Related Posts Plugin for WordPress, Blogger...

sábado, 27 de outubro de 2018

Os mesmos eleitores



Por Merval Pereira
O Globo


O que poderia ser uma “onda vermelha” não se confirmou. Nenhum fato novo ocorreu ontem para reforçar essa possibilidade, e a média das pesquisas divulgadas mostra uma situação estável, indicando que o segundo turno está praticamente definido a favor de Bolsonaro.

É quase impossível que cerca de 15 milhões de pessoas mudem o voto de um dia para outro em favor de Haddad. Os resultados dos diversos institutos de pesquisa são diferentes, mas dentro das margens de erro. Apenas coma pesquisa de hoje, a terceirada série no segundo turno de Ibope e Datafolha, será possível dizer se a tendência de Bolsonaro é de queda e de Haddad é de alta, o que até agora não se confirmou tecnicamente. E qual a velocidade das mudanças.
O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, explica que, para definir se houve uma variação fora da margem de erro, é preciso que os números se movam na proporção de 4 pontos percentuais, para mais ou para menos. Por isso, mesmo Haddad tendo crescido 3 pontos e Bolsonaro caído outros 3, teoricamente fora da margem de erro, que é de 2 pontos percentuais, ainda não há indicação de que houve uma alteração efetiva do quadro eleitoral.


Se analisarmos bem, o resultado é praticamente o mesmo em todas as pesquisas, algo em torno de 60% para Bolsonaro e 40% para o PT, pouco mais ou pouco menos. O interessante é que esses números são da mesma ordem de grandeza das vitórias que Lula teve em 2002 sobre Serra (61,27% a 38,72) e Alckmin em 2006 (60,83% contra 39,17%).

Essa média caiu um pouco em 2010 com Dilma sobre Serra (56,05% contra 43,95%), indicando que a onda petista estava se aproximando do fim, e veio 2014, com um virtual empate no final, uma vitória apertada de Dilma sobre Aécio, de 51,64% contra 48,36%.

Desde 2013 estava em curso uma mudança de humor da sociedade, que se cristalizou na eleição municipal de 2016 e nesta, presidencial. Se os tucanos tivessem mantido o eleitorado cativo e pudessem avançar sobre o do PT, que é o que Bolsonaro está fazendo, elegeriam o próximo presidente, e Bolsonaro provavelmente seria mais um candidato nanico. Mas o PSDB se perdeu no caminho, chegou às eleições depauperado pelos erros que cometeu e pelos acertos que se recusou a assumir. O PT foi aos poucos sendo levado para o Nordeste, perdeu a classe média para o PSDB primeiro, e agora para Bolsonaro.

O diretor do Datafolha, Mauro Paulino, entende que os números semelhantes indicam que Lula em 2002 roubou parte dos votos do PSDB, que havia elegido Fernando Henrique Cardoso no primeiro turno em 1994 e 1998, com 54,24% e 53,06% respectivamente, limitando os tucanos a uma parcela de 40% do eleitorado nas duas eleições seguintes, que agora foram assumidos por Bolsonaro.

O cientista político Sérgio Abranches acha que esses são os mesmos eleitores, uma parte que é volante, não tem preferência nenhuma pelos candidatos e vota de acordo com sentimentos diferenciados: uma parte porque quer votar no favorito, outra porque considera que ele vai resolver seus problemas.

Isso em geral acontece, diz Sérgio Abranches, no estamento médio das classes médias, que é muito vulnerável a incertezas, “aquele pessoal que está começando a ser bem-sucedido e tem muito medo de retroceder”. Preferem as coisas mais certas, evitar qualquer tipo de incerteza. “Sente a onda e vai na onda”. “Quando muda, muda na mesma onda porque é o mesmo comportamento social”.

O economista Sérgio Besserman, que foi presidente do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), também vê uma mudança do que chamam de “nova classe média”, que melhorou de vida nos últimos 25 anos, agora já tem o que perder em crises econômicas ou políticas, e procura um porto seguro de acordo com o momento do país.


27/10/2018


sexta-feira, 26 de outubro de 2018

Bolsonaro abre 21,2 pontos de vantagem para Haddad, diz Paraná Pesquisa

São 60,6% a 39,4% nos votos válidos, segundo Paraná Pesquisas



Jair Bolsonaro, candidato do PSL a presidente da República.
(Foto: Jorge Araújo/Folhapress)



Levantamento do instituto Paraná Pesquisas, divulgado há pouco, aponta uma diferença de 21,2 pontos percentuais entre os canddatos a presidente Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT), que somam, respectivamente, 60,6% dos votos válidos contra 39,4%.

Na modalidade votos totais, Bolsonaro tem 53% das intenções de voto, enquanto Haddad soma 34,4%, afirmam que não votarão em nenhum deles 8,6% e 3,9% dizem não sabe.

