
Pobres criancinhas!
Esse foi o 21o livramento de cara de Antonio Palocci pelo STF, um recorde de impunidade difícil de ser batido, o que joga o nome do STF na lama comum dos porcos do Senado ou coisa pior.
O que eu acho?
O STF deu um tapa na cara dos francenildos brasileiros, uns 191 milhões deles. Não errei a conta, dos 192 milhões de brasileiros não incluí 1 milhão, onde estão os petralhas e seus apoiadores e admiradores, e eu mesmo, que não sirvo para ser francenildo.
Agora, que não houve surpresas, não houve.
Tudo era esperado.
Afinal, quem é o STF para botar na cadeia ou apenas dar uma pena de trabalhos comunitários a um figurão do governo Lula? Esse foi o 21o livramento de cara de Antonio Palocci pelo STF, um recorde de impunidade difícil de ser batido, o que joga o nome do STF na lama comum dos porcos do Senado ou coisa pior. E quem foi que disse que aquela montanha vaidosa de erudição presta para alguma coisa?
Alguns dizem que Palocci não foi absolvido porque não foi julgado.
Foi absolvição sim, e essa decisão foi muito melhor para a República de Ribeirão Preto. Não há mais sequer o incômodo de continuar pagando advogados com o dinheiro do povo!
O STF se cagou, embora o voto de quatro componentes da sessão de ontem terem sido pela aceitação da denúncia. Os votos vencedores, no entanto, já eram conhecidos - nós sabemos quem são esses ministros.
Eu fico imaginando se fosse o contrário: um ministro tucano, ou outro qualquer, quebrando ou mandando quebrar o sigilo bancário de um do povo, de um francenildo.
Que gritaria!
Ditadura!
Chamem os homens de preto dos Direitos Humanos!
Aqui vale lembrar a que se reduziu a justiça brasileira da era petralha: para os amigos a legalidade; para os inimigos a legitimidade. Ou seja, Hans Kelsen invertido dando de goleada em Carl Schmitt! Foi exatamente esse o voto do Hans Kelsen, o alemão presidente desse tribunalzinho brasileiro.
Perdemos, entretanto, de saber qual seria o voto do Negrão. Incomodado com terríveis dores nas costas, provavelmente oriundas da surra que levou dos capangas do alemão Hans Kelsen, o Negrão ficou de fora. Quem sabe vem uma vingançazinha dos francenildos por aí, já que o negrão é o relator do caso dos mensaleiros, e representante assumido dos francenildos.
Às vezes eu fico otimista, deve ser a hora do almoço em que escrevo - ela sempre me deixa assim -, para acreditar que o "representante do povo" colocado lá pelo Ali Babá vá defender os francenildos da quadrilha dos 40. Vamos ver.
O resultado do prêmio foi o embaixador das FARC no Brasil ter ficado livre para concorrer ao governo de São Paulo, e com chances enormes. A KGBIN a essa altura deve estar preparando um "substancioso" dossiê, tanto quanto foi o voto do Hans Kelsen nacional.
Os tucanos que se cuidem em São Paulo com a República de Ribeirão Preto, e os gaúchos mais ainda, com a República de Santa Maria de Eros Grau, Nelson Jobim, e Tarso Genro, a.k.a, Carl Schmitt.
Da EFE
O presidente da Colômbia, Álvaro Uribe, rejeitou hoje que a União de Nações Sul-americanas (Unasul) convoque o líder dos Estados Unidos, Barack Obama, para falar sobre o acordo militar entre Bogotá e Washington, e negou que o país faça "jogos de hipotéticas guerras com seus vizinhos".
"Não acho que devemos chamar para prestar contas o presidente Obama", afirmou Uribe durante discurso no qual respondeu às duras críticas feitas pelo governante equatoriano, Rafael Correa, que preside este semestre a Unasul, e aos questionamentos de outros líderes do bloco sobre seu pacto com os Estados Unidos.
"Uma coisa é procurar ter o melhor diálogo com os Estados Unidos e outra coisa é chamar Obama para prestar contas sobre este tema", acrescentou.
