsável por "indicar influenciadores". Não houve resposta, mas uma nota nota enviada pelo deputado Miguel Corrêa, assinada por Joyce, diz que a Lajoy não realizou pagamento a qualquer influenciador.

O GLOBO entrou em contato com Luís Veloso, que participou da iniciativa da aceleradora VBuilders, cujo domínio consta no e-mail de Isabella Bomtempo. Segundo ele, a empresa fica no mesmo andar de um prédio, em Belo Horizonte, onde a Follow é estabelecida.

Luís Veloso também trabalhou com Miguel Corrêa. Ele disse ao GLOBO que se juntou à empreitada por ter experiência no Vale do Silício, mas abandonou o projeto ainda no início.

— Criei uma aceleradora para desenvolver uma análise de influenciadores. Acabei não entrando no negócio — diz.



27/08/2018

domingo, 26 de agosto de 2018

Compromisso com o caos



Resultado de imagem para (Alerj)

A dramática situação do Rio de Janeiro pode ser explicada pelo absoluto desdém com que o Legislativo parece tratar de questões como responsabilidade fiscal e pacto federativo


O Estado de S.Paulo



A dramática situação do Rio de Janeiro, um Estado dragado por uma crise moral, política e econômica sem paralelos na história recente, pode ser explicada, entre outras razões, pelo absoluto desdém com que o Poder Legislativo estadual parece tratar de questões como responsabilidade fiscal e pacto federativo. Às favas com estes conceitos caros apenas aos que exercem o múnus público imbuídos por genuíno espírito republicano quando o que está em jogo é o agrado à poderosa casta do funcionalismo.

Com 36 votos favoráveis e nenhum – pasme o leitor –, nenhum contrário, a Assembleia Legislativa do Rio de Janeiro (Alerj) derrubou o veto do governador Luiz Fernando Pezão (MDB) aos projetos de lei que aumentam em 5% os salários dos servidores do Tribunal de Justiça do Estado (TJ-RJ), do Ministério Público estadual e da Defensoria Pública.

“Não será congelando os salários que o Estado do Rio vai sair da crise”, disse o deputado Gilberto Palmares (PT). Para a deputada Lucinha (PSDB), “o governador fez uma maldade com as pessoas e nós impedimos”. Flávio Bolsonaro (PSL) justificou seu voto favorável ao aumento alegando que “o projeto é anterior à recuperação fiscal e o governo tinha essa dívida a honrar”. Como se pode ver, demagogia e incúria no trato das finanças públicas podem ser mais fortes do que circunstanciais desavenças no campo político-ideológico. Em especial durante ano eleitoral.

A bem da verdade, não se pode dizer que o governador Luiz Fernando Pezão tenha força política para, com folga, fazer passar na Alerj quaisquer projetos de iniciativa do Poder Executivo ou para barrar vetos como o que ora foi derrubado. O governador do Estado está na pior posição em que poderia estar, uma espécie de limbo político, espremido, por um lado, pela pressão da realidade – qual seja, governar um Estado falido sem ter apoio na Alerj – e, por outro, pela aproximação de seu autodeclarado ocaso na política: Pezão já manifestou a intenção de não disputar mais eleições após o término de seu atual mandato, no fim deste ano. Mas ele teve a decência de vetar o aumento descabido.

A irresponsabilidade da Alerj é particularmente grave porque, além de esgarçar ainda mais o rombo da Previdência estadual em R$ 77 milhões anuais, o aumento de 5% dado aos servidores públicos põe em risco a permanência do Rio de Janeiro no Regime de Recuperação Fiscal (RRF) – Lei Complementar Federal n.º 159 –, ao qual o Estado aderiu no ano passado para recompor suas finanças.

Caso o Estado seja excluído do RRF, que veda terminantemente a concessão de aumentos a servidores públicos, entre outras imposições, poderá ser obrigado a ressarcir à União cerca de R$ 18,8 bilhões, segundo cálculos do Tesouro Nacional. Não são necessários cálculos muito sofisticados para estimar o impacto que isso teria no já depauperado cofre do Estado.

Os deputados da Alerj bem que poderiam ter sopesado as dificuldades que se avizinham. Não o fizeram por uma razão muito simples: não importam as barbaridades fiscais cometidas no Estado; a União, por meio do Tesouro Nacional – vale dizer, o conjunto dos contribuintes brasileiros –, vem em socorro na undécima hora. E quando a União tenta fazer valer a força dos contratos, há a mão generosa do Supremo Tribunal Federal (STF) para relativizar o que deveria ter a inarredável força das leis, não só para fazer valer cláusulas pactuadas de acordo com o bom Direito, como para servir de exemplo didático. Em pelo menos duas ocasiões recentes a ministra Cármen Lúcia, presidente da Corte Suprema, concedeu liminares sustando bloqueios de recursos do Estado que deveriam ter sido feitos pela União em função do descumprimento de cláusulas previstas no RRF pactuado com o Rio de Janeiro.

O governo estadual disse em nota que irá ao STF contra a decisão da Alerj que derrubou o veto ao aumento dos salários dos servidores públicos. Será bom para o País se a Corte, ao menos desta vez, olhar com mais atenção para aqueles que nada têm a ver com a crise do Estado, mas pagam a conta.

26 Agosto 2018