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sábado, 16 de abril de 2011

Filhos do presidente da Caixa veem U2 em camarote do banco

  Mordomia


FERNANDA ODILLA
ANDREZA MATAIS

Os dois filhos do presidente da Caixa Econômica Federal, Jorge Hereda, frequentam um camarote que o banco estatal patrocina no estádio do Morumbi.

Fotos disponibilizadas no site do camarote mostram Juliana e Rafael Hereda ao lado do pai e de amigos em shows do U2, Coldplay, Madonna e jogos do Corinthians.


Reprodução


Jorge Hereda, da Caixa, ao lado dos filhos Rafael e Juliana


Chamado de Sala Raí, o espaço recebeu da Caixa R$ 3,7 milhões nos últimos quatro anos. Segundo a instituição, o objetivo do investimento é promover "ações de relacionamento com seus clientes e empregados".


O camarote tem 64 lugares, dos quais 32 são reservados para convidados do banco. Os frequentadores podem assistir a shows e jogos de futebol com direito a serviço de bufê e traslado.

A Sala Raí foi projetada com 160 m2 pelo arquiteto Ruy Ohtake e é descrita como um "ambiente único com sofisticação e simplicidade".

A Caixa não informa a quem distribui convites.
A assessoria da sala diz que os dados são sigilosos.

Desde 2007, o banco firmou cinco contratos de patrocínio com a Raí Produções e Participações, que administra a marca do ex-jogador, dono do camarote e garoto-propaganda do banco.

De 2008 a 2010, disse ter recebido 670 empregados e 2.722 clientes na Sala Raí.


OUTRO LADO

Rafael Hereda disse que, além de filho do presidente da Caixa, é cliente do banco. Questionado se sentia-se privilegiado por assistir a eventos com convites do banco, disse: "Me sinto, lógico".

Ele disse que vai aos shows e jogos "raramente", mas que não saberia explicar como funciona a distribuição dos ingressos pela CEF.

A Folha encontrou fotos dele em cinco eventos.

Procurada, Juliana não atendeu à reportagem.

A Caixa informou que, no show do U2, o presidente recebeu quatro ingressos como convidado da Raí Promoções.

E que o banco distribuiu dois ingressos para cada "membro da presidência do banco, podendo os mesmos transferi-los para outras pessoas, familiares ou não".

Disse que não informaria quanto o ex-jogador recebeu como garoto-propaganda nem sobre a presença de familiares de Jorge Hereda.

A Sala Raí disse que a Caixa é um entre os patrocinadores e parceiros da sala.



16/04/2011

sexta-feira, 15 de abril de 2011

O Coronel tem que sair…



Michael Kountouris
David Cameron, Nicolas Sarkozy e Barack Obama são os autores de um artigo de opinião no New York Times sobre a Líbia. No referido artigo, os autores afirmam que o Coronel Muammar Khadafi deve abandonar o poder de uma forma definitiva:

[S]o long as Qaddafi is in power, NATO must maintain its operations so that civilians remain protected and the pressure on the regime builds. Then a genuine transition from dictatorship to an inclusive constitutional process can really begin, led by a new generation of leaders. In order for that transition to succeed, Qaddafi must go and go for good. At that point, the United Nations and its members should help the Libyan people as they rebuild where Qaddafi has destroyed — to repair homes and hospitals, to restore basic utilities, and to assist Libyans as they develop the institutions to underpin a prosperous and open society. [...]
Só não dizem é como será a queda do Coronel, como escreve, apontando o óbvio, Greg Scoblete:

[...] Nowhere in the article, however, do they explain how they intend to bring about his downfall. The leaders state that unseating Gaddafi was not the point of the mission, but then declare that the NATO mission will not end unless and until Gaddafi steps aside. So it’s only natural for people to point out that there is a rather glaring mismatch between means and ends here. Why harp on the fact that the goal is Gaddafi’s departure if you’re not going to take the necessary steps to hasten him to the door?

This isn’t simply incoherent, it’s dangerous. It is obviously foolish to try and unseat Gaddafi – the U.S.and NATO are completely unprepared to police and stabilize a post-Gaddafi Libya. But by publicly affirming that the goal is regime change, Western leaders are ultimately committed to doing so down the road.

John Cole, «The Scranton Times-Tribune»

Na Time, Aryn Baker escreve que o verdadeiro problema não é a partida de Muammar Khadafi, mas sim com ele irá sair:

[W]e should be careful about painting the rebels as a purely liberating force. The truth is, the east and west of the country have had bad blood going back decades, so supporting the rise of one group over the other is not necessarily going to lead to a peaceful and prosperous Libya. Tunisia and Egypt were exceptions. As a rule, revolutions are bloody affairs that scar generations. Libya, where arms are plentiful, threatens to become a bloodbath if conflict is not averted. [...]

[...] That Gaddafi must go has been made clear, but how that happens is just as important as the fact that it does happen. External intervention risks leaving a dangerous power vacuum that could be easily exploited by rival groups. An ouster by rebel groups (how ever improbable that sounds now) could lead to a bloody cycle of revenge by alienated tribes and clans. A referendum, if he could be persuaded to accept such a proposal, could lend a sense of national will, but it would be too easy to manipulate in his favor. [...]


Paresh Nath, «The Khaleej Times»

Abril 16, 2011

Governo petista não demite, apenas “diminui” trabalhadores



Os dias realmente são espantosos!



Vocês sabem, né?

Aqueles que o governo considera “inimigos” demitem trabalhadores.

Já quando é o PT que toma as decisões, aí não se tem “demissão”, mas “diminuição” do emprego de mão-de-obra.
É a novilíngua.

Vejam que a palavra “demissão” é escrita uma única vez, mas com a concordância dos sindicatos, claro!

Obras de Jirau e Santo Antônio terão menos trabalhadores, diz ministro

Do Portal G1, com GloboNews:

O ministro do Trabalho, Carlos Lupi, afirmou nesta quinta-feira (14) que as obras das usinas hidrelétricas de Jirau e Santo Antônio, no rio Madeira, em Rondônia, terão menos trabalhadores. O objetivo, segundo o ministro, é ter mais “tranquilidade na execução” das obras. Lupi participou de reunião no Palácio do Planalto, com o secretário-geral da Presidência, Gilberto Carvalho, sobre as condições de trabalho em obras do Programa de Aceleração do Crescimento (PAC).

De acordo com Lupi, foi feito um acordo entre sindicatos e empresas para diminuir o número de operários nas obras. “Nós fizemos um acordo com os sindicatos e as empresas para que se diminuísse esse número de trabalhadores na obra, para que se tivesse mais tranquilidade na execução”, afirmou o ministro. “Não era conveniente e eles [representantes das empresas] entenderam. Jirau tem 25 mil trabalhadores. A obra de Santo Antônio, 18 mil. São verdadeiras cidades que se aglomeraram ali e é difícil administrar este contingente”, disse.

O ministro explicou que as empresas queriam antecipar o cronograma e por isso contrataram muitos trabalhadores, gerando dificuldades na administração da construção das usinas e conflitos nos canteiros de obra. “Tanto Jirau quanto Santo Antônio estavam antecipando o cronograma, estavam querendo entregar as obras com oito meses, um ano de antecedência, e por isso contrataram muitos trabalhadores”.

Lupi afirmou que “muitos dos trabalhadores já voltaram para seus estados de origem. Cerca de oito mil só no caso de Jirau. Muitos deles não querem mais voltar para a obra”. De acordo com o ministro, as empresas concordaram em não antecipar o cronograma. “Eles [empresas] queriam antecipar [o prazo de conclusão] e nós queremos exatamente que se cumpra o cronograma”. O ministro disse ainda que o governo planeja a criação de um marco regulatório para grandes obras.

Ambiente pacificado
As obras das usinas de Santo Antônio e Jirau estavam paralisadas desde março, quando um grupo de operários fez uma série de protestos contra as condições de trabalho e incendiou ônibus e alojamentos. O governo teve que enviar a Força Nacional de Segurança para conter os protestos. Segundo Lupi, após as negociações conduzidas pelo governo, o ambiente nos canteiros de obras das usinas está “pacificado”. Ele disse que os operários retornaram ao trabalho nesta semana. “Todos já estão trabalhando e foi feito um pacto para que qualquer demissão seja feita sempre de acordo com as centrais sindicais”.

14/04/2011

quinta-feira, 14 de abril de 2011

O dilmês é mais complicado que o chinês

Celso Arnaldo captura a presidente com uma trinca de quinta em Pequim e confirma:

o dilmês é mais complicado que o chinês


“Essa resposta eu não respondo”, diz Dilma Rousseff no fim do vídeo que registra os principais momentos da entrevista coletiva concedida em Pequim. “Responder respostas” nem o padrinho Lula consegue. O problema é que a afilhada não consegue responder também a perguntas, como constata o jornalista Celso Arnaldo Araújo em mais uma análise antológica do palavrório presidencial.