O Paraná Pesquisa também conferiu a rejeição aos candidatos a presidente. No caso de Haddad, a rejeição recuou 0,7 ponto, de 55,2% para 54,5%. Os eleitores que afirmam não votar em Bolsonaro de jeito nenhum agora representam 39,4% e antes eram 38%.

A pesquisa está registrada no Tribunal Superior Eleitoral sob o n.º
BR-06785/2018 para o cargo de Presidente.


Nos votos válidos, Bolsonaro registra 60,6%, segundo o instituto Paraná Pesquisa.


26/10/2018


quinta-feira, 25 de outubro de 2018

Lula é acusado de 10 crimes de corrupção e 44 de lavagem

As acusações têm relação com a denúncia apresentada no caso do sítio de Atibaia
Exame
Por Estadão Conteúdo
Lula: segundo a denúncia, a Odebrecht e a OAS pagaram propinas no valor total de R$ 155 milhões a partidos políticos da base de Lula
(Paulo Whitaker/Reuters)


Na denúncia criminal apresentada nesta segunda-feira, 22, contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, no caso do sítio de Atibaia (SP), o petista é acusado por 10 atos de corrupção e 44 atos de lavagem de dinheiro, no esquema de corrupção descoberto na Petrobrás pela Operação Lava Jato. O petista ainda pode ter que pagar R$ 155 milhões, com os demais acusados, pelos supostos crimes.


Terceira acusação formal na Justiça Federal, em Curitiba, o Ministério Público Federal afirma que as empreiteiras Odebrecht, OAS e Schahin reformaram a propriedade, Sítio Santa Bárbara, em Atibaia (SP), como forma de pagar propinas a Lula. A propriedade do imóvel, registrado em nome de dois sócios dos filhos, e que a Lava Jato diz ser de Lula – que nega – não integra a denúncia.

Investigadores da força-tarefa, em Curitiba, reuniram elementos que consideram provas de que empreiteiras Schahin, Odebrecht e OAS pagaram R$ 1,02 milhão em reformas do sítio de Atibaia, no interior de São Paulo.

Segundo a denúncia, a Odebrecht e a OAS pagaram propinas no valor total de R$ 155 milhões a partidos políticos da base de Lula, relativas a 7 contratos firmados com a Petrobras.

“Esses valores (R$ 155 milhões) foram repassados a partidos e políticos que davam sustentação ao governo de Luiz Inácio Lula da Silva, especialmente o PT, o PP e PMDB, bem como aos agentes públicos da Petrobras envolvidos no esquema e aos responsáveis pela distribuição das vantagens ilícitas, em operações de lavagem de dinheiro que tinham como objetivo dissimular a origem criminosa do dinheiro”, afirma a força-tarefa da Lava Jato.
Esquema

A Lava Jato imputa a Lula atuação efetiva no esquema de cartel e corrupção que vigorou de 2004 a 2014, na Petrobras – e teria sido espelhado em outras áreas do governo, como contratos do setor de energia, concessões de aeroportos e rodovias.

Com base em uma sistemática padrão de corrupção como “regra do jogo”, empreiteiras, em conluio com agentes públicos e políticos da base, PT, PMDB e PP, em especial, desviavam de 1% a 3% em contratos das estatais. Um rombo de pelo menos R$ 6,2 bilhões, só na Petrobras.

Além de ser apontado como um dos “mentores” da sistemática de desvios, Lula teria recebido “benesses das empreiteiras Odebrecht, OAS e outras”, ocultas nas reformas do sítio e do apartamento tríplex do Guarujá (SP) – com processo já em fase final.

A denúncia foi apresentada pelo Ministério Público Federal ao juiz federal Sérgio Moro, que conduz os processos da Lava Jato em primeira instância e deve decidir se abre novo processo ainda esta semana.
Defesa

A defesa do petista afirma que o sítio não pertence ao ex-presidente e que tudo que ele teria para esclarecer sobre a propriedade já foi dito por Lula.

O criminalista José Roberto Batochio, ao longo do inquérito, ressaltou que o sítio está registrado em nome de Fernando Bittar e Jonas Suassuna que já “declararam e apresentaram documentos que comprovariam a propriedade do imóvel e a origem dos recursos para sua compra”.

“Quem é dono de um imóvel, é quem consta no cartório de registro de imóveis. Não obstante essa prova material, se quer dizer que o imóvel pertence ao presidente Lula. Seria o esmo que dizer que a Torre Eiffel pertence a qualquer um de nós”, disse. A defesa do ex-presidente também nega que ela seja proprietário do apartamento no Guarujá.

