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sexta-feira, 23 de agosto de 2013

Associação Médica Brasileira entra no STF contra importação de médicos


Mais médicos


AMB entrou com um pedido de Ação Direta de Inconstitucionalidade contra a Medida Provisória que deu início ao programa Mais Médicos
Veja.com
Associação Médica Brasileira argumenta que o programa Mais Médicos não apresenta urgência e não justifica uma Medida Provisória
(Thinkstock)

A Associação Médica Brasileira entrou nesta sexta-feira com uma Ação Direta de Inconstitucionalidade no Supremo Tribunal Federal (STF) contra a decisão do governo brasileiro de importar médicos estrangeiros sem a revalidação de diploma. O pedido busca suspender a Medida Provisória 621, o decreto 8.040 e a portaria 1.369 de 8 de julho de 2013 — que instituem o programa Mais Médicos — por violarem a constituição brasileira.

A AMB argumenta que o programa não poderia ter sido apresentado na forma de uma Medida Provisória, pois ele não apresenta urgência — uma das evidências disso seria que ele inclui mudanças nos cursos de medicina que terão efeitos somente a partir de 2021. "Trata-se de nítida manobra político-eleitoral, uma vez que se aproveita do clamor público oriundo das ruas para impor uma medida inócua e populista, que não enfrenta os reais problemas do sistema público de saúde", afirma a AMB em documento divulgado nesta sexta-feira.

Dois tipos de medicina — A Associação afirma que a dispensa de revalidação do diploma obtido em outros países coloca a população em risco e cria dois tipos diferentes de medicina. A primeira seria formada pelos médicos que poderão exercer a profissão livremente em todo o território nacional. "A segunda composta pelos intercambistas do Programa Mais Médicos, que terão seu direito ao exercício profissional limitado a determinada região, com qualidade duvidosa para atender a população que depende do Sistema Único de Saúde (SUS), já que não terão seus conhecimentos avaliados", afirma o documento, que também acusa a MP 621 de estabelecer uma burla à legislação trabalhista, promovendo um regime de escravidão moderno.

Justiça decreta prisão preventiva de assessor do Palácio do Planalto


Polícia

Lotado na Casa Civil , o petista Eduardo Gaievski é investigado por estupro de menores
Hugo Marques
Veja.com
A presidente Dilma Rousseff, o ex-prefeito de Realeza Eduardo Gaieviski e a ministra Gleisi Hoffmann: assessor da Casa Civil, ele teve prisão preventiva decretada
(Divulgação)

A Justiça de Realeza, no Paraná, decretou hoje a prisão preventiva do assessor especial da Casa Civil da Presidência da República Eduardo André Gaievski. Ex-prefeito de Realeza, no Paraná, ele é investigado por estupro de vulneráveis. Um inquérito que tramita em segredo no fórum da cidade reuniu depoimentos de supostas vítimas. Segundo os relatos, o então prefeito oferecia dinheiro a meninas pobres em troca de sexo.

“Eu tinha 13 anos de idade e o prefeito foi me buscar no colégio para levar para o motel”, diz J. S., uma das vítimas, que hoje está com 17 anos. O prefeito, segundo os relatos, aliciava as garotas usando mulheres mais velhas para convencê-las a manter relações com ele.

“A gente era ameaçada para não contar nada a ninguém”, diz A.F., que tinha 14 anos quando foi levada ao motel Jet’aime pelo prefeito três vezes, recebendo entre 150 e 200 reais cada uma delas.

P.B., outra suposta vítima, contou que saiu com o prefeito três vezes em troca de um emprego na prefeitura. “Hoje tenho depressão e vivo a base de remédios”, conta a moça, que está com 22 anos. “Quando ele enjoou de mim, fui demitida.”

Eduardo Gaievski foi prefeito por dois mandatos, entre 2005 e 2012. Em janeiro, a convite da ministra Gleisi Hoffmann, ele assumiu o cargo de assessor especial do ministério, encarregado de coordenar programas sociais importantes, como o de combate ao crack e o de construção de creches. Seu gabinete fica no quarto andar do Palácio do Planalto.

O assessor nega todas as acusações. Segundo ele, as denúncias foram armadas por adversários políticos que teriam interesse em prejudicar a ministra Gleisi. 
“Nego tudo isso e sei que vou provar minha inocência”, disse ele. Gaievski alega que o processo é retaliação de integrantes do Ministério Público do Paraná que teriam sido denunciados por ele quando era prefeito de Realeza.

Mão de obra análoga à escravidão, sim! Ou: Estatuto do Estrangeiro será usado para manter cativos os médicos cubanos. Ou ainda: A única mercadoria que Cuba comercia é gente! E o governo do PT compra




Por Reinaldo Azevedo

Leio na Folha que “O procurador José de Lima Ramos Pereira, que comanda no órgão a Coordenadoria Nacional de Combate às Fraudes nas Relações de Trabalho, disse que a forma de contratação fere a legislação trabalhista e a Constituição.”

E se registra uma fala do procurador: “O Ministério Público do Trabalho vai ter que interferir, abrir inquérito e chamar o governo para negociar”.

A chamada precarização do trabalho, considerando-se as leis brasileiras, está dada já pela natureza do contrato que os cubanos manterão com o Brasil.

Ramos Pereira explica por que a contratação dos cubanos é “totalmente irregular”.

Diz ele: “A relação de emprego tem de ser travada diretamente entre empregador e empregado. O governo será empregador na hora de contratar e dirigir esses médicos, mas, na hora de assalariar, a remuneração é feita por Cuba ou por meio de acordos. Isso fere a legislação trabalhista”.

A reportagem da Folha ouve ainda o auditor fiscal do Trabalho Renato Bignami, que afirma ser prematuro acusar as condições de trabalho dos cubanos no Brasil de análogas à escravidão.

Diz ele: “Não são só os salários aviltantes que são considerados para essa situação. Há fatores como jornadas exaustivas e condições degradantes”.

Ramos Pereira está certo. Os contratos ferem a legislação brasileira. Já Bignami está errado. Estamos, sim, diante de um trabalho análogo à escravidão.

Pior: o Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815) acabará atuando em favor dos mercados de escravos (o governo cubano) e os compradores (o governo brasileiro). Já chego lá. Antes, algumas questões.

Em primeiro lugar, consultem, quando houver tempo, as considerações do próprio Ministério do Trabalho sobre as características do trabalho análogo à escravidão.

Nem todas precisam ser satisfeitas para que ele esteja caracterizada. Bastam algumas — ou, sei lá, uma única, mas que defina a relação.

Dou um exemplo: a servidão por dívida. Ainda que o trabalhador tivesse as melhores condições, com toda a proteção, e morasse numa casa confortável, haveria trabalho análogo à escravidão se estivesse preso ao patrão por uma dívida impagável, que lhe tivesse sido imposta como precondição para conseguir o emprego. É claro que as coisas não acontecem desse modo.

Esse tipo de servidão quase sempre é acompanhada das piores condições. Estou apenas raciocinando por hipótese para demonstrar que a essência do trabalho análogo à escravidão é a agressão à liberdade de ir e vir — ainda que fosse no paraíso.

E é o que acontecerá com os cubanos. O roubo que será praticado pelo governo cubano é, claro!, relevante. Igualmente escandaloso é o fato de que o governo brasileiro está “comprando” um lote de profissionais de um mercados — no caso, o estado cubano, que usa essa mão de obra como fonte de divisas.

Países costumam ganhar dinheiro vendendo tecnologia ou com os royalties que ela rende; costumam ganhar dinheiro vendendo commodities; costumam ganhar dinheiro vendendo manufaturados; costumam ganhar dinheiro por intermédio de multinacionais, que fazem a remessa de lucros para as matrizes.

Não se tem notícia, no mundo moderno — ou me citem um exemplo —, de um país que obtenha dividendos vendendo a mão de obra de milhares de pessoas. Trabalho análogo à escravidão, sim.

Famílias
Lá no manual do Ministério do Trabalho, vocês verão que há um capítulo sobre a família dos trabalhadores. Nos locais onde se explora a mão de obra análoga à escravidão, os familiares costumam ser parte da equação porque, também eles, dividem com o trabalhador explorado os abrigos precários que servem de moradia.

Romper a relação corresponderia, pois, a deixá-los ao relento. Melhor um teto caindo aos pedaços do que teto nenhum.

