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sexta-feira, 15 de março de 2013

Papa Francisco decreta o fim da política na Igreja.

Papa diz que Igreja não é "uma ONG beneficente"


Lugar de padre não é incitando violência, invasões, luta de classes. Lugar de padre é evangelizando. Igreja não é governo.

Folha Poder
No primeiro dia em que acordou como papa, Francisco mandou ontem diversas mensagens de que adotará um novo estilo de comando na Igreja Católica.Com gestos simbólicos, ele sinalizou novos tempos de austeridade e de humildade diante dos fiéis. E na primeira mensagem pastoral, defendeu que a igreja volte aos Evangelhos para não se reduzir a uma ONG beneficente.

O novo papa rezou uma missa aos cardeais que o elegeram na Capela Sistina, com transmissão ao vivo pela TV. No cenário do conclave, defendeu que o catolicismo "caminhe" e seja "edificado" sobre bases sólidas. "A nossa vida é um caminho. Quando paramos, alguma coisa está errada", disse Francisco, escolhido para liderar um rebanho de 1,2 bilhão de fiéis num momento de crise na igreja.O argentino fez um chamado pela colaboração dos cardeais e estabeleceu uma espécie de lema para a Santa Sé em seu pontificado: caminhar, construir e difundir a palavra de Jesus.

"Nós podemos caminhar o quanto quisermos, podemos construir muitas coisas, mas se não confessarmos [professarmos] Jesus Cristo, a coisa não anda. Nos tornaremos uma ONG beneficente, mas não a igreja", afirmou. Ao reforçar o apelo à religiosidade, o novo papa citou uma frase dura do escritor francês Léon Bloy (1846-1917): "Quem não reza ao Senhor reza ao diabo". "Quando não se confessa Jesus Cristo, se confessa o mundanismo do diabo, do demônio", disse Francisco.

Em seguida, ele afirmou que não adianta ocupar altos cargos na hierarquia da igreja caso se vire as costas à cruz. A mensagem foi recebida como um aviso de que os religiosos devem zelar pela coerência entre o que pregam e o que fazem na vida diária. "Quando caminhamos sem a cruz, construímos sem a cruz e confessamos um Cristo sem a cruz, não somos discípulos do Senhor. Somos mundanos, somos bispos, padres, cardeais, papas, mas não discípulos do Senhor", disse, após instar os cardeais a "viver com a irrepreensibilidade que Deus pediu a Abraão".

A mudança de estilo começou a ser notada pouco depois da eleição secreta, dentro do Vaticano.
Assim que o conclave terminou, ele surpreendeu os cardeais ao permanecer de pé para receber os cumprimentos, em vez de se sentar no trono de pontífice. Na saída, recusou a limusine e voltou no ônibus que havia levado os eleitores à Capela Sistina.

Mais tarde, na janela da Basílica de São Pedro, Francisco apareceu para o povo com uma veste branca simples e sem a capa vermelha e a estola dos papas. Também trocou o crucifixo de ouro, símbolo da opulência da igreja, pela cruz de prata que já usava nos tempos de bispo. Ao saudar os fiéis como bispo de Roma, pediu que rezassem por ele antes de conceder a bênção apostólica.

De volta à roda dos cardeais, Francisco foi homenageado com um jantar e brincou com os colegas colegas, após o brinde: "Deus os perdoe pelo que vocês fizeram", disse, em tom bem-humorado. Ontem, o papa chamou a atenção por quebrar o protocolo. De manhã, foi à Basílica de Santa Maria Maior sem carro oficial e fez uma visita surpresa ao hotel religioso onde ficou hospedado antes do conclave. Buscou suas malas, saudou os funcionários e fez questão de pagar a conta.
15 de março de 2013

Enquanto partidos da base cobram cargos nas agências reguladoras, Dilma congela indicações


Regulando o apetite dos aliados: partidos da base se preparam para mostrar as garras e brigar por outros espaços


Chico de Gois
Maria Lima

Presidente da República, Dilma Rousseff
Agência O Globo / Gustavo Miranda



BRASÍLIA — Com a reforma ministerial praticamente fechada, partidos da base do governo se preparam para mostrar as garras e brigar por outros espaços, sobretudo nas agências reguladoras. Com o mapa da mina na mão, os aliados já identificaram pelo menos 21 cargos que já estão vagos ou assim ficarão até o final do ano. Mas a presidente, que tem uma predileção por indicações técnicas em detrimento das puramente políticas, tem retardado a escolha de integrantes dessas agências.

Dos 46 cargos disponíveis em dez agências, há cinco diretorias vagas; seis estão ocupadas por diretores interinos — alguns há quase um ano — e dez têm mandatos que vencem até o final de 2013. Ou seja: 45% dos cargos estão passíveis de indicações, o que só aguça os interesses partidários, sobretudo daqueles que não terão o espaço desejado no primeiro escalão do governo.


O PMDB, por exemplo, quer indicar o substituto de Nelson Hubner, que deixou nesta semana a diretoria-geral da Agência Nacional de Energia Elétrica (Aneel). A intenção do partido é ampliar seu controle sobre o setor energético, que tem obras milionárias sendo tocadas — os peemedebistas já ocupam o Ministério de Minas e Energia, com Edison Lobão (MA), e estão no comando de algumas centrais elétricas.

