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sábado, 13 de outubro de 2018

O sonho mirabolante



Resultado de imagem para 40 navios sondas
 
WILLIAM WAACK
ESTADÃO
São espetaculares os termos da delação do ex-ministro Antonio Palocci cujo sigilo foi levantado pelo juiz Sérgio Moro. Não chegam a ser exatamente “revelações”, mas comprovam de maneira assombrosamente clara como foi produzido o desastre no qual se enfiou o Brasil. Catástrofe na qual o PT e seu chefão, Lula, tiveram papel de liderança e conduta, mas que envolveu amplos círculos do mundo da política, dos negócios, da economia e setores importantes da sociedade civil.

Não, não é a parte que fala de propina, ilicitudes, grana correndo por dentro e por fora e os mais variados crimes de corrupção. É a parte, no anexo 1 da delação, na qual Palocci relata como a descoberta do pré-sal levou Lula, em 2007, a ter “sonhos mirabolantes”. E como o governo vislumbrava um país riquíssimo, e, para isso, se determinava a construção de 40 navios sondas – e a consequente “fundação” de uma indústria naval completa – para a nacionalização e desenvolvimento do projeto do pré-sal, pelo seu interesse social e pela possibilidade de alavancar a indústria nacional.

Estão aí os elementos centrais (políticos, sociais e econômicos) do “nacional-desenvolvimentismo”, que é, talvez, o pior conjunto de ideias capaz de explicar a baixa produtividade, a baixa competitividade, o atraso relativo e a distância que o Brasil vê aumentar em relação às economias avançadas, tanto pelo ponto de vista das nossas relações de trabalho e sociais quanto à nossa capacidade de participar da era da geração do conhecimento.

O “nacional-desenvolvimentismo” dos militares ainda tinha um componente focado em infraestrutura e ocupação de território, enquanto o “nacional-desenvolvimentismo” do lulopetismo desandou para a “nova matriz econômica” dos subsídios, proteções, controle de preços (mais prejudicial à Petrobrás que a totalidade da grana desviada pelos companheiros do PT, PMDB e PP) e anabolizantes de consumo via crédito.

Impossível dizer que os “sonhos mirabolantes” do então presidente fossem delírios saídos de uma só cabeça. O “nacional-desenvolvimentismo” do PT vem de uma longa tradição que capturou também cabeças pensantes do mundo empresarial, acadêmico e político. É parte de um ideário nacional quase, infelizmente, “atávico” e com raízes já anteriores ao varguismo. E seu retrato 3 x 4 moderno só poderia ser o de Dilma Rousseff – para ser colocado na parede com a legenda: “esta é a cara do nacional-desenvolvimentismo”.

Nestas eleições, nas quais a corrupção (com razão) e a insegurança pública (com razão) ocupam um espaço tão importante na maneira como os eleitores encaram os candidatos, ficou em plano muito inferior qualquer debate sobre o conjunto de ideias, sobre o “sonho mirabolante” transformado em pesadelo – e nem estamos falando de seus aspectos éticos e morais. Por mais paradoxal que pareça, dadas a profundidade e a abrangência do fracasso econômico, uma relativamente gigantesca fatia da sociedade é sensível às mesmas promessas e aos mesmos postulados ligados ao atraso, à ineficácia, à estagnação.

Para muita gente, muita mesmo, é mais fácil encarar as mazelas do momento como o resultado da ação de políticos incompetentes, perdulários, corruptos e que agem apenas em benefício do próprio bolso ou de seus grupos. E que uma vez lavado tudo isso a jato, as coisas voltam a funcionar e o País a crescer e a gerar prosperidade. É um grave engano, mas quem disse que elites inteiras não se enganam?


 04/10/18

Mais um engodo petista


Resultado de imagem para Mais um engodo petista




EDITORIAL DO ESTADÃO




O PT planeja lançar uma “frente democrática” no segundo turno, em defesa da candidatura do preposto do presidiário Lula da Silva, Fernando Haddad. Sob a coordenação de Jaques Wagner, a legenda tenta pregar mais uma peça na população brasileira, dizendo que o PT pode ser o bastião da democracia ante o avanço da candidatura do deputado Jair Bolsonaro (PSL).


