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terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Dirceu visitou presidente Dilma no Alvorada





Coluna Esplanada
FSP

Zé Dirceu, o chefe da "sofisticada organização criminosa", esteve na residência oficial da presidente. O que se sabe é que Dilma deve boa parte de sua carreira ao criminoso que tem trânsito livre no poder


Há poucos dias o ex-ministro o ex-apenado José Dirceu visitou a presidente Dilma Rousseff no Palácio da Alvorada, a residência oficial, antes das férias da chefe da nação. Uma fonte que trabalha no Palácio confirmou a passagem.


Foi uma longa conversa. Livre, leve e solto – por uma decisão de ministro do STF nomeado pela presidente Dilma – o apenado, que passou do regime semiaberto (dormir na prisão) para o domiciliar comemora a nova fase: praticamente um ano após a condenação já saiu da cadeia. Caso raro para muitas outras centenas de apenados humildes que mofam nas celas, já demonstraram levantamentos da Justiça.


É um mistério o teor da conversa da presidente com o ex-colega de governo. Sabe-se que Dilma deve parte de sua ascensão a ele. Foi Dirceu quem se esforçou, como então chefe da Casa Civil do primeiro governo de Luiz Inácio, a levá-la ao presidente. O labrador ‘Nego’, fiel guardião de Dilma e acompanhante de caminhada dela nas poucas horas vagas, foi presente de Dirceu. Mas nada disso deve ter entrado na conversa a dois.


Fato é que a visita sigilosa à presidente Dilma neste momento (um mensaleiro apenado recebido com especial dedicação no Palácio) pode também ter relação com o famigerado ‘petrolão’ – o esquema de corrupção descoberto pela PF na Petrobras. Renato Duque, o ex-diretor da estatal detido, era apadrinhado do grupo político no PT comandado por Dirceu. Duque era Dirceu e vice-versa no governo Lula dentro da Petrobras, quando Dilma já compunha o Conselho de Administração da petroleira.


É notória também entre gabinetes parlamentares e no PT a ingerência de José Dirceu na indicação de nomes de sua confiança nos conselhos dos fundos de pensão estatais – desfilou apadrinhados na Previ, Petros, Funcef, etc. Quando Dilma batia ponto no último andar do Ministério de Minas e Energia, o todo-poderoso aliado controlava do quarto andar do Palácio do Planalto uma rede de contatos que fazia jus ao mito que se criou em torno de sua figura. Ainda há, hoje, ‘Dirceusistas’ distribuídos por pontos estratégicos do governo em todas as esferas, com média ou muita influência. Entrelinhas, a presidente Dilma não receberia no Alvorada ou perderia seu tempo com apenas um ex-colega de Esplanada.


No pós-governo, demitido, Dirceu passou a usufruir de sua extensa rede de contatos para fechar contratos. Tornou-se consultor não declarado de grandes empresas nacionais e estrangeiras. Um abre-portas em qualquer órgão do governo federal. Com o PT no governo, o dinheiro entrou em sua conta. Um empresário do ramo de estaleiros chegou a pagar-lhe R$ 30 mil por mês para ter acesso a ministros e autoridades afins ao seus interesses, conta uma fonte do setor empresarial do Rio de Janeiro. Agora, Dirceu deve se retirar do escritório de José Gerardo Grossi, em Brasília, onde organiza a biblioteca – um trato com a Vara de Execuções Penais do DF – e retomar a ‘carreira’ de consultor.


Trabalho não faltará. Dinheiro, também não. Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, e já está na rua. Pagou multa de R$ 676 mil à Justiça para dela se livrar. Em abril de 2013, meses antes de ser condenado e preso, Dirceu fretou por mais de uma semana o jatinho Citation II, prefixo PT-LLU, e pousou em pelo menos cinco capitais (cada trecho gasta-se num avião executivo R$ 50 mil só de frete). A estratégia era divulgar a sua defesa, ciente da condenação, em auditórios dos diretórios do PT lotados de simpatizantes.


Deu certo.
Um estrategista de primeira linha emplacou na consciência de milhares de militantes que é um preso político, perseguido e injustiçado. Ou a chefe da nação, pelo visto, caiu nessa. Ou é cúmplice de suas artimanhas no Poder.


30 de dezembro de 2014


segunda-feira, 29 de dezembro de 2014

E-mails indicam ‘atuação direta’ de cartel no governo




Polícia Federal apreendeu em computador do número 1 da OAS textos que revelam trânsito de alvos da Lava Jato em setores estratégicos da administração federal


Por Ricardo Brandt, Fausto Macedo
e Julia Affonso
Estadão


E-mails apreendidos durante as buscas e apreensão na casa do presidente do Grupo OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, o Léo Pinheiro, indicam que as empresas do suposto cartel acusado de pagar propina a altos funcionários da Petrobrás em troca de contratos bilionários tratava diretamente com a Casa Civil e Ministério da Fazenda sobre as obras e contratos de seus interesses na área de infraestrutura.

“Acertada, finalmente, com a Casa Civil nossa atuação direta junto aos diversos ministérios. Casa Civil continuará atuando diretamente no processo, mas as iniciativas serão nossas. O que nos dá liberdade e agilidade”, escreve Rodolpho Tourinho Neto, no dia 3 de julho deste ano, quando já havia sido deflagrada a Operação Lava Jato e as maiores empreiteiras do País eram alvo notório de investigações da Polícia Federal.

O autor do e-mail foi ministro de Minas e Energia no governo Fernando Henrique Cardoso (PSDB), é político ligado ao DEM e atual presidente da Associação Brasileira de Infraestrutura e Industrias de Base (Abdib).

Entre seus interlocutores estão alguns dos alvos centrais da Lava Jato dentro do braço empresarial do esquema, principais executivos das gigantes da construção: o presidente e o vice-presidente da Andrade Gutierrez, Otávio Azevedo e Gustavo Barreto; o presidente do Grupo OAS, Léo Pinheiro; os presidentes da Camargo Corrêa, João Ricardo Auler (Construtora) e Dalton Avancini (Conselho de Administração); o vice presidente executivo da Mendes Júnior, Sérgio Mendes; o presidente da Galvão Engenharia, Dário Galvão Filho; e o presidente da UTC Engenharia, Ricardo Ribeiro Pessoa. Além deles, representantes da Associação Brasileira de Infraestrutura e Industrias de Base (Abdib)e do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon).

Os e-mails escritos por Tourinho Neto foram interceptados pela PF nos computadores de Léo Pinheiro, número 1 da OAS, quando ele e outros executivos foram capturados por ordem judicial. Pinheiro pediu a um funcionário da empresa que imprimisse o material e o guardasse.


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O arquivo de Léo Pinheiro abarca temas como obras, nomes de contatos nos ministérios da Casa Civil e da Fazenda, bem como indicativos de que o grupo era consultado por setores do governo antes que decisões internas fossem tomadas – todas relacionadas a obras de infraestrutura no País.

No espaço “assunto”, o autor do e-mail escreveu “Comunicado GT Interministerial”. Seus interlocutores são 13 executivos das empreiteiras – a maioria deles a Lava Jato mandou para a cadeia no dia 14 de novembro, quando foi desencadeada a histórica Operação Juízo Final.

Sétima etapa da Lava Jato, a Juízo Final desmascarou o cartel que, desde 2004, controlava os negócios mais lucrativos da Petrobrás, corrompendo agentes públicos para fraudar e fatiar obras na estatal petrolífera. Atuando em parceria com funcionários graduados da Petrobrás, nomeados por partidos políticos (PT, PMDB e PP), o grupo chamado de ‘clube das empreiteiras’ pagava de 1% a 3% para manter seus contratos bilionários com a estatal.

O e-mail apreendido no arquivo de Léo Pinheiro, da OAS, traz o apontamento de atuação do grupo na Casa Civil e também no Ministério da Fazenda. No mesmo e-mail que começa com os registros “Comunicado Ref.: Acompanhamento de Oportunidades para o desenvolvimento da infraestrutura brasileira”, Tourinho Neto apresenta informativos referentes aos dias 1 e 2 de julho de 2014.

“Para que o andamento de cada intel do Oportunidades possa ser acompanhado pelas empresas, pela Abdib e pelo Sinicon, no que couber a cada um, emitiremos informativos, sempre que houver alguma novidade”, destaca o interlocutor ao grupo de executivos já denunciados pela força-tarefa da Lava Jato por corrupção, lavagem de dinheiro e formação de organização criminosa.

