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sábado, 14 de abril de 2012

Investigação já põe PT em colisão com PMDB


O alcance da CPI ameaça expoentes do governo, da oposição, dentro e fora do Executivo, em Brasília e nos Estados

Dilma Rousseff e Michel Temer durante a cerimônia do ministro do Desenvolvimento Agrário Pepe Vargas, em Brasília
(Ueslei Marcelino/Reuters )

Um dia depois de anunciar a criação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) para apurar as ligações políticas do contraventor Carlinhos Cachoeira, o Congresso e o Palácio do Planalto tomaram um susto com o alcance das investigações, que ameaçam expoentes do governo, da oposição, dentro e fora do Executivo, em Brasília e nos Estados, e pode atingir uma forte doadora de campanha do PMDB (com negócios em vários Estados): a Delta Construções.

Com isso, o PMDB e o PT entraram em rota de colisão. Apesar do clima de arrependimento, no entanto, não havia espaço para brecar a CPI. "Agora não dá mais para segurar. Avançamos demais, e não tem retorno", avisou o líder do PMDB no Senado, Renan Calheiros (AL), a petistas que ensaiavam um recuo nesta quarta-feira. "Eu avisei... Esses caras são irresponsáveis", desabafou o presidente do Senado, José Sarney (PMDB-AP), que na véspera recebera em seu gabinete o presidente da Câmara, Marco Maia (PT-RS), para propor a criação de uma CPI mista das duas Casas do Congresso.

"Estamos numa enrascada que não tem fim", queixou-se um dirigente do PT, defendendo a tese de que é preciso dar um jeito de "melar" a CPI. O líder do governo no Congresso, senador José Pimentel (PT-CE), disse que a única alternativa para reduzir o estrago, a esta altura, é limitar o objeto da CPI ao senador Demóstenes Torres (sem partido-GO) e à arapongagem. Enquanto os petistas reclamavam da falta de articulação do Planalto, que deixou a CPI correr frouxa, aliados diziam que só voltam atrás se houver um pedido público da presidente Dilma Rousseff.

"Ninguém queria ficar com o ônus da recusa e a ideia da CPI acabou vingando no jogo do deixa que eu deixo", diz o senador tucano Cássio Cunha Lima (PB). "O governo não acreditava que topássemos e nós não achávamos que ele levaria isso adiante".

"Vingança" - Quando a CPI começou a ser discutida, os alvos eram o governador de Goiás, Marconi Perillo (PSDB), e o senador Demóstenes – em grande parte porque o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva busca uma espécie de "vingança política" contra Perillo. O que assustou foi a rede de contatos e negócios de Cachoeira, que percorre prefeituras goianas comandadas por vários partidos e avança de Goiás para o Centro-Oeste, o Sudeste e o Nordeste.

A empresa Delta, que tem vínculos com integrantes do esquema de Cachoeira e entrou na mira da CPI, também tem negócios com o governo federal, com governadores do PMDB, do PSDB e do PT e com prefeituras de vários partidos. Isso explica a irritação do governador do Rio de Janeiro, Sérgio Cabral, que foi a Brasília e reclamou da CPI.
(Com Agência Estado)
 
 
 
 

Dadá e o submundo dos grampos


O ex-agente do serviço secreto da Aeronáutica está por trás dos mais recentes escândalos da República.

Saiba quem o contratou, quais são seus operadores na polícia e no Ministério Público e como funciona o esquema do araponga

Claudio Dantas Sequeira
IstoÉ

Vídeo que reúne os principais trechos dos diálogos mantidos pelo araponga Dadá:
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ESPIÃO
Antes de virar araponga particular, Dadá prestou serviços à ditadura: foi infiltrado no MST e monitorou políticos
Em meio aos efeitos devastadores da Operação Monte Carlo, que prendeu o bicheiro Carlinhos Cachoeira, arrastou para a lama o senador Demóstenes Torres e lança suspeita sobre dois governos estaduais e a empreiteira Delta, líder em contratos públicos, um personagem saiu da sombra: o espião Idalberto Matias de Araújo.

Conhecido como Dadá, ele tem 51 anos, é ex-sargento da Aeronáutica e está preso em uma unidade militar do Distrito Federal.

Dadá é apontado pela Polícia Federal como o principal articulador de uma ampla rede de gravações clandestinas que vem assombrando Brasília há pelo menos uma década.

Documentos e gravações telefônicas já analisados por delegados que estão à frente da Operação Monte Carlo indicam que as ações de Dadá extrapolam em muito os limites do esquema montado por Cachoeira e não têm coloração partidária ou ideológica.

ISTOÉ obteve, com exclusividade, documentos sigilosos sobre o araponga e conversou com amigos dele, ex-colegas de farda e do submundo da espionagem.

Em seu histórico de serviços oficiais prestados ao Estado durante três décadas, Dadá acumulou prestígio invejável dentro da comunidade de informações e fez amigos, muitos amigos, entre políticos, empresários, policiais, promotores e procuradores.

Quando deixou de trabalhar para o Estado, Dadá se valeu dos antigos relacionamentos para fins particulares e se tornou o araponga que mais atemoriza os poderosos de plantão.

De acordo com a Polícia Federal, Dadá montou o maior esquema de espionagem da história recente do País. Trabalhando na sombra, ele serviu e ajudou a derrubar políticos influentes, como o ex-ministro José Dirceu, por exemplo.

Teve participação ativa na gravação que revelou um esquema de corrupção e loteamento político nos Correios que levou ao escândalo do Mensalão e influiu na celebração de contratos públicos em diversos setores.

Para manter em funcionamento um esquema que é capaz de gravar conversas telefônicas, eletrônicas ou pessoais, que acessa dados sigilosos da Receita Federal e dos mais variados órgãos de inteligência do governo federal e dos governos estaduais, Dadá tem a sua disposição uma equipe de colaboradores infiltrados em diversos órgãos.

São agentes públicos que criminosamente vazam ao araponga informações sigilosas sobre pessoas e empresas e que também recebem de Dadá colaboração clandestina para investigações em curso.

Um dos principais operadores do espião, segundo a PF, é o chefe do setor de Inteligência do Ministério Público do Distrito Federal, Wilton Queiroz. Gravações obtidas por ISTOÉ (leia quadro abaixo) mostram que Queiroz repassa ao espião dados confidenciais sobre inquéritos e processos que tramitam pelo MP.

Com essas informações, Dadá pode prevenir seus clientes sobre futuras ações da Justiça.

Em troca, o espião faz grampos clandestinos solicitados pelo promotor.

Se as conversas interceptadas interessarem ao Ministério Público, posteriormente é obtida uma autorização judicial para a realização de gravações oficiais.

Caso não interessem, o próprio Dadá tenta repassá-las a outros clientes.

A PF já sabe que, além de Queiroz, há um outro promotor de Brasília que atua em parceria com o araponga:

Libânio Alves Rodrigues, também mencionado nas gravações obtidas por ISTOÉ.



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EMPREGADORES
O bicheiro Carlinhos Cachoeira (acima) e o senador Demóstenes Torres contrataram Dadá para monitorar inimigos políticos e interceder em contratos públicos

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Assim como os promotores, de acordo com as investigações da Operação Monte Carlo, o espião conta com parceiros na Corregedoria da Polícia de Goiás, nos serviços reservados das Polícias Civil e Militar de Goiás, Distrito Federal, Mato Grosso, Rio de Janeiro e Espírito Santo.

Na esfera federal, agentes da comunidade de informações do Exército, da Aeronáutica e da Marinha ajudam Dadá na elaboração de dossiês, e agentes da Abin contribuem para que o araponga obtenha dados bancários e fiscais de pessoas físicas e jurídicas.

