Apertem os cintos, vem aí mais um manifesto de intelectuais. Como se sabe, intelectuais gostam de miséria – já dizia o filósofo Joãosinho Trinta. Dessa vez eles capricharam.
O manifesto em apoio a Dilma Rousseff, encabeçado por Chico Buarque de Hollanda, compara os simpatizantes da oposição aos conspiradores do golpe de 64. Barra pesada.
Mas faz sentido. Não tem a menor graça soltar um manifesto à nação sem umas pinceladas épicas. Qual seria o impacto de defender a eleição de Dilma para que gerentes da Petrobras possam continuar convocando comícios pelo email da estatal?
Soaria pequeno-burgês. Ou pequeno-fisiológico. Nessas horas, é preciso grandeza. É preciso mostrar ao povo que o país estará em perigo se não eleger a madrinha de Erenice e sua grande família.
Não há a menor dúvida de que Chico Buarque é do bem, e está se manifestando de coração. O problema é o nível de abstração. Os gênios se confundem com os movimentos rasteiros da política. Do alto de sua poesia, Chico talvez esteja enxergando o bem onde ele já não está.
É o problema do alinhamento automático. Se tem a etiqueta da esquerda, é bom. Foi assim que muita gente boa naufragou no pesadelo soviético, sonhando com a Revolução Russa.
O tal manifesto intelectual pede o socorro dos brasileiros a Dilma Rousseff, apresentando-a como a próxima vítima da elite burguesa. Situa a candidata providencial do PT numa linhagem política que passa por Lula e vai até Getúlio Vargas. É o romantismo tarja preta.
Os historiadores do futuro certamente estudarão os governos Fernando Henrique e Lula como um período único. A redução da pobreza começa com a estabilização monetária, que dá poder de compra ao povo, e evolui com a ampliação dos programas sociais. É uma bela obra, hoje amesquinhada pelo Fla-Flu ideológico.
Os intelectuais gostam de miséria e detestam nuance. Quase todos os homens do presidente operário (e mulheres também) caíram em desgraça por vampirizar o Estado.
Essa turma continua, à sombra de Dilma, montando planos obscenos de controle da cultura e da mídia como projeto de poder. Mas se a imprensa mostra, é tentativa de golpe contra o governo popular.
Preste atenção, Chico.
A não ser que você queira voltar a ser o Julinho da Adelaide.
dom , 17/10/2010
2 comentários:
Adoro o Guilherme Fiuza, mesmo não concordando, às vezes, com algumas coisas que ele escreve. Esse post, entretanto, me causa um grande estranhamento. Ele fala de intelectuais, como se não fosse um deles. Tudo bem, ele ser contra o apoio à Dilma, também o sou. Mas dessa vez, não foi feliz com o comentário, ou melhor, com a postura que assume para fazê-lo. Será que a badalação e o namorico com a Narciza Tamborindeguy já subiu à cabeça e meu admirado jornalista já se enquadra no grupo da elite carioca? Tá se iludindo com as festas da high society que tem frequentado. Sai dessa, Fiuza....chega de vida de cinderela; volta pro teu mundo real, continua sendo intelectual,continua com tua crítica ácida e lúcida de grande escritor e jornalista que é... vida de socialite não encaixa com vc.
Talvez o pobre Chico tenha seu 'esforço' inutilizado. A grande parte dos eleitores que votam na candidata do PT, mesmo sem saber quem ela é, talvez nem saibam também quem é ele.
Seria bom pedir ajuda aos cantores de música funk.
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