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quinta-feira, 6 de setembro de 2018

Bolsonaro é esfaqueado durante ato de campanha

Equipe médica que operou o presidenciável do PSL classifica seu estado de saúde como ‘grave, mas estável’

Constança Rezende
O Estado de S.Paulo


JUIZ DE FORA (MG) - O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, foi esfaqueado na tarde desta quinta-feira, 6, quando participava de uma agenda de campanha em Juiz de Fora (MG). Líder nas pesquisas de intenção de votos, Bolsonaro era carregado na região central da cidade quando foi golpeado na altura do abdome por seu agressor, identificado como Adelio Bispo de Oliveira, de 40 anos, que foi preso. O presidenciável sofreu o atentado por volta das 15h40.

Jair Bolsonaro

Após ser socorrido, ele deu entrada na Santa Casa do município e foi submetido a uma cirurgia. Segundo os médicos, seu quadro de saúde era “grave, mas estável”. O candidato sofreu um único golpe de faca que perfurou em três partes o intestino delgado, provocando traumatismo abdominal e hemorragia interna. O candidato permanece na UTI.

O fato deixou mais imprevisível a eleição deste ano, acrescentando nova variável na disputa pelo Planalto, segundo analistas ouvidos pelo Estado. O atentado seria capaz de mudar os rumos da corrida eleitoral restando menos de um mês para o primeiro turno.

Nesta quinta-feira, algumas campanhas começaram a rever estratégias, entre elas a tática de ataques ao candidato do PSL. A expectativa no momento é sobre a força do tempo de TV no horário eleitoral e a capacidade de transferência de votos do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, cuja candidatura pelo PT foi barrada pela Justiça Eleitoral. A dúvida agora passa a ser quanto ao tempo de recuperação física de Bolsonaro. Conforme a equipe médica, o tempo mínimo de internação a que ele estará submetido é de uma semana.

Bolsonaro hospital
Bolsonaro é atacado quando era carregado por simpatizantes

Carregado nos ombros por simpatizantes, Bolsonaro participava de uma caminhada pelas ruas do centro de Juiz de Fora quando foi esfaqueado por Adelio Bispo de Oliveira – no momento do ataque, ele vestia uma camisa amarela com os dizeres “Meu Partido é o Brasil”, com uma silhueta que lembra o escudo da Confederação Brasileira de Futebol (CBF).

Bolsonaro cumpria agenda em um dos principais endereços da cidade, no calçadão da Rua Halfeld, local exclusivo para pedestres. O candidato seguia o script de suas agendas de rua: caminhadas no meio dos apoiadores, selfies e interação com crianças e adolescentes simulando armas com as mãos.

Em meio à multidão, Adelio Bispo de Oliveira sacou a faca e rapidamente atingiu o presidenciável. Com uma expressão de surpresa e dor, Bolsonaro se inclinou para trás e foi amparado.

Algumas pessoas, inicialmente, não perceberam o que acontecia. Mas policiais federais socorreram o candidato. Um deles cobriu o ferimento com um pano na tentativa de estancar a hemorragia. Bolsonaro foi rapidamente levado para o carro que o transportava, que logo seguiu para a Santa Casa de Misericórdia, o hospital mais próximo. O veículo saiu em alta velocidade. O segurança que o havia amparado ficou com a mão toda ensanguentada.

Quando os apoiadores do candidato se deram conta do que havia acontecido, tentaram linchar o agressor. ‘Mata, mata, mata’, gritaram. Oliveira foi cercado e levou socos e pontapés. Ele precisou ser abrigado em uma loja do calçadão.

Bolsonaro faca
Faca usada pelo agressor contra o candidato do PSL 
Foto: Reprodução/Redes sociais


A Polícia Militar chegou ao local com dificuldade e precisou usar gás de pimenta para dispersar a multidão e para proteger Oliveira. Houve empurra-empurra e pessoas foram jogadas no chão durante a confusão. A PM não acompanhava o ato do candidato até então – Bolsonaro era escoltado pela Polícia Federal e estava cercado por seguranças voluntários.

Agressor diz a polícia que estava ‘a mando de Deus’

Oliveira, segundo os policiais militares que o prenderam, afirmou que planejou o ataque contra Bolsonaro. De acordo com o Boletim de Ocorrência (BO), ele disse que saiu de casa com a faca para atacar o candidato do PSL “no melhor momento que encontrasse”. O ataque, segundo ele, se deu “por motivos pessoais” que os policiais “não entenderiam”. Disse ainda, conforme o BO, que fez tudo “a mando de Deus”.

