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quarta-feira, 17 de junho de 2020

Supremo forma maioria favorável ao prosseguimento do inquérito das fake news


Inquérito foi instaurado pelo próprio Supremo Tribunal Federal para apurar difusão de informações falsas e ameaças a ministros. Partido moveu ação que questionou legalidade.

Por Rosanne D'Agostino
G1 — Brasília


O Supremo Tribunal Federal (STF) formou nesta quarta-feira (17) maioria de votos favoráveis ao prosseguimento do chamado "inquérito das fake news", aberto no ano passado por iniciativa do próprio tribunal, a fim de apurar a disseminação de informações falsas e ameaças a ministros.


Até a última atualização desta reportagem, 8 dos 11 ministros já tinham votado a favor da validade do inquérito, e o julgamento continuava, com os votos dos demais ministros.


O tribunal analisa uma ação que contesta a legalidade da investigação, apresentada em 2019 pelo partido Rede Sustentabilidade. Há três semanas, o próprio partido apontou uma escalada da difusão de fake news e pediu a extinção da ação. Mas o relator do processo, ministro Edson Fachin, rejeitou o pedido e decidiu remeter o caso para o plenário do Supremo.


Foi no âmbito desse inquérito que o ministro Alexandre de Moraes autorizou uma operação, em maio deste ano, de buscas e apreensões contra empresários e blogueiros ligados ao presidente Jair Bolsonaro.


Para Moraes, há provas que apontam para a "real possibilidade" de uma associação criminosa ter sido formada para a disseminação das fake news. Ele afirmou ainda que as informações falsas afetam a independência entre os poderes e põem em risco a democracia.


Os votos

O julgamento começou na semana passada com o voto do ministro Edson Fachin. Ele defendeu a continuidade da investigação, desde que acompanhada pelo Ministério Público e que advogados tenham acesso aos autos e observe a liberdade de expressão.


Ministro Edson Fachin vota a favor da validade do inquérito das fake news


Na sessão desta quinta, Fachin retirou essas premissas, sob o entendimento de que já estão sendo cumpridas no âmbito do inquérito das fake news. Esse entendimento foi acompanhado nos demais votos.


Primeiro a votar na retomada do julgamento, nesta quarta-feira, Alexandre de Moraes acompanhou o relator, afirmando que esse tipo de inquérito é previsto no regimento, que estabelece “expressamente” a possibilidade de instauração de procedimento investigatório pelo presidente do STF. “Texto expresso”, afirmou.

Inquérito das fake news: Alexandre de Moraes acompanha voto do relator


Moraes citou caso de um artefato que explodiu em frente à casa de um dos ministros, "para que se pare de uma vez por todas de se fazer confusões de críticas, por mais ácidas que sejam, que devem existir e continuar, com agressões, ameaças e coações”.


Ele leu trechos de ameaças que estão no inquérito:

“'Que estuprem e matem as filhas dos ordinários ministros do STF'. Em nenhum lugar do mundo isso é liberdade de expressão. Isso é bandidagem, criminalidade. Postado por uma advogada do Rio Grande do Sul, incitando o estupro”.
“Quanto custa atirar à queima roupa nas costas de cada filho da p... de ministro do STF que queira acabar com a prisão em segunda instância. Se acabar com a segunda instância, só nos basta jogar combustível e tocar fogo do plenário com os ministros dentro. Onde está aqui a liberdade de expressão?”
“Já temos em poder armas e munição de grosso calibre. Esconda seus filhos e parentes bem escondido na Europa, porque aqui não vai ter onde se esconder. Faremos um tribunal em praça pública com direito ao fuzilamento de todos os parasitas e vagabundos estatais.”


O ministro defendeu que a investigação é “mais que um direito, é um dever” do presidente do STF contra “fatos orquestrados com intuito de intimidar e deslegitimar o papel da Corte”.


“Coagir, atacar, constranger, ameaçar, contra o Supremo, contra seus familiares, magistrados, é atentar contra a Constituição, a Democracia e o Estado de Direito”, afirmou.