Em um desses informativos, referente ao dia 2 de julho, Tourinho Neto escreve: “Casa Civil – Valdir Simão e Felipe Borim.” Ambos ocupam cargos de confiança e foram indicados em 2014 pelo ministro-chefe da Casa Civil, Aloizio Mercadante. Trata-se de Valdir Moysés Simão, secretário executivo da Casa Civil, que trabalhava como coordenador do Gabinete Digital da presidente Dilma Rousseff. Auditor da Receita Federal de carreira, ele foi secretário da Fazenda do Distrito Federal e presidente do Instituto Nacional do Seguro Social (INSS). Felipe Borim Villen é assessor especial da Secretaria Executiva da Casa Civil.

Entre os temas apontados nos e-mails há tópicos que, pelo teor dos textos, indicam para a Polícia Federal o acesso a informações privilegiadas por parte do grupo dentro do governo. No primeiro item, por exemplo, com o tema “Licenciamento ambiental”, está escrito: “Sendo preparada Portaria Interministerial para centralizar no Ibama a coordenação de processo de licenciamento, com determinação de prazos para cada órgão se manifestar.”

Logo abaixo, em negrito. “Portaria será encaminhada para nossa avaliação.” Não há ilícitos aparentes no material apreendido, mas a PF faz uma análise rigorosa sobre todo o conteúdo de correspondências capturadas nos computadores de Léo Pinheiro e dos outros executivos das empreiteiras sob suspeita da Juízo Final.

A PF busca identificar os crimes que transcenderam a Petrobrás e quer averiguar também os contatos que foram mantidos em outras áreas do governo pelo “clube das empreiteiras”.

Todas as empreiteiras negam prática de atos ilícitos. Os advogados que representam os executivos aprisionados pela Operação Juízo Final sustentam que a investigação contém falhas e que as denúncias formais já apresentadas pelo Ministério Público Federal “são açodadas e não individualizam condutas”. Os advogados alegam inocência dos empresários.


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COM A PALAVRA, A CASA CIVIL DA PRESIDÊNCIA DA REPÚBLICA

A Assessoria de Comunicação Social da Casa Civil da Presidência da República, informou.
“Sempre que necessário o governo conversa com diversos segmentos da sociedade, por meio de suas representações institucionais, para a elaboração e aperfeiçoamento das políticas públicas. Não houve e nem haverá submissão de medidas do governo ao setor. O setor foi cientificado de alguns aspectos genéricos já consensuados dentro do governo que vão ao encontro da expectativa de maior celeridade nas decisões sobre licenciamento.”

“O Sinicon e a Consultoria McKinsey apresentaram à Casa Civil, Ministérios da Fazenda, Planejamento, Transportes, Minas e Energia, Cidades, Secretaria Especial de Portos e EPL um estudo sobre “Melhores Práticas e Oportunidades para Desenvolvimento da Infraestrutura Brasileira” (formato de apresentação, com 35 páginas). O estudo compara as boas práticas de outros países para planejamento, regulação, financiamento e execução de projetos de infraestrutura. O estudo é datado de 24/02/2014 e pode ser obtido com as entidades responsáveis pela elaboração do mesmo.”

“Na reunião de 02/07 foi dito ao Sinicon que o estudo subsidiaria a agenda de aprimoramentos institucionais, já em curso, com o objetivo de ampliar os investimentos em infraestrutura. Foi dito, ainda, que várias medidas propostas no estudo já estavam em discussão ou implementação na referida agenda, entre elas medidas sobre agilização dos processos de licenciamento ambiental, e que novas boas práticas poderiam eventualmente ser incorporadas, desde que alinhadas com as diretrizes governamentais.”

“Foi dito ao Sinicon que somente as propostas constantes do estudo que estivessem alinhadas com as diretrizes do governo seriam apoiadas. Foi dito, ainda, que a Casa Civil continuaria participando da agenda de desenvolvimento da infraestrutura, bem como que eventuais boas práticas poderiam ser incorporadas na agenda. Não é possível precisar o que o emitente da mensagem quis dizer com as expressões “as iniciativas serão nossas” e “os empresários terão maior liberdade e agilidade”, mas pode referir-se a investimentos de responsabilidade e iniciativa do próprio setor ou mudanças legais pleiteadas no Congresso Nacional que não contariam com o apoio do governo.”

“Um dos temas apresentados pelo Sinicon foi o prazo para conclusão dos processos de licenciamento ambiental. Foi informado ao Sinicon que o tema já estava em discussão no governo e que a Portaria Interministerial 419 estava sendo revisada pelos Ministério do Meio Ambiente, Justiça, Cultura e Saúde. Foram enviados para conhecimento do Sinicon alguns aspectos genéricos já acordados com os órgãos licenciadores, relativos aos prazos, para garantir eficiência e celeridade processual. O inteiro teor da portaria não foi encaminhado, mesmo porque nem estava pronto. Foi dito ainda que submeteríamos ao Ministro da Casa Civil a proposta de consulta pública do referido ato, quando pronto. O tema ainda está em discussão e não foi concluído.”

“O setor manifestou apoiar o texto do PLS 559 e algumas emendas. Ao analisar as sugestões do setor concluímos que as mesmas não se coadunam com a visão do governo sobre eventual mudança da 8.666. O PLS, até este momento, não atende as diretrizes governamentais. O governo está elaborando proposta de substitutivo ao referido PLS (fato já divulgado pela imprensa). Essa proposta não foi concluída e não foi apresentada ao setor. Quando pronta, será amplamente debatida, no âmbito do Congresso Nacional.”

“Os temas trazidos pelo Sinicon integram a proposta de Pacto pela Competitividade da Indústria, lançado no dia 19/11 e amplamente divulgado. A elaboração do pacto conta com a participação de vários órgão do governo e representação da CNI em oito grupos de trabalho e contempla ações em 8 grandes temas: Assim que concluída, a proposta de Pacto será amplamente debatida.”

“Registre-se que a reunião com o Sinicon foi pública e participaram somente representantes institucionais da entidade. Não houve participação de empresários do setor.”


COM A PALAVRA, A ASSOCIAÇÃO BRASILEIRA DE INFRAESTRUTURA E INDÚSTRIAS DE BASE (ABDIB)


Por meio de sua assessoria, a Abdib informou que “não vai se manifestar sobre este assunto”.


COM A PALAVRA, O MINISTÉRIO DA FAZENDA


“Faz parte das atribuições do Ministério da Fazenda manter reuniões de trabalho com todos os setores da economia brasileira, inclusive o da construção civil. É importante lembrar que o governo tem um grande programa de concessões de infraestrutura, com uma série de leilões já realizados e bem sucedidos, o que demandou várias reuniões e debates com representantes do setor. O Ministério da Fazenda participou e continua a participar desse processo, buscando contribuir para um modelo que atraia o maior número de participantes nos leilões, reduzindo o custo para os usuários e contribuintes.”


COM A PALAVRA, A ANDRADE GUTIERREZ


“A Andrade Gutierrez informa que é associada da ABDIB (Associação Brasileira de Infraestrutura e Indústria de Base), que tem como um de seus objetivos gerar discussões entre os setores público e privado na intenção de fomentar o desenvolvimento da infraestrutura no Brasil.

Dessa forma, considera natural que o presidente da associação em questão mantenha esse nível de contato exposto pelo email citado. É importante ainda ressaltar que em um ambiente democrático e de livre concorrência, em qualquer lugar do mundo, o diálogo entre os diversos setores da economia e governos ocorre de forma transparente e com o objetivo de propor as melhores soluções para o desenvolvimento.

Sendo assim, a Andrade Gutierrez reitera que o documento (email) citado está em total conformidade com os padrões éticos da sociedade e com a transparência na qual esse tipo de relação deve ocorrer.

 Cabe esclarecer ainda que o Sr. Otávio Azevedo é membro do Conselho de Administração da ABDIB, o que, mais uma vez, torna o envio do referido email um procedimento natural dentro da instituição. Da mesma forma, a empresa lamenta qualquer tipo de ilação descabida ou caluniosa que possa ser feita a partir desse documento.”



