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sábado, 9 de junho de 2012

As reinações de Marta



Ao não prestigiar o lançamento da candidatura de Fernando Haddad, a ex-prefeita de São Paulo se isola e mostra quão está distante da realidade do PT

Esse comportamento autofágico pode comprometer seu futuro político dentro da legenda


Pedro Marcondes de Moura

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JOGANDO CONTRA
Atitude de Marta Suplicy contribuiu para atrapalhar a celebração de alianças pela candidatura do PT
                                 Revista IstoÉ

É comum ao político que perde a capacidade de influir nos destinos de seu próprio partido, coleciona derrotas e acumula mágoas reagir se contrapondo aos líderes ascendentes simplesmente para marcar posição.

Assim vem agindo a senadora Marta Suplicy (PT-SP) desde que foi alijada da disputa pelo governo paulista em 2010. No sábado 2, porém, a senadora passou da fronteira que delimita as brigas internas para adotar um comportamento autofágico.

Sob o comando do marqueteiro João Santana, o PT havia preparado uma superprodução para formalizar a candidatura de Fernando Haddad à Prefeitura de São Paulo, principal aposta do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva em 2012.

Foram fechados dois andares do Expo Center Norte, um dos maiores centros de convenções da capital paulista. Cerca de 1,2 mil militantes e aproximadamente mil delegados do partido assistiam aos discursos inflamados de ministros e parlamentares transmitidos em tempo real em enormes telões e aguardavam a presença da senadora e ex-prefeita de São Paulo.

Apesar de, nos últimos anos, Marta Suplicy ter presenciado o declínio de seu poder dentro da legenda, o presidente Lula faz questão de tratá-la como uma das maiores estrelas da campanha, ao lado dele próprio e do pré-candidato Haddad.

A ex-prefeita havia confirmado presença. No entanto, não deu o ar da graça. Para os líderes petistas, o recado foi claro: Marta não pretende gastar seu salto em uma campanha em que foi preterida.

Durante o encontro, correligionários ligavam sem sucesso para o celular de Marta.

A resposta para a ausência só veio na segunda-feira 4: “Um impedimento de caráter privado impossibilitou a senadora Marta Suplicy de comparecer ao evento”, tentou esclarecer a ex-prefeita por intermédio de sua assessoria.

Coube ao presidente do PT paulista, Edinho Silva, cobrá-la publicamente: “A Marta está errando politicamente”, declarou. “Sua ausência materializa algo muito grave. Ela renuncia a sua liderança política no momento em que o PT mais precisa dela.”

De fato, o comportamento de Marta só contribui para tumultuar a eleição e dificultar a celebração de alianças pela candidatura do PT à Prefeitura de São Paulo. Sem querer falar com a imprensa, a senadora reapareceu publicamente, na terça-feira 5, no Congresso, distribuindo beijinhos. Pegou mal.

“Se nem a Marta acredita na viabilidade de Haddad, por que os partidos aliados iriam entrar nessa canoa?”,
perguntam-se companheiros de primeira hora ligados ao PCdoB.

Na quarta-feira 6, Marta voltou a criticar a candidatura de Haddad.

Disse que sua ausência no evento do sábado transmitia a indignação.

A senadora complementou ainda que só entraria na campanha após o começo do horário eleitoral.


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DE CIMA PARA BAIXO
O PT está cada vez mais refém das decisões do ex-presidente Lula
Como consequência do comportamento de Marta, o PT chegou à quinta-feira 7 sem ter fechado nenhuma aliança formal em São Paulo. Desencorajados pela atitude da senadora, até parceiros tradicionais resistem a apoiar Haddad, como o PCdoB, por exemplo.

Outras agremiações como o PR e o PP, integrantes da base de sustentação ao governo federal, já anunciaram apoio ao principal adversário, o candidato José Serra.

A expectativa é de que o PSB declare apoio formal nos próximos dias. Mas para atrair os socialistas ao palanque de Haddad foi preciso uma intervenção pesada no diretório do Recife.

Na capital de Pernambuco, o atual prefeito, João da Costa, havia vencido o secretário estadual Maurício Rands nos votos dos militantes.

A prévia, porém, foi anulada. Pouco palatável para o governador Eduardo Campos (PSB) e lideranças petistas, como Lula, João da Costa sofreu pressão para desistir de sua candidatura em favor do senador Humberto Costa. Como ele não aceitou, a Executiva Nacional do PT marcou uma reunião na terça-feira 5 para discutir uma saída.

Em defesa da manutenção da candidatura, militantes fizeram vigília até a divulgação da decisão da cúpula petista. Prevaleceu, no entanto, a posição da direção do partido: o senador Humberto Costa será o nome nas urnas.

Em troca, o PSB promete apoiar Haddad à Prefeitura de São Paulo, o que, se confirmado, será menos um desfalque na complicada tarefa do PT de sacramentar alianças, que as atitudes de Marta Suplicy, até agora, só têm atrapalhado.


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INTERVENÇÃO
Embora tenha vencido as prévias, o prefeito do Recife, João da Costa (abaixo), viu a Executiva Nacional do PT impor o nome do senador Humberto Costa
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A avaliação no PT é de que Marta Suplicy parece não reconhecer a sua atual posição política. Ainda se comporta como em 2001, quando comandava a maior máquina administrativa do PT, a cidade de São Paulo. De lá para cá, a senadora foi derrotada duas vezes nas eleições para o Executivo paulistano, assistiu à escalada da legenda ao governo federal e acompanhou o esfacelamento do seu grupo político, que chegou a ser um dos mais fortes dentro do Partido dos Trabalhadores. Hoje, já não exibe as mesmas credencias que forçavam correligionários a se submeter às suas vaidades.

Marta age como se estivesse no antigo PT, sobre o qual exercia influência e cuja militância tinha voz ativa no partido. Atualmente, o ex-presidente Lula e a cúpula partidária imprimem de maneira cada vez mais forte suas digitais nas decisões da legenda, sobrepondo-se em muitos casos à histórica militância.

Para o analista político e professor da USP Gaudêncio Torquato, no cenário atual não há espaço para confrontar Lula ou a direção do PT. Mais cedo ou mais tarde, Marta terá de aderir à campanha de Haddad. “Se ela não entrar, será alijada do partido”, explica.

Ou seja, ao fim, um apoio constrangido de Marta a Haddad pode jogar politicamente contra ela; e uma derrota na capital paulista, ao contrário do que ela imaginava, seria debitada na sua conta.

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Outro retrato desse novo PT ao qual Marta ainda não conseguiu se adaptar é Belo Horizonte.

Lá, o vice-prefeito e presidente do diretório municipal do PT, Roberto Carvalho, critica o apoio à reeleição de Márcio Lacerda (PSB) sacramentado em uma decisão acirrada num enlace político com a presença do PSDB.

O acordo foi outra exigência feita pelo presidente nacional do PSB, Eduardo Campos, para entrar na coligação de Haddad. Defensor da candidatura própria, o vice-prefeito diz que a tese não prosperou graças à pressão do comando petista. “O Rui Falcão (presidente nacional da sigla) veio aqui dois dias antes da decisão e se declarou favorável à aliança”, explica.

“É, no mínimo, um desrespeito com a militância.”
Segundo Roberto Carvalho, o presidente Lula também mobilizou o ministro do Desenvolvimento, Fernando Pimentel, e o ex-ministro Patrus Ananias para pressionar os delegados partidários. Como resposta, parte da militância criou um movimento intitulado “resposta petista”.

“O que está acontecendo é a velha política de caciques. Não o PT que fundamos”, sintetiza. “Queremos aquele partido de participação popular”, complementa o vice-prefeito, com a experiência de quem diz ter passado por uma autocrítica após ter defendido a aliança com os socialistas em 2008.

Só que aquele partido, que povoa a lembrança dos militantes e do vice-prefeito de Belo Horizonte, não existe mais.

Marta Suplicy também precisa entender a nova circunstância.



