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sexta-feira, 9 de novembro de 2018

Investigações mostram que Joesley ‘mentiu e ocultou’ fatos, diz PF



Resultado de imagem para Joesley e Saud seguem ocultando 'fatos relevantes' nas delações
Por Redação Multimídia ESHOJE
Estadao Conteudo


A Polícia Federal afirmou nesta sexta-feira, 9, que as investigações da Operação Capitu, deflagrada em cinco Estados e no Distrito Federal, deixaram claro que o empresário Joesley Batista, do Grupo J&F, “mentiu e ocultou fatos” na delação premiada que firmou no âmbito da Operação Lava Jato. O objetivo de Joesley era “tirar” a PF “da linha de investigação correta”, afirmaram os delegados responsáveis pelo caso.

A Capitu, desdobramento da Lava Jato, investiga pagamento de propina a representantes do Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (Mapa), pelo setor de fornecedores de proteína animal, conforme a PF, em 2014 e 2015. Entre os presos está o vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andrade, que foi ministro da pasta no governo Dilma Rousseff (PT).

O delegado regional da Polícia Federal em Minas Gerais, Rodrigo Morais, disse que a colaboração tinha a tendência de direcionar a investigação da Polícia Federal. “E tirar a Polícia Federal da linha de investigação correta, levando ao interesse desses colaboradores, colocando em risco a própria credibilidade da PF, responsável pela investigação, do Ministério Público e da própria Justiça”, disse o delegado Mario Veloso, responsável pela investigação.

“Isso (a investigação) prejudica a legitimidade dessa colaboração, embora muitas das provas apresentadas e declarações dos colaboradores sejam válidas independente dessa colaboração ser invalidada futuramente ou não”, afirmou Veloso. Conforme lembrou o delegado, a colaboração de Joesley foi rescindida unilateralmente pela Procuradoria-Geral da República (PGR) e aguarda posicionamento final do ministro Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo Veloso, quando as investigações foram confrontadas com as delações feitas dentro da Lava Jato, foram dadas quatro oportunidades para que os colaboradores fornecessem informações, o que não ocorreu. “A PF descobriu omissões intencionais e contradições graves que colocam em cheque a credibilidade da delação. Isso caracterizou obstrução de Justiça e prejuízo à instrução criminal do inquérito. Mentiram e omitiram sobre pontos. Há indícios fortes disso”, disse Veloso. Nas delações, sócios e executivos da JBS afirmam ter repassado recursos para políticos.

Capitu

A operação deflagrada hoje, e que acabou colocando em xeque, na avaliação da PF, a delação de Joesley Batista, que também foi preso nesta sexta-feira, apura o repasse de recursos por frigoríficos a representantes do Ministério da Agricultura. Em troca, medidas que beneficiavam o setor eram tomadas, segundo a PF. Há indícios de pagamento, em uma única negociação, de R$ 15 milhões. O valor total em propina chegaria a R$ 30 milhões.

Os recursos, ainda segundo a corporação, teriam sido repassados a políticos do MDB, partido de Andrade. O deputado estadual João Magalhães (MDB) teve o mandato suspenso e foi proibido de contatar outros investigados na Capitu. Os recursos eram lavados via escritórios de advocacia e por uma rede de supermercados de Minas Gerais. Nenhum nome, das empresas, ou presos, foi divulgado pela PF. Um total de R$ 9 milhões teria sido repassado a candidatos do partido nas eleições de 2014, o que poderá acarretar investigação sobre fraude eleitoral.

Modus operandi

Pelo menos parte dos recursos chegou a ser repassada pela rede de supermercados em malas e caixas de sabão, segundo o delegado Veloso. “Durante as investigações chegamos a falar em pagamento de ‘propina cabo’, em referência ao dólar cabo”. Pelo sistema, um operador da moeda no exterior aciona um doleiro no Brasil e pede que repasse um valor a determinado cliente e, depois, faz o acerto, explicou o delegado. A rede de supermercados é cliente dos fornecedores de proteína animal.

Uma das medidas tomadas pelo Ministério da Agricultura, e que gerou o pagamento de propina, segundo a PF, diz respeito a exportações do setor de proteína animal. “Isso impediu que empresas de menor porte atendessem requisitos do ministério, concentrando produção nas empresas maiores”.

Ao todo foram emitidos 19 mandados de prisão. Do total, três não foram cumpridos até o momento. O vice-governador foi preso em Vazante, Região Noroeste de Minas. Há ainda advogados e empresários entre os alvos dos mandados. Pelo menos um sócio da rede de supermercados é considerado foragido, mas negocia sua entrega à PF. O empresário está no Uruguai.

Um dos mandados foi cumprido em Curitiba, de integrante já preso, que seria o ex-presidente da Câmara dos Deputados Eduardo Cunha. Todos vão responder por constituição de organização criminosa, corrupção ativa e passiva, obstrução de justiça e lavagem de dinheiro. Em Minas o total de prisões, até o momento, é de 8. Todos, exceto o vice-governador, foram encaminhados para a Penitenciária de Segurança Máxima Nelson Hungria, em Contagem, na Grande Belo Horizonte. Andrade seria levado para penitenciária em Uberlândia, no Triângulo Mineiro.

Defesas

Em nota, a defesa do vice-governador Antonio Andrade disse que “haverá manifestação tão logo a defesa tome conhecimento do conteúdo do inquérito. Durante o depoimento, Andrade respondeu tudo o que lhe foi perguntado e colaborou com o trabalho da Polícia Federal”.

O advogado André Callegari afirmou que “Joesley Batista é colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários.”

Em nota, o advogado Pierpaolo Bottini afirmou que “a investigação só existe porque os executivos da J&F colaboraram com a justiça. O acordo segue vigente. Joesley, Ricardo Saud e Demilton Castro já depuseram, cada um deles, três vezes na Justiça, e nunca se recusaram a colaborar. Esperamos que a prisão seja revogada assim que esclarecidos os fatos.”

Leonardo Augusto, especial para AE


9 de novembro de 2018


Joesley Batista e vice-governador de Minas são presos por propinas na Câmara e na Agricultura

Operação Capitu, deflagrada nesta sexta-feira, 9, capturou ainda o empresário Ricardo Saud e o deputado federal eleito Neri Geller (PP/MT); há ainda um mandado de prisão contra Eduardo Cunha (MDB-RJ), que já está custodiado em Curitiba, condenado pela Lava Jato

Fausto Macedo, Julia Affonso
e Breno Pires/BRASÍLIA

Estadão
Joesley Batista.
Foto: Willian Moreira/Futura Press


A Polícia Federal prendeu nesta sexta-feira, 9, o empresário Joesley Batista e o vice-governador de Minas Gerais Antônio Andrade (MDB) na Operação Capitu. A ação mira um suposto esquema que atuava na Câmara dos Deputados e no Ministério da Agricultura, Pecuária e Abastecimento (MAPA).