29.12.2014

Contrato da Petrobrás com a Odebrecht é investigado por superfaturamento




Ainda em vigor, termo de US$ 825,6 milhões fechado na gestão Gabrielli inclui aluguel de três copiadoras por R$ 7,2 milhões e salário mensal de pedreiro de R$ 22 mil

Sabrina Valle 

Agência Estado


RIO - A Petrobrás fechou com a construtora Odebrecht, em 2010, um contrato no valor de US$ 825,6 milhões, o qual é investigado por suspeita de superfaturamento.

O contrato para serviços na área de segurança e meio ambiente em dez países incluiu pagamento, na Argentina, de R$ 7,2 milhões pelo aluguel de três máquinas de fotocópias; R$ 3,2 milhões pelo aluguel de um terreno próprio e salário mensal de pedreiro de R$ 22 mil nos Estados Unidos, segundo documentos sigilosos da companhia obtidos pelo Broadcast.


Ainda em vigor, o contrato 6000.0062274.10.2, chamado de PAC SMS, foi fechado pela área Internacional, na gestão José Sergio Gabrielli, e reduzido quase à metade neste ano, na gestão Graça Foster. Grande parte dos 8.800 itens apresentavam indícios de irregularidades.

O corte interno já realizado, de pelo menos US$ 344 milhões, aconteceu depois de crivo de auditoria interna da Petrobrás, que considerou a contratação equivocada e recomendou sua revisão. A título de comparação, o montante considerado indevido pela própria companhia é quatro vezes maior do que o volume de recursos desviados apurados no escândalo do Mensalão (R$ 170 milhões).                                          


                                   

Mesmo com a redução, fontes disseram que foram mal versados centenas de milhões de dólares gastos nos 2,5 anos de vigência do acordo inicial para ativos na Argentina, Estados Unidos, Paraguai, Uruguai, Chile, Colômbia, Bolívia, Equador e Japão, além de Brasil. "Muito dinheiro já tinha sido gasto quando houve o corte, esse foi o problema", disse uma fonte da Petrobrás que pede para não ter a identidade revelada.

A redução do valor havia sido divulgada pelo Broadcast em junho, embora os motivos não tivessem sido detalhados. Na época, a Petrobrás disse que houve venda de ativos, como refinarias e que, portanto, não precisariam mais dos serviços, mas não se alongou sobre o caso. A Odebrecht não comentou. Em agosto, sob novo questionamento, a construtora negou irregularidades, via assessoria de imprensa, e disse "desconhecer o questionamento da auditoria".

Ao longo deste ano, a reportagem conversou com sete fontes graduadas que acompanharam direta ou indiretamente o caso, além de fontes do setor. Os documentos coletados mostram indícios de direcionamento na licitação, sobrepreço e falhas contratuais que desprotegeram a petroleira.

A Petrobrás preferiu não comentar. Gabrielli também não. Em nota, a "Odebrecht nega veementemente qualquer irregularidade nos contratos firmados com a Petrobrás", dizendo tê-los conquistado legitimamente por meio de concorrências públicas. Disse ainda que "não foi envolvida e desconhece o questionamento da auditoria da Petrobrás". A construtora diz que o valor contratado foi diretamente afetado pela redução de escopo do contrato decorrente do plano de desinvestimentos da estatal.

O caso é investigado por autoridades, sob sigilo a pedido da Petrobrás. O Ministério Público Federal no Estado do Rio de Janeiro (MPF) instaurou procedimento investigatório criminal em junho para apurar infrações em contratos da Petrobrás no exterior, incluindo o acordo com a Odebrecht.

O Ministério Público (MP) junto ao Tribunal de Contas da União (TCU), que já investigava a compra da refinaria de Pasadena (EUA), pediu em agosto à Petrobrás documentação referente a quatro contratos, incluindo o da Odebrecht. Entregou o caso neste mês ao MPF. O TCU, sob relatoria do ministro José Jorge, também acompanha o caso paralelamente.

Todas as investigações sobre Pasadena e sobre o contrato com a Odebrecht foram iniciadas após reportagens do Broadcast revelarem irregularidades. A série de matérias sobre Pasadena se iniciou em julho de 2012 e da Odebrecht, em junho de 2013.



08 Novembro 2013


sábado, 27 de dezembro de 2014

Petrolão: delivery de propina fazia entrega até no exterior


Investigações revelam conexões no exterior do esquema de corrupção da Petrobras. A OAS, uma das empreiteiras envolvidas, mantinha uma “conta-corrente” usada, entre outras coisas, para enviar dinheiro sujo a vários países

Por Robson Bonin

Veja.com

O entregador - Rafael  ngulo Lopez era o responsável na quadrilha pela distribuição de dinheiro dentro e fora do Brasil

O entregador - Rafael Ângulo Lopez era o responsável na quadrilha pela distribuição de dinheiro dentro e fora do Brasil
(Jefferson Coppola/VEJA)

Há duas semanas, VEJA revelou em detalhes como funcionava a entrega de propina em domicílio, o já imortalizado “money delivery” do petrolão, um serviço inovador em matéria de corrupção criado pelo doleiro Alberto Youssef para agradar a “clientes especiais” da quadrilha que desviou bilhões da Petrobras. Rafael Ângulo Lopez, braço-direito do doleiro, era quem comandava esse setor.

Durante a última década, ele cruzou o país de norte a sul em voos comerciais com fortunas em cédulas escondidas sob as roupas que eram entregues aos figurões da República em hotéis, apartamentos, escritórios, estacionamentos, postos de gasolina e aeroportos. Rafael aprimorou o trabalho do clássico “homem da mala”.

Em vez de valise, ele cumpria suas missões mais delicadas com o corpo coberto por camadas de notas fixadas com fita adesiva e filme plástico, daquele usado para embalar alimentos. Ciente da influência e do prestígio dos destinatários de suas “encomendas”, Rafael registrou o dia, o local e o montante de cada entrega que realizou a políticos.

Um arquivo valioso que, para desespero dos corruptos, ele resolveu entregar à Justiça em troca de um acordo de delação premiada. Isso era o que se sabia até agora.

Detalhes inéditos do arquivo em poder da Polícia Federal mostram que, além de implantar a entrega de propina em domicílio em todo o território nacional, a quadrilha estendeu o serviço de remessas a outros países.

Destacado nos últimos anos para fazer a entrega de quantias que variavam de 50 000 a 900 000 reais a figuras importantes da República, como o ex-presidente e senador Fernando Collor, o tesoureiro nacional do PT, João Vaccari Neto, governadores (Roseana Sarney), ministros do governo Dilma Rousseff (Mário Negromonte) e deputados federais (Nelson Meurer, Luiz Argôlo e André Vargas), o “homem das boas notícias”, como o carregador de dinheiro era conhecido, também cumpria missões para as grandes empreiteiras do cartel da Petrobras.

Uma delas, a Construtora OAS, com 10 bilhões de reais em contratos com a estatal, usava os serviços de Rafael Ângulo para levar dinheiro sujo a pelo menos três destinos da América Latina, Panamá, Peru e Trinidad e Tobago, todos países onde a Petrobras e a OAS mantêm escritórios e negócios milionários com governos locais.

Com quantias que variavam de 300 000 a 500 000 reais presas ao próprio corpo, o braço-direito do doleiro deixava o Brasil pelo Aeroporto Internacional Tom Jobim, no Rio de Janeiro. A porta de saída do país era estratégica, porque lá ele contava com a cobertura de outro comparsa da quadrilha, o policial federal Jayme Alves de Oliveira Filho, o “Careca”, que, infiltrado no aeroporto, conseguia garantir a passagem tranquila de Rafael pela fiscalização.

Uma vez alojado na sala de embarque, Rafael Ângulo alternava as entregas em três principais destinos: Lima, Cidade do Panamá e Porto de Espanha. No arquivo em poder dos investigadores, o entregador de dinheiro narra em detalhes o roteiro de cada “serviço” internacional.

A missão começava no escritório central da OAS em São Paulo. A empreiteira tinha uma espécie de “conta-corrente” que era administrada pelo doleiro. Rafael retirava o dinheiro na sala do executivo José Ricardo Nogueira Breghirolli, preso e apontado como o elo financeiro entre a empreiteira e o esquema de corrupção que atuava na Petrobras.