A Polícia Civil de Minas informou que um “provável” segundo suspeito de participação no atentado contra Bolsonaro em Juiz de Fora foi detido. O suspeito, que não teve a identificação revelada, foi encaminhado à Polícia Federal em Juiz de Fora.

À espera de notícias sobre o estado de saúde de Bolsonaro, apoiadores do candidato se concentraram na porta da Santa Casa de Misericórdia da cidade assim que souberam que estava na unidade. Muitos usavam camisas pretas com a imagem do presidenciável e carregavam bandeiras do Brasil.

Presidenciáveis repudiam ataque a Bolsonaro

Nas redes sociais e em notas, os demais presidenciáveis e o presidente Michel Temer repudiaram o ataque que Bolsonaro sofreu em Juiz de Fora. A OAB também condenou o ataque. A imprensa internacional também destaca a agressão sofrida pelo candidato do PSL.

O coordenador de campanha de Bolsonaro, Delegado Francischini (PSL-PR), pediu investigação por 'crime político'. Ele disse que o presidenciável falava sempre sobre a possibilidade de um ataque.
 COLABOROU LEONARDO AUGUSTO, ESPECIAL PARA O ESTADO

06 Setembro 2018


Bolsonaro leva facada em ato de campanha em Minas


Arma atingiu o abdômen, e deputado passa por cirurgia


Por Marco Grillo
O Globo


JUIZ DE FORA — O candidato do PSL à Presidência, Jair Bolsonaro, foi atingido nesta quinta-feira por uma facada e retirado por seguranças do local onde fazia campanha, em Juiz de Fora. No momento do ataque, o deputado usava um colete à prova de balas. Um suspeito foi detido. Segundo a assessoria, a facada atingiu o fígado, e o deputado passa por uma cirurgia.

O deputado estadual Flávio Bolsonaro, filho do presidenciável, disse no Twitter que o pai perdeu muito sangue e "chegou no hospital com pressão de 10/3, quase morto". Segundo a Globonews, o estado de saúde do parlamentar é grave, mas estável.


Jair Bolsonaro estava sendo carregado por apoiadores quando fez uma expressão de dor e foi retirado do local. O deputado foi retirado do local às pressas, em um carro da PF, e levado para a Santa Casa de Misericórdia. Ao chegar ao hospital, ele fez um ultrassom, quando foi identificada a necessidade de cirurgia.



Bolsonaro leva uma facada em agenda em Juiz de Fora
Reprodução

A Polícia Militar de Juiz de Fora informou que Adélio Bispo de Oliveira foi detido após o ataque e confirmou que Adélio é a pessoa que aparece em uma foto que circula em grupos de WhatsApp dos apoiadores do presidenciável Jair Bolsonaro (PSL).

O suspeito preso mora em Montes Claros (MG) e atualmente está desempregado. Uma das últimas ocupações dele foi como servente de pedreiro, mas ele já trabalhou em cafeteria e hotel.

Nas redes sociais, Oliveira é um crítico recorrente de Bolsonaro. "Dá nojo só de ouvir que (sic) dizer que a ditadura deveria ter matado pelos uns 30 mil comunistas", escreveu ele em um dos posts mais recentes, em 1º de agosto.

A Polícia Federal (PF) abriu inquérito para apurar o atentado ao candidato do PSL. O candidato conta com o serviços de segurança da Polícia Federal. Entre os presidenciáveis, ele foi o primeiro a pedir reforço de segurança da polícia.


Generais da reserva que apoiam o candididato do PSL à Presidência já haviam alertado o presidenciável do risco que ele corria de ser esfaqueado em ato de campanha. O principal alerta partiu do general do Exército Augusto Heleno (PRP), um dos militares mais próximos a Bolsonaro e que chegou a ser cotado para ocupar a vice-presidência na chapa do candidato do PSL.

A equipe de campanha admitiu dificuldade da Polícia Federal em fazer segurança do presidenciável. Além da aglomeração, Bolsonaro tem se mostrado imprevisível no meio da multidão.

O candidato tem sido acompanhado nas agendas de campanha de perto por pelo menos dois policiais federais, além de seguranças pessoais. A Polícia Militar também dá apoio aos eventos para controlar os seguidores.
 
