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sábado, 28 de novembro de 2015

Para quem o cachorro ainda



Nenhum escritor policial inglês ou americano conseguiria criar sozinho a trama que estamos vivendo sob o nome de Operação Lava Jato

 
Nem Agatha Christie ou Raymond Chandler seria capaz de dar conta de tantos plots e subplots, quebras de narrativa, cenas de ação e, como suspeitos, gente com conta bancária de até 11 dígitos. Sem falar na dança dos coadjuvantes: todos os dias um novo nome assume o primeiro plano. Só não tivemos –até agora– um cadáver.

O primeiro grande personagem foi José Dirceu. Equivalia ao sinistro professor Moriarty, criado por Conan Doyle como o cérebro por trás de tudo de ilícito na Londres vitoriana. Como um Moriarty com ideologia, Dirceu armou o esquema que drenaria milhões da Petrobras e financiaria um sistema que se eternizaria no poder. Só que, de repente, Dirceu se tornou um personagem de John Le Carré: revelou sua fraqueza humana. Aproveitou para também locupletar-se em causa própria e foi apanhado.

Mas o esquema sobreviveu, graças ao caso de amor do partido e de seus aliados com diretores e gerentes da Petrobras. O resultado foi uma armação de deixar no chinelo as redes de corrupção descritas por Dashiell Hammett em "Seara Vermelha" e "A Chave de Vidro". A chegada de tubarões como André Esteves, José Carlos Bumlai e Marcelo Odebrecht, por sua vez, conferiu à história uma densidade digna de Frederick Forsyth.

Já o senador Delcídio do Amaral deu-lhe um toque de 007. Sua tentativa de comprar o silêncio do diretor da Petrobras Nestor Cerveró, tirá-lo da cadeia e despachá-lo para a Espanha num jatinho secreto parece coisa de James Bond.

E todos os fãs de romances policiais sabem que, se o cachorro não latiu para o criminoso, é porque este era conhecido do cachorro. Só falta, portanto, descobrir para quem o cachorro ainda não latiu.


* É escritor e jornalista.

28/11/2015



Lava Jato exibe lado de dentro do nosso abismo


 

Que semana! Entre a terça e a quarta, foram em cana o amigo de Lula, José Carlos Bumlai, e o líder de Dilma, Delcídio Amaral. Na sexta, descobriu-se que a Andrade Gutierrez, segunda maior empreiteira do país, entregou os pontos. Pagará multa de R$ 1 bilhão e confessará crimes que vão muito além da Petrobras. O país virou uma espécie de trem fantasma rumo ao precipício.

Para muitos, o mensalão foi a beira do abismo. O petrolão é a vivência do abismo. Com sua vocação para a busca das verdades mais profundas, sem limites, a força-tarefa da Lava Jato apresenta ao Brasil o lado de dentro do abismo. A caminho das profundezas, o brasileiro percebe que, vista desde o buraco, a crise é mais nítida. O grotesco ganha uma fabulosa visibilidade.

No abismo, o hipócrita tem cara de hipócrita, a incompetente tem jeitão de incompetente. E o séquito de canalhas tem a aparência de um cortejo de canalhas. Olhando de baixo, percebe-se com mais clareza a teia.

Delcídio tentou silenciar Nestor Cerveró, que coordenou a compra de Pasadena, que foi avalizada por Dilma, que era a bambambã do governo Lula, que é amigão de José Carlos Bumlai, que é pai de Fernando Barros Bumlai, que é marido de Neca Chaves Bumlai, que é filha de Pedro Chaves dos Santos, que é suplente de Delcídio, que monitorava os humores de Bumlai a pedido de Lula, que não sabia de nada.

Um país inteiro tem que cair para salvar a pantomima. Só a derrota nacional salva o grupo hegemônico.


28/11/2015

A REPORTAGEM DE CAPA DE 'VEJA' , O PASSARALHO E O ENIGMA QUE FAZ PODEROSOS AMARGAREM CALADOS A PRIVAÇÃO DA LIBERDADE.


O texto que segue está dividio em duas partes. A primeira contém considerações sobre a revista Veja, cuja capa da edição que chega às bancas neste sábado está estampada acima. Na segunda parte faço algumas considerações sobre a chamada de capa e transcrevo um aperitivo da reportagem principal.

Vamos lá:


A revista Veja, até agora a mais importante publicação da grande mídia brasileira recentemente permitiu que passaralho a serviço do conluio PT-mega empresários, a versão nacional dos boliburgueses da Venezuela bolivariana, desse um voo rasante sobre a redação. O passaralho vermelho derrubou a TVeja detonando a Joice Hasselmann que era a alma do projeto, aliás um belo projeto que integrava uma plataforma de vídeos com excelentes entrevistas e opinião, algo que foi banido da imprensa brasileira depois que Lula e seus sequazes chegaram ao poder. A partir daí foi inaugurado um tempo em que a opinião só pode ser emitida em favor do lulismo. Ao que tudo indica Veja se curvou.

Antes de Joice foi mandado embora o colunista Rodrigo Constantino enquanto o colunista Lauro Jardim, ao que parece, teve seu passe adquirido por O Globo. Por enquanto ainda tem as colunas do Augusto Nunes, do Reinaldo Azevedo e do Felipe Moura Brasil. Só.

De resto, sobraram aqueles chatos eternos com as quatro patas fincadas no terreiro do pensamento politicamente correto. Como não entendem nada de televisão cometem diariamente o exercício daquilo que defino como "burrice dinâmica". Decididamente não dá mais para ver a outrora influente e dinâmica TVeja que em inúmeras oportunidades destaquei aqui no blog. Já o site da revista também piorou muito.

Velho de guerra do jornalismo eu sei o que é o ambiente corporativo. Já fui testemunha de coisas mais ou menos parecidas como essa que rola na Veja. Já vi burros dinâmicos guindados à diretoria de organizações bem como psicopatas. Aliás, esses últimos, os psicopatas, são os que obtêm o maior sucesso nos ambientes corporativos. Normalmente porque são mestres em lamber os pés dos chefões, porque são capachos. Esses tipos ao longo da história têm sido os responsáveis pela destruição de muitos empreendimentos e bons projetos. Eles estão em todos os lugares. Menos aqui neste espaço que é só meu e, por extensão, dos meus estimados leitores. Aliás, esses andróides são incapazes de formular um parágrafo de cinco linhas que tenha algum sentido, quanto mais manter um blog com conteúdo exclusivo. E quando se metem a fazer televisão aí o troço desanda. E fica pior ainda quando o caras mentem.