Alojados em grandes sacolas pretas, os pacotes de cédulas, divididos — dependendo da ocasião — em euros, dólares e reais, eram levados do escritório da OAS para o escritório de Alberto Youssef, em São Paulo. Depois, com a passagem comprada e o dia da viagem definido, Rafael Ângulo viajava para o Rio de Janeiro, onde iniciava a parte mais arriscada do trabalho.

Em Lima, a capital do Peru, Rafael entregava o dinheiro ao gerente de contratos da OAS Alexandre Mendonça. O ponto de encontro era em uma universidade. O estilo reservado e a aparência europeia do carregador — um senhor de 61 anos com dupla nacionalidade, brasileira e espanhola — ajudavam Rafael a se passar por um provável acadêmico — ninguém desconfiaria de sua “bagagem cultural” no câmpus.

26.12.2014

quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Cidade americana de Providence entra com ação coletiva contra Petrobras e Graça Foster nos EUA



Capital de Rhode Island investiu em títulos da estatal e alega ter sido prejudicada por caso de corrupção

Por Rennan Setti
O Globo



Prédio da Petrobras na Av Chile, Centro do Rio de Janeiro
Pedro Kirilos / Agência O Globo/21-03-2014

RIO — Depois de investidores, agora é a vez de uma cidade processar a Petrobras nos Estados Unidos. Na véspera de Natal, a capital do estado de Rhode Island, Providence, entrou com uma ação coletiva contra a estatal, duas de suas subsidiárias internacionais e vários membros de sua diretoria, incluindo a presidente Maria das Graças Foster. A ação foi iniciada no Tribunal Distrital de Nova York com o argumento de que investidores adquiriram papéis da petrolífera com preços inflados porque a companhia firmou contratos superfaturados à base de propina.

O processo, de número 14 CV 10117, há a acusação de a Petrobras ter contabilizado as propinas reveladas na operação Lava-Jato como custos relacionadas à construção e instalação de sua infraestrutura e os registrou como parte do valor dos seus ativos. Diferentemente das outras ações coletivas impetradas contra a companhia nos EUA, no processo, Providence também quer ser ressarcida pelo prejuízo com os títulos de renda fixa lastreados em dívida da Petrobras.

Por isso o processo também acusa a Petrobras International Finance Company (PIFCo) e a Petrobras Global Finance B.V. (PGF), subsidiárias da estatal brasileira baseadas respectivamente em Luxemburgo e em Roterdã, na Holanda, envolvidas na emissão de títulos da empresa. A ação menciona, por exemplo, que PifCo vendeu US$ 7 bilhões em títulos em fevereiro de 2012 e que a PGF ofereceu US$ 19,5 bilhões em notas em maio de 2013 e em março de 2014. Ao todo, a petrolífera levantou US$ 98 bilhões no mercado internacional, acusa a cidade de Providence.

O tempo coberto pelo processo também é maior que o dos anteriores: entre 21 de novembro de 2014 e 22 de janeiro de 2010, em vez do 20 de maio estipulado nas outras ações. Além das subsidiárias e da presidente Graça Foster, são relacionados como réus na ação Almir Barbassa, diretor-financeiro, e José Raimundo Brandão Pereira, que ocupava a gerência executiva de marketing e comercialização da Petrobras até abril deste ano. Ao todo, a ação relaciona 13 pessoas e 15 instituições financeiras, como os gigantes Morgan Stanley, HSBC Securities, e o Itaú BBA nos EUA. Os bancos são citados como réu porque atuaram como garantidores dos valores mobiliários emitidos pela companhia.

A cidade de Providence alega gerenciar “centenas de milhões de dólares em ativos em nome de milhares de beneficiários associados com a cidade, incluindo funcionários públicos na ativa e aposentados, assim como seus dependentes.” A cidade queixosa alega que comprou títulos da Petrobras e foi prejudicada no período coberto pela ação coletiva.

“Antes e durante o período coberto por esta ação coletiva, a Petrobras empreendeu seu plano para aumentar sua capacidade de produção. Esses planos envolviam a aquisição e a construção de novas unidades e de ativos de produção petrolífera. Por exemplo, em 2006, a companhia comprou participação de 50% em uma refinaria em Pasadena, Texas, por US$ 360 milhões, com objetivo de dobrar a capacidade da refinaria, de 100 mil barris por dia. Em 2010, a Petrobras modificou o plano de construção do Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro (Comperj) — projeto originalmente lançado em 2004 para a construção de complexo de refinaria petroquímica com capacidade de processar 150 mil barris por dia, com custo de US$ 6,1 bilhões —, expandindo o custo total para estimados US$ 26,87 bilhões”, elencou o documento. “Os planos de expansão da Petrobras também exigiram investimentos substanciais de capital. Para satisfazer esse necessidade de capital, a Petrobras se submeteu a diversas ofertas de papéis, vendendo mais de US$ 98 bilhões em títulos registrados na NYSE, incluindo notas e American Depositary Shares (“ADSs”) representando ações ordinárias e preferenciais”

Segundo dados disponíveis no sistema de informações jurídicas Bloomberg Law, o processo foi iniciado no dia 24 de dezembro e a Petrobras ainda não foi notificada sobre ela. Com esse processo, já são pelo menos 11 ações coletivas contra a Petrobras nos EUA. A Justiça do país prevê que, posteriormente, esses processos similares serão unificados em apenas uma ação.



25/12/2014

A presidente tenta inventar o critério do prontuário para reduzir o índice de criminalidade no primeiro escalão

Por Augusto Nunes


Em nações adultas, ministros de Estado são escolhidos pelo currículo. No Brasil das molecagens bilionárias, algemado pelo primitivismo do PT, Dilma Rousseff resolveu basear-se no prontuário dos pretendentes para remontar o primeiro escalão. Anotações antigas não contam (da mesma forma que evidências veementes de inépcia). Como informou nesta terça-feira o site de VEJA, o único exame eliminatório se limita a avaliar os barulhos e estragos que podem ser causados pela incorporação à ficha policial de novas delinquências, principalmente se vinculadas ao oceano de bandalheiras envolvendo a Petrobras.

O deputado federal Henrique Alves, por exemplo, era um nome certo na lista dos novos ministros. Deixou de sê-lo pela certeza de que logo estará exposto na vitrine do Petrolão. Dilma insiste em manter nos cargos os pecadores de estimação que já estavam por perto quando o escândalo explodiu ─ teimosia que explica a sobrevivência de Graça Foster. Mas não quer ampliar a procissão de problemas com a nomeação de figuras que, antes da primeira linha do discurso de posse, estarão depondo no noticiário político-policial.

A desastrada tentativa de instituir o critério do prontuário assombrou um país que já não se espanta com nada. Não seria outra invencionice da oposição essa história de que a presidente pediu socorro ao procurador-geral para não elevar mais um pouco a taxa de criminalidade do Poder Executivo? Não seria outra molecagem da elite golpista espalhar que Rodrigo Janot rechaçara a maluquice tilegal? Como acreditar que o emissário designado pelo Planalto fora capaz de murmurar que, nesse caso, a chefe se contentaria com uma relação dos réus iminentes, desacompanhada dos delitos atribuídos a cada um?

Pois foi tudo verdade, confessou no começo da tarde José Eduardo Cardozo, ministro da Justiça e estafeta de Dilma. “Fiz ao Janot a ponderação de que gostaríamos de informações sobre nomes que comporiam a nossa equipe independentemente de qualquer detalhamento”, declamou ao som da lira do delírio. “Mas ele ponderou que não poderia fornecer qualquer tipo de informação a respeito da Operação Lava Jato uma vez que essa questão está sob segredo de Justiça”.

Quer dizer: o titular do Ministério ao qual está subordinada a Polícia Federal andou caçando informações que talvez reduzissem a multidão de colegas criminosos. E fez isso por determinação da presidente que, há poucos dias, teve outro chilique ao saber do conselho muito sensato que o procurador-geral lhe dera publicamente: demitir imediatamente a diretoria da estatal, começando pela amiga que chama de Graciosa.

Esse monumento ao surrealismo foi implodido pela mordacidade de Aécio Neves e pela franqueza de Joaquim Barbosa. “Antes de terceirizar a responsabilidade por seu ministério, Dilma deveria acatar o procurador e trocar já a chefia da Petrobras”, mirou na testa o presidente do PSDB. O relator do julgamento do mensalão usou o Twitter para pegar no fígado: “Que degradação institucional! Nossa presidente vai consultar órgão de persecução criminal antes de nomear um membro do seu governo!!!”.