23 maio 2017


quarta-feira, 24 de outubro de 2018

A metamorfose do PT

Haddad é o retrovisor da sociedade

Esquerda é sinônimo de corrupção

A prova da mudança está nos resultados eleitorais, escreve o autor Ricardo Stuckert


Poder360


Bolsonaro vence nas capitais do Nordeste, Haddad lidera no interior nordestino. O fato remete, com sinal trocado, à época da ditadura: a direita ganhava nos grotões, perdia nos grandes centros urbanos. Hoje inverteu a bússola da política.


Especialmente nas eleições majoritárias de 1974 e 1978, o regime militar viu a oposição crescer na opinião pública. Vivíamos, então, o bipartidarismo: pelo espectro ideológico da direita, defendendo o governo, operava a ARENA; na oposição de esquerda, pregando a volta da democracia, estava o MDB.

Eu comecei a fazer política, dentro do movimento estudantil, nesses tempos de chumbo, década de 1970. Aprendi que, quanto mais evoluída e bem informada a sociedade, mais ela tendia ao progressismo. Adotava o discurso da mudança.

Por outro lado, quanto mais atrasada, e isolada estava, a sociedade defendia a situação. Era, por conseguinte, no interior empobrecido do país que a ARENA validava seu discurso, em defesa do poder constituído. A direita, assim nós percebíamos, manipulava os pobres incautos.

Hoje, curiosamente, funciona ao contrário. O antigo território da direita, Nordeste principalmente, garante a força esquerdista de Lula/Haddad; já a modernidade brasileira, majoritária no Sul/Sudeste, coloca o direitista Bolsonaro na liderança.

A esquerda ficou retrógrada, ou a direita se avermelhou? Vem cá, o PT é de esquerda mesmo, ou virou uma força conservadora na sociedade?

Responder a esse enigma é essencial para entender a dinâmica dessas eleições de 2018. Eu afirmo, com convicção: a campanha de Haddad representa o retrovisor de nossa sociedade. O PT se coloca como esquerda, mas virou um partido obsoleto.

Apresento 4 argumentos em favor de minha opinião:
O PT defende a carcomida estrutura do Estado brasileiro, banca velhas e desnecessárias empresas estatais, se alia ao pior corporativismo, quer manter privilégios salariais. Apoia o intervencionismo público e condena o mercado capitalista. O PT não entende de economia globalizada;
O PT professa uma ideologia antiga, típica da sociedade de classes, polarizada entre patrões e operários, ricos e pobres. Suas ideias marxistas são ultrapassadas, não se coadunam com a economia pós-industrial, da era tecnológica e digital, da sociedade complexa e empreendedora. O PT não gosta da meritocracia, detesta ver gente subir na vida pelo esforço próprio;
O ideário do PT se coloca contra o avanço científico na engenharia genética, combate o moderno agronegócio e defende o campesinato rural. Valoriza a falsa ciência, das terapias alternativas e exotéricas, em detrimento da medicina de ponta. O PT namora com o obscurantismo;
O PT não promove a emancipação dos miseráveis, preferindo mantê-los aprisionados pelo favorecimento político. Antes se trocava votos por cestas básicas e água; agora se compra a consciência com bolsa-família. No campo, o MST faz da reforma agrária um antro de poder, às custas da dependência dos assentados.

O PT sofreu uma metamorfose em sua trajetória. Nasceu pobre, ficou rico. Vendeu uma ilusão, galgou o poder, nele se locupletou, tornou-se anacrônico. A prova está dada nos resultados eleitorais.
Vota em Haddad quem votava na ARENA. Vota no PT quem defende privilégios.

Falando em regalia, destaco certa contradição. Surgido no seio dos operários, o PT defende causas culturais próprias da fina flor pós-modernista. Quando seus militantes desfilam nus em frente às igrejas, ofendem as pessoas simples. Se isso é esquerda, o PT é elite.

As ideologias antigas, que amparavam as receitas socialistas ou capitalistas, andam, na verdade, se esfarelando, se mesclando, às vezes se invertendo. Ainda mais após a Lava Jato, moralidade tomou o lugar da ideologia. Esquerda virou sinônimo de corrupção.

Bolsonaro terá uma vitória consagradora neste próximo domingo (28.out.2018). Para entender seu sucesso, fica a dica: hoje em dia, mais importa ser “direito” que “direita”.

24.out.2018

segunda-feira, 22 de outubro de 2018

AS PRISÕES MENTAIS

Resultado de imagem para AS PRISÕES MENTAIS

Globo
Lula está preso, meu caro. Repito a frase de Cid Gomes que ecoou na rede, suprimindo a palavra babaca. Não por correção política. A palavra iguala a estupidez à vagina. Apenas para lembrar, com humildade, como certos sentimentos estão arraigados em nossa cultura e emergem de nosso subconsciente.

