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segunda-feira, 29 de novembro de 2010

O acordo, a ocupação pacífica do Complexo do Alemão e o futuro

O acordo, a ocupação pacífica do Complexo do Alemão e o futuro
Por Reinaldo Azevedo

Como vocês estão cansados de saber a esta altura, a polícia entrou no Complexo do Alemão praticamente sem resistência.

Bandido é bandido, mas não é burro. Resistir ao aparato que reúne PM (Bope), PF e Forças Armadas seria suicídio coletivo.

Muita droga foi apreendida. Não se sabe ao certo o número de presos até agora, mas não são muitos. Também é pequena a apreensão de armas, dado o arsenal já exibido pelos bandidos.

A ocupação não rende um filme de ação, algo como Tropa de Elite 3. Acabou sendo chocha. Melhor assim em certo sentido. Do contrário, haveria muitas mortes: de bandidos, de militares e também de moradores.

Depois de cantar o Hino Nacional, o Hino da Proclamação da República, o Hino à Bandeira e o Hino da Independência, a gente pode começar a pensar.

Esse desdobramento não é acidental. Desde o cerco ao complexo, as forças de segurança negociam com a bandidagem. O, como é mesmo?, “mediador social” (ou coisa assim) José Júnior, da ONG AfroReggae, foi uma das pessoas que fizeram o meio-de-campo.

A “ocupação” só foi decidida depois de um acordo.

Ficou estabelecido que as forças de segurança “invadiriam” a área sem resistência.

Os bandidos ofereceram a passividade, e o Estado lhes deu o direito de tentar fugir.
A região é gigantesca. Bem poucos trazem estampado no corpo a marca “sou bandido”, a exemplo de um tal Leandro Sedano, 20 anos. Ele mandou tatuar três vezes o nome de “Fernandinho Bera Mar” (sic) nos braços; numa das mãos, um folha de maconha; nas costas, a expressão “eu cheiro”.

Ou seja: Leandro é um Zé Mané. O tráfico não confiaria a ele um papelote de cocaína para vender - ele cheiraria o pó…


A polícia não tem o retrato de todos os traficantes, e ninguém pode ser preso se estiver em casa, assistindo ao confronto Corinthians X Fluminense…

É claro que era preciso ocupar o Complexo do Alemão — aliás, é preciso levar Estado a todas as favelas do Rio.

No que concerne à entrada no morro propriamente, o certo é isso que se vem fazendo agora, não o que se vinha fazendo antes.

Essa política é, sim, desdobramento da anterior (aquela que não prendia ninguém), mas pelo avesso.

As conseqüências negativas da escolha anterior forçaram a ação de emergência — embora esperada há pelo menos 20 anos pelos trabalhadores, que são reféns do narcotráfico, e pelo conjunto dos cariocas, que não suportavam mais ter sua rotina abalada pelos traficantes.
Pensando a coisa toda só por suas conseqüências, talvez se possa dizer que há males que vêm para bem — se vierem. O que quero dizer?


Feita a ocupação, é preciso fazer o trabalho de investigação para prender os traficantes, O QUE NÃO FOI FEITO ATÉ AGORA NAS 13 FAVELAS PACIFICADAS.

Em 11 delas, o tráfico opera normalmente. Mudou a logística, mudou o comportamento dos traficantes, direitos mínimos são garantidos pela Polícia, mas o comércio do bagulho segue normalmente.

Soldados do tráfico, tornados desnecessários nas favelas aonde chegaram as UPPs, haviam se deslocado para as favelas nas quais a polícia ainda não está presente.

Pedem que, nos meus textos, eu dê tempo ao tempo.

Ora, claro que sim!

Só estou chamando a atenção para uma evidência: caso se repita no Alemão o que aconteceu nas 13 favelas já “pacificadas”, o tráfico será “civilizado”, e quase ninguém será preso, com uma apreensão de armas pequena, dado o arsenal da bandidagem.
E a isso não se pode chamar exatamente “combater” o tráfico.

Fala-se na apreensão de até 20 toneladas de maconha só no Alemão!

É um troço fabuloso!

Dado o andar anterior da carruagem, toda essa mercadoria logo seria posta para circular, financiando esse ramo da economia que, estima-se, emprega 16 mil pessoas só no Rio de Janeiro.


Como se nota, estavam certos todos aqueles que se perguntavam indignados:

“Mas por que a polícia e as Forças Armadas não sobem os morros e tomam as fortalezas do tráfico?”

Pois é…

Por quê?

Que bom que o tenham feito agora!

Os próximos dias e meses dirão até onde se preparou um espetáculo para turistas — como turística era a política anterior.

Sem investigação, prisões em massa e o devido processo legal, nada feito!


28/11/2010

1 comentários:

Fusca disse...

Tens novo seguidor, o Fusca.
Se necessitarem charges para algum dos temas abordados, talvez encontrem no www.fuscabrasil.blogspot.com

Parabéns pelo blog!