Bolsonaro é atendido após ataque
Reprodução


Mais cedo, o líder da pesquisa Ibope ironizou o resultado do levantamento, que também o aponta como o nome mais rejeitado entre os presidenciáveis. De acordo com o Ibope, Bolsonaro tem com 22% das intenções de voto, mas 44% dos eleitores afirmam que não votariam nele “de jeito nenhum”.


— Não consigo entender. A pesquisa diz que aumenta dois pontos, mas a rejeição aumenta também. Quando eu tiver 30% das intenções de voto, vou ter 110% de rejeição — ironizou.

Confusão durante agenda do Bolsonaro em Juiz de Fora
Antonio Scorza / O Globo


06/09/2018


quarta-feira, 5 de setembro de 2018

Reconstruir museu é inviável



Em vez de pedirem demissão ou serem demitidos, figurões do governo Temer e do PSOL na URFJ, principais culpados pelo incêndio do Museu Nacional, mobilizam-se rapidamente para garantir seus empregos públicos


José Nêumanne
Estadão

Militares do quartel vizinho protegem ruínas dos saques: Estado tenta remediar o irremediável.
Foto: Fábio Motta/Estadão


Demonstrando mobilização e rapidez que negligenciaram para evitar o incêndio que assassinou a memória, a História e a cultura do Brasil no domingo, ministros de Temer e militantes do PSOL no poder na UFRJ, que mandam no Museu Nacional da Quinta da Boa Vista começaram duas guerras: a primeira para apontar os responsáveis pelo descaso que ocasionou a catástrofe. A segunda, para assegurar seus privilegiados empregos públicos na tentativa de engabelar a opinião pública e as autoridades estrangeiras, que demonstraram lamentar o incêndio mais do que eles, a busca de mais milhões para a reconstrução desnecessária do prédio e impossível do acervo. Deveriam pedir perdão e serem demitidos.


(Comentário no Jornal Eldorado da Rádio Eldorado – FM 107,3 – na quarta-feira 5 de setembro de 2018, às 7h30m)


terça-feira, 4 de setembro de 2018

Era um museu triste



Uma casa esvaziada de sua história e de sua mobília
(a mobília é a verdadeira dona de todas as casas),
e ocupada por hóspedes pouco à vontade naqueles salões.


Ali coabitavam milhares de livros e fósseis, aves e múmias, artefatos produzidos por mãos africanas, etruscas, romanas, tupis, num convívio um tanto arbitrário com fragmentos da memória de um país.

Era um museu como os museus costumavam ser, e não são mais. Um museu que era a cara do Brasil, riquíssimo e carente, abundante e confuso. Uma espécie de museu possível, com iluminação deficiente e infiltrações nos tetos e paredes, refém do calor e da umidade que deveriam permanecer lá fora, nos jardins descuidados, junto dos animais ainda mais tristes do triste zoológico ao lado.



O que lhe dava um ar de melancolia era aquele jeito de coisa provisória. A sensação de que o acervo merecia outras salas, outros expositores, outra ambiência, outra luz. Era desolador o Bendegó, solitário, ao pé da escada, feito um extraterrestre caído por acaso no hall de entrada, e esquecido ali.

Tudo lembrava que um dia fora o palácio modesto de um Império pobre, habitado por uma corte sem luxos, com um imperador de casaco puído.


Havia a pesquisa, a produção acadêmica, mas isso ficava fora das vistas do visitante. A esses cabia se encantar com ossos, vasos, sarcófagos, colares, cocares, insetos - e relevar o resto.

Na última noite do museu - enquanto o Magnífico Reitor da UFRJ transferia a culpa para os bombeiros, e os talibãs tupiniquins comemoravam a destruição da Casa Grande, e candidatos de esquerda armavam palanque sobre o cadáver ainda fumegante da instituição para pedir votos - talvez fosse possível vislumbrar D. Maria, a louca, aos gritos pelos corredores em chamas, e Leopoldina tentando salvar os diários aos quais confiara suas dores, e Amélia beijando pela última vez a testa do enteado (“Adeus, órfão-imperador”), e múmias se desfazendo de suas ataduras e da esperança de ressurreição, e ânforas de Pompeia finalmente cumprindo sua sentença de morte na fogueira, e Luzia, nossa avó, refazendo com um cansaço ancestral sua jornada de volta ao antes da História.