A líder da direita francesa, Marine Le Pen, afirmou que algumas frases de Bolsonaro são inaceitáveis na França. Mas não o foram no Brasil.

Humildade aqui significa reconhecer que mudanças culturais levam tempo para se consumar. Não são como uma ponte destruída pela chuva que se reergue rapidamente. Nem mesmo uma nova capital que pôde ser construída no Planalto. Às vezes, atravessam gerações.

Lula está preso. É natural que o PT não aceite isso. Mas a forma de recusar foi chocar-se diretamente com a Justiça, tentar dobrá-la com manifestações, apoio externo e uma inesgotável guerra de recursos legais.

Compreendo que isso era visto como uma forma de acumulação de forças. Mas, na verdade, também acumulou rejeição.

Quando Haddad foi lançado, cresceu rapidamente exibindo a máscara de Lula. No segundo turno, a máscara envelheceu como o célebre retrato de Dorian Gray.

Mas o período que se abre agora será de tanto trabalho, que talvez não tenhamos mais tempo para nos patrulharmos. São tempos complexos, que demandam mais humildade ainda.

Num debate em São Paulo, depois do primeiro turno, confessei como o processo me surpreendeu. As pesquisas indicavam uma grande vontade de renovação. Quando os partidos se destinaram quase R$ 2 bilhões para a campanha, concluí que a renovação seria mínima.

Apesar de ter feito algumas campanhas no território digital, minha reflexão ainda se dava no quadro analógico. A renovação, cuja qualidade ainda é discutível, aconteceu. Com R$ 53 milhões, Meirelles teve menos votos do que o Cabo Daciolo, um exemplo de como os velhos parâmetros foram para o espaço.

As próprias pesquisas que tanto critiquei no passado porque achava que favoreciam Sérgio Cabral, hoje as vejo com nostalgia. Existe informação na pergunta clássica em quem você vai votar.

Mas, para detectar tendências, é preciso um oceano de dados e capacidade de análise. As pesquisas envelheceram, sem que muitos se dessem conta. Mas não apenas elas envelhecem, num mundo em que a inteligência artificial avança implacavelmente.

E é nesse mundo que teremos de navegar. A situação econômica internacional não é favorável como no passado. Nos artigos em que trato de alguns de seus aspectos, começo sempre com o paradoxo: os Estados Unidos, que lideraram uma ordem multilateral, decidiram abandoná-la. Será preciso mais do que nunca acertar os passos aqui dentro. Isso significa gastar menos, fazer reformas.

Quando estava na Rússia, os primeiros protestos contra a reforma da Previdência foram abafados pelo oba-oba da Copa do Mundo. Soube que agora a popularidade de Putin caiu 20 pontos precisamente por causa dela. Em outras palavras, a vida não é nada fácil para quem precisa reformar o Estado e fazer um ajuste fiscal.

Nesse futuro tão nebuloso que nos espera, a tese do quanto pior melhor é atraente, no entanto, pode ser também um novo erro de avaliação.

Quando ficamos muito concentrados nos problemas internos, perdemos um pouco de vista nossa inserção internacional. A imagem do Brasil lá fora mudou. O próprio Bolsonaro começará seu mandato como um dos presidentes mais rejeitados pela imprensa planetária.

Ele terá de moderar sua retórica. E quem faz oposição precisa tomar consciência da situação delicada em que o País entra.

A sobrevivência da democracia não está ameaçada. Mas algumas escoriações podem empurrá-la para o viés autoritário que hoje cresce no mundo.

As fake news, por exemplo, sempre existiram, mas hoje têm um peso maior, pelo alcance e velocidade. Utilizá-las sem escrúpulos e denunciá-las no adversário apenas confirma o pesadelo moderno da decadência da verdade.

É muito difícil chamar à razão a quem se considera o dono dela. Os intelectuais condenam as escolhas populares, mas, às vezes, não percebem a sede de sinceridade que há por baixo delas.

Pena.


22/10/2018

domingo, 21 de outubro de 2018

"WhatsApp é gópi"


POR GUILHERME FIÚZA
GAZETA DO POVO

Se você pensa que viver fantasiado de herói progressista é moleza, está enganado. A vida é dura. Pensa que é só inventar uma mentira charmosa, dessas que funcionam maravilhosamente no Facebook, no Baixo Gávea e na Vila Madalena, e viver disso para sempre? Negativo.

Você terá que ser mais e mais criativo, se superar a cada dia – até chegar às raias da genialidade ao propagar que o WhatsApp ameaça a democracia. Sim, você pode! Mas não pense que é fácil.