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09.Jun.12 

Lula e nosso futuro comum




Os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir

FERNANDO GABEIRA
O Estado de S.Paulo

O ponto de partida é uma frase de Lula: "Não deixarei que um tucano assuma de novo a Presidência". Lembro, no entanto, que não sou de pegar no pé de Lula por suas frases. Cheguei a propor um "habeas língua" para o então presidente na sua fase mais punk, quando disse que a mãe nasceu analfabeta e que se a Terra fosse quadrada a poluição não circularia pelo mundo. Lembro também que hoje concordo com o filósofo americano Richard Rorty: não há nada de particular que os intelectuais saibam e todo mundo não saiba. Refiro-me à ilusão de conhecer as leis da História, deter segredos profundos sobre o que dinamiza seu curso e dominar em detalhes os cenários futuros da humanidade.

Nesse sentido, a eleição de Lula, um homem do povo, sem educação formal superior, não correspondeu a essa constatação moderna de Rorty. Isso porque, apesar de sua simplicidade, Lula encarnava a classe salvadora no sonho dos intelectuais, via luta de classes como dínamo da História humana, e traçava o mesmo futuro paradisíaco para o socialismo. Na verdade, Lula falava a linguagem dos intelectuais. Seus comentários que despertaram risos e ironias no passado eram defendidos pelos intelectuais com o argumento de que, apesar de pequenos enganos, Lula era rigorosamente fundamentado na questão essencial: o rumo da História humana.

A verdade é que a chegada do PT ao poder o consagrou como um partido social-democrata e, ironicamente, a social-democracia foi o mais poderoso instrumento do capitalismo para neutralizar os comunistas no movimento operário. São mudanças de rumo que não incomodam muito quando se chega ao poder. O capitalismo é substituído pelas elites e o proletariado salvador, pelos consumidores das classes C e D. Os sindicalistas vão ao paraíso de acordo com os critérios da cultura nacional, consagrados pela canção: É necessário uma viração pro Nestor,/ que está vivendo em grande dificuldade.

Se usarmos a fórmula tradicional para atenuar o discurso de Lula, diremos que o ex-presidente queria expressar, com sua frase sobre um tucano na Presidência, que faria todo o esforço para a vitória do seu partido e para esclarecer os eleitores sobre a inconveniência de eleger o adversário. Lula sabe que ninguém manda no processo eleitoral. São os eleitores que decidem se alguém ocupará a Presidência. Foi só um rápido surto autoritário, talvez estimulado pelo tom de programa de TV, luzes e uma plateia receptiva.

Se o candidato tucano for, como tudo indica, o senador Aécio Neves, também eu, em trincheira diferente da de Lula, farei todo o esforço para que o tucano não chegue à Presidência. Aécio foi um dos artífices na batalha para poupar Sérgio Cabral da CPI e confirmou, com essa manobra, a suspeita de que não é muito diferente do PT no que diz respeito aos critérios de alianças e ao uso da corrupção dos aliados para fortalecer seu projeto de poder. Tudo o que se pode fazer, porém, é tornar clara a situação para o eleitor, pois só ele, em sua soberania, vai decidir quem será o eleito.

Na verdade, essa batalha será travada também na esfera da economia. Vivemos um momento singular na História do mundo. A crise mundial opõe defensores da austeridade, como Angela Merkel, e os que defendem mais gastos e investimentos, dentro da visão keynesiana de que a austeridade deve ser implantada no auge do crescimento, e não durante o período depressivo. O PT dirigiu o País num período de crescimento e muitos gastos, não tanto no investimento, mas no consumo. É possível que esse modelo de estímulo à economia tenha alcançado seus limites.

Muito possivelmente, ainda, o curso dos acontecimentos não dependerá tanto da vontade de Lula nem dos nossos esforços individuais. A democracia prevê alternância no poder. E a análise de como essa alternância se dá na prática revela, em muitos casos, uma gangorra entre austeridade e gastança. De modo geral, a crise derrota um governo austero e coloca seu oposto no poder, como na França. Mas às vezes derrota um governo social-democrata e elege seu adversário direto, como na Espanha.

Pode ser que o esgotamento do modelo de estímulo ao consumo abra espaço para discurso de reformas fiscal e trabalhista, de foco em educação e infraestrutura, enfim, de uma fase de austeridade. E não é totalmente impossível que um partido de oposição chegue ao governo. Restaria ao PT, nesse caso, um grande consolo: ao cabo de um período de austeridade, o partido teria grandes chances de voltar ao poder com seu discurso do "conosco ninguém pode", do "vamos que vamos", "nunca antes neste país"... Não estou afirmando que esse mecanismo vai prevalecer, é uma das possibilidades no horizonte. A outra é o próprio PT assumir algumas das diretivas de austeridade e conduzir o processo sem necessariamente deixar o poder.

Por mais que a crise seja aguda, o apelo ao consumo e à manutenção de intensas políticas sociais é muito forte na imaginação popular. O discurso de austeridade só tem espaço eleitoral quando as coisas parecem ter degringolado.

O futuro está aberto e não será definido pela exclusiva vontade de Lula. Com todo o respeito ao Ratinho e sua plateia, o povo brasileiro é mais diverso e complexo. Se é verdade que a História não se define nas academias intelectuais, isso não significa que ela tenha passado a ser resolvida nos programas de auditório.

No script do socialismo real o proletariado foi substituído pelo partido, o partido pelo comitê central e o comitê central por um só homem. No script da social-democracia tropical Lula substituiu o proletariado, o partido, o comitê central e o próprio povo brasileiro ao dizer que não deixará um tucano voltar à Presidência. Se avaliar com tranquilidade o que disse, Lula vai perceber que sua frase não passa de uma bravata.

O que faz um homem tão popular e bem-sucedido bravatear no Programa do Ratinho é um mistério da mente humana que não tenho condições de decifrar.

A única pista que me vem à cabeça está na sabedoria grega: os deuses primeiro enlouquecem aqueles a quem querem destruir.

08 de junho de 2012

Finalmente, o julgamento



EDITORIAL
O Estado de S.Paulo



Passados exatos sete anos da revelação de que o PT comprava deputados para apoiar o governo Lula, na quarta-feira o Supremo Tribunal Federal (STF) marcou o início do julgamento dos envolvidos no maior escândalo político do Brasil contemporâneo, chamado mensalão por aludir à regularidade dos subornos.

A coincidência dá argumentos aos muitos que deploram a lentidão da Justiça, exacerbando o risco da prescrição das penas pedidas para os acusados.

Neste caso, ressalve-se que a primeira etapa do rito judicial foi cumprida com celeridade. Já em 30 de março de 2006, 9 meses depois, portanto, da notícia do escândalo, e antecipando-se em 13 dias à apresentação do relatório final da CPI dos Correios, com as suas devastadoras conclusões, o então procurador-geral da República, Antonio Fernando de Souza, denunciou ao STF 40 envolvidos com a "sofisticada organização criminosa" chefiada, segundo ele, pelo então ministro da Casa Civil, José Dirceu. Em agosto do ano seguinte, por unanimidade, o Supremo aceitou a denúncia.

Os 38 réus finalmente começarão a ser julgados em 1.º de agosto e, se tudo correr bem, receberão as suas sentenças ainda em setembro.

Do rol inicial, o ex-secretário-geral do PT Silvio Pereira, que ganhou notoriedade ao se descobrir que tinha ganho um Land Rover de uma empresa contratada pela Petrobrás, valeu-se do instituto jurídico da "suspensão condicional do processo" para livrar-se da ação em troca da prestação de serviços comunitários.

Outro indiciado, o ex-deputado do PP paranaense José Janene, suspeito de se beneficiar de mais de R$ 4 milhões das empresas do publicitário Marcos Valério de Souza, o operador do mensalão, faleceu em 2010.

Em julho do ano passado, o procurador-geral Roberto Gurgel pediu a condenação de 36 réus e a absolvição dos 2 restantes, por falta de provas.

Um, o ex-titular da Secretaria de Comunicação do Planalto Luiz Gushiken, acusado de liberar R$ 23 milhões para uma empresa de Marcos Valério.