Terceiro a votar pela legalidade do inquérito, Luís Roberto Barroso defendeu que o exercício de liberdade de expressão não é infração à lei penal, por isso, não é alvo do inquérito.

Inquérito das fake news: Luís Roberto Barroso acompanha voto do relator


“A livre circulação de ideias, de fato e de opinião é pressuposto do exercício de múltiplas liberdades”, disse.


“É preciso não confundir liberdade de expressão com outros comportamentos”, afirmou Barroso. “A democracia não tem espaço para a violência, para as ameaças e para o discurso de ódio. Isso não é liberdade de expressão. Isso tem outro nome, se insere dentro da rubrica maior que é a criminalidade.”


Barroso disse que o inquérito é a legítima defesa do STF e que “nenhuma sociedade civilizada pode tolerar esse tipo de conduta, esse tipo de desrespeito às instituições e as pessoas”.


“Juiz tem que ser independente, tem que poder julgar sem medo, medo pessoal, medo pela sua família. Juiz não exerce poder em nome próprio, exerce poder em nome da sociedade, sob a Constituição, para fazer o que é certo. Juiz não tem amigo ou inimigo, nem adversário, nem aliado. A lógica do juiz é do certo ou errado, justo ou injusto, legítimo ou ilegítimo”, afirmou o ministro.


Segundo Barroso, “uma das características do pensamento fascista é a inaceitação do outro, é a crença de que existam donos da verdade”, e que, “na democracia, a verdade não tem dono”.


A ministra Rosa Weber disse que há precedentes desse tipo de investigação no âmbito dos três poderes e que o tema das fake news tem sido alvo de preocupação geral.

Rosa Weber acompanha Fachin e vota pela validade do inquérito das fake news


Segundo Rosa Weber, a desinformação divulgada em larga escala passou a influenciar a sociedade nos mais diversos temas, produzindo um choque de realidade sobre a dimensão do problema.


“Nos vemos às voltas com ataques sistemáticos que em absoluto se circunscrevem a críticas e divergências abarcadas no direito de livre expressão e manifestação assegurados constitucionalmente. Antes, ameaças destrutivas as instituições e seus membros com a intenção de desmoralizá-las”, afirmou.


Segundo Rosa Weber, ataques deliberados e destrutivos ao Supremo e seus membros, com pretensão ao seu fechamento, longe de traduzir exercício da liberdade do direito de expressão, “revelam não só absoluto desapreço à democracia e total incompreensão ao que ela representa, como também em seu extremo de ameaças graves,, configuram crimes”, completou.


O ministro Luiz Fux afirmou que o poder jurisdicional é o poder “também de aferir a existência de crimes, principalmente em defesa da jurisdição”.

Assista ao voto de Luiz Fux no inquérito que apura fake news


“Não é estranhável que o juiz diante de fatos gravíssimos que o juiz não possa atuar de ofício para depois remeter os autos ao Ministério Público.”


Fux afirmou que os atos praticados são gravíssimos à dignidade da Corte e da Democracia. “Estamos aferindo atos gravíssimos que se enquadram no Código Penal, na Lei de Segurança Nacional, na Lei de Organizações Criminosas e são atos equiparados ao terrorismo”, afirmou.


“É o germe inicial da instalação no Brasil de atos de terrorismo contra a Corte, visando a levar o terror, no afã de fazer com que os juízes percam aquilo que é a essência de sua jurisdição, que é a sua independência”, afirmou.


"Temos que matar no nascedouro esses atos abomináveis que estão sendo praticados contra o STF. Dar um basta nesses atentados à dignidade da Corte, é nosso dever de ofício coibí-los.”


Sexta a apresentar o voto, a ministra Cármen Lúcia também se manifestou pela validade do inquérito, formando maioria para dar continuidade às investigações.


Assista ao voto de Cármen Lúcia no inquérito que apura fake news


“Liberdade de expressão é gênero de primeira necessidade na democracia. Liberdade de imprensa é artigo imprescindível na cesta básica dos direitos fundamentais”, afirmou.