Com o PT a democracia sempre esteve em risco. Basta ver que, no momento em que Lula ocupava a Presidência da República e o partido desfrutava de expressivo apoio popular, a legenda optou por subverter a democracia representativa, comprando parlamentares por meio do esquema que depois ficaria conhecido como mensalão. Mesmo após a confirmação do caso, o PT não fez nenhuma autocrítica.

Os petistas nunca pediram desculpas à população brasileira por terem desrespeitado o princípio constitucional de que todo o poder emana do povo – sob o jugo do PT, o poder emanava do dinheiro periodicamente pago aos parlamentares.

Não satisfeito com o mensalão, o PT instalou outro esquema de corrupção do sistema político, o petrolão, com o uso das estatais para intermediar a compra de apoio político em troca de benesses econômicas. Além de os valores desviados das empresas públicas terem atingido cifras até então inauditas – o escândalo do mensalão ficou parecendo manobra de principiante –, o petrolão representou um novo grau de subversão do poder.

Era a apropriação de todo o aparato do Estado por parte de uma causa político-partidária. Evidentemente, esse cenário não é compatível com o que se espera de uma democracia pujante.

Nos últimos tempos, o PT voltou a mostrar seu desprezo pelas instituições republicanas. A legenda instalou uma autêntica cruzada contra o Poder Judiciário, simplesmente porque várias instâncias da Justiça entenderam que Lula da Silva também devia estar submetido ao regime da lei.

A absoluta evidência de que o ex-presidente petista pôde exercer um amplíssimo direito de defesa não foi motivo para que o PT interrompesse suas imprecações contra o Judiciário.

Seguiram com sua infantil postulação de que todo o Estado Democrático de Direito deveria se curvar ao grande líder. Nos regimes admirados pelos petistas, o Judiciário não tem a audácia de condenar líderes populares por corrupção e lavagem de dinheiro.

Neste ano, Lula da Silva e seu séquito fizeram de tudo para desrespeitar as regras eleitorais, com uma massiva campanha de desinformação, pregando que, se o demiurgo de Garanhuns não pudesse se candidatar, a eleição seria uma fraude. “Eleição sem Lula é golpe”, repetiram por todo o País.

Sem nenhum apreço pelo princípio da igualdade de todos perante a lei, a fantasiosa argumentação era um descarado pedido de privilégio para o sr. Lula da Silva. Segundo os petistas, a Lei da Ficha Limpa não podia ser aplicada ao grande líder.

E para que não pairasse nenhuma dúvida de que continua havendo nas hostes petistas uma profunda ojeriza pelos princípios democráticos, o programa de governo do candidato Fernando Haddad foi talhado nos moldes do modelo bolivariano. Sem cerimônia, o PT prega um “novo processo constituinte: a soberania popular em grau máximo para a refundação democrática e o desenvolvimento do País”.

A legenda promete subverter a democracia representativa. Além de instalar conselhos populares, ela quer “expandir para o presidente da República e para a iniciativa popular a prerrogativa de propor a convocação de plebiscitos e referendos”.

Também fala abertamente em “instituir medidas para estimular a participação e o controle social em todos os Poderes da União e no Ministério Público”. Para coroar suas pretensões autoritárias, os petistas mencionam a necessidade de um “novo marco regulatório da comunicação social eletrônica”.

A atual liberdade tem incomodado suas pretensões autoritárias.

Quando o PT pede votos em favor de Fernando Haddad, que seria o campeão da defesa democrática do País, falta-lhe credibilidade.

O passado e o presente o desmentem.



12/10/18

quarta-feira, 10 de outubro de 2018

Para diretor do Datafolha, virada de Haddad sobre Bolsonaro se mostra difícil



Ao comentar em encontro na TV Folha os números da nova pesquisa Datafolha, o diretor-geral do instituto, Mauro Paulino, diz que "será muito difícil haver uma reviravolta".

