Vejam o vídeo. Volto em seguida.
Cinco minutos??? Vocês sabem: Ciro tem o mesmo estilo celebrizado por aquele outro almofadinha do coronelismo, o que dizia ter “aquilo roxo”. Achou que cinco minutos depunham contra a sua macheza. Então ele faz o quê? Parte, aparentemente sozinho, para pegar seus adversários no braço e lhes mostrar, com todos os hematomas da teoria, o que vem a ser, na prática, uma “nova hegemonia moral e intelectual”. Ciro atribui este seu conceito ao teórico comunista italiano Antonio Gramsci. Mais ou menos… Assim como a pedagogia da porrada é uma coisa típica de Ciro Gomes, a “nova hegemonia moral e intelectual” destituída de um sentido de classe — que é a coisa de que Gramsci tratou — é puro Ciro Gomes. Essa bobagem, portanto, não pode ser atribuída a Gramsci, mas ao valentão que a gente vê acima.
Muitos de vocês foram importunados na universidade pela semiótica — geralmente, “semi-ótica” por conta da incompetência de “mestres” da área —, mas foram despertados ao menos para a necessidade de analisar o que eles chamam de um “discurso” na sua inteireza, em todas as suas “linguagens”. No caso do vídeo, reparem como Ciro foi se tornando aquilo que estava destinado a ser. Ele já foi uma espécie de “enfant terrible” da política: alguns queriam que dissesse verdades essenciais com seu jeitão briguento e retórica grandiloqüente: uma mistura de Rui Barbosa com Dado Dolabella.
Lembro-me que Caetano Veloso chegou até a elogiar a sua beleza, imaginem… Em defesa do cantor baiano, noto: faz tempo, muito tempo. É que a minha memória é muito boa. À época, se não me engano, o alvo da apreciação foi o pescoço “forte” de Ciro… O tropicalismo sempre teve requebros febris, mas também certa sutileza. Caetano não elogiou o que estava sobre o pescoço, é bom notar. Não que eu me lembre.
Machado de Assis — ou o Bentinho de Dom Casmurro — tinha dúvidas se a Capitu da Praia da Glória (a adulta, que ele acusava de adúltera) já estava dentro da menina espevitada da Rua Matacavalos ou se esta havia se transformado naquela em razão de “algum fator incidente”. Não sei… Este Ciro que a gente vê, com este físico típico de um coronel das antigas, com aquela pança arrogante e mandona, que resolve as querelas políticas no braço, já estava dentro daquele Ciro do Caetano? Eu acho que a resposta é positiva, assim como “a fruta está dentro da casca”. Observem que, quando ele parte para resolver o problema na base da velha hegemonia do punho, um segurança — ou coisa assim — corre atrás. Outros certamente havia. A gente sabe como se dá esse tipo de valentia…
Foi a primeira vez que ele pôs em risco a segurança de muita gente ao acirrar os ânimos num comício, em vez de acalmá-los? Não foi, não! Já demonstrou outras vezes como age um verdadeiro machão da nova hegemonia moral e cultural, pouco importa que haja ali uma pequena multidão, crianças inclusive. É que seu sangue é quente, e sua língua, imensa.
A de Gramsci era a hegemonia de classe. A de Ciro pode ser sem classe mesmo. Incapaz de entender o que os comunistas escreveram sobre luta de classes, Ciro se contenta com um arranca-rabo.
Obediente às ordens de Lula, a exemplo dos últimos sete anos, Ciro transferiu seu título para São Paulo, onde pretende inaugurar este novo estilo de fazer política, que poderia ser definido como “Deixa, que eu bato”. Mal posso esperar por cena parecida. Imagino Ciro partindo pra porrada, e Gabriel Chalita atrás, recitando versos de auto-ajuda de destruição de inteligência em massa. Será realmente um momento sublime da política paulista.
Depois disso, já pode ir para o programa A Fazenda. Mas como coadjuvante.
segunda-feira, 5 de outubro de 2009 | 5:21
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