O lote de novos ministros anunciado no começo da noite de terça avisou que ou Dilma não conseguiu saber o que andarem fazendo os convocados ou desistiu de fingir que agora aprecia ter ao lado gente honesta. A safra de espantos é tão diversificada e surpreendente que faltou espaço no noticiário para que fosse saudada com tambores e clarins a entrada em cena, no palco nacional, do promissor representante da segunda geração da família Barbalho: Hélder, filhote de Jader e Alcione.

O jovem pai-da-pátria ganhou o Ministério da Pesca e Aquicultura como prêmio de consolação pela derrota na disputa do governo do Pará. Já aprendeu muita coisa em casa. (O pai decerto lhe contou, por exemplo, como se faz tanto dinheiro com um ranário). Em Brasília, convivendo com um Gilberto Kassab ou um Cid Gomes, ouvindo com atenção os veteranos, o garotão logo estará pronto para demonstrar que até o mais desdenhado dos ministérios pode ser extraordinariamente lucrativo.

No Brasil, abstraída a população carcerária, a maior concentração de patifes por metro quadrado está alojada na Esplanada de Ministérios. Se quisesse mesmo combater a corrupção cinco estrelas, bastaria que Dilma reunisse o primeiro escalão, estendesse a convocação aos diretores das estatais e, já na abertura do congresso de ‘capivaras’, desse voz de prisão aos presentes.

No segundo seguinte, meio mundo estaria com os dois braços erguidos. O resto já teria saído em desabalada carreira.



24/12/2014

TCU apura se Petrobras aceitou ter prejuízo em acordo


Empresa é investigada por suposto favorecimento à companhia estatal boliviana. Manobra teria permitido repasse maior de dinheiro ao país vizinho


Veja.com
(Com Estadão Conteúdo)
Petrobras é investigada por ter aceitado tomar prejuízo em um contrato com a estatal boliviana YPFB
(Vanderlei Almeida/AFP)

O Ministério Público (MP) e o Tribunal de Contas da União (TCU) investigam a suspeita de que a Petrobras tenha aceitado tomar prejuízo em um contrato com a estatal boliviana YPFB. A manobra permitiria repasse maior de dinheiro ao país vizinho, governado por Evo Morales, um aliado ideológico do PT. O MP aponta o ex-presidente da estatal José Sergio Gabrielli como responsável por um possível dano ao erário federal causado pela decisão, mas quer que o TCU avalie se houve, de fato, prejuízo. O tribunal avaliará também quais as outras pessoas e instâncias da empresa responsáveis por aprovar um aditivo contratual que permitiu aos bolivianos diminuir o potencial calorífico mínimo do gás entregue diariamente pela YPFB à empresa brasileira.

A mudança foi feita em dezembro de 2009 em um contrato assinado entre Petrobrás e YPFB em agosto de 1996 para fornecimento de gás à estatal brasileira. O acordo original, relatou o procurador, estabelecia a compra de uma quantidade diária de gás com poder calorífico de 9.200 kilocalorias (kcal) por metro cúbico. Com a alteração, "sem explicação aparente", esse valor caiu para 8.200 kcal por metro cúbico.

Em outubro, esse mesmo contrato já havia chamado a atenção do MP por causa de outra modificação. Na ocasião, Oliveira pediu uma auditoria para apurar possível dano ao erário motivado pelo pagamento de 434 milhões de dólares extras pelo fornecimento de gás boliviano. O acréscimo foi justificado como "indenização" por componentes nobres misturados ao gás entregue à Petrobras pela correspondente boliviana. Agora, por causa do aditivo, o MP desconfia que pode ter havido um prejuízo ainda maior à estatal e ao país.

"É imperativo averiguar o fato de a repactuação estar fora das práticas da indústria do petróleo e de não gerar aparentemente nenhuma vantagem para a empresa brasileira", escreveu o procurador Júlio Marcelo de Oliveira, autor da representação entregue na sexta-feira. Procurada pela reportagem, a Petrobrás não se pronunciou sobre o caso

Em andamento - A apuração solicitada em outubro já começou e segue em andamento, informou a assessoria do TCU. Com a nova representação relacionada ao aditivo, essa investigação deve ter seu foco ampliado. A unidade do TCU responsável por conduzir a auditoria é a Secretaria de Controle Externo da Administração Indireta no Rio de Janeiro (SecexEstat), que produzirá um relatório a ser entregue ao relator, Vital do Rêgo, que sucedeu a José Jorge no TCU.

25.12.2014


Feliz Natal e um próspero Ano Novo!


Nas festas de fim de ano, pedimos ao Menino Jesus que os sonhos de um Brasil sem fome, sem corrupção, sem violência, concretizem o espírito da Noite de Natal!




Feliz Natal a todos!


terça-feira, 23 de dezembro de 2014

O natal para esses senhores será bem diferente


Como a proximidade das festas de fim de ano e o longo período de cárcere têm levado alguns executivos de empreiteiras a entrar em depressão. Quatro deles já admitem a delação premiada em troca da liberdade


Mário Simas Filho

IstoÉ


Há menos de um ano Eduardo Leite, vice-presidente da Camargo Corrêa, realizou o antigo desejo de comprar um apartamento na Vila Nova Conceição, um dos endereços mais sofisticados de São Paulo. Desde então, ele e a mulher vinham planejando inaugurar a nova residência na noite de Natal, quando o imóvel, avaliado em R$ 5,5 milhões, seria oficialmente apresentado a toda família. Ao longo de 2014 o apartamento veio sendo cuidadosamente decorado e a ideia era que a família se reunisse para celebrar o Natal e ao mesmo tempo promover uma espécie de comemoração ao sucesso obtido pelo jovem trainee que entrou na construtora em 1994 e se tornou o executivo titular de um dos mais cobiçados cargos numa das maiores empreiteiras do País. Na terça-feira 16, Leite soube oficialmente que as festas de fim de ano não serão como planejadas. Acusado de ser um dos corruptores no escândalo da Petrobras, ele passará as noites de Natal e de Réveillon sobre o colchonete instalado na fria cela de seis metros quadrados que divide com outros três presos pela Operação Lava Jato, na Superintendência da Polícia Federal em Curitiba (PR).

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RICARDO PESSOA (esquerda) - Diretor da UTC, tinha planos de passar o Réveillon em Nova York. Na carceragem da PF, segundo amigos, está “perto de explodir”

EDUARDO LEITE (centro) - Vice-presidente da Camargo Corrêa, queria aproveitar a noite de Natal para receber a família no novo apartamento. Com a permanência na cadeia tem dito aos outros presos que fará delação premiada

JOSÉ ADELMÁRIO PINHEIRO FILHO (direita) Presidente da OAS, planejava passar o Natal na Europa.

Deprimido, quase não fala com os colegas e pouco se alimentaA notícia de que estará confinado nas festas de fim de ano provocou uma enorme mudança no comportamento do executivo. Entre os 11 diretores de empreiteiras encarcerados desde 14 de novembro, Eduardo Leite era apontado como um dos mais refratários às delações premiadas propostas pelo Ministério Público Federal e mostrava-se otimista em relação aos recursos jurídicos que procuram libertá-los. “É evidente que a prisão funciona como uma forte pressão psicológica e muitos buscam a delação em troca de penas mais brandas”, disse um dos procuradores da Operação Lava-Jato na quinta-feira 18. “Até a semana passada Eduardo Leite era um dos que mais animavam os colegas de cadeia a resistirem às propostas de acordo”, completou o procurador. Mas, segundo advogados ouvidos por ISTOÉ, nos últimos dias o executivo vem insistindo na tese de que o melhor seria aderir à delação premiada desde que lhe seja assegurada a liberdade. Na última semana, Leite permaneceu mais calado do que de costume e a outros presos disse que está muito perto de “dar a mão à palmatória”. “Está muito difícil para ele enfrentar essa situação e a cada dia o vejo mais deprimido”, disse um dos advogados que visitaram os empresários. Leite é hipertenso e no início do mês chegou a apresentar dois picos de pressão. Desde então ele mantém, ao lado do beliche onde dorme, um aparelho com o qual monitora a pressão pelo menos duas vezes ao dia. De acordo com o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, Leite teria sido beneficiado com cerca de R$ 20 milhões provenientes de obras superfaturadas.