Em grande forma, o implacável caçador de cretinices capturou, além de Dilma, a escolta formada por uma trinca de quinta categoria: Aloízio Mercadante, Fernando Pimentel e Edison Lobão. Sozinha, a entrevistada é capaz de deixar pálido de espanto qualquer jornalista. Consultando uma papelada e ouvindo cochichos, ela consegue piorar espetacularmente. O vídeo de 5 minutos adverte: o dilmês é mais complicado que o chinês




POR CELSO ARNALDO ARAÚJO

O maior tesouro arqueológico da China são os Guerreiros de X´ian, o lendário Exército de Terracota — sete mil figuras de soldados e cavalos descobertas e desenterradas em 1974 ao lado do mausoléu do imperador Qin.

Numa mostra de sua força, a imperatriz Dilma compareceu à entrevista coletiva na China com um exército composto pelas três estranhas figuras, misto de guerreiros e cavalgaduras, que lhe fazem guarda, sombra e ponto neste vídeo – o do meio, Magro Velho, parece ser também de terracota, e, pela aparência mumificada, talvez ancestral em relação aos colegas de X´ian. As rachaduras profundas do rosto, porém, sugerem terra de má origem – ou mal cotada pelos empreiteiros da época. Deve ter faltado laca no acabamento. Na entrevista, não diria uma sílaba, não mexeria um músculo. Os outros dois são de materiais mais flexíveis, moldados à semelhança do soberano da ocasião – mas igualmente ordinários no feitio e na importância histórico-arqueológica.

Impassíveis, como obedientes guerreiros de barro tosco, sem vida e sem alma, obrigados pelo destino a permanecer na mesma posição por milhares de anos, percebe-se seu incômodo quase humano ao ouvir a imperatriz se esforçando para descobrir e desenterrar de sua tumba neuronal as palavras com que procura descrever os achados da expedição brasileira à China.

Na vã tentativa de verbalizar raciocínios próprios do crânio pequeno do primeiro hominídeo, o Australopithecus Afarensis, ela busca ajuda na maçaroca de pergaminhos que manipula nervosamente. Nada encontra, nas mãos e na mente. Diante do apuro da imperatriz, os três guerreiros parecem querer vir à vida – como no filme “Uma noite no Museu” – em socorro da soberana. Só um deles – o de óculos, com dentição pré-histórica – materializa o auxílio, na forma de sussurros auriculares, para corrigir, por exemplo, o cargo do presidente Hu Jintao, que a imperatriz chamou de primeiro-ministro. Cavaco Silva e José Sócrates, na viagem a Portugal, não conseguiram lhe explicar a diferença entre um pastel de nata e outro.

Quando a soberana fala da “importância que para nossa parceria têm mecanismos mais amplos dessa parceria”, o guerreiro de bigode de morcego – único de sua dinastia – lança um olhar ao longe, vazio, pura desesperança e desespero. Nada pode fazer. O mesmo ocorre quando vem à tona o “no que se refere a valor agregado”. O trauma do debate da Band, com um saldo de 32 “no que se refere”, ainda estava bem fresco para o Irrevogável de X´ian.

Em seguida, o guerreiro de óculos, situado estrategicamente atrás do ouvido bom da imperatriz, se torna humanoide pelo átimo de tempo necessário para cochichar a palavra “missão” e socorrer a imperatriz com o nome do grupo chinês que vai ao Brasil — e que ela tenta, sem sucesso, por uns bons segundos, cavoucar com as próprias mãos, no próprio cérebro. Missão impossível. Ponto para o guerreiro de óculos. A imperatriz se empolga com a missão, que então ganha significado mais lato, e de lavra própria: “É o que eles chamam de missão de compra e nós também, aquelas missões que você manda aos países para avaliar quais são as oportunidades de importação em setores manufatureiros”.


Seria “exportação”, mas não vem ao caso. Os guerreiros ficam mais aliviados com esse “setores manufatureiros”, que tem toda pinta de tema de palestra na Fiesp. Mas voltam a se angustiar, incontinenti, com o tropeço seguinte da imperatriz técnica: o “relacionalmento” quase faz os três saltarem sobre o corpo da Protegida para resgatá-la, encoberta e muda, de mais um constrangimento internacional. Contêm-se.


E a imperatriz continua compulsando os pergaminhos, obsessivamente. Mal ouve a pergunta de um dos súditos da mídia sobre o câmbio irreal e perigoso ora em vigência. Se ouviu, sua resposta não é deste mundo: “Sabemos perfeitamente o porquê que nós estamos, todos nós sabemos”.

Nem todos, imperatriz: “Nós vamos buscar uma taxa de câmbio, ao longo de meu governo, compatível com as taxas de câmbio, aliás as taxas de juro internacionais. Vamos buscar uma taxa de juro compatível com as taxas de juro internacionais. Eu falei câmbio aí, mas é juros, porque depois cês vão lá e…”

O humor envergonhado da imperatriz faz os três bonecos, ainda perfilados, arriscar um sorriso maroto e devoto, um sorriso de terracota rachada, misturada com pau e lama. Não tinham alternativa – a não ser chorar em silêncio, recolhidos à sua insignificância. Como os guerreiros de X´ian, um dia eles serão recolhidos ao lado da triste imperatriz, no mausoléu da história do Brasil.




Direto ao Ponto

14/04/2011

O dilmês é mais complicado que o chinês

Celso Arnaldo captura a presidente com uma trinca de quinta em Pequim e confirma: o dilmês é mais complicado que o chinês


“Essa resposta eu não respondo”, diz Dilma Rousseff no fim do vídeo que registra os principais momentos da entrevista coletiva concedida em Pequim. “Responder respostas” nem o padrinho Lula consegue. O problema é que a afilhada não consegue responder também a perguntas, como constata o jornalista Celso Arnaldo Araújo em mais uma análise antológica do palavrório presidencial.

Em grande forma, o implacável caçador de cretinices capturou, além de Dilma, a escolta formada por uma trinca de quinta categoria: Aloízio Mercadante, Fernando Pimentel e Edison Lobão. Sozinha, a entrevistada é capaz de deixar pálido de espanto qualquer jornalista. Consultando uma papelada e ouvindo cochichos, ela consegue piorar espetacularmente. O vídeo de 5 minutos adverte: o dilmês é mais complicado que o chinês

POR CELSO ARNALDO ARAÚJO

O maior tesouro arqueológico da China são os Guerreiros de X´ian, o lendário Exército de Terracota — sete mil figuras de soldados e cavalos descobertas e desenterradas em 1974 ao lado do mausoléu do imperador Qin.

Numa mostra de sua força, a imperatriz Dilma compareceu à entrevista coletiva na China com um exército composto pelas três estranhas figuras, misto de guerreiros e cavalgaduras, que lhe fazem guarda, sombra e ponto neste vídeo – o do meio, Magro Velho, parece ser também de terracota, e, pela aparência mumificada, talvez ancestral em relação aos colegas de X´ian. As rachaduras profundas do rosto, porém, sugerem terra de má origem – ou mal cotada pelos empreiteiros da época. Deve ter faltado laca no acabamento. Na entrevista, não diria uma sílaba, não mexeria um músculo. Os outros dois são de materiais mais flexíveis, moldados à semelhança do soberano da ocasião – mas igualmente ordinários no feitio e na importância histórico-arqueológica.

Impassíveis, como obedientes guerreiros de barro tosco, sem vida e sem alma, obrigados pelo destino a permanecer na mesma posição por milhares de anos, percebe-se seu incômodo quase humano ao ouvir a imperatriz se esforçando para descobrir e desenterrar de sua tumba neuronal as palavras com que procura descrever os achados da expedição brasileira à China.

Na vã tentativa de verbalizar raciocínios próprios do crânio pequeno do primeiro hominídeo, o Australopithecus Afarensis, ela busca ajuda na maçaroca de pergaminhos que manipula nervosamente. Nada encontra, nas mãos e na mente. Diante do apuro da imperatriz, os três guerreiros parecem querer vir à vida – como no filme “Uma noite no Museu” – em socorro da soberana. Só um deles – o de óculos, com dentição pré-histórica – materializa o auxílio, na forma de sussurros auriculares, para corrigir, por exemplo, o cargo do presidente Hu Jintao, que a imperatriz chamou de primeiro-ministro. Cavaco Silva e José Sócrates, na viagem a Portugal, não conseguiram lhe explicar a diferença entre um pastel de nata e outro.

Quando a soberana fala da “importância que para nossa parceria têm mecanismos mais amplos dessa parceria”, o guerreiro de bigode de morcego – único de sua dinastia – lança um olhar ao longe, vazio, pura desesperança e desespero. Nada pode fazer. O mesmo ocorre quando vem à tona o “no que se refere a valor agregado”. O trauma do debate da Band, com um saldo de 32 “no que se refere”, ainda estava bem fresco para o Irrevogável de X´ian.