Na rede de operadores do esquema Dadá (leia quadro na pág. 46) também figuram delegados da própria Polícia Federal, já investigados pela Corregedoria.

Maranhanse de Bacabal, Dadá chegou a Brasília junto com os fundadores da capital no início da década de 1960.

Sem estudos, buscou na Aeronáutica um meio de sobrevivência.

Serviu cerca de seis anos como taifeiro e foi trabalhar na 2ª Seção, o setor de informações da FAB.

“Dadá não sabia cozinhar. Não tinha futuro como taifeiro”, ironiza um colega.


Em plena ditadura, da 2ª Seção ele foi para o temido Centro de Informações de Segurança da Aeronáutica (Cisa), agência integrante do SNI, o aparato repressivo criado pelos militares.

Sem formação para o trabalho interno, de análise, Dadá tornou-se agente de campo.

Fez curso de operações no Cefarh, antiga Esni (Escola Nacional de Informações), e passou a atuar na coleta de dados na Seção de Busca da Divisão de Operações.

Sua missão inicial era colher dados sobre pessoas que os militares chamavam de subversivos.

Foi dessa maneira que começou a construir relações com a Polícia Federal e as PMs de vários Estados.

Mantida em segredo até agora, uma das primeiras missões do araponga a serviço do Estado foi monitorar o advogado e ex-deputado federal Luiz Eduardo Greenhalgh.
Em 1980, o petista fundou em São Paulo o Comitê Brasileiro de Solidariedade aos Povos da América Latina (CBS), grupo de direitos humanos que fazia denúncias de tortura durante a ditadura e crítica aberta à doutrina de Segurança Nacional que ainda predominava no Brasil.

Dadá integrou a equipe que seguia os passos do advogado, registrava seus encontros com membros de partidos até então clandestinos e grupos de esquerda de outros países, como Cuba e Nicarágua.

Depois, Dadá foi escalado para espionar os chamados movimentos sociais.

Foi ele o responsável pelas primeiras infiltrações no Movimento dos Sem-Terra (MST), por exemplo.


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PATRIMÔNIO
Os rendimentos de Dadá se multiplicaram nos últimos três anos. O apartamento em Brasília é avaliado em R$ 800 mil
Com a redemocratização do País, o sargento continuou a atuar nos bastidores, mas ainda a serviço do Estado, e não de clientes particulares

Colaborou com a PF em ações contra o narcotráfico em Roraima e no Rio de Janeiro, especificamente na operação contra o traficante carioca Ernaldo Pinto de Medeiros, o Uê. Ali, Dadá ajudou a descobrir um esquema de desvio de armas envolvendo oficiais da própria FAB.

De volta a Brasília, e com a comunidade de informações em declínio, Dadá mergulhou no submundo da espionagem clandestina.

Ao contrário de boa parte dos antigos arapongas do regime militar que viraram detetives particulares e passaram a bisbilhotar a vida alheia em busca de casos de adultério, Dadá colocou seus conhecimentos e seus contatos a serviço de empresários e políticos.

Em Goiás, no primeiro governo do tucano Marconi Perillo (1999-2002), o bicheiro Carlinhos Cachoeira implantou o jogo do bicho eletrônico e passou a administrar a loteria estadual.

Para manter a jogatina, porém, ele precisava do apoio da polícia e acabou se aproximando de policiais civis amigos de Dadá.

A ligação foi automática.

Cachoeira contratou o espião e o aproximou do PM Jairo Martins, vulgo Índio, que passou a ser um colaborador habitual – como no caso da gravação do diretor dos Correios Maurício Marinho, episódio que levou à eclosão do escândalo do Mensalão.


Os esquemas montados por Dadá começaram a despertar a atenção da Polícia Federal durante a Operação Satiagraha.
 

Quando o delegado e atual deputado Protógenes Queiroz (PCdoB - SP) começou a investigar o banqueiro Daniel Dantas, pediu ajuda a Dadá para recrutar freelancers, como o ex-agente do SNI Francisco Ambrósio, e até servidores da Abin.

O problema é que o recrutamento e o consequente compartilhamento de dados sigilosos com agentes de fora da PF acabaram sendo um tiro no pé.

A Satiagraha, deflagrada em 2008 com ampla cobertura midiática, virou um escândalo.

As provas foram anuladas e Dadá e Protógenes tiveram suas carreiras abreviadas.


O delegado se elegeu deputado.

Dadá ficou queimado como agente da Aeronáutica e foi obrigado a se aposentar, com rendimento de R$ 4 mil mensais.

Mergulhou de vez na clandestinidade e passou a operar como empregado de Carlinhos Cachoeira.

A partir daí a vida do espião mudou.


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INVESTIGAÇÃO
Sarney (à esq.) e Marco Maia articulam a instalação de uma CPI no Congresso e querem ouvir o araponga

Casado com a enfermeira Maria de Lourdes Chagas e pai de dois filhos, manteve por anos uma vida simples, instalado num apartamento funcional da Asa Norte, bairro de classe média de Brasília.

Com hábitos espartanos e sem hobbies, Dadá tinha uma Variant II, 1972, de cor azul, que ele chamava de “Mafalda”, por vezes abandonada sem combustível nas entrequadras de Brasília.

Mafalda foi substituída por um Corsa 2003, sem ar-condicionado. Nos últimos três anos, porém, Dadá passou a circular de Passat alemão.

Comprou um Grand Vitara Suzuki e uma motocicleta.


Em janeiro de 2010, segundo a PF, comprou à vista um apartamento avaliado em R$ 800 mil, mas cujo valor registrado em cartório foi de apenas R$ 340 mil.

O aumento patrimonial não foi declarado ao Fisco.

As mudanças afetaram o jeito de ser do espião.

Além de ostentar roupas de grife, o sargento adotou um tom esnobe. “O Dadá de hoje está irreconhecível. Parece ter assimilado os trejeitos e práticas do chefe dele, o Carlinhos Cachoeira”, diz um agente federal amigo do araponga.

No mesmo ano de 2010, Dadá voltou às manchetes no caso do grupo de espionagem contratado pelo PT para montar um dossiê contra o candidato tucano José Serra.

Pelo que se depreende da análise de diálogos e relatórios ainda inéditos da Operação Monte Carlo, obtidos por ISTOÉ, Dadá não mudou apenas seu estilo de vida.

O ex-espião da FAB assumiu o papel de operador de Carlinhos Cachoeira e da empreiteira Delta.

No governo de Goiás, coube a ele a indicação para diversos cargos do segundo escalão. Mais recentemente, ensaiava passos como empresário e sindicalista.

Segundo a PF, Dadá é sócio oculto da Agência Plá junto a Marcelo Lopes, o Marcelão, ex-assessor da Casa Militar do Distrito Federal, e Cláudio Monteiro, ex-chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz.

Além de expandir os negócios da Plá para Mato Grosso e Rio de Janeiro, Dadá, Marcelão e Monteiro teriam um projeto político independente de Cachoeira, mas que se beneficiaria dos contratos da Delta na área de limpeza urbana.

Por isso, Dadá fundou em abril de 2011 a Associação Comunitária dos Trabalhadores em Limpeza Urbana do DF e Entorno.

A ideia era evitar pressões sindicais contra a Delta e também mobilizar a massa de trabalhadores para eleger Monteiro deputado distrital, pelo PT.


Relatório reservado da PF ao qual ISTOÉ teve acesso com exclusividade mostra que, na busca e apreensão realizada no apartamento de Dadá, foram encontrados documentos “pertinentes à possível prática de espionagem”.