Além do dono do grupo J&F, foram presos na Capitu outros dois delatores do grupo, Demilton Castro e Ricardo Saud. Entre os 19 presos na operação está o deputado federal eleito Neri Geller (PP/MT), sob suspeita de ter recebido propinas do grupo J&F/JBS. Geller foi localizado em um hotel no município de Rondonópolis, a cerca de 220 quilômetros da capital Cuiabá.

A PF informou que o deputado eleito exercia o cargo de ministro da Agricultura, em 2014, quando teria recebido propinas em troca de decretos que beneficiaram o grupo. As investigações apontam pelo menos R$ 7 milhões destinados a Geller e aliados. A defesa do deputado eleito disse que só vai se manifestar quando tiver acesso aos autos do inquérito.

Há ainda um mandado de prisão contra o ex-presidente da Câmara Eduardo Cunha (MDB-RJ). O ex-deputado está preso em Curitiba, condenado pela Operação Lava Jato.

A Operação Capitu tem o apoio da Receita. Estão sendo cumpridos 63 mandados judiciais de busca e apreensão e 19 mandados de prisão temporária, todos expedidos pelo Tribunal Regional Federal da 1ª Região.

Em nota, a PF informou que participam da operação 310 policiais federais nos estados de Minas Gerais, São Paulo, do Rio de Janeiro, de Mato Grosso, da Paraíba e no Distrito Federal.

Entenda a investigação que prendeu Joesley Batista

A Polícia Federal informou que instaurou um inquérito policial em maio deste ano, baseado em declarações do corretor Lúcio Bolonha Funaro, sobre supostos pagamentos de propina a servidores públicos e agentes políticos que atuavam direta ou indiretamente no MAPA em 2014 e 2015. Segundo o delator, a JBS teria repassado R$ 7 milhões para o grupo político do PMDB da Câmara. Desse valor, o então ministro da Agricultura e atual vice-governador de Minas Gerais, Antônio Andadre, teria recebido R$ 3 milhões da propina paga pela empresa de Josley Batista e outros R$ 1,5 milhão teriam sido enviados ao ex-deputado Eduardo Cunha.

A PF identificou que o grupo empresarial dependia de normatizações e licenciamentos do MAPA e teria passado a pagar propina a funcionários do alto escalão do Ministério em troca de atos de ofício, que proporcionariam ao grupo a eliminação da concorrência e de entraves à atividade econômica, possibilitando a constituição de um monopólio de mercado. As propinas eram negociadas, geralmente, com um deputado federal e entregues aos agentes políticos e servidores do MAPA pelo operador Lúcio Bolonha Funaro.

Entre os atos de ofício praticados pelos servidores do MAPA, de acordo com a PF, destacam-se a expedição de atos normativos, determinando a regulamentação da exportação de despojos; a proibição do uso da ivermectina de longa duração; e a federalização das inspeções de frigoríficos. O grupo empresarial teria R$ 2 milhões pela regulamentação da exportação de despojos e R$ 5 milhões pela proibição do uso da ivermectina de longa duração.

Segundo a PF, um deputado federal da Paraíba à época dos fatos teria recebido R$ 50 mil do grupo como contrapartida, em decorrência da tentativa de promover a federalização das inspeções sanitárias de frigoríficos por meio de uma emenda, cujo objeto tinha natureza totalmente diversa do escopo da medida provisória nº 653/2014 na qual foi inserida.

Teria havido também, por parte do grupo empresarial, o financiamento ilegal de campanha de um deputado federal para a presidência da Câmara dos Deputados, em troca de atendimento dos interesses corporativos do grupo no MAPA; sendo de R$ 30 milhões o valor solicitado para tal financiamento. Desse total, o deputado teria destinado 15 milhões a um deputado federal mineiro de seu partido; tendo a bancada mineira de seu partido recebido parte do montante, após a lavagem do dinheiro.

Esses valores teriam sido depositados pelo grupo em contas bancárias de seis escritórios de advocacia, que teriam repassado os valores lavados aos beneficiários finais, conforme determinação do deputado federal mineiro e de seu operador, também deputado federal. Os escritórios de advocacia teriam emitido notas fiscais frias, visto nunca ter havido qualquer prestação de serviço ao grupo empresarial.

Uma das maiores redes de supermercado do País também teria integrado a engrenagem de lavagem de dinheiro oriundo do esquema, repassando aos destinatários finais os valores ilícitos em dinheiro vivo e em contribuições “oficiais” de campanha. O total de doações “oficiais” feitas por empresas vinculadas e administradas por um empresário do ramo de supermercados nas eleições de 2014 totalizou quase R$ 8,5 milhões. O esquema alvo fez entregas de dinheiro ‘em caixas de sabão e malas’.

Durante as apurações, segundo a PF, ‘houve clara comprovação de que empresários e funcionários do grupo investigado – inicialmente atuando em colaboração premiada com a PF – teriam praticado atos de obstrução de justiça, prejudicando a instrução criminal, com o objetivo de desviar a PF da linha de apuração adequada ao correto esclarecimento dos fatos’. Daí o nome da Operação, Capitu, a personagem dissimulada da obra prima de Machado de Assis, Dom Casmurro.

Os envolvidos deverão ser indiciados pelos crimes de constituição e participação em organização criminosa, obstrução de justiça, corrupção ativa, corrupção passiva e lavagem de dinheiro, dentre outros. Caso haja condenação, as penas máximas poderão variar entre 3 e 120 anos de reclusão, proporcionalmente à participação de cada investigado.

A reportagem está tentando localizar todos os citados. O espaço está aberto para manifestação.

COM A PALAVRA, JOESLEY BATISTA

Joesley Batista é colaborador da Justiça e tem cumprido à risca essa função. Portanto, causa estranheza o pedido de sua prisão no bojo de um inquérito em que ele já prestou mais de um depoimento na qualidade de colaborador e entregou inúmeros documentos de corroboração. A prisão é temporária e ele vai prestar todos os esclarecimentos necessários.

André Callegari, advogado do Joesley Batista

COM A PALAVRA, O ADVOGADO PIERPAOLO BOTTINI

A investigação só existe porque os executivos da J&F colaboraram com a justiça. O acordo segue vigente. Joesley, Saud e Demilton já depuseram, cada um deles, três vezes na Justiça, e nunca se recusaram a colaborar. Esperamos que a prisão seja revogada assim que esclarecidos os fatos.