Outro, o assessor parlamentar Antonio Lamas, acusado de lavar dinheiro.

A marcação do julgamento partiu da premissa de que o revisor do processo, ministro Ricardo Lewandowski, entregará o seu parecer até o final do mês.

O relator da ação, ministro Joaquim Barbosa, concluiu o seu texto em dezembro passado.

Ele será o primeiro a falar no julgamento.

Dos 11 membros do STF, 2 poderão não participar dos trabalhos, ou não participar deles até o fim.

O ministro Cezar Peluso terá de se aposentar no início de setembro, ao completar 70 anos. (Se o julgamento ficasse para o ano que vem, como não faltou quem pretendesse, também o atual presidente da Corte, Carlos Ayres Britto, seria excluído, pela mesma razão.) E o ministro José Antonio Dias Toffoli poderá se declarar impedido: ele advogou para o PT e para o governo Lula.

Com 11, 10 ou 9 magistrados, o Supremo terá de mostrar ao País que o tempo entre a denúncia e o julgamento não foi desperdiçado - eles sofreram pressões, envolveram-se em querelas, enfrentaram chicanas, mas estão maduros para dar as suas sentenças com conhecimento de causa e a isenção possível nesse campo minado.

Com a "faca no pescoço", para repetir a expressão usada pelo ministro Lewandowski quando da abertura da ação penal, o STF sempre esteve - e não poderia deixar de estar - em um caso sem precedentes e com tamanhas implicações políticas.

Destas, a principal, sem dúvida, diz respeito aos limites éticos às práticas dos governantes para se perpetuar no poder.

A menos que se aceite a última versão de Lula de que o mensalão foi "uma farsa" - na primeira versão ele reconheceu a lambança e pediu desculpas aos brasileiros -, na sala de sessões do Supremo estará em jogo o direito da sociedade brasileira de ter governantes que não admitam que os seus mandem às favas os possíveis escrúpulos de consciência na conquista de maiorias parlamentares.

Perto disso é detalhe se o julgamento influirá ou não nas eleições municipais marcadas para 7 de outubro - ou, para ir ao ponto, se o PT terá de pagar nas urnas o que eventualmente os companheiros tiverem de pagar à Justiça por seus atos.

O que interessa ao País é que, no dia 1.º de agosto, o vale-tudo pela hegemonia política estará no banco dos réus.
08.Junho.2012

STF anunciará sentenças do Mensalão na véspera do dia da Independência



Os ministros do STF bateram martelo e irão anunciar as sentenças do Mensalão na quinta-feira, 6 de setembro, às vésperas do Dia da Independência.




É uma forma de demonstrar que a mais alta corte do país está agindo em defesa da própria independência, depois das abomináveis pressões feitas pelo PT e por Lula.

Que pesem a mão e entrem para a história do Brasil.


9 de junho de 2012



A palavra-gatilho




Se você é treinado para ter sempre as mesmas reações diante das mesmas palavras, acaba enxergando somente o que é capaz de dizer, e dificilmente consegue pensar diferente do que os donos do vocabulário o mandaram pensar.

Por Olavo de Carvalho
Artigos - Cultura

Em artigo anterior, mencionei alguns termos da "língua de pau" que domina hoje o debate público no Brasil, inclusive e sobretudo entre intelectuais que teriam como obrigação primeira analisar a linguagem usual, libertando-a do poder hipnótico dos chavões e restaurando o trânsito normal entre língua, percepção e realidade.

Mas estou longe de pensar que os chavões são inúteis.

Para o demagogo e charlatão, eles servem para despertar na plateia, por força do mero automatismo semântico decorrente do uso repetitivo, as emoções e reações desejadas.

Para o estudioso, são a pedra de toque para distinguir entre o discurso da demagogia e o discurso do conhecimento.
Sem essa distinção, qualquer análise científica da sociedade e da política seria impossível.


A linguagem dos chavões caracteriza-se por três traços inconfundíveis:

1) Aposta no efeito emocional imediato das palavras, contornando o exame dos objetos e experiências correspondentes.

2) Procura dar a impressão de que as palavras são um traslado direto da realidade, escamoteando a história de como seus significados presentes se formaram pelo uso repetido, expressão de preferências e escolhas humanas.

Confundindo propositadamente palavras e coisas, o agente político dissimula sua própria ação e induz a plateia a crer que decide livremente com base numa visão direta da realidade.

3) Confere a autoridade de verdades absolutas a afirmações que, na melhor das hipóteses, têm uma validade relativa.


Um exemplo é o uso que os nazistas faziam do termo "raça".
É um conceito complexo e ambíguo, onde se misturam elementos de anatomia, de antropologia física, de genética, de etnologia, de geografia humana, de política e até de religião.

A eficácia do termo na propaganda dependia precisamente de que esses elementos permanecessem mesclados e indistintos, formando uma síntese confusa capaz de evocar um sentimento de identidade grupal.

Eis por que a Gestapo mandou apreender o livro de Eric Voegelin, História da Ideia de Raça (1933), um estudo científico sem qualquer apelo político: para funcionar como símbolo motivador da união nacional, o termo tinha de aparecer como a tradução imediata de uma realidade visível, não como aquilo que realmente era – o produto histórico de uma longa acumulação de pressupostos altamente questionáveis.

Do mesmo modo, o termo "fascismo", que cientificamente compreendido se aplica com bastante propriedade a muitos governos esquerdistas do Terceiro Mundo (v. A. James Gregor, The Ideology of Fascism, 1969, e Interpretations of Fascism, 1997), é usado pela esquerda como rótulo infamante para denegrir ideias tão estranhas ao fascismo como a liberdade de mercado, o anti-abortismo ou o ódio popular ao Mensalão.

Certa vez, num debate, ouvi um ilustre professor da USP exclamar "liberalismo é fascismo!"

 
Gentilmente pedi que a criatura citasse um exemplo – unzinho só – de governo fascista que não praticasse um rígido controle estatal da economia.

Não veio nenhum, é claro.

A palavra "fascismo", na boca do distinto, não era o signo de uma ideia ou coisa: era uma palavra-gatilho, fabricada para despertar reações automáticas.

Deveria ser evidente à primeira vista que os termos usados no debate político e cultural raramente denotam coisas, objetos do mundo exterior, mas sim um amálgama de conjecturas, expectativas e preferências humanas; que, portanto, nenhum deles tem qualquer significado além do feixe de contradições e dificuldades que encerra, através das quais, e só através das quais, chegam a designar algo do mundo real.

Você pode saber o que é um gato simplesmente olhando para um gato, mas "democracia", "liberdade", "direitos humanos", "igualdade", "reacionário", "preconceito", "discriminação", "extremismo" etc. são entidades que só existem na confrontação dialética de ideias, valores e atitudes.

Quem quer que use essas palavras dando a impressão de que refletem realidades imediatas, não problemáticas, reconhecíveis à primeira vista, é um demagogo e charlatão.

Aquele que assim escreve ou fala não quer despertar em você a consciência de como as coisas se passam, mas apenas uma reação emocional favorável à pessoa dele, ao partido dele, aos interesses dele. É um traficante de entorpecentes posando de intelectual e professor.

A frequência com que as palavras-gatilho são usadas no debate nacional como símbolos de premissas autoprobantes, valores inquestionáveis e critérios infalíveis do certo e do errado já mostra que o mero conceito da atividade intelectual responsável desapareceu do horizonte mental das nossas "classes falantes", sendo substituído por sua caricatura publicitária e demagógica.
Como chegamos a esse estado de coisas?

Investigá-lo é trabalhoso, mas não substancialmente complicado.

É só rastrear o processo da "ocupação de espaços" na mídia, no ensino e nas instituições de cultura, que foi, pelo uso obsessivamente repetitivo de chavões, uniformizando a linguagem dos debates públicos e imantando de valores positivos ou negativos, atraentes ou repulsivos, um certo repertório de palavras que então passaram a ser utilizadas como gatilhos de reações automatizadas, uniformes, completamente predizíveis.