No caso dos cubanos, a família também é parte da equação, mas de modo um pouco distinto. Os profissionais chegarão sem as suas respectivas famílias. Não se trata de uma opção, mas de uma imposição.

A tirania cubana não lhes dá licença para deixar a ilha. Assim, mantém a garantia de que esses profissionais jamais desertarão. Ora, essa situação é muito diferente, em essência, daquela outra?

Em certo sentido, é ainda pior: se um médico cubano pedisse asilo ao Brasil, não estaria apenas expondo seus entes queridos a agruras. Estaria condenado a não vê-los nunca mais.

E, sabemos, sempre estará a possibilidade de o governo brasileiro repetir a atuação gloriosa de Tarso Genro e mandá-los de volta para o colo dos facinorosos Fidel e Raúl Castro, como fez com aqueles dois pugilistas.

Assim, os médicos cubanos — ainda que todos filiados ao Partido Comunista e considerados “quadros” do socialismo (mas a gente sabe como são essas coisas nas ditaduras) — não são livres para ir e vir. Não são livres para fazer suas escolhas. Não são livres para decidir que destino dar às suas respectivas carreiras e vidas.

Em Cuba, fiquei sabendo a partir de depoimentos dados por esses médicos a venezuelanos que conheço, há duas formas de recrutamento: existe os que se apresentam voluntariamente para a tarefa, e há aqueles que são “escolhidos” pelo partido, sem a possibilidade de dizer “não”.

A commodity de Cuba é gente; a manufatura de Cuba é gente. Os tiranos exportam e reimportam quem lhes der na telha. Têm a vida desses profissionais na mão.

Estatuto do Estrangeiro
Vi o ministro Antonio Patriota a dizer que não há nada de errado nesse tipo de contrato e que é uma vontade da sociedade brasileira. Já que ele não se envergonhou, senti vergonha em seu lugar, uma vez que compartilhamos, ao menos, a nacionalidade.

Os cubanos que chegarão ao Brasil vão receber um visto provisório, o que lhes impõe limitações severas para trabalhar — que, noto, são adotadas por todas as democracias. É que as democracias de fato não costumam importar escravos…

Uma relação que, em tudo, caracteriza trabalho análogo à escravidão recebe, então, o reforço involuntário do Estatuto do Estrangeiro (Lei 6.815).

Eles entrarão no Brasil com visto temporário, que pode ser de até dois anos, prorrogável por mais um ano. O Artigo 100 da referida lei estabelece nesse caso (em azul):

Art. 100. O estrangeiro admitido na condição de temporário, sob regime de contrato, só poderá exercer atividade junto à entidade pela qual foi contratado, na oportunidade da concessão do visto, salvo autorização expressa do Ministério da Justiça, ouvido o Ministério do Trabalho.

Eis aí: ainda que quisesse exercer alguma outra função, não poderia. A ditadura cubana e a má-fé do governo brasileiro se aproveitam de uma lei que, em si, não é discricionária para manter o trabalho análogo à escravidão.

E se evidência faltasse…
De reto, se evidência faltasse, há uma outra, escandalosa, ditada pela natureza dos fatos. O Brasil abriu a inscrição para receber os médicos, inclusive os estrangeiros.

Por que os cubanos não se apresentaram?

Porque não podiam. Porque não são livres para isso.

Mas não são por quê?

Quem os impede?

Ora, o ente que detém a titularidade de sua mão de obra, que fala em seu lugar, que assina em seu lugar, que decide em seu lugar, que recebe o pagamento pelo trabalho em seu lugar: o estado cubano. E é com esse ente que o Brasil celebrou o acordo.

Há médicos de sobra em Cuba e sei lá mais onde?

Que o Brasil, então, abra as suas portas, que submeta os candidatos aos testes devidos, que eles busquem revalidar aqui seus diplomas e que passem a atuar como indivíduos livres.

Ocorre que o PT não escolheu a liberdade, mas a escravidão. Se esse negócio prosperar sem uma resposta firme do Ministério Público do Trabalho, ele estará para sempre desmoralizado.

Quero ver com que cara vai tentar combater o trabalho análogo à escravidão que remanesce, sim, em cartas áreas do país. Terá de dizer por que essa é uma prerrogativa do governo do PT.

23/08/2013

quinta-feira, 22 de agosto de 2013

Estados Unidos emitem alerta de cólera en Cuba


Raio ilumina a via do Malecón em Havana, capital cubana, na noite de quarta-feira (19). (Foto: Ramón Espinosa/AP)

O escritório diplomático dos EUA em Havana emitiu ontem um ALERTA REGIONAL de epidemia de cólera, provocando novas acusações de que Havana está a se omitir sobre um surto dessa doença infecciosa potencialmente letal para evitar turvar a imagem e causar danos à sua indústria turística, que movimenta algo em torno 2,5 bilhões de dólares por ano.



Francisco Vianna

Da mídia internacional
 
O medo dos americanos, principalmente da Flórida, de que o vibrião colérico acabe contaminando as águas por lá, dada não apenas a proximidade com a ilha, mas também ao movimento de viajantes entre os dois países, fez com que o Departamento de Saúde do estado sulista americano entrasse de prontidão com relação às medidas sanitárias aplicadas a quem vem de Cuba, dizendo, contudo ontem que não recebeu ainda qualquer comunicado de casos de cólera importados da ilha, apesar de dezenas de milhares de cubanos americanos terem visitado o seu país de origem durante o período de férias deste verão.

O governo cubano praticamente permanece mudo publicamente quanto aos recentes casos de cólera na ilha, uma infecção bacteriana que causa diarreias intensas, desidratação e morte por inanição e desnutrição aguda. A mídia local, amplamente controlada pela ditadura dos Castros se refere apenas a “distúrbios diarreicos agudos”.

Sherri Porcelain, uma professora titular de Saúde Pública Global em Assuntos Internacionais da Universidade de Miami e que está acompanhando o surto de cólera em Cuba, disse que “é claro que ninguém há de querer falar do assunto, porque esses surtos, provenientes da miséria e extrema pobreza em que vive a maior parte da população cubana, causam una diminuição do turismo tanto externo quanto ao interno, embora esse último seja desprezível”.

No entanto, Havana terá dificuldades em evitar toda a publicidade negativa neste mês. Além disso, do alerta americano, há relatos de que cinco casos de pessoas infectadas que viajaram de Cuba para a Venezuela, Chile e Itália, e uma nota emitida pela Organização Pan Americana de Saúde (OPS). A declaração da Seção de Interesses dos EUA em Havana instou aos cidadãos estadunidenses que vivem ou visitam Cuba em seguir as recomendações de saúde pública, tais como a lavagem frequente das mãos e o cuidado especial com a higiene dos alimentos e da água que se consomem.

“A mídia tem indicado que os casos de cólera foram identificados na cidade de Havana, possivelmente relacionados com um surto de cólera na zona leste de Cuba”, disse o comunicado datado de terça feira passada e publicado na página digital do escritório americano na quarta feira. Essa declaração não deu mais detalhes sobre os casos, embora jornalistas ‘independentes’ da ilha tenham reportado dezenas de casos no último ano e especialmente neste verão, quando as altas temperaturas e as chuvas parecem ter ajudado a difundir a enfermidade.

A OPS, braço regional da Organização Mundial de Saúde (OMS), informou que a Venezuela já confirmou em 9 de agosto dois casos de cólera entre os viajantes que chegam de Cuba, e que a Itália informou mais um, um homem que chegou de Havana em 13 de julho último.

O Chile informou outros dois chegados de Cuba com cólera, acrescentou a OPS. O aeroporto de Santiago declarou a seguir um “estado de vigilância epidemiológica” na chegada de cubanos, segundo comunicados da imprensa. O Canadá também emitiu uma advertência aos viajantes que se dirigem a Cuba.

O relatório da OPS assinalou também que 51 casos foram detectados em Havana no início deste ano, “relacionados com a manipulação dos alimentos”, além de outros 47 registrados nas províncias de Camagüey, Guantánamo e Santiago de Cuba, todos à leste da ilha, onde o furacão Sandy mais causou destruição.