Foram apreendidas mídias eletrônicas, pesquisas de bancos de dados privativos dos órgãos de segurança pública (Infoseg) e relatórios de interceptação de linhas telefônicas de investigações do Núcleo de Combate a Organizações Criminosas (NCOC) do Ministério Público em conjunto com a PF.

Os acessos ilegais ao Infoseg tiveram como alvo o deputado federal Fernando Francischini (PSDB/PR), cujos e-mails também foram monitorados.

O primeiro acesso foi feito em 25 de outubro de 2011, pelo agente da PF Paulo Áureo Gomes Murta, o Murtinha, amigo de Dadá.

Outros dois acessos ao cadastro de Francischini foram efetuados pelos sargentos da PM Leonel Martins e Itaelson Rodrigues, lotados na Casa Militar do Distrito Federal por indicação de Dadá e comando do coronel Rogério Leão.

Na época, o deputado vinha questionando possíveis desvios de recursos públicos ocorridos no Ministério dos Esportes e na Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Os telefonemas e e-mails de Francischini também foram acessados pelo agente da PF Joaquim Gomes Thomé Neto, que mora no Rio de Janeiro.

Em depoimento sigiloso à Polícia Federal, obtido pela reportagem de ISTOÉ, Thomé admite que foi contratado por Dadá para fazer o trabalho sujo por R$ 3 mil mensais.

Esses e outros dados levaram a PF a abrir uma investigação paralela à Monte Carlo para apurar todos os tentáculos do araponga.

No Congresso, os presidentes da Câmara e do Senado, Marco Maia (PT-RS) e José Sarney (PMDB-AP), finalizam a instalação de uma CPI. Para deputados e senadores que irão trabalhar na investigação o primeiro desafio será fazer Dadá quebrar o silêncio.


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Querem apagar os crimes do mensalão


Com o julgamento do mensalão pelo Supremo a caminho, os petistas lançam uma desesperada ofensiva para tentar desviar a atenção dos crimes cometidos por eles no que foi o maior escândalo de corrupção da história brasileira

 Revista Veja

Daniel Pereira e Hugo Marques
Rui Falcão, presidente do PT (ao lado), e Marco Maia, presidente da Câmara: para tentar apagar os crimes cometidos por petistas no mensalão, a ordem é mentir até parecer verdade
Cartilha Stalinista: Rui Falcão, presidente do PT (ao lado), e Marco Maia, presidente da Câmara: para tentar apagar os crimes cometidos por petistas no mensalão, a ordem é mentir até parecer verdade (Ag. Globo)
Josef Stalin, o ditador soviético ídolo de muitos petistas, considerava as ideias mais perigosas do que as armas e, por isso, suprimiu-as, matando quem teimava em manifestá-las.

O PT até que tenta se arejar, exercitar certo pluralismo, mostrar respeito às leis e conduzir as instituições do país que ele governa não como propriedade particular do partido, mas reconhecendo-as como conquistas da sociedade brasileira.

Mas basta uma contrariedade maior para que o espírito de papai Stalin baixe e rasgue a fantasia democrática dos petistas parcialmente convertidos ao convívio civilizado. A contrariedade de agora é a proximidade do julgamento pelo Supremo Tribunal Federal (STF) da maior lambança promovida pelos petistas com dinheiro sujo, que produziu o escândalo entronizado no topo do panteão da corrupção oficial brasileira com o nome de mensalão.

Sussurre esse nome aos ouvidos de um petista nos dias que correm e ele vai reagir como se uma buzina de ar comprimido tivesse sido acionada a centímetros de seus tímpanos. A palavra de ordem emanada do comitê central sairá automaticamente: "Isso é invenção da oposição e da imprensa!".
Como formigas guiadas por feromônios, os militantes de todos os escalões, de ministros de estado aos mais deploráveis capangas pagos com dinheiro público na internet, vão repetir disciplinadamente o mantra de que o mensalão "foi uma farsa".

Ele vai ser martelado sobre os cinco sentidos dos brasileiros na tentativa de apagar os crimes cometidos pelos petistas e, seguindo a cartilha stalinista, fazer valer as versões sobre os fatos, transmutar culpados em inocentes e, claro, apontar bodes expiatórios como responsáveis pelas próprias misérias morais que eles infligiram ao país, a si próprios e a sua reputação, firmada quando na oposição, de paladinos da ética.

Esse processo perverso de reescrever a história está em curso em Brasília, em pleno século XXI.

Sua mais recente iniciativa é a iminente instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito (CPI) mista do Congresso Nacional, a primeira do governo Dilma Rousseff.

O objetivo declarado — e desejável — da CPI é elucidar os limites da atuação no mundo oficial do contraventor Carlos Cachoeira, que explorava o bingo ilegal em Goiás e se encontra trancafiado em presídio de alta segurança.

Acusado de receber dinheiro para defender os interesses do contraventor no governo e no Legislativo, o senador Demóstenes Torres, do DEM, está a caminho de perder o mandato.

Razões para uma investigação republicana, portanto, não faltam.

O problema está nos objetivos subalternos da CPI, que os petistas e seus aliados mal conseguem esconder nas conversas: criar um fato novo e, assim, desviar o foco da atenção da opinião pública do julgamento do mensalão.

Eles esperam que as investigações produzam imagens que ajudem a demonstrar a tese central do presidente Lula sobre o mensalão, a de que o PT fez apenas o que todo partido político sempre fez.

Esperam também criminalizar jornalistas para quem Carlos Cachoeira serviu de fonte sobre o que ia nos subterrâneos da corrupção no mundo oficial em Brasília, terreno que ele frequentava com especial desenvoltura.
Info


Em resumo, o PT espera desmoralizar na CPI todos que considera pessoal ou institucionalmente responsáveis pela apuração e divulgação dos crimes cometidos pelos correlegionários no mensalão — em especial a imprensa.

Por quê?


Principalmente porque o esquema de compra de apoio parlamentar pelo governo do PT começou a ser desbaratado em 2005, após uma reportagem de VEJA mostrar um funcionário dos Correios cobrando e recebendo propina em nome do PTB.

Depois disso, o presidente do partido, o ex-deputado Roberto Jefferson, revelou ao país que parlamentares recebiam dinheiro na boca do caixa para votar com o Planalto.

O chefe do esquema era o então ministro da Casa Civil José Dirceu, que vivia repetindo o bordão segundo o qual não fazia nada sem o conhecimento do presidente Lula.

Tanto a CPI dos Correios quanto a Procuradoria-Geral da República deixaram claro que parte do dinheiro que financiou o mensalão saiu dos cofres públicos.

Durante as investigações, o então marqueteiro de Lula, Duda Mendonça, admitiu ter recebido dólares por fora, no exterior, por serviços prestados na campanha do presidente.

Foi tão grave e acintosa a agressão dos petistas às leis brasileiras no mensalão que, tecnicamente, o presidente Lula poderia ter sofrido um processo de impeachment.

Seu mandato foi preservado por falta de apetite da oposição e pelo cálculo, que se mostraria redondamente equivocado, de que Lula definharia no poder, sangrando pouco a pouco em consequência do mensalão.

Nada disso ocorreu.

Lula deu uma magnífica volta por cima, reelegeu-se, fez a sucessora e saiu do Palácio do Planalto da mesma forma que entrou — nos braços do povo.
Agora o fantasma do mensalão volta a ameaçar a hagiografia do líder petista — e a ordem de cima é atropelar quaisquer escrúpulos para preservar Lula.