Essa digressão que acabo de fazer creio ser necessária. Não dá para dourar a pílula, isto é, não dá para enrolar. Opinião para adular alguém ou uma organização é trololó.


QUEM CALA, CONSENTE. No que se refere à principal reportagem de Veja, outrora a "reportagem-bomba", o assunto é a prisão do senador Delcídio Amaral. Não poderia ser diferente. Todavia o aperitivo da matéria postado no site de Veja, nos leva a concluir de antemão que esta matéria não está calcada num furo de reportagem. Como a publicação é semanal, se não furar patina na resenha da semana. Ainda mais com a internet.

Louvando-me no resumo da reportagem de capa de Veja, concluo que todo o aparato criminoso que esfacela a Nação segue incólume. Em inúmeras oportunidades tenho reiterado que a permanência do PT no poder, desde o primeiro dia que Lula subiu a rampa, se deve exclusivamente por aquilo que denomino de "núcleo duro da economia", ou seja, uma plêiade de mega empresários e banqueiros que não conseguem sobreviver além do deletério patrimonialismo e encontraram no estatismo totalitário bolivariano um oásis. O ícone desse grupo é o Marcelo Odebrecht, que está em cana há mais de quatro meses acreditando piamente que será libertado.

Deve ter suas razões para esse comportamento. É justamente aí que reside o fulcro da questão, ou o "busílis', como diria o meu colega Reinaldo Azevedo. O resto é marola, é cascata, é empulhação. Além disso é de se questionar se as tais colaborações premiadas até agora resultaram em verdades ou meias verdades.

Em decorrência de tudo o que está acontecendo arrisco a segunda hipótese. A prova de que faço a escolha mais objetiva se encontra nesta reportagem da capa de Veja quando informa que a família de Delcídio Amaral está "avaliando" a possibilidade de ele colaborar com os investigadores, fato que lhe proporcionaria o relaxamento da prisão e atenuação da pena.

É de se indagar, portanto, quais seriam esses critérios a nortear tal avaliação? Pelo exposto intui-se que algo forte, grandioso e inaudito garante uma alternativa ao senador que permanece na carceragem da Polícia Federal e cuja maior regalia por enquanto é encomendar um Big-Mac com Coca-Cola para o jantar. Sem falar no fato de que Lula já lhe chamou de "imbecil" entre outros prováveis impropérios que são expelidos pela boca do Apedeuta quando fica enfezado.

A família de Delcídio está 'analisando'? Tá bom.

Transcrevo um aperitivo da reportagem de Veja, publicação que ainda dispõe de um fio tênue de confiabilidade. Leiam:



Pelas redes sociais já está bombando esta campanha destinada a estimular Delcídio Amaral a quebrar o enigma que vem mantendo figurões na cadeia enquanto Lula e seus sequazes continuam livres, leves e soltos. Aliás Lula ao saber da fatídica gravação que gerou a prisão de Delcídio não deixou por menos e disparou: "imbecil".

DELCÍDIO AMARAL:
'A' TESTEMUNHA


Para entender a magnitude da prisão, na semana passada, de Delcídio do Amaral, senador petista e líder do governo, é preciso até um pouco de imaginação. Pois imaginemos que nenhum empresário preso na Operação Lava-Jato tivesse até hoje quebrado o silêncio nas delações premiadas - ou que nenhum político estivesse na lista que a Procuradoria-Geral da República mandou para o Supremo Tribunal Federal (STF).

Mesmo no cenário irreal acima, a prisão de Delcídio e a possibilidade de ele recorrer à delação premiada - uma vez que foi abandonado pelo PT, ignorado por Dilma e ofendido por Lula - terão consequências devastadoras para a estabilidade do já cambaleante regime lulopetista.

Delcídio do Amaral testemunhou os momentos mais dramáticos dos escândalos do governo do ex-­presidente. Viveu e participou desses mesmos momentos no governo Dilma. Delcídio não é uma testemunha. Ele é "a" testemunha - e a melhor oportunidade oferecida à Justiça até agora de elucidar cada ação da entidade criminosa que, nas palavras do ministro Celso de Mello, decano do STF, "se instalou no coração da administração pública".

Terminada uma reunião no gabinete de Dilma Rousseff, em junho passado, Delcídio chamou-a de lado e disse a seguinte frase: "Presidente, a prisão (de Marcelo Odebrecht) também é um problema seu, porque a Odebrecht pagou no exterior pelos serviços prestados por João Santana à sua campanha". Delcídio contrariou o diagnóstico de Aloizio Mercadante, que ainda chefiava a Casa Civil, segundo quem a prisão de Marcelo Odebrecht "era problema do Lula".

Ao deixar o Palácio do Planalto, Delcídio definiu Dilma a um colega de partido como "autista", espantado que ficou com o aparente desconhecimento da presidente sobre o umbilical envolvimento financeiro do PT com as empreiteiras implicadas na Lava-Jato. Na reunião, Dilma dissera aos presentes que as repercussões da operação nada mais eram do que uma campanha para "criminalizar" as empreiteiras e inviabilizar seu pacote de investimento e concessões na área de infraestrutura. "A Dilma não sabe o que é passar o chapéu porque passaram o chapéu por ela", concluiu Delcídio.

Passar o chapéu é bater na porta das empreiteiras e pedir dinheiro para campanhas políticas. Quando feitas dentro da lei, as doações não deixam manchas no chapéu. Mas, quando fruto de propinas como as obtidas nos bilionários negócios com a Petrobras, a encrenca, mesmo que seja ignorada por sua beneficiária, não vai embora facilmente.

Menos de um mês após a reunião no Planalto, a Polícia Federal divulgou as explosivas anotações com que Marcelo Odebrecht incentivava seus advogados a encontrar uma maneira de fazer chegar a Dilma a informação de que as investigações sobre as contas da empreiteira na Suíça bateriam nela.

Poucos políticos tiveram mais acesso do que Delcídio aos bastidores do mensalão e do petrolão. Poucos políticos conhecem tão bem como ele as entranhas da Petrobras, onde trabalhou e fez amigos. Poucos políticos têm tanto trânsito como ele nos gabinetes mais poderosos da política e da iniciativa privada.