A prisão funciona como uma forte pressão psicológica e muitos buscam a delação em troca de penas mais brandas
Com a proximidade das festas de fim de ano a vida fica mais difícil para os diretores e executivos das maiores empreiteiras do País. Até o início da semana passada, apesar do sofrimento provocado por um mês de confinamento, havia entre eles um certo otimismo com a possibilidade de obterem algum benefício jurídico. Na terça-feira 17, dois advogados disseram a seus clientes que dificilmente será concedida a liberdade.

A informação transmitida aos presos foi a de que a Justiça só deverá se manifestar, sobre os recursos que procuram tirá-los da carceragem, em fevereiro. “Recebi recados dos tribunais superiores dizendo que nada mudará até o fim do recesso judicial”, disse à ISTOÉ na quinta-feira 18 um dos advogados que atuam a favor dos empreiteiros. Entre os delegados e procuradores da Operação Lava Jato, a avaliação é a de que a manutenção das prisões nesse período de festas possa provocar uma avalanche de delações premiadas logo no início de 2015. ISTOÉ apurou que se depender do estado psicológico dos presos é possível que novas denúncias surjam antes mesmo da virada do ano.

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Os 11 empresários ainda encarcerados dividem três celas de seis metros quadrados. Eles não têm banheiro privativo, televisão nem geladeira. Em cada cela há um beliche de alvenaria e colchonetes são colocados no chão para que todos possam dormir. É nesse ambiente, onde os únicos “luxos” são algumas garrafas de água mineral Evian, poucas barras de chocolate importado levadas por advogados e pacotes de biscoitos, que além de Eduardo Leite outros três presos manifestaram nos últimos dias o desejo de contar tudo o que sabem. Uma situação vista com otimismo pelos procuradores e delegados e com preocupação pelos advogados das empreiteiras.


O presidente da OAS, José Aldemário Pinheiro Filho, conhecido como Léo Pinheiro, tem deixado os colegas da empresa bastante tensos. Acostumado a viver em um apartamento de 400 metros quadrados com cinco vagas de garagem no Alto de Pinheiros – ao lado de um dos principais parques de São Paulo – desde que foi preso em 14 de novembro ele vem insistindo com os advogados em aceitar a delação premiada. No início de dezembro começou a apresentar sinais de depressão. Na última semana, em pelo menos duas ocasiões deixou de sair da cela para tomar sol e pouco tem falado com os demais presos, inclusive com os três companheiros de empresa também encarcerados. “Me disseram que ele tem chorado muito, quase não conversa e pouco se alimenta”, afirmou à ISTOÉ um advogado com acesso aos presos.


O estado psicológico de Léo Pinheiro se agravou depois que o ministro Teori Zavascki, do Supremo Tribunal Federal, negou habeas corpus a seu favor, na sexta-feira 12. Outros presos disseram a seus advogados que durante a semana passada Léo Pinheiro nem sequer deixou a cela para conversar no “lounge”, um espaço com cerca de 14 metros quadrados que os próprios presos organizaram com colchonetes e lençóis onde costumam passar o tempo conversando e lendo.
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VISITAS
Advogados e familiares chegam à Superintendência da PF em Curitiba para conversar com os empresários.
Os diálogos são restritos e feitos em um parlatório

Denunciado pela prática dos crimes de lavagem de dinheiro, fraude em licitações e corrupção ativa, o presidente da OAS planejava inicialmente passar as festas de fim de ano na Europa. Quando veio a prisão chegou a comentar com parentes e advogados que certamente não poderia deixar o País e que passaria as festas em sua casa de quatro dormitórios, localizada em um condomínio de luxo em Maresias, no litoral norte de São Paulo. Jamais imaginou que passaria Natal e Réveillon calçando um chinelo de dedos e comendo marmitex. “Ele já estava bastante abalado e queria contar tudo o que sabe. Agora está muito pior”, disse o parente de um dos presos que esteve na Superintendência da PF de Curitiba na semana passada. Delegados e procuradores da Operação Lava Jato ouvidos por ISTOÉ na quinta-feira 18 avaliam que, caso Léo Pinheiro resolva trilhar o caminho da delação premiada, as investigações poderão avançar para além dos limites da Petrobras e chegar aos principais fundos de pensão do Brasil.

Advogados avaliam que só em fevereiro, depois do recesso judicial, alguns recursos poderão ser julgados


Ao contrário dos presos que costumam frequentar o sistema penitenciário nacional, os executivos e diretores das principais empreiteiras do Brasil que estão encarcerados na PF de Curitiba não precisam usar uniformes. Mas não podem usar cintos nem cadarço nos sapatos. Anéis e relógios caríssimos tiveram de ser deixados com os carcereiros e as conversas com as visitas que recebem semanalmente só podem ser feitas no mesmo parlatório onde recebem as orientações dos advogados. Durante o dia, eles podem se deslocar ao pátio externo em duas turmas distintas. Uma entre as 8h e as 10h e, a outra, entre 10h e meio-dia. Podem, porém, circular livremente entre as celas e a pequena área que chamam de lounge. Nas duas últimas semanas, no entanto, o vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Mendes, raramente tem sido visto nas áreas comuns da carceragem, segundos advogados ouvidos por ISTOÉ.

De acordo com o relato feito por alguns presos a seus familiares, Sérgio Mendes tem se isolado dos demais e com frequência tem sido flagrado chorando em um canto de sua cela. “Hoje, ele (Sérgio Mendes) é um homem completamente diferente daquele que chegou em novembro. Nos primeiros dias de prisão, Sérgio Mendes passou uma imagem de arrogante”, lembra um dos advogados dos empreiteiros. “Chegou a Curitiba em um jatinho particular e parecia ter a convicção de que seria libertado em poucos dias.” Depois de uma semana preso, Sérgio Mendes passou a cogitar aderir à delação premiada, mas foi convencido por advogados a prestar um depoimento colocando-se como vítima de extorsão de políticos e ex-diretores da Petrobras. Admitiu ter pago R$ 8 milhões ao doleiro Alberto Youssef e afirmou que o ex-diretor da estatal Paulo Roberto Costa teria ameaçado cortar os pagamentos devidos à Mendes Júnior caso a propina não fosse paga.

Logo depois de prestar o depoimento, pediu à Justiça que fosse revista sua prisão. Mas em 1º de dezembro o juiz Sérgio Moro negou seu pedido. “Desde que percebeu o fracasso da estratégia de defesa, Sérgio Mendes vem se deprimindo a cada dia”, afirma um advogado. “Ele cogitou várias vezes estar sendo pressionado pela família a fazer a delação premiada e já pediu a amigos para procurarem um especialista para tratar dessa questão”, concluiu o advogado.
Apontado como o líder do clube dos empreiteiros, o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, é um dos mais abalados emocionalmente. Como não pode fumar nas dependências da Superintendência da PF, ele tem aumentado a cada dia a carga de adesivos usados para tentar substituir a nicotina. Baiano e tido como falastrão, até ser preso Pessoa planejava passar Natal e Réveillon em Nova York. Ele costumava comentar com amigos suas façanhas financeiras.

O executivo assumiu o comando da empresa em 1997 e logo mudou-se para São Paulo onde passou a residir em uma cobertura com 600 metros quadrados nos Jardins. Em abril, um mês depois de deflagrada a Operação Lava Jato, Pessoa investiu R$ 1,5 milhão na compra de dois imóveis comerciais. Na cadeia, segundo advogados e membros da Lava-Jato, o diretor da UTC foi um dos primeiros a sinalizar com a possibilidade de um acordo em troca da liberdade.

Na sexta-feira 19, havia boatos de que tanto ele quanto Léo Pinheiro haviam acertado os termos da delação. Advogados ouvidos por ISTOÉ não confirmaram a informação, mas nos depoimentos que Pessoa prestou à Polícia Federal ele envolveu os nomes de líderes da oposição nos escândalos investigados e admitiu a formação de cartel para lesar os cofres da maior estatal do País. Duas das exigências defendidas pelo procurador-geral da República para a delação premiada.
Assim como aconteceu com seus colegas de cadeia, Pessoa vem se mostrando extremamente depressivo desde que o ministro Teori Zavascki negou o habeas-corpus. “O Ricardo (Pessoa) está a ponto de explodir. Ele não fala mais com ninguém, chora em todos os cantos e passa boa parte das noites sem conseguir dormir”, revelou a um advogado um dos presos que divide a cela com o diretor da UTC. Se depender das decisões que veem sendo tomadas pela Justiça até agora, não há por que os executivos e diretores de empreiteiras fazerem qualquer plano de liberdade antes do Carnaval.