"
A bancada do PT defende uma CPI para apurar esse escândalo dos autores da farsa do mensalão. É preciso que a sociedade organizada, movimentos populares, partidos políticos comprometidos com a luta contra a corrupção, como é o PT, mobilizem-se para impedir a operação-abafa e para desvendar todo o esquema montado por esses criminosos, falsos moralistas que se diziam defensores da moral e dos bons costumes", declarou Rui Falcão, deputado paulista, presidente nacional do PT.

A forma cristalina pela qual Falcão explica os objetivos do partido na CPI parece a transcrição perfeita de uma cartilha de propaganda soviética.

Dado que os companheiros cometeram crimes no mensalão e que esse fato é devastador para o partido que no passado empunhou a bandeira da ética para vencer a antipatia e a desconfiança da classe média brasileira, vamos tentar mudar a percepção da realidade e acionar os companheiros para ver se cola a ideia de que o mensalão foi uma armação cujos responsáveis, vejam só que coincidência, estão todos orbitando em torno de um contraventor cujas atividades vão ser investigadas por uma CPI.


A lógica política de Falcão é irretocável — até certo ponto.

Esse truque funcionou na União Soviética, funcionou na Alemanha nazista, funcionou na Itália fascista de Mussolini, por que não funcionaria no Brasil?



Bem, ao contrário dos laboratórios sociais totalitários tão admirados por petistas, o Brasil é uma democracia, tem uma imprensa livre e vigilante, um Congresso eleito pelo voto popular e um Judiciário que, apesar de fortemente criticado recentemente, tem demonstrado independência e vigor doutrinário.

Isso significa que para o delírio de Falcão se materializar é preciso neutralizar as instâncias democráticas, calando-as ou garantindo que a estridência radical petista supere as vozes da razão e do bom-senso.
Uma CPI dominada pelo PT e seus mais retrógrados e despudorados aliados é o melhor instrumento de que a falconaria petista poderia dispor — pelo menos na impossibilidade, certamente temporária para os falcões, de suprimir logo a imprensa livre, o Judiciário independente e o Parlamento, fósseis de um sistema burguês de dominação que está passando da hora de ser superado pelo lulopetismo, essa formidável invenção tropical diante da qual empalidecem todos os demais arranjos político-sociais do mundo atual.
Mas, enquanto o triunfo final não vem, os falcões petistas vão se contentar em usar a CPI para desmoralizar todos os personagens e forças que ousem se colocar no caminho da marcha arrasadora da história, que vai lançar ao lixo todos os que atacaram o PT e, principalmente, seu maior líder, o ex-presidente Lula.

Não por acaso, a estratégia que a falconaria petista está executando disciplinadamente em Brasília saiu da cabeça de Lula.

Em novembro de 2010, a menos de dois meses do término de seu segundo mandato, o então presidente recebeu o ex-ministro e deputado cassado José Dirceu para um café da manhã no Palácio da Alvorada. À mesa, Lula prometeu a Dirceu, o mais influente quadro da engrenagem petista, que lançaria uma ofensiva para desmontar "a farsa do mensalão" tão logo deixasse o cargo.

Não era bravata.

Conforme prometido, essa cruzada para abafar o maior escândalo de corrupção da história recente do país começou a se materializar em pequenos movimentos.

Foi ela que levou à eleição do petista João Paulo Cunha, um dos 36 réus no processo do mensalão, para a presidência da Comissão de Constituição e Justiça da Câmara em 2011, o que garantiu a ele uma posição privilegiada para dialogar com a cúpula do Poder Judiciário.


Foi ela também que resultou na nomeação do petista José Genoíno, outro réu no processo, para o cargo de assessor especial do então ministro da Defesa, Nelson Jobim, ex-presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), justamente a corte que julgará o caso.
 
Dida Sampaio/AE Beto Barata/AE Ailton de Freits/Ag. Globo Beto Barata/AE AE
O então deputado Roberto Jefferson contou ao Congresso como o governo do PT criou o mensalão, o esquema de suborno de parlamentares que era operado pelo publicitário Marcos Valério (ao lado). As revelações provocaram decepção e choro de alguns parlamentares petistas, ameaçaram a continuidade do governo Lula e resultaram no processo que acusa 36 pessoas de crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro


O esquema:
O então deputado Roberto Jefferson contou ao Congresso como o governo do PT criou o mensalão, o esquema de suborno de parlamentares que era operado pelo publicitário Marcos Valério.

As revelações provocaram decepção e choro de alguns parlamentares petistas, ameaçaram a continuidade do governo Lula e resultaram no processo que acusa 36 pessoas de crimes de formação de quadrilha, corrupção ativa, peculato, evasão de divisas e lavagem de dinheiro.
Esses dois movimentos da reação capitaneada por Lula foram costurados nos bastidores.

Fizeram parte de uma estratégia silenciosa destinada a reabilitar publicamente as estrelas petistas envolvidas até o pescoço com os desvios de dinheiro público para abastecer o caixa partidário.

Uma tática deixada de lado na semana passada, quando o PT partiu para uma espécie de vale-tudo a fim de varrer para debaixo do tapete o esquema de compra de apoio parlamentar que funcionou durante o governo passado.

A estratégia evoluiu para o uso da Operação Monte Carlo da Polícia Federal, que deu origem à CPI.

A ação da PF desbaratou um esquema de exploração de jogos ilegais comandado por Carlinhos Cachoeira e revelou uma rede suprapartidária de políticos envolvidos com ele.

Além do senador Demóstenes, as investigações atingiram o governador de Goiás, o tucano Marconi Perillo, desafeto de Lula desde que declarou, em 2005, que alertara o então presidente da existência do mensalão.
Lula viu na CPI a oportunidade política de mostrar que todos os partidos pecam.

Que todos são farinha do mesmo saco e, por isso mesmo, o mensalão não seria um esquema de corrupção inaudito, muito menos merecedor de um rigor maior por parte do Judiciário e da sociedade.

Para os petistas, apagar a história neste momento é uma questão de sobrevivência.

Seus caciques sustentam que, com a aproximação da data prevista para o julgamento do mensalão e diante da hipótese de uma condenação, não há o que perder na arriscada aposta em tentar menosprezar a inteligência das pessoas, zombar das autoridades que investigaram o caso durante anos, impor constrangimentos aos ministros do Supremo que se preparam para julgar o processo. É tamanha a ânsia de Lula e dos mensaleiros para enterrar o escândalo que, se preciso, o PT rifará o governador do Distrito Federal, o petista Agnelo Queiroz, que também aparece no arco de influência dos trambiques da máfia do jogo.
Lula e os falcões petistas viram também abrir-se para eles a retomada de um antigo, acalentado e nunca abandonado projeto de emascular a imprensa independente no Brasil.

Os projetos de censura da imprensa que tramitaram no PT foram derrotados não por falta de vontade, mas porque o obscurantismo cobriria a imagem do Brasil de vergonha no cenário mundial.

Surge agora uma oportunidade tão eficiente quanto a censura, com a vantagem de se obter a servidão acrítica da imprensa sem recorrer a nenhum mecanismo legal que possa vir a ser identificado com a supressão da liberdade de expressão.

Não por coincidência, na semana passada a Executiva Nacional do PT divulgou uma resolução pedindo a regulamentação dos meios de comunicação diante "da associação de parte da imprensa com a organização criminosa da dupla Cachoeira-Demóstenes".

Dando sequência à diretriz do comitê central do partido, o comissário Marco Maia, presidente da Câmara, complementou: "Todas as informações dão conta de que há uma participação significativa de alguns veículos de comunicação nesse esquema montado pelo Cachoeira. A boa imprensa, que está comprometida com a informação e a verdade, vai auxiliar para que a gente possa fazer uma purificação, separar o joio do trigo".
A oportunidade liberticida que apareceu agora no horizonte político é tentar igualar repórteres que tiveram Carlos Cachoeira como fonte de informações relevantes e verdadeiras com políticos e outras autoridades que formaram com o contraventor associações destinadas a fraudar o Erário.