Uribe respondeu com contundência ao presidente venezuelano, Hugo Chávez, o mais crítico ao acordo militar, que, nos últimos dias, tinha advertido que "ventos de guerra" corriam na região.
O líder colombiano destacou que o relatório militar dos Estados Unidos apresentado hoje na cúpula por Chávez não é uma revelação, mas é "público", e acusou o venezuelano de ameaçar verbalmente a Colômbia.
"Em várias ocasiões o presidente Hugo Chávez expressou que a qualquer momento pega os aviões e que em poucos minutos está na Colômbia. Sofremos permanentes ameaças verbais. Nós jamais fizemos uma ameaça verbal ou de fato", disse Uribe na cúpula extraordinária da Unasul realizada hoje em Bariloche, na Argentina.
Ele acusou o Governo da Venezuela de fazer "uma apologia" de dirigentes das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc), o que considerou um "insulto ao povo colombiano".
Uribe assegurou também que na Venezuela estão dois chefes guerrilheiros: "Ivan Márquez" e "Timochenko", apelido de Luciano Marín Arango e Rodrigo Londoño, respectivamente.
"Rejeitamos a intervenção política que se quer ter na Colômbia", afirmou Uribe.
O presidente também reivindicou ao equatoriano Rafael Correa que "corrija os números" sobre plantações de droga que ofereceu durante seu discurso e outras afirmações.
"Eu não posso aceitar que diga que seu país lida com as Farc", respondeu Uribe ao presidente do Equador.
O presidente rejeitou a proposta do líder da Bolívia, Evo Morales, de assinar uma declaração conjunta de rejeição à instalação de bases estrangeiras na América do Sul, pois isso implicaria a proibição de seu acordo.
"A Colômbia tem armas de guerra, mas quero dizer que a constituição da Colômbia não permite que seu Governo autorize transferência de tropas. Qualquer seja o conteúdo do acordo (com os EUA), a Constituição da Colômbia não pode aceitar trânsito de tropas", ressaltou.
Bariloche (Argentina), 28 ago (EFE).-
por Dylan
Com a morte do senador Edward Kennedy, fechou-se mais um capítulo da dinastia política desta família, marcada pela tragédia e os escândalos, mas mais importante, modelo do idealismo e da concepção do sonho americano.
Todos os irmãos foram expoentes do liberalismo norte-americano, partilharam o mesmo legado: a democracia, inclusive morreram em nome dela.
A ambição política progressista era correspondida com triunfos retumbantes, dados pelas minorias sem voz, pelos imigrantes e injustiçados, no fundo, a possibilidade de todos acreditarem novamente na América, pelas mãos de três grandes estadistas.
Em defesa de José Sarney, Collor mandou Pedro Simon engolir suas palavras. Simon voltou a falar, mas engoliu. Em seco. Depois relatou que teve medo.
O olhar vidrado de Collor lembrou ao senador gaúcho o crime cometido pelo pai dele, Arnon de Mello, que matou um colega no plenário. Simon achou que podia ter o mesmo fim trágico.
Trágico mesmo nessa história é o medo do valente Pedro Simon. Acabaram-se os homens públicos, acabou-se o espírito público. Se um Collor babando de ódio é suficiente para calar um democrata, a democracia será regida pelos psicopatas.
Collor disse a Simon que não se atrevesse a repetir o seu nome, nunca mais. A intimidação fez efeito, e Simon não mais pronunciou o nome do colega.
Se ainda existissem homens públicos, Pedro Simon, ou qualquer outro senador, deveria ter respondido imediatamente a Fernando Collor de Mello (este é o nome dele): o Senado é uma alta representação do povo, os que lá estão têm nomes, e no dia em que algum deles não puder ser pronunciado a democracia terá morrido.
Vamos repetir o nome do senador que não quer ser mencionado, e que foi obedecido por Pedro Simon: Fernando Collor de Mello. É muito importante pronunciar este nome, para que ele não seja esquecido jamais.