“A falta de transparência de tudo o que ocorre em Cuba é realmente decepcionante”, disse Porcelain. “O intercâmbio de informação no momento oportuno é algo essencial para a prevenção... De fato, não publicam nenhuma informação, nada mesmo. Parecem não existir. O governo da ilha tem sido particularmente opaco e silente quando ao surto de cólera em curso na ilha”, acrescentou uma nota publicada no ProMED, um website da Federação de Cientistas Estadunidenses para difundir informação sobre surtos endêmicos e epidêmicos de doenças infecciosas.

No momento em que as autoridades anunciaram que a praia estaba fechada por causa de “uma situação epidemiológica de alto risco”, conforme escreveu um jornalista local. Alguns turistas já tinham chegado com medicação para longas estâncias e os rumores tinham começado a se espalhar.
22 de agosto de 2013

SER OU NÃO SER UM PAÍS CAPITALISTA É O CERNE DA CRISE DEMOGRÁFICA CHINESA



Um idoso chinês em Pequim.
(Foto LIU JIN/AFP/Getty Images)




Francisco Vianna
(da mídia internacional)

A população da China está envelhecendo muito rapidamente ao passo que a riqueza produzida por ela está canalizada para locupletar o insaciável e privilegiado politiburo comunista de Pequim, uma verdadeira burguesia dominante.

Isso vem causando uma transformação estrutural na sociedade chinesa mais profunda do que o projeto estatal longo e doloroso de “reequilíbrio econômico”, que o Partido Comunista ansiosamente tenta começar a empreender.

O grande desequilíbrio demográfico que tal desdobramento – principalmente da política de ‘filho único’ – causa implicações importantes pela sabida pretensão ilusória do Partido Comunista em “transformar e adaptar a economia chinesa” de modo a preservar o seu próprio poder na próxima década.

O aperto demográfico chinês pode ser visto em duas matérias publicadas na vigiada imprensa do país, uma vez que foram publicados pelo Ministério da Educação em 21 deste mês. Foi revelado que mais de 13.600 escolas primárias do país foram simplesmente fechadas em todo o país em 2012, por falta absoluta de crianças para frequentá-las.

A matéria admite que, em toda a China, o número de crianças em idade de frequentar escolas elementares caiu de 200 para 145 milhões, uma consequência dramática da “política de filho único”, vigorosamente imposta aos chineses.

Também o número de escolas primárias entre 2002 e 2012 diminuiu em vinte por cento e, logo depois, outra matéria publicada no jornal estatal “Diário do Povo” alertou para uma iminente crise de segurança social na China, provocada pelo salto do número de idosos do país, de 194 milhões, em 2012, para os 300 milhões previstos até 2025.



As mudanças demográficas, no curto prazo, já preocupa a burguesia estatal do Partido Comunista em Pequim que já dá mostras de adotar medidas capazes de reverter esses números, ou, pelo menos limitar o seu impacto sobre a sociedade chinesa. E é aí que mora o perigo, uma vez que é conhecida a ineficiência com que os sistemas centralizados, socialistas, tratam de questões desse tipo.

Se, por um lado, o Partido começar a relaxar sua “política do filho único”, ou mesmo iniciar um esforço para aumentar as taxas de natalidade – como já fez recentemente com um programa piloto em Xangai que permite que os casais possam ter outro filho – por outro lado, o governo propôs aumentar a idade de aposentadoria nacional de 55 para 60 anos para as mulheres e de 60 para 65 anos para os homens e, caso isso se torne norma geral, as pressões sociais poderão ser retardadas embora dificilmente contornadas de modo definitivo a não ser que o capitalismo privado no país seja vigorosamente estimulado, o que pouca gente acredita que acontecerá.



O capitalismo privado na China está praticamente restrito, por enquanto, aos industriais estrangeiros que foram para lá para aumentar seus lucros com a baixa remuneração do trabalhador local.

Ou seja, mesmo com ajustes radicais na “política de filho único” ou na "elevação da idade nacional de aposentadoria", Pequim criaria apenas sistemas tampões temporários e parciais para o problema da crise demográfica.

Não é evidente que a “política do filho único” tenha tanto impacto isoladamente sobre o crescimento da população na China.

A baixa taxa de natalidade da China (1,4 filho por mãe, em comparação com uma média de 1,7 em países desenvolvidos e 2,0 nos Estados Unidos) não é mais do que um reflexo da difícil e desumana luta de casais urbanos em lidar com a rápida elevação do custo de vida e o baixo acesso à educação nas muitas cidades chinesas, uma consequência draconiana dessa política.

Da mesma maneira, ao se elevar a idade de aposentadoria em cinco anos, apenas se adiará em parte o inevitável, e, enquanto isso, crescerá uma forte oposição de importante contingente de profissionais, incluindo-se aí muitos funcionários públicos.

O governo também corre o risco de, com esse ajuste da idade de aposentadoria, agravar uma crise de emprego em meio ao número crescente de graduados desempregados nas cidades por falta de mercado de trabalho, muitos dos quais estão considerando uma escada de emprego, com trabalhadores idosos saindo da força de trabalho.

Neste contexto, o Partido Comunista vai ter que pesar com muito cuidado tais ajustes da política econômica e talvez ter que reduzir o capitalismo de estado e estimular mais o empreendedorismo privado para aumentar a geração de riqueza que possa efetivamente reverter em maior poder aquisitivo e poder de consumo dos chineses, uma vez que qualquer mudança feita nesse setor, ideologicamente falando, tende a criar tensões sociais com relação ao regime socialista centralizado imposto aos chineses.

O que a pequena burguesia dirigente da China tem que levar em conta é o fato de que o cerne da crise demográfica que assoma e se avoluma no horizonte chinês de deve ao fato de que, ao contrário de Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e países da Europa Ocidental, a população da China vai envelhecer antes que pelo menos algo em torno da metade dela alcance o status de renda de classe média, e muito menos de classe rica, que é imensamente menor do que nos países capitalistas privados.

Este é um cenário historicamente sem precedentes no país e as suas implicações são tidas ainda como imprevisíveis por sua coincidência com a economia centralizada da China e que poderá forçar o afastamento de um modelo econômico fundado na exploração do trabalho exaustivo e barato para outro sistema no qual os jovens chineses possam de fato sustentar economicamente a vida do país, tanto como trabalhadores como consumidores.

A suspensão temporária da crise demográfica vai ser difícil, mas é possível que apenas seja postergada e aliviada em seus efeitos mais agudos com as medidas que Pequim parece disposta a por em prática, mas não sinaliza uma solução no longo prazo, que ideologicamente se situa fora do alcance e do interesse da diminuta e privilegiada classe dominante do politiburo socialista chinês.


22 de agosto de 2013

Charge




https://mail-attachment.googleusercontent.com/attachment/u/0/?ui=2&ik=4ef2d7894c&view=att&th=140a655d43a076af&attid=0.1&disp=inline&safe=1&zw&saduie=AG9B_P8dD-8IMGSXBnb_fTv7nBFe&sadet=1377195533098&sads=bqr5r3I14BmZxZC8zeUD04wRzR0&sadssc=1

cadê a "oposição" ???

sponholz


quarta-feira, 21 de agosto de 2013

PT vai traficar 4.000 escravos cubanos. Que nunca mais se fale em direitos humanos no Brasil.






Folha Poder
Por O EDITOR

O Brasil vai receber até 4.000 médicos cubanos até o final de 2013, 400 deles imediatamente, dentro do programa federal Mais Médicos. Segundo informou o Ministério da Saúde nesta quarta-feira (21), eles não poderão escolher as cidades em que vão atuar: os primeiros 400 serão direcionados para 701 municípios que não foram escolhidos por nenhum profissional na primeira etapa do programa, 84% deles no Norte e no Nordeste do país.

Os que vierem nos próximos meses serão sempre distribuídos em cidades onde há sobra de vagas. A prioridade no programa continuará sendo dada a médicos brasileiros; em seguida aos formados no exterior e, por fim, aos cubanos. A previsão é que o primeiro grupo de profissionais de Cuba chegue ao Brasil até a próxima segunda-feira (26) e participe, junto com os demais médicos já selecionados no programa, de uma avaliação que vai durar três semanas. Qualquer um desses médicos, sejam brasileiros ou estrangeiros, pode ser desclassificado se for reprovado nas avaliações, feitas por universidades públicas.