Até ser preso, Delcídio atuava como bombeiro, tentando reduzir os focos de tensão existentes para Lula, Dilma e o PT.

Na condição de encarcerado, é uma testemunha decisiva.

A possibilidade de ele colaborar com os investigadores está sob avaliação de sua família.


novembro 28, 2015

Charge








Delcídio do Amaral: ‘A’ testemunha


Nos últimos doze anos, o senador acompanhou de dentro o lado sombrio dos governos petistas.

Viu o nascimento dos esquemas de corrupção, seus desdobramentos financeiros e eleitorais, participou dos esforços para debelá-los e agora pode apontar com precisão quem são os mentores e beneficiários

Por Daniel Pereira e Rodrigo Rangel
Veja.com

Saída de Delcídio é o mais duro golpe para a articulação política do governo Dilma
(Ueslei Marcelino/Reuters)

Para entender a magnitude da prisão, na semana passada, de Delcídio do Amaral, senador petista e líder do governo, é preciso até um pouco de imaginação. Pois imaginemos que nenhum empresário preso na Operação Lava-Jato tivesse até hoje quebrado o silêncio nas delações premiadas - ou que nenhum político estivesse na lista que a Procuradoria-Geral da República mandou para o Supremo Tribunal Federal (STF). Mesmo no cenário irreal acima, a prisão de Delcídio e a possibilidade de ele recorrer à delação premiada - uma vez que foi abandonado pelo PT, ignorado por Dilma e ofendido por Lula - terão consequências devastadoras para a estabilidade do já cambaleante regime lulopetista. Delcídio do Amaral testemunhou os momentos mais dramáticos dos escândalos do governo do ex-­presidente. Viveu e participou desses mesmos momentos no governo Dilma. Delcídio não é uma testemunha. Ele é "a" testemunha - e a melhor oportunidade oferecida à Justiça até agora de elucidar cada ação da entidade criminosa que, nas palavras do ministro Celso de Mello, decano do STF, "se instalou no coração da administração pública".

Terminada uma reunião no gabinete de Dilma Rousseff, em junho passado, Delcídio chamou-a de lado e disse a seguinte frase: "Presidente, a prisão (de Marcelo Odebrecht) também é um problema seu, porque a Odebrecht pagou no exterior pelos serviços prestados por João Santana à sua campanha". Delcídio contrariou o diagnóstico de Aloizio Mercadante, que ainda chefiava a Casa Civil, segundo quem a prisão de Marcelo Odebrecht "era problema do Lula". Ao deixar o Palácio do Planalto, Delcídio definiu Dilma a um colega de partido como "autista", espantado que ficou com o aparente desconhecimento da presidente sobre o umbilical envolvimento financeiro do PT com as empreiteiras implicadas na Lava-Jato. Na reunião, Dilma dissera aos presentes que as repercussões da operação nada mais eram do que uma campanha para "criminalizar" as empreiteiras e inviabilizar seu pacote de investimento e concessões na área de infraestrutura. "A Dilma não sabe o que é passar o chapéu porque passaram o chapéu por ela", concluiu Delcídio.

Passar o chapéu é bater na porta das empreiteiras e pedir dinheiro para campanhas políticas. Quando feitas dentro da lei, as doações não deixam manchas no chapéu. Mas, quando fruto de propinas como as obtidas nos bilionários negócios com a Petrobras, a encrenca, mesmo que seja ignorada por sua beneficiária, não vai embora facilmente. Menos de um mês após a reunião no Planalto, a Polícia Federal divulgou as explosivas anotações com que Marcelo Odebrecht incentivava seus advogados a encontrar uma maneira de fazer chegar a Dilma a informação de que as investigações sobre as contas da empreiteira na Suíça bateriam nela.

Poucos políticos tiveram mais acesso do que Delcídio aos bastidores do mensalão e do petrolão. Poucos políticos conhecem tão bem como ele as entranhas da Petrobras, onde trabalhou e fez amigos. Poucos políticos têm tanto trânsito como ele nos gabinetes mais poderosos da política e da iniciativa privada. Até ser preso, Delcídio atuava como bombeiro, tentando reduzir os focos de tensão existentes para Lula, Dilma e o PT. Na condição de encarcerado, é uma testemunha decisiva. A possibilidade de ele colaborar com os investigadores está sob avaliação de sua família.
27/11/2015

sexta-feira, 27 de novembro de 2015

"Situação mais caótica e desesperadora do que se imagina"





O Globo noticia que "Dilma Rousseff decidiu seguir a orientação do TCU e vai fazer um novo contingenciamento do Orçamento de 2015.

O governo deverá editar um decreto de programação financeira com um corte de R$ 10,7 bilhões nos gastos.

Com isso, pela primeira vez, o país terá um quadro que os técnicos chamam de "shut down", ou seja, a suspensão de todas as despesas discricionárias.

Isso significa deixar de fazer, por exemplo, o pagamento de todos os serviços de água, luz, telefone, bolsas no Brasil e no exterior, fiscalização ambiental, do trabalho, da Receita e da Polícia Federal.

A suspensão também atingirá gastos com passagens e diárias."


O Antagonista, mais cedo, ouviu de um grande personagem político que "a situação é muito mais caótica e desesperadora do que se imagina. Impossível continuar assim".

27.11.15

Andrade acerta acordo, confessa suborno na Copa e pagará multa de R$ 1 bilhão!!!




MARIO CESAR CARVALHO
DE SÃO PAULO
BELA MEGALE
ENVIADA ESPECIAL A CURITIBA



Após aceitar pagar a maior multa da Operação Lava Jato, de cerca de R$ 1 bilhão, a empreiteira Andrade Gutierrez acertou um acordo de delação com a Procuradoria Geral da República e da força-tarefa de procuradores e policiais que atua em Curitiba (PR) no qual ira relatar que pagou propina em obras da Copa do Mundo, na Petrobras, na usina nuclear Angra 3 e em Belo Monte e na ferrovia Norte-Sul, um projeto cuja história de corrupção começa em 1987, com o acerto das empresas que ganhariam a licitação, como revelou à época o colunista Jânio de Freitas.

A maior indenização já paga na Lava Jato até agora foi da Camargo Corrêa: R$ 800 milhões.

