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sexta-feira, 3 de dezembro de 2010

"Verdadeira enganação"

Juíza: Operação no Alemão é "verdadeira enganação"

Ana Cláudia Barros - Terra magazine

"Uma verdadeira enganação". Esta foi a definição encontrada pela secretária do Conselho Executivo da Associação de Juízes para a Democracia (AJD), Kenarik Boujikian Felippe, para a resposta das forças de segurança à onda de violência no Rio de Janeiro. A magistrada, que é titular da 16ª Vara Criminal de São Paulo, considera equivocada a maneira como o tráfico de drogas está sendo combatido. Para ela, só a base da pirâmide está sendo atingida.


"O que se vê é a prisão dos pequenos. Para se ter um efeito real, é preciso combater os que estão lá em cima. Os de baixo são substituíveis", afirma, destacando que "a ponta de cima" é o empresário que ganha muito dinheiro com o tráfico. "Esse é intocável".


A juíza condena ainda os casos de violação de direitos humanos que começam a vir à tona após as ocupações, sobretudo, do Complexo do Alemão, e o tratamento que parte da imprensa tem dado às operações policiais. Os dois assuntos foram alvos de críticas da AJD, que, no início da semana, divulgou nota repudiando "a naturalização da violência ilegítima como forma de contenção ou extermínio da população indesejada e também com a abordagem dada aos acontecimentos por parcela dos meios de comunicação de massa que, por vezes, desconsidera a complexidade do problema social, como também se mostra distanciada dos valores próprios de uma ordem legal-constitucional".


- O papel da imprensa é trazer dados, informações para que as pessoas reflitam. Se você não mostra os fatos sob o ângulo da violação - que, infelizmente, está acontecendo -, se você vende uma imagem de que aquilo é uma solução, faz um desserviço.


Confira a entrevista clicando
aqui.

Dezembro 03, 2010

segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O acordo, a ocupação pacífica do Complexo do Alemão e o futuro

O acordo, a ocupação pacífica do Complexo do Alemão e o futuro
Por Reinaldo Azevedo

Como vocês estão cansados de saber a esta altura, a polícia entrou no Complexo do Alemão praticamente sem resistência.

Bandido é bandido, mas não é burro. Resistir ao aparato que reúne PM (Bope), PF e Forças Armadas seria suicídio coletivo.

Muita droga foi apreendida. Não se sabe ao certo o número de presos até agora, mas não são muitos. Também é pequena a apreensão de armas, dado o arsenal já exibido pelos bandidos.

A ocupação não rende um filme de ação, algo como Tropa de Elite 3. Acabou sendo chocha. Melhor assim em certo sentido. Do contrário, haveria muitas mortes: de bandidos, de militares e também de moradores.

Depois de cantar o Hino Nacional, o Hino da Proclamação da República, o Hino à Bandeira e o Hino da Independência, a gente pode começar a pensar.

Esse desdobramento não é acidental. Desde o cerco ao complexo, as forças de segurança negociam com a bandidagem. O, como é mesmo?, “mediador social” (ou coisa assim) José Júnior, da ONG AfroReggae, foi uma das pessoas que fizeram o meio-de-campo.

A “ocupação” só foi decidida depois de um acordo.

Ficou estabelecido que as forças de segurança “invadiriam” a área sem resistência.

Os bandidos ofereceram a passividade, e o Estado lhes deu o direito de tentar fugir.
A região é gigantesca. Bem poucos trazem estampado no corpo a marca “sou bandido”, a exemplo de um tal Leandro Sedano, 20 anos. Ele mandou tatuar três vezes o nome de “Fernandinho Bera Mar” (sic) nos braços; numa das mãos, um folha de maconha; nas costas, a expressão “eu cheiro”.