Tudo começou quando deu errado o truque de reabilitar os bandidos gente boa do PT lutando contra a ditadura do século passado. Até chegou-se ao milagre de levar ao segundo turno o partido que depenou o Brasil, mas aí o Ibope e o Datafolha – que vinham sendo super legais e parceiros – tiveram que desmontar aquele cenário da vitória final inevitável contra a caricatura da direita, tão bem alimentada por mais de um ano.

Deu ruim, e o jeito foi mostrar a real: Haddad morrendo na praia de novo.

Mas se você é um suposto gladiador da elite cultural, ideias não te faltam. Quem passou mais de ano espalhando fake news do Rodrigo Janot, transformando açougueiro biônico (laranja bilionário do Lula) em denunciante da corrupção generalizada, pode criar outras narrativas espertas.

Foi assim que a cruzada do petismo enrustido foi dar nos costados do WhatsApp. A mensagem é clara: só quem está autorizado a espalhar fake news é veículo de mídia tradicional aparelhado pela narrativa politicamente correta. Ou seja: você só pode veicular notícia falsa se ela tiver sido produzida genuinamente pela sua empresa. Como o WhatsApp não produz notícia, não tem a prerrogativa de espalhar mentira.

Fica combinado assim: Lula ia salvar a democracia de dentro da cadeia e foi impedido por um golpe de estado do WhatsApp. Quem achar a formulação complexa demais, peça ao companheiro Cid Gomes para resumir.

Decidido o novo script dos cafetões da bondade, todos se tranquilizaram e partiram para o bom e velho show de bravura cívica a 1,99. Surgiu inclusive um slogan “ditadura nunca mais”, com um complemento que acabou não circulando, mas nós publicamos a seguir:

Ditadura nunca mais, a não ser uma como a do Maduro, ou a do Ortega, ou a do Kadhafi, ou a do Ahmadinejad, ou a do Saddam, ou a de algum outro amigo do Lula que arranque o couro do povo sem perder a ternura e a simpatia do Roger Waters. O resto a gente não aceita.

E o show tem que continuar. Preocupado com a liberdade de expressão, o grupo de artistas e intelectuais decidido a garantir a qualidade do conteúdo nas mídias e no WhatsApp deveria criar logo uma junta de notáveis para tomar conta disso. Alguns nomes naturais, dado o histórico do movimento, seriam os dos pensadores Nicolás Maduro, Lindbergh Farias, Robert Mugabe e Renan Calheiros.

Para mostrar que quem ameaçar a democracia eles prendem e arrebentam, poderiam difundir com mais intensidade o vídeo do professor Haddad explicando por que Stalin era melhor que Hitler: porque, diferentemente do nazista alemão, ele lia os livros de suas vítimas antes de fuzilá-las. Não é lindo?

Vai ver é por isso que há editores de livros no manifesto democrático em defesa do poste iluminado do PT.

O importante é afirmar, em defesa do estado de direito e das liberdades individuais, que o WhatsApp é golpista – e nós podemos provar. Por exemplo: estava tudo correndo perfeitamente bem na democrática operação de abafar a notícia de que o PT, na sua metamorfose verde-amarela, apagou seu apoio à ditadura pacifista e sanguinária do companheiro Maduro.

Se acabamos de demonstrar que Stalin é um ser evoluído, é claro que está tudo certo com a prática de fazer informações sumirem do mapa e, também, com a consequente ocultação do expurgo.

Aí o que faz o WhatsApp? Espalha essa informação que tinha sido tão bem escondida. É ou não é golpista?

Outra notícia que estava fora das manchetes e esse aplicativo fascista mandou para todo mundo foi a da conclamação do companheiro Boulos à invasão da casa de Bolsonaro. É o tipo da informação irrelevante, considerando que Boulos é ex-companheiro de partido do homem que tentou matar o candidato com uma facada – portanto está todo mundo cansado de saber que o negócio deles é barbarizar geral, nenhuma novidade aí.

O Brasil não sabe o que será o provável governo Bolsonaro. Mas os progressistas de carnaval que cultivaram tão dedicadamente a polarização burra em que o país entrou já sabem o que farão: atiçarão sofregamente a boçalidade para tentar continuar vivendo (bem) como vítimas profissionais."


 20/10/18



'Lula só quis fortalecer a si, nunca fez questão que Haddad ganhasse a eleição', diz Dornelles





De saída da vida pública, vice-governador do Rio analisa a liderança de Jair Bolsonaro na disputa presidencial e aponta erros de PT e PSDB


ÉPOCA

Na última quinta-feira, o vice-governador do Rio de Janeiro Francisco Dornelles (PP) me recebeu no Palácio Guanabara. Pedi o papo para falar da campanha eleitoral desse ano e do desfecho que se anuncia para a votação no próximo domingo.