Em seguida, o guerreiro de óculos, situado estrategicamente atrás do ouvido bom da imperatriz, se torna humanoide pelo átimo de tempo necessário para cochichar a palavra “missão” e socorrer a imperatriz com o nome do grupo chinês que vai ao Brasil — e que ela tenta, sem sucesso, por uns bons segundos, cavoucar com as próprias mãos, no próprio cérebro. Missão impossível. Ponto para o guerreiro de óculos. A imperatriz se empolga com a missão, que então ganha significado mais lato, e de lavra própria: “É o que eles chamam de missão de compra e nós também, aquelas missões que você manda aos países para avaliar quais são as oportunidades de importação em setores manufatureiros”.

Seria “exportação”, mas não vem ao caso. Os guerreiros ficam mais aliviados com esse “setores manufatureiros”, que tem toda pinta de tema de palestra na Fiesp. Mas voltam a se angustiar, incontinenti, com o tropeço seguinte da imperatriz técnica: o “relacionalmento” quase faz os três saltarem sobre o corpo da Protegida para resgatá-la, encoberta e muda, de mais um constrangimento internacional. Contêm-se.

E a imperatriz continua compulsando os pergaminhos, obsessivamente. Mal ouve a pergunta de um dos súditos da mídia sobre o câmbio irreal e perigoso ora em vigência. Se ouviu, sua resposta não é deste mundo: “Sabemos perfeitamente o porquê que nós estamos, todos nós sabemos”. Nem todos, imperatriz: “Nós vamos buscar uma taxa de câmbio, ao longo de meu governo, compatível com as taxas de câmbio, aliás as taxas de juro internacionais. Vamos buscar uma taxa de juro compatível com as taxas de juro internacionais. Eu falei câmbio aí, mas é juros, porque depois cês vão lá e…”

O humor envergonhado da imperatriz faz os três bonecos, ainda perfilados, arriscar um sorriso maroto e devoto, um sorriso de terracota rachada, misturada com pau e lama. Não tinham alternativa – a não ser chorar em silêncio, recolhidos à sua insignificância. Como os guerreiros de X´ian, um dia eles serão recolhidos ao lado da triste imperatriz, no mausoléu da história do Brasil.




Direto ao Ponto

14/04/2011

quarta-feira, 13 de abril de 2011

A rebelião no Palácio do Planalto




Os presidentes da Petrobras e do BNDES estão em frontal confronto com o Ministro da Fazenda Guido Mantega

Criticam, desmentem e tripudiam do homem encarregado da política econômica do país, num dos momentos mais delicados da economia brasileira, nos últimos anos.

A presidenta Dilma parece não querer colocar a sua mão nessa cumbuca.
Foto: Arquivo

Os rebelados: o presidente do BNDES, Luciano Coutinho e da Petrobras Sergio Gabrielli. Por trás deles ministros e o presidente do Senado

Tal qual como aconteceram nas ditaduras islâmicas da África, um grupo rebelde instalou-se no Palácio do Planalto. Suas pretensões são modestas, não pretendem derrubar a presidenta Dilma Rousseff, querem apenas a cabeça do ministro da fazenda Guido Mantega, um dos protegidos mais queridos do ex-presidente Lula, tudo como corpo estranho, incomodo e incompetente , pelos novos ocupantes das estatais e alguns ministérios.

Há quem diga que nem Dilma gosta de Mantega e nem da sua forma de conduzir a política econômica. Além das costas quentes de ser um ministro da cota de Lula, a presidenta tem que avaliar que não seria de bom tom, diante da comunidade internacional, uma mexida radical na equipe econômica, há apenas três meses da sua posse.

Estanho porem, é o fato de nos seus primeiros dias de governo, a presidenta não vacilou em desautorizar publicamente alguns ministros que fizeram declarações em desacordo com o seu pensamento, e até agora, não se manifestou de forma contundente diante de um assunto tão relevante.

Não é coisa para amadora, liderar 39 ministros e centenas de presidentes de estatais poderosos, com interesses pessoais bem acima dos nacionais, com ambições políticas locais e nacionais, contas a prestar aos partidos e aos caciques políticos que os colocou no cargo.

O blogueiro da Folha, Josias de Souza, chamou a política econômica da nossa presidenta de “saco de gatos”, e disse que se ela não cuidar de realinhar os ministros, o Palácio do Planalto vai virar “a casa da mãe Joana’.

O grupo de rebeldes centrado em destronar o Ministro Guido Mantega, provavelmente não o fazem por razões republicanas. Querem o cargo para si, ou para algum apadrinhado, mais adequado aos seus interesses. Juntos minam as ações do ministro oriundo do governo Lula, e até convocam empresário a se rebelarem contra a atual política econômica, como se estivessem falando de outro governo.

O porta voz da ala rebelde, até então, tinha sido o presidente do BNDES, Luciano Coutinho, que sem meias palavras costuma confidenciar que não está sozinho na sua sublevação, que desfruta da concordância em divergir dos ministros Fernando Pimentel (Desenvolvimento) e Aloizio Mercadante (Ciência e Tecnologia).

O Brasil e Mantega estão fragilizados no momento: os efeitos colaterais do remédio dado para enfrentar a crise mundial, a famosa “marola de Lula”, mais os gastos descontrolados para exibir um falso cenário de Brasil pujante, para eleger a companheira poste, estão aparecendo agora em forma de inflação, descontrole nas contas públicas e minguados recursos para investimentos.

Portanto não é nada producente e até muito prejudicial à exibição dessa discordância pública aos rumos da condução da economia.

As fala de Luciano Coutinho, presidente do BNDES tem sido inconvenientemente didática e acidamente críticas afirmando por exemplo, “que a pretexto de conter a inflação, Brasília abandonou a ideia de segurar o câmbio. Algo que destrói a industria nacional.”

Apesar das noticia de ter sido admoestado por Dilma, devido às primeiras manifestações, nesta terça (12), Coutinho voltou ao tom orientador critico, ensinando a Mantega, através da mídia que “apesar de ser inevitável que investimentos fluam para uma economia em rápido crescimento como a do Brasil, o governo deveria emitir barreiras mais fortes contra dinheiro especulativo”.

E prosseguiu:

"Temos de selecionar os fluxos de capital benignos que ajudam a desenvolver a economia brasileira das atividades especulativas de curto prazo que, de certa maneira, são prejudiciais já que exageram a tendência de valorização da moeda", disse o rebelado Coutinho.

O real subiu na semana passada para o nível mais alto ante o dólar desde agosto de 2008, depois que o mercado desconsiderou as últimas medidas do governo para taxar investidores que estão lucrando com o juro de dois dígitos do país.

O ministro da Fazenda, Guido Mantega, tem tentado conter a contínua alta do real com uma série de medidas, incluindo impostos sobre empréstimos estrangeiros e outros controles de capitais, mas a ameaça e as novas medidas diluiem-se diante da realidade cambial.

Para infernizar ainda mais a vida de Mantega, na outra ponta do problema, que é sustentar a inflação, outra voz emergiu das trevas: o presidente da Petrobras, José Sergio Gabrielli, ancorado no Ministro das Minas e Energia, Edison Lobão (com o Senador José Sarney, por trás), disse em Pequim que, se os preços do petróleo continuarem no nível atual - e ele acredita que sim- haverá reajuste no preço da gasolina. Coisa que o ministro da fazenda vem dizendo seguidamente que não ocorrerá.

"Se o preço do petróleo ficar nesse nível que está hoje, estável nesse nível, você vai ter de alterar [o preço da gasolina], porque nós estávamos trabalhando com US$ 65 a US$ 85 [o barril]", disse Gabrielli, que integra a comitiva da presidente Dilma Rousseff, em sua viagem a China.

A fala de Gabrielli é irresponsável e danosa, pois, cria uma expectativa inflacionária, fazendo com que os efeitos do aumento, que ainda não ocorreu, comecem a aparecer por antecipação, sem contudo anular os efeitos reais quando a medida por ventura, vier a ser implementada.

O Brasil está pagando um preço muito alto por essa indefinição presidencial. Dilma precisa honrar as calças que veste, tomando uma atitude: ou apóia Mantega e cala a boca dos rebeldes ou manda Mantega passear e enfrenta as conseqüências.

Foto: Arquivo/Flickr


Dilma, cadê você?

O Papel da Oposição


Por Fernando Henrique Cardoso

Há muitos anos, na década de 1970, escrevi um artigo com o título acima no jornal Opinião, que pertencia à chamada imprensa “nanica”, mas era influente. Referia-me ao papel do MDB e das oposições não institucionais. Na época, me parecia ser necessário reforçar a frente única antiautoritária e eu conclamava as esquerdas não armadas, sobretudo as universitárias, a se unirem com um objetivo claro: apoiar a luta do MDB no Congresso e mobilizar a sociedade pela democracia.


Só dez anos depois a sociedade passou a atuar mais diretamente em favor dos objetivos pregados pela oposição, aos quais se somaram também palavras de ordem econômicas, como o fim do “arrocho” salarial.