O programa Mais Médicos foi lançado em julho pela presidente Dilma Rousseff. Um de seus focos é ampliar a presença de médicos, brasileiros ou estrangeiros, no interior do país e nas periferias das grandes cidades. Este mês, após a constatação de que o primeiro mês de seleção do programa supriu menos de 15% da demanda por médicos, o ministro Alexandre Padilha (Saúde) afirmou que o país faria acordos internacionais para alavancar as inscrições no programa.

E citou um potencial acordo com Cuba. No início do ano, o governo cubano ofereceu 6.000 profissionais ao Brasil, oferta que gerou polêmica no país e foi suspensa pelo governo brasileiro. O acordo com Cuba é o primeiro a ser fechado pelo ministério. Será intermediado pela OPAS (braço da Organização Mundial da Saúde para as Américas), modalidade de acordo nova para os cubanos, que têm parcerias para o envio de médicos com outros países.



O governo brasileiro afirmou que vai repassar a Cuba, via OPAS, R$ 10 mil mensais por cada médico, mesmo valor pago aos médicos que se inscreveram individualmente no programa. Além disso, será repassado à Cuba uma ajuda de custo para instalação do médico no Brasil. 

Padilha não soube dizer, no entanto, quanto será pago, de fato, ao médico cubano. Joaquin Molina, chefe da OPAS no Brasil, disse também não ter essa informação. O ministro afirmou que o governo brasileiro e a OPAS vão fiscalizar as condições de trabalho que serão dadas ao profissional. As cidades que vão receber os médicos ficarão encarregadas de custear alimentação e moradia --tanto para os cubanos, como para os demais profissionais.

REPERCUSSÃO
A entrada massiva de médicos estrangeiros é rejeitada pelas entidades médicas, que criticam o fato de o governo brasileiro dispensar os médicos formados no exterior da revalidação de seus diplomas.
Em nota divulgada logo após o anúncio do acordo com Cuba, o CFM (Conselho Federal de Medicina) classificou a decisão de "eleitoreira, irresponsável e desrespeitosa".

"Trata-se de uma medida que nada tem de improvisada, mas que foi planejada nos bastidores da cortina de fumaça do malfadado programa Mais Médicos. O anúncio de nesta quarta-feira coloca em evidência a real intenção do governo de abrir as portas do país para profissionais formados em Cuba, sem qualquer avaliação de competência e capacidade. Estratégia semelhante já ocorreu na Venezuela e na Bolívia, com consequências graves para estes países e suas populações", diz a nota.

BALANÇO DO PROGRAMA
 
Na primeira rodada de inscrições, o Mais Médicos teve inscrições de 18.450 profissionais, sendo que 1.920 deles atuam no exterior (sejam brasileiros ou estrangeiros). Desses somente 1.816 finalizaram o processo de seleção, sendo designados para 579 cidades --isso cobre somente 11,8% da demanda por 15.460 médicos feita pelos prefeitos e 16,5% das cidades inscritas no programa.

O número, porém, ainda é preliminar. Dos 522 médicos selecionados com atuação no exterior, pelo menos 63 já foram desclassificados por problemas com a documentação. Os médicos formados no exterior selecionados na primeira etapa começam a chegar ao Brasil nesta sexta-feira (23). Uma segunda rodada de inscrições já teve início. A proposta é que as seleções sejam mensais.

21 de agosto de 2013


Quatro palpites sobre um bate-boca




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ROBERTO DAMATTA
O Globo

Quando menino, minha avô Emerentina me solicitou um palpite para o jogo do bicho, uma atividade que ela praticava com a mesma religiosidade com que fazia as suas orações matinais. Pensei num filme de Tarzan e chutei: elefante! O elefante deu na cabeça e dela recebi um dinheiro que virou bombons de chocolate.

São 25 bichos, conforme determinou o cânone do Barão de Drummond, o inventor disso que Gilberto Freyre dizia ser um “brasileirismo”. Algo genuinamente brasileiro, ao lado da feijoada, das almas do outro mundo, do samba, da corrupção oficial, do suposto orgasmo das prostitutas e do “rouba mas faz”. Quanta inocência existe entre nós. É de enternecer.
Palpite 1 (avestruz)
O ministro Joaquim Barbosa tem sido tratado como um Drácula brasileiro por dizer o que pensa e sente. Mas, no Brasil, eis o meu primeiro palpite, somos todos treinados a não dizer o que pensamos. Seja porque seríamos presos por corrupção ou tomados como desmanchadores de prazer; seja porque faz parte de nossa persistente camada aristocrática não confrontar o outro com a tal “franqueza rude” a ser reprimida por sinalizar não o desrespeito, mas um igualitarismo a ser evitado justamente porque nivela e subverte hierarquias.

Somos a sociedade da casa e da rua. Em casa somos reacionários e sinceros; na rua viramos revolucionários e ninjas ─ a cara encoberta. Somos imperais em casa, quando se trata das nossas filhas, e fervorosos feministas em público, com as “meninas” dos outros. Observo que, quando há hierarquia, não há debate nem discórdias; já o bate-boca é igualitário e nivelador. Por isso ele é execrado entre nós, alérgicos a todas as igualdades. Discutir é igualar, de modo que as reações de Joaquim Barbosa assustam e surpreendem. Afinal, ele é um ministro. Como pode se permitir tamanha sinceridade? O superior não deveria discutir, mas ignorar e suprimir.

Palpite 2 (águia)

Um presidente da instância legal mais importante do país que esconde por educação seus valores seria um poltrão? E isso, leitor, é justamente o que esse Joaquim Barbosa, negro e livre, não é e não quer ou pode ser. Na nossa sociedade, você está fora do eixo (ou da curva) até o eixo entrar nos eixos. Ai você vira celebridade e começa a ser fino como um aristocrata. Na oposição seu senso crítico é gigantesco, mas no dia em que você vira governo surgem as etiquetas reacionárias. Eu queria ir, você diz, mas a minha assessoria impediu. Não ficaria bem…

Afinal ator e papel não podem operar como um conjunto? Ou devem agir se autoenganando para serem permanentemente elogiados como “espertos” ou “malandros”? Esse apanágio do nosso sistema político que glorifica a hipocrisia e condena a opinião pessoal sincera que, em circunstâncias gravíssimas como a que estamos vivendo no momento, exige o confronto e consequentemente a desagradável rispidez da discórdia?

Palpite 3 (burro)

Como ter democracia sem conflito? Se passamos a mão na cabeça dos mais gritantes conflitos de interesse nesta nossa sociedade de vizinhos de bairro e de parentelas adocicadas pelos compadrios, porque temos de nos sentir aporrinhados porque um juiz confrontou de modo direto um colega cujo objetivo óbvio era o de protelar o arremate de um processo que, no meu entender, vai definir o caráter de nossa democracia liberal e representativa?

Palpite 4 (borboleta)
Pergunto ao leitor: existe sinceridade sem emoção? Existe honestidade sem estremecimento? Existe algum regime ético no qual se troca convicção por boas maneiras? Afinal de contas o que seria uma pessoa com “bons modos”? Seria um cagão sem espinha dorsal? Como, pergunto, mudar um país com essa maldita tradição de dizer que somos assim, mas no fundo somos assado sem dissensões? Afinal o que preferimos: o golpe que silenciosamente suprime o bate-boca ou o bate-boca que é a única arma democrática contra o golpe?

Um amigo me diz que o ministro Barbosa estava certo no conteúdo, mas errado na forma; e que o ministro Levandowski estava errado no conteúdo e certo na forma. Mas, palpito eu, como separar forma de conteúdo quando se trata do futuro da democracia ou de um grande amor? Seria possível uma noite de núpcias com um noivo certo no conteúdo, mas sem traduzir esse conteúdo formalmente?

O sinal dos tempos no Supremo tem sido, precisamente, o estilo sincero e desabrido ─ honesto pela raiz ─ do estruturalismo de Joaquim Barbosa. Nele, forma e conteúdo estão juntos como estiveram em todos aqueles que tentam ser uma só pessoa na casa e na rua, na intimidade e no púlpito, entre os amigos e os colegas de tribunal.

Para se ter uma democracia é preciso juntar forma e conteúdo. Não se pode condenar a discórdia e o direito à diferença como somente um gesto de má educação ou de egoísmo autoritário. É preciso abrir um lugar para o bate-boca no sistema moral brasileiro caso se queira terminar com a sujeição e a autocondescendência que nos caracteriza como uma sociedade metade aristocrática, metade igualitária. Prova isso o agravante de que, quando essas metades entram em choque, tendemos a ficar do lado aristocrático ou do bom comportamento. Do formal e do legalmente correto, sem nos perguntarmos se o confronto não seria a maior prova de igualdade e de respeito pelo outro.