A Andrade foi acusada junto com a Odebrecht de ter pago R$ 632 milhões de suborno em contratos com a Petrobras. A Odebrecht é a maior empreiteira do pais, e a Andrade, a segunda.

Com o acordo, que trará benefícios tanto a empresa quanto para os executivos, a Andrade quer se livrar de ser proibida de celebrar contratos com o poder público, uma das consequências de quando o governo declara a empresa inidônea. A empreiteira é altamente dependente do poder público: quase a metade de sua receita vem de obras contratadas pelo governo.

Na Copa do Mundo, por exemplo, a Andrade Gutierrez atuou, sozinha ou em consórcio, na reforma do estádio do Maracanã, no Rio, do Mané Garrincha, em Brasília, do Beira-Rio, em Porto Alegre, e na construção da Arena Amazonas, em Manaus (AM).

A Andrade Gutierrez foi contratada para tocar obras gigantes da Petrobras, como o Comperj (Complexo Petroquímico do Rio de Janeiro) e pretende complementar a história dos subornos já relatada por delatores como o ex-diretor Paulo Roberto Costa.

Três dos executivos que estavam presos (Otávio Azevedo, Élton Negrão de Azevedo Júnior e Flávio Barra) foram transferidos em definitivo do Complexo Médio Penal, que fica em Pinhais (PR), na Grande Curitiba, para a carceragem da Polícia Federal por razões de segurança. A transferência também facilita os depoimentos da delação e o contato dos presos com a família. Otávio e Élton foram presos em junho e Barra no mês seguinte.

Havia duas dificuldades para o acerto final do acordo, que foram sanadas: o valor a ser pago e a necessidade de Otávio Azevedo confessar crimes que ele sempre negou. Os procuradores de Brasília queriam uma indenização de R$ 1,2 bilhão, quando a empreiteira alegava não ter mais do que R$ 800 milhões para pagar a multa.

Otavio Azevedo, que já foi eleito o executivo do ano pela revista "Exame", relutava confessar seu envolvimento em pagamento de suborno alegando que a Polícia Federal não tinha prova de nada contra ele. Ele foi convencido por executivos da empresa: se ele não confessasse, os outros relatariam os casos em que ele esteve envolvido.

O valor de R$ 1 bilhão visa ressarcir as empresas que foram prejudicadas por acertos do cartel que atua em obras públicas.

Há uma série de relatos de pagamento de suborno por parte da Andrade Gutierrez. O primeiro delator da Operação Lava Jato, o ex-diretor da Petrobras Paulo Roberto Costa, contou ter recebido US$ 4 milhões da Andrade e da Estre Ambiental em um contrato da Petrobras. A empreiteira tentou anular a delação de Costa no Supremo depois que o lobista Fernando Soares, o Baiano, contou ter pago valores bem maiores Costa, de US$ 20 milhões a US$ 25 milhões. A estratégia, porém, não deu certo.


27/11/2015

República de bandidos

Editorial do Estadão





  Ninguém melhor do que a ministra Cármen Lúcia, do Supremo Tribunal Federal, para expressar o sentimento de frustração que atinge em cheio os brasileiros:

“Na história recente da nossa pátria, houve um momento em que a maioria de nós acreditou no mote segundo o qual a esperança tinha vencido o medo. Depois, nos deparamos com a Ação Penal 470 (o mensalão) e descobrimos que o cinismo tinha vencido aquela esperança. Agora constata-se que o escárnio venceu o cinismo”.

Nessa síntese está toda a trajetória dos embusteiros petistas que, desde a primeira eleição de Luiz Inácio Lula da Silva, prometeram fazer uma revolução ética e social no Brasil e agora, pilhados em escabrosos casos de corrupção, caçoam da Justiça e da própria democracia.


O mais recente episódio dessa saga indecente, ao qual Cármen Lúcia aludia, envolveu ninguém menos que o líder do governo no Senado, Delcídio do Amaral. Em conluio com o banqueiro André Esteves, o petista foi flagrado tentando comprar o silêncio do ex-diretor da Petrobrás Nestor Cerveró, que ameaçava contar o que sabia sobre a participação de ambos no petrolão.


As palavras de Delcídio, capturadas em áudio gravado por um filho de Cerveró, são prova indisputável da naturalidade com que políticos e empresários se entregaram a atividades criminosas no ambiente de promiscuidade favorecido pelo governo do PT. Como se tratasse de uma situação trivial – a conversa termina com Delcídio mandando um “abraço na sua mãe” –, um senador da República oferece dinheiro e uma rota de fuga para que o delator que pode comprometê-lo e a seu financiador suma do País. Os detalhes são dignos de um arranjo da Máfia e desde já integram a antologia do que de mais repugnante a política brasileira já produziu.


Delcídio garantiu a seus interlocutores que tinha condições de influenciar ministros do Supremo Tribunal Federal e políticos em posições institucionais destacadas para que os objetivos da quadrilha fossem alcançados. O senador traficou influência. Mas o fato é que, hoje, as ramas corruptas que brotam do sistema implantado pelo PT se insinuam por toda a árvore institucional – com raras e honrosas exceções, entre elas o Supremo, que vem demonstrando notável independência.


Exemplo do contágio é que o presidente da Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), estão sendo investigados pela Lava Jato. A nenhum dos dois ocorreu renunciar a seus cargos para que não sofressem a tentação de usar seu poder para interferir no processo, como já ficou claro no caso de Cunha. Renan, desta vez, tentou manobrar para que fosse secreta a votação do Senado que decidiria sobre a manutenção da prisão de Delcídio, na presunção de que assim os pares do petista o livrariam, criando uma blindagem para os demais senadores – a começar por ele próprio. Temerosos da opinião pública, os senadores decidiram votar às claras e manter Delcídio preso.


Enquanto isso, o PT, com rapidez inaudita, procurou desvincular-se de Delcídio, dizendo que o partido “não se julga obrigado a qualquer gesto de solidariedade”, já que o senador, segundo a direção petista, agiu apenas em favor de si próprio. Se Delcídio tivesse cometido seus crimes para abastecer os cofres do PT, seria mais um dos “guerreiros do povo brasileiro”, como os membros da cúpula do partido que foram condenados no mensalão e no petrolão.