Conversamos sobre Jair Bolsonaro (seu correligionário no PP por quase duas décadas) e projetamos cenários para um eventual governo a partir de janeiro. Também tratamos de PT e Lula, PSDB e a batalha do segundo turno no Rio entre Wilson Witzel e Eduardo Paes.

Aos 83 anos, Dornelles está de saída da vida pública. Ele é o mais longevo político brasileiro em atividade — já foi ministro da Fazenda, Desenvolvimento e Trabalho, além de ter passado pelo Congresso Nacional como deputado e senador. Preferiu não se candidatar depois de quatro anos na impopular administração de Luiz Fernando Pezão à frente do Governo do Estado.


Abaixo, os principais trechos da conversa:

Como explicar a liderança nas pesquisas de Bolsonaro, seu colega de partido dos anos 90 até abril de 2015?


É difícil entender. Há três anos, ele me procurou, quando ainda estava no PP. Queria a legenda para disputar a Presidência e dizia que ganharia no primeiro turno ou daria um passeio no segundo. Não acreditei na possibilidade e avisei ainda que não poderia garantir que o partido lhe daria o apoio. Sabia que a seção nordestina do PP rejeitaria a ideia. Bolsonaro me disse então que iria para um partido pequeno. Alertei a ele para ter cuidado, pois siglas menores podem puxar o tapete e não cumprir o que prometem. Ele saiu do PP mesmo assim. O obstinado acreditou nele mesmo. É incrível, nunca houve no Brasil um candidato que veio de baixo, sem partido, e teve esse sucesso.


Collor não foi?


Collor já havia sido governador, teve pai na política e fez uma campanha muito rica. Bolsonaro não tem nada, faz uma campanha sem despesas.


Apenas o antipetismo explica Bolsonaro?


É um conjunto de coisas. O PT entrou em desgraça no país todo e ele se posicionou radicalmente contra o partido. Mas não é só isso. Bolsonaro se apresentou contra o ‘status quo’ e as regras da política tradicional. Além disso, deu atenção a núcleos. Atraiu ruralistas e militares com o discurso da segurança. Se converteu e agradou aos evangélicos, sem perder pontes com os católicos. No vazio político, acabou subindo sem perceberem. Por fim, conseguiu o milagre de reduzir a rejeição durante a campanha.


A facada em Juiz de Fora ajudou o candidato?


Sim, teve um efeito na campanha. Criou um quadro emocional no país e ele passou a ter uma dimensão muito maior na TV. Ao mesmo tempo, pode deixar de ir a debates. O sujeito que está liderando uma eleição não tem nada a ganhar indo a debates. Isso é para quem está correndo atrás, perdendo.


O senhor acha que ele está preparado para governar o Brasil?


Noto uma maturidade e evolução do Bolsonaro. Ele evoluiu no conteúdo e na forma de falar as coisas. Parece político mineiro, se porta de maneira tranquila e sossegada. Suavemente, agora está com um discurso liberal, ao contrário do que teve na Câmara dos Deputados por muito tempo. Ele tinha o pensamento do militar brasileiro, de defesa de um estado forte. Me preocupa a relação com o Congresso após a eleição. Todo presidente tem dificuldades para aprovar projetos se não conversar. Esse pessoal do partido dele é de primeira viagem. Governar o Brasil é muito difícil, com o grau de clientelismo que existe e com essa quantidade de partidos. Ele diz que não vai negociar com as cúpulas partidárias, mas individualmente ou com grupos como os evangélicos, a bancada ruralista e outros. Não será fácil.


Acha que o famoso ‘toma lá dá cá’ terá que acontecer na era Bolsonaro?


Ele vai ter que fazer de alguma forma, inevitavelmente. O confronto com os interesses de parlamentares não levará a nada.


O PT errou na estratégia eleitoral?


Acho que demoraram muito a lançar a candidatura do Fernando Haddad. O Lula achava até a última hora que poderia criar um clima de vitimização no país e ser candidato. Depois, queria o Jaques Wagner como opção. O tempo foi passando e o Haddad entrou muito tarde na campanha.


Mas em um primeiro momento a transferência de votos de Lula para Haddad aconteceu...


Sim, mas foi menor do que se pensava. Quem transferiu votos nessa eleição foi Bolsonaro. Basta olhar Minas Gerais e Rio de Janeiro (os candidatos Romeu Zema e Wilson Witzel dispararam nas pesquisas ao declarar voto em Bolsonaro).


Haddad poderia ter feito algo diferente?


Tenho boa impressão dele, mas falta malícia política. Ele nunca comandou a própria campanha e tomou as decisões que queria. Também jamais foi ajudado pelo PT, que nunca o quis candidato. O que o Lula fez nessa campanha foi para fortalecer a si próprio. Ele não fez questão que o Haddad ganhasse a eleição. O PT sempre foi fraco, o que existe é o partido do Lula. Se tirar o Lula, acaba.