Será que acertei novamente no elefante, ou deu burro e avestruz?
21/08/2013

Governo contratará 4.000 médicos cubanos


Mais Médicos

De acordo com o Ministério da Saúde, 400 cubanos devem vir imediatamente para o país. Todos serão alocados nas 701 cidades que não foram escolhidas por nenhum médico


Veja.com
Mais Médicos:
Dos 4.000 médicos cubanos que virão ao País, 400 devem ser chamados imediatamente (Marcelo Prates/FuturaPress)

Depois de anunciar no último mês que daria prioridade aos médicos espanhóis e portugueses, o governo federal voltou atrás e anunciou nesta quarta-feira a contratação de 4.000 médicos cubanos. Os médicos irão suprir as vagas não preenchidas no programa Mais Médicos, e virão ao país em um convênio com a Organização Panamericana de Saúde (Opas). De acordo com o Ministério da Saúde, 400 deles devem vir imediatamente ao país. O investimento federal será de 511 milhões de reais até fevereiro de 2014.

Em nota, o Conselho Federal de Medicina (CFM) condenou a decisão, chamando-a de irresponsável uma vez que trará os médicos cubanos sem a devida revalidação de seus diplomas e sem comprovar domínio do idioma português. Segundo o CFM, a decisão "desrespeita a legislação, fere os direitos humanos e coloca em risco a saúde dos brasileiros, especialmente os moradores das áreas mais pobres e distantes".

Os médicos cubanos que vierem trabalhar no País serão direcionados para as 701 cidades que não foram escolhidas por nenhum profissional durante a primeira etapa do programa — 84% ficam nas regiões Norte e Nordeste. Segundo o Ministério da Saúde, os primeiros profissionais chegam ao Brasil neste fim de semana e passarão por avaliação de três semanas juntamente com os demais médicos com diploma do exterior — entre 26 de agosto e 13 de setembro.

Mais Médicos
— A primeira etapa de inscrições para o programa foi encerrada este mês com 1.618 inscritos, que preencheram apenas 10,5% das 15.460 vagas abertas. Dos médicos selecionados, 67,7% são formados no Brasil e o restante, no exterior. Além disso, somente 579 dos 3.511 municípios inscritos foram contemplados na primeira chamada. Os médicos estrangeiros que vierem trabalhar no Brasil não precisarão revalidar seu diploma — assim, não poderão migrar para outras áreas e trabalhar de maneira independente no país, ficando presos ao contrato do programa.

O anúncio feito em julho pelo governo de que a prioridade seria trazer médicos portugueses e espanhois já era visto como uma tentativa de camuflar a vinda dos cubanos. Em entrevista ao site de VEJA no dia 20 de julho, o deputado Eleuses Paiva (PSD-SP) afirmou: "A notícia que nós temos, e que provavelmente o ministro dará, é que serão dez portugueses, vinte espanhóis e 25 000 médicos cubanos. O foco da discussão, na realidade, é médico cubano".

STF retoma julgamento do mensalão nesta quarta. Ou: O tribunal, mais uma vez, é assediado pela desmoralização. Ou ainda: Questão de caráter




O Supremo retoma nesta quarta o julgamento do mensalão, que terminou, na quinta passada, com um embate entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski, entre a lei e a chicana

Por Reinaldo Azevedo

Já é um chavão, eu sei, mas, no Brasil, alguns valentes insistem em desafiar o óbvio.

Então vamos lá: “À mulher de César, não basta ser honesta; também é preciso parecer honesta”.

Sabem vocês: existem os hipócritas, que parecem e não são. Existem os falastrões, que são, embora não pareçam. E há um tipo bem vulgar em Banânia, em número que se mostra crescente: não se preocupam nem em ser nem em parecer honestos.

Jamais se pode acusá-los de hipócritas porque nem mesmo tentam fingir uma virtude que não têm.

Mesmo quando somos tentados a apostar que escorregaram por inocência ou imprudência, convém ser prudente: trata-se de ardil.

Entre a última sessão do Supremo, em que assistimos ao bate-boca entre Joaquim Barbosa e Ricardo Lewandowski — até Caetano Veloso disse algo incompreensível a respeito (ver post) —, e a noite de segunda-feira, o Brasil se degradou mais um pouquinho, uma instituição, o Supremo, foi um tantinho mais rebaixada, e a ameaça de uma justiça injusta, bastarda, veio fazer sombra no tribunal.

Vocês sabem o que penso: juiz tem de julgar segundo as leis e a sua consciência.

Não tem de dar bola para o alarido das ruas.

Mas, com igual determinação, tem de ignorar os cochichos e sussurros dos corredores e, sobretudo, dos porões do poder.

Como sabem, no debate da VEJA.com e aqui mesmo, critiquei a reação do ministro Joaquim Barbosa às provocações de Ricardo Lewandowski, mas deixei muito claro quem era o dono da razão técnica: Barbosa.

Muito bem: o que queria Lewandowski?

Usar os embargos de declaração para rever a pena de Bispo Rodrigues. A defesa do condenado argumenta que o acordo do mensalão foi feito em fins de 2002, quando a pena mínima para corrupção passiva e ativa era de um ano, e a máxima, de 8. Em novembro de 2003, votou-se nova lei (10.763), que elevou os dois extremos para 2 e 12, respectivamente.

Assim, surgiu a questão: os condenados por esses crimes serão apenados por qual lei?
Se o crime tivesse sido cometido só em fins de 2002, estava tudo resolvido: pela lei anterior.

Ocorre que ele teve continuidade. Pagamentos foram efetuados já na vigência do novo texto. As armações do mensalão estiveram em curso até (que a gente saiba…) 2005, quando Roberto Jefferson bota a boca no trombone.

Atenção!

Por unanimidade, o tribunal decidiu, recorrendo à Súmula 711, de aplicação obrigatória, que o julgamento se daria pela lei mais severa.

Cumpre, mais uma vez, lembrar o conteúdo de tal súmula:
“SÚMULA Nº 711
A LEI PENAL MAIS GRAVE APLICA-SE AO CRIME CONTINUADO OU AO CRIME PERMANENTE, SE A SUA VIGÊNCIA É ANTERIOR À CESSAÇÃO DA CONTINUIDADE OU DA PERMANÊNCIA.”
Só para entender: a expressão “a sua vigência” refere-se à lei mais dura. “Cessação da continuidade e da permanência” refere-se ao crime. Assim, se a lei mais dura começou a vigorar antes que os criminosos parassem de delinquir, como foi o caso, é ela que vale. Foi uma decisão unânime, com o voto de Lewandowski.

Gato escondido com o rabo de fora
Assim, quando o ministro resolveu usar um embargo de declaração para rever uma sentença, sugerindo, por vias oblíquas, que o tribunal reexaminasse a questão, todos ficaram meio estupefatos.

E Barbosa teve aquela reação inconveniente.

É claro que era absurdo!

É claro que era um pouco desmoralizante para a Corte.

É claro que se começou a sentir no ar o cheiro da chicana.

E então surgiu a questão: o que, se prosperasse, beneficiaria o bispo, também poderia beneficiar o “papa”: José Dirceu — e outras cabeças coroadas do petismo, como Delúbio Soares e José Genoino.

Como também a pena de corrupção ativa era menor antes de novembro de 2003, todos os condenados por esse crime poderiam sair ganhando.

Eu mesmo conversei com pessoas incrédulas, que achavam que os jornalistas estavam vendo coisas: “Ele não faria isso, gente! Daria muito na cara!”.

Faria, sim!

Fez!

Dirceu volta à Corte
Como informou na noite de ontem Laryssa Borges, na VEJA.com, a defesa de José Dirceu entregou ao tribunal um memorial de sete páginas pedindo o abrandamento da pena por corrupção.

A argumentação?

A mesma do Bispo Rodrigues; a mesma de Lewandowski!

Assim, caiu por terra a fantasia ou esperança de alguns de que se cuidava, na quinta-feira, de alguma questão jurídica relevante.

Nada disso!

Estava-se diante da enésima tentativa de livrar a cara do chefe de quadrilha.

Que coisa!

Não parecia nem era!

