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quarta-feira, 9 de maio de 2018

Com voto de Gilmar, maioria da Segunda Turma do STF vota para manter Lula preso


Quarto voto no julgamento virtual foi dado na noite desta quarta-feira

Por Carolina Brígido
O Globo
O ex-presidente Lula discursa no Sindicato dos Metalúrgicos, no ABC
Edilson Dantas/Agência O Globo/07-03-2018


BRASÍLIA – Quatro dos cinco ministros da Segunda Turma do Supremo Tribunal Federal (STF) já votaram para negar o recurso que poderia garantir a liberdade do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. O primeiro voto nesse sentido foi dado pelo relator, ministro Edson Fachin. Depois foi a vez de Dias Toffoli. Os dois últimos votos foram dados nesta quarta-feira pelos ministros Gilmar Mendes e Ricardo Lewandowski. Ainda falta se manifestar Celso de Mello. Como esse último voto não farão diferença no resultado do julgamento, Lula deverá continuar na prisão.

Toffoli, Gilmar e Lewandowski são contra prisão após condenação em segunda instância, caso de Lula, mas negaram a solicitação da defesa. Até agora, apenas a íntegra do voto de Gilmar é conhecida. Ele lembrou que outro pedido do ex-presidente - o habeas corpus 152752 - já tinha sido rejeitado pelo plenário do STF.

"De todo modo, é de se destacar que a possibilidade de execução antecipada da pena, no específico caso do reclamante, foi apreciada e julgada pelo Plenário desta Corte no HC 152752, devendo prevalecer tal decisão. Ante o exposto, reitero e ressalvo o meu posicionamento pessoal sobre a matéria, mas acompanho o eminente Relator em homenagem ao princípio da colegialidade", anotou Gilmar.

O caso está sendo julgado desde o dia 4 no plenário virtual da Corte, um mecanismo que isenta os ministros da reunião física. Os votos são incluídos no sistema do tribunal. O julgamento termina à meia-noite de quinta-feira.

No recurso, a defesa de Lula lança mão de vários argumentos para obter a liberdade do petista. Um deles é o de que, pela Constituição Federal, “ninguém será considerado culpado até o trânsito em julgado de sentença penal condenatória”. O trânsito em julgado ocorre quando não é mais possível apresentar recursos contra decisão judicial. O entendimento vigente hoje no STF permite prisão após condenação em segunda instância, caso de Lula.

“É de se destacar que a possibilidade de execução antecipada da pena, no específico caso do reclamante, foi apreciada e julgada pelo plenário desta Corte, devendo prevalecer tal decisão”, anotou Gilmar em seu voto. Ele ressaltou, no entanto, que sua posição pessoal é diferente do entendimento do STF. Para o ministro, as prisões deveriam ocorrer mais adiante, depois da confirmação do Superior Tribunal de Justiça (STJ).

A defesa entende que Lula deve ser solto e ter a garantia de ficar livre até que “sua prisão seja fundamentada”. Os advogados destacaram que o STF autoriza atualmente a execução da pena após a segunda instância, mas não a torna obrigatória. Segundo a defesa, o Tribunal Regional Federal (TRF) da 4ª Região não fundamentou devidamente a ordem de prisão.

Em 6 de abril, quando o juiz Sérgio Moro já tinha decretado a prisão, mas Lula não tinha se entregado, a defesa apresentou uma ação no STF pedindo para evitar a prisão. Em 7 de abril, Fachin negou a solicitação e Lula se entregou à Polícia Federal (PF). Em 13 de abril, a defesa recorreu. Em parecer, a Procuradoria-Geral da República (PGR) pediu a manutenção da decisão de Fachin.

Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelo TRF por corrupção passiva e lavagem de dinheiro no caso do triplex do Guarujá (SP), elevando a pena de nove anos imposta antes por Moro. No começo de abril, o STF negou um habeas corpus da defesa, abrindo caminho para a decretação da prisão. Lula está detido desde o dia 7 de abril em Curitiba.

No dia 13, ao recorrer novamente ao STF, a defesa pediu que Fachin reconsiderasse a decisão em que manteve a validade do decreto de prisão. Alternativamente os advogados de Lula pediram que o ministro levasse a decisão para análise da Segunda Turma da corte.

