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domingo, 20 de setembro de 2009

"Só tupiniquim usa tese falida do Estado mínimo", diz Dilma



"Só tupiniquim usa tese falida do Estado mínimo", diz Dilma

Para ministra, quem defende mercado como solução para tudo está "contra a realidade'

Petista diz que Lula "não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista", mas aceita rótulo de que governo é "nacionalista e estatizante"

A ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, escolhida pelo presidente Lula para ser candidata à sua sucessão, disse em entrevista a Valdo Cruz que o Estado mínimo é "tese falida":

"Ninguém aplica, só os tupiniquins".

Para Dilma, quem defende que o mercado resolve tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade".

A ministra nega, porém, que o governo tenha agido de modo intervencionista ao longo do segundo mandato. 

VALDO CRUZ
Folha


Candidata à Presidência em 2010, a ministra Dilma Rousseff (Casa Civil) diz que o Estado mínimo é uma "tese falida", que "só os tupiniquins" aplicam. 

Em sua opinião, quem defendia que o mercado solucionava tudo "está contra a corrente" e "contra a realidade".

Principal auxiliar do presidente Lula, escolhida por ele para ser a candidata à sua sucessão, Dilma sai em defesa do chefe diante das críticas de que ele adotou uma política "intervencionista e estatizante".

"Os empresários podem falar o que quiserem, que é democrático. O presidente da República não pode dar uma opiniãozinha que é intervencionista.

Diríamos assim, não é justo", protestou Dilma, num tom exaltado, em entrevista à Folha, na última quinta-feira, em seu gabinete, todo ornamentado com imagens de santos. 


Bem-humorada, a ministra afirmou não aceitar a pecha de "intervencionista", mas não escondeu o sorriso ao dizer que "aceita" e "concorda" que o governo Lula seja classificado de nacionalista e estatizante.

"Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota" ou "que história é essa de nacionalista ser xingamento?" foram algumas de suas frases, sinalizando o tom que os petistas devem usar na disputa de 2010.

Apesar de refutar a classificação de intervencionista, ela, a exemplo de Lula, cobra da Vale, uma empresa privada, maior compromisso com o país.

"É uma empresa privada delicada", que não pode sair por aí "explorando recursos naturais do país e não devolver nada".



 
FOLHA - O ex-presidente FHC disse que é preciso fazer um país mais aberto, não ter uma pessoa só que manda, porque hoje parece que o Brasil depende de um homem só. O que a sra. acha?

DILMA ROUSSEFF
- A quem ele está se referindo?


FOLHA - Ao presidente Lula.

DILMA
- Se você acha isso, eu não tenho certeza. Se tem um presidente democrático, é o presidente Lula. Agora, ele jamais abrirá mão de suas obrigações. Entre as obrigações está mandar algumas coisas. Por exemplo, fazer o Bolsa Família. Ele mandou que não fizéssemos aventura nenhuma com a taxa de inflação.


FOLHA - A declaração de FHC embute a análise de que no governo Lula houve uma maior intervenção na economia, nas estatais, na vida das empresas.

DILMA
- Tinha gente torcendo para ficarmos de braços cruzados na crise.
Diziam: "o governo Lula sempre deu certo, mas nunca enfrentou uma crise internacional". Apareceu a maior crise dos últimos tempos, que estamos superando. Eu acho que quem defendia que o mercado solucionava tudo, o mercado provê, é capaz de legislar e garantir, está contra a corrente e contra a realidade. O que se viu no mundo nos últimos tempos é que a tese do Estado mínimo é uma tese falida, ninguém aplica, só os tupiniquins. Nós somos extremamente a favor do Estado que induz o crescimento, o desenvolvimento, que planeja.


FOLHA - Pela declaração do ex-presidente, a sra. avalia que eles não teriam seguido a mesma receita de vocês nessa crise?

DILMA
- Eu não gosto de polemizar com um presidente, porque ele tem outro patamar. Agora, os que apostam e ficam numa discussão, que, além de enfadonha, é estéril, de que há uma oposição entre iniciativa privada e governo, gostam de discussão fundamentalista. É primário ficar nessa discussão de que o governo, para não ser chamado de intervencionista, seja um governo omisso, de braços cruzados, que não se interessa por resolver as questões da pobreza nem do desenvolvimento econômico.


FOLHA - Essa maior interferência do governo não levou a uma visão
estatizante da economia e a um discurso eleitoreiro, como no pré-sal?

DILMA
- As acusações são eleitoreiro, estatizante, intervencionista e nacionalista. Tem algumas que a gente aceita. Nacionalista a gente aceita. Esse país não pode ter vergonha mais de ser patriota. Eu não vi um americano ter vergonha de ser patriota, nunca vi um francês. Que história é essa de nacionalista ser xingamento?


FOLHA - Nacionalista vocês aceitam. E estatizante?

DILMA
- Se é o aumento da capacidade de planejar o país, de ter parcerias com o setor privado, de o Estado ter se tornado o indutor do desenvolvimento, concordo.


FOLHA - Intervencionista?

DILMA
- Não somos.


FOLHA - Mas eleitoreiro?

DILMA
- Não. Sabemos que quem não tem projeto vai achar tudo eleitoreiro.


FOLHA - Quando o presidente pressiona um dirigente de empresa privada, como Roger Agnelli, da Vale, não é uma ingerência indevida?

DILMA
- Você acha certo exportar minério de ferro e importar produtos siderúrgicos? Ela é uma empresa privada delicada. Porque ela está explorando recursos naturais do Brasil. Você não pode sair por aí explorando os recursos naturais e não devolver nada. O presidente ficou chocado com empresas que demitiram bastante na crise sem ter consideração pelos empregos do país.


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