A armação
Notem a armação que está em curso. Dirceu foi condenado a 10 anos e 10 meses de prisão, com as penas assim distribuídas: 7 anos e 11 meses por corrupção ativa (partindo-se de uma pena mínima de dois anos) e 2 anos e 11 meses por formação de quadrilha. A soma (mais de oito anos) o obriga começar a cumprir a pena em regime fechado.

Digamos que Lewandowski seja bem-sucedido no seu esforço: se a pena do Zé caísse, no primeiro crime, a cinco anos (e pode ser ainda menos), pronto!

Para a cadeia, já não iria.

O tribunal tem de decidir ainda se haverá ou não embargos infringentes, outra questão, por si, absurda, uma vez que o expediente não está previsto na Lei 8.038.

Mas digamos que admita.

Dirceu teve quatro votos inocentando-o do crime de quadrilha: Lewandowski, Dias Toffoli, Rosa Weber e Carmen Lúcia.

Todos continuam no tribunal.

Condenaram o chefão por esse crime Joaquim Barbosa, Luiz Fux, Gilmar Mendes, Marco Aurélio Mello, Celso de Mello e Ayres Britto. Britto já deixou a Casa.

O placar está cinco a quatro contra Dirceu.

Precisa de mais dois votos, e os petistas apostam todas as suas fichas em Teori Zavascki e Roberto Barroso. Um voto que fosse já renderia um empate e uma polêmica.

No melhor dos mundos, todas as chicanas prosperando, os 10 anos e 10 meses de Dirceu se converterão em algo em torno de quatro ou cinco. Nada que crie obstáculos à boa vida do chefe do mensalão.

O racismo de volta
Vocês todos sabem o que penso sobre leis de cotas — e pago um preço alto por isso, como é o esperado nestes tempos, em que entes do estado brasileiro financiam difamadores profissionais com dinheiro público. De repente, lá está o seu nome metido no lixo a soldo, com o logo de um grande banco estatal do lado.

Muito bem! Esses porcos, no entanto, não veem mal nenhum em atacar a cor da pele de Joaquim Barbosa, associando-a a seu eventual destempero verbal e a seu temperamento um tanto irascível. E por quê? Porque, desta feita, consideram que o ministro está “do outro lado”.

Ou por outra: essa corja defende leis de reparação, como cotas, porque isso lhes é útil no proselitismo que serve para jogar brasileiros contra brasileiros. Mas não veem mal nenhum em dar início a uma campanha racista contra o ministro nas redes sociais porque, afinal, ele não está livrando a cara dos “companheiros”.

Não! Eu não acho que Barbosa é como é porque é preto. E, por óbvio, não acho que Lewandowski é como é porque é branco. Por baixo de suas respectivas peles, há a morada do caráter.

21/08/2013

Charge





Amarildo

terça-feira, 20 de agosto de 2013

Caetano Veloso, o fã de Pablo Capilé, tem de participar dos festivais do “Fora do Eixo” e receber seu cachê em “cubo cards”. Ou: Artista exalta o grupo que derrubou Ana de Hollanda, que ele, Caetano, defendia




Por Reinaldo Azevedo


Caetano Veloso não se emenda — e isso, reconheço, é parte do seu sucesso. É novidadeiro. Costuma opinar com desassombro sobre coisas que conhece. Mas é ainda mais desassombrado quando fala sobre o que ignora. Já deixou claro que não gosta de mim. Ok. Talvez seja burro o bastante para me achar idiota, mas não sou idiota o bastante para achá-lo burro. No geral, ele sabe o que faz em benefício da própria carreira e dessa persona pública obcecada por encontrar um lugar único no discurso. Muito antes de Gilberto Kassab, Caetano já não era nem de direita, nem de esquerda nem de centro. E, sim!, gosto de várias músicas suas. Mas vamos ao que interessa agora.

No dia 5 de agosto, no Twitter, Caetano convocou:

“Vamos todos ver o Pablo Capilé no Roda Viva hoje. Ele e o grupo Fora do Eixo são das coisas mais interessantes acontecendo no Brasil hoje, Caetano Veloso.”

Muito bem! Pablo Capilé deu o seu showzinho particular no Roda Viva, exibindo por que é “das coisas mais interessantes acontecendo no Brasil”. Àquela altura, as redes sociais já traziam depoimentos às pencas de pessoas que passaram pelas “casas Fora do Eixo” e denunciavam trabalho similar à escravidão, apropriação indébita das obras, não pagamento de cachê, constrangimento psicológico, doutrinação ideológica, apropriação de bens de internos…

A coisa pegou fogo quando reproduzi aqui os testemunhos da cineasta Beatrriz Seigner e da estudante de jornalismo Laís Bellini. Capilé, então, que acha que a “mídia tradicional” está acabando em razão de uma “crise de narrativa”, teve de apelar à… mídia tradicional para tentar se explicar. Ao se defender, no entanto, Capilé e o Fora do Eixo admitiram o não pagamento de cachê, o não pagamento de salário, a apropriação — consentida, claro! — de bens dos internos, calote em dívidas feitas na praça… Mas tudo tem uma explicação: o líder da seita acha razoável que uma banda não receba nada para tocar porque o Fora do Eixo está colaborando para formar o público dos artistas, entenderam? A entidade, não obstante, recebe farto patrocínio — em moeda corrente no país — de órgãos oficiais.

É possível que Caetano, naquele dia 5, não soubesse de nada disso. Nem tinha a obrigação. Já os jornalistas que entrevistaram Capilé (e Bruno Torturra) estavam obrigados a saber, sim. Mas… Muito bem! A realidade fala por si. Os testemunhos estão aí. As evidências também. Até mesmo pessoas que estavam bem próximas da cúpula desertaram e denunciaram os métodos autoritários de Pablo Capilé, a “coisa interessante”.

Mas Caetano ainda não se deu por achado. Em sua página na Internet, publica um texto exaltando as qualidades do grande Paulo Rónai. Ele o faz, claro!, à sua maneira, misturando dados da própria biografia com a do intelectual. Mas tudo bem! Trata ainda de uma porção de outras coisas, num estilo muito seu, que a gente poderia chamar de “miscelânea ilustrada”. E eis que surge no texto… Pablo Capilé. Assim:

“Leio que o ministro Joaquim Barbosa tratou o colega Lewandowski de modo no mínimo inapropriado. E que o dólar subiu mais do que em 2009. Uma manifestação é tida como desproporcional por, contando com 200 participantes, ter parado o trânsito da cidade por mais de sete horas. O Capilé, o Fora do Eixo e mesmo a Mídia Ninja, me contam, vêm sendo linchados nas redes sociais. Quantos esforços temos que fazer para dar conta do que nos é apresentado pela realidade! Precisamos de calma e firmeza, destreza e maleabilidade, tudo num ritmo adequado à capacidade de superação de crises.”
Voltei
Linchados? Linchadores não oferecem a ninguém chance de defesa. Capilé dispõe de uma força impressionante na rede para se explicar. Mais: os veículos “tradicionais” de comunicação lhe franquearam a oportunidade de dar a sua versão. Infelizmente para o bom senso, Capilé e o Fora do Eixo endossaram as acusações, só que procuraram tirar o seu sinal negativo. Não pagar cachê, dizem, é parte do esforço para formar público. Apropriar-se de bens alheios é só uma manifestação da filosofia coletivista. Dar calote é coisa muito comum entre pessoas que lidam com a cultura. E vai por aí.

Linchamento? O que está a dizer Caetano? Que mentem todas as pessoas que vêm a público revelar a sua traumática experiência com o grupo Fora do Eixo? O mais curioso é que seu texto canta as glórias de um, com efeito, pequeno grande livro de Rónai: “Como aprendi o português e outras aventuras”, que foi reeditado pela Casa da Palavra (comprem!). Capilé, o seu herói injustiçado, acha que os livros, especialmente os clássicos, em qualquer formato, são coisa do passado, sepultados pela cultura digital.

Coerência?
Pois é… Eu acredito que as pessoas devam viver conforme o credo que defendem. Caetano deveria dar o exemplo aos novos artistas e, em apoio à causa de Capilé, dar um show para as plateias convocadas pelo Fora do Eixo, tendo o seu cachê pago em “cubo cards”. Havendo tempo, deve se internar numa das casas e trabalhar de graça.