Pierpaolo Cruz Bottini

COM A PALAVRA, O ADVOGADO DÉLIO LINS E SILVA JR, QUE DEFENDE EDUARDO CUNHA

“Aparentemente, o castelo de cartas de Joesley Batista começa a desmoronar. A história é fantasiosa e, mais uma vez, a palavra sem valor desse delator não vem acompanhada de nenhuma prova. Dessa vez, pelo menos, a Polícia Federal e o Poder Judiciário começam a perceber a farsa. Eduardo Cunha tem convicção de que, ao final, será excluído dessa investigação.” Délio Lins e Silva Jr

09 Novembro 2018



quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Marcelo Odebrecht diz que obra no sítio de Atibaia foi a 1ª destinada à 'pessoa física de Lula'


Ex-diretor da empreiteira Alexandrino Alencar contou que ex-primeira dama queria dar presente a petista

O Globo
O ex-presidente Lula e o empresário Marcelo Odebrecht
Foto: Montagem/ Arquivo O Globo

SÃO PAULO — Os ex-presidentes da Odebrecht , Marcelo e Emilio Odebrehct, confirmaram nesta quarta-feira, em depoimento à juíza federal Gabriela Hardt, substituta de Sergio Moro, que a empresa bancou obras de sítio em Atibaia para o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva . Marcelo disse que as intervenções realizadas na propriedade foram a primeira destinada à "pessoa física do Lula".
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- Seria a primeira vez que a gente estaria fazendo uma coisa pessoal para presidente Lula. Até então, por exemplo, tinha tido o caso do terreno do instituto, bem ou mal, era para o Instituto Lula, não era pra pessoa física dele.

Marcelo e o seu pai, Emilio, fecharam acordo de delação premiada. Então presidente da empresa, Marcelo disse que só ficou sabendo da obra no sítio quando ela já estava em andamento. Ele inicialmente resistiu por causa dos riscos de que a obra fosse descoberta.

Depois de aceitar a obra, o então presidente da empreiteira acertou que os valores gastos para as intervenções seria descontados da planilha italiano, gerenciada pelo ex-ministro Antonio Palocci. Essa propina reuniria dinheiro de propina destinado ao PT.

- Eu até combinei com o Palocci. Vamos fazer aqui um débito na planilha italiano de R$ 15 milhões, eu e você, que é para atender esses pedidos que nem eu e você ficamos sabendo que Lula e meu pai acertam.

Também prestou depoimento em audiência do processo no âmbito da Lava-Jato o ex-diretor da empreiteira Alexandrino Alencar. Ele disse que as obras no sítio foram feitas a pedido da ex-primeira dama Marisa Leticia, que teria manifestado interesse em presentear Lula quando ele deixasse o comando do país. As obras tiveram início em 2010.

Ao receber o pedido para realizar intervenções no sítio, Alexandrino, que também fez acordo de delação premiada, procurou Emílio, na época presidente do conselho da Odebrecht.

- Emílio disse: 'não, lógico'. Eu acho que nós temos uma retribuição a isso, a tudo que o presidente fez pela organização' - afirmou o ex-diretor.

Já Emilio confirmou que aprovou o pedido de realização da obra no sítio feito por Marisa Leticia para Alexandrino. Contou também que recomendou ao diretor que fosse o "mais discreto possível" na execução das intervenções.

O ex-presidente do conselho da empresa relatou ainda que autorizou a obra por causa das relações que mantinha com Lula, classificadas por ele com "ativo intangível que não tem preço".

- Os intangíveis que o presidente Lula sempre teve com a minha pessoa e naturalmente com a organização, de eu puder ter oportunidade de dialogar com ele, de influenciar sobre o que nós achávamos que era importante para o Brasil.

Emilio afirmou que Lula "pessoalmente" nunca lhe pediu nada.

07/11/2018

STF deve restringir auxílio-moradia de juízes ainda neste ano


Tendência é Corte reduzir pagamento apenas a casos específicos, onde não haja imóveis funcionais e mediante a apresentação de recibo

Carolina Brígido
O Globo

Plenário do STF, durante sessão
Foto: Nelson Jr./STF



BRASÍLIA — Depois da aprovação pelo Congresso Nacional do reajuste para juízes, o Supremo Tribunal Federal (STF) deve derrubar em plenário, ainda neste ano, a regra atual do auxílio-moradia. Hoje, o benefício é concedido a todos os magistrados, mesmo que já tenham imóvel na cidade onde trabalham e não precisem pagar o aluguel. A tendência é a Corte reduzir o pagamento apenas a casos específicos, onde não haja imóveis funcionais disponíveis, e mediante a apresentação de recibo do pagamento do aluguel.

O acerto com o governo foi conduzido pelo presidente do STF, Dias Toffoli, e pelo vice, Luiz Fux. Eles já tinham concordado em pautar o processo para julgamento em plenário assim que fosse aprovado o reajuste para a categoria. Fux é o relator dos processos que tratam do benefício. Hoje, cada juiz ganha, em média, de R$ 4 mil a R$ 6 mil a título de auxílio-moradia. O custo ao Judiciário é de cerca de R$ 289 milhões aos cofres públicos por ano.

Nos bastidores, ministros do STF tratam com prioridade definir logo o assunto, agora que a disputa acerca do reajuste está equacionada. Ministros também querem aproveitar para julgar processos sobre outros penduricalhos nos contracheques do Judiciário e do Ministério Público.

Nesta quarta, após a aprovação, Toffoli disse que será possível "enfrentar" a questão do auxílio-moradia e afirmou que irá conversar com Fux para discutir o melhor momento de pautar as ações sobre o tema.

— Em nome do Supremo Tribunal Federal, em nome de todo o Poder Judiciário, eu gostaria de agracer ao Congresso Nacional a aprovação desse projeto. Principalnente porque agora poderemos enfrentar a questão do auxilio-moradia. Vou conversar com o relator do caso, o vice-presidente do Supremo, Luiz Fux, para ver a melhor hora de nós deliberarmos a respeito — disse
 
A remuneração irá subir de R$ 33,7 mil para R$ 39,2 mil. O aumento tem efeito cascata, provoca reajustes para magistrados, e faz subir o teto salarial para o funcionalismo — que tem como referência o salário de ministros do STF. A aprovação deve gerar um rombo de R$ 4 bilhões para União e estados, segundo cálculos de técnicos da Câmara.

07/11/2018

terça-feira, 6 de novembro de 2018

Em busca de Messias


A indiscutível eleição de Jair Messias Bolsonaro o alçou a líder de massas.

Mas para não incorrer no mesmo erro de outros “salvadores da pátria” que acabaram experimentando o infortúnio, o presidente eleito terá de entender um princípio elementar da democracia:
ele não pode tudo

Rudolfo Lago, Ary Filgueira e Wilson Lima Revista IstoÉ


Seu nome — Jair Messias Bolsonaro — soou quase como uma premonição. Sua atuação nesse momento conturbado do País o converteu em mito. Suas promessas e críticas ácidas aos descaminhos na política, economia e costumes lhe elevaram à condição de salvador da pátria. Não é de hoje, os brasileiros correm em busca de um mandatário que os conduza ao Olimpo político, econômico e social. Já nos anos de 1930, Getúlio Vargas revestia-se de “pai dos pobres”. Nos idos de 1960, Jânio Quadros usaria sua vassoura para “varrer do país a corrupção”.