No entretempo, vivia-se no embalo do crescimento econômico e da aceitação popular dos generais presidentes, sendo que o mais criticado pelas oposições, em função do aumento de práticas repressivas, o general Médici, foi o mais popular: 75% de aprovação.

Não obstante, não desanimávamos. Graças à persistência de algumas vozes, como a de Ulisses Guimarães, às inquietações sociais manifestadas pelas greves do final da década e ao aproveitamento pelos opositores de toda brecha que os atropelos do exercício do governo, ou as dificuldades da economia proporcionaram (como as crises do petróleo, o aumento da dívida externa e a inflação), as oposições não calavam. Em 1974, o MDB até alcançou expressiva vitória eleitoral em pleno regime autoritário.

Por que escrevo isso novamente, 35 anos depois?

Para recordar que cabe às oposições, como é óbvio e quase ridículo de escrever, se oporem ao governo. Mas para tal precisam afirmar posições, pois, se não falam em nome de alguma causa, alguma política e alguns valores, as vozes se perdem no burburinho das maledicências diárias sem chegar aos ouvidos do povo. Todas as vozes se confundem e não faltará quem diga – pois dizem mesmo sem ser certo – que todos, governo e oposição, são farinhas do mesmo saco, no fundo “políticos”. E o que se pode esperar dos políticos, pensa o povo, senão a busca de vantagens pessoais, quando não clientelismo e corrupção?

Diante do autoritarismo era mais fácil fincar estacas em um terreno político e alvejar o outro lado. Na situação presente, as dificuldades são maiores. Isso graças à convergência entre dois processos não totalmente independentes: o “triunfo do capitalismo” entre nós (sob sua forma global, diga-se) e a adesão progressiva – no começo envergonhada e por fim mais deslavada – do petismo lulista à nova ordem e a suas ideologias.

Se a estes processos somarmos o efeito dissolvente que o carisma de Lula produziu nas instituições, as oposições têm de se situar politicamente em um quadro complexo.

Complexidade crescente a partir dos primeiros passos do governo Dilma que, com estilo até agora contrastante com o do antecessor, pode envolver parte das classes médias. Estas, a despeito dos êxitos econômicos e da publicidade desbragada do governo anterior, mantiveram certa reserva diante de Lula. Esta reserva pode diminuir com relação ao governo atual se ele, seja por que razão for, comportar-se de maneira distinta do governo anterior.

É cedo para avaliar a consistência de mudanças no estilo de governar da presidente Dilma. Estamos no início do mandato e os sinais de novos rumos dados até agora são insuficientes para avaliar o percurso futuro.

É preciso refazer caminhos

Antes de especificar estes argumentos, esclareço que a maior complexidade para as oposições se firmarem no quadro atual – comparando com o que ocorreu no regime autoritário, e mesmo com o petismo durante meu governo, pois o PT mantinha uma retórica semianticapitalista – não diminui a importância de fincar a oposição no terreno político e dos valores, para que não se perca no oportunismo nem perca eficácia e sentido, aumentando o desânimo que leva à inação.

É preciso, portanto, refazer caminhos, a começar pelo reconhecimento da derrota: uma oposição que perde três disputas presidenciais não pode se acomodar com a falta de autocrítica e insistir em escusas que jogam a responsabilidade pelos fracassos no terreno “do outro”. Não estou, portanto, utilizando o que disse acima para justificar certa perplexidade das oposições, mas para situar melhor o campo no qual se devem mover.

Se as forças governistas foram capazes de mudar camaleonicamente a ponto de reivindicarem o terem construído a estabilidade financeira e a abertura da economia, formando os “campeões nacionais” – as empresas que se globalizam – isso se deu porque as oposições minimizaram a capacidade de contorcionismo do PT, que começou com a Carta aos Brasileiros de junho de 1994 e se desnudou quando Lula foi simultaneamente ao Fórum Social de Porto Alegre e a Davos.

Era o sinal de “adeus às armas”: socialismo só para enganar trouxas, nacional—desenvolvimentismo só como “etapa”. Uma tendência, contudo, não mudou, a do hegemonismo, ainda assim, aceitando aliados de cabresto.

Segmentos numerosos das oposições de hoje, mesmo no PSDB, aceitaram a modernização representada pelo governo FHC com dor de consciência, pois sentiam bater no coração as mensagens atrasadas do esquerdismo petista ou de sua leniência com o empreguismo estatal.

Não reivindicaram com força, por isso mesmo, os feitos da modernização econômica e do fortalecimento das instituições, fato muito bem exemplificado pela displicência em defender os êxitos da privatização ou as políticas saneadoras, ou de recusar com vigor a mentira repetida de que houve compra de votos pelo governo para a aprovação da emenda da reeleição, ou de denunciar atrasos institucionais, como a perda de autonomia e importância das agências reguladoras.

Da mesma maneira, só para dar mais alguns exemplos, o Proer e o Proes, graças aos quais o sistema financeiro se tornou mais sólido, foram solenemente ignorados, quando não estigmatizados. Os efeitos positivos da quebra dos monopólios, o do petróleo mais que qualquer outro, levando a Petrobras a competir e a atuar como empresa global e não como repartição pública, não foram reivindicados como êxitos do PSDB.

O estupendo sucesso da Vale, da Embraer ou das teles e da Rede Ferroviária sucumbiu no murmúrio maledicente de “privatarias” que não existiram. A política de valorização do salário mínimo, que se iniciou no governo Itamar Franco e se firmou no do PSDB, virou glória do petismo.

As políticas compensatórias iniciadas no governo do PSDB – as bolsas – que o próprio Lula acusava de serem esmolas e quase naufragaram no natimorto Fome Zero – voltaram a brilhar na boca de Lula, pai dos pobres, diante do silêncio da oposição e deslumbramento do país e… do mundo!

Não escrevo isso como lamúria, nem com a vã pretensão de imaginar que é hora de reivindicar feitos do governo peessedebista. Inês é morta, o passado… passou. Nem seria justo dizer que não houve nas oposições quem mencionasse com coragem muito do que fizemos e criticasse o lulismo.

As vozes dos setores mais vigorosos da oposição se estiolaram, entretanto, nos muros do Congresso e este perdeu força política e capacidade de ressonância. Os partidos se transformaram em clubes congressuais, abandonando as ruas; muitos parlamentares trocaram o exercício do poder no Congresso por um prato de lentilhas: a cada nova negociação para assegurar a “governabilidade”, mais vantagens recebem os congressistas e menos força político-transformadora tem o Congresso.

Na medida em que a maioria dos partidos e dos parlamentares foi entrando no jogo de fazer emendas ao orçamento (para beneficiar suas regiões, interesses – legítimos ou não – de entidades e, por fim, sua reeleição), o Congresso foi perdendo relevância e poder.

Consequentemente, as vozes parlamentares, em especial as de oposição, que são as que mais precisam da instituição parlamentar para que seu brado seja escutado, perderam ressonância na sociedade.

Com a aceitação sem protesto do “modo lulista de governar” por meio de medidas provisórias, para que serve o Congresso senão para chancelar decisões do Executivo e receber benesses? Principalmente, quando muitos congressistas estão dispostos a fazer o papel de maioria obediente a troco da liberação pelo Executivo das verbas de suas emendas, sem esquecer que alguns oposicionistas embarcam na mesma canoa.

Ironicamente, uma importante modificação institucional, a descentralização da ação executiva federal, estabelecida na Constituição de 1988 e consubstanciada desde os governos Itamar Franco e FHC, diluiu sua efetividade técnico—administrativa em uma pletora de recursos orçamentários “carimbados”, isto é, de orientação político-clientelista definida, acarretando sujeição ao Poder Central, ou, melhor, a quem o simboliza pessoalmente e ao partido hegemônico.

Neste sentido, diminuiu o papel político dos governadores, bastião do oposicionismo em estados importantes, pois a relação entre prefeituras e governo federal saltou os governos estaduais e passou a se dar mais diretamente com a presidência da República, por meio de uma secretaria especial colada ao gabinete presidencial.

Como, por outra parte, existe – ou existiu até a pouco – certa folga fiscal e a sociedade passa por período de intensa mobilidade social movida pelo dinamismo da economia internacional e pelas políticas de expansão do mercado interno que geram emprego, o desfazimento institucional produzido pelo lulismo e a difusão de práticas clientelísticas e corruptoras foram sendo absorvidos, diante da indiferença da sociedade.

Na época do mensalão, houve um início de desvendamento do novo Sistema (com S maiúsculo, como se escrevia para descrever o modelo político criado pelos governos militares).

Então, ainda havia indignação diante das denúncias que a mídia fazia e os partidos ecoavam no Parlamento. Pouco a pouco, embora a mídia continue a fazer denúncias, a própria opinião pública, isto é, os setores da opinião nacional que recebem informações, como que se anestesiou. Os cidadãos cansaram de ouvir tanto horror perante os céus sem que nada mude. Diante deste quadro, o que podem fazer as oposições?

