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terça-feira, 14 de setembro de 2010

Apetite do PMDB e saúde de Dilma fazem combinação preocupante


Apetite do PMDB e saúde de Dilma fazem combinação preocupante


Até pelo escândalo das violações de sigilo da filha do candidato José Serra e de vários tucanos, diminuiu o noticiário sobre o quinhão pretendido pelo PMDB num futuro governo Dilma Roussef.

Diminuiu o noticiário, mas não a gula do PMDB, nem a sucessão de conversas entre as duas partes. Diante do ranger de dentes de cardeais petistas, a turma do PMDB já está exibindo a fatura do apoio.

Querem metade de tudo, repartido entre ministérios, cargos gordos em estatais e bancos oficiais, diretorias de agências reguladoras, indicação de ministros dos tribunais superiores – e por aí vai.

Mas não é para estranhar, amigos.

A 13 de junho, quando Dilma, na convenção nacional do PMDB, saudou o presidente do partido, deputado Michel Temer (SP), como seu vice, o PT, ela própria e seu mentor Lula abraçaram uma jibóia faminta e insaciável, acostumada, há décadas, a triturar e digerir aliados – e a querer mais, sempre mais.

Assim, pode não ser agradável, mas é importantíssimo lembrar que Dilma sofreu de uma doença grave, por ora debelada mas que pode voltar.

Nenhuma pessoa de bem, nem os mais ferrenhos adversários ou críticos de Dilma, querem, é claro, que haja recidiva em seu câncer.

Mas pode acontecer, como acaba de ocorrer com o ex-governador de São Paulo Orestes Quércia, que por isso decidiu desistir de sua candidatura ao Senado pelo PMDB.

E também pode acontecer um dia – toc, toc, toc, tomara que não –, o pior.

Em política, o pior nunca deve ser desconsiderado.

E, se acontecer, o PMDB estaria instalado na Presidência.

Sim, o velho PMDB, o partido “deste país” que mais ama a coisa pública.



Dilma Rousseff em 2009, depois do tratamento de quimioterapia ainda usando peruca e, em maio de 2010, durante uma entrevista

Dilma, no recente debate entre candidatos à Presidência promovido pelo UOL, considerou “um pouco deselegante” a pergunta sobre sua saúde feita pelo jornalista Rodrigo Flores, gerente de notícias do portal.

Deselegante coisa nenhuma.

A pergunta era obrigatória: saúde de um candidato à Presidência é assunto de estado, é de alto, fundamental interesse público.

Em democracias maduras, como os Estados Unidos, divulgam-se periodicamente relatos completos sobre o estado físico dos presidentes.

E os candidatos, inclusive ao Congresso e aos governos estaduais, revelam sua ficha médica completa para o público.

Lembremos um caso relativamente recente em que a saúde jogou papel importante na cena política: o então popularíssimo ex-prefeito republicano de Nova York, Rudolph Giuliani, afastou-se da disputa pela candidatura do partido em 2002, em que teria boa chance, quando um exame de rotina diagnosticou-lhe um câncer de próstata.

Muito diferente do que se passa entre nós.

O presidente Juscelino Kubitschek escondeu um enfarte sofrido durante seu mandato (1956-1961).

O “resfriado” que acometeu em agosto de 1969 o marechal-presidente Costa e Silva consistia, na verdade, numa trombose cerebral que resultou na tomada do poder por uma junta militar e em sua morte, três meses depois.

Há outros exemplos, antigos ou recentes.

Ainda agora temos o caso do bravo, do valente vice-presidente José Alencar, submetido desde 2006 a várias cirurgias e sucessivos e desgastantes tratamentos como parte de sua ferrenha luta contra um câncer no abdômen.




José Alencar após receber alta no Hospital Sírio-Libanês, onde foi submetido a mais uma operação contra o cancêr, em 2009

Na antevéspera mesma da posse como vice no segundo mandato de Lula, que se deu a 1º de janeiro de 2007, Alencar, que sofrera 60 dias antes uma segunda cirurgia em quatro meses para combater o mal, se submetera a uma sessão de quimioterapia em Nova York.

Quer dizer, como o primeiro turno da eleição presidencial ocorreu a 2 de outubro de 2006, quase três meses antes se sabia que o vice concorrendo na chapa do presidente era portador de uma doença grave, de incerta perspectiva de cura.

