Denunciado pela prática dos crimes de
lavagem de dinheiro, fraude em licitações e corrupção ativa, o
presidente da OAS planejava inicialmente passar as festas de fim de ano
na Europa. Quando veio a prisão chegou a comentar com parentes e
advogados que certamente não poderia deixar o País e que passaria as
festas em sua casa de quatro dormitórios, localizada em um condomínio de
luxo em Maresias, no litoral norte de São Paulo. Jamais imaginou que
passaria Natal e Réveillon calçando um chinelo de dedos e comendo
marmitex. “Ele já estava bastante abalado e queria contar tudo o que
sabe. Agora está muito pior”, disse o parente de um dos presos que
esteve na Superintendência da PF de Curitiba na semana passada.
Delegados e procuradores da Operação Lava Jato ouvidos por ISTOÉ na
quinta-feira 18 avaliam que, caso Léo Pinheiro resolva trilhar o caminho
da delação premiada, as investigações poderão avançar para além dos
limites da Petrobras e chegar aos principais fundos de pensão do Brasil.
Advogados avaliam que só em fevereiro, depois do recesso judicial, alguns recursos poderão ser julgados
Ao contrário dos presos que costumam
frequentar o sistema penitenciário nacional, os executivos e diretores
das principais empreiteiras do Brasil que estão encarcerados na PF de
Curitiba não precisam usar uniformes. Mas não podem usar cintos nem
cadarço nos sapatos. Anéis e relógios caríssimos tiveram de ser deixados
com os carcereiros e as conversas com as visitas que recebem
semanalmente só podem ser feitas no mesmo parlatório onde recebem as
orientações dos advogados. Durante o dia, eles podem se deslocar ao
pátio externo em duas turmas distintas. Uma entre as 8h e as 10h e, a
outra, entre 10h e meio-dia. Podem, porém, circular livremente entre as
celas e a pequena área que chamam de lounge. Nas duas últimas semanas,
no entanto, o vice-presidente da Mendes Júnior, Sérgio Mendes, raramente
tem sido visto nas áreas comuns da carceragem, segundos advogados
ouvidos por ISTOÉ.
De acordo com o relato feito por alguns presos a seus familiares, Sérgio
Mendes tem se isolado dos demais e com frequência tem sido flagrado
chorando em um canto de sua cela. “Hoje, ele (Sérgio Mendes) é um homem
completamente diferente daquele que chegou em novembro. Nos primeiros
dias de prisão, Sérgio Mendes passou uma imagem de arrogante”, lembra um
dos advogados dos empreiteiros. “Chegou a Curitiba em um jatinho
particular e parecia ter a convicção de que seria libertado em poucos
dias.” Depois de uma semana preso, Sérgio Mendes passou a cogitar aderir
à delação premiada, mas foi convencido por advogados a prestar um
depoimento colocando-se como vítima de extorsão de políticos e
ex-diretores da Petrobras. Admitiu ter pago R$ 8 milhões ao doleiro
Alberto Youssef e afirmou que o ex-diretor da estatal Paulo Roberto
Costa teria ameaçado cortar os pagamentos devidos à Mendes Júnior caso a
propina não fosse paga.
Logo depois de prestar o depoimento, pediu à
Justiça que fosse revista sua prisão. Mas em 1º de dezembro o juiz
Sérgio Moro negou seu pedido. “Desde que percebeu o fracasso da
estratégia de defesa, Sérgio Mendes vem se deprimindo a cada dia”,
afirma um advogado. “Ele cogitou várias vezes estar sendo pressionado
pela família a fazer a delação premiada e já pediu a amigos para
procurarem um especialista para tratar dessa questão”, concluiu o
advogado.
Apontado como o líder do clube dos
empreiteiros, o presidente da UTC, Ricardo Pessoa, é um dos mais
abalados emocionalmente. Como não pode fumar nas dependências da
Superintendência da PF, ele tem aumentado a cada dia a carga de adesivos
usados para tentar substituir a nicotina. Baiano e tido como
falastrão, até ser preso Pessoa planejava passar Natal e Réveillon em
Nova York. Ele costumava comentar com amigos suas façanhas financeiras.
O
executivo assumiu o comando da empresa em 1997 e logo mudou-se para São
Paulo onde passou a residir em uma cobertura com 600 metros quadrados
nos Jardins. Em abril, um mês depois de deflagrada a Operação Lava Jato,
Pessoa investiu R$ 1,5 milhão na compra de dois imóveis comerciais. Na
cadeia, segundo advogados e membros da Lava-Jato, o diretor da UTC foi
um dos primeiros a sinalizar com a possibilidade de um acordo em troca
da liberdade.
Na sexta-feira 19, havia boatos de que tanto ele quanto
Léo Pinheiro haviam acertado os termos da delação. Advogados ouvidos por
ISTOÉ não confirmaram a informação, mas nos depoimentos que Pessoa
prestou à Polícia Federal ele envolveu os nomes de líderes da oposição
nos escândalos investigados e admitiu a formação de cartel para lesar os
cofres da maior estatal do País. Duas das exigências defendidas pelo
procurador-geral da República para a delação premiada.
Assim como aconteceu com seus colegas de
cadeia, Pessoa vem se mostrando extremamente depressivo desde que o
ministro Teori Zavascki negou o habeas-corpus. “O Ricardo (Pessoa) está a
ponto de explodir. Ele não fala mais com ninguém, chora em todos os
cantos e passa boa parte das noites sem conseguir dormir”, revelou a um
advogado um dos presos que divide a cela com o diretor da UTC. Se
depender das decisões que veem sendo tomadas pela Justiça até agora, não
há por que os executivos e diretores de empreiteiras fazerem qualquer
plano de liberdade antes do Carnaval.
Foto: Zenone Fraissat/Folhapress
23.Dez.14