Se você é treinado para ter sempre as mesmas reações diante das mesmas palavras, acaba enxergando somente o que é capaz de dizer, e dificilmente consegue pensar diferente do que os donos do vocabulário o mandaram pensar.

Esse foi um dos principais mecanismos pelos quais a festiva "democratização" do Brasil acabou extinguindo, na prática, a possibilidade de qualquer debate substantivo sobre o que quer que seja.
Publicado no Diário do Comércio.

08 Junho 2012

Desaceleração econômica estoura 'bolha' de entusiasmo com o Brasil no exterior


Custo Brasil gera preocupação com a estabilidade econômica do país

Ruth Costas
Da BBC Brasil em Londres


A desaceleração da economia brasileira estourou o que muitos analistas acreditam ter sido uma "bolha" de entusiasmo pelo Brasil no exterior.

Esse ritmo mais lento da economia brasileira foi confirmado nesta sexta-feira com a divulgação dos dados do Produto Interno Bruto (PIB) pelo IBGE. Segundo os números, no primeiro trimestre deste ano, o Brasil cresceu apenas 0,2% em relação aos três últimos meses de 2011.

Na segunda metade dos anos 2000, quando o Brasil ganhou a preferência de investidores estrangeiros, os holofotes da mídia internacional e, de quebra, o direito de sediar uma Olimpíada e uma Copa do Mundo, o termo "Brasilmania" passou a ser usado para referir-se ao crescente interesse internacional pelo país.

Agora, não só o fenômeno parece estar perdendo força como já há especialistas denunciando "exagero" nas análises negativas sobre a economia brasileira.

sexta-feira, 8 de junho de 2012

Médium que ‘operou’ Lula usou jato de Cachoeira





O PSDB ameaça levar à CPI do Cachoeira um caso que em tese pode constranger o ex-presidente Lula. Tucanos dizem que o médium João de Deus, de Abadiânia (GO), teria ido a São Paulo em um jatinho obtido graças à interferência do bicheiro, para a “operação espiritual” em Lula no hospital Sírio-Libanês, durante tratamento contra o câncer. Mas não há indícios de que Lula tenha tomado conhecimento do voo.
Intermediação


O pedido do jato para a viagem de João de Deus teria sido articulado pelo ex-vereador tucano Wladimir Garcez (GO), ligado a Cachoeira.
Tucano solidário


Deputados tucanos afirmam que foi um correligionário, o empresário e suplente de senador Ataídes Oliveira (PSDB-TO) quem cedeu o jato.
Não vem ao caso


Na primeira entrevista, ao final do tratamento, Lula desconversou sobre a visita do médium: “Não o procurei porque não conhecia as pessoas”.


08/06/2012

Einstein e o Brasil...






quinta-feira, 7 de junho de 2012

A questão central no país é a precária situação econômica




Por Villa

A questão central no país é a precária situação econômica. Como de hábito não é o foco principal do debate político.

Vale a pena listar algumas questões:

1. a situação difícil dos pequenos bancos. O caso do Cruzeiro do Sul é somente mais um e não é o único;

2. o setor da construção civil mostra sinais de esgotamento;

3. o endividamento das famílias não para de crescer;

4. problemas estruturais da economia não se resolvem com medidas tributárias (aumentando ou baixando impostos temporariamente);

5. a tal "classe C" como instrumento de puxar o consumo para cima não passa de ficção;

6. a falta de uma política industrial é evidente;

7. os velhos gargalos da infra-estrutura se mantem apesar de dez anos de consulado petista;

8. a baixa produtividade dos trabalhadores;

9. a poupança interna é irrelevante;

10. o governo não consegue planejar nada (apesar dos dois ministérios dedicados à esta função);

11. o "modelo" de desenvolvimento criado nos anos 90 está fazendo água - e não é de hoje;

12. governo trata a economia com descaso, acha que a palavra substitui a ação.

13. a situação econômica internacional deve se manter neste patamar (ruim) por um bom tempo (especialmente a Europa e os EUA);

14. temerosa de alguma medida impopular (mas necessária) para reequilibrar a economia a médio prazo, Dilma opta pela fraseologia vazia (com tinturas do velho populismo) e com medo de algum reflexo negativo nos índices de popularidade.

15, a taxa de investimento é ridícula.


O mais terrível é que o Congresso Nacional sequer passa perto de qualquer destas questões.

Calote pode afastar Thomaz Bastos de Cachoeira





Amigos afirmam que estão tensas as relações do bicheiro Carlos Cachoeira e seu advogado Marcio Thomaz Bastos

É que o ex-ministro da Justiça do governo Lula somente teria recebido, até agora, um terço dos R$ 15 milhões acertados inicialmente para atuar na causa.

O pagamento pelos serviços do advogado seria de responsabilidade de um amigo do bicheiro e, como ele, empresário do setor farmacêutico.


Saia justa

O ex-presidente Lula teria ficado irritado por não poder contar com Thomaz Bastos no episódio com o ministro Gilmar Mendes, do STF.



Sem interlocutor

Thomaz Bastos também soube da irritação do amigo Lula, para quem o advogado já não pode ser seu interlocutor no julgamento do mensalão.



À beira de ataque

O líder do PDT, André Figueiredo (CE), cobra promessa de Dilma de se reunir com as bancadas: “As relações estão se atritando”, avisa.



Feriadão

Foi grande o congestionamento ontem na saída dos dólares do Brasil: US$ 37,7 bilhões, rumo à crise de 2008, aquela da “marolinha”.



Lula tem histórico de briga com o Judiciário

A suposta ingerência para tentar adiar o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal não foi a primeira rixa de Lula com a Justiça: num discurso em Vitória (ES), no início do primeiro mandato, defendeu controle externo e a abertura da “caixa-preta” do Judiciário, insinuando ligação de juízes com o crime organizado, para favorecer “os ricos”.

Na ocasião, o ministro Gilmar Mendes determinou que Lula se explicasse em 48h, após interpelação de juízes e desembargadores do Paraná.



Bafafá

A Advocacia-Geral da União alegou que Lula tinha “o direito de expressão”, mas o bafafá no Congresso e Judiciário foi grande.



Palanqueiro

A polêmica gerou a célebre carta do juiz Ruy Coppola, do Tribunal de Alçada paulista, lembrando que Lula “não estava mais em palanque”.



Desinteresse

No DF, só a deputada Celina Leão (PSD) foi ontem (6) à sessão de abertura da CPI da Arapongagem. É a única integrante da oposição.



Capa ou não?

Já tem gente amolando facas no Mato Grosso do Sul. O governador André Puccinelli (PMDB) prometeu: “corto meu saco se ele (Zeca do PT) conquistar 30 mil votos” para vereador, em Campo Grande.



Toninho se despede

Após mais de trinta anos de casa, o jornalista Toninho Drummond vai deixar em 31 de julho a direção da Rede Globo em Brasília. Será substituído pelo brasiliense Luiz Marcelo, hoje na Globo em Nova York. Muito querido e admirado, Toninho agora quer apenas curtir a família.


No batente

O senador Aloysio Nunes (PSDB-SP) foi um dos poucos parlamentares a trabalhar ontem, véspera de feriado. Ele estava na ativa apesar do esvaziamento típico do Congresso em ocasiões assim.



Hora certa

O deputado Alessandro Molón (PT-RJ), defende depoimento do ex-diretor da Delta, Fernando Cavendish, mas “na hora certa”: “Tem de reunir informações antes, para não ser igual ao do Cachoeira”.



Vitória brasileira

O advogado Roberto Caldas foi eleito juiz da Corte Interamericana de Direitos Humanos. Derrotou o mexicano Eduardo MacGregor por 19x18 votos na assembleia geral da OEA, em Cochabamba, na Bolívia.



Me erre

Em meio à gritaria dos operários na obra no Estádio Nacional Mané Garrincha, de ontem (6) alguém perguntou ao governador Agnelo Queiroz: “O Sr. acha que é empolgação ou vaia?” Ele deu um drible: “Não tenho nada a ver com isso, [a gritaria] é para o Romário...”