Os números mostram Jair Bolsonaro (PSL) com 58% dos votos válidos e Fernando Haddad (PT) com 42%, uma diferença de 16 pontos percentuais.

"Uma vantagem tão grande nunca foi revertida em favor do segundo colocado em um segundo turno", diz Paulino. Ele lembra que Dilma conseguiu virar sobre Aécio Neves, mas a diferença era de apenas quatro pontos percentuais.

Para o editor de Poder, Fábio Zanini, Haddad, para mudar o cenário, precisará "tirar um coelho da cartola" em duas semanas. Ele lembra também que essa "reviravolta" será dificultada pela ausência de Bolsonaro ao menos nos primeiros debates com Haddad.

Além de Paulino e Zanini, participaram do debate a repórter especial Patrícia Campos Mello e, por Skype, o correspondente da Folha em Salvador (BA), João Pedro Pitombo. A mediação foi da repórter de Poder Thais Bilenky.

A pesquisa, com margem de erro de dois pontos percentuais para mais ou para menos, foi feita nesta quarta-feira (10) e ouviu 3.235 pessoas em 227 municípios. O estudo está registrado no TSE com o número BR-00214/2018.




10.out.2018

Datafolha: Bolsonaro tem 58% dos votos válidos; Haddad aparece com 42%




Nos votos totais, o candidato do PSL tem 49%, contra 36% do petista

Marco Grillo
O Globo


Pesquisa Datafolha do segundo turno as eleições apontam vitória de Jair Bolsonaro Foto: O Globo
 
RIO — A primeira pesquisa de intenção de votos divulgada após o início do segundo turno mostra que o candidato do PSL, Jair Bolsonaro , tem 58% dos votos válidos, enquanto Fernando Haddad (PT) aparece com 42%.

Na contagem dos votos totais, Bolsonaro tem 49%, enquanto Haddad tem 36%. Brancos e nulos somam 8%, e 6% não souberam responder.

A margem de erro é de dois pontos percentuais, para mais ou para menos.

Nos recortes regionais, o candidato do PSL vence no Sudeste (55% a 32%), no Sul (60% a 26%), Centro-Oeste (59% a 27%) e Norte (51% a 40%). Já no Nordeste, a vantagem é de Haddad: 52% a 32%. Os números levam em consideração os votos totais.

Entre as mulheres, há um empate técnico entre os dois candidatos: Bolsonaro tem 42%, enquanto Haddad aparece com 39%. Já no eleitorado masculino, o candidato do PSL tem ampla vantagem: 57% a 33%.

O Datafolha ouviu 3.235 entrevistados em 227 municípios nesta quarta-feira. O nível de confiança é de 95%, e o levantamento foi registrado no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) com o número BR-00214/2018.


Intenção de voto para presidente / Datafolha

Votos válidos

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.


JairBolsonaro 
58%  (PSL)

FernandoHaddad  42%  (PT)

Pesquisa estimulada

A margem de erro é de dois pontos percentuais para mais ou para menos.


JairBolsonaro 
49%  (PSL) 
FernandoHaddad  36%  (PT)

Brancose nulos  8%
Não souberam/não respondeu  6%

Fonte: Datafolha



10/10/2018


terça-feira, 9 de outubro de 2018

Narrativa renovada




Por Merval Pereira
O Globo

Entre mortos e feridos, poucos se salvaram, mas entre estes o PT, paradoxalmente, é um dos que resistiram à onda bolsonarista, apesar de derrotas emblemáticas em todo o país e de ter sido confinado ao nordeste, e mesmo assim não nas capitais e grandes cidades. Além de ter elegido a maior bancada da nova Câmara, reelegeu no primeiro turno os governadores da Bahia, do Ceará e do Piauí. E governadores aliados no norte e nordeste como Renan Filho, do MDB de Alagoas; Flávio Dino do PCdoB no Maranhão; João Azevedo do PSB na Paraíba, e Paulo Câmara do PSB em Pernambuco. E está no segundo turno da eleição presidencial pela quinta vez seguida, embora pela primeira vez em posição de desvantagem.