Na década de 80, o povo declarou-se “fiscal do Sarney” na defesa do Plano Cruzado. Fernando Collor encarnava o protetor dos “descamisados”, o “caçador de marajás”. Nos anos 90 e 2000, as urnas consagraram o sociólogo FHC para “salvar” a economia e o ex-metalúrgico Lula, eleito sob a bandeira de exterminar a desigualdade social e acabar com o fosso profundo existente entre ricos e pobres no Brasil. Por fim, o País escolheu como mandatária Dilma Rousseff, embalada na campanha como a “mãe do PAC”.

A história determinou de forma inexorável o destino trágico da maioria dos salvadores anteriores. Vargas suicidou-se. Jânio Quadros renunciou. Sarney deixou o governo sob a pecha de presidente mais impopular do País. Collor e Dilma experimentaram o mesmo infortúnio, o impeachment, enquanto Lula, “o cara”, foi parar atrás das grades, condenado por corrupção. Segue-se assim a sina — mais que brasileira, latino-americana — da busca de um salvador da Pátria para resolver nossos complexos problemas. Sina que, até agora, só fez gerar grandes expectativas que se frustraram com o tempo.

BOLSOMITO
O presidente eleito é carregado por apoiadores depois da vitória eleitoral. Cenas como essa se repetiram à exaustão ao longo da campanha, que o transformou no mais novo líder popular do País

(Crédito:Jonne Roriz)


Agora, como num filme repetido, o País sai em busca não de um governante, mas de um Messias. Mais do que eleitores, Bolsonaro atraiu seguidores que multiplicaram sua exposição pelos recantos do Brasil. Para dar a exata medida desse crescimento exponencial, o presidente eleito possuía, em 2014, 204 seguidores no Facebook. O número pulou para 8 milhões na campanha e alcançou inacreditáveis 18 milhões no final do pleito. Para o bem da nação, espera-se que não se frustrem novamente.


Trabalho pela frente

A gestão paternalista de um mandatário que pode tudo e zela como um pai caridoso pelos seus, como se nota, mora na essência do presidencialismo nativo. Nestes primeiros dias depois de sua eleição no domingo 28, Bolsonaro já ensaia novamente personificar esse figurino. Com todos os riscos inerentes a isso. Por exemplo, na semana seguinte à eleição, o País assistiu apreensivo cabeças se baterem na busca das soluções mágicas que poderão ser menos simples do que se imaginava. Num dos caminhos sugeridos, Bolsonaro quis adiantar a reforma da Previdência. Trata-se de uma agenda inevitável, sobre a qual o País terá que se debruçar em algum momento. Bolsonaro imaginou que podia adiantá-la, partindo da proposta original do governo Michel Temer, com modificações. Assim, pensou em tê-la aprovada ainda este ano, antes de tomar posse no dia 1º de janeiro, o que já deixaria pavimentada a estrada que pretende trilhar em seu governo. A ideia foi esvaziada como um balão furado antes que terminasse a primeira semana após a eleição. Dentro do governo, consolidou-se a sensação de que todos terão muito trabalho pela frente. “Será realmente um período de muita labuta. Há um grupo político sem praticamente qualquer outra experiência administrativa disposto a resolver tudo a partir do zero. Querendo revolucionar a prática política. É louvável, mas há um risco grande disso provocar certa paralisia no início e gerar um processo conturbado”, prevê o professor titular de História do Brasil da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), Carlos Fico.

No próprio eixo bolsonarista existe o temor de que o próximo governo não consiga tirar do papel pautas relevantes e que ajudaram a eleger o capitão reformado, gerando uma reversão de expectativas. Aliados de Bolsonaro admitiram a ISTOÉ, em caráter reservado, que os primeiros cem dias de governo serão vitais para encaminhar as propostas mais substanciais do novo governo. Em relação à Previdência, por exemplo, é consenso itens como a idade mínima de 65 anos, por exemplo. Contudo, integrantes do novo governo já admitem que serão necessárias alterações também no regime de aposentadoria para os militares, para que o novo presidente não seja acusado de ser “corporativista” na nova reforma. “O problema é que o Bolsonaro sempre defendeu os militares. E agora ele fará o contrário? É uma saia justa”, admitiu, em caráter reservado, um aliado.

Há ainda uma série de outros desafios pela frente capazes de gerar apreensão. Alimenta-se uma expectativa de que o presidente eleito empenhe seu prestígio pessoal e capital político na busca pela pacificação do País. E ele promete reiteradamente que o fará. Mas serenar o ambiente não será tarefa trivial. Para distencioná-lo, Bolsonaro precisará controlar seus radicais, muitos dos quais imbuídos de um espírito revanchista nada apropriado ao momento. Em paralelo, o presidente eleito precisará saber lidar com os radicais de uma oposição que promete marcação cerrada. E não necessariamente republicana. Guilherme Boulos, candidato derrotado do PSOL, articula protestos para as próximas semanas. A ordem é não deixar o governo respirar. O MST também planeja invasões. Integrantes do governo entendem que será preciso serenidade, mas sem perder o pulso firme exigido pelos eleitores sedentos por “ordem”. Resta saber como o presidente irá equilibrar essa balança.


Pacificar o ambiente não será tarefa trivial. Bolsonaro terá de controlar seus radicais e os radicais da oposição, se quiser ter paz para governar


Princípio da impessoalidade

Pululam também temores de que pendores autoritários, não raro demonstrados ao longo da trajetória política de Bolsonaro, prevaleçam durante o exercício da Presidência. São consubstanciados no ataque feito pelo presidente eleito ao jornal Folha de S.Paulo na entrevista ao Jornal Nacional da TV Globo na segunda-feira 29. Ao reagir às reportagens do jornal, Bolsonaro insinuou que poderia retaliar o jornal na distribuição de verbas publicitárias. Como presidente, Bolsonaro pode até reduzir de forma global os valores de sua verba de publicidade. Mas, se distribuí-la de forma discricionária, usando-a como instrumento de pressão sobre quem o critique, estará descumprindo o princípio da impessoalidade na administração, definido pela Constituição. “Depois de mais de trinta anos de democracia, as instituições brasileiras estão fortes. E reagirão caso sejam atacadas”, considera Carlos Fico.

SEPULTADO PELAS URNAS
Apoiadores de Bolsonaro comemoram o enterro do PT no domingo 28

(Crédito:Guito Moreto)


O messianismo político na América Latina nasce da cultura monárquica oriunda de Portugal e Espanha, países que adotavam como políticas reais uma “descentralização centralizada”. A medida transformava o rei numa espécie de “salvador da pátria” para evitar que danos maiores acontecessem. Um exemplo foi a campanha para que D.Pedro II tivesse a sua maioridade antecipada. O objetivo era debelar o caos gerado pelo governo regencial de Diogo Feijó, período marcado por insurreições populares, como a Revolução Farroupilha e a Sabinada.