O PT e o governo não enganam ninguém ao tentar jogar Delcídio aos leões. O senador era um dos principais quadros do partido, era líder do governo no Senado e um dos parlamentares mais próximos da presidente Dilma Rousseff e de Lula. Sua prisão expõe a putrefação da política proporcionada pelo modo petista de governar.


Também ninguém melhor do que a ministra Cármen Lúcia, que resumiu a frustração dos brasileiros de bem, para traçar o limite de desfaçatez e advertir a canalha que se adonou da coisa pública sobre as consequências de seus crimes: “O crime não vencerá a Justiça” e os “navegantes dessas águas turvas de corrupção e das iniquidades” não passarão “a navalha da desfaçatez e da confusão entre imunidade, impunidade e corrupção”. É um chamamento para que os brasileiros honestos não aceitem mais passivamente as imposturas dos ferrabrases que criaram as condições para que se erigisse aqui uma desavergonhada república de bandidos.

27 de novembro de 2015


Advogado preso procurou oposição para negociar delação de Cerveró



Edson Ribeiro (Foto: Reprodução/Rede Globo)


O advogado Edson Ribeiro, preso agora há pouco na Operação Lava Jato, chegou a propor, em março de 2014, para integrantes da oposição, uma delação premiada do ex-diretor da área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró no auge do escândalo da compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos.

Edson Ribeiro chegou a afirmar a integrantes do PSDB que Nestor Cerveró iria desmentir as declarações da presidente Dilma Rousseff de que teria se baseado em um parecer técnico falho para aprovar a compra da refinaria, que deu prejuízo à Petrobras de cerca de R$ 800 milhões, segundo o Tribunal de Contas da União (TCU). Quando a compra foi autorizada, Dilma era a presidente do Conselho de Administração da Petrobras.

Dois meses depois, em depoimento à CPI mista da Petrobras, que funcionava na ocasião, Cerveró mudou sua versão evitando o embate direto com a presidente Dilma. Na ocasião, o senador Delcídio do Amaral, também preso pela PF, foi acionado para monitorar de perto o ex-diretor da Petrobras, a quem chamava de "Nestor".

Cerveró chegou a fazer media training bancado pela Petrobras para adequar o seu depoimento à versão do Palácio do Planalto.

Ao Blog, o deputado Antônio Imbassahy (BA), que era líder do PSDB no ano passado, confirmou que foi procurado por Edson Ribeiro em março de 2014 com a proposta de uma delação premiada de Cerveró que contestaria as afirmações da presidente Dilma Rousseff.

Veja no vídeo o relato de Imbassahy feito ao Blog


                        27/11/2015

Ação de Delcídio é a prova de que a compra da refinaria de Pasadena foi uma grossa sem-vergonhice


DELCIDIO
Se o senador, que era pouco mais do que zé-mané em 2006, levou US$ 1,5 milhão em propina, quanto se pagou a quem realmente decidia?



Nós, da imprensa, estamos dando pouco destaque a uma questão da maior relevância. Querem ver?

Por que é que um senador então respeitado, como Delcídio do Amaral, com trânsito no PT e na oposição, líder do governo no Senado, paparicado pela imprensa — e, de fato, ele sempre foi um homem cordial —, se mete a planejar uma operação da pesada, criminosa (e não é coisa leve), arriscando-se a ser, como foi, desmoralizado?

Bem, é a lógica dos apostadores, não é? Jogou alto porque o prêmio era grande. Ou, vá lá, é a lógica dos apostadores no lado escuro da sorte: jogou alto porque, a verdade vindo à tona, ele teria muito a perder.

O que pesava contra Delcídio, então?
A acusação de Fernando Baiano, segundo a qual ele levara entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão de propina na compra, pela Petrobras, da refinaria de Pasadena.


Era só Fernando Baiano falando? Pois é… Ocorre que Nestor Cerveró, o homem que comandou a compra da sucata de Pasadena, estava fechando o seu acordo de delação premiada. E Delcídio viu o perigo crescer à sua frente — daí a necessidade de tirar do Brasil o “Nestor”, como ele chama, cheio de intimidade, o ex-diretor da Petrobras.

Vamos ser claros? Se alguém ainda tinha alguma dúvida de que a compra da refinaria de Pasadena foi, independentemente de qualquer outra coisa, um escândalo monumental, agora não precisa ter mais. Vamos ser ainda mais claros? Vocês acham que Delcídio iria se meter nesse pântano se Baiano estivesse mentindo?

E agora entro na segunda questão relevante. Ora, quem era Delcídio, na ordem das coisas, quando a primeira metade de Pasadena foi comprada, em 2006? Um mero senador em busca de expressão. Disputou o governo do Mato Grosso do Sul naquele ano e perdeu. A propina teria servido para financiar sua campanha, diga-se.

Se Delcídio, que era quase nada, recebeu US$ 1,5 milhão de propina, quanto terá recebido quem realmente comandava a sem-vergonhice? Só para lembrar números: em 2005, os belgas da Astra Oil compraram a refinaria inteira por US$ 42,5 milhões. No ano seguinte, venderam 50% à Petrobras por US$ 360 milhões — US$ 170 milhões diziam respeito a estoque de petróleo. Mesmo assim, os belgas transformaram, então, em um ano, US$ 21,25 milhões em US$ 190 milhões.

Petrobras e Astra Oil se desentenderam. Dadas as cláusulas do contrato, numa negociação conduzida por Cerveró, a estatal brasileira foi obrigada a comprar os outros 50% da refinaria. Tentou resistir e recorreu à Justiça americana. Perdeu. Em 2012, teve de pagar mais US$ 820,5 milhões pelos 50% restantes da sucata. A presidente do Conselho, em 2006, era a senhora Dilma Rousseff. Em 2012, ela já presidia a República.

Os números são tão chocantes, tão estupefacientes, tão absurdos que parecia mesmo impossível não ter havido safadeza da pesada. Mesmo assim, um petista que ainda flana por aí, como José Sérgio Gabrielli, então presidente da Petrobras quando se fez o negócio, defende a compra. Aqui e ali se dizia: “Só pode ter havido corrupção…”.

Pois e… O que o caso Delcídio demonstra? Que foi corrupção da pesada! Se até ele, que não passava à época de um quase zé-mané, levou entre US$ 1 milhão e US$ 1,5 milhão em propina, a gente pode imaginar o que foi aquilo.