A nota da Executiva Nacional do PT e a fala do comissário Maia traem o vezo totalitário daquela parte do PT que não tem a mínima noção do papel de uma imprensa livre em uma sociedade aberta, democrática e que tenha como base material a economia de mercado.

Papai Stalin ficaria orgulhoso dos pupilos.

Caberá a eles agora, aos "tropicastalinistas" do PT auxiliados pelos impolutos José Sarney e Fernando Collor, "purificar" a imprensa, decidir qual é a boa e a ruim, o que é joio e o que é trigo nas páginas dos órgãos de informação e apontar que repórteres estão comprometidos com a informação e a verdade.

Alguém com mais juízo deveria, a bem do comissário Maia, informá-lo de que quando governos se arvoram a "purificar" seja o que for — a população, a imprensa ou a literatura — estão abrindo caminho para o totalitarismo.

Quem diria, comissário, que atrás de óculos modernosos se esconde uma mente tão arcaica.
Os petistas acham que atacar o mensageiro vai diminuir o impacto da mensagem.

Pelo que disse Marco Maia, eles vão tentar mostrar que obter informações relevantes, verdadeiras e de interesse nacional lança suspeita sobre um jornalista.

Maia não poderia estar mais equivocado.

Qualquer repórter iniciante sabe que maus cidadãos podem ser portadores de boas informações.

As chances de um repórter obter informações verdadeiras sobre um ato de corrupção com quem participou dele são muito maiores do que com quem nunca esteve envolvido.

A ética do jornalista não pode variar conforme a ética da fonte que está lhe dando informações.

Isso é básico.

Disso sabem os promotores que, valendo-se do mecanismo da delação premiada, obtêm informações valiosas de um criminoso, oferecendo-lhe em troca recompensas como o abrandamento da pena.

Esses são conceitos de difícil digestão para os petistas acostumados a receber do comitê central as instruções completas sobre o que devem achar certo ou errado, bom ou ruim, baixo ou alto.

Fora da bolha ideológica, porém, a vida exige que bons jornalistas falem com maus cidadãos em busca de informações verdadeiras.

Motivo mesmo para uma CPI seria investigar os milionários repasses de dinheiro público que o governo e suas estatais fazem a notórios achacadores, chantagistas e manipuladores profissionais na internet.

Fica a sugestão.
Andre Dusek/AE
Há risco de prescrição de algumas imputações. Uma vez disponibilizado o processo para julgamento, vou colocá-lo em pauta em 48 horas.
Carlos Ayres Britto:Há risco de prescrição de algumas imputações. Uma vez disponibilizado o processo para julgamento, vou colocá-lo em pauta em 48 horas.” 
 
Andre Dusek/AE
O processo está muito maduro e há risco de prescrição. A responsabilidade de quem julga é muito grande.
Marco Aurélio Mello: “O processo está muito maduro e há risco de prescrição. A responsabilidade de quem julga é muito grande.”
 
Alan Marques/Folhapress
Tem de ser neste semestre. Tudo recomenda, e nada indica o contrário. Devemos e podemos julgar o processo neste ano.
Gilmar Mendes:Tem de ser neste semestre. Tudo recomenda, e nada indica o contrário. Devemos e podemos julgar o processo neste ano.”
 
Andre Dusek/AE
Essa pergunta vale 1 milhão de dólares!
Ricardo Lewandowski, ao ser questionado, na última quarta-feira, sobre quando apresentará seu relatório, última etapa antes do julgamento: “Essa pergunta vale 1 milhão de dólares!” 
14/04/2012


O Julgamento do Mensalão






Pronunciamento do Senador Alvaro Dias no dia 09/04/2012

sexta-feira, 13 de abril de 2012

“Tiro no pé”



Tiro no pé: Preocupados com os desdobramentos da CPI do Cachoeira, petralhas ameaçam investigar a imprensa nacional

A decisão do Partido dos Trabalhadores de, incentivado pro Lula, insistir na criação da CPI para investigar as relações de Carlinhos Cachoeira, preso na Operação Monte Carlo, da Polícia Federal, foi um erro estratégico, pois a teia do bicheiro goiano enredou políticos de todas as correntes ideológicas, inclusive petistas.

Prova disso é o calvário enfrentado por Olavo Noleto, assessor da Secretaria de Relações Institucionais da Presidência, e por Agnelo Queiroz, governador do Distrito Federal.


Para minimizar estrago do que já está sendo considerado no meio político como um “tiro no pé”, o PT tentará estender as investigações para outros setores, além da seara política.

De acordo com o presidente da Câmara dos Deputados, o petista gaúcho Marco Maia, a CPI se debruçará sobre as relações de Cachoeira não apenas com o Legislativo, mas com o Executivo, o Judiciário, a iniciativa privada e também a imprensa.


Como sempre acontece quando algum escândalo envolvendo políticos, especialmente do PT, vem à baila, os aduladores dos donos do poder procuram colocar a imprensa no patíbulo dos culpados.

Essa estratégia reforça a necessidade do PT, cada vez mais evidente, de criar uma cortina de fumaça diante do caso do mensalão, uma vez que o Supremo Tribunal Federal (STF) está decidido a julgar os envolvidos no caso de corrupção ainda este ano, o que pode acontecer até o final do primeiro semestre.

Se essa previsão se confirmar, o PT, assim como os partidos de outros envolvidos no criminoso esquema de mesadas, partirá para as eleições municipais com o carimbo da corrupção.


Não é de hoje que o PT, desde que chegou ao poder central, tenta calar a imprensa, mas é inadmissível aceitar a tese que coloca na vala da ilegalidade todos os veículos de comunicação do País.

É importante lembrar: se relação houve entre Cachoeira e órgãos midiáticos ou até mesmo jornalistas, a diferença em relação à chamada imprensa “chapa branca” está apenas naquele que faz o pagamento.

De resto, as operações são conceitualmente idênticas.


Ucho.info

Dirceu está hoje empenhado em contaminar, com a sua biografia pessoal, o governo Dilma, e Lula quer deixá-lo do tamanho do seu ódio.





E uma exortação a Lewandowski


O lobo troca de pelo, mas não de vício.

José Dirceu já mudou de cara, mas não de espírito.


Quando na oposição, tentava inviabilizar governos eleitos democraticamente. Quando no governo, tentou — e tenta ainda — inviabilizar a democracia.

Sob sua inspiração e com o apoio de Luiz Inácio Apedeuta da Silva, a Executiva Nacional do PT aprovou ontem um documento em que acusa a associação de setores da imprensa com o bicheiro Carlinhos Cachoeira e pede “marco regulatório” para a mídia — entenda-se: censura à imprensa.


Eles nunca desistiram desse propósito.
A ameaça estava no Plano Nacional dos Direitos Humanos e jamais deixou de frequentar as ilusões dos petistas. Repudiada pela sociedade, a proposta é agora ressuscitada, com o apoio de Lula, o frenético trabalho daquele que o Procurador Geral da República chama “chefe de quadrilha” e a propaganda da rede na Internet financiada com dinheiro público. É a formação de quadrilha contra a liberdade de imprensa.