Definir o público a ser alcançado

Em primeiro lugar, não manter ilusões: é pouco o que os partidos podem fazer para que a voz de seus parlamentares alcance a sociedade.

É preciso que as oposições se deem conta de que existe um público distinto do que se prende ao jogo político tradicional e ao que é mais atingido pelos mecanismos governamentais de difusão televisiva e midiática em geral.

As oposições se baseiam em partidos não propriamente mobilizadores de massas. A definição de qual é o outro público a ser alcançado pelas oposições e como fazer para chegar até ele e ampliar a audiência crítica é fundamental.

Enquanto o PSDB e seus aliados persistirem em disputar com o PT influência sobre os “movimentos sociais” ou o “povão”, isto é, sobre as massas carentes e pouco informadas, falarão sozinhos. Isto porque o governo “aparelhou”, cooptou com benesses e recursos as principais centrais sindicais e os movimentos organizados da sociedade civil e dispõe de mecanismos de concessão de benesses às massas carentes mais eficazes do que a palavra dos oposicionistas, além da influência que exerce na mídia com as verbas publicitárias.

Sendo assim, dirão os céticos, as oposições estão perdidas, pois não atingem a maioria. Só que a realidade não é bem essa. Existe toda uma gama de classes médias, de novas classes possuidoras (empresários de novo tipo e mais jovens), de profissionais das atividades contemporâneas ligadas à ti (tecnologia da informação) e ao entretenimento, aos novos serviços espalhados pelo Brasil afora, às quais se soma o que vem sendo chamado sem muita precisão de “classe c” ou de nova classe média.

Digo imprecisamente porque a definição de classe social não se limita às categorias de renda (a elas se somam educação, redes sociais de conexão, prestígio social, etc.), mas não para negar a extensão e a importância do fenômeno. Pois bem, a imensa maioria destes grupos – sem excluir as camadas de trabalhadores urbanos já integrados ao mercado capitalista – está ausente do jogo político-partidário, mas não desconectada das redes de internet, Facebook, YouTube, Twitter, etc.

É a estes que as oposições devem dirigir suas mensagens prioritariamente, sobretudo no período entre as eleições, quando os partidos falam para si mesmo, no Congresso e nos governos. Se houver ousadia, os partidos de oposição podem organizar-se pelos meios eletrônicos, dando vida não a diretórios burocráticos, mas a debates verdadeiros sobre os temas de interesse dessas camadas.

Mas não é só isso: as oposições precisam voltar às salas universitárias, às inúmeras redes de palestras e que se propagam pelo país afora e não devem, obviamente, desacreditar do papel da mídia tradicional: com toda a modernização tecnológica, sem a sanção derivada da confiabilidade, que só a tradição da grande mídia assegura, tampouco as mensagens, mesmo que difundidas, se transformam em marcas reconhecidas.

Além da persistência e ampliação destas práticas, é preciso buscar novas formas de atuação para que a oposição esteja presente, ou pelo menos para que entenda e repercuta o que ocorre na sociedade. Há inúmeras organizações de bairro, um sem-número de grupos musicais e culturais nas periferias das grandes cidades, etc., organizações voluntárias de solidariedade e de protesto, redes de consumidores, ativistas do meio ambiente, e por aí vai, que atuam por conta própria.

Dado o anacronismo das instituições político-partidárias, seria talvez pedir muito aos partidos que mergulhem na vida cotidiana e tenham ligações orgânicas com grupos que expressam as dificuldades e anseios do homem comum. Mas que pelo menos ouçam suas vozes e atuem em consonância com elas.

Não deve existir uma separação radical entre o mundo da política e a vida cotidiana, nem muito menos entre valores e interesses práticos.

No mundo interconectado de hoje, vê-se, por exemplo, o que ocorre com as revoluções no meio islâmico, movimentos protestatórios irrompem sem uma ligação formal com a política tradicional. Talvez as discussões sobre os meandros do poder não interessem ao povo no dia-a-dia tanto quanto os efeitos devastadores das enchentes ou o sufoco de um trânsito que não anda nas grandes cidades. Mas, de repente, se dá um “curto-circuito” e o que parecia não ser “política” se politiza. Não foi o que ocorreu nas eleições de 1974 ou na campanha das “diretas já”?

Nestes momentos, o pragmatismo de quem luta para sobreviver no dia-a-dia lidando com questões “concretas” se empolga com crenças e valores. O discurso, noutros termos, não pode ser apenas o institucional, tem de ser o do cotidiano, mas não desligado de valores. Obviamente em nosso caso, o de uma democracia, não estou pensando em movimentos contra a ordem política global, mas em aspirações que a própria sociedade gera e que os partidos precisam estar preparados para que, se não os tiverem suscitado por sua desconexão, possam senti-los e encaminhá-los na direção política desejada.

Seria erro fatal imaginar, por exemplo, que o discurso “moralista” é coisa de elite à moda da antiga UDN. A corrupção continua a ter o repúdio não só das classes médias como de boa parte da população. Na última campanha eleitoral, o momento de maior crescimento da candidatura Serra e de aproximação aos resultados obtidos pela candidata governista foi quando veio à tona o “episódio Erenice”.

Mas é preciso ter coragem de dar o nome aos bois e vincular a “falha moral” a seus resultados práticos, negativos para a população. Mais ainda: é preciso persistir, repetir a crítica, ao estilo do “beba Coca Cola” dos publicitários. Não se trata de dar-nos por satisfeitos, à moda de demonstrar um teorema e escrever “cqd”, como queríamos demonstrar.

Seres humanos não atuam por motivos meramente racionais. Sem a teatralização que leve à emoção, a crítica – moralista ou outra qualquer– cai no vazio. Sem Roberto Jefferson não teria havido mensalão como fato político.

Qual é a mensagem?

Por certo, os oposicionistas para serem ouvidos precisam ter o que dizer. Não basta criar um público, uma audiência e um estilo, o conteúdo da mensagem é fundamental. Qual é a mensagem? O maior equívoco das oposições, especialmente do PSDB, foi o de haver posto à margem as mensagens de modernização, de aggiornamento do País, e de clara defesa de uma sociedade democrática comprometida com causas universais, como os direitos humanos e a luta contra a opressão, mesmo quando esta vem mascarada de progressismo, apoiada em políticas de distribuição de rendas e de identificação das massas com o Chefe.

Nas modernas sociedades democráticas, por outro lado, o Estado tanto mantém funções na regulação da economia como em sua indução, podendo chegar a exercer papel como investidor direto. Mas o que caracteriza o Estado em uma sociedade de massas madura é sua ação democratizadora.

Os governos devem tornar claros, transparentes, e o quanto possível imunes à corrupção, os mecanismos econômicos que cria para apoiar o desenvolvimento da economia. Um Estado moderno será julgado por sua eficiência para ampliar o acesso à educação, à saúde e à previdência social, bem como pela qualidade da segurança que oferece às pessoas.Cabe às oposições serem a vanguarda nas lutas por estes objetivos.

Defender o papel crescente do Estado nas sociedades democráticas, inclusive em áreas produtivas, não é contraditório com a defesa da economia de mercado. Pelo contrário, é preciso que a oposição diga alto e bom som que os mecanismos de mercado, a competição, as regras jurídicas e a transparência das decisões são fundamentais para o Brasil se modernizar, crescer economicamente e se desenvolver como sociedade democrática.

Uma sociedade democrática amadurecida estará sempre comprometida com a defesa dos direitos humanos, com a ecologia e com o combate à miséria e às doenças, no país e em toda a parte. E compreende que a ação isolada do Estado, sem a participação da sociedade, inclusive dos setores produtivos privados, é insuficiente para gerar o bem-estar da população e oferecer bases sólidas para um desenvolvimento econômico sustentado.

Ao invés de se aferrarem a esses valores e políticas que lhes eram próprios como ideologia e como prática, as oposições abriram espaço para que o lulopetismo ocupasse a cena da modernização econômica e social. Só que eles têm os pés de barro: a cada instante proclamam que as privatizações “do PSDB” foram contra a economia do País, embora comecem a fazer descaradamente concessões de serviços públicos nas estradas e nos aeroportos, como se não estivessem fazendo na prática o mea-culpa.

Cabe às oposições não apenas desmascarar o cinismo, mas, sobretudo, cobrar o atraso do País: onde está a infraestrutura que ficou bloqueada em seus avanços pelo temor de apelar à participação da iniciativa privada nos portos, nos aeroportos, na geração de energia e assim por diante?

Quão caro já estamos pagando pela ineficiência de agências reguladoras entregues a sindicalistas “antiprivatizantes” ou a partidos clientelistas, como se tornou o PC d B, que além de vender benesses no ministério dos Esportes, embota a capacidade controladora da ANP, que deveria evitar que o monopólio voltasse por vias transversas e prejudicasse o futuro do País.