Sentimental eu sou

A presidenta interina da Câmara, Rose de Freitas (PMDB-ES), chorou na última quarta (6), ao receber um pescador artesanal de 80 anos que cantou uma música, de sua autoria, sobre a aflição da categoria.



Mais do mínimo

Eram 395 assinaturas às 15h30 de quarta (7) na petição on-line em avaaz.org, pedindo votação dos projetos de lei reajustando os salários dos aposentados com mais de um mínimo. A Ficha Limpa teve cem mil.



Pergunta no palanque

Se Fernando Haddad perder a eleição em São Paulo, Lula, o 01 do PT, vai pedir para sair?




07/06/2012



Voto sobre mensalão sai 'ainda neste semestre', diz revisor do caso no STF


Mensalão

Os 36 réus do MensalãoReprodução/ Editoria de Arte

Mensalão

Principal escândalo do governo do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (2003-2010), o esquema do mensalão continua presente no cenário político atual em meio ao debate sobre o julgamento dos 36 réus citados no processo.
Para o novo presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro Carlos Ayres Britto, se o processo não estiver julgado até o dia 6 de julho, o calendário eleitoral pode prejudicar seu andamento na Corte.  Ele foi claro ao dizer: "é preciso julgar com brevidade, porque há o risco de prescrição".
Esse posicionamento, no entanto, não é consensual no Supremo. O ministro Marco Aurélio Mello se disse "terminantemente contra" a ideia de convocar a Corte em julho para apressar o processo.

"(O mensalão) é um processo como outros 700 que temos que apreciar. Por que pinçar este para julgar a toque de caixa?", afirmou à Folha de S.Paulo ao defender que o STF não pode ceder "à pressão política", seja à ala que pede agilidade ou à que tentaria atrasar.

Em ano eleitoral, o PT procura minimizar o impacto que o processo teria nas campanhas, em especial para o pré-candidato à Prefeitura de São Paulo, Fernando Haddad. "A sociedade brasileira exige cada vez mais da classe política transparência e combate a impunidade", afirmou o petista.
O suposto esquema de compra de votos de parlamentares foi revelado em 2005. A corte abriu ação sobre o caso em 2007.
Origem do Mensalão
Em junho de 2005, acuado depois de denúncias de corrupção na empresa de Correios envolvendo o PTB, o ex-deputado federal Roberto Jefferson, então presidente do partido, divulgou detalhes sobre compra de votos na Câmara Federal.  Segundo ele, cada político comprado recebia um “mensalão” de R$ 30 mil por mês, pago com dinheiro público, para aprovar projetos do governo.
Em agosto de 2005, o publicitário Duda Mendonça também foi acusado de estar envolvido no esquema.  Na época, disse que tinha aberto conta nas Bahamas - por orientação do empresário Marcos Valério - para receber cerca de R$ 10 milhões por serviços publicitários prestados ao PT. O então tesoureiro do PT, Delúbio Soares, teria o orientado a procurar Valério.
Em 2006, surgiu a  Lista de Furnas, um documento falso  que acusa políticos da oposição de caixa dois eleitoral. A estratégia foi minimizar o escândalo do mensalão colocando a oposição em situação parecida. Nilton Monteiro, lobista que planejou a trama acabou preso em Belo Horizonte. Em 2007, depois de 36 horas de julgamento, o STF aceitou denúncia contra 40 réus. Hoje Restam 36 réus: Silvio Pereira fez acordo com o Ministério Público e José Janene morreu em 2010.
Em julho de 2011, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, pediu ao Supremo Tribunal Federal (STF) que condene os 36 réus do processo do mensalão.

Para Gurgel, só não existem provas contra Antonio Lamas e o ex-ministro da Comunicação Social Luiz Gushiken - e, portanto, eles devem ser absolvidos.

Agnelo Queiroz: preparando o terreno



O secretário de Administração Pública do Distrito Federal, Wilmar Lacerda, passou a tarde desta quarta-feira no Senado preparando o terreno para o depoimento do governador Agnelo Queiroz, marcado para a próxima quarta-feira, na CPI do Cachoeira

O Globo


Suplente do senador Cristóvam Buarque (PDT), Lacerda aproveitou o livre trânsito que tem no plenário para conversar com senadores e exibir a eles um calhamaço com cerca de 30 páginas contendo supostas fragilidades das acusações que pesam contra o governador e sua administração.

Uma das páginas flagradas por O GLOBO trazia o título “Questões relevantes: o envolvimento de Cláudio Monteiro”.

Há cerca de dois meses, Monteiro deixou o cargo de chefe de gabinete de Agnelo após virem a público grampos feitos pela Polícia Federal que citavam seu nome e o vinculavam ao bicheiro Carlinhos Cachoeira.

A assessoria do governador do Distrito Federal confirmou que o material foi produzido por assessores para expôr fragilidades das acusações.

A ação de Wilmar, no entanto, constrangeu alguns senadores, que a consideraram invasiva.

07/06/2012 

Porta-voz neonazista grego agride duas deputadas ao vivo na TV








Inquieta com a crise, Dilma culpa essa gente que transforma marolinha em tsunami e antecipa o julgamento dos mensaleiros





Por Augusto Nunes
“Quem aposta na crise, como alguns apostaram há quatro anos atrás (sic), vai perder de novo”, esbravejou Dilma Rousseff na segunda-feira, ressuscitando o misterioso inimigo interno denunciado por Lula do primeiro ao último dia de governo.

Como o tsunami teima em ignorar a ordem do governo para virar marolinha, a afilhada resolveu botar a culpa na mesma assombração que atazanava o padrinho em dezembro de 2008. “Tem gente que vai deitar rezando: ‘Tomara que essa crise pegue o Brasil pra esse Lula se lascar’”, indignou-se no comício de todo santo dia o maior dos governantes desde Tomé de Souza.

Em outro post irretocável, meu amigo e vizinho Reinaldo Azevedo fez a recomendação avalizada por qualquer brasileiro sensato: “A presidente poderia renunciar a esta péssima herança deixada por Lula: atribuir dificuldades objetivas enfrentadas pelo governo a uma espécie de urucubaca ou de macumba feita pelos ‘inimigos’”, escreveu Reinaldo.

“Quem são ‘eles’, soberana? Quem, afinal, ‘aposta na crise’ ou, sei lá, torce contra o Brasil?’”

Quem faz parte do que Lula continua chamando de “essa gente”?,
acrescento.

Fora Lula e Dilma, ninguém sabe.

O que se pode inferir da discurseira da dupla é que se trata de uma gente muito rancorosa. Desde o dia da posse, repetiu Lula durante oito anos, essa gente sonhou com o fracasso do migrante nordestino que ocultava o estadista incomparável (e o futuro doutor honoris causa).

Essa gente ficou especialmente assanhada a partir de 2007, quando passou a torcer para que a crise nascida e criada em território ianque engolisse o torneiro-mecânico enviado pela Divina Providência para inventar o Brasil Maravilha.

Tudo bem que essa gente exibisse olheiras de galã de cabaré por sonhar acordada com o fiasco daquele que se mostrou mais esperto que Getúlio Vargas, mais sedutor que JK, melhor que todos os antecessores desde a chegada das caravelas, incluídos três governadores-gerais, um príncipe regente e dois imperadores.

O intolerável é descobrir que essa gente transferiu para a criatura o ódio ao criador e agora torce para que a crise afogue Dilma Rousseff. Isso é coisa de traidor da pátria, inimigo da nação, quinta-coluna de quinta categoria.

Quem topa até morrer afogado desde que o timoneiro também afunde com o barco não merece o anonimato concedido por Lula e endossado por Dilma.

Quem é essa gente?,
querem saber milhões de brasileiros. Só os detentores do segredo sabem o nome completo, a data e o local do nascimento, além do estado civil de cada um dos sócios desse abominável clube do contra.

Essa gente certamente não inclui os banqueiros, todos felizes com os lucros obtidos ou por obter.