Podem espernear à vontade. Não deixaremos que cobrem propina por aquilo que a Constituição nos dá de graça: a liberdade de expressão, a liberdade de opinião, a liberdade de informação. De graça hoje! Mas essas conquistas custaram o esforço de gerações de brasileiros que lutaram pela democracia. Não é o caso de Dirceu! Não é o caso de alguns de seus companheiros. Sonhavam e sonham com a ditadura do partido único, com um país tutelado pelos companheiros, com um regime infenso aos controles que só a democracia proporciona, com uma Justiça independente e uma imprensa vigilante.

Pouco antes de deixar o poder, Lula anunciou que se dedicaria à tarefa de demonstrar que o mensalão tinha sido uma invenção da oposição para desestabilizar o seu governo — a velha tese do “golpe”, criada por intelectuais do PT, vigaristas em essência. Intelectual da academia que tem partido é como juiz de futebol que torce por um dos times em jogo; é um farsante. Adiante. Eis aí. O caso Cachoeira, tudo indica, estava sendo gestado de longa data — tanto é assim que o senador Demóstenes Torres vinha sendo monitorado havia muito tempo. Mas eis que surge um bom momento para detonar a crise.

Ocorre que ela pega em cheio algumas figuras graúdas do PT, como o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz — já defendido por Dirceu do modo como Dirceu sabe defender as suas causas: com unhas e dentes. Tenho pra mim que, a esta altura, Lula está disposto, se preciso, a entregar Agnelo na bandeja se achar que pode ganhar a guerra da opinião pública e fazer com que se volte contra o que resta de oposição no país. É parte, em suma, do trabalho de construção do Partido Único. Se tiver que ceder um peão, para usar a linguagem do Apedeuta (e de Hitler… Que coincidência!), tudo bem!

Na guerra suja, vale tudo. Não é por acaso que um dos alvos seja a imprensa. Não chega nem sequer a ser original. Neste momento, estão empenhados nessa mesma luta os governos da Venezuela, do Equador, da Bolívia, da Argentina, da Nicarágua… Todos eles, com mais ou menos ênfase orbitando em torno dos mesmos valores, cuja síntese pode ser esta: em vez de uma sociedade que controle o estado, como é próprio das democracias, um estado que controle a sociedade, como é próprio das ditaduras.
Mas, afinal de contas, o que quer essa gente? É simples! Roubar dinheiro público sem ser incomodada por ninguém. E só me resta assegurar: continuarão a ser incomodados enquanto o Brasil for uma democracia!

Foi Roberto Jefferson, então uma das cabeças coroadas da base governista, quem denunciou o mensalão, em junho de 2005. A partir de algumas informações que ele forneceu em entrevista à Folha, a imprensa deu início a um trabalho de investigação, também empreendido pela ala honesta da CPI. O que se revelou foi a maior teia criminosa jamais montada no país para assaltar os cofres, mas também, atenção!, para fraudar os fundamentos do estado de direito. Nem o dinheiro que pagou o marqueteiro de Lula era limpo, é bom lembrar!

Esses patriotas não se conformam que suas tramoias para fabricar dossiês sejam denunciadas; que o bunker montado por Erenice Guerra na Casa Civil tenha sido violado; que as consultorias de Antonio Palocci tenham sido trazidas à luz; que a roubalheira no Ministério dos Transportes tenha sido evidenciada; que as lambanças no Ministério do Esporte tenham sido detalhadas; que a rataiada entocada no Ministério da Agricultura tenha sido encontrada; que os descalabros no Ministério do Trabalho tenham sido escancarados; que a governo paralelo do “chefe de quadrilha” que se esgueira em hotéis, numa espécie de exploração do lenocínio político, tenha sido desmascarado.

Imaginem quanto dinheiro público a imprensa ajudou a preservar da fúria desses rapaces rapazes… O jornalismo independente prejudica seus negócios, cria óbices a suas vigarices, obriga-os a ter cuidados redobrados, deixa-os tensos! É preciso pôr um freio na liberdade de imprensa para que os larápios possam, então, roubar sem freios.


                    O “paradoxo” da popularidade de Dilma


O PT, é bem verdade, na “hora h”, sempre se junta.

É perda de tempo apostar num racha importante do partido enquanto Lula estiver dando as cartas. Mas isso não quer dizer que não exista guerra interna, de posições; isso não quer dizer que os vários grupos abrigados no partido não tenham suas dissensões e não lutem para garantir seu espaço na legenda — e isso significa poder; poder de fato mesmo: grana!

Dilma não governa o país no melhor momento do crescimento econômico. Não se pode dizer, como cochicham os próprios petistas, que seja um governo realizador. Não obstante, a popularidade da presidente está em alta — PARA DESESPERO, ATENTEM PARA ISTO!, DE SETORES DO PRÓPRIO PETISMO, ESPECIALMENTE AQUELES QUE SONHAVAM COM A VOLTA DE LULA.

A que se deve?

As dificuldades da economia ainda não chegaram na ponta, nos mais pobres, e a presidente soube construir a imagem de austera, de intolerante com a corrupção — que ela chamou de “malfeito”. Já escrevi isto aqui e repito: quem lhe deu essa agenda (afinal, que outra?) foi a grande imprensa, esta que Lula e Dirceu querem censurar.

Tivesse a presidente seguido o conselho do Apedeuta e de alguns setores do PT, teria agasalhado todos os corruptos, acolhido publicamente o “malfeito” (como Lula fazia…) e visto, creio, a sua popularidade em curva descendente. Uma clareza ao menos Dilma sempre teve: ela não é ele. O trabalho da imprensa livre, para melancolia moral (não a do bolso, claro!) do JEG (Jornalismo da Esgotosfera Governista), fez mais bem do que mal à presidente. Ainda que ela reclame, por dever de ofício, da expressão “faxina ética”, sabe que  funcionou como marketing positivo.
Não que fosse este o propósito — porque a imprensa livre não tem propósito nenhum no que concerne à conquista ou manutenção do poder —, mas o fato é que essa imprensa que o PT quer, mais uma vez, censurar ajudou a plasmar a imagem de Dilma Rousseff. Tanto é assim, podem fazer uma pesquisa nos arquivos, que os lulistas foram os primeiros a reclamar da tal “faxina”. Dava a entender, alegavam, que havia sujeira no governo Lula. É mesmo, é?

Seria o ódio do PT o ódio do governo?

O ódio que esses setores do petismo devotam o jornalismo — de que foram as principais fontes quando o partido estava na oposição —, intuo, não é compartilhado pelo governo. Pela simples e óbvia razão, falo com base na lógica elementar, de que não há motivos para isso. Ao contrário: Dilma pode ser politicamente inexperiente, mas não é burra. No geral, as medidas adotadas pelo governo têm encontrado uma recepção positiva na imprensa.

Dirceu e sua turma não se conformam com isso.

O “chefe de quadrilha” (segundo a PGR) luta bravamente para sujar, com a sua biografia pessoal, o governo Dilma. É ele quem está em guerra com a imprensa. Lula, por sua vez, aposta todas as fichas num trabalho de, se me permitem, “inocentação” em massa no STF porque entende que uma condenação será uma mácula em seu governo.

Só por isso assoberbou-se e atropelou as próprias lideranças do governo, num esforço frenético para ver instalada a “CPI do Cachoeira”, com a qual, está certo, vai aniquilar a oposição, manchar a reputação da imprensa e tornar verossímil a mentira de que o mensalão nunca passou de uma tramoia da oposição. Comissões de inquérito costumam parar o Congresso. A realidade política passa a girar em torno de suas descobertas, de depoimentos, dos documentos que sempre acabam vazando, das chantagens trocadas…
Num conto do vigário — até agora ao menos! — a imprensa não caiu, e só por isso Rui Gobbels Falcão resolveu dar o seu grito de guerra: o caso Cachoeira não é um problema só da oposição. Por enquanto, Demóstenes à parte, Agnelo é o homem público que passou o maior vexame: em menos de 24 horas teve de se desmentir. Anteontem, anunciou no Jornal Nacional que jamais estivera com Carlinhos Cachoeira. Ontem, mandou um estafeta dizer que não era bem assim: havia se encontrado uma vez, uma vezinha só! Novas gravações vindas a público trazem membros da gangue do bicheiro tratando abertamente de contribuições ilegais de campanha que teriam sido feitas pela construtora Delta para a campanha de Agnelo.