O PT está de olho na Agência Nacional de Transportes Aquaviários (Antaq), interessado num cargo que deverá ficar vago no mês que vem, ocupado interinamente pelo ex-ministro dos Portos, o cearense Pedro Brito, ligado aos irmãos Cid e Ciro Gomes, do PSB.

Um dos líderes da base no Senado conta que, desde que a presidente sofreu derrota imposta pelos senadores, com a rejeição ano passado de Bernardo Figueiredo para diretoria da Agência Nacional de Transportes Terrestres (ANTT), ela ficou com raiva. A partir de então, ao invés de indicar nomes para serem sabatinados e aprovados, resolveu pôr em postos-chave das agências funcionários sem mandato e sem delegação para assinar e despachar como diretores.

Esse líder contabiliza 16 vagas em aberto e lembra que, nos últimos meses, a presidente só enviou dois nomes, indicados pelo PT, para serem sabatinados: Ivo Bucareste, para a Agência de Vigilância Sanitária (Anvisa), e Leandro Reis para a Agência Nacional de Saúde Suplementar (ANS). Nomes ainda não apreciados pelos senadores, que estão fazendo “corpo mole”. A prática atual da presidente tem irritado os aliados, alerta o líder, preferindo ficar no anonimato:

— Tem agências funcionando com apenas dois diretores, resolvendo tudo de saúde pública e resolvendo que remédio entra ou não no Brasil. Só tem uma agência completa, a Aneel, o resto está nessa situação. Tem funcionário há mais de nove meses respondendo e assinado como diretor, sem o aval do Senado — disse o aliado, ressaltando: — Isso é ilegal. Dirigentes de agências têm que ser sabatinados e aprovados pelo Senado. Mas isso é muito cômodo para a presidente Dilma. As agências viraram secretarias pessoais da presidente. Ficou confortável para ela, que ficou zangada com a derrota de Bernardo Figueiredo. Agora, ela não precisa do Congresso.

Ao mesmo tempo em que ignora, pelo menos por enquanto, os desejos dos políticos nessa área, a presidente tenta mudar o perfil das agências. Irritada com o que considera ineficiência das agências, Dilma pretende dar-lhes mais poder, mas, também, cobrar resultados e estabelecer metas que beneficiem a população e não as empresas prestadoras de serviço. Essa determinação de Dilma já foi seguida no caso das empresas de telefonia, que foram multadas, proibidas de vender novas assinaturas por alguns dias até que apresentassem planos mais consistentes e reais de investimentos e melhorias.

Nesse sentido — de fortalecer as agências, mas exigir delas a contrapartida em benefício do consumidor —, a chefe da Casa Civil, Gleisi Hoffmann, confirmou nesta quinta-feira que foi por determinação da presidente que o governo pediu para retirar da pauta do Congresso o projeto de lei 3.337/2004, enviado pelo ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Esse projeto tinha objetivo contrário à nova visão do governo: pretendia, entre outras coisas, tirar das agências e transferir aos ministérios a decisão sobre outorga de serviços, o poder de autorizar concessões.

— A mensagem que a presidente enviou para retirar o projeto deixa claro que ela quer fortalecer o papel das agências e fixar metas para elas — disse Gleisi, nesta quinta-feira.

Projeto fortalece papel do senado

O líder do PSDB na Câmara, Carlos Sampaio (SP), cobrou do governo o envio de um outro projeto, que restabeleça, em sua opinião, a importância e autonomia das agências — elas foram criadas no governo do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.

— Esperamos que o governo envie um projeto de lei de melhor qualidade e que haja ampla discussão no Congresso, dada a importância das agências. É o mínimo que esperamos. Nesses dez anos de gestão petista, essas agências foram desvirtuadas — afirmou o tucano.

Apesar de não concordar com os adjetivos da oposição, os petistas também defendem um novo papel para as agências. O senador Walter Pinheiro (PT-BA), por exemplo, é autor de uma proposta de emenda constitucional (PEC), que deverá ser votada na semana que vem no plenário do Senado. Essa PEC dá aos senadores poderes para convocar os dirigentes das agências para prestar contas de sua gestão uma vez por ano. Está em discussão, inclusive, uma emenda para incluir o chamado “voto de destituição” — hoje, depois de aprovados pelo Senado, os dirigentes ficam praticamente imunes durante os quatro anos de mandato.

— Hoje, a gente pode convocar ministro e não pode convocar dirigentes de agências reguladoras para prestar contas. A presidente Dilma sequer pode demitir imediatamente os irmãos Paulo e Rubens Vieira, da ANA (agência de Águas) e Anac (Aviação Civil), flagrados em desvio de conduta. Essa PEC vai permitir que o Senado possa exercer seu papel fiscalizador, de acompanhar a atuação desses dirigentes em defesa da população — justificou Walter Pinheiro.