Tampouco os industriais, principalmente os que lucram no setor automobilístico, cada vez mais animados com o pronto-socorro financeiro que o Planalto mantém aberto 365 dias por ano.


Muito menos os comerciantes, eufóricos com os sucessivos pedidos do governo para que a freguesia gaste o que não tem.

Também estão fora de suspeita os agricultores, que logo estarão exportando alimentos para o planeta inteiro.

Os miseráveis ainda à espera de vaga nas divisões superiores só precisam ter paciência.

Os pobres promovidos a integrantes da nova classe média acham que, se melhorar, estraga.


A velha classe média nem quer ouvir falar em crise: morre de medo do desemprego, da inflação, da erosão do poder de compra, sobretudo da suspensão das viagens anuais a Buenos Aires.

Os reacionários golpistas e os grã-finos paulistas estão muito preocupados em salvar o que têm para perder tempo em conspirações.
Sobram os eternos pessimistas que ainda dão as caras nas pesquisas de opinião.

É preciso saber quem são esses 3% ou 45% de maus brasileiros.

Parece pouca gente, mas seu poder é muito.


Com a indispensável contribuição de governantes ineptos, falastrões, atarantados e tão arrogantes quanto medíocres, essa gente consegue até transformar marolinha em tsunami.
E acaba de conseguir a antecipação do pesadelo que Lula tentou empurrar para 2013: o julgamento do mensalão vai começar em 1° de agosto.

Os donos do poder farão a travessia da temporada eleitoral lidando simultaneamente com a crise econômica, o BBB dos mensaleiros e a CPI do Cachoeira e da Delta.

O cenário inquietante atesta que Lula e Dilma têm razão: essa gente é um perigo.


07/06/2012


Charges









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Após relatório, Protógenes ataca PT no Twitter



EDUARDO BRESCIANI Agência Estado

O deputado Protógenes Queiroz (PCdoB-SP) falou em traição ao comentar o relatório de Amauri Teixeira (PT-BA) que pede a abertura de processo contra ele no Conselho de Ética

Protógenes foi flagrado em interceptações telefônicas da Polícia Federal conversando algumas vezes com Idalberto Matias Araújo, o Dadá, um dos integrantes do esquema do contraventor Carlinhos Cachoeira.

Cabe agora ao Conselho decidir pela abertura ou não de processo.

Para Teixeira, há indícios de quebra de decoro na ação do colega, que não deveria ter mantido "relacionamento próximo com um notório contraventor".

Em sua página no Twitter, o deputado do PCdoB questionou o posicionamento de Teixeira.

"Recebi alguns telefonemas de colegas do PT falando que o parecer do Dep. Amauri do PT foi uma traição", escreveu.

Minutos depois, Protógenes começou a atacar o partido aliado.

"Um passarinho me contou agora que o Dep. Amauri do PT cumpriu tarefa do PT em acordo com PSDB.

Querem desviar o foco da corrupção da Delta".


Ele ironizou ainda dizendo que seu maior "erro ético" foi propor a CPI do Cachoeira e disse haver documentos que provam sua inocência.  Leia mais.

Mensalão — Julgamento marcado: Lula e Dirceu perderam. Isso quer dizer que o STF e as instituições ganharam! Pena Lewandowski ter faltado!


O país está à espera de Lewandowski...





STF reunido: a partir da esq., Rosa Weber, Luiz Fux, Carmen Lúcia, Joaquim Barbosa, Gilmar Mendes, Celso de Mello, Ayres Britto, Marco Aurélio, Cezar Peluso e as duas cadeiras vazias, de Dias Toffoli e Ricardo Lewandowski
(Foto: Carlos Humberto SCO/STF)

Não sei qual será o resultado do julgamento dos mensaleiros no Supremo Tribunal Federal.

A decisão cabe aos 11 membros da corte.

Uma coisa, no entanto, sei com certeza: as instituições ainda não se renderam ao charme truculento de Lula ou à sua truculência charmosa, avalie cada um segundo a sua sensibilidade.

A decisão tomada ontem por 9 dos 11 ministros do Supremo em sessão administrativa, estabelecendo o rito de julgamento do processo, definiu um caminho.

Caberá agora ao ministro Ricardo Lewandowski, um dos ausentes à reunião — o outro foi Dias Toffoli, que tinha um compromisso social em São Paulo —, entregar o seu trabalho ainda neste mês de junho para que agosto ponha termo a um episódio que fez aniversário justamente ontem: no dia 6 de junho de 2005, há exatos sete anos, o então deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), em entrevista à Folha, acusava a existência da quadrilha do mensalão.

Que ninguém ainda tenha sido criminalmente punido em razão do maior escândalo havido na história republicana, eis um fato que deveria nos envergonhar como nação.

É impressionante que alguns ainda tenham a cara de pau de falar em “açodamento”.

Açodamento?

Sete anos depois?


Ignoro, reitero, o que fará cada ministro. Mas podemos declarar derrotadas todas as manobras, as legais e as ilegais, para tentar impedir que o mensalão fosse julgando ainda neste ano.

Nesse particular, Lula e José Dirceu perderam.

Venceram a autonomia do Poder Judiciário
— ou, ao menos, a sua parte saudável — e, sim, a imprensa independente, que não existe para prestar serviço a candidatos a tiranos e a jagunços que ousam assombrar o estado democrático e de direito.

Dado o rito, o ministro Cezar Peluso tem plenas condições de participar do julgamento.

Por quê?

No dia 1º de agosto, Joaquim Barbosa, o relator, apresenta uma síntese do seu voto, um parecer.

Em seguida, o procurador-geral da República formaliza a acusação.

E tem início então a defesa, que se estende até o dia 14, em sessões diárias, de segunda a sexta.

Aí os ministros começam a votar.


Ouvidas acusação e defesa e podendo ter acesso à integra do voto do relator e do revisor do processo, Peluso pode deixar redigido o seu voto, ainda que o processo avance setembro adentro.

Mas há ministros na corte, como Gilmar Mendes e Luiz Fux, que veem condições de que tudo termine em agosto.


Lewandowski, o revisor, para quem se voltam todos os olhos, muito especialmente os do estado de direito, sabia da sessão de ontem, é evidente, e de sua pauta. Mesmo assim e sendo quem é no processo, preferiu não participar.

O cronograma foi aprovado pela unanimidade dos nove presentes.




Não parece plausível supor que ele frustre não a expectativa dos pares que tomaram aquela decisão, mas a do país.

Vamos ver.

Ontem, a defesa de José Dirceu veio a público para asseverar que ele estava satisfeito com a definição do calendário e que é de seu gosto ser julgado logo.

A função da defesa é defender, e não há muito o que especular a respeito disso.

Mas é balela.

Ele e Luiz Inácio Lula da Silva fizeram o permitido e, sobretudo, o não-permitido para melar esse julgamento, para inviabilizá-lo ainda neste ano.

O ex-presidente, como é sabido, estava assediando ministro da corte para empurrar o julgamento para o ano que vem.

No caso de Gilmar Mendes, a conversa assumiu tintas de chantagem — que nem sempre é feita manipulando fatos; ao chantagista podem bastar, como era o caso, os boatos.

A decisão dos ministros do Supremo foi tomada 10 dias depois de VEJA revelar a conversa indecorosa de Lula com Mendes e na semana em que a revista apresentou evidências de que os petistas da CPI tinham em mãos uma espécie de cartilha para tentar desqualificar o ministro, o procurador-geral da República e a imprensa, fazendo da comissão, como anunciara previamente Rui Falcão em vídeo conhecido, mero teatro de achincalhe e plataforma para acusar o que chamou de “farsa do mensalão”
.

T
ornado público o avanço de Lula contra a independência do Judiciário, o STF preferiu não emitir uma nota pública, mas fez, entendo, algo mais importante do que isso: evidenciou que há ali homens e mulheres — independentemente do conteúdo de seu voto, reitero (a qualidade de cada um, veremos depois) — que entendem que a corte suprema de um país não pode estar sujeita a esse tipo de pressão, de arreganho autoritário, de mandonismo primitivo.