A bancada petista no Senado caiu de nove para seis, mas, exceto o MDB, com 12 senadores (tinha 18 antes), nenhum outro partido terá mais representantes. O PT já tem papel de destaque caso Bolsonaro confirme sua vitória no segundo turno: liderará a oposição.

Seu oposto tradicional, o PSDB, sai das urnas ferido de morte. Por sua tibieza, foi engolido pela onda conservadora que varreu o país, fez apenas a nona bancada da Câmara, quando era a terceira, mas pode ter um fôlego se eleger os governadores de São Paulo, Rio Grande do Sul e Minas.

Os que se surpreenderam com o resultado das urnas não levaram em conta que o sucesso de Bolsonaro é produto de três coisas: deu voz a uma onda conservadora nos costumes; fala claramente em combate mais feroz a bandidos, fortalecendo a atuação das polícias e mexendo na Legislação; e, finalmente, o desmonte dos partidos tradicionais.

A onda de antipetismo que se formou no país tem papel complementar às duas primeiras, pois o PT está sendo associado pela maioria dos brasileiros com o que seria um abandono dos valores tradicionais e a leniência com os bandidos em nome dos Direitos Humanos.

Aconteceu a renovação na política que era desejada pela sociedade civil desde 2013, quando espontaneamente cidadãos saíram às ruas para cobrar, basicamente, melhores serviços do Estado. A democracia foi apropriada pelas pessoas em suas redes sociais. Um candidato tosco, por vezes com posições repulsivas, sem sair do hospital e de casa, ganha 50 milhões de votos sem dinheiro nem tempo de TV.

Os partidos, “donos” dos espaços político-partidários, tentaram impedir essa renovação, financiando preferencialmente os candidatos à reeleição com o Fundo Partidário, usado para o fortalecimento das cúpulas partidárias. O resultado é que na Câmara Federal teremos 47 por cento só de deputados estreantes, uma revolução que os eleitores forçaram o establishment a aceitar. Menos da metade dos deputados conseguiu se reeleger. O que não quer dizer que o nível da Câmara melhorará. Pela amostra que já temos, com até ator pornô sendo eleito, não é garantida a qualidade da representação.

Jair Bolsonaro influenciou as eleições em todos os Estados, e o eleitorado tirou vários caciques da vida pública, velhas lideranças e seus filhos não foram reeleitos, a despeito do poder político e econômico. Uma conseqüência desse desmanche dos partidos tradicionais é o fracionamento maior da Câmara, que terá 30 partidos representados, em vez dos já exagerados 25 que lá atuam.

As maiores bancadas serão do PT, com 56 deputados e PSL, que de insignificantes 8 deputados, tendo elegido apenas um em 2014, passa a ter 52, e provavelmente aumentará ainda mais com as adesões que os partidos que estão no governo recebem.

O PMDB foi o que mais perdeu cadeiras: caiu de 66 eleitos em 2014 para 34 em 2018. Esta eleição foi uma prova de vitalidade democrática do país, apesar da onda de fake news. Por fim, há o surgimento de uma consciência liberal e antipetista que surpreendeu.

O plebiscito foi não só em relação ao impeachment da Dilma, mas também em relação à prisão do Lula e à atuação da Lava-jato. Dos inúmeros significados desta eleição, um deles, por seu simbolismo, chama especial atenção: a ex-presidente Dilma teve a sua candidatura ao Senado recusada pelos eleitores mineiros, que tiraram-lhe os poderes políticos que foram mantidos por uma interpretação fajuta da Constituição avalizada pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Ricardo Lewandowski. E a advogada Janaína Paschoal, co-autora do pedido de impeachment, foi a deputada mais votada da história.

De forma clara e plebiscitária, a tese do golpe foi rechaçada. O povo chancelou o impeachment da Dilma e enterrou a narrativa do golpe.