Uma resolução de julho de 2016 permite que recursos desse tipo sejam analisados pelo plenário virtual. Qualquer ministro pode pedir para o caso ser julgado no plenário físico, mas isso não ocorreu.


09/05/2018


Exclusivo: Governos petistas manipularam análises de risco e garantias de empréstimos bilionários do BNDES a países amigos



O Antagonista teve acesso ao resultado da primeira de uma série de auditorias que o TCU está fazendo nos empréstimos do BNDES, para obras de infraestrutura no exterior durante o governo do PT.


Por Claudio DantasO Antagonista


No ano passado, publicamos que a área técnica do tribunal havia encontrado indícios de irregularidades em 140 operações de crédito analisadas, num total superior a R$ 50 bilhões – sendo a Odebrecht a principal beneficiária desses recursos.


Agora, os auditores descobriram que as gestões petistas manipularam os padrões de análise de risco e garantia, para conseguir liberar dezenas de bilhões a países amigos que não teriam condições de obter tais financiamentos em qualquer outro lugar no planeta.


E, ainda, em condições absolutamente vantajosas, inclusive com juros subsidiado. Boa parte desse dinheirama jorrou diretamente do FAT (Fundo de Amparo ao Trabalhador), que agora é usado novamente para cobrir o rombo bilionário do calote de Moçambique e Venezuela.

O governo do PT reduziu a classe de risco dos países integrantes do chamado Convênio de Créditos Recíprocos (CCR), essencialmente os 12 membros da Associação Latino-americana de Integração (Aladi) – uma invenção de Lula para justificar as benesses.

Países com classificação de risco entre 5 e 7 passaram a ser considerados de risco 1, como as principais economias mundiais. É o mesmo que aprovar um aluno com nota 10, ignorando que ele tirou zero na prova de redação do Enem.

Em 30 dessas operações de crédito, por exemplo, esses países pagaram no máximo 12% do prêmio do seguro sobre os empréstimos. Como pagar pelo jantar apenas o valor da gorjeta do garçom. Em vez de receber R$ 835 milhões, o Fundo Garantidor de Crédito teve que se contentar com apenas R$ 99 milhões.

Para piorar, o governo petista deu uma colher de chá, permitindo que os países amigos pagassem esse prêmio do seguro de forma parcelada e junto com o pagamento do próprio financiamento (ongoing). Como deram calote, Moçambique e Venezuela também deixarão de pagar os valores pendentes referentes ao seguro do próprio financiamento.

Não para por aí.

Os governos de Lula e Dilma garantiram que a SBCE (Seguradora Brasileira de Crédito à Exportação), uma sociedade do BNDES com o BB e a Coface francesa, emitisse pareceres técnicos “sem recomendação conclusiva” sobre a viabilidade desses empréstimos.

Para emprestar cada vez mais aos amigos do Foro de São Paulo, as gestões petistas também manipularam os padrões de exposição de risco para essas linhas de crédito. Quanto menor a classificação de risco, menor o custo do empréstimo e maior o montante que pode ser empenhado para determinado país.

Também foram desrespeitados os protocolos de mitigação dos riscos para esses empréstimos.O TCU descobriu que os órgãos responsáveis por esses financiamentos, como BNDES, Camex e Ministério da Fazenda, nem sequer tinham uma metodologia para mitigação de risco.

A prática internacional exige do próprio Estado brasileiro (risco 5) o cumprimento de uma série de salvaguardas para obter financiamento: abertura, num país de economia sólida, de uma conta bancária vinculada ao relaxamento do financiamento e em moeda forte.

Dizer que foi uma farra com o dinheiro do contribuinte é pouco.



09.05.18



terça-feira, 8 de maio de 2018

Risco de Lava-Jato atingir PSB pesou para desistência de Barbosa

 
Denúncia sobre corrupção na gestão Eduardo Campos foi enviada a Moro na segunda

Por Sérgio Roxo
O Globo

Joaquim Barbosa durante evento do PSB em Brasília
UESLEI MARCELINO / REUTERS


SÃO PAULO - Um dos fatores que pesaram para o ex-ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Joaquim Barbosa desistir de disputar a Presidência da República pelo PSB foi o envio na segunda-feira de uma denúncia sobre corrupção na gestão do ex-governador Eduardo Campos, morto numa acidente aéreo em 2014, para o juiz Sergio Moro. As acusações têm como alvos, entre outros, o senador Fernando Bezerra Coelho (MDB-PE) e o empresário Aldo Guedes Alvaro, ex-sócio de Campos num empreendimento agrícola no interior de Pernambuco.