Fernando Collor de Mello é o ex-presidente da República que acreditou poder governar na marra, com medidas truculentas como o confisco da poupança dos brasileiros, e que julgou poder usar o mandato popular como instrumento privado em benefício próprio.
Ao lado de seu famoso tesoureiro, Paulo César Farias, condenado por corrupção, Fernando Collor de Mello foi acusado em vários processos de lesar a administração pública, teve que renunciar, e foi condenado no Senado à perda de seus direitos políticos por oito anos.
Collor foi absolvido na Justiça, cumpriu a pena política e conseguiu voltar a se eleger. Estava no seu pleno direito. Era hora dos incomodados se calarem.
Ao entrar no plenário do Senado bufando, tentando intimidar, ameaçando com chantagens e perseguições, este homem está dizendo o seguinte ao país: não quer ser tratado como um democrata, quer ser tratado como bandido.
Entre o medo de Pedro Simon e a apatia da opinião pública, Fernando Collor de Mello (este é o seu nome) saiu de cabeça erguida do Senado. O terror venceu. E no dia seguinte, foi recebido discretamente por ninguém menos que sua santidade, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
O velho, o desclassificado, o inacreditável Collor canta de galo no Senado Federal, e o Brasil assiste. O Brasil é covarde.
É por isso que José Sarney sobe à tribuna e mente à vontade. Não tem problema ele dizer que não tem nada a ver com Agaciel e a farra do tráfico de influência. O Brasil sabe de tudo. Mas a covardia abençoa os cínicos.
Se Collor pode fazer discurso de bandido no Senado e ser recebido em seguida por Lula, por que implicar com as molecagens da família Sarney?
O melhor é ligar a TV e assistir à marmelada no Conselho de Ética com pipoca e Coca-Cola.
PS: O nome do senador impronunciável é Fernando Collor de Mello.
Ação: manifestação pública
Quando: segunda, dia 07 de setembro
Horas: às 14h
Onde: MASP
Mais informações
Ação: manifestação pública
Quando: segunda, dia 07 de setembro
Horas: às 9h
Onde: concentração em frente a Câmara Municipal
Ação: manifestação pública
Quando: segunda, dia 07 de setembro
Horas: às 9h
Onde: rotatória do Bacanga, em frente à Capela de São Pedro
Mais informações
Ação: manifestação pública
Quando: segunda, dia 07 de setembro
Horas: às 16h
Onde: Trapiche da beira-Mar
Mais informações
Ação: manifestação pública
Quando: segunda, dia 07 de setembro
Horas: às 9h
Onde: em frente ao Bob’s na Praia do Canto
Ação: manifestação pública
Quando: segunda, dia 07 de setembro
Horas: às 15h
Onde: Na Praça Universitária
Ação: manifestação pública contra opressão governamental (Roseana e Sarney)
Quando: segunda, dia 07 de setembro
Horas: às 15h
Onde: Concentração em frente a Unidade Integrada Gilza Léda, Bairro Vila Luizão
O que levar: cartazes, bandeiras, apitos, panelas…
Fábio Pozzebom/ABr
Foram cinco votos contra quatro. O Supremo mandou ao arquivo a denúncia que acusava Antonio Palocci de violar o sigilo bancário de Francenildo Costa.
O tribunal livrou também a cara de Marcelo Netto, ex-assessor de imprensa de Palocci. Quanto a Jorge Mattoso, ex-presidente da Caixa Econômica Federal, a denúncia foi convertida em ação penal.
Mattoso será o único a responder por um crime que o Ministério Público diz ter sido cometido em comunhão de propósitos. A decisão empurrou para dentro da história do STF uma página deplorável.
O tribunal tinha diante de si uma peça de aparência hediondamente harmoniosa.
A denúncia tinha cara de crime, corpo de delito, patas de abuso de poder e rabo de desfaçatez. Virou uma mula sem cabeça.