FIM TRÁGICO
O ciclo de Getúlio Vargas, o “pai dos pobres”, terminou em suicídio
(Crédito:Diário da Noite/D.A Press)


Valendo-se dessa cultura, políticos populistas transformaram o continente americano em um laboratório de políticas de cunho estritamente eleitoreiro, usando sempre a imagem de salvador da nação. Ocorre que a política fecunda não é construída pelos messias, pelos heróis ou fanfarrões. Bolsonaro foi eleito com 57 milhões de votos. Mas a maioria dos brasileiros não elegeu Bolsonaro. Somados os que votaram em Fernando Haddad, do PT, e os que se abstiveram de fazer uma escolha no segundo turno, são 87 milhões de brasileiros. Trata-se de um sinal de alerta importante. Os brasileiros estarão vigilantes. Espera-se que ele salve a pátria. Mas só conseguirá assim fazer caso entenda que não pode tudo.

01/11/18

Moro planeja replicar força-tarefa da Lava-Jato no combate ao crime organizado

Magistrado defendeu operações com agentes infiltrados


Por Silvia Amorim
O Globo
O juiz Sergio Moro disse que não aceitou ser ministro da Justiça como parte de um "projeto de poder"
Foto: HEULER ANDREY / AFP

RIO e SÃO PAULO — O juiz Sergio Moro — anunciado como ministro da Justiça e da Segurança Pública no governo do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) — planeja replicar no ministério a força-tarefa adotada na Operação Lava-Jato no combate ao crime organizado. Em entrevista coletiva nesta terça-feira, o futuro ministro citou como exemplo a atuação do FBI no combate às máfias em Nova York. Moro vai participar da equipe de transição de Bolsonaro.
 
— Pretendo utilizar forças-tarefas não só contra esquema de corrupção, mas contra o crime organizado. Nova York, na década de 1980, combateu cinco famílias poderosas por meio da criação de forças tarefas. O FBI, em conjunto com as Promotorias locais ou federais, logrou desmantelar organizações. Embora elas não tenham deixado de existir, têm uma força muito menor que no passado.



Moro afirmou ainda que pretende implantar operações policiais disfarçadas para combater o crime organizado. Uma das iniciativas seria implantar agentes infiltrados em negociações de compra de drogas ou armas, a fim de entender como funcionam as organizações do tráfico, anunciou o futuro ministro. O modelo também é inspirado no adotado pelos Estados Unidos na década de 80.


Sobre a proposta chamada de excludente de ilicitude do presidente eleito para garantir que policiais não respondam à Justiça por mortes em serviço dar respaldo jurídico, Moro disse que "é preciso discutir a normativa para essas situações". De acordo com o magistrado, essa não é preocupação exclusiva do presidente eleito, mas também de membros das Forças Armadas.

— Esses casos precisam de um protocolo. Precisamos analisar se já não estão cobertos pela legislação. E o que fazer para se criar uma norma. Em nenhum momento foi defendido o confronto — ressaltou lembrando do alto índice de morte de policiais no Brasil.

O magistrado listou uma série de ações contra o crime organizado que devem ser tomadas a partir do ano que vem, como proibição de progressão da pena quando houver indício de ligação do detento com uma organização criminosa e alteração na regra de prescrição de crimes. Ele também prometeu investir em equipamento para as polícias.

O magistrado disse ainda que seria inconsistente com a plataforma eleitoral de Bolsonaro ir contra a flexibilização da posse de armas, mas afirmou que demonstrou ao presidente eleito sua preocupação de que uma flexibilização excessiva possa gerar fornecimento de armas a organizações criminosas.

Sem dar detalhes, Moro afirmou que apresentará uma série de propostas de combate ao crime organizado. A ideia, diz, é resgatar parte das "dez medidas contra a corrupção", projeto encabeçado pelo Ministério Público Federal.

Entre as propostas, está a possibilidade de os procuradores negociarem a pena ("plea bargain"), o que, afirma Moro, ajudaria a aliviar a Justiça, e aumentar a proteção de denunciantes anônimos, entre outras.

Antes mesmo da primeira pergunta da entrevista, Moro rebateu as acusações de que o processo contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva serviu como base para sua estreia na política . Segundo o magistrado, ele aceitou o convite para ocupar o ministério para impor uma agenda anticorrupção e anticrime organizado no país.

— Não posso pautar minha vida por um álibi falso de perseguição política. Aceitei esse convite, porque entendi que tinha uma agenda importante de combate à corrupção e ao crime organizado — disse ele.

Em pouco mais de uma hora e meia de conversa com jornalistas, o futuro ministro falou sobre propostas polêmicas como a flexibilização do Estatuto do Desarmamento, a redução da maioridade penal para 16 anos, a classificação de movimentos sociais como terroristas, uma indicação ao Supremo Tribunal Federal no futuro e o risco de ameaça à democracia.

Seguem os principais trechos da entrevista:

Relação com o Congresso

"É inevitável que haja diálogo com outras instituições e em especial o Congresso."

Aceitação do cargo de ministro

"Eu sei que é uma decisão controvertida que gerou críticas por parte da imprensa, organismos internacionais. Tomei a decisão que me pareceu melhor para buscar a consolidação dos avanços nos últimos anos em relação à corrupção e não corrermos risco de retrocesso. Não creio que contrariei afirmação que fiz há anos de que jamais entraria na política. Eu sigo para atuar numa função eminentemente técnica. Não tenho nenhuma pretensão de concorrer a cargos eleitorais em qualquer momento da minha vida."



Crime organizado

"Embora a estratégia não seja a do confronto, temos que reconhecer que ele é uma possibilidade. Sabemos que temos regiões que são dominadas por organizações criminosas territorialmente. Talvez ele tenha sido mais grave no passado, mas ainda é grave. As pessoas vivem nessas áreas quase num estado permanente de exceção, dominadas por gagues armadas. Isso é intolerável e precisa ser enfrentado. A estratégia tem que ser a de evitar qualquer tipo de confronto. Havendo, porém, o confronto, tem que se discutir a situação de um agente policial que alveja um desses traficantes. A nossa legislação, ao meu ver, contempla as situações de legítima defesa e estrito cumprimento do poder legal. Tem que avaliar se é necessário uma regulação melhor".

Incorporação do Coaf ao Ministério da Justiça

"Essas questões ainda estão sendo estudadas, mas acho pertinente a vinda do Coaf para o Ministério da Justiça e da Segurança Pública porque ele trabalha com a prevenção à lavagem de dinheiro e como órgão de inteligência. Isso tem muito mais relação com a Justiça do que da Fazenda".