Finalmente, lembro que Caetano pediu a permanência de Ana de Hollanda no Ministério da Cultura. Como sempre, ele defende com muita energia tanto uma coisa quanto o seu contrário. Sobre as tentativas de derrubar a hoje ex-ministra, afirmou, segundo publicou a Folha:

“E essa história pode ser essa vontade de derrubar Ana porque acreditam demais na magia benigna da internet. É uma bolha mítica. Não é nada além disso. Há muita mitologia do novo mundo da internet, do admirável muito [mundo?] novo. É uma espécie de bolha conceitual. Sou velho o suficiente pra dizer que é bobagem.”

Caminho para o encerramento
Atenção! Quem, definitivamente, desestabilizou Ana de Hollanda foi o… Fora do Eixo. Eram os seus comandados que saíam por aí a vaiar a ministra em eventos públicos. Ainda hoje, os principais braços de Pablo Capilé da rede a acusam de ter tentado destruir o legado de Gilberto Gil e Juca Ferreira — este, sim, hoje um mero funcionário espiritual da turma. Capilé foi a mão que balançou o berço da ex-ministra da Cultura e acabou por derrubá-la. Entre outras razões porque esses “caras interessantes” acham que direito autoral também é coisa do passado — com o que as ex-ministra não concordava. Caetano, como se vê, acusava uma conspiração para derrubar Ana, mas não se furta a expressar a sua ativa simpatia pelos conspiradores e a acusar um suposto linchamento quando se joga luz nos porões do coletivismo à moda Capilé.

Se ele achar que não é assim, basta pegar o telefone e ligar para Ana de Hollanda. Ela poderá lhe dizer como foi e como é tratada ainda hoje pelo Fora do Eixo. Sob o pretexto de apoiar o novo, Caetano Veloso se alinha com um sujeito que se transformou numa espécie de coroné das leis de incentivo. E coroné em sentido pleno, com o uso de uma mão de obra que as leis brasileiras e a Organização Internacional do Trabalho (OIT) consideram similares à escravidão.

Mas Caetano, como Chacrinha, uma espécie de ícone pop do Tropicalismo, veio para confundir, não para explicar.

20/08/2013 

A Igreja Católica nunca correu tantos riscos: esta moça se oferece para fazer a cabeça do papa e torná-lo um militante em favor da descriminação das drogas. Ou ainda: Demorou, mas apareceu a mulher que desbancou Palas Athena. Debesu Dievs!




                               Por Reinaldo Azevedo


O papa Francisco esteve no Brasil e perdeu uma grande oportunidade: encontrar-se com Ilona Szabo (foto), a carinha mais bonita da militância em favor da descriminação das drogas. E também a mais despudoradamente arrogante e pretensiosa. Começo a temer pelos pilares que sustentam o Trono de São Pedro. Ilona tem amigos poderosos. Chegar ao Sumo Pontífice não é impossível. No dia em que isso acontecer, ela está convicta, a Santa Madre não será mais a mesma. Mais de dois mil anos de tradição sucumbirão à moça que fala letão. Do que estou a tratar? Vocês entenderão.
Li com atraso, confesso — a coisa havia me escapado —, mas li. Leitores me enviaram o link no mesmo dia. Não dei muita bola porque já conhecia a personagem. Mas a insistência era grande e acabei cedendo. No domingo, o Globo publicou um perfil da “cientista política” Ilona Szabó. Ilona é aquela moça que, no programa “Roda Viva”, em vez de fazer perguntas a Ronaldo Laranjeira, na entrevista que o psiquiatra concedia ao programa Roda Viva, houve por bem desqualifica-lo, apelando a generalidades, grosserias e a uma arrogância de que só a ignorância satisfeita de si é capaz. Por quê? Laranjeira é contra a descriminação das drogas e coordena, em São Paulo, o trabalho de combate ao crack. Ilona, 35 anos, é favorável. Mais do que isso: é uma militante muito bem-sucedida da causa. Além de chefona da Rede Pense Livre, que luta por essa causa (com amplo financiamento), coordena a Comissão Global de Política sobre Drogas e Democracia, o principal lobby pró-descriminação, que tem entre seus membros algumas cabeças coroadas da sociedade brasileira: artistas, empresários, celebridades e, como é notório, o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso.
Acho que nunca li um texto como o que o Globo publicou.  Há uma diferença entre perfil e panegírico; entre uma abordagem simpática ao perfilado e a mitificação. Que Ilona tenha uma longa vida, mas, a acreditar em O Globo, ela já poderia entrar para a história — ou para o Olimpo.
Distorção logo no primeiro parágrafo Laranjeira, um pesquisador de reputação internacional, um cientista, é hoje o principal alvo do lobby em favor da descriminação das drogas. E ele já apanha no primeiro parágrafo do texto do Globo, assinado por Fernanda Pontes. Leiam. Volto em seguida.
“A cientista política Ilona Szabó, de 35 anos, e o psiquiatra e especialista em dependência química Ronaldo Laranjeira participavam de um acalorado debate no programa “Roda Viva”, da TV Cultura, exibido em maio, sobre política de drogas no Brasil. Os dois não se entendiam. Ilona, que é diretora da Rede Pense Livre, cuja principal bandeira é a descriminalização das drogas, aproveitou o intervalo para dizer a Laranjeira que ele estava “mal informado” e usava dados “desatualizados”. O psiquiatra retrucou: “Cresça e apareça, menina. Quem você pensa que é?”.


Voltei

Ditas as coisas assim, fica parecendo que Ilona é só uma moça em busca do bem, e Laranjeira, um grosseirão. O que o texto não informa é que o psiquiatra era O ENTREVISTADO — e Ilona estava lá para fazer perguntas. Em vez disso, ela resolveu desqualificar o convidado. Não estava sozinha nesse esforço. Dos cinco entrevistadores, quatro eram fanáticos defensores da descriminação. É preciso ver aquele espetáculo grotesco para crer. Enquanto ele trabalhava com dados, números, pesquisa científica, seus adversários (é essa a palavra adequada) respondiam com ideologia, achismo, retórica supostamente libertária. Transcrevo, por exemplo, trecho de uma intervenção de Ilona no programa (à época, escrevi dois posts a respeito), que, no texto do Globo, é retratada como aquela que deixaria Palas Athena, além de Cícero, no chinelo:

ILONA: Aí você me preocupa um pouco porque tem alguns conceitos bem confusos, né? Eu queria oferecer até, eu sou membro da Rede Pense Livre, uma rede que foi criada para aprimorar esse debate, e eu vou fazer, na verdade, um resumo dessa discussão, colocando vários dados que eu acho que são importantes para a discussão, à disposição no nosso blog, então eu acho que, com fontes, explicando, acho que essa conversa não vai dar para aprofundar, mas eu acho que é importante, porque a gente está confundindo muitas coisas aqui. Eu acho que, partindo do ponto de que, hoje, se a gente for encarar a realidade; se, de fato, a gente não quiser tapar o sol com a peneira, as drogas são muito disponíveis para os adolescentes; hoje, eles estão totalmente desprotegidos, compra-se em qualquer lugar, né? Nós não temos uma educação honesta, infelizmente, não temos educação honesta sobre drogas. A gente mente, a gente afasta. O modelo de criminalização não deixa que o usuário procure o sistema de saúde pública, então, se o senhor…


Retomo

Palas Athena talvez se expressasse com menos anacolutos, mas compreendo. Consta que a moça é fluente até em letão — língua que teria aprendido em quatro meses; no quinto, já dava palestras nesse idioma  —, e é possível que a sintaxe letã tenha deixado algum resquício em seu discurso. Traduzida a sua fala para a o português, esta senhora quis dizer o seguinte: a) o entrevistado trabalha com conceitos confusos: b) se ele quiser aprender mais, basta acessar a página de sua ONG na Internet; c) quem é contra a descriminação das drogas está tapando o sol com a peneira; d) quem se opõe a esse tese não está sendo honesto.
Eis Ilona no melhor da sua forma. Afirmar que o usuário não procura tratamento no Brasil porque tem medo, uma vez que as drogas são ilegais, vênia máxima, é de um desonestidade intelectual espantosa. Por dois motivos principais: a) quando o sistema de saúde está aparelhado para dar atendimento ao viciado, não há qualquer notificação à polícia; b) infelizmente, no mais das vezes, esse sistema não está ainda preparado para receber o viciado. A afirmação de Ilona é simplesmente falsa. Quanto a oferecer a um especialista em dependência química as “verdadeiras informações”, que seriam as colhidas por sua ONG, dizer o quê? Isso e café pequeno perto do que Ilona é capaz.
O papa Alguns leitores que não leram a reportagem do Globo vão achar que surtei, mas juro que o que vai abaixo está escrito lá, com todas as letras. O panegírico de página inteira publicado pelo jornal termina assim (em vermelho):
Ilona não se deixa abater. É enfática ao dizer que poderia ter convencido até o Papa Francisco, em sua visita ao Rio, a ser favorável à descriminalização das drogas: “Eu tenho certeza de que, se tivesse conversado com o Papa, ele não seria contra. Ele, na verdade, ainda não entendeu o que é a descriminalização das drogas de fato. Disseram a ele que é ‘liberou geral’, mas é mentira. Não defendo nada que vá ferir valores cristãos, muito pelo contrário. Eu luto pela vida.”