Segundo a ministra, “liberdade rima juridicamente com responsabilidade, mas não rima com criminalidade, menos ainda com impunidade de atos criminosos”.


“Não é parte desse inquérito, nem poderia, qualquer expressão livre do que se pensa, mas os atos que atentam contra as instituições”, completou.


Para a ministra, “discursos de ódio, de destruição do estado democrático, falas de incitação a crime, são contrários ao direito, aos valores da dignidade humana, da pluralidade democrática e não é uma ou outra pessoa, um ou outro juiz que não a suporta, é o sistema constitucional que não a permite”.


O ministro Ricardo Lewandowski afirmou que cabe ao presidente do STF, com responsabilidade “intransferível”, zelar pela segurança dos membros da Corte.



Lewandowski volta pela constitucionalidade do inquérito das fake news


Lewandowski disse que não se verificou, ao longo do inquérito, nenhum impedimento de acesso ao Ministério Público ou aos advogados.


Sobre o sigilo, o ministro afirmou que foi determinado para garantir o êxito da coleta de provas e também para proteger a própria privacidade dos investigados, como reza a Constituição.


O ministro Gilmar Mendes também acompanhou o relator. Ele afirmou que a disseminação de notícias falsas foi considerada um problema maior do que o terrorismo e deve ser compelido pelo Supremo.


“A divulgação massiva de notícias falsas não é enfrentada apenas pelo estado brasileiro”, disse o ministro. “Estamos no meio de um ataque mundial com base na internet às democracias, na qual a primeira baixa é a confiança no regime democrático.”


Segundo Gilmar Mendes, no Brasil, houve “peculiaridades”, como o processo relativo ao disparo em massa durante o processo eleitoral de 2018 e que gerou divulgação ameaças, injúrias e calúnia à ministra Rosa Weber, então presidente do Tribunal Superior Eleitoral. Além de notícias falsas sobre a urna eletrônica.

O ministro afirmou que, atualmente, novas “câmaras de ego” geradas pelas redes sociais e seus algoritmos criam “suspeitas delirantes”.

“Não se trata de liberdade de expressão. O movimento orquestrado de robôs, recursos e pessoas para divulgar de forma sistemática ameaças ao STF, seus ministros e familiares passa longe da mera crítica ou manifestação de opinião. Trata-se de movimento organizado e orquestrado que busca atacar um dos poderes responsáveis pelos poderes fundamentais e das regras do jogo democrático”, afirmou.

17/06/2020


O que se sabe sobre o inquérito que levou às buscas e quebras de sigilo contra apoiadores de Bolsonaro


Inquérito sigiloso resultou em mandados de busca contra blogueiros bolsonaristas nesta terça-feira, e levou à prisão líderes dos "300 do Brasil" ontem.
André Shalders
Da BBC News Brasil em Brasília


Os mandados foram emitidos por decisão ministro do Supremo Alexandre de Moraes, que é o relator do inquérito das manifestações antidemocráticas
Foto: NELSON JR./SCO/STF / BBC News Brasil


O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Alexandre de Moraes determinou, na tarde desta terça-feira (16), a quebra dos sigilos bancários de dez deputados federais e um senador aliados ao presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido).




Pela manhã, a Polícia Federal cumpriu mandados de busca e apreensão em endereços ligados a 21 pessoas — entre elas, o blogueiro bolsonarista Allan dos Santos, mais conhecido como Allan Terça Livre.

Tanto as buscas quanto a quebra dos sigilos dos parlamentares ocorreram no âmbito do Inquérito 4.828, que apura manifestações contra a democracia e violações à Lei de Segurança Nacional — uma norma criada durante a ditadura militar (1964-1985), regime defendido por parte da militância bolsonarista.

Informalmente, esta investigação é conhecida como o "inquérito das manifestações antidemocráticas".