Assim, ainda que a expectativa dos decentes possa não se cumprir — ver condenados os mensaleiros —, é bom saber que o tribunal conserva o DNA da independência.

Em certa medida, talvez todos devamos ser gratos a Lula e a Dirceu — e também a Rui Falcão, braço dirceuzista na presidência do PT — pelo destrambelhamento, pelo açodamento, pela fanfarronice.

Não fosse a sede com que foram ao pote; não fosse, mais uma vez, a certeza da impunidade e a onipotência com que avançaram contra as instituições, sequiosos de vingança, talvez Lewandowski enxergasse ainda mais tempo para fazer a história avançar em câmera lenta.

Diante das escandalosas evidências de que a reputação do próprio Judiciário está em jogo — e, pior, tendo a sua instância máxima da berlinda —, sobrou ao tribunal evidenciar, agora de maneira clara, inequívoca, sem chances para segunda interpretação, que o país está à espera de Lewandowski.

Ele teria lustrado a instituição e o bom senso se tivesse aparecido na sessão desta quarta. Mas preferiu se ausentar.

Lula já chegou a dizer que, na Venezuela de Hugo Chávez, havia “democracia até demais” — o que nos faz supor que, para seu gosto pessoal, haveria ainda menos. Quem é capaz desse juízo explica por que assedia ministros do Supremo. Imaginem…

O Apedeuta deve lastimar profundamente os traços da “ditadura brasileira” que não lhe permitem impor a sua vontade aos juízes.

E encerro com uma questão que projeta esse debate para o futuro. Ministros que são titulares do Supremo, que já não dependem da vontade deste ou aquele, foram alvos daquele assédio criminoso — crime previsto no Código Penal.

Por uma questão de lógica, começo cá a imaginar como são conduzidas as conversas com aqueles que disputam uma indicação.

Ainda neste ano, Dilma terá de apontar dois nomes para integrar o Supremo, nas vagas de Peluso (sai em setembro) e Ayres Britto (sai em novembro).

Como será o assédio àqueles ou àquelas que são apenas aspirantes às vagas?

Se o jogo é bruto com quem, afinal, pode muito, a gente supõe como é com quem ainda não pode tanto…

Se haverá absolvição ou condenação em massa, isso, insisto, não sei.


O que sei é que a definição do cronograma, pouco importa o voto de cada membro do STF, representou a derrota de Lula e Dirceu e a vitória das instituições democráticas.

E eu incluo nesse grupo a imprensa que ousa chamar as coisas pelo nome que elas têm e milhares de brasileiros que, a exemplo dos leitores deste blog, se mobilizaram para dizer:


“Entregue o seu trabalho, Lewandowski”!

07/06/2012

quarta-feira, 6 de junho de 2012

STF marca para 1º de agosto início do julgamento do mensalão



Relator precisa entregar seu voto ainda este mês para cumprir o cronograma


BRASÍLIA - O Supremo Tribunal Federal (STF) marcou nesta quarta-feira a data do início do julgamento do processo do mensalão: 1º de agosto. Para que o cronograma dê certo, o ministro Ricardo Lewandowski, revisor do caso, precisa terminar seu voto ainda neste mês. A data foi sugerida em sessão administrativa pelo ministro Celso de Mello e aceita por unanimidade por seus colegas. Lewandowski não estava presente. No entanto, por meio de um assessor, ele anunciou que vai liberar o trabalho em meados deste mês.

Segundo o planejamento aprovado, haverá sessões plenárias diárias entre 1º e 14 de agosto, com duração de cinco horas. No primeiro dia, o relator, ministro Joaquim Barbosa, vai ler um resumo do relatório, com cerca de três páginas. Em seguida, o procurador-geral da República, Roberto Gurgel, terá cinco horas para fazer a sustentação oral. Nos dias seguintes, a defesa de cada um dos 38 réus fará a sustentação oral. Cada advogado terá uma hora para isso.

A partir do dia 15 de agosto, as sessões ocorrerão três vezes por semana para que os ministros votem, a começar por Barbosa. Serão encontros na segunda, quarta e quinta-feira. Não há previsão de quantos dias essa fase vai durar.

- Foi levada em consideração a minha condição de saúde - disse o relator, que sofre de problemas no quadril e tem dificuldade de ficar por muito tempo em uma só posição.

A nova rotina do tribunal implicou na mudança das sessões de turma durante a fase das sustentações orais dos advogados. A Primeira e a Segunda Turma encontram-se, normalmente, nas terças-feiras à tarde. As sessões serão pela manhã. O Conselho Nacional de Justiça (CNJ), que se reúne nas terças-feiras à tarde, terá sessões na terça pela manhã. Se necessário, também haverá encontros do conselho na segunda e na quarta-feira pela manhã.

O Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que tem sessões nas terças e quintas-feiras às 19h, passará a se reunir a partir das 20h, devido às sessões mais longas do STF. Isso porque três dos sete ministros do TSE também integram o Supremo.

- Como vocês estão vendo, ministro do Supremo trabalha - declarou o presidente da Corte, Carlos Ayres Britto.
6/06/12



Perillo prepara denúncia bombástica contra políticos goianos, na CPMI.Certamente, tiro contra adversários


"Um espetáculo da república"






 A estratégia do governador Marconi Perillo (PSDB) pode ser a de colocar todos na mesma vala

"Uma denúncia bombástica será feita contra políticos goianos", informou o jornalista Marcos Cipriano, na Rádio 730, hoje.

Outra expressão utilizada pelo jornalista é de que o depoimento será "um espetáculo da república".


No dia 12 de junho, dia dos namorados, o clima não será de "flores e beijinhos" entre o governador Marconi Perillo (PSDB) e integrantes da Comissão Parlamentar Mista do Cachoeira.

Os aliados do PT e PMDB farão perguntas contundentes, com certeza. O PSDB e aliados, darão proteção a ele.


Será um jogo de alto risco para todos.

Marconi Perillo está na linha de tiro e está claro que ele vai puxar outros políticos de Goiás para dentro do palco.


Do ponto de vista do governador de Goiás, será uma oportunidade para uma grande encruzilhada: ou ele sairá da CPMI consagrado por uma defesa que poderá estancar o mar de denúncias e desgastes ou será arrasado e enterrado, politicamente.

Nos bastidores, circulam informações de que Perillo prepara um depoimento meticulosamente treinado e didaticamente informativo.

O governador de Goiás passará os dias entre o feriado e domingo e concentração total neste treinamento, fora de Goiás, inclusive.

Perillo tentará fazer um "espetáculo da república".

No entanto, o clima está cada vez mais pesado. A hipótese de quebra de sigilo bancário dele vai encontrar o quê?

Certamente, aquela doação de R$100 mil reais em cheque para a Irmandade dos Congos, de Catalão.


Mas, do ponto de vista político, será um fato inusitado.

Arrisco afirmar que nenhum governador de Goiás teve sigilo bancário quebrado.

Se acontecer, será uma marca de Marconi Perillo.


                                                 06/06/12


Ministério da Saúde estuda forma oblíqua de legalizar e patrocinar o aborto. E o faz às escondidas, contra a vontade da sociedade.


Dilma precisa saber que democracias não podem ter agenda 
secreta

Por Reinaldo Azevedo


Caras e caros, lancem este texto na rede e façam o debate.

O Ministério da Saúde discute uma proposta verdadeiramente asquerosa na sua sanha para tentar legalizar o aborto por vias oblíquas.

E Eleonora Menicucci, aquela, está no meio…

Se eu tivesse de escolher uma metáfora para a chamada política de redução de danos para os dependentes químicos, por exemplo, seria esta: “Vá lá e flerte com o demônio; você certamente conseguirá domá-lo”.

A dita-cuja é considerada uma alternativa moderna e mais humana a um conjunto de ações contra as drogas, que vai da repressão a tráfico e  consumo ao tratamento médico propriamente dito. A “redução de danos” consiste em considerar o mal inevitável e em oferecer, então, condições mais seguras para experimentá-lo. ONGs que lidam com esse conceito, com o patrocínio do poder público, já distribuíram a viciados, por exemplo, kits com seringas para substâncias injetáveis e cachimbinhos para o consumo de crack.