Relator do processo, Gilmar Mendes dividiu o crime da quebra de sigilo em dois:
a invasão da conta e a revelação do conteúdo. Viu evidências de que Mattoso invadiu.
Mas acha que não há provas de que tenha recebido ordens de Palocci.
E quanto à revelação?
Para Gilmar, também neste caso não há evidências nem contra Palocci nem contra Marcelo Netto. Ainda que houvesse, disse que o ex-ministro e o ex-assessor não estavam obrigados por lei a guardar sigilo alheio. Só Mattoso.
Votaram com Gilmar os ministros Eros Grau, Ricardo Levandowiski, Ellen Gracie, Cezar Peluso, que se eximiu de votar quanto a Mattoso e Netto. Divergiram: Cármen Lucia, Carlos Ayres Britto, Marco Aurélio Mello e Celso de Mello.
O inusitado da decisão salta justamente das manifestações dos quatro ministros vencidos. Cármen Lucia entrelaçou datas, horários e gestos. Num dia, 14 de março de 2008, o caseiro Francenildo fala ao Estadão.
No dia seguinte, 15 de março, entra em cena um jardineiro, conhecido de Francenildo. Trabalhava na casa da repórter Helena Chagas, então no Globo. O jardineiro conta a uma dupla de repórteres do jornal que Francenildo recebera um dinheirinho. Compraria uma casa.
A informação chega aos ouvidos do senador Tião Viana (PT-AC). Súbito, Helena Chagas recebe um convite para se encontrar com Palocci. A repórter vai ao ministro. Palocci pergunta se o jardineiro se disporia a depor contra o caseiro. Ela diz que não. A coisa estava pendente de confirmação.
No dia 16 de março, houve, no dizer de Carmen Lucia, “o fato incontroverso”: o sigilo da conta de Francenildo foi quebrado. Naquele dia, às 19h, Palocci se encontra com Jorge Mattoso, presidente da CEF. Deu-se numa reunião ocorrida no Planalto.
Dali, Mattoso retorna à CEF. Às 20h, repasse a um assessor o CPF e o nome do caseiro. Às 20h58, os extratos de Francenildo são arrancados dos computadores da Caixa.
Às 21h15, o assessor de Mattoso entrega a ele um envolope com os dados.
A essa altura, Mattoso já não estava na CEF. Encontrava-se num restaurante de Brasília.
O assessor alcançou-o na mesa do jantar. Palocci toca o telefone para Mattoso. Chama-o à sua casa.
O presidente da CEF chega à residência do ministro ao redor das 23h. Entrega-lhe os extratos. Até aí, tudo reconhecido em depoimentos dos próprios acusados.
“A quem aproveita [o vazamento]?”, perguntou Cármen Lucia.
Interssava a Palocci. Francenildo revelara à CPI dos Bingos que o então czar da economia freqüentava a mansão de lobby dos amigos da província, a “República de Ribeirão Pretro”. Ali, trançavam-se negócios e pernas.
Já vencido pela maioria, Marco Aurélio Mello despejou sobre o plenário a pergunta fatídica: “É proibido o recebimento de denúncia contra o hoje deputado Antonio Palocci?
A resposta é desenganadamente negativa”.
Marco Aurélio esmiuçou a cena que Cármen Lucia começara a esboçar. Ele leu nacos da denúncia. Marcelo Netto, ex-homem de imprensa de Palocci, testemunhara o encontro em que Mattoso entregara os extratos ao chefe.
No dia seguinte, 17 de março, a vida bancária do caseiro escalaria o sítio da revista Época. Os autos informam, relembrou Marco Aurélio, que, antes da veiculação, foram disparados seis telefonemas do aparelho de Netto para a redação de Época.
“A divulgação da notícia com os dados bancários se deu pouco mais de uma hora depois desse último contato”, o ministro enfatizou. A revista, disse o ministro, reconhecera ter manuseado os extratos. Recebera uma cópia dos papéis.
Por meio de perícia, a PF verificara que se tratavam de reproduções dos papéis que Mattoso entregara a Palocci, em versão original, na noite anterior. “Ainda se diz que essa denúncia é inepta!”, admirou-se Marco Aurélio. Para ele, de tão clara, a peça chega a ser “acadêmica”.