Oposição precisa vender o peixe

Dirão novamente os céticos que nada disso interessa diretamente ao povo. Ora, depende de como a oposição venda o peixe. Se tomarmos como alvo, por exemplo, o atraso nas obras necessárias para a realização da Copa e especializarmos três ou quatro parlamentares ou técnicos para martelar no dia-a-dia, nos discursos e na internet, o quanto não se avança nestas áreas por causa do burocratismo, do clientelismo, da corrupção ou simplesmente da viseira ideológica que impede a competição construtiva entre os setores privados e destes com os monopólios, e se mostrarmos à população como ela está sendo diretamente prejudicada pelo estilo petista de política, criticamos este estilo de governar, suscitamos o interesse popular e ao mesmo tempo oferecemos alternativas.

Na vida política tudo depende da capacidade de politizar o apelo e de dirigi-lo a quem possa ouvi-lo. Se gritarmos por todos os meios disponíveis que a dívida interna de R$ 1,69 trilhão (mostrando com exemplos ao que isto corresponde) é assustadora, que estamos pagando R$ 50 bilhões por ano para manter reservas elevadas em dólares, que pagamos a dívida (pequena) ao FMI sobre a qual incidiam juros moderados, trocando-a por dívidas em reais com juros enormes, se mostrarmos o quanto custa a cada contribuinte cada vez que o Tesouro transfere ao BNDES dinheiro que o governo não tem e por isso toma emprestado ao mercado pagando juros de 12% ao ano, para serem emprestados pelo BNDES a juros de 6% aos grandes empresários nacionais e estrangeiros, temos discurso para certas camadas da população.

Este discurso deve desvendar, ao mesmo tempo, o porquê do governo assim proceder: está criando um bloco de poder capitalista-burocrático que sufoca as empresas médias e pequenas e concentra renda.

Este tipo de política mostra descaso pelos interesses dos assalariados, dos pequenos produtores e profissionais liberais de tipo antigo e novo, setores que, em conjunto, custeiam as benesses concedidas ao grande capital com impostos que lhe são extraídos pelo governo.

O lulopetismo não está fortalecendo o capitalismo em uma sociedade democrática, mas sim o capitalismo monopolista e burocrático que fortalece privilégios e corporativismos.

Com argumentos muito mais fracos o petismo acusou o governo do PSDB quando, em fase de indispensável ajuste econômico, aumentou a dívida interna (ou, melhor, reconheceu os “esqueletos” compostos por dívidas passadas) e usou recursos da privatização – todos contabilizados – para reduzir seu crescimento. A dívida pública consolidada do governo lulista foi muito maior do que a herdada por este do governo passado e, no entanto, a opinião pública não tomou conhecimento do fato.

As oposições não foram capazes de politizar a questão. E o que está acontecendo agora quando o governo discute substituir o fator previdenciário, recurso de que o governo do PSDB lançou mão para mitigar os efeitos da derrota sofrida para estabelecer uma idade mínima de aposentadoria? Propondo a troca do fator previdenciário pela definição de… uma idade mínima de aposentadoria.

Petistas camaleões

Se os governistas são camaleões (ou, melhor, os petistas, pois boa parte dos governistas nem isso são: votavam com o governo no passado e continuam a votar hoje, como votarão amanhã), em vez de saudá-los porque se aproximam da racionalidade ou de votarmos contra esta mesma racionalidade, negando nossas crenças de ontem, devemos manter a coerência e denunciar as falsidades ideológicas e o estilo de política de mistificação dos fatos, tantas vezes sustentado pelo petismo.

São inumeráveis os exemplos sobre como manter princípios e atuar como uma oposição coerente. Mesmo na questão dos impostos, quando o PSDB e o DEM junto com o PPS ajudaram a derrubar a CPMF, mostraram que, coerentes, dispensaram aquele imposto porque ele já não era mais necessário, como ficou demonstrado pelo contínuo aumento da receita depois de sua supressão.

É preciso continuar a fazer oposição à continuidade do aumento de impostos para custear a máquina público-partidária e o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. É possível mostrar o quanto pesa no bolso do povo cada despesa feita para custear a máquina público-partidária e manter o capitalismo burocrático dos novos dinossauros. E para ser coerente, a oposição deve lutar desde já pela redução drástica do número de cargos em comissão, nomeados discricionariamente, bem como pelo estabelecimento de um número máximo de ministérios e secretarias especiais, para conter a fúria de apadrinhamento e de conchavos partidários à custa do povo.

Em suma: não há oposição sem “lado”. Mais do que ser de um partido, é preciso “tomar partido”.

É isso que a sociedade civil faz nas mais distintas matérias. O que o PSDB pensa sobre liberdade e pluralidade religiosa? Como manter a independência do Estado laico e, ao mesmo tempo, prestigiar e respeitar as religiões que formam redes de coesão social, essenciais para a vida em sociedade? O que pensa o partido sobre o combate às drogas? É preciso ser claro e sincero: todas as drogas causam danos, embora de alcance diferente. Adianta botar na cadeia os drogados?

Sinceridade comove a população

Há casos nos quais a regulação vale mais que a proibição: veja-se o tabaco e o álcool, ambos extremadamente daninhos. São não apenas regulados em sua venda e uso (por exemplo, é proibido fumar em locais fechados ou beber depois de uma festa e guiar automóveis) como estigmatizados por campanhas publicitárias, pela ação de governos e das famílias.

Não seria o caso de fazer a mesma coisa com a maconha, embora não com as demais drogas muito mais danosas, e concentrar o fogo policial no combate aos traficantes das drogas pesadas e de armas? Se disso ainda não estivermos convencidos, pelo menos não fujamos à discussão, que já corre solta na sociedade. Sejamos sinceros: é a sinceridade que comove a população e não a hipocrisia que pretende não ver o óbvio.

Se a regra é ser sincero, por que temer ir fundo e avaliar o que nós próprios fizemos no passado, acreditando estar certos, e que continua sendo feito, mas que requer uma revisão?

Tome-se o exemplo da reforma agrária e dos programas de incentivo à economia familiar.

Fomos nós do PSDB que recriamos o Ministério da Reforma Agrária e, pela primeira vez, criamos um mecanismo de financiamento da agricultura familiar, o Pronaf. Nenhum governo fez mais em matéria de acesso à terra do que o do PSDB quando a pasta da Reforma era dirigida por um membro do PPS.

Não terá chegado a hora de avaliar os resultados? O Pronaf não estará se transformando em mecanismo de perpétua renovação de dívidas, como os grandes agricultores faziam no passado com suas dívidas no Banco do Brasil? Qual é o balanço dos resultados da reforma agrária? E as acusações de “aparelhamento” da burocracia pelo PT e pelo MST são de fato verdadeiras?

Sem que a oposição afirme precipitadamente que tudo isso vai mal – o que pode não ser correto – não pode temer buscar a verdade dos fatos, avaliar, julgar e criticar para corrigir.

Existe matéria em abundância para manter os princípios e para ir fundo nas críticas sem temer a acusação injusta de que se está defendendo “a elite”. Mas política não é tese universitária. É preciso estabelecer uma agenda. Geralmente esta é dada pelo governo. Ainda assim, usemo-la para concentrar esforços e dar foco, repetição e persistência à ação oposicionista.

Tomemos um exemplo, o da reforma política, tema que o governo afirma estar disposto a discutir. Pois bem, o PSDB tem posição firmada na matéria: é favorável ao voto distrital (misto ou puro, ainda é questão indefinida). Se é assim, por que não recusar de plano a proposta da “lista fechada”, que reforça a burocracia partidária, não diminui o personalismo (ou alguém duvida que se pedirão votos para a lista “do Lula”?) e separa mais ainda o eleitor dos representantes?

Compromisso com o voto digital

Não é preciso afincar uma posição de intransigência: mantenhamos o compromisso com o voto distrital, façamos a pregação.

Se não dispusermos de forças para que nossa tese ganhe, aceitemos apenas os melhoramentos óbvios no sistema atual: cláusula de desempenho (ou de barreira), proibição de coligações nas eleições proporcionais e regras de fidelidade partidária, ainda que para algumas destas medidas seja necessário mudança constitucional.

Deixemos para outra oportunidade a discussão sobre financiamento público das campanhas, pois sem a distritalização o custo para o contribuinte será enorme e não se impedirá o financiamento em “caixa preta” nem o abuso do poder econômico. Mas denunciemos o quanto de antidemocrático existe no voto em listas fechadas.

Em suma: não será esta uma boa agenda para a oposição firmar identidade, contrapor-se à tendência petista de tudo burocratizar e, ao mesmo tempo, não se encerrar em um puro negativismo aceitando modificações sensatas?

Por fim, retomando o que disse acima sobre o “triunfo do capitalismo”. O governo do PT e o próprio partido embarcaram, sem dizer, na adoração do bezerro de ouro. Mas, marcados pelos cacoetes do passado, não perceberam que o novo na fase contemporânea do capitalismo não é apenas a acumulação e o crescimento da economia.