Direito das minorias

"A ação do ministério não se resume à corrupção. Para essas outras áreas, vai haver uma atenção. Claro que o foco da agenda inicial é anticorrupção e anticrime organizado, mas nenhuma das áreas que estão no âmbito das atribuições do ministério vão ser negligenciadas".

Flexibilização do Estatuto do Desarmamento

"Conversei com o presidente eleito e existe uma plataforma na qual ele se elegeu que prega a flexibilização da posse de armas. Dentro disso, me parece inconsistente agir de maneira contrária. Quando falamos de posse, falamos da arma mantida em casa. Se houve uma reclamação geral por aqueles que desejam ter posse de arma, então existe uma discussão. Eu externei minha preocupação a ele de que uma flexibilização excessiva pode ser muitas vezes utilizada como fonte de armamento para organizações criminosas. Então tem que pensar quantas armas cada indivíduo vai poder ter em sua casa. Se for um número exagerado, há risco de desvio de finalidade. Quanto ao porte, o próprio presidente tem posição de que isso tem que ser mais restrito".

Redução da maioridade penal

"Existe uma proposta em discussão que prevê a redução para 16 anos em casos de crimes graves. O adolescente precisa ser protegido, mas um jovem acima de 16 anos já tem condições de percepção que não pode matar. Um tratamento diferenciado para esses casos me parece razoável. Se pode argumentar que isso não resolve o problema da criminalidade. De fato. Mas existem questões relativas à Justiça individual, de pais que perdem seus filhos ou filhos que perdem pais, e a mudança é para fazer Justiça a esses casos".
06/11/2018

segunda-feira, 5 de novembro de 2018

Ex-executivos da Odebrecht confirmam reforma no “sítio do Lula”


Brasil
O Antagonista
A juíza Gabriela Hardt ouviu mais cedo os ex-executivos da Odebrecht Emyr Diniz Costa Júnior e Carlos Guedes Paschoal, que viraram colaboradores.

Eles confirmaram a atuação no “sítio de Lula”.
05.11.18

Diário Oficial publica os 27 nomes da transição de Bolsonaro


    

Lista conta com integrantes já anunciados anteriormente, entre eles o general da reserva Augusto Heleno e o economista Paulo Guedes
 

Reprodução/TV Globo




Vinte e sete nomes que vão trabalhar no governo de transição do presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) foram divulgados nesta segunda-feira (5/11) em edição extra do Diário Oficial da União (DOU). São 22 indicados pelo presidente eleito e outros cinco pela atual gestão, do presidente Michel Temer.

A lista conta com nomes anunciados anteriormente, entre eles o general da reserva Augusto Heleno e o tenente-coronel da reserva das Forças Armadas e astronauta Marcos Pontes, e o economista Paulo Guedes.

Os atuais presidente e vice-presidente do PSL estão na lista: Gustavo Bebianno e Gulliem Lemos – ou Julian Lemos, eleito deputado federal pelo PSL-PB.

Pelo menos cinco dos 22 nomes são da equipe econômica gerida por Paulo Guedes: o economista do Ipea e doutor pela Universidade de Brasília (UnB) Adolfo Sachsida; os professores da Unifesp e especialistas em contas públicas Arthur e Abraham Weintraub; o expert em tributos Marcos Cintra; e o ex-diretor do BNDES Carlos Alexandre Jorge da Costa.

O cientista político da Universidade de Brasília Antônio Flávio Testa também está ente os nomeados. Ele colaborou com a campanha de Bolsonaro e reuniu-se com o grupo de militares que ajudaram a criar o plano de governo do militar da reserva em Brasília.

Ex-diretor do Banco Central e da Vale, Roberto da Cunha Castello Branco também integra a lista dos 22 anunciados no DOU. Há outros economistas, como o doutor pela UnB Waldery Rodrigues Júnior e o ex-secretário do Tesouro Nacional Carlos Von Doellinger.

Leia abaixo todos os nomes da equipe de transição do novo governo:

Os 22 nomes da transição de Bolsonaro
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  • MARCOS AURÉLIO CARVALHO,
  • MARCOS CÉSAR PONTES,
  • LUCIANO IRINEU DE CASTRO FILHO,
  • PAULO ANTÔNIO SPENCER UEBEL,
  • AUGUSTO HELENO RIBEIRO PEREIRA,
  • GUSTAVO BEBIANNO ROCHA,
  • ARTHUR BRAGANÇA DE VASCONCELLOS WEINTRAUB,
  • GULLIEM CHARLES BEZERRA LEMOS,
  • EDUARDO CHAVES VIEIRA,
  • ROBERTO DA CUNHA CASTELLO BRANCO,
  • LUIZ TADEU VILELA BLUMM,
  • CARLOS VON DOELLINGER,
  • BRUNO EUSTÁQUIO FERREIRA CASTRO DE CARVALHO,
  • SÉRGIO AUGUSTO DE QUEIROZ,
  • ANTÔNIO FLÁVIO TESTA,
  • CARLOS ALEXANDRE JORGE DA COSTA,
  • PAULO ROBERTO NUNES GUEDES,
  • WALDEMAR GONÇALVES ORTUNHO JUNIOR,
  • ABRAHAM BRAGANÇA DE VASCONCELLOS WEINTRAUB,
  • JONATHAS ASSUNÇÃO SALVADOR NERY DE CASTRO,
  • ISMAEL NOBRE,
  • ALEXANDRE XAVIER YWATA DE CARVALHO,
  • PABLO ANTÔNIO FERNANDO TATIM DOS SANTOS,
  • WALDERY RODRIGUES JUNIOR,
  • ADOLFO SACHSIDA, e
  • MARCOS CINTRA CAVALCANTI DE ALBUQUERQUE.


05/11/2018

No fundo do poço


Resultado de imagem para Lula estava na lona

Deve ser extraordinariamente pesado para Lula convencer o público de que é um "preso político" após a sentença que recebeu do eleitorado brasileiro

J.R. GUZZO
REVISTA VEJA



Quatro anos atrás, apenas quatro anos atrás, o ex-­presidente Lula estava no topo do mundo — ou, pelo menos, acreditava que não havia ninguém acima dele no resto do planeta. Tinha sido presidente da República, eleito e reeleito, por oito anos seguidos.

Nesse período, por uma razão ou outra, convenceu os grandes colossos do pensamento político brasileiro e internacional de que seu governo havia sido um fabuloso sucesso, e de que ele, pessoalmente, era um novo Stupor Mundi, o “Espanto do Mundo” neste despertar do século XXI. “He’s the man”,disse dele Barack Obama — ele é “o cara”. Outros altos lordes da cena mundial, do secretário-geral da ONU ao Santo Padre o Papa, lhe prestavam homenagem.

Economistas, sociólogos e filósofos acreditavam que Lula conseguira “avanços sociais” inéditos para o Brasil — uma combinação rara de distribuição de renda, eliminação da pobreza e progresso econômico. Tinha eleito sua sucessora Dilma Rousseff, uma nulidade da qual ninguém jamais ouvira falar — e, mais ainda, conseguira o quase milagre da sua reeleição, em 2014.