Voltei Viram só? Ilona, com a sua estupefaciente cultura, inclusive a religiosa, acredita que Francisco é um senhor cujas escolhas têm importância apenas na esfera privada. As opiniões expressas pela autoridade máxima da Igreja Católica seriam fruto do preconceito e da desinformação — a mesma acusação que ela fez ao psiquiatra Ronaldo Laranjeira. Encantadora essa moça! Quem pensa direito concorda com ela; se não concorda, então não pensa direito.
Sobre a questão realmente substantiva, que é a militância de Ilona, é o que existe de mais notável no perfil publicado pelo Globo. Creio que uns 90% do texto são dedicados a exaltar as qualidades ímpares da moça — aquelas que deixam Palas Athena, a deusa dos olhos glaucos, morta de inveja. Acompanhem (em vermelho). Os entretítulos são meus.
Ela é muito ocupada e o mundo quer saber o que pensa:
Ali estão inscritos projetos, seminários e palestras de temas variados a serem realizados até 2015 em países da Europa, da África e da América do Sul.”
Desde a juventude, era uma moça invulgar: Estudava no tradicional Colégio Anchieta e na adolescência surpreendeu a todos ao escolher a Letônia, um país pobre da antiga União Soviética, como destino para um intercâmbio de um ano.
Como num filme A exemplo do médico Nicholas Carrigan, do filme “O Último Rei da Escócia”, ela também pegou o mapa e escolheu um lugar qualquer. Assim nascem os mitos.“Eu já falava inglês e não me interessava ir aos Estados Unidos. Aí peguei o atlas e vi que havia muitos países interessantes do Leste Europeu para conhecer. Minha mãe ainda falou: “Pensa direitinho, lá é muito frio”. Mas fui mesmo assim — diz ela, que é filha de um engenheiro naval e uma jornalista.
Saliente genialidade Além do frio intenso, Ilona enfrentou um país em transição. Nas ruas, havia dois idiomas: o russo e o letão, que aprendeu em quatro meses. A pedido de sua “mãe” do intercâmbio, dava palestras em letão para estudantes de origem russa, mostrando que era possível aprender o idioma facilmente.
A iluminação “O pulo do gato”, como a própria define, aconteceu quando leu um artigo do antropólogo inglês Luke Dowdney, fundador da ONG Luta Pela Paz, em que comparava crianças soldados a crianças do tráfico: “Aquele artigo me tocou profundamente. Estava decidida: ia encontrar aquele homem de qualquer jeito.”
A determinação Após a conclusão do mestrado [na Suécia] e de um curso de pós-graduação que resolveu emendar na Noruega, os dois foram finalmente trabalhar juntos no Viva Rio, que, na época, iniciava uma campanha nacional de desarmamento. “Ela era muito interessada e comprometida com o tema, mostrou isso desde o início e, em duas semanas, o Rubem César Fernandes (presidente do Viva Rio) puxou a Ilona para o grupo dele “, brinca Luke.
O que pensa Fernando Henrique O ex-presidente não mede elogios à amiga Ilona e sua “invejável habilidade para organizar redes pela internet”: “Em poucas palavras, a competência técnica, a devoção ao trabalho e a capacidade organizacional de Ilona a fazem uma das mais brilhantes profissionais de sua geração.”
Uma linhagem de gênios Ilona faz jus à fama. Fala cinco idiomas: inglês, espanhol, francês, russo e letão (os dois últimos ela diz que estão meio “esquecidos”). Depois abre parênteses, para dizer que isso “não é muito”, já que a sua mãe fala sete línguas.
Não é só inteligente… Ilona também chama atenção pela sua beleza. E tem resposta para tudo.
O amor “Sou casada com um gringo, ele é canadense e nos conhecemos numa conferência no Panamá. É acadêmico e dirigia uma ONG sobre armas e violência. Depois de um relacionamento à distância, eu o importei para o Brasil. Hoje trabalha como diretor de Pesquisa do Igarapé, nada sai daqui sem passar por ele.”
Salmão com aspargos O marido gringo é Robert Muggah, que também é um “ótimo cozinheiro” e recentemente fez salmão com aspargos para o amigo Fernando Henrique.
Amante da cultura popular “Na verdade, sinto muita falta do meu forró pé de serra, adoro Gonzagão e Dominguinhos. Já coloquei até meu marido gringo para fazer umas aulas — diz, às gargalhadas.”
Personalidade singular Ilona também tem umas contradições curiosas. Considera-se uma glutona, mas na hora de almoçar escolhe peixe e legumes grelhados, feitos na sede do instituto sob a supervisão da professora de ioga (“ela reclama quando tem muito creme”, diz). Apesar de ter morado em países gelados, odeia frio.

Caminho para o encerramento Como diz a reportagem do Globo, ela é mesmo curiosa! Superiormente generosa, resolve ser benevolente com o psiquiatra Ronaldo Laranjeira, mas volta ao ataque:

“Quero deixar bem claro que não tenho nada contra o doutor Laranjeira, só achei que ele prestava um desserviço ao divulgar dados desatualizados.”

Atenção! Nem no Roda Viva nem na reportagem do Globo, Ilona disse que “dados desatualizados” são esses. Ela, sim, mistifica ao viver exibindo por aí o suposto sucesso da descriminação das drogas em Portugal. Sucesso? Aumentou o consumo (à diferença do que se propaga), aumentou o tráfico, e aumentou a violência.
A reportagem, claro!, para mostrar que está atenta ao “outro lado”, vai ouvir Laranjeira. Inadvertidamente, o médico decidiu falar: “É jovem e muito articulada, mas tem argumentos científicos inconsistentes. No fundo, é uma ideóloga”.
Considerando que Laranjeira está logo no primeiro parágrafo do texto e que se trata, como já disse, de uma panegírico que assevera a beleza, a genialidade, a precocidade, a fluência e as boas amizades de Ilona, a coisa poderia parar por aí. Mas quê… Vai que um ou outro leitor acreditem no doutor… Vem, então, aquela história do papa, que arremata o perfil do mito. Transcrevo mais uma vez:
Ilona não se deixa abater. É enfática ao dizer que poderia ter convencido até o Papa Francisco, em sua visita ao Rio, a ser favorável à descriminalização das drogas: “Eu tenho certeza de que, se tivesse conversado com o Papa, ele não seria contra. Ele, na verdade, ainda não entendeu o que é a descriminalização das drogas de fato. Disseram a ele que é ‘liberou geral’, mas é mentira. Não defendo nada que vá ferir valores cristãos, muito pelo contrário. Eu luto pela vida.”


Encerro mesmo Quer lutar em favor da morte com dados desatualizados, leitor? É só discordar de Ilona. É claro que essa historia, meus caros, não se encerra com o surgimento deste novo mito. A deusa que desbancou Palas Athena tem uma causa que está sendo debatida no Congresso. E seu discurso — e o dos que pensam como ela — se assenta numa mentira essencial, que não é mera questão de escolha ou de juízo de valor. Ainda hoje, volto ao assunto.

Debesu Dievs!
Quer dizer “Deus do Céu!”. Em letão (vi no dicionário… Sei lá se é isso mesmo!). É uma pena Lima Barreto já ter morrido. Depois de “O homem que falava javanês”, temos “A mulher que fala letão”. E que, acima de tudo, argumenta em letão, embora a gente seja tentado a achar que fala português.

                       20/08/2013