Os grandes temas que se estão desenhando são outros e têm a ver com o interesse coletivo: como expandir a economia sem destroçar o meio ambiente, como assegurar direitos aos destituídos deles, não só pela obreza, mas pelas injustiças (desigualdades de gênero, de raça, de acesso à cultura)? Persistem preocupações antigas: como preservar a Paz em um mundo no qual há quem disponha da bomba nuclear?

A luta pela desnuclearização tem a ver com o sentido de um capitalismo cuja forma “selvagem” a sociedade democrática não aceita mais.

Esta nova postura é óbvia no caso da ecologia, pois o natural egoísmo dos Estados, na formulação clássica, se choca com a tese primeira, a da perpetuação da vida humana. O terror atômico e o aquecimento global põem por terra visões fincadas no terreno do nacional-estatismo arcaico.

Há um nacionalismo de novo tipo, democrático, aberto aos desafios do mundo e integrado nele, mas alerta aos interesses nacionais e populares. Convém redefinir, portanto, a noção do interesse nacional, mantendo-o persistente e alerta no que é próprio aos interesses do País, mas compatibilizando-o com os interesses da humanidade.

Estas formulações podem parecer abstratas, embora se traduzam no dia-a-dia: no Brasil, ninguém discute sobre qual o melhor modo de nossa presença no mundo: será pelo velho caminho armamentista, nuclearizando-nos, ou nossas imensas vantagens comparativas em outras áreas, entre elas as do chamado soft power, podem primar?

Por exemplo, nossa “plasticidade cultural mestiça”, a aceitação das diferenças raciais – sem que se neguem e combatam as desigualdades e preconceitos ainda existentes – não são um ganho em um mundo multipolar e multicultural? E a disponibilidade de uma matriz energética limpa, sem exageros de muitas usinas atômicas (sempre perigosas), bem como os avanços na tecnologia do etanol, não nos dão vantagens?

Por que não discutir, a partir daí, o ritmo em que exploraremos o pré-sal e as obscuras razões para a “estatização do risco e divisão do lucro” entre a Petrobras e as multinacionais por meio do sistema de partilha? São questões que não exploramos devidamente, ou cujas decisões estão longe de ser claramente compatíveis com o interesse nacional de longo prazo.

Falta de estratégia

Na verdade, falta-nos estratégia. Estratégia não é plano de ação: é o peso relativo que se dá às questões desafiadoras do futuro somado à definição de como as abordaremos. Que faremos neste novo mundo para competir com a China, com os Estados Unidos ou com quem mais seja? Como jogar com nossos recursos naturais (petróleo à frente) como fator de sucesso e poder sem sermos amanhã surpreendidos pelo predomínio de outras fontes de energia? E, acima de tudo, como transformar em políticas o anseio por uma “revolução educacional” que dê lugar à criatividade, à invenção e aos avanços das tecnologias do futuro?

A China, ao que parece, aprendeu as lições da última crise e está apostando na inovação, preparando-se para substituir as fontes tradicionais de energia, sobretudo o petróleo, de que não dispõe em quantidade suficiente para seu consumo crescente. E os próprios Estados Unidos, embora atônitos com os erros acumulados desde a gestão Bush, parecem capazes de continuar inovando, se conseguirem sair depressa da crise financeira que os engolfou.

De tudo isso o PT e seus governos falam, mas em ziguezague. As amarras a uma visão oposta, vinda de seu passado recente, os inibem para avançar mais. Não é hora das oposições serem mais afirmativas? E se por acaso, como insinuei no início deste artigo, houver divisões no próprio campo do petismo por causa da visão canhestra de muitos setores que apoiam o governo e de suas necessidades práticas o levarem a direções menos dogmáticas?

Neste caso, embora seja cedo para especular, terá a oposição inteireza e capacidade política para aproveitar as circunstâncias e acelerar a desagregação do antigo e apostar no novo, no fortalecimento de uma sociedade mais madura e democrática?

Engana-se quem pensar que basta manter a economia crescendo e oferecer ao povo a imagem de uma sociedade com mobilidade social.

Esta, ao ocorrer, aumenta as demandas tanto em termos práticos, de salários e condições de vida, como culturais. Em um mundo interconectado pelos modernos meios de comunicação o cidadão comum deseja saber mais, participar mais e avaliar por si se de fato as diferenças econômicas e sociais estão diminuindo.

Sem, entretanto, uma oposição que se oponha ao triunfalismo lulista, que coroa a alienação capitalista, desmistificando tudo o que seja mera justificativa publicitária do poder e chamando a atenção para os valores fundamentais da vida em uma sociedade democrática, só ocorrerão mudanças nas piores condições: quando a fagulha de alguma insatisfação produzir um curto-circuito. Mesmo este adiantará pouco se não houver à disposição uma alternativa viável de poder, um caminho preparado por lideranças nas quais a população confie.

No mundo contemporâneo este caminho não se constrói apenas por partidos políticos, nem se limita ao jogo institucional. Ele brota também da sociedade, de seus blogs, twitters, redes sociais, da mídia, das organizações da sociedade civil, enfim, é um processo coletivo. Não existe apenas uma oposição, a da arena institucional; existem vários focos de oposição, nas várias dimensões da sociedade.

Reitero: se as oposições institucionais não forem capazes de se ligar mais diretamente aos movimentos da vida, que pelo menos os ouçam e não tenham a pretensão de imaginar que pelo jogo congressual isolado alcançarão resultados significativos.

Os vários focos de insatisfação social, por sua vez, também podem se perder em demandas específicas a serem atendidas fragmentariamente pelo governo se não encontrarem canais institucionais que expressem sua vontade maior de transformação.

As oposições políticas, por fim, se nada ou pouco tiverem a ver com as múltiplas demandas do cotidiano, como acumularão forças para ganhar a sociedade?

Fernando Henrique Cardoso, sociólogo, foi presidente da República (1995-2003) e é presidente de honra do PSDB
12/04/11

terça-feira, 12 de abril de 2011

ALÔ ALÔ, REALENGO!



Por José Ribamar Bessa Freire
Diário do Amazonas

Não tinha amigos, não batia papo nem contava piada, nunca namorou, jamais lhe deram um cheiro no cangote ou alisaram sua mão, nunca transou, não torcia por time algum, nunca foi ao Maracanã, não xingou juiz de ladrão, de sua garganta jamais saiu um grito apaixonado de gol, não desfilou em qualquer bloco de carnaval.

Passava o tempo na internet, em jogos eletrônicos, mas nunca recebeu um aviso no facebook solicitando: "me adicione como amigo".

Esse filme a gente já viu..

Ele é americano.

Surge, agora, uma produção brasileira, um compacto que mistura roteiros das várias versões importadas dos Estados Unidos.

Aqui o cenário foi uma escola em Realengo, no subúrbio carioca. O personagem principal invadiu a escola, executou friamente doze alunos e feriu mais de dez.
Foram importados dos Estados Unidos seu nome - Wellington - e os dois apelidos - Sherman e depois Suingue, botados pelos colegas.

O primeiro foi inspirado na figura nerd de Chuck Sherman, "the Sherminator", do filme American Pie.

O segundo, no seu jeito desajeitado de caminhar, causado por uma perna ligeiramente menor que a outra, que produz um balanço, um 'suingue', no dizer debochado dos colegas.

Na versão americana de Ohio, o aluno H. Coon, que entrou na escola e atirou em quatro colegas antes de se suicidar, também mancava e ficou conhecido pelo apelido de Deixa-que-eu-chuto.


A história de Wellington começa a ser contada, aos fragmentos, por colegas, vizinhos e irmãos adotivos entrevistados pela mídia, com registros esparsos sobre seu nascimento e sua passagem pelo mundo da família, da escola e do trabalho.

Aliás, ele não nasceu, foi excluído do ventre de sua mãe - uma moradora de rua com problemas mentais.


Precisa de carinho



Na escola, usava calças com cós acima da cintura e meias até os joelhos. A menina mais bonita da turma se jogava em cima dele, fingindo assediá-lo, só pra sacanear.

Ganhou fama de homossexual. Não reagia às agressões, à semelhança do estudante de origem sul coreana, nos Estados Unidos, Cho Seung-hui, que matou 32 pessoas na Universidade de Virginia e deixou uma carta dizendo ter sido discriminado como um bicho: "eu morro como Jesus Cristo, para inspirar gerações de pessoas fracas e indefesas".

Seguindo o modelo americano, Wellington também escreveu uma carta, "rogando para que na sua vinda Jesus me desperte do sono da morte". Nela, deixou um testamento, legando sua casa para alguma instituição encarregada de cuidar dos animais abandonados, "pois os animais são seres muito desprezados e precisam muito mais de proteção e carinho do que os seres humanos que possuem a vantagem de poder se comunicar".

Wellington não tinha o poder de se comunicar.


"Mal ouvíamos a voz dele, vivia no mundo dele -
contou uma vizinha. "Era muito calado, muito fechado e a galera pegava muito no pé dele, mas não a ponto de ele fazer isso - disse seu ex-colega Bruno Linhares, 23 anos, se referindo ao massacre.