Tinha sobrevivido a pelo menos um escândalo gigante, o da corrupção em massa de parlamentares do mensalão. Tinha descoberto o pré-sal e ia fazer o Brasil entrar na Opep. Tinha construído um estádio bilionário para o Sport Club Corinthians Paulista.


Neste domingo, ao se encerrar a apuração do segundo turno da eleição presidencial de 2018, Lula estava na lona — ou, se quiserem, continuava na sua viagem rumo ao fundo do poço, que ele iniciou dois ou três anos atrás e imaginou que fosse capaz de interromper com uma vitória eleitoral milagrosa. Seu candidato, Fernando Haddad, foi derrotado por um adversário que até seis meses atrás não existia na política brasileira. Confirmou-se, no segundo turno, o que foi anunciado no primeiro:

Lula, hoje, é uma garantia de derrota para tudo o que aparece ligado ao seu nome.
Quer ganhar uma eleição? Mostre ao eleitorado, como fez Jair Bolsonaro, que você é 100% contra Lula. Seu partido virou picadinho. Sua reputação continua em ruínas, e só afundou mais com a ação arruaceira do PT para tumultuar o pleito. Pior que tudo, Lula sai das eleições no mesmo lugar onde estava quando entrou nelas: na cadeia, cumprindo há sete meses uma pena de doze anos por corrupção e lavagem de dinheiro. Após mais de trinta anos no centro das decisões, pode estar a caminho de ser eliminado como uma força ativa na vida política do Brasil.


O que aconteceu com Lula e com o PT em tão pouco tempo?

É extraordinariamente pesado para Lula, depois de usar um maciço sistema de forças, pressões e dinheiro para convencer o público de que é um “preso político” condenado sem “provas”, receber a sentença que ele recebeu do eleitorado brasileiro: não, não queremos mais que você seja presidente; queremos, isto sim, que você continue na cadeia.

Está na cara que em algum momento, entre as alturas de 2014 e o desastre da eleição de 2018, alguma coisa deu horrivelmente errado.

O que foi?

Na verdade, muitas coisas deram errado — ou, mais exatamente, quase nada mais deu certo desde o momento em que, já no segundo governo Dilma, a Justiça brasileira começou a investigar de verdade a corrupção no governo. A Operação Lava-Jato foi um terremoto em câmera lenta. Continua até hoje a mandar gente para a penitenciária, mas no início praticamente ninguém acreditava que aquilo fosse dar em alguma coisa. Nunca tinha dado. Por que iria dar agora?


Pior que estar errado é continuar errando, e nisso Lula tem se mostrado insuperável ao longo de seus anos de desmanche. Não é tão complicado assim entender o porquê. Um dos problemas do ex-presidente é essa coisa de dizerem o tempo todo que ele é um gênio da política, um cérebro com capacidade sobrenatural para sair ganhando de qualquer desastre em que se mete.

Falam assim os devotos, os admiradores liberais, a mídia, o mundo e os adversários.

A complicação é que o ex-presidente acredita nisso tudo. Parece não compreender que, quando os entendidos em política anunciam que Lula é capaz de voar, quem tem de acreditar é a plateia, não ele. Mas Lula acredita — e, como não voa, só pode mesmo acabar despencando no chão.

Talvez ninguém tenha resumido a situação tão bem quanto o senador eleito Cid Gomes, do Ceará, ao ser confrontado com um pelotão de fiéis que gritavam “Lula, Lula”, logo após o naufrágio no primeiro turno. “O Lula está na cadeia, babaca”.

Acontece que a Lava-Jato e o trabalho do juiz Sergio Moro, mais o Ministério Público, a Polícia Federal e o TRF-4 de Porto Alegre, acabaram, sim, dando em muita coisa — na verdade, jamais uma ação do Judiciário brasileiro deu em tanta coisa.

Eventualmente, com o tempo, mostraram que o rei estava nu, ao provar que nos governos de Lula e de Dilma a prática da corrupção superou a roubalheira de qualquer outra época, talvez em qualquer lugar do mundo. Lula esteve entre os que não acreditaram que a terra começava a tremer. Estava errado.


Sua principal conquista, hoje, se resume a sair um dia da prisão — pouca coisa para quem já esteve na primeiríssima classe da vida. O fato é que o ex-presidente não soube reagir quando começou a sofrer derrotas, e a melhor demonstração disso é que não quis, em nenhum momento, admitir que tinha sido derrotado em alguma coisa.

Em vez disso, e de pensar com seriedade nas causas de seus problemas, resolveu embarcar num cruzeiro de ilusões. Problema? Que problema? No primeiro tombo complicado, no episódio do Mensalão, começou dizendo que tinha sido “apunhalado pelas costas” e que o povo merecia “desculpas” — mas, um minuto depois de ver que ia escapar do desastre a preço de custo, voltou atrás e passou a jurar que não havia acontecido nada de errado, imaginem só que absurdo.

Daí em diante, nunca mais acertou o passo. Como se livrou do primeiro desastre, achou que iria se livrar de todos — só que, na vida real, não estava se livrando de nada. Estava apenas aumentando o tamanho do buraco em que tinha se enfiado.


A sequência é bem conhecida. Lula errou horrendamente quando escolheu Dilma para guardar sua cadeira de presidente por quatro anos. Errou de novo quando ela não quis sair e inventou de ser reeleita; em vez de exigir que o “poste” fosse embora para que ele próprio se lançasse candidato à Presidência, como planejava, fez de conta que estava tudo bem.

Seguiu-se, daí, a maior calamidade que Lula e o PT poderiam esperar — Dilma foi um desastre ainda pior depois da reeleição, e tanto ele como o partido ficaram olhando, sem fazer nada, enquanto a grande “gerente” mandava tudo para o espaço.

Quando o povo foi para a rua, em multidões cada vez maiores, Lula e o PT decidiram que não estava acontecendo nada; era só um bando de “coxinhas” fazendo barulho no domingão. Quando perceberam, enfim, que aquilo tudo estava simplesmente levando ao impeachment de Dilma, perderam de novo.

Lula tentou ser ministro — foi barrado pela Justiça, que a essa altura já estava roncando à sua volta. Mudou-se para Brasília, imaginando que tinha poder para virar a votação no Congresso a favor de Dilma. A sucessora acabou deposta por quase três quartos dos votos.


Não passou pela cabeça de Lula nem pela dos dirigentes do PT, a essa altura, que a situação toda estava indo para o saco. Ao contrário: acharam que a grande ideia era “ir para cima” e balançar ainda mais o barco.