“Ah, quem diz que ele levou foi Fernando Baiano… Dá para acreditar?” Bem, ainda que eu tivesse um fio de desconfiança, ele teria acabado. Afinal, a gravação flagra um Delcídio do Amaral tentando organizar o roteiro de fuga de um prisioneiro para tentar se livrar de um homem que também o incriminava e que comandou a compra da refinaria.

Essa é ainda uma história muito mal contada.

27/11/2015

quinta-feira, 26 de novembro de 2015

Prisão de Delcídio abre precedente que pode se repetir com Cunha, dizem analistas



Reuters
Senador foi primeiro senador preso em exercício do mandato

Mariana Schreiber
Da BBC Brasil em Brasília

A prisão do senador Delcídio Amaral (PT-MS), líder do governo no Senado, na manhã desta quarta-feira, tem potencial para causar grandes estragos tanto no governo Dilma Rousseff como no Congresso Nacional, avaliam cientistas políticos.

Para analistas ouvidos pela BBC Brasil, a detenção inédita de um senador em exercício do seu mandato coloca pressão sobre os demais congressistas, principalmente o presidente da Câmara dos Deputados, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), também investigado por suposto envolvimento no esquema de corrupção da Petrobras.

Delcídio foi preso por tentar atrapalhar investigações da operação Lava Jato. No caso de Cunha, desde julho cogita-se que a Procuradoria-Geral da República (PGR) poderia solicitar ao Supremo Tribunal Federal (STF) seu afastamento da presidência da Câmara por supostas tentativas de usar seu cargo para dificultar apurações contra ele.


Parlamentares de oposição também cogitam fazer esse pedido ao STF depois de Cunha ter agido na semana passada para suspender uma sessão do Conselho de Ética que analisaria a possibilidade de abertura de um processo de cassação contra ele – a decisão ficou para a próxima terça.

Na ocasião, Cunha afirmou que não houve "qualquer tipo de manobra" em relação à sessão do conselho.

Algumas dezenas de parlamentares são alvo da Lava Jato – a PGR não soube informar exatamente quantos.
AFP
Para analistas, pressão sobre Cunha aumenta

"Cria um precedente que leva intranquilidade a todos os congressistas supostamente envolvidos nessas denúncias recentes, com destaque para a Cunha", afirma o professor da UnB David Fleischer, avaliando que a ação do presidente da Câmara pode ser enxergada como manipulação para evitar a própria cassação.

"A partir daí, por exemplo, o próprio presidente da Câmara poderia ser preso também se fosse configurado o fato de ele estar obstruindo investigação", acredita também Antônio Lavareda, professor da Universidade Federal de Pernambuco (UFPE).


Baque para governo

Por outro lado, a prisão de Delcídio representa um baque para o Planalto, não só porque traz mais holofotes sobre denúncias de corrupção envolvendo o PT, mas também por atingir o principal articulador político do governo hoje no Congresso.

Antes de se filiar ao PT, Delcídio assumiu a diretoria de Gás e Energia da Petrobras durante o governo Fernando Henrique Cardoso, entre 2000 e 2001. Depois, aceitou convite para assumir o cargo de Secretário de Estado de Infraestrutura e Habitação no governo de Zeca do PT, em 2001. Em seguida, foi eleito em 2002 senador pelo PT.

Ag Camara
Diversos congressistas são investigados pela operação Lava Jato


“É mais uma coisa bastante negativa para o governo Dilma, porque ele era líder do governo no Senado. Mas não só por isso, com certeza não há ninguém no PT com tanto trânsito na oposição - sobretudo no PSDB - quanto o senador Delcídio, que é considerado por todos uma figura afável, equilibrada. Com certeza, inclusive, a oposição não está comemorando essa prisão", disse Lavareda.



“Ele era tido como o senador cabeça fria, ponderado, que conseguia conversar com a oposição. Não era um radical como o Sibá (Machado, líder do governo na Câmara), que não consegue conversar com ninguém. É um baque para o governo, realmente", diz Fleischer.

Detalhes da prisão

A prisão de Delcídio foi autorizada pelo STF – como ele tem foro privilegiado, a PGR só poderia detê-lo com autorização da corte.

Delcídio é suspeito de envolvimento em irregularidades na compra da refinaria de Pasadena, nos Estados Unidos. Ainda não foram divulgados oficialmente detalhes sobre o que motivou sua prisão, mas, de acordo com a imprensa brasileira, o líder do governo foi detido porque teria tentado dificultar a delação premiada do ex-diretor da área internacional da Petrobras Nestor Cerveró.

Segundo a colunista Mônica Bergamo, do jornal Folha de S.Paulo, Delcídio teria sugerido a Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras, uma fuga de avião para Madri via Paraguai. Como Cerveró tem cidadania espanhola, acrescenta a colunista, teria facilidade de entrar e se instalar no país.

Também foi emitido um mandado contra o advogado Edson Ribeiro, que atuou para o ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró.

Ribeiro teria participado da reunião entre Delcídio e Bernardo. Já o banqueiro Andre Esteves – também detido nesta manhã–, do BTG/Pactual, seria o avalista da operação, informa Bergamo.

A prova da tentativa de obstrução da investigação seria uma gravação feita pelo filho de Cerveró do encontro em que foi exposto o plano de fuga, na tentativa de impedir que o ex-diretor da estatal fizesse acordo de delação.

Outro delator do esquema, o lobista conhecido como Fernando Baiano, disse em depoimento em outubro que Delcídio recebeu US$ 1,5 milhão de dólares de propina pela compra da refinaria.

Delcídio afirmou, na ocasião, que a citação do seu nome era "lamentável" e negou o recebimento de propina.

25 novembro 2015

quarta-feira, 25 de novembro de 2015

Por que o PT não prestou solidariedade a Delcídio



O senador Delcídio Amaral (PT)(VEJA.com/Folhapress)

Quando o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB-AL), chamou de "covarde" a nota assinada pela direção do Partido dos Trabalhadores que rifa o primeiro senador preso com mandato, Delcídio do Amaral (PT-MS), engana-se quem pensa que se tratava de um mero gesto de corporativismo e amizade. Renan, um dos mais hábeis moradores do Salão Azul da República, sabe como ninguém que Delcídio nunca foi bem visto por uma ala do PT - apesar dos muitos préstimos recentes.