Reconhecido como um dos expoentes da luta contra a corrupção por causa de sua atuação como relator do mensalão, Barbosa correria o risco de ver a legitimidade de seu discurso questionada numa eventual campanha eleitoral em virtude das irregularidades listadas na denúncia. Quando morreu, Campos era candidato a presidente da República e presidente nacional do PSB. A expectativa agora é que o caso ganhe celeridade na primeira instância e avance bem no período da campanha eleitoral.

Na segunda-feira, com base na decisão da semana passada do plenário do STF que limitou o alcance do foro privilegiado, o ministro Fachin determinou o envio da denúncia contra Bezerra para Moro. O senador foi denunciado pela Procuradoria Geral da República em 2016 no âmbito da Lava-Jato, acusado de receber propina de R$ 41,5 milhões das empreiteiras Queiroz Galvão, OAS e Camargo Corrêa referentes a execução das obras da Refinaria Abreu e Lima (Rnest). Os recursos teriam como objetivo abastecer a campanha à reeleição de Campos, em 2010.

Na gestão Campos, Bezerra, na época filiado ao PSB, foi secretário de Desenvolvimento Econômico e presidente do Complexo Industrial Portuário de Suape. O senador rompeu com o grupo de político de Campos em Pernambuco no ano passado por discordar da decisão do PSB de fazer oposição ao governo do presidente Michel Temer e se filiou ao MDB.

Em memorial distribuído aos ministros do STF em que pede o envio da denúncia à primeira instância, a procuradora-geral da República Raquel Dodge diz que quebra de sigilo telefônico revelou a autuação de Aldo Guedes como operador de propina em favor da campanha de Campos. Também sustenta que os pagamentos feitos tiveram como contrapartida benefícios em contratos administrativos de obras de infra-estrutura, elaboração de leis e incentivos tributários concedidos pelo estado de Pernambuco para viabilizar a Rnest.

Guedes era sócio de Campos desde 2000 na Agropecuária Nossa Senhora de Nazaré, empresa que tinha objeto social o cultivo de café e a criação de gado para corte e leite. Ele também foi nomeado por Campos para presidir a Copergás, empresa de economia mista responsável pela distribuição de gás no estado.

O vice-presidente nacional do PSB, Beto Albuquerque, nega que a denúncia contra Bezerra tenha relação com a decisão de Barbosa de desistir da disputa presidencial deste ano.

— Isso é problema do senador. Não tem nada a ver com Eduardo Campos. Denúncia para falar de morto é sempre fácil. Todo mundo descarrega no morto os seus erros, os seus crimes. Pelo que sei, o Fernando Bezerra nunca foi uma pessoa da confiança do Eduardo para fazer absolutamente nada — diz o dirigente do PSB.

Albuquerque atribui a desistência exclusivamente às questões familiares de Barbosa, que conta com o dinheiro que recebe na elaboração de pareceres jurídicos para ajudar financeiramente parentes.

A gente lamenta muito a desistência, mas antes tarde do que nunca. Se é para ir para a guerra com um soldado titubeante, é melhor não ir.


08/05/2018


Barbosa: 'Meu coração já vinha me dizendo: não mexe com isso, não'

Por Lauro Jardim


Ueslei Marcelino
Agência O Globo

— Meu coração já vinha me dizendo: não mexe com isso, não.

Assim, Joaquim Barbosa resume a decisão tornada pública hoje cedo de não disputar a Presidência da República.

Em tom de voz tranquilo, apesar de ter explodido há duas horas a bomba política do dia, Barbosa diz que já vinha amadurecendo a decisão nas últimas semanas.

Apesar de ter se reunido na semana passada com o presidente nacional do PSB, Carlos Siqueira, Barbosa se esquivou de encontros com economistas, líderes de movimentos sociais e parte da bancada federal do partido.

Afirma que assim o fez exatamente para não dar esperanças, pois ainda não tinha certeza se que queria mesmo ser candidato.

— Evitei o quanto pude essas conversas.

