Por Reinaldo Azevedo
“Trata-se, ao menos em parte, de um movimento organizado, digamos, organicamente. E que já atingiu minha família.”
“Detestaria me vitimizar, mas não tem sido fácil agüentar tantos ataques pessoais - e, sobretudo, a disseminação de mentiras sobre mim.”
“Detestaria me vitimizar, mas não tem sido fácil agüentar tantos ataques pessoais - e, sobretudo, a disseminação de mentiras sobre mim.”
Copiei os dois tuítes acima do twitter de Diego Escosteguy, autor, com o auxílio de colegas, da reportagem de capa da revista VEJA que noticia tráfico de influência na Casa Civil envolvendo a ministra Erenice Guerra e Israel Guerra, seu filho. Como se nota, ele está sendo alvo de um ataque orquestrado, que não poupa nada e ninguém. Ele não se vitimiza, no que faz muito bem, e não serei eu a vitimizá-lo. Até porque certa canalha que hoje patrulha o jornalismo desconhece a alegria de um trabalho bem-feito, rigoroso, ainda que o cerco do oficialismo se arme para tentar desmoralizar quem fez a coisa certa. Conheço Diego muito pouco — estivemos juntos uma ou duas vezes em eventos da Abril. Duvido que esteja assustado com a gritaria. Conta com o apoio e a solidariedade dos profissionais que se prezam. Como disse o jornalista Sandro Vaia em seu twitter, “se Watergate fosse aqui, os culpados seriam Woodward & Bernstein.” Na mosca! Diego continuará a fazer o seu trabalho. Mas a onda que procura atingi-lo não é acidental, fortuita, ocasional: trata-se de um método.
Na segunda à noite, José Dirceu — chamado de “chefe de quadrilha” pela Procuradoria-Geral da República (eu até discordo um pouco porque acho que ele era só um gerentão; o chefe mesmo é outro ) — afirmou em uma palestra a sindicalistas na Bahia que “o problema do Brasil é o monopólio das grandes mídias, o excesso de liberdade e do direito de expressão e da imprensa”.
Depois o PT tentou negar. Isso faz supor que, se eleita, Dilma tentará corrigir essas “falhas”, acabando com o que é chamado estupidamente de “monopólio” e, pois, o “excesso de liberdade e do direito de expressão”.
A história é conhecida: na oposição, os petistas consideravam o trabalho da imprensa essencial para o seu projeto. No poder, ficaram indignados que fossem também eles submetidos à investigação jornalística e que reportagens denunciassem desmandos, irregularidades e incompetências.
O que antes era visto como um serviço de utilidade pública passou a ser considerado um trabalho de sabotagem a mando de supostos golpistas. Não se enganem: os petistas estão organizados para criar mecanismos “legais” para limitar o que Dirceu chama “excesso de liberdade”.
Também mobilizam a fabulosa máquina de recursos publicitários para evidenciar seus amores e ódios, comprando consciências e mantendo uma vasta rede de delinqüência a soldo. Todo mundo sabe onde estão e quem são.
Alguns exibem orgulhosamente o anúncio de estatais.
Terceira frente
Essas duas frentes de ataque são direcionadas primordialmente para as empresas de comunicação. Elas têm como alvo “os patrões da mídia”, para empregar a linguagem chula do arranca-rabo de classes ainda falada pela canalha. Mas é contra os jornalistas, especialmente contra os repórteres, que se arma a teia mais perversa — e muitos, infelizmente, se deixam capturar por ela.
Já disse que não quero debater o caso de Diego Escosteguy em particular — até porque ele sabe se defender e, acima de tudo, se defende com o seu trabalho. Os seus dois tuítes são, reitero, emblemas de um estado de coisas. A vigilante patrulha está sempre armada, pronta a atacar. É o que chamei há muito tempo aqui de “Al Qaeda eletrônica”. Assim que uma reportagem considerada “contra o PT” ou “favorável ao PSDB” é publicada, a máquina entra em ação. Os canalhas ocupam as chamadas redes sociais para o trabalho que, percebe-se, tentaram fazer contra o repórter da VEJA: difamação, agressões pessoais e profissionais, ataques à família. Contam, é verdade — e este é o aspecto mais miserável da história —, com pessoas ligadas, de algum modo à imprensa: geralmente um bando de ressentidos que ou foram banidos da grande imprensa por insuficiência moral ou a ela não conseguiram chegar por insuficiência profissional. Resultado: tornaram-se profissionais da difamação a serviço de um partido e de “uma causa”.