Não era raro ser chamado de "tucano do PT" ou (pelos mais maldosos) de "tucano infiltrado no PT" em reuniões da sigla. Correntes petistas nunca aceitaram sua atuação na CPI dos Correios, que investigou o mensalão, e outros já torciam o nariz antes dela, dada sua filiação pregressa ao PSDB.

A frase mais repetida hoje enquanto o plenário decidia mantê-lo na cadeia foi: "O PT nunca gostou dele". Tão logo o áudio da conversa criminosa envolvendo Delcídio foi divulgado (em primeira mão pelo Radar On-line), o presidente do PT e lulista de carteirinha, Rui Falcão, não pensou duas vezes em escrever que o partido não prestaria solidariedade ao colega -- embora o PT nunca tenha demonstrado vergonha em defender corruptos como Delúbio Soares, José Dirceu e José Vaccari.

Foi também um recado do PT lulista ao Palácio do Planalto: Delcídio era líder de Dilma Rousseff. O problema é dela.

(Silvio Navarro, de São Paulo)

25/11/2015

Em votação aberta, Senado decide manter líder de Dilma na cadeia


Rifado pelo PT e pelo Planalto, Delcídio do Amaral não contou também com o corporativismo da Casa: diante do rolo compressor da Lava Jato, o Senado optou pela transparência

Por Laryssa Borges e Marcela Mattos
Veja.com de Brasília
Sessão deliberativa extraordinária no Senado decide sobre a manutenção da prisão do senador Delcídio Amaral (PT- MS), em Brasília, nesta quarta-feira (25). Delcídio foi detido nesta manhã pela Polícia Federal em ação da Operação Lava Jato
(Wilson Dias/Agência Brasil)

Os avanços da Operação Lava Jato se sobrepuseram ao corporativismo histórico do Senado nesta quarta-feira. Em votação aberta, os parlamentares decidiram por 59 votos a 13, e uma abstenção, manter na cadeia o senador Delcídio do Amaral (PT-MS), líder de Dilma na Casa. Num ano em que os brasileiros saíram às ruas para protestar, o Senado deixou claro: está assustado. E motivos não faltam: além da cobrança das ruas, os parlamentares são assombrados pelo rolo compressor da Lava Jato e pelo claro recado do Supremo Tribunal Federal (STF) ao validar a decisão que levou Delcídio para a prisão - ninguém está acima da lei.

Com a decisão, os senadores se livraram de abraçar uma constrangedora autopreservação mesmo diante de revelações arrebatadoras. Constrangimento, aliás, foi a palavra mais repetida nos discursos em plenário na histórica votação desta noite, em que os parlamentares se obrigaram a prestar publicamente contas ao eleitorado - e complicaram a vida dos que apostam no "escárnio", como bem definiu no julgamento desta manhã a ministra do STF Cármen Lúcia.

Desde 6 de março, quando o ministro Teori Zavascki, que relata os processos do petrolão no STF, confirmou o arquivamento de um inquérito contra o senador petista por falta de provas, uma avalanche de evidências contra o parlamentar foi colhida pelo Ministério Público. Delcídio foi citado por delatores como Fernando Baiano e Nestor Cerveró como beneficiário de propina em transações como a desastrosa compra da refinaria de Pasadena, no Texas. Hoje, a Polícia Federal bateu à sua porta diante de acusações aterradoras: ele trabalhava para melar o andamento das investigações sobre petrolão. Prometeu uma generosa mesada a familiares de Cerveró em troca do silêncio do ex-diretor da Petrobras. Articulou pagamento milionário ao próprio advogado para trair o cliente e evitar uma delação. E foi pego em gravações explícitas de traficâncias contra a Lava Jato. Prontamente, o Palácio do Planalto e o Partido dos Trabalhadores rifaram o senador que aceitou ser líder do governo quando ninguém mais topou fazê-lo.

Os sinais de que os senadores não pretendiam encampar um histórico desgaste contra a decisão unânime da 2ª Turma do Supremo ficou evidenciada nos expressivos 52 apoios à votação aberta sobre o caso Delcídio. Houve um evento facilitador para que defensores da votação às escuras não precisassem se expor publicamente: instantes antes da decisão, o ministro Edson Fachin afirmou que o destino do líder do governo no Senado deveria, sim, ser tomada por voto aberto.

Momentos antes, o presidente do Senado Renan Calheiros (PMDB-AL), ele próprio um dos investigados no petrolão, ainda defendeu publicamente a votação fechada e arriscou, em vão, uma tese jurídica que poderia livrar Delcídio: a de que a prisão não foi por crime em flagrante. Pela decisão tomada em plenário, não resta dúvida de que o voto de Cármen Lúcia ecoou nos corredores do Congresso: "Criminosos não passarão sobre novas esperanças do povo brasileiro".


25/11/2015

Janot fala em ‘componente diabólico’ para travar Lava Jato


Procurador-geral da República destacou a atuação do chefe de gabinete de Delcídio do Amaral, que tentou destruir as gravações feitas por Bernardo Cerveró, filho do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró


Por Laryssa Borges, de Brasília
Veja.com

Procurador-geral da República,
Rodrigo Janot

(Fellipe Sampaio/SCO/STF/Divulgação)

O procurador-geral da República, Rodrigo Janot, disse, ao pedir ao Supremo Tribunal Federal (STF) a prisão cautelar do líder do governo no Senado Delcídio Amaral (PT-MS), que a atuação do parlamentar, do banqueiro André Esteves, do BTG Pactual, e do advogado Edson Ribeiro para inviabilizar o acordo de delação premiada do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró revela um "componente diabólico" para tentar travar as investigações da Operação Lava Jato. Sucessivas reuniões gravadas pelo filho de Cerveró, Bernardo, mostram a atuação de Delcídio, do chefe de gabinete Diogo Ferreira, do advogado Edson Ribeiro e a invocação do nome de Esteves para impedir a delação de Cerveró.

Em troca do silêncio do ex-dirigente da Petrobras, a família de Cerveró receberia uma mesada de 50.000 reais. Se a delação fosse assinada, como acabou ocorrendo, a negociação era para que os nomes de Delcídio Amaral e André Esteves não fossem citados pelo delator. "Há aí componente diabólico de embaraço à investigação: ultimado o acordo financeiro, Nestor Cerveró passaria a enfrentar dificuldades praticamente intransponíveis para conciliar-se com a verdade. Seu silêncio compraria o sustento de sua família, em evocação eloquente de práticas tipicamente mafiosas", disse Janot. "Ficaria preservado, assim, à guisa de chantagem continuada, o silêncio de Nestor Cerveró, que passaria a enfrentar dificuldades praticamente intransponíveis para conciliar-se com a verdade. Seu silêncio compraria o sustento de sua família, em evocação eloquente de práticas tipicamente mafiosas", completou ele.