Dirceu com sua biografia e Lula com seu ódio tentam arrastar o governo Dilma para uma briga na lama. Atenção! Poucas pessoas perceberam que isso a que assistimos é, sim, expressão da luta do PT para a aniquilar as oposições, mas é também um guerra interna. Lula e Dirceu tentam amarrar o governo a suas respectivas agendas — o que é, evidentemente, ruim para ela e bom para eles.
Encerrando com Lewandowski
Acredito haver, sim, motivos suficientes para uma CPI. Só que ela tem a obrigação de apurar o tamanho da rede de influências de Cachoeira no Congresso, no governo federal e em governos estaduais. Dirceu e Lula têm outra intenção: querem um atestado de inocência para os mensaleiros. O que uma coisa tem a ver com outra?

Nada!

Quem pode contribuir para diminuir o vale-tudo é o ministro Ricardo Lewandowski, o relator do processo do mensalão.

Ninguém hoje em dia vê motivos razoáveis para que ele não entregue o seu trabalho e permita, então, o início do julgamento.

Se os juízes entenderem que o “formador de quadrilha” (segundo a PGR) José Dirceu e a sua, bem…, quadrilha são inocentes, muito bem!

Se avaliarem que são culpados, que cumpram a pena que for estabelecida.


O esforço de defesa de José Dirceu não pode parar o pais nem criar obstáculos à punição de outros larápios.


O PT quer o controle da mídia porque quer controlar a sociedade.

Chegou a hora de pôr esses aloprados sob o controle da democracia e do estado de direito.

Como posso encerrar? 

Assim: NÃO PASSARÃO!!!


                                 13/04/2012


quarta-feira, 11 de abril de 2012

Lula entra na articulação da CPI e deixa claro que o objetivo não é punir corruptos, mas pegar a oposição.




É mais uma contribuição sua para a miséria institucional brasileira



Existem muitos bons motivos para se instalar uma CPMI do caso Cachoeira.

Os dados que vazaram até agora sobre a investigação evidenciam que o bicheiro mantém uma rede de influência no Congresso, no governo federal e em governos estaduais.

Até onde vai?

Quem são seus operadores?

Em quais negócios atua?

Influenciou quais decisões do Congresso ou mesmo do Executivo?


Por tudo isso, a CPI é, em si, necessária.

Mas qual CPI se vai fazer e com que propósito?

A Folha desta quarta informa que a “ordem” para o PT aderir de vez à formação da comissão partiu de Luiz Inácio Lula da Silva.

Embora nomes de petistas apareçam no esquema do bicheiro — ontem à noite, caiu o chefe de gabinete do governador Agnelo Queiroz, do DF — e a construtora Delta seja íntima do PT, o chefão do partido quer vingança.

Acha que é hora de ir à forra e, às vésperas do julgamento do mensalão e em ano eleitoral, pegar mais algum figurão de um partido de oposição.

Paulo Okamoto, dirigente do Instituto Lula, falou pelo chefe ontem, informa a Folha:

“A princípio, Lula é a favor de que haja CPI.

O que ouvi ele dizer é que está com os poucos cabelos que tem em pé com tudo que há sobre o caso.

Se for verdade o que a imprensa está dizendo, Marconi entregou o Estado para Cachoeira”.


Segundo os dados até agora disponíveis, não há por que desconfiar mais de Perillo do que de Agnelo.

Que se apurem as responsabilidades de todos!

Mas que é um despropósito Okamotto, atuando como porta-voz de um ex-presidente da Repúbica, referir-se desse modo a um governador de Estado — e de oposição —, ah, isso é.

Especialmente quando não se tem ainda formalizada a acusação.

Imaginem se caberia a FHC comentar: “Os meus muitos cabelos estão em pé com o que ouço sobre o governo Agnelo…”

Como conheço a natureza desses patriotas petistas, escrevi ontem à tarde sobre a CPMI:


“Eis um sinal claro de que, caso se instale uma CPI, dada a folgadíssima maioria de que dispõe o governo, ela pode funcionar apenas como mais um instrumento do PT para massacrar a oposição.

Já está mais do que evidente que os petistas decidiram se organizar para defender os seus próprios criminosos. (…)”

Sem trocadinho, “Bingo!”

Eis Lula em ação!

A oposição se prepare muito bem para o embate.

Não estou sugerindo, inferindo ou insinuando nada, mas é bom lembrar que o advogado de Cachoeira é Márcio Thomaz Bastos, petista de quatro costados e íntimo de Lula, de quem é uma espécie de conselheiro.

Quem cobra R$ 15 milhões por uma defesa é mais do que um advogado; é também um estrategista.

Okamoto se refere a “tudo o que há sobre o caso”.

Saberá Lula o que ainda não sabemos?

Como?


É evidente que essa história não poderia ter vazado em momento mais apropriado para o PT e para os mensaleiros, mesmo havendo petistas no rolo.

Caso se instale a CPI, o governismo terá uma folgada maioria na comissão.

Se quiser, convoca para depor apenas figuras da oposição.

Lula está certo de que essa maioria e a natural disposição dos petistas para dar guarida a seus criminosos vão proteger o partido e destroçar o que resta de oposição
.
Mensalão

Denunciei aqui no dia 1º de abril (em homenagem aos vigaristas dos quais eu falava, viciados em mentira), a tentativa de usar o caso Cachoeira para livrar a cara dos mensaleiros.

O texto está aqui.

Dito e feito!

José Dirceu, essa alma cândida, e os outros 36 teriam sido apenas vítimas de uma grande tramoia, de que o agora cliente de Bastos seria parte.


Sim, a CPMI é uma necessidade. Mas os petistas já decidiram desmoralizá-la antes mesmo de sua instalação. Paulo Okamoto, falando em nome de Lula, deixa claro que o PT tentará usar a maioria governista na comissão para fazer guerra político-partidária.

Quem sabe um dia, mas não é fatal que aconteça, historiadores relatem a miséria institucional a que o lulo-petismo tentou conduzir o país.

Devemos a essa gente a criação de uma categoria nova da vida pública: os corruptos do bem. Ou como explicar o que afirmou Jilmar Tatto (SP), líder do PT na Câmara, sobre o filme em que o petista Rubens Otoni aparece acertando com Cachoeira o recebimento de R$ 200 mil “por fora”? Segundo o líder,
“trata-se de filmes de 2004.

Desde então, ele [Otoni|] vem sendo chantageado pelo Cachoeira.

E aquilo é um caso de caixa 2, que já prescreveu”.


As afirmações de Tatto e de Okamoto indicam que a CPMI tem tudo para ser um tribunal de exceção governista, comandado pelo PT.

A proposta não é punir e eliminar corruptos da vida pública, estejam onde estiverem, mas dar mais um passo para aniquilar a oposição.


A história e alguns exemplos da América Latina demonstram que um país sem oposição fica entregue… aos corruptos
!


