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segunda-feira, 11 de abril de 2011

Dilma vai vai na China e o Weiwei

Senhora presidente,

Não estou aqui para falar dos seus cem primeiros dias de governo. Isto é mais conversa para Napoleão ou Franklin Roosevelt. Gostaria de falar sobre esta sua visita à China. A segunda economia mundial já é a principal parceira comercial do Brasil e principal investidora estrangeira no país. Mas não vou falar de questões cambiais ou da necessidade do Brasil exportar produtos agregados e não apenas minério. Vou, na verdade, agregar outra coisa. Tema frequente desta minha coluna é a situação de direitos humanos no mundo e a senhora bem sabe que a China tem uma ditadura de ferro (e eu dissera que não falaria de minério).

Não estou fazendo uma cobrança boboca para que a senhore peite aqueles sisudos comunistas de Pequim para respeitarem os direitos humanos. Aliás, já é bom ver bem menos daquela cumplicidade obscena do seu predecessor com ditadores. Há mais elegância na atual política externa brasileira. De qualquer forma, não custa a gente tocar no tema de direitos humanos neste meu comentário, apenas para incomodar os sisudos comunistas de Pequim. Sei que conversa de direitos humanos é complicada. Os países têm interesses estratégicos e econômicos. Estes interesses podem colidir com a matéria-prima de valores e ideais. E não são apenas os países.

Que coisa! Lembra-se de um roqueiro da sua (e da minha) geração, o Bob Dylan? Ele também foi pragmático na sua viagem. Num tour pela Ásia, ele passou pela China na semana passada e acertou com as autoridades as músicas que cantaria. Chato que um artista faça isto. Não está vendendo nada de valor muito agregado. Os ventos não sopram para músicas de protestos na China e o Bob Dylan não cantou aqueles clichês políticos e sociais dos anos 60. Por mim, tudo bem. Eu já passei da fase. Mas, eu decidi sozinho, né? Os chineses, digo os cidadãos e não as autoridades, deveriam ter este direito de optarem ou não por uma sessão nostalgia.

O Bob Dylan não mencionou o Ai Weiwei no seu concerto. E este é o ponto que eu queria tocar com a senhora. De novo, nada de cobrança boboca, aliás nem para cima do Bob Dylan também. Mas a prisão do Weiwei, por motivos econômicos (?) é perturbadora. Ele é um artista muito conhecido no mundo. Aqui, é mais importante salientar que era o último dissidente muito conhecido que ainda estava em circulação. O regime de ferro (de novo, conversa de minério) implantou a maior operação-arrastão em anos, prendendo dissidentes, ativistas dos direitos humanos, advogados e blogueiros. E agora foi o Weiwei, que parecia imune. Mas o recado é óbvio: ninguém tem privilégios na China, apenas os mandantes. A repressão também se estendeu a fiéis cristãos que rezam em igrejas não abençoadas pelo regime.

Nem pensar em usar as convulsões por liberdade dos últimos meses no mundo árabe para inspirar os chineses. O regime tem esmagado qualquer ensaio de revolução jasmin. Existe o empenho para sinalizar que na transição de poder (no ano que vem assume outro camarada), não existe espaço para liberalização. Pior, nem a longo prazo.

Senhora presidente, a China é um lugar estranho. O país se sente sitiado. Um recente relatório do seu Ministério da Defesa sugere que o mundo está morrendo de ressentimento da ascensão do país como um poder global. De fato, existe um certo temor do sucesso deste modelo de leninismo de mercado. Mas, veja, só, senhora presidente, se os chineses são tão poderosos como é que têm medo destes quase setentões excêntricos como o Bob Dylan? Até entendo, o medo do Weiwei, O vento dele pode soprar.

Bem, presidente, deixa para lá o Weiwei e vai vai. Faça bons negócios para o Brasil. Um dia quem sabe, todos, nós e os chineses, possamos cantar juntos The Times They Are A-Changing’. E não estou falando apenas de mudanças da política cambial.
11/04/2011

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