Ou seja: Leandro é um Zé Mané. O tráfico não confiaria a ele um papelote de cocaína para vender - ele cheiraria o pó…


A polícia não tem o retrato de todos os traficantes, e ninguém pode ser preso se estiver em casa, assistindo ao confronto Corinthians X Fluminense…

É claro que era preciso ocupar o Complexo do Alemão — aliás, é preciso levar Estado a todas as favelas do Rio.

No que concerne à entrada no morro propriamente, o certo é isso que se vem fazendo agora, não o que se vinha fazendo antes.

Essa política é, sim, desdobramento da anterior (aquela que não prendia ninguém), mas pelo avesso.

As conseqüências negativas da escolha anterior forçaram a ação de emergência — embora esperada há pelo menos 20 anos pelos trabalhadores, que são reféns do narcotráfico, e pelo conjunto dos cariocas, que não suportavam mais ter sua rotina abalada pelos traficantes.
Pensando a coisa toda só por suas conseqüências, talvez se possa dizer que há males que vêm para bem — se vierem. O que quero dizer?


Feita a ocupação, é preciso fazer o trabalho de investigação para prender os traficantes, O QUE NÃO FOI FEITO ATÉ AGORA NAS 13 FAVELAS PACIFICADAS.

Em 11 delas, o tráfico opera normalmente. Mudou a logística, mudou o comportamento dos traficantes, direitos mínimos são garantidos pela Polícia, mas o comércio do bagulho segue normalmente.

Soldados do tráfico, tornados desnecessários nas favelas aonde chegaram as UPPs, haviam se deslocado para as favelas nas quais a polícia ainda não está presente.

Pedem que, nos meus textos, eu dê tempo ao tempo.

Ora, claro que sim!

Só estou chamando a atenção para uma evidência: caso se repita no Alemão o que aconteceu nas 13 favelas já “pacificadas”, o tráfico será “civilizado”, e quase ninguém será preso, com uma apreensão de armas pequena, dado o arsenal da bandidagem.
E a isso não se pode chamar exatamente “combater” o tráfico.

Fala-se na apreensão de até 20 toneladas de maconha só no Alemão!

É um troço fabuloso!

Dado o andar anterior da carruagem, toda essa mercadoria logo seria posta para circular, financiando esse ramo da economia que, estima-se, emprega 16 mil pessoas só no Rio de Janeiro.


Como se nota, estavam certos todos aqueles que se perguntavam indignados:

“Mas por que a polícia e as Forças Armadas não sobem os morros e tomam as fortalezas do tráfico?”

Pois é…

Por quê?

Que bom que o tenham feito agora!

Os próximos dias e meses dirão até onde se preparou um espetáculo para turistas — como turística era a política anterior.

Sem investigação, prisões em massa e o devido processo legal, nada feito!


28/11/2010

RECIBO DO FRACASSO

RECIBO DO FRACASSO

Por Maria Lucia Victor Barbosa

O Rio de Janeiro é o cartão postal do Brasil, sonho de turistas estrangeiros. E não faltam belezas naturais em todo Estado do Rio.


No entanto, o que se vê nestes tristes dias é a explosão descomunal de um processo de violência vinculada ao narcotráfico, se bem que tiroteios, assaltos, assassinatos faz tempo atemorizam a população carioca.

Segundo consta, começou com Leonel Brizola o que hoje é o Estado paralelo do crime. Para se eleger, Brizola fez acordo com bicheiros e a polícia não podia subir os morros para não incomodá-los.

Dos bicheiros aos narcotraficantes foi tramado o enredo tenebroso que se alastrou pelo tempo sustentado pela corrupção das autoridades, pela impunidade, pela indiferença social.


Se esse câncer social não é de agora, é preciso lembrar que Lula da Silva iniciou seu primeiro mandato prometendo que tudo iria mudar.

Foram prometidos doze presídios de segurança máxima, mas só um foi construído em Cantanduvas – PR.

Uma ideia megalomaníaca acenava com a regularização de todas as favelas do Brasil e, claro, nada foi feito nesse sentido.