O senador Jorge Viana (PT-AC), vice-presidente do Senado, disse que, além dessa PEC, o governo tem que enviar ao Congresso outros projetos:

— A validade dessas agências já venceu. Temos que ter um olhar diferente para essas agências, que são fundamentais para a prestação de serviços em áreas estratégicas, de forma eficiente. Foram criadas lá no inicio da década de 90, temos que trazê-las para o Brasil de hoje.

(COLABOROU: Geralda Doca)
14/03/13

quarta-feira, 13 de março de 2013

A Igreja de Francisco, o jesuíta, está profundamente comprometida com os pobres e com os que me mais sofrem, mas também com a doutrina




Por Reinaldo Azevedo

Abaixo, reproduzo o texto de autoria de John Allen Jr., jornalista do site americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/).

Ele fez um perfil de todos os papáveis. Seu texto sobre Jorge Mario Bergoglio, publicado no dia 10 deste mês, é excelente. Lembra, entre outras coisas, que o então arcebispo de Buenos Aires foi alvo da fúria de Cristina Kirchner por ter criticado a lei que permite a adoção por homossexuais — segundo ele, uma forma de discriminação contra as crianças.

A presidente da Argentina o acusou de cultivar preconceitos medievais. Também no que diz respeito ao aborto e à contracepção, o papa Francisco I é um fiel seguidor da orientação oficial da Igreja.

*
Enquanto não há pesquisas de opinião para estabelecer quem tem mais musculatura como candidato ao papado, o conclave de 2013 tem pelo menos uma medida objetiva a mais que o de 2005: o desempenho anterior. Muitos dos cardeais vistos como candidatos agora estavam também disponíveis da última vez, e alguém que teve força há oito anos poderia ser um competidor novamente. Por essa medida isolada, o cardeal Jorge Mario Bergoglio, de Buenos Aires (Argentina), merece alguma atenção.

Depois que a poeira da eleição de Bento XVI assentou, vários repórteres identificaram o jesuíta argentino como o principal desafiante do então cardeal Joseph Ratzinger. Um eleitor disse, depois, que o conclave teve “um quê de corrida de cavalos” entre Ratzinger e Bergoglio, e um diário anônimo do conclave que circulava entre a mídia italiana em setembro de 2005 indicava que Bergoglio chegou a receber 40 votos na terceira votação, a que ocorreu imediatamente antes daquela em que Ratzinger cruzou a linha dos dois terços e se tornou papa. Embora seja difícil dizer o quanto se pode levar isso a sério, o consenso geral é de que Bergoglio foi realmente um candidato de peso no último conclave. Ele chamou a atenção dos ortodoxos do Colégio de Cardeais como um homem que conseguiu segurar os avanços das correntes liberais entre os jesuítas, enquanto para os moderados era um símbolo do compromisso da Igreja com o mundo em desenvolvimento.

Ainda em 2005, Bergoglio marcou muitos pontos como um intelectual dedicado, que estudou teologia na Alemanha. Seu papel de liderança durante a crise econômica argentina deu polimento à sua reputação de ser a voz da ponderação e fez dele um potente símbolo do que os custos da globalização podem representar para o mundo pobre. A proverbial simplicidade pessoal também exerceu inegável atração – é um príncipe da Igreja que escolheu viver em um apartamento simples em vez de habitar um palácio episcopal, que abriu mão da limusine com motorista e prefere usar o transporte público, e que cozinha suas próprias refeições.

Outra medida da seriedade de Bergoglio como candidato é a campanha negativa feita em torno dele há oito anos. Três dias antes da abertura do conclave de 2005, um advogado argentino da área de direitos humanos entrou com uma ação em que Bergoglio era apontado como cúmplice no sequestro de dois padres jesuítas, em 1976, sob o regime militar que então vigorava no país. Bergoglio negou terminantemente a acusação. Houve também uma campanha por e-mail, que parece ter sido orquestrada pelos confrades jesuítas que conheciam Bergoglio dos tempos em que ele foi provincial da ordem na Argentina. Segundo a campanha, “ele jamais sorria”.

Dito isso tudo, o fato é que Bergoglio definitivamente esteve sempre no radar. É claro que está oito anos mais velho agora, e que, aos 76, já está fora da faixa etária que muitos cardeais consideram ideal. Além disso, o fato de não ter conseguido transpor a barreira do número de votos necessário da última vez pode convencer alguns cardeais de que não vale a pena voltar a tentar. Ainda assim, muitas das razões que levaram membros do colégio a tomá-lo como sério candidato oito anos atrás ainda estão de pé.

Nascido em Buenos Aires, em 1936, Bergoglio é filho de um ferroviário que emigrou de Turim, na Itália, para a Argentina, onde teve cinco filhos. O plano original do cardeal era ser químico, mas, em vez disso, ele ingressou em 1958 na Companhia de Jesus para começar os estudos preparatórios para a ordenação sacerdotal. Passou boa parte do início da carreira lecionando Literatura, Psicologia e Filosofia, e muito cedo era visto como uma estrela em ascensão. De 1973 a 1979 foi provincial dos jesuítas na Argentina.