09/10/2018


segunda-feira, 8 de outubro de 2018

ARRASTÃO NA URNA

"A política tradicional morreu.

Teremos anos dolorosos pela frente", diz Jairo Nicolau



Por Bernardo Mello Franco
O Globo
Givaldo Barbosa
Agência O Globo


A eleição do novo Congresso sepultou a política tradicional e o sistema partidário construído a partir da Constituição de 1988. A avaliação é do cientista político Jairo Nicolau, um dos maiores estudiosos do Legislativo no país.

Ele afirma que a fragmentação recorde da Câmara, que passa a ter deputados de 30 partidos, deve impedir qualquer presidente eleito de governar com maioria. "Mudou tudo. Estamos diante de fenômenos nunca vistos", diz o professor da UFRJ.

Para Nicolau, o deputado Jair Bolsonaro capitalizou a rejeição ao PT ao discursar contra a corrupção e se vender como "um João Doria nacional". "Ele não precisou discutir nada de concreto. O eleitor comprou um símbolo", avalia.

Leia alguns trechos da entrevista ao blog:

O novo Congresso: "O sistema partidário que nós conhecíamos morreu junto com o aniversário de 30 anos da Constituição. A fragmentação da Câmara já era a maior do mundo. Agora chegamos a um ponto fora de qualquer parâmetro. Estamos diante de uma eleição nunca vista. A política tradicional morreu no Brasil".

Governo sem maioria: "É muito difícil que o próximo presidente consiga formar um governo de maioria. Isso pode comprometer a aprovação de emendas constitucionais, como a reforma da Previdência".

Guinada à direita: "Bolsonaro criou do nada um grande partido de extrema direita. Os analistas esperavam que o PSL faria uma bancada de 15 a 20 deputados. Houve um arrastão (a sigla garantiu 52 cadeiras). O hiperconservadorismo ganhou uma força que ninguém esperava. Vamos conhecer esta bancada agora. A lista dos eleitos está cheia de prenomes como cabo, capitão e coronel".

Mudanças até a posse: "Os deputados eleitos por pequenos partidos de centro-direita que não cumpriram a cláusula de desempenho poderão migrar para o PSL sem serem punidos. Isso deve fazer do PSL a maior bancada no início da legislatura, em fevereiro (ultrapassando o PT, que elegeu 56 deputados)."

Renovação alta: "A renovação foi muito maior do que se imaginava (53,4% das cadeiras na Câmara). É um índice alto para um sistema que tentou se proteger como nunca, com a campanha mais curta e a concentração do fundo eleitoral. Mas uma taxa de renovação alta não garante um Congresso melhor".

Surpresa nas urnas: "Há uma incompreensão do que estava acontecendo no Brasil e nas redes sociais. Mudou tudo. Estamos diante de uma nova direita organizada. Impressiona a incapacidade dos partidos tradicionais de operar como antes".

A ecruzilhada do PT: "O PT se agarrou ao Nordeste. Os pobres do Sul e do Sudeste, que votavam no partido, migraram para Bolsonaro. Há uma rejeição absurda ao partido. Haddad fez uma campanha ruim. Não avançou para o centro, não fez nenhuma inflexão. Ainda vai visitar o Lula hoje".

O fenômeno Bolsonaro: "O eleitor comprou o Bolsonaro como um João Doria nacional. Ele prometeu romper com a política tradicional e explorou a corrupção e o antipetismo como temas centrais. O fato de ter ficado calado depois da facada o ajudou. Ele não precisou discutir nada de concreto. O eleitor comprou um símbolo".

Efeitos da polarização: "O clima na sociedade não está bom. Essa eleição conseguiu dividir mais as famílias do que o impeachment. A polarização está saindo das redes e indo para as ruas. O sujeito que quebrou a placa da Marielle na terça se tornou o deputado mais votado do Rio no domingo. Teremos anos dolorosos pela frente".

