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sexta-feira, 17 de setembro de 2010

OPINIÃO - Merval Pereira analisa escândalo da Casa Civil e os impactos nas eleições presidenciais


A imagem de Dirceu está associada à ala mais radical do PT, e sua influência num governo que não terá Lula para controlar seus "aloprados", assusta a classe média.


RIO - Na reta final da campanha eleitoral, eis que mais uma vez, a exemplo do que aconteceu em 2006, os "aloprados" petistas surgem para tumultuar o ambiente político que se anunciava risonho para a candidatura oficial de Dilma Rousseff.

Hoje, os "aloprados" surgiram em diversos lugares, e embora nenhuma ação criminosa denunciada tenha o impacto daquela de 2006, pelo menos visual - a montanha de dinheiro vivo mostrada nos jornais e na televisão era a expressão material do malfeito -, a variedade e a gravidade de crimes cometidos no entorno do PT e do Palácio do Planalto podem ter impacto semelhante.

As denúncias sobre quebras de sigilos de parentes do candidato oposicionista José Serra, e de pessoas ligadas ao PSDB, deixam claro que, em meio às tantas irregularidades que surgiram na Receita Federal, houve sim um aspecto político relevante, ainda mais quando se sabe que as informações sigilosas apareceram em dossiês feitos dentro da campanha petista e em blogs ligados à campanha de Dilma Rousseff.

Mas o tema é de difícil entendimento para a média do eleitorado brasileiro, e sua repercussão ficaria restrita a um eleitor mais bem informado se não surgisse essa série de denúncias de lobby com objetivos financeiros dentro do Gabinete Civil da Presidência da República.

As pesquisas, que continuam dando a vitória de Dilma no primeiro turno, mostram que entre os eleitores que se dizem bem informados sobre as denúncias, e entre os mais escolarizados e com renda mais alta, já há uma mudança de atitude em relação à candidatura oficial.

Entre esses, a queda de Dilma e a subida de Serra e Marina já indica que haveria um segundo turno.

Os desdobramentos do caso do Gabinete Civil, com a demissão da ministra Erenice Guerra, braço direito da candidata Dilma Rousseff quando esta chefiava o Gabinete Civil, e colocada em seu lugar por sua escolha, pode levar a uma mudança mais acentuada na tendência dos eleitores nesses últimos 17 dias de campanha eleitoral.

Outro fator que pode influir negativamente na escolha dos eleitores é a proximidade do ex-ministro e deputado cassado José Dirceu com a candidata oficial.

A palestra de Dirceu para sindicalistas em Salvador, ressaltando a força que o PT terá num futuro governo Dilma, deixou incomodados os dirigentes petistas e o Palácio do Planalto.

A imagem de Dirceu está associada à ala mais radical do PT, e sua influência num governo que não terá Lula para controlar seus "aloprados", assusta a classe média. Esse ponto vem sendo explorado, com resultados positivos, pela campanha do candidato tucano.

"Aloprados" foi como o presidente Lula chamou companheiros de partido que, na sua campanha de reeleição, se meteram em uma grossa enrascada ao tentar comprar com R$ 1,7 milhão em dinheiro vivo um dossiê com supostas denúncias contra o então candidato ao governo de São Paulo, José Serra, resvalando de maneira indireta na candidatura tucana ao Palácio do Planalto, naquele ano assumida por Geraldo Alckmin.

Entre os comandantes daquela operação, que foi desbaratada pela Polícia Federal com prisão em flagrante em um hotel paulista de alguns dos envolvidos, estavam dois assessores diretos do presidente Lula no Palácio do Planalto e o coordenador da candidatura petista de Aluizio Mercadante em São Paulo.

As evidências do crime abalaram a convicção de muitos eleitores inclinados até aquele momento a votar em Lula, a quinze dias da eleição, que passaram a votar nos candidatos da oposição, especialmente Geraldo Alckmin, que acabou tem do uma votação surpreendente: quase 42%.

O presidente Lula não conseguiu ganhar no primeiro turno, como todas as pesquisas de opinião indicavam, e levou uma semana para se recuperar do baque. No segundo turno, teve uma vitória maiúscula contra Alckmin, ganhando de 60% a 40% dos votos.

Índices semelhantes aos que, até agora, as pesquisas de opinião dão para a candidata Dilma Rousseff, já no primeiro turno, como se Lula estivesse concorrendo pela terceira vez.
 16/09/2010

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