                            

                                 11/04/2012



Manobra para tumultuar o julgamento do mensalão




Os diálogos envolvendo o chefe de gabinete do governador petista de Brasília, Agnelo Queiroz, com membros do grupo do bicheiro Carlinhos Cachoeira, revelados ontem pelo “Jornal Nacional”, devem ter esfriado um pouco o ânimo da direção do PT, que via na CPMI sobre as relações do bicheiro com políticos um instrumento de pressão sobre a oposição num ano eleitoral


Manobra para tumultuar o julgamento do mensalão

Por Merval Pereira
O Globo

Embora seja um escândalo multipartidário, os petistas consideravam, até o surgimento das denúncias contra Agnelo Queiroz, que a oposição tinha mais a perder. Como sempre fazem nessas ocasiões, tentam minimizar a participação dos seus e demonizar os adversários.


Ao tomar conhecimento de que um assessor com sala no Palácio do Planalto aparece em conversas com assessores do bicheiro, a presidente Dilma teria dado ordens para uma demissão sumária. Bastaram horas para que tudo se transformasse.


O subchefe de Assuntos Federativos da Secretaria de Relações Institucionais do governo federal, Olavo Noleto, passou de réu a vítima de um mal-entendido.

Sua conversa com Wladimir Garcez, um dos principais operadores de Cachoeira, antes que o dia terminasse passou de suspeita a meramente política, para tratar de apoios partidários em Goiás.


Uma página virada, na definição do ministro Gilberto Carvalho.


Em contraponto, as relações do senador oposicionista Demóstenes Torres com o bicheiro Cachoeira são transformadas pelos petistas em sinais de que as acusações de corrupção contra o governo não têm credibilidade, e, a partir daí, sonham em desmontar o mensalão, tratando-o como fruto de conspiração contra o governo de Lula.


O problema é a falta de conexão entre causa e efeito, nessa nova versão surgida sete anos depois de aberto o processo, tão tortuosa quanto a intenção de seus fabricantes.


Mesmo que a gravação da propina nos Correios, que gerou a irritação do então deputado federal do PTB Roberto Jefferson com o chefe da Casa Civil à época, José Dirceu, tivesse sido feita a mando de Cachoeira para criar problemas para Dirceu, numa vingança do senador Demóstenes Torres, que fora barrado por ele para um cargo no governo, não haveria como Jefferson criar do nada a história do mensalão.


Não existisse o imenso esquema de compra de apoio político revelado pelas investigações da Procuradoria Geral da República, denúncia acatada pelo relator do processo no Supremo, ministro Joaquim Barbosa, a acusação do petebista seria de outra ordem.


Aconteceu naquele momento o que ocorre em muitas quadrilhas, um desentendimento em torno da divisão do butim que provoca um rompimento das lealdades, gerando revelações de segredos que só os componentes do bando conhecem.


Esta não passa de mais uma manobra protelatória para tentar jogar o julgamento para as calendas gregas.


Mas há reações tanto internas quanto fora do Supremo. Ontem, dois ministros declararam-se a favor de que o processo entre na pauta ainda este semestre.


Gilmar Mendes disse que a votação tem que ocorrer no primeiro semestre, para evitar a possibilidade de prescrição de algumas penas, e sugeriu até mesmo, se necessário, que a pauta seja suspensa para que o processo possa ser apreciado.


Também o futuro presidente do Supremo, ministro Ayres Britto (que assume o posto no dia 19) se disse favorável a que o revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski, apresse seu parecer “sem a perda da segurança”.


Britto já declarou que porá o tema em pauta 48 horas após o revisor entregar seu voto.


As redes sociais vêm tendo um papel fundamental na mobilização da cidadania em todo o mundo, e no Brasil não tem sido diferente.


Agora mesmo um grupo que se intitula Queremos Ética na Política se mobiliza pelo Facebook para pressionar o Supremo Tribunal Federal (STF) a julgar o caso do mensalão até o primeiro semestre deste ano para evitar qualquer dúvida quanto a uma eventual prescrição de penas.


Há também o propósito de evitar que a aposentadoria de dois ministros do STF no segundo semestre impeça que o julgamento vá adiante.


A escolha de ministros do Supremo tem sido demorada no governo Dilma, e há um consenso sobre a necessidade de um julgamento tão importante como este ocorrer com todos os 11 juízes no plenário.


No dia 25 de abril o ministro Lewandowski receberá representantes do movimento e da Transparência Brasil. Na audiência, uma ampulheta, o símbolo do movimento para evidenciar o tempo que passa, será entregue ao ministro.


O objetivo, além de evitar a prescrição de alguns crimes, é chamar a atenção para o fato de que diversos dos réus poderão se candidatar nas eleições municipais.


Com uma eventual condenação, eles cairão na Lei da Ficha Limpa, e suas candidaturas serão impugnadas.


Os dados sobre o desempenho dos ministros do STF, calculados no projeto
Meritíssimos no site da Transparência Brasil, dão conta, por exemplo, de que o tempo de espera do relator Joaquim Barbosa para processos criminais é de 48 semanas.

Contudo, o próprio diretor da Transparência Brasil, Claudio Weber Abramo, admite que não dá para comparar o processo do mensalão com a média dos processos criminais que chegam ao STF por causa da quantidade de réus e da sucessão de mecanismos protelatórios que os advogados desses réus mobilizaram.


Num momento em que os defensores dos mensaleiros pretendem se aproveitar da crise política desencadeada pelas acusações contra Demóstenes Torres para tentar desmoralizar as denúncias contra a corrupção, é importante essa mobilização da sociedade civil para que a impunidade não continue imperando no país.




A culpa é de Darwin





O que o McDonald's fez foi apenas reunir todos os estímulos supernormais por que ansiamos em produtos suculentos e baratos como o Big Mac


POR HÉLIO SCHWARTSMAN
FOLHA DE SP

SÃO PAULO - Já quase a metade dos brasileiros (48,5%) está com excesso de peso. Isso é um problema sério. Ao que parece, seguimos a mesma rota dos EUA, onde a epidemia de obesidade teve início e a proporção de gordos já beira os 75%.


Num estudo de 2005, o biodemógrafo Stuart Olshansky prognosticou que as doenças associadas ao sobrepeso poderão fazer com que, contrariando uma tendência de 200 anos, o aumento da longevidade seja revertido. Daqui até 2050, os bebês norte-americanos poderão ter uma expectativa de vida menor que a de seus pais.

E, a menos que uma droga milagrosa venha a ser descoberta, é pouco provável que as políticas públicas costumeiras tragam grandes resultados.
O primeiro alerta geral antiobesidade dos EUA foi lançado em 2001.

Dez anos depois, a prevalência havia aumentado quase dez pontos percentuais, assim como o número de refeições feitas em fast foods, que subiu 50%.

Só o que caiu foi o total de pessoas que tentam alguma dieta.

A culpa é de Darwin, com uma ajudinha da tecnologia. Nossos corpos e cérebros foram moldados para sobreviver nas savanas africanas num tempo em que a próxima refeição era uma incerteza. Fomos programados para ter fome, muita fome, e estocar com eficiência calorias sobressalentes na forma de tecido adiposo.

O mundo mudou, mas não a nossa genética. Não precisamos mais caçar nossas refeições. Nós as obtemos em supermercados e restaurantes, em porções generosas e com pouquíssimo esforço. Pior, desenvolvemos técnicas para refinar açúcares, concentrar gorduras e extrair de cada alimento o que ele tem de pior -e de mais gostoso também.

O que o McDonald's fez foi apenas reunir todos os estímulos supernormais por que ansiamos em produtos suculentos e baratos como o Big Mac.

A obesidade é uma doença crônica, incurável e intratável porque vencê-la exige passar por cima de todos os nossos instintos alimentares.



11.04.2012