Depois disso, em 1980, tornou-se o reitor do seminário no qual havia se formado. Eram os anos do regime militar na Argentina, quando muitos sacerdotes, incluindo líderes jesuítas, gravitavam em torno do movimento progressista da Teologia da Libertação. Como provincial jesuíta, Bergoglio insistiu em um mergulho mais profundo na tradição espiritual de Santo Inácio de Loyola, ordenando que os jesuítas continuassem seu trabalho nas paróquias e atuassem como vigários em vez de se meterem em “comunidades de base” e ativismo político.

Embora os jesuítas sejam, em geral, desencorajados de receber honrarias eclesiásticas, especialmente fora de seus países, Bergoglio foi nomeado bispo auxiliar de Buenos Aires em 1992, e depois sucedeu o adoentado cardeal Antonio Quarracino, em 1998. João Paulo II fez Bergoglio cardeal em 2001, designando-lhe a igreja romana que leva o nome do lendário jesuíta São Roberto Belarmino.

Ao longo dos anos, Bergoglio se aproximou tanto do movimento Comunhão e Liberação, fundado pelo padre italiano Luigi Giussani, que às vezes discursava no grande encontro anual do grupo, em Rimini, na Itália. Ele também chegou a divulgar os livros de Giussani em feiras literárias na Argentina. Isso acabou gerando consternação entre os jesuítas, uma vez que os ciellini, como são chamados os adeptos do movimento, já eram vistos com os principais opositores do colega jesuíta de Bergoglio em Milão, o cardeal Carlo Maria Martini. Por outro lado, isso tudo é parte do apelo de Bergoglio, um homem que pessoalmente se divide entre os jesuítas e os ciellini e, em maior escala, entre os reformistas e os ortodoxos da Igreja.

Bergoglio apoiou o ethos de justiça social do catolicismo latino-americano, inclusive com robusta defesa dos pobres. “Vivemos na parte mais desigual do mundo, que tem crescido muito, mas que pouco tem feito para reduzir a miséria”, afirmou ele durante um encontro do episcopado latino-americano em 2007. “A injusta distribuição de renda persiste, criando uma situação de pecado social que clama aos céus e que limita as possibilidades de uma vida plena para muitos de nossos irmãos.” Ao mesmo tempo, ele tende mais a se empenhar pelo crescimento em graça pessoal do que por reformas estruturais.

Bergoglio é visto como um ortodoxo inflexível em matéria de moral sexual e como convicto opositor do aborto, da união homossexual e da contracepção. Em 2010 ele afirmou que a adoção de crianças por gays é uma forma de discriminação contra as crianças, o que lhe valeu uma reprimenda pública por parte da presidente argentina Cristina Kirchner. Ao mesmo tempo, ele demonstra sempre profunda compaixão pelas vítimas da aids; em 2001, por exemplo, visitou um sanatório para lavar e beijar os pés de 12 pacientes soropositivos.

Bergoglio também marca pontos por sua apaixonada reposta ao atentado a bomba ocorrido em 1994 no prédio de sete andares que abrigava a Associação Mutual Israelita Argentina, em Buenos Aires. Foi um dos maiores ataques a alvos judeus já registrados na América Latina e, em 2005, o rabino Joseph Ehrenkranz, do Centro para a Compreensão Judaico-Cristã, ligado à Universidade do Sagrado Coração em Fairfield, no estado norte-americano de Connecticut, louvou a liderança de Bergoglio para superar a dor do episódio. “Ele estava muito preocupado com o que havia ocorrido”, disse Ehrenkranz. “Tinha vivido a experiência.”

Apesar disso, depois do conclave de 2005 alguns cardeais admitiram inocentemente duvidar de que Bergoglio realmente tivesse a forja e a força necessárias para liderar a Igreja universal. Mais que isso, para muitos dos não latino-americanos Bergoglio era um número desconhecido. Uns poucos relembraram de sua liderança no Sínodo de 2001, quando ele substituiu Edward Egan, de Nova York, como relator do encontro porque o cardeal norte-americano teve de voltar às pressas para casa para ajudar as vítimas dos atentados terroristas de 11 de setembro. Naquela ocasião, Bergoglio deixou uma impressão basicamente positiva, mas pouco marcante.

Bergoglio pode ser fundamentalmente conservador em muitas questões, mas não é um defensor dos privilégios do clero ou um homem insensível às realidades pastorais. Em setembro de 2012, ele disparou um ataque contra os padres que se negavam a batizar crianças nascidas fora do casamento, classificando a recusa como uma forma de “neoclericalismo rigoroso e hipócrita”.

As chances de Bergoglio em 2013 repousam em quatro pontos.

O primeiro, e mais básico, é que ele teve grande apoio da última vez, e alguns cardeais podem pensar em uma nova tentativa agora.

Segundo, Bergoglio é um candidato que traz consigo o Primeiro Mundo e o mundo em desenvolvimento. É um latino-americano de raízes italianas que estudou na Alemanha. Como jesuíta, é integrante de uma comunidade religiosa internacionalmente confiável, e sua ligação com o movimento Comunhão e Liberação faz dele parte de outra rede global.