Inventou-se a lenda do golpe — não colou. Partiram para uma briga com a opinião pública, do tipo “ou eu ou ele”, entre Lula e Sergio Moro, o “juizinho do interior” — deu Moro, disparado. Em vez de montar uma defesa jurídica profissional, técnica e voltada para a eficácia, Lula decidiu transformar seu processo numa “causa política”, sonhando que “a população” fosse bloquear o trabalho normal da Justiça e salvar o seu couro — apesar de todas as provas de que “a população”, já fazia muito tempo, estava pouco ligando para o que lhe acontecia.

Ficou apostando em safar-se com trapaças jurídicas miúdas, ou com traficâncias no submundo dos tribunais superiores, ou com acertos secretos na “segunda turma” do STF — capaz, no imaginário petista, de salvar da cadeia não só Lula, mas quem Lula mandasse ser salvo. Não deu em nada.

Com ele já trancado em sua cela em Curitiba, montou-se a fantasia de um acampamento gigante em torno da prisão, que ali ficaria “até Lula ser solto”. No seu momento de maior esplendor, o cerco reuniu 500 pessoas. Chegou a ficar com setenta. Há muito tempo não existe mais.

A “convulsão social” com “derramamento de sangue” prometida pelo alto-comando do PT jamais apareceu. “A ONU” mandou soltar Lula, anunciou-se através do mundo. Ninguém ligou — possivelmente nem a ONU.


A última tentativa de virar o jogo, com a campanha eleitoral, teve o seu desfecho neste domingo, com o resultado que se sabe. Como em quase tudo o que tem acontecido com Lula e o PT no passado recente, foi uma sucessão de erros, cegueira e ilusões.

Começou com a alucinação de que Lula, preso e condenado em duas instâncias a doze anos de xadrez, seria o candidato do partido. Daí em diante só piorou. Em nenhum momento o ex-presidente tentou entender por que, afinal de contas, tanta gente estava querendo votar em Jair Bolsonaro.

Nem ele nem o seu sistema de apoio se interessaram em pensar um pouco nas propostas do adversário — e muito menos em propor alguma alternativa a elas. Ficaram repetindo, do começo ao fim, a mesma lista de acusações a Bolsonaro, apesar do evidente pouco-caso da maioria do eleitorado em relação a todas elas — homofobia, racismo, fascismo, elogio à tortura, desprezo à mulher, defesa do porte de armas, intenção de criar uma ditadura no Brasil.

Deram a impressão de não ter percebido que nada disso tirou um voto sequer do concorrente. Nem mesmo notaram a realidade básica de que não podiam tratar como “inimigo”, ou “ameaça”, um candidato que não era nem inimigo nem ameaça para os 50 milhões de brasileiros que votaram nele no primeiro turno. Onde está o “gênio político” que não prestou atenção a nenhuma dessas coisas?


Lula e o PT tiveram uma ilusão fatal, também, com a sua celebradíssima capacidade de “transferir votos” e de transformar “postes” em governantes vitoriosos. Há transferência a favor, claro, mas hoje em dia o problema é que Lula, ao mesmo tempo, transfere voto contra para os seus candidatos; ganha um, perde dois. Já transferiu com sucesso votos para Dilma e para o próprio Fernando Haddad, presenteado com a prefeitura de São Paulo.

Mas aí era outro Lula. Já há dois anos, na última vez que se pôde medir seu condão de transferir votos, não transferiu nada — não funcionou, aliás, com o mesmo Haddad, que perdeu a prefeitura no primeiro turno para um adversário que nunca tinha disputado uma eleição na vida. O PT, nas eleições municipais de 2016, foi moído nas urnas.

Lula, a essa altura, era um Lula a caminho da cadeia; já não conseguia eleger postes, como não elegeu agora. A ficha demorou a cair. A votação do primeiro turno avisou: “Fora, Lula”. E qual a primeira coisa que Haddad fez logo depois de ter ouvido esse recado? Foi visitar Lula na cadeia.


Houve uma tentativa aparentemente desesperada, aí, para virar a casaca — mas já era tarde demais. Os cérebros estratégicos do partido acharam melhor, no segundo turno, que Haddad se transformasse num personagem de fic­ção, inexistente até a véspera. Queriam que ele aparecesse, de repente, como um sujeito que não tinha nada a ver com Lula.

Tiraram o nome do ex-presidente da campanha, e sumiram as máscaras com o rosto de Lula sobrepondo-se ao de Haddad. O vermelho foi suprimido da paleta de cores do PT — tudo ficou subitamente verde-amarelo. O programa do candidato foi mudado: apagaram alguns dos pontos mais claramente suicidas e instruíram o até então Lula-Haddad-Lula-Haddad-Lula-Haddad a fazer uma cara de Fernando Henrique. Perda de tempo.

Galinha que anda com pato, como ensina o dito popular, acaba morrendo afogada. Haddad andou tanto com Lula que acabou entrando na água com ele. Entrou vestido de verde-amarelo, mas a roupa a essa altura não adiantava mais nada. Também não adiantou fingir que era Haddad.


Em seu desabamento progressivo, Lula, com a ajuda empolgada do PT, quis representar o papel de mártir. Péssima ideia. Brasileiro, no fundo, não gosta de gente que está na cadeia. Não acha que as penitenciárias estejam cheias de injustiçados. Acha o contrário — que há muita gente culpada do lado de fora.

Para a maioria do eleitorado, Lula não é vítima, nem preso político. É só um político ladrão que foi condenado — como deveriam ser nove entre dez dos que continuam soltos. Não é um julgamento sereno, mas é assim que a massa pensa e continuará pensando, e vai apenas perder seu tempo quem quiser convencê-la do contrário.

Revela muito da decomposição política de Lula e do PT o fato de terem achado que uma cela de cadeia é um lugar capaz de despertar admiração no povo ou de servir como centro de comando de uma campanha eleitoral.


A vida é cheia de surpresas, como acaba de mostrar a eleição de Bolsonaro, e coisas que nunca aconteceram antes sempre podem acontecer um dia. Lula e seu complexo de forças, mais a quase totalidade dos que se dedicam a explicar o que ocorre na política brasileira, precisariam recomeçar do zero para ter alguma chance de entender, algum dia, o que está havendo com o Brasil de 2018 — e o que pode vir pela frente.

Há várias maneiras de fazer isso, mas uma delas, certamente, é admitir que existe neste país uma imensa quantidade de gente inconformada com quase tudo o que o poder público lhe serviu nos últimos trinta anos, de José Sarney a Michel Temer.

Os políticos perderam o controle das ruas — e para a esquerda, que sempre imaginou que a rua estaria do seu lado, a perda é uma calamidade ainda maior. O fato real é que Lula e seu partido não têm mais nada a ver com a massa, como não tinham nas manifestações de 2015 e 2016.

Quem leva gente à praça pública, hoje, é o presidente eleito Jair Bolsonaro. Enquanto essa realidade não for encarada com firmeza, ele continuará sem competição verdadeira.

02 de novembro de 2018