Barbosa pretendia inicialmente esperar até julho para uma definição. Chegou a avisar isso ao partido. Só que, em sua avaliação, as coisas se precipitaram:

— Fiquei receoso que as próximas pesquisas mostrassem que eu estava subindo. Desistir mais tarde seria complicado em todos os sentidos. Acho que tomei a decisão no momento certo.

Hoje de manhã, antes de disparar o tuíte em que avisou que não seria candidato, Joaquim Barbosa ligou para Siqueira e para alguns deputados do PSB, como Alessandro Molon e o líder do partido, Julio Delgado.

E qual foi a reação deles?

— Ficaram muito surpresos.

Barbosa não vai entrar na corrida eleitoral, mas está preocupado com o futuro do Brasil. Vê três riscos no horizonte:

— Primeiro, o (Jair) Bolsonaro.

O ex-presidente do STF acha possível que Bolsonaro se eleja.

E o segundo risco?

— Depois, o próprio Temer. Temo que ele, maquiavélico, possa articular algo para continuar no poder, ou mesmo uma aliança que o eleja.

E, finalmente, o terceiro perigo:

— Temo também que haja espaço para um golpe militar.

Assim como fez em 2014, quando viajou para a Buenos Aires para ficar longe das eleições, Barbosa pretende fazer o mesmo este ano. Não declarará voto para nenhum candidato.



08/05/2018


segunda-feira, 7 de maio de 2018

Toffoli e Fachin votam contra recurso de Lula por liberdade no plenário virtual

Participam da votação eletrônica os cinco ministros da Segunda Turma do STF, colegiado também composto por Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski

Amanda Pupo e Rafael Moraes Moura
Estadão/BRASÍLIA

Lula.
Foto: REUTERS/Leonardo Benassatto


BRASÍLIA – Dois ministros do Supremo Tribunal Federal (STF) já votaram no plenário virtual da Corte contra o recurso apresentado pela defesa do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) para reverter a sua prisão.


O julgamento começou na última sexta-feira (4) e deve ser concluído até as 23h59 do dia 10 de maio. Segundo o Broadcast Político apurou, o ministro Dias Toffoli já votou acompanhando o ministro Edson Fachin, relator do caso, no sentido de negar o recurso de Lula.

Participam da votação eletrônica os cinco ministros da Segunda Turma do STF, colegiado composto por Fachin, Toffoli e os ministros Celso de Mello, Gilmar Mendes, Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski.

Como o acesso ao ambiente de julgamento é remoto, a apresentação dos votos pode ocorrer a qualquer momento dentro do prazo. Se todos os ministros votarem antes da data final, o resultado já poderá ser conhecido previamente — mas isso só acontecerá quando o último dos ministros apresentar sua posição.

Lula foi condenado a 12 anos e um mês de prisão pelos crimes de corrupção passiva e lavagem de dinheiro, no processo envolvendo o tríplex no Guarujá. Como a ação já foi analisada pela segunda instância da Justiça, no caso de Lula, o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4), sua prisão foi decretada no início de abril.

Contra isso, Lula entrou com uma ação no STF, chamada reclamação, em que alega que sua prisão é ilegal e não fundamentada. Para os advogados do petista, a segunda instância ainda não exauriu no processo de Lula. A defesa argumenta que a jurisdição do TRF-4 somente se esgota quando o tribunal se desvencilhar de qualquer decisão em relação aos recursos extraordinários.

O TRF-4 é responsável por admitir o recurso especial, que é analisado pelo Superior Tribunal de Justiça (STJ), e o recurso extraordinário, julgado no STF. Esses recursos já foram apresentados no tribunal de segunda instância.

Os advogados ainda acrescentam que o papel do TRF-4 só acaba quando é analisado um eventual agravo (quando a parte recorre) contra uma não admissão do recurso no tribunal.

Quando a reclamação foi apresentada ao Supremo, no início de abril, Fachin negou individualmente o pedido liminar e manteve a prisão de Lula. Contra essa decisão, a defesa do petista entrou com um agravo, tipo de recurso. Fachin, então, decidiu levar o caso para o plenário virtual da Segunda Turma, a qual compõe e é presidente.

Caso haja algum pedido de vista (mais tempo de análise) ou destaque de algum ministro, o processo sai do ambiente virtual.