Terceiro, Bergoglio ainda é atraente diante da usual divisão da Igreja, angariando com seu afiado senso pastoral, sua inteligência e sua modéstia pessoal o respeito tanto dos ortodoxos quanto dos moderados. Ele também é visto como uma alma genuinamente espiritualizada e um homem de profunda oração. “Somente alguém que tenha encontrado a misericórdia, que tenha sido agraciado com a ternura da misericórdia, está feliz e em paz com Deus”, disse Bergoglio em 2001. “Eu peço aos teólogos presentes que não me enviem ao Santo Ofício ou à inquisição; no entanto, forçando um pouco as coisas, ouso dizer que o lugar privilegiado do encontro é a bondade da misericórdia de Cristo sobre meus pecados.”

Quarto, ele é também visto como um evangelista bem-sucedido. “Temos de evitar a doença espiritual de uma Igreja autorreferente”, disse recentemente. “A verdade é que, quando se sai às ruas, como fazem todos os homens e mulheres, acidentes acontecem. No entanto, se a Igreja se fechar em si mesma, se torna ultrapassada. Entre uma Igreja que sofre acidentes lá fora e outra adoecida pela autorreferência, não tenho dúvidas em preferir a primeira.”

Na contramão, há razões para acreditar que a janela de oportunidade para Bergoglio alcançar o pontificado já se fechou.

Afinal, ele está oito anos mais velho que em 2005 e, aos 76 , seria apenas dois anos mais jovem do que era Bento XVI quando se tornou papa. Especialmente nos calcanhares de uma renúncia papal fundamentada nos problemas da idade e da exaustão, muitos cardeais podem se recusar a eleger alguém tão idoso por temer que isso exponha a Igreja a um novo choque.

Em segundo lugar, embora fosse um sério concorrente em 2005, o fato é que ele não conseguiu atrair apoio suficiente para superar a barreira de dois terços dos votos necessários para a eleição. Especialmente no que se refere aos 50 cardeais que estiveram presentes no último conclave, o clima tende a ser de ceticismo quanto à possibilidade de resultados diferentes desta vez.

Terceiro, as dúvidas sobre a resistência de Bergoglio espalhadas nos últimos oito anos podem agora ser argumentos ainda mais corrosivos, dado que a habilidade para governar e manter sob controle a burocracia vaticana parece ser o item mais importante nas listas dos eleitores. Embora Bergoglio integre muitos departamentos do Vaticano, inclusive a Congregação para o Culto Divino e Disciplina dos Sacramentos e a Congregação para o Clero, ele nunca trabalhou realmente dentro do Vaticano, e podem surgir preocupações sobre sua capacidade para controlar o lugar.

Um quarto obstáculo é a ambivalência padrão quanto aos jesuítas no alto escalão, tanto dentro quanto fora da ordem. Esse pode ter sido o fator a frear o avanço de Bergoglio da última vez, e nada mudou no cálculo desde então.

Que Bergoglio se coloca novamente como candidato parece óbvio. Um escritor italiano, citando um cardeal anônimo, disse, no dia 2 de março, que “quatro anos de Bergoglio seriam suficientes para mudar as coisas”. Levando em conta seu perfil, no entanto, Bergoglio parece destinado a cumprir um importante papel neste conclave – se não como rei, será como fazedor de reis.


Tradução: Maria Sandra Gonçalves


John Allen Jr. é um dos mais experientes vaticanistas da atualidade. Jornalista do site norte-americano National Catholic Reporter (http://ncronline.org/), ele também colabora com o canal de televisão CNN e com a National Public Radio norte-americana. Allen é autor de vários livros sobre a Igreja Católica, incluindo duas biografias de Bento XVI, uma delas escrita quando Joseph Ratzinger ainda era cardeal. Duas de suas obras foram traduzidas para o português: Opus Dei, mitos e realidade, de 2005, e Conclave, de 2002, em que ele descreve os rituais que envolvem a sucessão do papa e apontava vários favoritos para assumir o posto após a morte de João Paulo II. 
 
 13/03/2013



Francisco! Enfim, um papa “negro”!



Por Reinaldo Azevedo

As expectativas não se cumpriram, com exceção, talvez, de uma delas: a Igreja Católica achou que era chegada a hora de ter um papa não-europeu.

E foi buscar o jesuíta Jorge Mario Bergoglio, arcebispo de Buenos Aires, que figurava, sim, na lista dos papáveis, mas estava longe de ser considerado um favorito.

O curioso é que ele era tido como um nome forte no conclave de 2005, justamente o que escolheu Bento XVI, a quem agora sucede.

É claro que é relevante o fato de ser o primeiro papa do continente americano, particularmente do subcontinente latino-americano. Mas, na Igreja, geografia diz menos do que algumas escolhas teológicas e intelectuais. O papa Francisco é um jesuíta, o primeiro da história da Igreja. E isso, sim, é coisa relevante.