O chefe do Ministério Público detalha ainda a atuação de Diogo Ferreira, chefe de gabinete de Delcídio, que chegou a desconfiar de um "chaveiro-gravador" usado pelo filho de Cerveró para monitorar as rodadas de negociatas e, por precaução, tomou a iniciativa para evitar que fossem produzidas provas contra o senador. Quando suspeitou da presença do "chaveiro-gravador" em uma das reuniões que discutiam como embarreirar a delação de Cerveró, Diogo aumentou o volume de uma televisão próxima. Gravadores reservas, porém, estavam acionados para registrar a atuação do grupo.

"É induvidoso que Diogo Ferreira agiu para tentar neutralizar a possibilidade de Bernardo Cerveró gravar a conversa. Esse padrão de conduta mostra com clareza, por sua vez, que Diogo Ferreira está disposto a proteger o Senador Delcídio Amaral independentemente da coloração de sua conduta, inclusive tomando a iniciativa de evitar a produção de provas em desfavor do congressista", relatou Janot. "É um comportamento - digno de um integrante de máfia - de Diogo Ferreira", disse.

Na avaliação do Ministério Público, Delcídio Amaral atuou de forma "espúria" por ter interesse pessoal e específico em embaraçar a Operação Lava Jato. "Isso sinaliza, por sua vez, que o senador Delcídio Amaral, atual líder do governo no Senado, não medirá esforços para embaraçar o desenvolvimento das investigações encartadas na Operação Lava Jato. Ele deixa transparecer que explorará o prestígio do cargo que ocupa para exercer influência sobre altas autoridades da República", disse Rodrigo Janot, que ainda condena a atuação de Delcídio como um dos mentores de uma possível fuga de Cerveró.

O líder do governo no Senado, preso cautelarmente na manhã desta quarta-feira por ordem do Supremo Tribunal Federal (STF), prometeu atuar junto à Corte e aos peemedebistas Michel Temer e Renan Calheiros para que o ex-diretor da Área Internacional da Petrobras Nestor Cerveró fosse colocado em liberdade. Cerveró, que foi indicado pelo próprio Delcídio para o cargo de cúpula na petroleira, está preso desde o início do ano por suspeitas de receber propina e atuar em fraudes em contratos na estatal.

Segundo conversa gravada por Bernardo Cerveró, filho do ex-dirigente da Petrobras, Delcídio disse que ministros do STF poderiam ser influenciados em prol da soltura de Cerveró. Entre eles estariam os ministros Edson Fachin, José Antonio Dias Toffoli, Gilmar Mendes e Teori Zavascki. Na conversa, o senador também prometeu influência do vice Michel Temer e de Renan Calheiros em benefício do ex-diretor da Petrobras.

25/11/2015




O que pesa contra Delcídio Amaral e outros presos



Gravações

Foto: Ailton de Freitas / Agência O Globo

O filho de Nestor Cerveró, Bernardo Cerveró, gravou duas reuniões em que Delcídio, o advogado Edson Ribeiro e o banqueiro André Esteves negociavam pagamento de propina à família e ao advogado do ex-diretor da Petrobras em troca de ele não assinar acordo de delação premiada. Ou, se assinasse, que não mencionasse nada contra Delcídio ou Esteves

Depoimentos

Foto: Jorge William / Agência O Globo

Bernardo Cerveró confirmou ao Ministério Público Federal a tentativa de Delcídio de silenciar Nestor Cerveró mediante pagamento de propina.

“Venda” de ministros

Foto: STF

Nas reuniões com o advogado de Cerveró, Delcídio prometeu que conseguiria um habeas corpus no STF para libertar seu cliente. Ele disse que conversou com Dias Toffoli e com Teori Zavascki. Prometeu conversar também com Fachin. E disse que convenceria Michel Temer e Renan Calheiros a interceder por Cerveró perante Gilmar Mendes.
Fuga pelo Paraguai

Foto: André Coelho / Agência O Globo

Também nas reuniões, Delcídio ajudou a montar a rota de uma eventual fuga de Cerveró, caso ele conseguisse habeas corpus no STF. A ideia era mandá-lo para a Espanha, porque ele tem cidadania espanhola. A rota seria pelo Paraguai – porque, segundo o senador, seria mais seguro.

Organização criminosa

Foto: André Coelho / Agência O Globo

Pela Constituição Federal, um parlamentar só pode ser preso depois de condenado em sentença definitiva. A exceção é para crimes inafiançáveis cometidos em flagrante. O caso se aplica para a suspeita de que Delcídio integrava organização criminosa, prática prevista em lei.

O que pesa contra André Esteves

Foto: Pablo Jacob/10-12-2013 / O Globo

O dono do banco BTG-Pactual teria pago R$ 50 mil ao filho de Nestor Cerveró, em troca de seu pai não mencionar seu nome em delação premiada. Prometeu ainda pagar R$ 4 milhões ao advogado de Cerveró e também mesada de R$ 50 mil a outros integrantes da família Cerveró em troca do silêncio.

O que pesa contra Edson Ribeiro

Foto: André Coelho / Agência O Globo

O advogado do ex-diretor da Petrobras Nestor Cerveró teria sido contratado por R$ 4 milhões para defendê-lo. No entanto, acabou cooptado por Delcídio Amaral e André Esteves, que prometeram a ele o pagamento de outros R$ 4 milhões. Em troca, precisaria convencer o cliente a não prestar depoimento incriminando a dupla.

O que pesa contra Diogo Ferreira

Foto: Givaldo Barbosa / Agência O Globo/20-03-2014

O chefe de gabinete de Delídio Amaral teria defendido os interesses do parlamentar em reuniões nas quais era discutido o pagamento de propina a familiares de Cerveró em troca do silêncio do depoente. Ferreira também teria participado de reuniões para tratar de eventual fuga de Cerveró para a Espanha, caso o STF concedesse a ele um habeas corpus.

25.11.2015