Ciro Gomes poderia ter tido sorte maior com mais apoios na esquerda?


Sim. Se o PT tivesse apoiado Ciro desde o início, ele teria virado presidente. Mas o PT é incapaz de apoiar alguém, quer a hegemonia sempre.


Geraldo Alckmin foi a melhor escolha do PSDB para essas eleições


Tenho a impressão que a eleição de São Paulo com dois candidatos da base do PSDB afetou o Alckmin. Ele não teve nem o apoio do João Dória nem do Márcio França. Em 2014, Aécio abriu 7 milhões de votos de diferença contra Dilma em São Paulo. Aqui no Rio a mesma coisa. Eduardo Paes nunca pediu voto para o Alckmin. Internamente, a candidatura de Alckmin também nunca recebeu a benção do partido. Líderes como Tasso Jereissati, FH e José Serra eram contra. Também acabou brigando com Minas Gerais porque defendeu o afastamento do Aécio Neves. As fraquezas de Alckmin estão aí.


Se João Dória tivesse sido candidato a presidente, algo teria sido diferente?


Ele é menos puro que o Alckmin, talvez tivesse mais facilidade de conseguir recursos. Mas é outro que também não é aceito pelos caciques do PSDB. Lá em São Paulo, aliás, estou torcendo pelo França.


Na eleição do Rio, Witzel vai ganhar ou Paes conseguirá a virada?


Dá para virar. No primeiro turno o juiz passou incólume, correu na sombra e não levou nenhuma bala. Ele se colou ao Bolsonaro e foi beneficiado porque muita gente queria tirar o Romário do segundo turno. O povo optou pelo novo, ainda que fosse inexperiente. Agora esse pessoal vai voltar para o Paes.


Witzel tem tentado colar a imagem de Cabral ao Paes. Já o ex-prefeito busca apresentar relações pessoais do ex-juiz. Quem leva a melhor na estratégia?


O juiz fala bem, né? Mas, repito, foi muito poupado até agora e não é uma vestal pelo visto. Cada um explora o que pode no debate da desconstrução. A questão é que Witzel é aquele sujeito que entrou na vida pública vestido todo de branco. Ao receber a primeira tomatada, o vermelho realça mais na roupa. O Paes já está todo vermelho, um tomate a mais ou a menos não faz mais diferença.



21/10/2018


Lula não pode tudo



Andre Penner


Há reviravoltas e reviravoltas. Com estafante insistência, de uns tempos para cá – mais precisamente há quase duas décadas – petistas empedernidos nos falam de uma reviravolta para salvar o Brasil do caos. Suas receitas e promessas, aplicadas em campo na longa temporada que ocuparam o poder, acabaram por legar o próprio emblema do caos lancinante, no plano econômico, social e político, sem exceções, com um tempero de desemprego e recessão recordes na história. Ninguém disso duvida.

Mas as patranhas palanqueiras do líder máximo da agremiação, Lula da Silva, hoje detento de ficha 700004553820, seguiram seu curso a despeito das evidências e alcançaram o último pleito, de embate capital no próximo domingo, 28, em segundo turno, com inadvertida desfaçatez.

O menestrel das lorotas Lula e seus seguidores, como a caçoar da inteligência alheia, redobraram as apostas repetindo como farsa a ladainha de um resgate do País. Seria decerto uma salvação pela via da corrupção endêmica que massivamente praticaram. Haddad, o poste da vez, travestido de conciliador democrata sem aptidão para tanto, tomou para si o discurso engabelador e aceitou ser servido como presente de grego, na vã ilusão de enganar eleitores e potenciais aliados distraídos. Não colou.

Encarnou o papel típico de um Cavalo de Tróia, escondendo em suas entranhas a camarilha de encalacrados petistas que inevitavelmente traria junto em seu projeto eleitoreiro, e se estrepou todo, caminhando para uma derrota fragorosa. Converteu-se em mero figurante do jogo.

Pausa para registro: é sabido que Lula, Dirceu & Cia. sempre almejaram resgatar o poder a qualquer custo e de qualquer maneira – mesmo que não pela via do voto, como disse recentemente um deles -, mas decerto representa um lance bizarro, quase ingênuo mesmo, a tentativa do capo petista de empurrar ao Planalto (sem qualquer chance mais a essa altura do campeonato) um preposto da velha esquadra de sequazes saqueadores.

Haddad, na campanha montada para lhe vender como algo que não é, virou pilhéria e provocou vergonha alheia. A agremiação escondeu a bandeira vermelha com estrela, marca pela qual é mais conhecida, tirou a imagem de Lula dos santinhos, mostrou seu usual desapego à realidade, lançando acenos que não cumpre, e perdeu-se no fabulário.