Santo Inácio de Loyola fundou a Companhia de Jesus em 1534. Só… 479 anos depois, um seu sacerdote chega ao topo da Igreja. Isso não acontece por acaso. Ao longo da história, a Companhia de Jesus se viu no centro das mais estrambóticas teorias conspiratórias. O Superior Geral da Ordem dos Jesuítas tem tal poder sobre seus comandados que é chamado “Papa Negro”, numa alusão à batina preta. Também ele exerce cargo vitalício, a exemplo do papa. O atual Superior Geral é o padre espanhol Adolfo Nicolás. Vamos ver.

Em vários momentos ao longo desses quase 500 anos, por que a Companhia de Jesus entrou em confronto com o Vaticano, com a hierarquia católica e com outras ordens religiosas? Um jogo de palavras do mais famoso jesuíta que pregou no Brasil (e um dos maiores de todos os tempos), Padre Vieira, ilustra o confronto de fundo e pode iluminar a escolha do papa Francisco.

No ”Sermão da Sexagésima”, Vieira faz uma distinção entre os “pregadores do paço” e os “pregadores do passo”. “Paço”, como sabe o leitor, quer dizer “palácio”. Vieira, portanto, diferencia o pregador palaciano, o que fica preso a seu conforto, daquele outro, como os jesuítas, que saíam pelo mundo pregando a palavra de Deus.

Nesse famoso sermão — e não se esqueçam de que o próprio Vieira foi vítima do tribunal da Inquisição —, o padre faz uma indagação com três hipóteses. Pergunta ele por que fazia tão pouco fruto a palavra de Deus na Terra (e olhem que estava na segunda metade do século XVII…). Poderia ser, especula, por um desses três fatores: ou por culpa do povo, ou por culpa da Palavra de Deus, ou por culpa dos pregadores. Depois de um belíssima exposição sobre a inocência do povo e da Palavra, ele conclui: “Sabeis, cristãos, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa dos pregadores. Sabeis, pregadores, por que não faz fruto a palavra de Deus? Por culpa nossa!”.

A escolha de um jesuíta para Sumo Pontífice indica que a Igreja pretende, sim, ser menos palaciana e mais missionária; menos apegada às pompas e honrarias e mais voltada ao trabalho junto ao povo. Os jesuítas são a ordem dos “sacerdotes do passo”.

Mas atenção! Não se deve confundir essa vocação com qualquer tergiversação ou fraqueza em matéria de doutrina. Isso vale para os jesuítas de maneira geral e para o agora papa Francisco em particular. Ao contrário: jesuítas são, por natureza, disciplinados e disciplinadores. A Companhia de Jesus foi originalmente fundada em moldes quase militares.

Não há como ignorar que, num momento de crise da cúpula, em que se fala de uma Cúria dividida em grupos, a escolha de um jesuíta, conhecido por seus hábitos simples, austeros, é, em certa medida, “anticurial”. A Igreja escolhe o representante de uma ordem profundamente comprometida com o trabalho missionário e educacional, mas famosa por seu pego férreo à doutrina.

Mais um papado breve
Há outros sinais que não podem ser ignorados. O papa Francisco já tem 76 anos. Ao contrário do que se esperava, não se escolheu um “papa jovem”. É bem provável que a Igreja tenha decidido encurtar os papados. Como não pode definir um tempo de mandato, escolheu como variável de ajuste o idade do indicado. Muito dificilmente o pontificado de Francisco durará 27 anos, como o de João Paulo II, que, aos 76 anos, idade do atual Sumo Pontífice, comandava a Igreja havia já 18 anos — assumiu o comando aos 58.

Os jesuítas são os mais importantes educadores da Igreja Católica. Chegaram a ser acusados, em vários momentos da história, de ser mais apegados à lógica do que a mística do Cristo Salvador. No mais das vezes, o que se apresentava como conflito religioso era só mais um dos confrontos mundanos.

Esse preconceito, como qualquer outro, se assentava numa falsidade de base verossímil: a Companhia de Jesus nunca abriu mão de suas prioridades em benefício dos interesses nem sempre muito pios da Igreja Católica. No Brasil, por exemplo, os jesuítas entraram em conflito com os colonizadores e com a Coroa Portuguesa. Em 1759, o Marquês de Pombal os expulsa do país, havia perto de 700 no país, e confisca os bens da ordem. Foram levados de navio a Portugal e presos.

Francisco agora é papa e tem autoridade sobre toda a Igreja.

Mas segue sendo um jesuíta.

Que o disciplinador do passo imponha ordem às disputas do paço.


13/03/2013


Cardeal argentino é o novo papa




http://veja.abril.com.br/blog/reinaldo/files/2013/03/Papa-Francisco.jpg

o nome dele será Francisco 

terça-feira, 12 de março de 2013

Procurador-geral da República vai investigar 'empresa relâmpago' de Renan



Reportagem do 'Estado' mostrou que presidente do Senado investiu em imobiliária que funcionou por menos de um ano


Mariângela Gallucci
O Estado de S. Paulo

BRASÍLIA - O procurador-geral da Republica, Roberto Gurgel, afirmou nesta terça-feira, 12, que irá analisar a operação financeira do presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), e de seu familiares na empresa Tarumã Empreendimentos Imobiliários.

Segundo Gurgel, o MP "vai avaliar a necessidade de providencias por parte do Ministério Público".