08/10/2018


Mapa eleitoral do primeiro turno mostra PT ‘cercado’ no Nordeste

Reduto do partido foi o que garantiu realização de segundo turno; Bolsonaro avançou por Estados onde Dilma havia vencido em 2014

Daniel Bramatti
O Estado de S.Paulo

No mapa eleitoral do primeiro turno da eleição presidencial de 2018, o candidato do PSL, Jair Bolsonaro, encurralou o adversário Fernando Haddad (PT) no Nordeste e em um pedaço da região Norte – mais especificamente o Pará.
Eleitores em zona eleitoral esperam a hora de votar
Foto: Leo Correa/AP Photo


No total, Bolsonaro venceu em 16 Estados e no Distrito Federal. Ganhou na totalidade das regiões Sul, Sudeste e Centro-Oeste. Apesar de não ter repetido o desempenho de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff no Nordeste, Haddad conseguiu evitar que a onda bolsonarista invadisse a região, o que teria levado a uma definição da disputa já no primeiro turno.


O melhor desempenho de Bolsonaro nos Estados ocorreu em Santa Catarina, onde teve quase dois terços dos votos, deixando Haddad em um distante segundo lugar, com 15%. Nos vizinhos Rio Grande do Sul e Paraná, Bolsonaro teve também o apoio da maioria absoluta do eleitorado.

No Sudeste, o candidato do PSL só não alcançou maioria absoluta em Minas Gerais – e foi por pouco. Entre os mineiros, o placar pró-Bolsonaro foi de quase 49% a 27%. Em São Paulo, maior colégio eleitoral do País, o militar da reserva teve 53%. No Rio de Janeiro, seu domicílio eleitoral, Bolsonaro alcançou quase 60%.

Haddad venceu em nove Estados, sendo oito no Nordeste e apenas um – o Pará – no Norte. Em relação ao mapa do primeiro turno de 2014, o candidato do PT não repetiu o desempenho de Dilma Rousseff – candidata do partido na época – nos principais Estados do Norte.

Dilma, por exemplo, teve 55% dos votos no Amazonas no primeiro turno de 2014. Haddad, por sua vez, ficou com 39%, atrás de Bolsonaro, com 45%.

No Nordeste, o melhor desempenho de Haddad ocorreu no Piauí, no Maranhão e na Bahia, onde teve aproximadamente seis em cada dez votos.
Exceção

Nos Estados nordestinos, o petista só não foi o vencedor no Ceará, reduto eleitoral de Ciro Gomes (PDT).

O pedetista teve 41% dos votos dos cearenses. Haddad ficou com 32%, e Bolsonaro, com 22%. Foi o único Estado em que o candidato do PSL ficou na terceira posição.

Os Estados em que o PT teve melhor desempenho são os que possuem maior concentração de eleitorado beneficiado por políticas públicas e programas sociais da época em que o partido comandava o governo federal.

Perfil. A última pesquisa Ibope/Estado/TV Globo antes da eleição, concluída na véspera da disputa, mostrou que o embate entre Bolsonaro e Haddad reproduziu parcialmente a clivagem social das disputas entre PT e PSDB. Desde a eleição de 2006, o partido de Lula se sai melhor entre os eleitores mais pobres e menos escolarizados, enquanto o adversário do PT tem desempenho superior nas faixas de maior renda e escolaridade. Neste ano, o padrão se repetiu, segundo o Ibope.

Outro recorte que mostrou diferenças entre o eleitorado de Bolsonaro e o de Haddad é o religioso. O Ibope feito na véspera da pesquisa, da mesma forma que todos os levantamentos anteriores realizados durante a campanha, apontou que Bolsonaro tinha desempenho melhor entre evangélicos que entre católicos. Já em relação a Haddad ocorreu o contrário.

