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segunda-feira, 21 de setembro de 2009

Neste Brasil, mestiço e cordial, somos agora todos mesmo de esquerda.



NO BRASIL, TODOS SOMOS DE ESQUERDA!

“A direita apresentar candidato agora é dar
um tiro no pé. A direita está mais feliz
e mais forte do que nunca –
porque faz parte da trupe governante.”

Pedro Porfírio

“Este governo tem façanhas sociais,
mas se transformou numa regressão política.
Está trazendo de volta um patrimonialismo
que já tinha sido superado.”

Francisco Oliveira



Waldo Luís Viana*


          Quando eu era universitário, ainda nos chamados anos de chumbo, a piada corrente dizia que a melhor forma de desmoralizar o comunismo seria implantá-lo no Brasil.

De fato, a nossa esculhambação social é de tal monta que funciona como liquidificador cultural e não serve para a fixação de qualquer ideologia. Para um estrangeiro, essencialmente o país não é para principiantes.

E a célebre e surrada frase atribuída a De Gaulle afirma o quase óbvio: que o Brasil não é país sério. Alguém duvida?

          Mas há os que veem nessa “esculhambose” um sinal de luz e civilização. O nosso desconcerto iluminaria inclusive o desconcerto do mundo. E o país e seu povo ensinariam ao resto da  humanidade a linguagem cordial da alegria, do informalismo nos relacionamentos e da distensão nos espíritos.

          Por isso, a sociedade brasileira é estudada lá fora com o mesmo entusiasmo dos arqueólogos quando analisam os dinossauros. Somos mesmo singulares em quase tudo, sendo ao mesmo tempo objeto de troça e admiração.

          O atual governo e seu mandatário também passam pelo mesmo crivo, porque o conjunto de contradições que norteia a administração petista precisaria até de uma junta médica.

Começamos com um governo neoliberal, na esteira da Carta aos Brasileiros; passamos pela desconstrução das “referências construídas” ou promessas de campanha; pela expulsão e exclusão de companheiros de viagem e dissidentes; pela institucionalização de favores sociais às classes miseráveis em troca de apoio eleitoral e, finalmente, por uma coalização entre o PT e o PMDB que forjou, em nome da governabilidade, a união entre a ideologia petista (leia-se os desejos do Lula) e uma rede patrimonialista de interesses oligárquicos e pós-coloniais de apoio de que jamais se teve notícia.

É realmente a confirmação suprema do “nunca nezte paíze...”


          A engenharia política do governo Lula é, pois, a mais intrincada de que se tem notícia. Falava-se num governo de esquerda, enquanto hoje o ministro da Justiça o denomina “centro progressista”.

Diz-se agora que, por absoluta competência, o presidente dissolveu a direita, ficando a sucessão entregue a candidatos de esquerda. Também ledo engano.


          Jamais a direita esteve tão bem representada do primeiro ao terceiro escalões, misturada à pelegada e aos parasitas insaciáveis, que aparelham o governo e administram para alguns os bons resultados e louros.

          É assim no Brasil: enquanto o governo atual não é o próximo, os espertos e áulicos aplaudem solenemente a administração de Sua Excelência Metalúrgica.

Para eles, o presidente é “um águia” (como já afiançou Delfim Netto) que conseguiu conquistar a “alma” de políticos extraordinários como Paulo Maluf, Orestes Quércia, Jader Barbalho, Fernando Collor, José Sarney e tantos outros iguais e reuniu, em torno de si, os banqueiros da FEBRABAN e os empresários da FIESP.

Esse amálgama é de tal ordem que existe um grupo de empresários que quer fazer de Lula, quando largar o mandato, um embaixador itinerante e candidato a premio Nobel, de tal modo que faça um contraponto ao antecessor, que nos legou apenas  um instituto que canta os próprios feitos em língua inglesa.

Aliás, fora do mandato, Lula, com tal reforço e costas quentes, será mais poderoso até do que no próprio exercício desgastante do cotidiano de governo.


          A direita no Brasil é tão poderosa que nem precisa existir formalmente. Regula quase todos os contratos, municia através de empreiteiros os políticos que requer para manter estratégias e domínios, impede com classe (e como classe) as reformas pra valer e não tem medo das estatizações, ameaçadas pelo presidente, porque detém o domínio das relações privadas com a máquina estatal.

Nesse sentido, as parcerias público-privadas não precisam de regulação, pelo simples fato que no Brasil só existem parcerias público-privadas...


          “Alguns bons idiotas”, porém – como diria Juca Chaves –, não aplaudem o governo e suas medidas. Estão na oposição e sentem falta de uma pauta organizada, ficando a reboque de uma estrutura que pode praticamente tudo, até desmoralizar como golpistas os seus desafetos.

          E a oposição a Lula é de direita? Claro que não.
 

Os que se lhe opõem não tem organização e dinheiro para trabalhar, porque o capital só assume compromissos com quem o reproduz e este não é o caso. Direita sem capital, aliás, não é direita, é esquerda ou loucura...

          Vê-se claramente que se institui entre nós a pura insanidade.

Temos um governo autoproclamado de esquerda, que conquistou a facção mais atrasada e patrimonialista da Terra de Vera Cruz, confortavelmente aboletada nos cargos e no manejo de recompensas.

Por outro lado, alguns operadores da dita oposição, de origem e currículo esquerdistas, são tachados de golpistas e moralistas tacanhos, brandindo argumentos éticos sem sorte diante da triunfante orgia petista.


          Explicar a um estrangeiro essas sutilezas provocará boas risadas e até incredulidade. Dizer que neste país os partidos não valem e que o povo escolhe de acordo com os seus donos e interesses; que algumas leis pegam e outras não e que somos os melhores do mundo em várias coisas, inclusive na desigualdade de rendas, nos juros mais altos e no apartheid entre as classes – gera admiração e repúdio, dois sentimentos díspares que sempre cercam o estudo da realidade brasileira.

          Assim, sabermos que a sucessão presidencial dar-se-á somente entre candidatos de esquerda não é uma constatação descabida.

Neste Brasil, mestiço e cordial, somos agora todos mesmo de esquerda. Inclusive eu...

___________


*Waldo Luís Viana é escritor, economista, poeta e procura se acostumar à pecha de esquerdista...


1 comentários:

Anônimo disse...

Arqueólogos não estudam fósseis, muito menos de dinossauros. Paleontólogos fazem isso.

#anta