No plenário virtual, os votos podem seguir as seguintes opções:

1) acompanho o relator;

2) acompanho o relator com ressalva de entendimento;

3) divirjo do relator;

ou 4) acompanho a divergência.

07 Maio 2018


O inferno de Temer


Como o presidente da República tenta enfrentar a maior crise de seu governo, ao mesmo tempo em que se dedica a preservar o próprio mandato e a defender a reputação de sua família, em meio à perda de sustentação política

TERCEIRA ONDA
Temer canaliza suas energias para apagar as labaredas que o perseguem, enquanto isso as reformas ficam ao relento

(Crédito: Divulgação)


Rudolfo Lago, Ary Filgueira
e Tábata Viapiana
IstoÉ



O inferno de Dante Alighieri consiste em nove círculos concêntricos que se afunilam conforme mais profundos ficam, até encontrarem o centro da Terra. Para qual deles você é enviado, depende do pecado cometido. Sobre o inferno de Temer não se sabe ainda a duração nem o alcance. O certo é que o presidente da República enfrenta hoje o terceiro círculo, ou terceira onda, como ele mesmo define, pela qual corre o risco de ser irremediavelmente tragado caso não consiga se desvencilhar da enrascada em que entrou. Nos primeiros meses de gestão, o presidente exibiu musculatura política invejável. Aprovou o teto dos gastos, a reforma trabalhista, controlou a inflação e os juros e, mesmo paulatinamente, parecia colocar o País na trilha do desenvolvimento. Desde o avanço da Operação Lava Jato sobre ele, porém, Temer deslocou o eixo de sua atuação: abandonou as reformas e passou a se dedicar à preservação do próprio mandato. Não tem sido fácil dissipar as labaredas. Enquanto vê seus parentes investigados por lavagem de dinheiro, numa trama capaz de enredá-lo, Temer não consegue conter o desemprego, perde sustentação política, bate recorde de vetos derrubados e assiste à paralisia de projetos de interesse do governo no Congresso, arena que ele demonstrava dominar como poucos. Sua candidatura à reeleição, antes dada como certa, patina em meio ao esfacelamento das alianças. “Se a história não me reconhecer, nome em ala de hospital terá reconhecido”, contentou-se Temer na última semana. “É…se alguém insiste para que eu pule de um prédio, precisa me garantir primeiro que há água lá embaixo”, afirmou a senadora ruralista Kátia Abreu (MDB-GO). Kátia é hoje uma clara opositora ao presidente e ao seu governo. Mas, ainda assim, provocou profundo silêncio ao se manifestar numa reunião da bancada de seu partido quanto às chances de apoiar a reeleição.

Traições

Explicitava-se ali um sentimento que vai ganhando força no MDB e em outros partidos aliados do governo. Sem conseguir se livrar das denúncias da Polícia Federal e do Ministério Público, Temer vai-se tornando uma opção difícil de ser carregada nos palanques das eleições estaduais. Nos bastidores, emedebistas já falam claramente na hipótese de trair Temer em julho na convenção partidária, quando a escolha de candidaturas ou a opção por não ter candidato à Presidência será decidida por voto secreto. “Desde o ano passado, o presidente vem enfrentando os ataques vindos do Ministério Público e da Polícia Federal e não consegue conter isso”, admite um assessor do presidente.


Na sua última manifestação sobre as denúncias que enfrenta, o presidente subiu o tom. Declarou-se indignado com o fato de terem vazado informações das investigações contra ele que apontavam para possível lavagem de dinheiro a partir da aquisição e da reforma de imóveis por sua família. Uma das apurações envolve uma casa da filha de Temer, Maristela. E um personagem habitual nas acusações contra o presidente, o ex-coronel da Polícia Militar João Baptista Lima. As investigações contra Temer apontam para a hipótese de Lima ser um operador de propina. Na quinta-feira 3, Maristela Temer depôs em São Paulo por quase quatro horas sobre a reforma da sua casa no Alto de Pinheiros. No caso, investiga-se um repasse de R$ 2 milhões que teria sido feito por Lima para a reforma, que teve como arquiteta a própria mulher de Lima, Maria Rita Fratezi. Em seu depoimento, Maristela disse que Lima deu uma “ajuda de camaradagem, amizade, quase familiar”, por meio de orçamentos com empresas, mas que não recebeu dinheiro do coronel. Valeu-se da contribuição da mãe e de um empréstimo bancário contraído entre 2013 e 2014. “Sabia até onde podia caminhar com as próprias pernas para bancar o empreendimento”, disse. O objetivo, segundo ela, era “dar um tapa” na casa para alugar. Ao fim, se disse aliviada por emitir sua versão. Mas não apresentou comprovantes do que disse.