Foto: Zenone Fraissat/Folhapress

23.Dez.14

segunda-feira, 22 de dezembro de 2014

Mantega é expulso de bar paulistano sob xingamentos de brasileiros cansados da crise e da roubalheira





 Por admin ucho.info

Endereço errado – Demitido por antecipação e ainda no exercício do cargo, o que configura situação ridícula e vexatória, o petista Guido Mantega começa a colher os frutos ácidos da lambança que protagonizou como ministro da Fazenda nos quatro anos, período em que tentou emplacar, sem sucesso, pelo menos duas dúzias de medidas de estímulo à economia.

No último sábado (20), como se fosse uma celebridade, Mantega resolveu molhar as cordas vocais em um dos badalados bares da cidade de São Paulo, o Astor, localizado no bairro boêmio de Vila Madalena. Carregando no rosto aquele conhecido sorriso de mordomo de sacristia, o ainda ministro adentrou ao bar e se deparou com inesperado e ruidoso aplauso dos frequentadores do local.

Certo de que a calorosa recepção era verdadeira, Mantega, que estava acompanhado e uma mulher, apertou o passo e esperava pelos cumprimentos, o que não aconteceu. Repentinamente, o petista tornou-se alvo de ofensas, como “explica aquele dinheiro que vocês fizeram sumir”, clara referência ao Petrolão, o maior escândalo de corrupção da história brasileira. Guido Mantega tentou se justificar, mas o clima esquentou e a situação ficou pior. O ministro foi chamado de “chefe de quadrilha”.

O concorrido bar da Pauliceia Desvairada estava lotado e, coincidentemente, contava com algumas pessoas que tiveram Guido Mantega como professor, mas a pressão foi muito maior do que imaginava o petista. O clima ficou insustentável e Mantega, sem saber o que fazer, deixou o local debaixo de mais ofensas e xingamentos, como “vai embora seu ladrão, filho da p…”.

Responsável, juntamente com a presidente Dilma Rousseff, por ter levado a economia brasileira à beira do despenhadeiro da crise, Mantega experimentou o que pode ocorrer com muitos dos integrantes do governo mais corrupto da história nacional: a hostilidade de uma população cansada de tanta roubalheira. Ao longo dos últimos quatro anos, Guido Mantega, que há muito já era alvo de piadas no mercado financeiro, caiu em descrédito ainda maior por conta das estabanadas previsões sobre o crescimento do Produto Interno Bruto, o agora minúsculo PIB.

A recepção nada simpática que obrigou Mantega a deixar o bar Astor mostra, de forma inequívoca, que os brasileiros começaram a sentir no bolso os efeitos da desenfreada corrupção que tomou conta do País com a explícita anuência de um partido que se assemelha a uma organização criminosa, como acertadamente têm afirmado os partidos de oposição. A exemplo do que tem noticiado o UCHO.INFO, a Operação Lava-Jato, da Polícia Federal, que desbaratou o carrossel de corrupção que funcionava na Petrobras, está em seus primeiros capítulos e a reação da sociedade deve piorar com o avanço das investigações.

Para quem estava acostumado a reunir-se com banqueiros ao redor de mesas fartas de caros e elegantes restaurantes paulistanos, Mantega percebeu na Vila Madalena que seu período de estrelato terminou muito antes do que imaginava. Se o que aconteceu no Astor tomar conta do País, o governo de Dilma Rousseff não dura muito tempo.


22/12/2014

Se Dilma tiver ao menos 5% de sua grande cabeça ocupada pelo juízo, Graça Foster sai agora. Ou: O Falcão expõe as garras nos Estados




Por Reinaldo Azevedo

É detestável que a Petrobras me obrigue a interromper aquele que é, a rigor, meu primeiro dia de férias. E por quê? Porque entregaram a empresa a uma quadrilha, e essa quadrilha, por sua vez, era a operadora de um projeto de poder que tem como protagonista um partido político. Já chego lá.


Estava viajando quando o Fantástico foi ao ar. Na noite deste domingo. Assisti à entrevista de Venina Velosa da Fonseca, a executiva da estatal que botou a boca no trombone, na reapresentação do programa, na GloboNews. Se Dilma tiver ao menos 5% de sua avantajada cabeça tomada pelo juízo, Graça Foster amanhece ex-presidente da Petrobras nesta terça. Aliás, a própria Graça poderia fazer um favor à sua amiga e cair fora.

Não resta dúvida: Venina advertiu, sim, Graça para uma série de desmandos na Petrobras. Também José Carlos Cosenza, atual diretor de Abastecimento e sucessor de Paulo Roberto Costa, tomou conhecimento das denúncias. Sérgio Gabrielli, ex-presidente da empresa, idem. Os e-mails são evidentes. Se Venina só veio ou não a público em razão de algum ressentimento, isso é irrelevante.

Ela reafirmou todas as suas denúncias na entrevista ao Fantástico, deixou claro que a diretoria sabia de tudo e disse ter fornecido documentos ao Ministério Público Federal. Dilma confia em Graça? Pior para o país. Venina está determinada e parece disposta, se preciso, a enfrentar a presidente da Petrobras cara a cara. Aliás, o comando da emprsa insiste em desqualificar aquela que, até outro dia, era considerada tão competente que até mereceu um alto cargo em Cingapura.

E que se note: o caso de Venina é muito diferente do de seu ex-chefe Paulo Roberto. Ela não é investigada em nada. Contar o que sabe não lhe traz vantagem nenhuma – a rigor, só lhe causa prejuízo. Mesmo assim, sem contar com nenhum benefício futuro, como Paulo Roberto ou Alberto Youssef, decidiu dizer o que sabe.

Venina reafirmou que, ao confrontar Paulo Roberto sobre superfaturamento, este teria apontado para o retrato de Lula, então presidente da República, e para a sala de Gabrielli, indagando: “Você quer derrubar todo mundo?” .É evidente que, ao dizê-lo, o então diretor de Abastecimento sugeria que Lula sabia de tudo.

Não, ouvintes, eu não vou abandonar a minha tese! A Petrobras não é exceção, mas regra. O que se viu na estatal se repete em toda parte. É um método. E quem o comprova é Rui Falcão, presidente do PT.

Neste domingo, no Estadão, Falcão confessa que o partido está mapeando os cargos do governo federal nos Estados para fazer o que ele chama de “recall”. Nas suas palavras: “Estamos fazendo um mapa dos cargos federais nos Estados para saber quem é quem, quem indicou, qual a avaliação que a gente tem disso, e fazer uma proposta (de nomes à presidente”.

É claro que ele deveria ter vergonha de dizer essas coisas, mas ele não tem. É que o PT pode perder alguns cargos na Esplanada dos Ministérios, e os companheiros já estão pensando uma forma de compensação.

Um desastre como o que está em curso na Petrobras é parte de um modo de entender a coisa pública.

Será que o Projeto Reinaldo Ensolarado começa nesta segunda? No país em que a política é caso de polícia, nunca se sabe.


22/12/2014


Ex-gerente diz que alertou Graça Foster pessoalmente sobre irregularidades


Em entrevista ao Fantástico, Venina diz que não vai parar com denúncias e faz apelo emocionado para que outros funcionários também relatem corrupção na Petrobras

Ex-gerente da Petrobras diz ter alertado Graça Foster pessoalmente

Venina afirma ter denunciado irregularidades em contratos desde 2008.

Em entrevista ao Fantástico, ela fez apelo para funcionários denunciarem.

Do G1, com informações do Fantástico

Ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca falou ao Fantástico
 (Foto: Reprodução/ TV Globo)

A ex-gerente da Petrobras Venina Velosa da Fonseca diz que informou pessoalmente à presidente da empresa, Graça Foster, sobre irregularidades em contratos de diversos setores da companhia. Em entrevista exclusiva ao Fantástico, exibida na noite desde domingo (21), Venina contou que “percebeu que havia irregularidades” em 2008 e que, desde então, reportou problemas aos superiores, entre eles o gerente-executivo, diretores e a atual presidente. (volte a este texto daqui a pouco para ver o vídeo com a íntegra da entrevista)

A documentação com as denúncias da gerente, que está afastada, foi entregue ao Ministério Público, que investiga o escândalo de corrupção na Petrobras e que resultou na Operação Lava a Jato.