Entre nuvens de borboletas, araras azuis, albatrozes e tucanos – mortos pela segunda vez -, a imperatriz Teresa Cristina terá visto, de novo, sumir o chão aos seus pés, como quando o marido, Pedro, trouxe para dentro daquela casa a amante Luísa, Condessa de Barral. Outro Pedro terá tentado escapar, escoltado por lagartos, besouros e pterossauros, para junto da Marquesa de Santos, pelo túnel (lendário) que lhe teria facilitado tantas fugas noturnas.

Milhões de páginas terão se consumido. Milhares de cestos, tambores, as máscaras dos “encantados”, mantos, chocalhos, diademas, armaduras. Xangôs de ferro derretidos na fornalha em que se transformou a casa que deveria ter-lhes servido de abrigo. E documentos, arquivos, imagens, mistérios.


Como em Hiroshima, onde se manteve o esqueleto calcinado da Prefeitura, ou em Berlim e Lisboa, com igreja e convento perpetuados em ruínas, talvez se devesse deixar o Paço de São Cristóvão tal como amanheceu hoje – alvenaria coberta de fumaça - numa espécie de memorial do descaso, até sermos capazes não só de construir, mas de preservar o construído.

Era um museu triste, e nem por isso menos amado, lar de um acervo que se perdeu para sempre. Um Museu Nacional cercado de hidrantes secos, e que – como a Biblioteca Nacional - não tinha sequer alvará do Corpo de Bombeiros.

03 de setembro de 2018




segunda-feira, 3 de setembro de 2018

Tragédia previsível



A catástrofe do Museu Nacional atinge a memória nacional, afeta a área científica e representa um prejuízo cultural enorme. E reforça a necessidade de governos, políticos e sociedade fazerem escolhas

Por Editorial
O Globo

Não é um desastre qualquer a destruição pelo fogo do Museu Nacional, no Rio, instituição de 200 anos, abrigo de um acervo de 20 milhões de peças, recolhidas a começar pela própria família real, que teve no prédio incendiado a sua residência oficial.

A dimensão da catástrofe é ampla: atinge a memória nacional, devido à perda de importante acervo histórico; afeta a área científica, por interromper e pulverizar pesquisas, e representa um prejuízo cultural impossível de ser quantificado. Mas sabe-se que é enorme. A impossibilidade de a população em geral e, em particular, estudantes e pesquisadores, terem acesso no país a registros da história da nação e da própria Humanidade é um empobrecimento sério no campo da cultura.

Por mais óbvio que seja, deve-se enfatizar a necessidade de governos, de políticos e da própria sociedade aprenderem com a tragédia. Mais uma neste setor. A coincidência da campanha eleitoral dá oportunidade de o assunto ser discutido, embora também possa ser utilizada para manipulações típicas de candidatos em busca de votos.

A reclamação da falta de recursos para museus e outras instituições públicas da área cultural é conhecida. E justificada. Mas não se trata de uma particularidade deste segmento do Estado, pois o país enfrenta grave crise fiscal. É bastante provável que o incêndio sirva de argumento a candidatos para pregar o fim do teto dos gastos públicos, tema da campanha.

Mas, sem o combate aos déficits, recursos ficarão ainda mais escassos por força da volta da inflação e da queda na coleta de impostos provocada pela inexorável recessão, causada pelo retorno à irresponsabilidade fiscal desvairada. No campo do aprendizado, ainda está viva a lição da crise aguda de 2015/16, cuja origem foi esta.

A tragédia do Museu Nacional reforça a necessidade de governos, políticos e sociedade fazerem escolhas. É indiscutível que os diversos acervos da história nacional, de sua cultura, precisam ser protegidos. Para isso, é necessário dinheiro, mas, antes de tudo, consciência da importância da Cultura, da Ciência e da História. Num Orçamento trilionário como o brasileiro é possível encontrar os recursos para isso, mas só se houver o entendimento de que há muito dinheiro mal gasto pelo Estado.

Espera-se que a evidente necessidade de acervos públicos serem protegidos ajude na pressão para que, a partir do próximo governo e da próxima legislatura, a política de gastos públicos seja revista e reformas urgentes, como a previdenciária, realizadas.

A degradação do Museu e enfim a sua transformação em cinzas, um desastre previsível, são um estridente alerta para a urgência da revisão das prioridades orçamentárias, concentradas em despesas de custeio.

A tragédia da Quinta da Boa Vista não pode ser em vão.



03/09/2018