Temer insiste em voltar-se contra o vazamento das informações do inquérito. Parece o caso clássico de alguém que, ao não gostar da mensagem, resolve punir o mensageiro. Em seu partido e entre seus aliados cresce o sentimento de que o presidente não consegue explicações suficientes para conter as denúncias contra ele. Com isso, isola-se. Não se mostra capaz de ver avançar as pautas de seu interesse no Congresso. Abandonou a agenda prioritária do governo. Trocou-a por salvar a própria pele.

Os problemas vividos por Temer dificultam seus planos políticos e os de seu governo. No Senado, o ex-líder do MDB no início do governo Temer, Renan Calheiros (AL), assume claramente o papel de articulador do processo que pode levar à traição do presidente na convenção partidária em julho. Renan esmera-se em provocar seus colegas de partido, perguntando a eles se levariam o presidente a seus palanques nos estados. “Quero ver você sair de mãos dadas com o Temer na 25 de Março”, disse, por exemplo, na semana passada à senadora Marta Suplicy (SP), referindo-se à famosa rua paulistana de comércio popular.


Reunião com FHC

As provocações de Renan fazem algum efeito. Ele tem promovido reuniões com representantes dos diretórios de Santa Catarina, Pará, Sergipe, Minas Gerais, Paraná e Ceará, além de Alagoas, onde o MDB tem maior peso e maiores chances eleitorais, para sugerir que abandonem Temer. Nomes até então mais próximos do presidente já começam a admitir a deserção. Caso, por exemplo, do presidente do Senado, Eunício Oliveira, que tenta a reeleição no Ceará. “Temer tem se precipitado”, disse Eunício, em conversa recente com aliados. “Ele não tem combinado com o partido antes. A candidatura, por exemplo, não foi discutida previamente”, reclamou.

No Congresso, o resultado de tal situação é a paralisia. Temas da pauta do governo, ou que o governo encampou, como a privatização da Eletrobrás, o cadastro positivo de devedores e a criação do Sistema Único de Segurança, vacilam na Câmara e no Senado. Entre março e abril, o plenário passou 22 dias sem votar nenhum projeto. Este ano, apenas quatro medidas provisórias e 17 projetos de lei foram aprovados. Desde que lançou sua pretensão de ser candidato à Presidência, o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (RJ) não faz avançar a pauta entre os deputados. Diante da situação, Michel Temer iniciará a próxima semana com uma reunião com os principais líderes do Congresso. O encontro é uma admissão do presidente de que os temas mais importantes para o governo de fato não avançam.


Nos bastidores, o presidente já tem se movimentado. No início da semana passada, ele esteve com o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso. Temer quer a todo custo se reaproximar do PSDB. Por isso, passou a admitir a hipótese de o MDB indicar um nome para vice na chapa do ex-governador de São Paulo Geraldo Alckmin. Esse cenário também foi tema de conversa no fim de semana com o governador de São Paulo, Márcio França, do PSB, que também apoia Alckmin. “Há um consenso de que o centro precisa se unir. O problema é que não há clareza quanto a como se unir ou com quem”, comenta um assessor do presidente. Existe outro entrave. Embora precisem reforçar o palanque tucano, Alckmin e seus aliados relutam em celebrar uma aliança com o impopular Temer. Receiam que a parceria vire um abraço de afogados, como se já não bastassem as dificuldades do PSDB em decolar nas pesquisas.

Esse é o drama de Michel Temer. Emparedado por investigações e sem respaldo da população, o presidente reúne dificuldades para conter à debandada de seus aliados, mais preocupados com suas próprias eleições. Caso Temer não consiga reagir, esse tende a ser um caminho sem volta. No Inferno, Dante, guiado pelo poeta Virgílio, percorre locais onde os pecadores enfrentam punições pelo que fizeram em vida. No seu inferno particular, Temer arde em fogo alto e enfrenta desventuras no exercício do mandato, não pelo que fez, mas principalmente pelo que deixou de fazer.
04/05/18