A ex-gerente diz que "vai até o fim" nas denúncias e que outros funcionários da empresa têm conhecimento das irregularidades. Ela fez ainda um apelo para que outros colegas sigam seu exemplo e também denunciem o que sabem sobre o esquema de corrupção na estatal..

Venina relata que as irregularidades na área de comunicação eram de conhecimento da então diretoria e que pagamentos por serviços não-prestados, contratos aparentemente superfaturados e negociações em que eram solicitadas comissões para as pessoas envolvidas eram formas de realizar o desvio. Segundo Venina, havia o "esquartejamento" de projetos para dificultar a fiscalização.

'Estive com Graça Foster'

"Num primeiro momento, em 2008, como gerente-executiva, eu informei ao então diretor Paulo Roberto Costa, informei a outros diretores como a Graça Foster, e em outro momento, como gerente-geral, eu informei aos meus gerentes-executivos, José Raimundo Brandão Pereira e o Abílio [Paulo Pinheiro Ramos], que era meu atual gerente-executivo. Informei ao diretor [José Carlos] Cosenza (...) Informei ao presidente [José Sérgio] Gabrielli. Informei a todas a pessoas que eu achava que podiam fazer alguma coisa para combater aquele processo que estava se instalando dentro da empresa", afirmou.

Na época, Graça Foster, atual presidente da companhia, era diretora de gás e energia. Ela assumiu o atual cargo em fevereiro de 2012.

"Eu estive com a presidente [Graça Foster] pessoalmente quando ela era diretora de Gás e Energia. Naquele momento, nós discutimos o assunto. Foi passado uma documentação pra ela sobre processo de denúncia na area de comunicação. Depois disso, a gente (...) Ela teve acesso a essas irregularidades nas reuniões da diretoria-executiva. ", declarou Venina Velosa.

Paulo Roberto Costa, que chefiou a diretoria de Abastecimento de 2004 a 2012, assinou um acordo de delação premiada para contar o que sabe em troca de uma possível redução de pena. Atualmente, cumpre prisão domiciliar.

Encontro com Paulo Roberto Costa

Venina lembra que, ao relatar o problema ao atuar delator do esquema, Paulo Roberto Costa, foi acusada de “querer derrubar o governo”.

“Esse evento aconteceu quando eu fui apresentar o problema que ocorreu na área de comunicação, que eu cheguei na sala dele e falei, olha aqui tem só amostra do que tá acontecendo na área. Eram vários contratos de pequenos serviços onde nos não tínhamos conhecimento do tipo de serviço. Mas mostrava esquartejamento do contrato. Aí naquele momento, eu falei: eu nunca soube, tô sabendo isso agora e acho que é muito sério e temos que tomar atitude. Aí ele pediu que eu procurasse gerente responsável e pedisse pra que ele parasse”, relembra ela.

“Ai eu falei: ele já fez, não tem como eu chegar agora e falar vamos esquecer o que aconteceu e vamos trabalhar diferente. Existe um fato concreto que tinha que ser apurado e investigado. Ai nesse momento ele ficou muito irritado. A gente tava sentado na mesa da sala dele, ele apontou pro retrato do Lula, apontou pra direção da sala do Gabrielli e perguntou: você quer derrubar todo mundo? Ai eu fiquei assustada e disse: olha eu tenho duas filhas, eu tenho que colocar cabeça na cama e dormir e no outro dia eu tenho que olhar nos olhos dela e não sentir vergonha”.


Favorecimento do ex-marido


Venina rebateu uma denúncia de que teria beneficiado o ex-marido com um contrato feito na empresa. Ela relata que os contratos do ex-marido com a estatal eram de 2004 e de 2006 e que a condição que apresentou para assumir o relacionamento, em 2007, foi que o contrato fosse descontinuado.

"Foi anterior ao casamento e, no momento que a gente assumiu a relação, a condição foi: vamos interromper porque tem condições de ética dentro da Petrobras e minha que eu não posso continuar. E isso foi com parecer jurídico", afirma.

Convocação a demais funcionários

Venina lembra que, durante todo o processo da comunicação das irregularidades, foi assediada" e “pressionada” por assistentes da diretoria e da presidência que falavam: "tem muita gente envolvida, você não pode tratar essa questão dessa forma”. Em seguida, recebeu ameaças por telefone. Ela também nega ter participado de “esquemas” na estatal.

“Eu vou até o fim, sim. Eu não posso falar que eu não tenho, porque no momento que você denuncia, ao invés de você ver respostas pras denúncias, você vê simplesmente a empresa tentando o tempo todo falar: você não é competente, você fez um monte de coisa errada, o tempo todo as pessoas tendo que responder, mostrando documentos, que aquilo não é verdade. É uma máquina que passa por cima da gente”, diz.

Venina convoca também os funcionários da Petrobras a terem a mesma atitude. “Eu tenho medo? Eu tenho. Mas eu não vou parar. Eu espero que os empregados da Petrobras, porque eu tenho certeza que não foi só eu que presenciei, eu espero que os empregados da Petrobras criem coragem e comecem a reagir. Nós temos que fazer isso para poder realmente fazer a nossa empresa ser de volta o que era. A gente tem que ter orgulho, os brasileiros têm que sentir orgulho dessa empresa. Eu vou até o fim e estou convidando vocês pra virem também”.

Petrobras diz que tomou todas as providências

A Petrobras voltou a declarar que tomou todas as providências para elucidar os fatos citados por Venina e que não procede a informação de que não houve apuração das irregularidades apontadas - porque todas foram encaminhadas às autoridades competentes.

A empresa também repetiu que, possivelmente, a funcionária trouxe a público as denúncias porque foi responsabilizada por uma comissão interna. A Petrobras afirmou que Graça Foster só foi informada por email.

O ex-presidente da Petrobras, Sergio Gabrielli, afirmou que nunca foi informado diretamente por Venina sobre a existência de corrupção na empresa.

A defesa de Paulo Roberto Costa declarou que praticamente todos os aspectos investigados pelo Ministério Público foram tratados na delação premiada e que não há como comentar incidentes específicos.

Procurada, a assessoria do ex-presidente Lula não se pronunciou. Os demais envolvidos não foram encontrados.

E em entrevista publicada neste domingo por jornais da América Latina, a presidente Dilma Rousseff afirmou que o Brasil não vive crise de corrupção.

Entenda as denúncias de Venina
Há nove dias, uma reportagem do jornal "Valor Econômico" mostrou que a ex-gerente alertou diversas vezes sobre a ocorrência de irregularidades em contratos da Petrobras antes mesmo de a Polícia Federal (PF) deflagrar em março a Operação Lava Jato. Antiga subordinada do ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, ela foi transferida para a Ásia após denunciar o esquema de corrupção e, posteriormente, foi afastada.

O jornal relatou que, apesar das advertências, a direção da empresa não agiu para conter os desvios bilionários e ainda destituiu de seus cargos os executivos que tentaram barrar o esquema de corrupção.

A Petrobras afirmou, na terça-feira (16), que a ex-gerente só enviou em novembro deste ano, à presidente da estatal, Maria das Graças Foster, e-mail alertando sobre irregularidades na refinaria de Abreu e Lima, em Pernambuco, e nas áreas de Comunicação do Abastecimento e à área de comercialização de combustível de navio (bunker).

"Os temas supracitados foram apenas levados ao conhecimento da Presidente através de email recente, de 20/11/2014, quando a empregada já havia sido destituída de sua função gerencial. Nesta data, as irregularidades na Comunicação do Abastecimento e na RNEST já haviam sido objeto de averiguação em Comissões Internas de Apuração, bem como as irregularidades da área de comercialização de combustível de navio (bunker) em Grupos de Trabalho", diz a Petrobras em nota.

Ainda segundo a estatal, Graça Foster respondeu a Venina no dia seguinte, "informando que estava encaminhando o assunto ao Diretor José Carlos Cosenza e ao Jurídico da Petrobras para averiguação e adoção das medidas cabíveis".




21/12/2014