Tiveram seus sigilos quebrados os deputados Daniel Silveira (PSL-RJ), que também foi alvo das buscas na manhã desta terça; e também Cabo Junio Amaral (PSL-MG), Carla Zambelli (PSL-SP), Carol de Toni (PSL-SC), Alê Silva (PSL-MG), Bia Kicis (PSL-DF), General Girão (PSL-RN), Guiga Peixoto (PSL-SP), Aline Sleutjes (PSL-PR) e Otoni de Paula (PSC-RJ). O senador Arolde de Oliveira (PSL-RJ) também teve o sigilo quebrado.

Além das quebras de sigilo, o inquérito também resultou em buscas na manhã desta terça-feira. As operações ocorreram em Brasília e também nos Estados de São Paulo, Rio de Janeiro, Minas Gerais, Maranhão e Santa Catarina, segundo informações da Polícia Federal.

Um dos alvos é o empresário e advogado Luís Felipe Belmonte — atual vice-presidente do Aliança pelo Brasil. Ele é casado com a deputada federal Paula Belmonte (Cidadania-DF). Ele reagiu com indignação à ação da PF. O episódio seria "totalmente abusivo", na opinião dele.

"Estão fazendo isso por quê? Porque eu sou um dos organizadores do partido do presidente da República? Eu acho meio estranho isso", disse.

Entre os youtubers, foram alvo da ação Camila Abdo, do canal Direto aos Fatos; o Ravox Brasil; um terceiro chamado Émerson Teixeira, o "professor opressor"; e também um quarto chamado Fernando Lisboa.

A ação da manhã desta terça tem por objetivo buscar "provas do financiamento e da organização de atos antidemocráticos realizados nos últimos meses no país", segundo a Procuradoria-Geral da República (PGR).

Ainda segundo o órgão, há indícios de que estas 21 pessoas estavam envolvidas nas manifestações que pediam o fechamento do Congresso Nacional e do Supremo Tribunal Federal (STF).

Segundo a PGR, uma das linhas de investigação é a de que os investigados estariam contando com o apoio de pessoas que possuem o chamado "foro privilegiado" — o que justificaria que fossem investigadas no inquérito do STF.

Os mandados foram emitidos por decisão ministro do Supremo Alexandre de Moraes — que é o relator do inquérito das manifestações antidemocráticas. Na Corte, Moraes é também o relator do inquérito das Fake News, embora sejam procedimentos distintos. Eventualmente, provas obtidas na operação de hoje também poderão ser usados na investigação das fake news.

Nesta terça-feira, alguns dos parlamentares que tiveram seus sigilos quebrados disseram que ainda não foram notificados do fato. Carla Zambelli (PSL-SP) encaminhou nota à reportagem dizendo que ela "não foi intimada a respeito de suposta quebra de sigilo bancário", "não sabendo sequer em qual procedimento a referida decisão pode ter sido ultimada".
Prisão de Sara Winter foi no mesmo inquérito

Na manhã desta segunda-feira (15), o mesmo inquérito deu origem a seis mandados de prisão contra líderes do movimento conhecido como "300 do Brasil", entre eles a militante de direita Sara Winter.

Ao pedir as prisões, a Procuradoria-Geral da República argumentou que Sara Winter e os demais militantes continuavam "organizando e captando recursos financeiros" para ações que se enquadram na Lei de Segurança Nacional, como atentar contra a integridade física dos chefes dos Poderes da República.

Após a prisão, Sara Geromini (nome verdadeiro de Sara Winter) foi levada para a Superintendência Regional da PF em Brasília, onde deu depoimento por cerca de uma hora. Ela e os outros cinco líderes do movimento deverão permanecer presos até o fim desta semana.

Segundo a PGR, o objetivo das prisões temporárias era "ouvir os investigados e reunir informações de como funciona o esquema criminoso".


Winter foi uma das fundadoras da variante brasileira do grupo Femen e chegou a 'castrar' um boneco que representava o então deputado federal Jair Bolsonaro; hoje, dedica-se a defender pautas conservadoras Foto: INSTAGRAM | SARA WINTER / BBC News Brasil

Já de acordo com os advogados de Sara Winter, a prisão se deu por causa do lançamento de fogos de artifício contra a STF — evento ocorrido na noite de sábado (13). A alegação, no entanto, não bate com as datas do processo: as prisões foram pedidas pela PGR ainda no sexta-feira (12), embora tenham sido autorizadas pelo ministro Alexandre de Moraes no domingo (14).

