"Só tupiniquim usa tese falida do Estado mínimo", diz Dilma
Para ministra, quem defende mercado como solução para tudo está "contra a realidade'
Petista diz que Lula "não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista", mas aceita rótulo de que governo é "nacionalista e estatizante"
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, escolhida pelo presidente Lula para ser candidata à sua sucessão, disse em entrevista a Valdo Cruz que o Estado mínimo é "tese falida":
"Ninguém aplica, só os tupiniquins".
Para Dilma, quem defende que o mercado resolve tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade".
A ministra nega, porém, que o governo tenha agido de modo intervencionista ao longo do segundo mandato.
Para ministra, quem defende mercado como solução para tudo está "contra a realidade'
Petista diz que Lula "não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista", mas aceita rótulo de que governo é "nacionalista e estatizante"
A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, escolhida pelo presidente Lula para ser candidata à sua sucessão, disse em entrevista a Valdo Cruz que o Estado mínimo é "tese falida":
"Ninguém aplica, só os tupiniquins".
Para Dilma, quem defende que o mercado resolve tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade".
A ministra nega, porém, que o governo tenha agido de modo intervencionista ao longo do segundo mandato.
VALDO CRUZ
Folha
Folha
Candidata à Presidência em 2010, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) diz que o Estado mínimo é uma "tese falida", que "só os tupiniquins" aplicam.
Em sua opinião, quem defendia que o mercado solucionava tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade".
Principal auxiliar do presidente Lula, escolhida por ele para ser a candidata à sua sucessão, Dilma sai em defesa do chefe diante das críticas de que ele adotou uma política "intervencionista e estatizante".
"Os empresários podem falar o que quiserem, que é democrático. O presidente da República não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista.
Diríamos assim, não é justo", protestou Dilma, num tom exaltado, em entrevista à Folha, na última quinta-feira, em seu gabinete, todo ornamentado com imagens de santos.
Diríamos assim, não é justo", protestou Dilma, num tom exaltado, em entrevista à Folha, na última quinta-feira, em seu gabinete, todo ornamentado com imagens de santos.
Bem-humorada, a ministra afirmou não aceitar a pecha de "intervencionista", mas não escondeu o sorriso ao dizer que "aceita" e "concorda" que o governo Lula seja classificado de nacionalista e estatizante.
"Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota" ou "que história é essa de nacionalista ser xingamento?" foram algumas de suas frases, sinalizando o tom que os petistas devem usar na disputa de 2010.
Apesar de refutar a classificação de intervencionista, ela, a exemplo de Lula, cobra da Vale, uma empresa privada, maior compromisso com o país.
"É uma empresa privada delicada", que não pode sair por aí "explorando recursos naturais do país e não devolver nada".
FOLHA - O ex-presidente FHC disse que é preciso fazer um país mais aberto, não ter uma pessoa só que manda, porque hoje parece que o Brasil depende de um homem só. O que a sra. acha?
DILMA ROUSSEFF - A quem ele está se referindo?
DILMA ROUSSEFF - A quem ele está se referindo?
FOLHA - Ao presidente Lula.
DILMA - Se você acha isso, eu não tenho certeza. Se tem um presidente democrático, é o presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está mandar algumas coisas. Por exemplo, fazer o Bolsa Família. Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a taxa de inflação.
DILMA - Se você acha isso, eu não tenho certeza. Se tem um presidente democrático, é o presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está mandar algumas coisas. Por exemplo, fazer o Bolsa Família. Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a taxa de inflação.
FOLHA - A declaração de FHC embute a análise de que no governo Lula houve uma maior intervenção na economia, nas estatais, na vida das empresas.
DILMA - Tinha gente torcendo para ficarmos de braços cruzados na crise.
Diziam: "o governo Lula sempre deu certo, mas nunca enfrentou uma crise internacional". Apareceu a maior crise dos últimos tempos, que estamos superando. Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.
DILMA - Tinha gente torcendo para ficarmos de braços cruzados na crise.
Diziam: "o governo Lula sempre deu certo, mas nunca enfrentou uma crise internacional". Apareceu a maior crise dos últimos tempos, que estamos superando. Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.
FOLHA - Pela declaração do ex-presidente, a sra. avalia que eles não teriam seguido a mesma receita de vocês nessa crise?
DILMA - Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar. Agora, os que apostam e ficam numa discussão, que, além de enfadonha, é estéril, de que há uma oposição entre iniciativa privada e governo, gostam de discussão fundamentalista. É primário ficar nessa discussão de que o governo, para não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não se interessa por resolver as questões da pobreza nem do desenvolvimento econômico.
DILMA - Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar. Agora, os que apostam e ficam numa discussão, que, além de enfadonha, é estéril, de que há uma oposição entre iniciativa privada e governo, gostam de discussão fundamentalista. É primário ficar nessa discussão de que o governo, para não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não se interessa por resolver as questões da pobreza nem do desenvolvimento econômico.
FOLHA - Essa maior interferência do governo não levou a uma visão
estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?
DILMA - As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?
estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?
DILMA - As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?
FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?
DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.
DILMA - Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.
FOLHA - Intervencionista?
DILMA - Não somos.
DILMA - Não somos.
FOLHA - Mas eleitoreiro?
DILMA - Não. Sabemos que quem não tem projeto vai achar tudo eleitoreiro.
DILMA - Não. Sabemos que quem não tem projeto vai achar tudo eleitoreiro.
FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale, não é uma ingerência indevida?
DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.
DILMA - Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.
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