Precisava de proteção e carinho?


Outros colegas admitiram que o rapaz foi vítima de 'bullying' na Escola Municipal Tasso da Silveira, onde estudou de 1999 a 2002, quando sofreu constantes intimidações.

"Além de tudo, ele ainda tirava notas baixas" - completou Bruno. No 8º ano, ficou em recuperação em quase todas as matérias.

"A gente chorou muito pensando que Wellington matou aquelas 12 crianças em represália pelo que aconteceu com ele quando nós estudávamos juntos" -
contou Thiago da Cruz, outro ex-colega, que usou o adjetivo assustador para se referir ao bullying e à chacota a que Wellington foi submetido.

Em entrevista à Folha, reconheceu que não suspeitava do dano que cometeram e acrescentou chorando: "Não era para ninguém ter pago por uma coisa que nós fizemos".

"Ele era tímido e calado"
- confirmou ao Globo o gerente da fábrica de alimentos Rica, sediada em Jacarepaguá, adiantando que Wellington permaneceu silencioso o tempo todo numa dinâmica de grupo realizada na firma, onde trabalhou durante dois anos como auxiliar de almoxarifado.

A indústria, que abate 170.000 aves por dia e aloja cerca de 46 milhões de pintos, considerou "baixa" a produtividade dele.

Por isso, Wellington Menezes de Oliveira, 23 anos, foi excluído do trabalho, demitido em agosto de 2010. Ficou desempregado.

Depois da morte da mãe adotiva, passou a morar sozinho mergulhado na mais extrema solidão.

Não foi apurado ainda com que recursos ele sobreviveu nos últimos meses.

Nessa quinta feira, 7 de abril, vestido de preto e com duas armas, como o menino de Ohio, Wellington voltou ao local do crime - a escola onde estudou - para acabar com aquilo que o molestara.

Incorporou o apelido de "the Sherminator", encurralou e executou 12 crianças, feriu outras 13, quase todas mulheres, num banho de sangue nunca visto numa escola brasileira
.

Depois, ferido, se suicidou com um tiro na boca.

Escola de merda


Errou o alvo.

Atirou no que viu e matou o que não viu.


Ceifou os sonhos de Larissa,14 anos, que queria ser modelo; de Bianca, a gêmea de 13 anos, que gostava de navegar na internet; de Mariana, 12 anos, o xodó da família, que adorava tirar fotografias; de Géssica, 15 anos, uma menina alegre que havia feito planos de estudar na Marinha; de Igor que gostava de futebol, torcia pelo Flamengo e jogava na Escolinha do Vasco.

E de tantas outras adolescentes sonhadores.

"Ela morreu naquela escola de merda" gritava dentro do hospital dona Suely, mãe de Géssica.



Familiares e amigos ficaram imersos no desespero, na revolta, na dor e na perplexidade.

Como foi possível isso acontecer?

Podíamos ter evitado?

Como?

- "Poderia ter sido um de nós, um de nossos filhos" - escreveu uma leitora do Globo, sem atentar que foram doze de nós, doze de nossos filhos.
Por isso é que o Brasil inteiro se sentiu ferido com os tiros disparados por Wellington, que atingiu a todos nós, embora com intensidade diferente.

O presidente do Senado, José Sarney, sempre 'brilhante', sugeriu que "o governo deve, a partir desse episódio, reforçar a segurança dentro das escolas brasileiras e até mesmo incluir no currículo um item chamado segurança".

Outras sugestões foram feitas: instalação de câmeras, detectores de metal, catracas, guaritas, porteiros armados.

Por que não canhões?

Ou fossos ao redor como nos castelos feudais?

Isolar a escola da comunidade onde está encravada é alguma garantia de segurança?


A prefeitura do Rio chegou a iniciar, em novembro do ano passado, a contratação de porteiros para as escolas, mas houve denúncias de que as vagas estavam sendo loteadas através de indicação política, naquele modelo que o Sarney gosta, usa e abusa.

Suspenderam as contratações e abriram uma CPI.

O governador Sérgio Cabral, ainda desorientado, diagnosticou o assassino como "psicopata", como um "animal", reforçando as palavras de Sarney para quem Wellington é "um fanático", "um fronteiriço, possesso - esta é a palavra - entre a loucura e a maldade".

O diagnóstico dos dois configura 'exercício ilegal da profissão'.
Quem produziu Wellington?

Por que um espetáculo tão macabro, no qual todos somos perdedores?

Se não procurarmos responder essa pergunta, outros Wellingtons surgirão, tirando o gostinho dos Bolsonaros por seu linchamento, já que se suicidou.


O diabo é que estamos todos perplexos, confusos.


Quem diz que sabe o porquê do acontecido, sinalizando um único fator como a causa de tudo, comete um erro.

Uma certeza nós temos: nem o presidente do Senado nem o governador sabem o que dizem.
No meio de tanta dor, não temos ainda a grandeza sequer de dizer: Descansa em paz, Wellington.

Desconfio que além das pessoas tocadas de perto pela tragédia, precisamos todos, os 180 milhões de brasileiros, de assistência psicológica.


Enquanto isso, só nos resta fazer como os familiares das crianças assassinadas e os moradores de Realengo que nesse sábado deram um enorme abraço na Escola Tasso da Silveira.

Alô, Alô, Realengo, aquele abraço solidário e aquele cheiro no cangote que Wellington nunca recebeu, levando consigo três fiapos de humanidade: o beijo na testa da professora de literatura, a preocupação com os animais desamparados e a retirada de um aluno de sua mira: "fica frio, gordinho, que eu não vou te matar".


AGU derruba acordo milionário de ministro de Lula

A Advocacia Geral da União conseguiu bloquear, na Justiça, o pagamento de R$ 158,4 milhões à empresa VT Um Produções e Empreendimentos Ltda, em decorrência de acordo extrajudicial que a AGU considerou lesivo ao patrimônio da estatal Telebrás. O acordo foi firmado com autorização do ex-ministro das Comunicações Helio Costa, durante o governo Lula, para pagamento de R$ 254 milhões, sendo R$ 60 milhões à vista e 40 parcelas mensais de R$ 900 mil. Claudio Humberto

PS - Ontem, publiquei  o artigo de Gilmar Correia, e essa mensagem abaixo resume tudo. Faz 8 anos que,  publicamos notícias sobre "senhores" que atendem por  171.

“No meio de toda a roubalheira em que vive o país, parece que definitivamente resolveram montar um circo. Entra em cena o plebiscito sobre o desarmamento. Em um país onde os grandes bandidos estão no governo e no Congresso, esses mesmos políticos que se arvoram como combatentes do crime querem desarmar a população. Fica a pergunta: desarmar contra quem?”

A xepa do Bono

O encontro mais enigmático do século

Época

O cantor Bono Vox (que já ficou sem Vox, de tanto discursar) encontrou-se com o ministro Guido Mantega.
 

É o encontro mais enigmático do século.

Depois de tirar fotos com Dilma e com Lula, cumprindo o circuito do marketing populista, o líder do U2 foi ao encontro do ministro da Fazenda.

Mantega, como se sabe, encontra-se em plena frigideira. Na condição de homem-forte da economia, o ministro sempre foi fraco.

Passou os oito anos de Lula vendo o Banco Central governar, e fazendo oposição “desenvolvimentista” a ele.


Mantido no governo Dilma a pedido do ex-presidente – fiel amigo dos amigos –, Mantega está caindo de maduro.

Foi engolido pela sombra de Palocci, o homem-forte de fato.


O mercado anda zombando do ministro da Fazenda. Fez picadinho de suas medidas contra a queda do dólar e a expansão inflacionária do crédito.

E eis que, já dourado pela fritura, Mantega recebe a visita ilustre do astro pop.

O que Bono foi fazer lá?

Sua assessoria disse que ele foi conhecer os programas brasileiros de combate à pobreza.

Terá errado de porta?

Não apareceu ninguém para avisar ao cantor irlandês que a política de desenvolvimento social não mora no Ministério da Fazenda?

Não era o caso de avisar. Bono não tinha nada para falar com Mantega, mas foi lá assim mesmo. Qual era a grande causa do roqueiro desta vez?

Era uma causa nobre: atender ao singelo pedido de Dilma e Lula para que desse uma forcinha ao seu ministro agonizante. Um gesto humanitário.

É emocionante acompanhar a garra de um astro do showbis em defesa de um espécime ameaçado de extinção em Brasília.

Bono Vox terá a eterna gratidão da população de parentes, amigos e partidários de Guido Mantega pela luta por seu cargo.

Uma mão lava a outra.

Lula empresta a Bono um pouco do seu fetiche terceiro-mundista (tirando Kadafi e Ahmadinejad da foto), e Bono ajuda Lula a arrecadar fundos para o nascente instituto do filho do Brasil.

 É bom negócio para todos. De quebra, com um pouco de sorte, ainda salvam o emprego de um pobre ministro

12/04/2011