Desde o fim de maio, Sara Winter vinha fazendo provocações a Alexandre de Moraes. Em redes sociais, ela disse que levantaria informações sobre o ministro; que procuraria pessoas próximas a ele, e que descobriria detalhes sobre a vida pessoal do integrante do STF. "Nunca mais vai ter paz na sua vida", disse ela a respeito do ministro.

Principal organizadora do acampamento na Esplanada dos Ministérios, Winter admite que muitos dos integrantes do grupo andam armados.

No fim de maio, Winter foi alvo de busca e apreensão em outra operação da Polícia Federal, determinada pelo Supremo — naquela ocasião, o procedimento fazia parte do inquérito das "fake news".

Poucos dias depois, em 31 de maio, o grupo dos "300 do Brasil" realizou um protesto com tochas e máscaras em frente ao prédio do Supremo.
Inquérito sigiloso no STF

As prisões de Winter e dos outros cinco militantes aconteceram no âmbito do chamado "inquérito das manifestações antidemocráticas": uma investigação pedida pelo procurador-geral da República, Augusto Aras, em 20 de abril, para investigar pessoas que passaram a organizar manifestações contra o regime de democracia representativa, em vigor no país.

Entre os alvos do inquérito estariam inclusive deputados federais que apoiam o presidente da República, Jair Bolsonaro (sem partido) — e é por isso que o caso tramita no STF. O procedimento é sigiloso.

O inquérito foi aberto pelo STF no dia seguinte ao pedido da PGR, 21 de abril.

A decisão de Augusto Aras de pedir a abertura do inquérito aconteceu após os protestos de 19 de abril em Brasília: na ocasião, Jair Bolsonaro rompeu o isolamento social em vigor no Distrito Federal para cumprimentar manifestantes em frente ao Quartel General do Exército. Muitos deles levavam faixas pedindo o fechamento do Congresso e pregavam uma "intervenção militar", além de pedir o retorno do AI-5 — medida que endureceu o regime militar.

À época da abertura do inquérito, Alexandre de Moraes disse que eram "gravíssimos" os fatos apresentados pela Procuradoria-Geral da República.

"É imprescindível a verificação da existência de organizações e esquemas de financiamento de manifestações contra a Democracia e a divulgação em massa de mensagens atentatórias ao regime republicano, bem como as suas formas de gerenciamento, liderança, organização e propagação que visam lesar ou expor a perigo de lesão os Direitos Fundamentais, a independência dos Poderes instituídos e ao Estado Democrático de Direito, trazendo como consequência o nefasto manto do arbítrio e da ditadura", disse Alexandre de Moraes em nota, à época.
Dias agitados na Esplanada dos Ministérios

Os últimos dias foram de tumulto na região central de Brasília.

Nesta terça-feira (16), o governador do Distrito Federal, Ibaneis Rocha (MDB), fechou o acesso de veículos e pedestres à Esplanada dos Ministérios e à Praça dos Três Poderes. A vedação continuará em vigor nesta quarta (17).

No decreto que determinou o fechamento, Ibaneis cita "ameaças de manifestações com conteúdos anticonstitucionais"e "contra os Poderes" da República.

O fechamento também foi determinado por causa de ameaças recebidas pelo bispo auxiliar de Brasília, dom Marcony Ferreira. Na manhã desta terça, algumas pessoas teriam começado a montar barracas em frente à Catedral Metropolitana de Brasília, que fica na Esplanada — e diante da negativa do bispo para o acampamento, teriam reagido com ameaças.

"Um deles disse: 'você não sabe com quem está falando. Nós vamos voltar'", narrou o bispo.

Na manhã de sábado (13), uma operação do Governo do Distrito Federal tinha desmantelado o acampamento dos "300 do Brasil", coordenado por Sara Winter, no estacionamento do Ministério da Justiça, na Esplanada.