Reportagem publicada pelo Estado mostra que o Renan e sua família injetaram R$ 300 mil em "moeda corrente" em uma empresa imobiliária que funcionou por cerca de um ano.

Recentemente, pouco antes eleição de Renan para a presidência do Senado, Gurgel o denunciou ao Supremo Tribunal Federal (STF) por peculato, falsidade ideológica e uso de notas fiscais falsas.

A Tarumã foi aberta depois das eleições de 2010 em uma sala no Lago Sul de Brasília. Ela reuniu o parlamentar peemedebista e dois filhos na sociedade. Poucos meses depois, o senador deixou a sociedade e deu espaço para sua mulher, Verônica.

Com o objetivo declarado de "administrar a compra e venda de imóveis próprios ou de terceiros", a Tarumã não possui registrado nenhum imóvel em seu nome.

O senador, apesar de ter adotado o discurso da transparência tão logo assumiu o Senado, não quis comentar a operação e classificou como particular as atividades da empresa.
12 de março de 2013

O pós-PT



POR MERVAL PEREIRA
O GLOBO

Nos preparativos para a campanha presidencial do próximo ano, cujos primeiros passos já começam a ser dados, o PPS, uma pequena sigla partidária, destaca-se na tentativa de aglutinar as forças do que chama de "esquerda democrática" em torno de um projeto para derrotar "esse bloco que está aí no governo" O partido fará em abril uma reunião para a qual já foram convidados três dos prováveis candidatos a adversários da reeleição da presidente Dilma Rousseff - Eduardo Campos, Aécio Neves e Marina Silva - e mais o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso e o ex-governador de São Paulo José Serra.
O PPS encontra-se numa posição peculiar dentro das negociações oposicionistas, podendo servir de abrigo à candidatura de Marina Silva caso ela não consiga montar a tempo sua REDE, como também é visto como um possível parceiro do governador de Pernambuco Eduardo Campos. A possibilidade mais remota é a que sempre foi a opção quase automática do PPS, apoiar o candidato do PSDB, que deve ser o senador Aécio Neves. Isso porque a ligação política de Freire no PSDB é com José Serra, que estaria insatisfeito com os rumos que a direção nacional do PSDB estaria dando à definição do candidato em 2014.

Há ainda quem veja a possibilidade de Serra entrar para o PPS e vir a disputar novamente a Presidência da República, ou até mesmo aceitar formar como vice uma chapa com o governador pernambucano, mas essa seria uma opção bastante remota para quem sempre quis ser Presidente.

Esse movimento do PPS não é novo. O hoje deputado Roberto Freire pensa há muitos anos em unir os políticos ligados ao que chama de "esquerda democrática" para um projeto político comum. No final de 2003, depois da vitória de Lula à Presidência, Freire teve um encontro com Fernando Henrique em Providence, nos Estados Unidos, onde o ex-presidente lecionava na Universidade Brown. lá naquele tempo ele citava o PSB como um parceiro provável, e via como possível uma aproximação com o PT que, acreditava, estava fazendo o seu "aggiornamento" (processo de atualização que o Partido Comunista Italiano fez em 1991, mudando de nome e abandonando o marxismo), depois de chegar ao governo e encarar realidades inescapáveis como a reforma da Previdência, que o governo Lula levou adiante nos seus primeiros momentos.

Antes, quando estava na oposição e esses assuntos afloravam na esquerda, "eram por eles desqualificados" lembrava Freire na ocasião. Os dois relembraram na conversa que o PT classificava o PSDB de direita, mas assumira a agenda do governo Fernando Henrique "porque essa é a agenda de uma esquerda moderna" Freire lembrou na ocasião que "a esquerda no mundo fez esse debate" e dava os exemplos de Felipe González e o PSOE na Espanha, do Partido Comunista Italiano e do próprio Partido Comunista Brasileiro, do qual é originário o PPS: "Nós do velho Partidão fizemos essa transição, com uma série de dificuldades, com traumas, com perdas, mas fizemos"

Também o então deputado federal Fernando Gabeira, que se desligara do PT por discordar da política de meio ambiente do governo, constava dos planos do PPS para uma união de forças políticas. Já naquela ocasião Freire estava convencido de que a esquerda democrática não se representa totalmente nos partidos, e dava exemplos de dentro do PMDB, como o então governador de Pernambuco, Jarbas Vasconcelos, que hoje está apoiando o projeto de Eduardo Campos. A idéia de "reforçar as convergências" já estava clara para ele, que, no entanto, acreditava que o que chegara ao poder era "um novo PT".

Hoje, dez anos depois, está convencido de que o PT nunca esteve disposto a interagir com as demais forças democráticas da esquerda, mas apenas manter-se no poder, para isso fazendo alianças com forças políticas fisiológicas. A eleição de 2014 está se desenhando como uma possibilidade de união de diversos segmentos partidários para definir uma era pós-PT, e essa é a principal motivação que, por enquanto, une os diversos candidatos que se contrapõem à reeleição de Dilma.
 12.03.2013



segunda-feira, 11 de março de 2013

'Em campanha, tem que se olhar para a frente'






Ex-presidente diz que antecipação da eleição tornou-se inevitável após Lula lançar Dilma; ele critica briga de 'legados'

Fernando Henrique Cardoso, ex-presidente da República

GABRIEL MANZANO, ENVIADO ESPECIAL / PUEBLA

No México, onde participa da Reunião de Meio de Ano da Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso falou ao Estado sobre a antecipação da campanha presidencial. O PSDB, disse, não teve alternativa e lançou Aécio Neves.