Carlos Ayres Britto evocou Ulysses Guimarães, que costumava render homenagens a “Sua Excelência o fato”. “A materialidade dos fatos é vistosa, inescondível”. Lembrou que, nessa fase do processo, bastam os indícios.
“Se precisássemos de provas robustas nesse momento, já teríamos a certeza da condenação dos indiciados. Os indícios me convencem de que a denúncia se impõe como peça robusta, suficiente para a abertura da ação penal”.
Para Ayres Britto, o caso era emblemático: “Envolve um cidadão comum do povo, homem simples. Um homem que teve a coragem de, na CPI dos bingos, revelar o que lhe parecia desvio de comportamento de uma autoridade do primeiro escalão [Palocci]...”
“...E justamente contra esse cidadão comum, simples, corajoso, é que se desencadeou a quebra deo sigilo bancário e o vazamento dos dados. Como se a pessoa pobre, simples, comum, não tivesse o civismo suficente para, sem interesses subalternos, revelar fatos que incumbe às autoridades apurar”.
Desafortunadamente, a denúncia envolvia também personagens que não costumam ser tratadas como pessoas normais. Para o STF, Mattoso agiu só. É como se um anjo da guarda, a serviço de Palocci, tivesse ditado nos seus tímpanos o CPF e o nome de Francenildo.
Depois, a ordem: quebre o sigilo, entregue ao ministro.
Marco Aurélio anteviu o óbvio insinuado nas manifestações dos advogados.
O próximo passo será sustentar a tese de que Mattoso não fez senão cumprir com a sua obrigação.
Mandou verificar uma conta cuja movimentação que parecera atípica.
Horas antes do começo da sessão do Supremo Tribunal Federal que acaba de inocentar Antonio Palocci, o caseiro desempregado Francenildo Costa continuava pouco animado com a ideia de assistir ao julgamento.
Ainda não viu a cor do dinheiro que a Caixa Econômica terá de pagar-lhe pela quebra ilegal do sigilo bancário. Teria de arrumar um terno. E desconfiava de que a coisa iria dar em nada. ”Eles sempre se ajudam”, previu.
Esse ceticismo vem sendo alimentado faz dois anos e meio. Desde março de 2006, quando o crime ocorreu, Francenildo colhe sucessivas evidências de que o Brasil já não se limita a absolver pecadores. Também pune inocentes.
Por ter contado que Palocci aparecia com frequência na mansão suspeitíssima que jurou não conhecer, o caseiro da “República de Ribeirão Preto” perdeu o emprego, o sossego, a mulher e a chance de conseguir trabalho fixo em Brasília.
O culpado ficou dois meses deprimido com a perda do emprego, mas se elegeu deputado e, com a abolvição, poderá escolher entre a volta ao primeiro escalão e a candidatura ao governo de São Paulo. A depressão se foi faz muito tempo.
Convencido pelo advogado, que também lhe emprestou o terno, chegou ao STF nesta quinta-feira disposto a depor. Os ministros negaram-se a saber o que tem a dizer um brasileiro que nunca foi ouvido em qualquer tribunal. Quando entrou no plenário, ficou intrigado com aquelas capas longas e pretas.
Quando a sessão começou, ficou confuso. Nunca ouvira alguém falando juridiquês. Se o advogado não traduzisse o que diziam os doutores, não teria entendido uma vírgula da discurseira.
Caso o intérprete improvisado não tenha censurado especialmente inverossímeis, Francenildo soube que virou réu durante o falatório do advogado José Roberto Batocchio.
Para salvar a pele do cliente, o doutor voltou a lançar suspeitas sobre o dinheiro que a vítima recebeu do pai. E insinuou que, durante algum tempo, a Polïcia Federal esteve por algum tempo sob o comando de um caseiro de alta periculosidade.
