Um idoso chinês em Pequim.
(Foto LIU JIN/AFP/Getty Images)
A população da China está envelhecendo muito rapidamente ao passo que a riqueza produzida por ela está canalizada para locupletar o insaciável e privilegiado politiburo comunista de Pequim, uma verdadeira burguesia dominante.
Isso vem causando uma transformação estrutural na sociedade chinesa mais profunda do que o projeto estatal longo e doloroso de “reequilíbrio econômico”, que o Partido Comunista ansiosamente tenta começar a empreender.
O grande desequilíbrio demográfico que tal desdobramento – principalmente da política de ‘filho único’ – causa implicações importantes pela sabida pretensão ilusória do Partido Comunista em “transformar e adaptar a economia chinesa” de modo a preservar o seu próprio poder na próxima década.
O aperto demográfico chinês pode ser visto em duas matérias publicadas na vigiada imprensa do país, uma vez que foram publicados pelo Ministério da Educação em 21 deste mês. Foi revelado que mais de 13.600 escolas primárias do país foram simplesmente fechadas em todo o país em 2012, por falta absoluta de crianças para frequentá-las.
A matéria admite que, em toda a China, o número de crianças em idade de frequentar escolas elementares caiu de 200 para 145 milhões, uma consequência dramática da “política de filho único”, vigorosamente imposta aos chineses.
Também o número de escolas primárias entre 2002 e 2012 diminuiu em vinte por cento e, logo depois, outra matéria publicada no jornal estatal “Diário do Povo” alertou para uma iminente crise de segurança social na China, provocada pelo salto do número de idosos do país, de 194 milhões, em 2012, para os 300 milhões previstos até 2025.
As mudanças demográficas, no curto prazo, já preocupa a burguesia estatal do Partido Comunista em Pequim que já dá mostras de adotar medidas capazes de reverter esses números, ou, pelo menos limitar o seu impacto sobre a sociedade chinesa. E é aí que mora o perigo, uma vez que é conhecida a ineficiência com que os sistemas centralizados, socialistas, tratam de questões desse tipo.
Se, por um lado, o Partido começar a relaxar sua “política do filho único”, ou mesmo iniciar um esforço para aumentar as taxas de natalidade – como já fez recentemente com um programa piloto em Xangai que permite que os casais possam ter outro filho – por outro lado, o governo propôs aumentar a idade de aposentadoria nacional de 55 para 60 anos para as mulheres e de 60 para 65 anos para os homens e, caso isso se torne norma geral, as pressões sociais poderão ser retardadas embora dificilmente contornadas de modo definitivo a não ser que o capitalismo privado no país seja vigorosamente estimulado, o que pouca gente acredita que acontecerá.
O capitalismo privado na China está praticamente restrito, por enquanto, aos industriais estrangeiros que foram para lá para aumentar seus lucros com a baixa remuneração do trabalhador local.
Ou seja, mesmo com ajustes radicais na “política de filho único” ou na "elevação da idade nacional de aposentadoria", Pequim criaria apenas sistemas tampões temporários e parciais para o problema da crise demográfica.
Não é evidente que a “política do filho único” tenha tanto impacto isoladamente sobre o crescimento da população na China.
A baixa taxa de natalidade da China (1,4 filho por mãe, em comparação com uma média de 1,7 em países desenvolvidos e 2,0 nos Estados Unidos) não é mais do que um reflexo da difícil e desumana luta de casais urbanos em lidar com a rápida elevação do custo de vida e o baixo acesso à educação nas muitas cidades chinesas, uma consequência draconiana dessa política.
Da mesma maneira, ao se elevar a idade de aposentadoria em cinco anos, apenas se adiará em parte o inevitável, e, enquanto isso, crescerá uma forte oposição de importante contingente de profissionais, incluindo-se aí muitos funcionários públicos.
O governo também corre o risco de, com esse ajuste da idade de aposentadoria, agravar uma crise de emprego em meio ao número crescente de graduados desempregados nas cidades por falta de mercado de trabalho, muitos dos quais estão considerando uma escada de emprego, com trabalhadores idosos saindo da força de trabalho.
Neste contexto, o Partido Comunista vai ter que pesar com muito cuidado tais ajustes da política econômica e talvez ter que reduzir o capitalismo de estado e estimular mais o empreendedorismo privado para aumentar a geração de riqueza que possa efetivamente reverter em maior poder aquisitivo e poder de consumo dos chineses, uma vez que qualquer mudança feita nesse setor, ideologicamente falando, tende a criar tensões sociais com relação ao regime socialista centralizado imposto aos chineses.
O que a pequena burguesia dirigente da China tem que levar em conta é o fato de que o cerne da crise demográfica que assoma e se avoluma no horizonte chinês de deve ao fato de que, ao contrário de Japão, Coreia do Sul, Estados Unidos e países da Europa Ocidental, a população da China vai envelhecer antes que pelo menos algo em torno da metade dela alcance o status de renda de classe média, e muito menos de classe rica, que é imensamente menor do que nos países capitalistas privados.
Este é um cenário historicamente sem precedentes no país e as suas implicações são tidas ainda como imprevisíveis por sua coincidência com a economia centralizada da China e que poderá forçar o afastamento de um modelo econômico fundado na exploração do trabalho exaustivo e barato para outro sistema no qual os jovens chineses possam de fato sustentar economicamente a vida do país, tanto como trabalhadores como consumidores.
A suspensão temporária da crise demográfica vai ser difícil, mas é possível que apenas seja postergada e aliviada em seus efeitos mais agudos com as medidas que Pequim parece disposta a por em prática, mas não sinaliza uma solução no longo prazo, que ideologicamente se situa fora do alcance e do interesse da diminuta e privilegiada classe dominante do politiburo socialista chinês.
22 de agosto de 2013
quinta-feira, 22 de agosto de 2013
SER OU NÃO SER UM PAÍS CAPITALISTA É O CERNE DA CRISE DEMOGRÁFICA CHINESA
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