Tanto que Alencar necessitou de várias outras cirurgias e volta e meia retorna à quimioterapia. Por sinal, o vice-presidente precisou ser internado novamente na sexta-feira, devido a um edema pulmonar.

Mas naquela eleição ninguém – nem Lula, nem o próprio Alencar, nem o PT, nem qualquer ministro, assessor ou auxiliar do presidente ou de seu comitê eleitoral – parece ter dedicado um único segundo de atenção a essa circunstância como relevante a ponto de pesar na manutenção ou não de Alencar na chapa presidencial.

Apesar dos méritos e qualidades que Alencar possa ostentar e do respeito notório que merece de Lula, é como se o cargo de vice, e o aspirante a ele, não tivessem a menor importância.

E, no entanto, os americanos, inventores do presidencialismo, costumam dizer, em expressão a um só tempo poética e terrível, que o vice, esquecido a mofar no dia-a-dia da política, está permanentemente a apenas “uma batida de coração” da Presidência.

De fato.

Dos 43 presidentes americanos desde o primeiro, George Washington, nada menos que doze foram vices que acabaram assumindo o cargo em definitivo (e só um deles, Gerald Ford, por renúncia do titular, Richard Nixon, em 1974).

No Brasil, desde os primórdios da nossa tremelicante República temos vivido o que chamei em textos anteriores de “o paradoxo do vice”: o camarada não tem importância nenhuma, até que os insondáveis sortilégios da política ou da vida o fazem ter a suprema importância.

Na República Velha (1889-1930), três vices se efetivaram no cargo.

Na efêmera democracia de 1946 a 1964, dois dos seis presidentes – um terço deles, portanto – foram vices que assumiram, Café Filho (1954-1955) e João Goulart (1961-1964).

E, como todos nós nos lembramos, dos cinco presidentes posteriores à redemocratização de 1985, dois se elegeram como vices, José Sarney (1985-1990) e Itamar Franco (1992-1995).


A conclusão é que precisamos ter mais cuidado na escolha dos vices – e tal cuidado, além de itens como competência técnica, aptidão política e uma série de qualidades adicionais, deve obrigatoriamente incluir a preocupação com o estado de saúde dos candidatos.

Agir de outra maneira, como fizeram Lula e Alencar, configura uma demonstração de falta de transparência e de irresponsabilidade que o país e os cidadãos não deveriam tolerar. Imaginem então quando se trata da escolha do candidato a presidente.

Nessas eleições, nenhum dos três candidatos principais cumpriu a obrigação elementar de esclarecer o público a respeito de tema tão crucial.

José Serra (PSDB) aparentemente não sofre de maiores males, o que não o exime desse dever moral.

Marina Silva (PV) tem notoriamente saúde frágil, e pouco se sabe a respeito.


A Dilma, entretanto, como candidata diagnosticada com doença muito grave há pouco mais de um ano, com a responsabilidade adicional de ser a candidata favorita segundo pesquisas de intenção de voto, incumbe, mais que ninguém, prestar esclarecimentos.


Ela respondeu à pergunta supostamente “deselegante” dizendo estar em ótima forma, tanto é que suporta com galhardia a massacrante maratona de candidata. Sua aparência, de fato, transparece vitalidade.

Mas ela continua devendo a “este país” uma exposição clara, o mais completa possível, sobre seu real estado de saúde.



13/09/2010



Ricardo Setti, novo colunista de Veja.com

Um dos maiores jornalistas brasileiros junta-se hoje ao time de colunistas de Veja.com.

Estudante de direito, Ricardo Setti começou no jornalismo por acaso. Em busca de algum trabalho, acabou na sucursal de Brasília da antiga agência de notícias Interpress.

Na capital federal também passou por emissoras de rádio, pelo Estadão e pelo Jornal da Tarde, onde estava quando foi decretado o AI-5, que fechou o Congresso e instituiu a ditadura sem disfarces.


Na segunda parte da entrevista, que entrará no ar ainda nesta segunda-feira, Setti fala da continuação da carreira em São Paulo e conversa sobre a
coluna que estreia hoje.

Setti escreverá sobre política, temas internacionais, música, cinema, viagens e, claro, sobre as histórias que viveu ao longo da carreira, inclusive no coração do poder.



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