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sexta-feira, 9 de outubro de 2009

Parte 5 - “Braços abertos num cartão postal e punhos fechados na vida real”

Rio de Janeiro, sede das Olimpíadas e território de gangues


Parte 5

Um estrangeiro de passagem pelo Rio que mal saia da Zona Sul e não se defronte com alguma situação "anormal", jamais imaginará o cenário de guerra que se abateu sobre a cidade.

Da mesma forma, um estrangeiro de passagem que tenha entrado em contato com a violência das favelas, dificilmente fruirá a doce descontração que a cidade oportuniza.

Dois mundos que parecem dissociados, mas que convivem de forma simbiótica. Vez ou outra, a fronteira entre eles transborda.

Pode haver... "danos colaterais", mas a vida continua.

Sempre emoldurada pelo mais belo cenário urbano do planeta e temperada pelo adorável espírito carioca.

O Rio é fértil em lendas urbanas. Algumas, tão bem contadas, que mais parecem conspirações.


Quem tenta atravessar a Avenida Nossa Senhora de Copacabana, a uma quadra da praia, com seu tráfego intenso de veículos, dificilmente obtém sucesso fora da faixa e do sinal de pedestres.

A calçada e o primeiro andar dos prédios do lado direito raramente são visíveis do lado esquerdo: uma fila de ônibus constitui uma verdadeira barreira física e visual. Claro, expelindo fumaça em intensidade e produzindo poluição sonora.

O incrível é que os coletivos estão quase todos praticamente vazios. Seriam mesmo necessários?

Comentando meu estranhamento com um taxista, certo dia, ele sorriu e disse: "mas é impossível o fiscal saber que passaram pela roleta apenas oito passageiros se a companhia informa terem sido 800"! My beautiful launderette?

Não sei como estão as coisas agora, mas, em junho de 2008, 34 parlamentares da nobre Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro tinham folha corrida e respondiam por algum processo na Justiça, sendo que 10 a causas criminais! Deve ter piorado...

Em esclarecedora matéria de agosto de 2007, o jornal O Globo registrou a impressionante cifra de 10.464 desaparecidos nas favelas do Rio de Janeiro, entre 1993 e junho daquele ano. Deste total, 70% dos casos estariam relacionados à ação do tráfico ou das milícias. Para que se tenha uma idéia, estima-se que durante os mais de 20 anos de regime militar no Brasil contabilizaram-se cerca de 300 desaparecidos!




Num jantar com importantes jornalistas do Rio e de São Paulo, todos politicamente engajados, em que surgiu o debate sobre a crise política local - o ex-Chefe de Polícia Civil da ex-Governadora Rosinha, Álvaro Lins, acabava de ser preso e o ex-Governador Garotinho fora denunciado pela Procuradoria Regional da República por formação de quadrilha armada - tentei levantar estes dois temas.

"Precisamos fazer alguma coisa", diziam.

Em vão, pois o que os incomodava mesmo era a falta de limpeza nas praias da Zona Sul...

Ora, os dois milhões de pessoas que vivem nas favelas do Rio de Janeiro não podem usufruir dos mesmos direitos cidadãos garantidos pelo estado democrático; são constrangidos a viver sob um estado de exceção, uma verdadeira ditadura das gangues, ou das milícias, ou da polícia atrabiliária.

E ninguém parece se importar realmente com isso.

Que sociedade pretendemos construir aqui?

Quem foi que disse que a Constituição de 1988 não vale para eles?

E por que todos aceitamos isso sem dor de consciência?

continua no post abaixo

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