Alçado ao posto de redentor dos pobres, pela propaganda e pelo culto da personalidade, Lula da Silva vive se gabando que praticamente acabou com miséria no País.

Mas, se o Brasil é um paraíso sem pobreza e desemprego, o que leva jovens favelados a se unirem aos narcotraficantes como única opção para uma breve e bestial vida?

Na verdade, a explosão do terrorismo nunca antes vista no Rio de Janeiro e nesse país é o recibo do fracasso dos governos Federal e Estadual na área da Segurança Pública.

E quando os criminosos continuam a por fogo em ônibus e outros veículos, mesmo diante de todo aparato policial e do apoio das FFAA, o recado está dado para as autoridades: vocês não valem nada, somos nós que mandamos.

Dirá o governador Sérgio Cabral, eleito com espetacular votação, que as Unidades de Polícia Preventiva asseguraram a paz em algumas favelas cariocas e, que por isso, bandidos de lá fugiram para por fogo nas ruas.

De fato, não deixa de ser interessante a presença da policia junto à população, mas as UPPs, que valeram votos para a candidata do presidente, não são suficientes.

Há que ter no governo um sistema de inteligência capaz de rastrear com antecedência as manobras dos traficantes e das milícias, prisões sem trégua para retirar os marginais do meio social, juízes que não soltem os bandidos facilmente, ação constante de confisco de armas e drogas, uma polícia bem paga e bem armada que não dê trégua aos criminosos.

No tocante à remuneração dos policiais, o estabelecimento de um piso salarial nacional, projeto que tramita no Congresso, já foi detonado por Lula da Silva.

Ele quer mesmo o trem-bala, desperdício não menos faraônico do que seria a construção de uma ONG em forma de pirâmide, que serviria unicamente para cultuar o presidente da República e facilitar seus negócios.

Sobre a ação da Polícia Militar e Civil, especialmente do Bope, é justo louvar a coragem e o heroísmo dos policiais que arriscam suas vidas numa guerra sem fim. E se a magnitude da violência ultrapassou a violência cotidiana e demandou o apoio das FFAA, esse apoio devia ser habitual para que não se chegasse ao que se presencia agora.

Portanto, apesar dos discursos e poses de autoridades federais e estaduais para TVs é lógico afirmar que governos fracassaram redondamente quanto à Segurança da população.

Relembre-se que, se o problema é mais acentuado no Rio, existe em todo país.

Não basta, então, dizer que os acontecimentos derivam da fuga de bandidos das favelas por causa das UPPs.

O problema é muito mais profundo e estrutural.

Seria também necessário maior controle das fronteiras por onde entram drogas e armas, especialmente na Tríplice Fronteira e nas fronteiras com a Colômbia e a Bolívia.

No tocante às sanguinárias Farc, é conhecido seu intercâmbio com traficantes brasileiros, mas, lamentavelmente, o presidente Lula da Silva recusou o pedido do então presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, para classificar as Farc como terroristas.

Além disso, existe liderança das Farc morando no Brasil com o privilégio de ter sua mulher nomeada para cargo governamental.

Sem falar que altas autoridades do governo Lula, que continuarão no governo Rousseff, frequentam o Foro de São Paulo onde se reúnem as esquerdas latino-americanas, incluindo, as Farc, das quais são muito amigas.

Resumindo, o espetáculo da guerra do tráfico no Rio de Janeiro é o retrato do final de oito anos do governo Lula que passa recibo do fracasso na Segurança Pública.

É também um dos aspectos da herança maldita que Dilma Rousseff vai receber.


Outras maldições continuarão na Saúde, na Educação, na infraestrutura, na gastança, na dívida pública, no descontrole da inflação que o reconduzido ministro Mantega quer camuflar.

O povo quis.

O povo terá.


Maria Lucia Victor Barbosa é socióloga
mlucia@sercomtel.com.br
www.maluvibar.blogspot.com
27/11/2010