Participaram da ação integrantes da Polícia Militar do DF, do Corpo de Bombeiros e da Secretaria de Estado de Proteção da Ordem Urbanística (DF Legal). Spray de pimenta foi usado para dispersar alguns dos manifestantes, que se recusavam a deixar o local.

Faixas, lona e estruturas metálicas foram retirados. Também foi removida a tenda do "QG Rural" de Brasília, um estande mantido por produtores rurais pró-Bolsonaro, e instalado próximo do Ministério da Agricultura.

Ainda no sábado, militantes bolsonaristas dos "300 do Brasil" e de outros grupos tentaram invadir o Congresso Nacional e chegaram a subir no parte de cima do edifício principal do prédio que abriga o Legislativo — a área é de acesso restrito.

No sábado à noite, mais uma manifestação: desta vez, usando fogos de artifício, disparados em direção ao prédio do STF. A defesa de Sara Winter nega envolvimento dela neste episódio.

16 jun 2020

'Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar', diz Bolsonaro


Presidente classificou operação contra aliados, determinada pelo STF, de 'abuso'


Por Daniel Gullino
O Globo
O presidente Jair Bolsonaro, em cerimônia no Palácio da Alvorada
Foto: Adriano Machado/Reuters/09-06-2020


BRASÍLIA — O presidente Jair Bolsonaro classificou nesta quarta-feira a operação realizada na véspera contra aliados seus, por determinação do Supremo Tribunal Federal (STF), como "abuso" e afirmou que "está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar", mas disse que não será o "primeiro a chutar o pau da barraca", sem explicar a que estava se referindo.

Analítico:O que Bolsonaro não disse

— Eu não vou ser o primeiro a chutar o pau da barraca. Eles estão abusando. Isso está a olhos vistos. O ocorrido no dia de ontem, quebrando sigilo de parlamentares, não tem história nenhuma vista em uma democracia por mais frágil que ela seja. Está chegando a hora de tudo ser colocado no devido lugar — disse Bolsonaro a apoiadores, na saída do Palácio da Alvorada.

No âmbito do mesmo inquérito em que foi realizada a operação, o ministro Alexandre de Moraes, do STF, determinou a quebra do sigilo bancário de 11 parlamentares bolsonaristas para apurar se eles atuaram no financiamento de atos antidemocráticos, que pediam o fechamento do STF e do Congresso Nacional.


Segundo Bolsonaro, "está chegando a hora" de "todos, sem exceção, entenderem o que é democracia". Ele disse que cada um dos Três Poderes não pode fazer o que quiser.

— Está chegando a hora de nós acertamos o Brasil no rumo da prosperidade e de todos, sem exceção, entenderem o que é democracia. Democracia não é o que eu quero, eu e você, o que um Poder quer, o que outro Poder quer. Está chegando a hora, fique tranquila.

Merval Pereira: Dificilmente será superada a crise entre o Palácio e o STF

Na noite de terça-feira, em um texto publicado em suas redes sociais que não mencionou a operação, Bolsonaro já havia criticado "ataques concretos" contra seu governo e prometeu tomar "todas as medidas legais possíveis".

Os comentários desta quarta-feira foram feitos após uma apoiadora afirmar que os outros Poderes não deixam Bolsonaro governar. O presidente disse estar fazendo "exatamente o que deve ser feito" e reclamou dos que o criticam sem ter a mesma experiência.

— Desde os anos 70 eu já estava na luta armada. Eu conheço tudo que está acontecendo no Brasil. Você está falando respeitosamente comigo. Mas tem gente que nasceu 40 anos depois do que eu e quer dizer como eu devo governar o Brasil. Eu estou fazendo exatamente o que deve ser feito.

Bolsonaro ainda disse que "terrorismo" não é "o que alguns estão achando":

— Terrorismo é você meter carro bomba em guarita no Exército, meter bomba em aeroporto dos Guarapres. É um montão de coisas. Terrorismo é isso, não é o que alguns estão achando que é.

17/06/2020