No recorte por raças feito pelo Ibope, o candidato do PT se saiu melhor entre os negros e pardos, enquanto Bolsonaro se destacou entre os brancos.
07 Outubro 2018


Capacidade de construir consenso definirá vitorioso entre Bolsonaro e Haddad



Um quarto dos eleitores não votou nem no PSL nem no PT e se torna fundamental para a vitória



Plínio Fraga
Época

Fernando Haddad e Jair Bolsonaro se enfrentarão no 2º turno pela Presidência do Brasil
Foto: Agência O Globo
 
Os dois candidatos a presidente que vão ao segundo turno somaram 75% dos votos válidos. Em tese, um quarto dos brasileiros deve, no segundo turno, optar por um novo voto; e três quartos dos eleitores, também em tese, tendem a reafirmar o voto anterior. Assim o reposicionamento dos 25% dos eleitores que não votaram em Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT) decidirá o pleito no segundo turno. Os 13% dos votos válidos destinados a Ciro Gomes (PDT) são o principal patrimônio em disputa.

Previsto como o mais fragmentado da história, o primeiro turno da eleição presidencial mostrou-se mais aglutinador do que anunciado. Forças políticas com histórico de representação elevada murcharam; caciques e dinastias políticas foram varridas do mapa eleitoral. Como não existe vácuo em política, candidatos fora do sistema e fora dos radares surgem como novidades reais do pleito deste domingo.

O primeiro turno pode ser analisado a partir de dois ângulos opostos. No modo pesselista, Bolsonaro tem de manter sua votação de 49 milhões (46% dos válidos) e ganhar pelo menos 6 milhões de votos, caso seja mantido o grau de comparecimento e votos válidos do primeiro turno. O segmento-alvo são os 27,6 milhões de votantes dos demais 11 candidatos. Para vencer, o pesselista precisa, se não perder votos, atrair 22% desses votos.


No modo petista de análise, Hadadd tem de acrescentar ao seu patrimônio de 31 milhões de votos mais 24 milhões de votos, ou seja, 87% dos eleitores que não votaram nem no PSL nem no PT. Como Ciro responde sozinho por 43% desses eleitores, uma aliança entre PDT e PT poderia reduzir significativamente a diferença em favor de Bolsonaro. No entanto, mesmo que Ciro transfira 100% dos votos para Haddad, o que é improvável, o petista ainda precisaria arrebatar 11 milhões de votos entre os eleitores dos demais candidatos.

O segundo turno é uma nova eleição, mas é também a continuação do primeiro. São ideias interdependentes. Em jogo estará a capacidade de cada candidato comunicar sua mensagem. Bolsonaro sai em vantagem. Precisa agregar menos eleitores do que o petista.

A principal característica do segundo turno é o estabelecimento de políticas e ideais consensuais, que sejam apoiadas por setores sociais amplos. É um dos grandes avanços institucionais da Constituição brasileira de 1988. As vozes que o contestam são aquelas ligadas a setores minoritários, à direita e à esquerda, porque o processo dificulta propostas radicais. Estimula a formação de maiorias estáveis.

Quando o chavão da análise eleitoral prega que o segundo turno é uma nova eleição estimula a afirmação de que o jogo seria zerado e dois candidatos partiriam do nada à busca de eleitores. É fato que nada obriga que um eleitor repita no segundo turno o voto que escolheu no primeiro. Mas estes têm se mostrado minoritários na história da eleição presidencial brasileira em dois turnos. Grande parte dos eleitores repete seu voto. Para estes, o segundo turno é uma continuação do primeiro, não uma nova eleição.


No primeiro turno, começaram a ser construídos os argumentos que levaram a escolha de um candidato e que levaram a rejeição de outro. No segundo turno, as opções são restritas a duas, levando à escolha excludente, comparativa, valorativa, em que o pior e o menos pior também passam a ser posicionamentos relevantes.

Quase 30 milhões de eleitores registrados se abstiveram de votar. Outros dez milhões decidiram votar em branco ou anular. A maior ou menor capacidade de um dos dois candidatos atrair esses eleitores refratários será decisiva para o pleito.

Esses 40 milhões de eleitores e os 27,6 milhões que votaram nos outros 11 nomes que agora estão fora da disputa formam o contingente-alvo de 67,6 milhões de brasileiros que, nas próximas três semanas de campanha, definirão quem será o novo presidente brasileiro.





07/10/2018