Eu, como poucos, sei do que estou falando. Enquanto escrevo, na madrugada, há 1581 comentários só nos posts com data de ontem — ao longo da terça, publiquei mais de 2 mil. E quase outro tanto foi para o lixo. Por quê? Por mais que vocês imaginem o que chega, não conseguem ter, eu garanto, uma pálida idéia. Se querem saber como a bandidagem se organiza, é só recorrer ao Google para constatar as centenas de páginas criadas com o ânimo exclusivo da ofensa — insisto: essa gente conta com o auxílio de profissionais antigos na arte da pistolagem e do nariz marrom. Mas eu não ligo. Aos 49 anos, não faço questão de agradar nem espero que me “compreendam”. Quem gosta fica, quem não gosta que navegue. E, com efeito, não dou a menor pelota para o que acham a meu respeito. Algumas das melhores pessoas que conheço estão nessa profissão. Mas também há algumas das piores — como acontece com caminhoneiros, padeiros, taxistas… Mais: tenho muitos amigos jornalistas, mas não freqüento a, se me permitem a brincadeira, enfermaria profissional botecos afora.
Também não faço a linha “Reinaldinho-todo-puro”.
Sei que bato duro — ataco opiniões e chamo besteira de besteira, o que alguns consideram ofensa —, e não espero que me poupem de críticas, não. Mas o que chega e o que se espalha por aí nada tem de divergência. Raramente tentam provar que estou errado. Dia desses, um rapaz da Folha entrevistou um blogueiro do PT que, segundo ele, é um exemplo de formosura na Internet porque nem é da turma que acusa os outros de “petralha” — referência óbvia a este escriba — nem é da turma que acusa conspiração da imprensa golpista (aquela do Franklin Martins). Um leitor me mandou o que esse exemplo de grandeza ética escreveu sobre mim em seu blog: “(…) Se o dono da Veja fosse um furúnculo cover da Lady Gaga no suvaco de um zebu nos estertores finais de seu sufocamento por gases internos, ainda seria melhor que o Reinaldo Azevedo.” É o blogueiro que o repórter da Folha recomendou aos leitores do jornal como exemplo de equilíbrio. Ao menos não o recomendou como estilista…
Não é o caso de Diego e de outros jovens repórteres (menos de 49, para mim, é jovem, hehe), mas é claro que muita gente fica assustada e tem medo de cair da rede de maledicência. Muitos repórteres ainda não perceberam que há o mundo real e há esse mundo paralelo criado pela delinqüência; muita gente não percebeu que algumas das coisas escritas nesses ambientes não têm a menor importância. Alguns fazem um tremendo esforço para tentar responder às acusações, lutando para provar que seus juízes estão errados, que o que dizem não é verdade, que as coisas não se dão daquela maneira. Os mais fracos se esforçam — e imagino a excitação da canalha quando isso acontece — para provar que também já fizeram matérias críticas ao PSDB; que não são de direita; que estão alinhados com todos os itens do Decálogo do Bom Progressista… Ao fazê-lo, não se dão conta de que acabaram de ser seqüestrados, de que já não são mais donos da própria pena e que passarão, a partir daí, a ser monitorados “pelo partido”.
Outra categoria
E há, evidentemente, todos sabemos, uma outra categoria, que nada tem a ver com esses honestos, eventualmente assustados e intimidados pela patrulha. Há os jornalistas cujo trabalho se confunde mesmo com o de um apparatchik: ainda que na redação de um grande veículo, fazem questão de evidenciar que o seu compromisso não é com a sua profissão, mas com o que chamam de “justiça” — a “justiça” com marca, a “justiça” do partido. Estes colaboram no trabalho de patrulha.
Caso Dilma vença a eleição, haverá, sim, a tentativa de controlar a imprensa pela via legal e econômica. E essa patrulha vai se exacerbar. Ela tem sido eficiente e tem intimidado muita gente. Mas noto também, aqui e ali, que certas fichas estão caindo. O que antes parecia paranóia desse ou daquele, motivada por suposto alinhamento ideológico ou por afinidades eletivas, começa a se revelar em toda a sua crueza, com todo o seu incrível poder de destruição. É claro que os próprios petistas colaboram para esse começo de desmascaramento da essência autoritária do partido. O escândalo que envolve Erenice Guerra pode ser um marco importante nesse processo. São tantas e tão descaradas as tentativas de criar uma verdade oficial a contrapelo dos fatos e é tão brutal a reação dos fascistóides no trabalho de intimidação que até alguns “neutros”, quase simpatizantes, começaram a sentir ameaçada a própria liberdade. Hoje eles atacam o Diego, o José e a Maria. E amanhã?
Há gente que começa a perceber que é melhor ser livre para poder bater em tucano do que ser livre para só poder elogiar petista.
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