Lula lançou Dilma à reeleição, o sr. lançou a de Aécio Neves. A campanha foi antecipada. Isso não tem um custo político?

Tem custo sim, político e administrativo. Lula precipitou o processo sucessório, aí os outros partidos não têm alternativa. Nós não tínhamos intenção de precipitar uma candidatura. Estávamos prestigiando o nome do Aécio para um debate interno. Mas eu nunca vi quem está no governo precipitar uma eleição, já que atrapalha a governabilidade. Tudo que a presidente Dilma fizer daqui por diante será atribuído a intenções eleitorais. Não sei o que levou o Lula a essa precipitação. Talvez seja porque ele gosta de campanha! A preocupação do governo não era com a oposição, era com a fragmentação das suas próprias forças.

Aécio abraçou a defesa de seu legado. Nem José Serra nem Geraldo Alckmin fizeram isso. O que mudou dentro do PSDB?

Talvez tenha chegado um momento em que seja mais fácil avaliar o que fizemos, não ter medo do que fizemos. Nós garantimos a economia, modernizamos a economia. As privatizações vieram de uma maneira correta, controladas pelas agências reguladoras, não foram monopolizadoras. Restabelecemos a competitividade das agências do governo, do Banco do Brasil, a Petrobrás. Melhoramos muito a educação, organizamos o SUS, começamos o processo de transferência de rendas. As pessoas esquecem que o programa do governo Lula não era transferência de renda, era o Fome Zero. Que foi engavetado! E aderiram ao que nos tínhamos começado. Enfim, por que não defender o que nós fizemos? Agora, isso não pode ser a base de uma campanha eleitoral. Campanha eleitoral tem de ser feita olhando pra frente, não pra trás. O programa do PSDB, então, deve ser: reconhecer o que fizemos, mas vamos adiante. Tem muita coisa que fazer.

Quais, por exemplo?

Quando fizemos nos anos 90 o que nós fizemos, o pessoal do PT, da esquerda, e também de outros partidos, não entendeu a globalização. Acharam que era outra vez o imperialismo, que era o neoliberalismo. Confundiram um processo histórico com uma ideologia. E me acusaram, quando eu estava ajustando o Brasil à nova condição histórica, como se fosse uma posição ideológica a favor do neoliberalismo, posição que eu nunca tive. Agora, de novo, vamos sair dessa crise. É um novo momento, que precisa de ajustes. Primeiro, quem é que vai puxar a economia de novo? Parece que serão os Estados Unidos. O que o Brasil vai fazer com o pré-sal? Continuar marcando passo? Enfraqueceram a Petrobrás e se embrulharam todos. De novo, digo, nós temos de olhar pra frente. Pararam a infraestrutura toda, porque não fizeram o que tinham de fazer, que eram as concessões. Agora fazem envergonhadamente, mal feito. O PSDB tem de recomeçar dizendo: "Olha, eles estavam errados, nós sabemos fazer". O fato é que fazem errado porque não acreditam no que estão fazendo. Nós acreditamos, deixe que a gente faça! Quando cobram dizendo que o PSDB está sem projeto, não está sem projeto, é que eles tomaram o nosso e fizeram mal feito. O PSDB tem que apresentar ao País um novo projeto.

Macroeconomia não sensibiliza o eleitor. Embora o cenário seja delicado - inflação, PIB, ritmo lento do PAC -, qual discurso terá o PSDB para atrair votos?

O que sensibiliza o eleitor é quando mexem no bolso dele, coisas como emprego e renda. Esses fatores todos mencionados vão terminar tendo algum efeito sobre emprego e renda. Na verdade, já estão tendo. A renda per capita no ano passado não subiu. E agora as famílias estão endividadas. O PSDB tem que dizer: "Você que está endividado, eu vou resolver esse problema".

Lula saiu com 76% de aprovação, Dilma tem hoje em torno de 50, 52% de aprovação. O PSDB é competitivo?

Lula e Dilma, em todas as disputas, foram para o segundo turno. E tinham números altíssimos de aprovação.

O xadrez pode ter 4 peças, com Eduardo Campos e Marina.

Sendo quatro, o segundo turno é uma grande probabilidade. Não sei qual será a capacidade do Eduardo de arrancar votos. O ponto de partida dele é Pernambuco. O do Aécio é Minas. A Marina tem uma presença forte e tem uma causa que, eu acho, vai continuar entusiasmando. Desses três, no momento, eu aposto no Aécio. Acho que 20 anos de governo do PT bastam, não? Chegou a hora de mudar. O estilo PT cumpriu o seu papel. Cansou, dá espaço pra outro.
11 de Março de 2013