Na minha república, estariam todos na cadeia por incitação ao consumo de drogas. Por aqui, estão escrevendo artigos em jornais e integram programas públicos que lidam com viciados… Pois é! Agora, o conceito de “redução de danos”, de flerte supostamente civilizado com o mal, chegou ao aborto.
O Ministério da Saúde, acreditem os senhores, estuda uma forma de organizar na rede pública um atendimento pré-aborto, que se destinaria a orientar a mulher que quer interromper a gravidez sobre os melhores métodos para fazê-lo, preparando-a para a coisa e já agendando o atendimento pós-procedimento.

Dado que o aborto é crime fora das agora três exceções — estupro, risco de morte da mãe e feto com diagnóstico de anencefalia —, o Ministério da Saúde, segundo entendi, está querendo se estruturar para fornecer a expertise necessária à prática de um crime.

Como o hospital público não pode fazer o aborto puramente eletivo, estaria atuando como o pré-atendimento dos açougueiros clandestinos de almas.

A alternativa, segundo se entende de
reportagem de Johanna Nublat na Folha de hoje, é a rede pública de saúde se transformar numa central de distribuição de um remédio abortivo.

Leiam trechos.

Volto em seguida.

*
O Ministério da Saúde estuda a adoção de uma política de redução de danos e riscos para o aborto ilegal.

Trata-se de orientar o sistema de saúde a acolher a mulher decidida a fazer o aborto clandestino e dar a ela informação sobre riscos à saúde e métodos existentes.

A ideia é polêmica porque pode envolver a indicação de métodos abortivos considerados mais seguros que outros, como o uso de misoprostol - princípio ativo do remédio estomacal Cytotec, amplamente usado em abortos, apesar de ter venda restrita.
“Como essa discussão é nova para nós, não fechamos o que seria um rol de orientação.

Queremos estabelecer, até do ponto de vista ético, qual é o limite para orientar as equipes”, diz o secretário de Atenção à Saúde do ministério, Helvécio Magalhães. A ideia ainda está em fase de discussão interna, dentro de uma política maior de planejamento reprodutivo e combate à mortalidade materna. O modelo foi adotado pelo governo do Uruguai em 2004, como resposta ao alto número de mortes maternas decorrentes do aborto inseguro.
Tratada com cautela, a proposta foi abordada pela ministra Eleonora Menicucci (Mulheres), na semana passada, em um seminário sobre mortes maternas.

Em 2011, morreram de janeiro a setembro 1.038 mulheres no parto e na gestação, número considerado alto. Em 2005, o governo estimava em 1 milhão os abortos induzidos anualmente, mas não há cruzamento com os óbitos. Menicucci e Magalhães dizem, por outro lado, que está mantida a posição de governo de não mexer na legislação que criminaliza o aborto. “Já temos a ideia de que isso não é crime, o crime é o ato em si”, diz o secretário.
(…)
Voltei


É tudo de um cinismo asqueroso. Magalhães, este monstro do pensamento jurídico, já tem “a ideia” de que crime é o ato em si, não a colaboração para a sua execução. Não é o que está no Artigo 29 do Código Penal, a saber:

Art. 29 - Quem, de qualquer modo, concorre para o crime incide nas penas a este cominadas, na medida de sua culpabilidade.

§ 1º - Se a participação for de menor importância, a pena pode ser diminuída de um sexto a um terço.

§ 2º - Se algum dos concorrentes quis participar de crime menos grave, ser-lhe-á aplicada a pena deste; essa pena será aumentada até metade, na hipótese de ter sido previsível o resultado mais grave.
Atentem para o “de qualquer modo”. A ingestão deliberada do misoprostol é só o método que vai conduzir à morte do feto — que é o crime.

Recomendar a sua administração ou ministrar à mulher remédios preventivos, que a tornem mais apta a usar a droga abortiva, parece incidir de maneira cristalina no parágrafo primeiro desse Artigo 29.
É evidente que dona Menicucci — aquela que foi aprender a fazer aborto com as próprias mãos em clínicas clandestinas da Colômbia e que atuava num grupo que ensinava as mulheres a praticar o autoaborto — tinha de estar no debate dessa nojeira homicida. Ninguém precisa acreditar apenas em mim. Se vocês clicarem aqui, encontrarão um texto técnico, em inglês, sobre as condições de uso do Cytotec (misoprotol) e sua efetividade.

Ele só é “recomendado” até a 12ª semana de gravidez. Em 70% dos casos, o aborto ocorre em até 12 horas, mas pode chegar a 72 horas, com contrações, hemorragias etc. Digam-me cá: esse atendimento pré-aborto ficaria devidamente registrado na ficha da mulher? Algo assim: “Recomendou-se nesta data que Fulana de tal ingerisse Cytotec ou introduzisse a droga na vagina…” Atenção! Nem a Organização Mundial da Saúde concluiu um estudo sobre o uso desse remédio com essa finalidade.

Número de mortes

Vocês se lembram que, até havia uns dois meses, afirmava-se em cena aberta que se praticavam no Brasil um milhão de abortos por ano, com a morte de 200 mil mulheres? Em fevereiro, peritos da ONU esfregaram esses números da cara de Dona Menicucci, cobrando providências, e ela os acatou.

Nem poderia ser diferente, não é?

Abortista e confessadamente aborteira, ela está entre aqueles que ajudaram a produzir essa farsa. Com dados do IBGE, provei que esses números eram estupidamente mentirosos.

O número de mulheres mortas estava sendo multiplicado por, deixem-me ver, 200!!! Vejam lá no texto da Folha. O governo insiste na falácia daquele milhão de abortos, mas o número de mulheres mortas caiu brutalmente, não é?

De janeiro a setembro, 1.038 ocorrências na gestação e no parto. Atenção! Mesmo nesse universo, é impossível saber quantas pereceram em razão de abortos provocados.
Os terroristas do abortismo resolveram aposentar um dos números falaciosos (as 200 mil mortes, que nunca ocorreram), mas mantiveram o outro — os supostos 1 milhão de abortos provocados.
Agenda oculta

Vai mal o governo também nessa questão. Não gosto de agendas ocultas. Elas fraudam a democracia. Dilma era favorável à legalização do aborto. Disse isso mais de uma vez. Declarou ter mudado de opinião quando se fez candidata.

A máquina de propaganda petista tentou operar o milagre de criminalizar — um escândalo moral!!! — quem dizia a verdade sobre a opinião do partido e da então candidata.

O Tribunal Superior Eleitoral cometeu a vergonha de pôr a Polícia Federal no encalço de católicos que distribuíram panfletos sobre o tema, numa agressão arreganhada à liberdade de expressão.

Eleita, Dilma nomeou para o Ministério das Mulheres uma abortista fanática e aborteira confessa e mantém o tema como agenda permanente do governo, embora escolha sempre um caminho oblíquo.
O debate não é vergonhoso só por causa do mérito: o assassinato; o debate não é vergonhoso só por causa do estelionato eleitoral: Dilma disse que não daria curso a essa questão; o debate não é vergonhoso só por causa da covardia política: tenta-se a legalização da prática por vias tortas.

O debate também é vergonhoso porque o atendimento à saúde no Brasil é um descalabro. Impor essa agenda a um serviço que larga os miseráveis em macas pelos corredores, em hospitais e postos de atendimento que são verdadeiros pardieiros, é um desses luxos a que só o fanatismo ideológico se consente.

E tudo por quê?

Porque os “progressistas” não abrem mão de legalizar os assassinatos virtuosos.

Numademocracia convencional — isto é, saudável —, a oposição tomaria a palavra nesta quarta no Congresso e obrigaria o governo a se explicar.

A nossa vai ficar em silêncio porque não considera que este seja um tema relevante.

A vanguarda da morte está assanhada.

Cadê a vanguarda da vida?

Se o governo quer legalizar o aborto, que tenha a coragem de fazer o debate às claras.




06/06/2012