Presidente do STF e relator do caso, Gilmar Mendes admitiu que o sigilo foi quebrado. Mas não há provas de que Palocci participou diretamente do crime, decidiu, balizando o caminho que percorreria ─ e que seria seguido por cinco ministros.
Quatro optaram pela sensatez e pela lógica. Se o caseiro não desmentisse o ministro, o estupro não teria ocorrido, certo? Se fossem localizadas irregularidades na conta, Palocci conseguiria desqualificar o testemunho de Francenildo e manter-se no cargo, certo?
Gilmar Mendes acha pouco.
Quer provas.
Ele só aceitaria tocar o caso adiante se Palocci, além de ordenar o estupro, fosse pessoalmente à agência da CEF, obrigasse o gerente a descobrir bandalheiras na conta e entregasse a papelada aos jornalistas amigos.
Como não fez isso, talvez sobre para presidente da CEF, Jorge Mattoso.
Para o caseiro, sobrou de novo.
Sempre sobra.
As legendas exibidas na tela informavam que estava em curso, transmitido ao vivo pela TV Senado, o julgamento da ”Pet 3898 - MPF x Antonio Palocci Filho e outros”. Pet de petição, MPF de Ministério Público Federal. O som e as imagens foram muito além do prometido.
Foram escancarados, nesta quinta-feira, alguns traços perversos da rosto do país: a verborragia, a arrogância, o farisaísmo, a erudição farsesca, o cinismo, a miopia malandra.
Viu-se em sua sórdida inteireza a cara do país que absolve os Paloccis e castiga os Francenildos.
A denúncia apura a suposta prática de quebra de sigilo bancário de Francenildo dos Santos Costa fora dos procedimentos e hipóteses autorizadas em lei, bem como a divulgação de forma indevida aos meios de comunicação desses dados bancários, fato que caracterizaria infração ao disposto no artigo 10 da Lei Complementar nº 105/2001 combinado com o artigo 29 do Código Penal.
Em discussão: Saber se a denúncia é inepta por ausência de justa causa; saber se estão presentes os requisitos para o recebimento da denúncia.
Em instantes, mais detalhes.
Por Reinaldo Azevedo
Eu não tendo a atribuir sentido, sei lá como dizer, “moral” (?) à origem social dos indivíduos.
As pessoas são o que são e, eventualmente, aquilo em que se transformam.
Há os bons e os maus em todos os estratos (com “s” mesmo) sociais. Essa história de santificar os “de baixo” e satanizar os “de cima”, de opor “povo” a “elites”, de distinguir aqueles que são ideologicamente confiáveis dos que são suspeitos, bem, isso tudo é com o PT e com Lula.
Eles transformaram essas distinções em categorias políticas.
Assim, como ignorar a ironia do dia? Na prática, as duas forças que se opõem, hoje, no tribunal são o “pobre”, o “operário” (caseiro), o “ideologicamente puro”, o “homem do povo” Francenildo Costa e o “elitista” Antonio Palocci, ex-ministro de estado, ex-todo-poderoso (e ainda muito poderoso) da República, o enfant gâté do mercado financeiro, um medalhão do partido que organiza a burguesia do capital alheio.
É uma pequena, ou nem tão pequena assim, ironia da história.
O partido que prometia, no que já é um clichê, levar a classe operária ao paraíso terminou, na simbologia da própria legenda, opondo-se a ela num tribunal. E
pelos piores motivos: o “estado burguês”, que era justamente o alvo do “coletivo dos trabalhadores” organizados num partido, foi mobilizado, pelos motivos mais torpes, contra um trabalhador em particular.
O STF aceitará ou não a acusação contra Palocci? Vamos ver. O fato é que ele e seus companheiros participaram da mobilização do Estado contra o indivíduo. Isso é inequívoco. O extrato (este com “x”) bancário que foi entregue ao então ministro, apurou a PF, é o mesmo que foi vazado à imprensa.
Na prática, o humilíssimo Francenildo e o mui poderoso Palocci se confrontam no tribunal.
E isso conta uma boa parte da história moral do PT.