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domingo, 4 de outubro de 2009

POR QUE LULA DESISTIU DO 3º MANDATO?

O PT é uma caixa-preta, um arquivo X



Por Waldo Luís Viana*

Luiz Inácio disputou três eleições presidenciais como empregado do PT.

Morou de favor, por dez anos, graças aos préstimos de um compadre e teve empréstimos pagos graças a outro amigo, hoje albergado num polpudo cargo em seu próprio governo.

Hoje, Da Silva, após seis anos de mandato, evoluiu muito financeiramente e não é nem será mais empregado de ninguém.

Seu próprio filho, de biólogo de zoológico tornou-se fazendeiro de primeira linha. Tem saúde de vaca premiada – como diria Nélson Rodrigues.

De correia de transmissão de seus interesses e objetivos, o Partido dos Trabalhadores passou a depender do presidente do Brasil como de uma droga pesada.

Não subsiste sem ele.

A fortuna de Lula, segundo relatórios informais dos serviços secretos norte-americanos, remonta a dois bilhões de dólares.

Ela encontra-se no exterior, assim como os recursos valiosos que o PT detém em paraísos fiscais e que exigiram que o publicitário Duda Mendonça criasse conta e empresa no exterior para receber pagamento por serviços prestados nas eleições de 2002.


O PT é uma caixa-preta, um arquivo X.

Era para ser totalmente gerido por José Dirceu, o maior socialista de mercado da face da Terra. Interlocutor de enormes fortunas e grandes lobistas, com interesses no país, ele garantiria a estabilidade da gestão desses recursos, completamente extrínsecos a qualquer perseguição do fisco, mas que aparecem com fidelidade nos períodos eleitorais.

Seu erro foi que a majestade de suas funções subiu-lhe demais na cabeça, cujo plano de fundo ainda era um pouco caipira.

A grana estocada serve para embates majoritários.

Parece, então, que, estruturado nesse ambiente de grandes tacadas no exterior, esquentando-se o dinheiro em empreendimentos turísticos e fusões de empresas, seria bastante fácil ao presidente vergar os adversários e estender para mais quatro anos “o seu curto período de governo” (como assinalava, jocosamente, Getúlio Vargas).

Mas não! O buraco é mais embaixo.

Ciente de que a imagem presidencial, de tão íntima dos brasileiros por tantos dias, acabaria por erodir-se, o presidente raciocinou, com pragmatismo, que o período de 2010 a 2014 poderia ser ocupado por um regente, uma espécie de cooptado de seu partido ou candidato de coligação em grande acordo.


Dizem que a preferência da City britânica, o conjunto de instituições financeiras sob o comando da Coroa inglesa e que sucede a antiga Trilateral, embora não prescinda do auxílio luxuoso das instituições multilaterais ainda presentes no vetusto sistema de Bretton Woods – percebe ser necessário uma renovação, uma troca de guarda eficiente na política brasileira.

Essa transformação ficaria a cargo de Aécio Neves, encarregado da missão golberyana de trazer o PT para o centro e “cristianizar” o PSDB e a boa parcela “comestível” do PMDB.

Os financistas consideram que o país deve convergir para o centro, porque “é bom para os negócios”.

Nada melhor do que o neto de Tancredo, que pugnou a vida inteira pela reconciliação vinda de cima, como concessão das elites ao povo esperançoso, para repetir freudianamente o padrão de reunir num centrão democrático as forças políticas da nova geração, que se derrama entre nichos ideológicos de esquerda e centro-esquerda.

Não existe mais direita no país. Ela foi sepultada pelos erros dos militares e recebeu a pá-de-cal durante o governo Sarney, com moratória e tudo.

A vitória de Lula foi o jazigo perpétuo para a direita e seus sucedâneos, embora seu governo se notabilize por grande ortodoxia monetária.

Lula não briga com os de fora porque no exterior estão protegidos os seus interesses.

Aqui dentro, ele poderá se divertir com uma candidatura ao Senado, para puxar a legenda petista em São Paulo e percorrer o mandato, como agora é moda, tomando várias licenças.



Lula entendeu o jogo da alta finança e sabe que ela é hegemônica em tempos de globalização. Foi admitido num clube muito pequeno, jamais ocioso, e que tem recursos suficientes para trabalhar estrategicamente por espaços de dez anos.

Esse é o clima oferecido pelo G8 e por Davos. O Brasil ficará muito bem, sim senhor, se continuar funcionando conforme dita a comunidade financeira internacional.

E ela não deseja um terceiro mandato para o atual presidente e ele foi aconselhado a dissuadir seus companheiros de lutarem por isso.

Em troca, todas as portas abertas para manter-se popular no exterior, porque, por incrível que pareça, Lula é garantia de estabilidade ideológica na América Latina e isso a esquerda radical, propedêutica, já percebeu, torcendo-lhe francamente o nariz e chamando-o de traidor.

Lula não traiu ninguém, apenas amadureceu. Sabe como o mundo funciona, quais são as suas elites e é completamente dócil a quem realmente manda.

Lula, os iluminados do mundo te saúdam!

Protegidos em suas barganhas de juros, recebendo os seus superávits primários e acolhidos os propósitos de seus grandes rentistas especuladores, está pavimentada a estrada da permanência da liderança do ex-operário.

E ela não depende mais do controle do mandato.

Aliás, os presidenciáveis petistas são apenas buchas de canhão ou somente bois-de-piranha, como repasto de antevéspera para o jogo pesado.

E o certame pressupõe um grande “acordão”, sob a chancela sedutora do marketing político, da aquiescência das redes nacionais de televisão mais importantes e da burguesia nacional, docemente constrangida, que virão sufragar o candidato do regime, que aparentemente hoje não existe.

Mas, como diz atualmente a juventude, o candidato “ele já é!”.

É uma realidade que está nas sombras, um saque de revólver a ser feito na hora certa e que precisa de que Lula saia provisoriamente de cena.

É por isso que os candidatos do PT são todos provisórios, alguns até demissíveis “ad nutum” pelo presidente, personagens de um tudo ou nada que irá convergir para outro nome de consenso.

E esse plano nem mórbido é. O povo irá até gostar. Mas tem que ser pela via confiável das elites mundiais que acionam os cordéis e fazem o possível para que não percebamos que somos palhaços e patetas.

Por conseguinte, o futuro não pertence tanto a Deus.

E Lula soube disso...


· Waldo Luís Viana é escritor, poeta e economista.


Rio de Janeiro, 28 de fevereiro de 2008.

(naquela época ainda morava no Rio. Quem sabe um dia eu volte. Ou não queiram que eu volte mais!)


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