A verdade não tem versões e o PT não entendeu isso. A ópera dos embusteiros acabou desmascarada. E logo por quem havia acabado de se enfileirar na esquadra de defesa do lulopetismo. “Lula tá preso, seus babacas! Vocês vão perder”, bradou o pedetista cearense Cid Gomes em um desabafo tão franco como surpreendente.

Obcecados adoradores do demiurgo não quiseram ouvir. Possivelmente nem acreditaram no óbvio. Nessa marcha da insensatez que empreendem devem mesmo sair derrotados porque, de resto, como os próprios eleitores estão demonstrando nas urnas, Lula não pode tudo. Ninguém pode.

A corriola de asseclas e militantes é capaz até de insistir na fé cega da hipótese, afinal muitos habitam um mundo onde as versões predominam sobre os fatos, as imagens virtuais sobre a realidade, no qual o universo paralelo serve de refúgio para negar a seca realidade. Decerto, em dado momento, sairão frustrados.

A patota de caciques petista também. Ela estava convicta de que receberia o aval para replicar um modelo tão fraudulento como danoso à Nação. Os formuladores desse pacto foram escorraçados. Receberam um primeiro e eloquente recado ainda nas eleições municipais, há dois anos, e estão agora aprendendo, a duras penas, que não se ganha carta branca da população, indefinidamente, para seguir delinquindo sem punições.

A maioria dos comandantes petistas está condenada. Outros respondem na Justiça por seus desvios. Lula segue na cadeia e transformou-se num mero espectro do poder de outrora. Não manda mais nada, não pode mais nada e fala apenas para um pequeno exército “Brancaleone”, cada dia mais ralo.

Com o distanciamento dos eventos pregressos é possível notar que o pecado original da parolagem petista foi presumir que a conquista do Planalto lá atrás fazia do Brasil propriedade privada do partido para esbórnias sem fim. Ledo engano.

A farra está se esgotando. O PT vive provavelmente o crepúsculo de uma antiga projeção. As artimanhas e as surradas práticas do patrimonialismo espoliador devem, com ele, sumir do cenário político. Será essa a verdadeira reviravolta.



19/out/18

Bolsonaro consegue apoio robusto nas ruas antes do segundo turno


Apoiadora de Bolsonaro participa da manifestação em Copacabana - AFP


O militar reformado e candidato à presidência Jair Bolsonaro recebeu neste domingo uma amostra robusta de apoio popular, a uma semana do segundo turno presidencial, que, segundo as pesquisas de intenção de voto, dará a ele uma vitória inédita da extrema direita no Brasil.

Seus apoiadores se mobilizaram em várias partes do país, embora a maior concentração tenha sido na Praia de Copacabana, Rio de Janeiro, onde as palavras de ordem em defesa de sua candidatura se alternaram com as de repúdio à esquerda, a violência e a corrupção. Bandeiras do Brasil tremulavam enquanto a multidão saudava com cantos e danças sua provável vitória.

Os “bolsonaristas”, vários deles vestindo camisetas pretas com a figura do candidato estampada no peito, estenderam uma longa bandeira no chão, em que se lia “Não aceitaremos fraude”.


Vencedor no primeiro turno, com 46% dos votos, Bolsonaro é o grande favorito para vencer o segundo turno, no próximo dia 28, contra o esquerdista Fernando Haddad, que teve 29% dos votos.

As pesquisas dão ao capitão reformado uma vantagem de 18 pontos sobre o candidato do PT, que participou neste domingo de uma caminhada em São Luís, onde redobrou as críticas ferozes a Bolsonaro por sua recusa em participar dos debates na TV.

“O soldadinho de araque não pode reafirmar o que fala no submundo da internet olhando no meu olho”, publicou Haddad no Twitter.


Na reta final da campanha, Bolsonaro está no centro do escândalo pelo suposto apoio ilegal que recebeu de empresários que financiaram o bombardeio de mensagens contra o PT no aplicativo WhatsApp.

A Justiça eleitoral e a Polícia Federal anunciaram uma investigação da denúncia, revelada pelo jornal “Folha de S. Paulo”. O candidato negou envolvimento com as supostas irregularidades.

O caso não abalou seus apoiadores. “Foram 27 anos de parlamentar sem corrupção. É um homem íntegro, honesto, os políticos corruptos querem a cabeça dele”, afirmou o empresário do setor de transportes Alberto Menezes, 48, após assinar a bandeira de apoio ao candidato do PSL.


Ao seu lado, o empresário Wilson Neira, 53, elogiou o ataque frontal que Bolsonaro promete contra a criminalidade e em favor dos cidadãos de bem: “Não tem jeito, ou você é radical para mudar o país, ou você é apoiador da onda do mal que estava sendo implantada.”

21/10/18