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terça-feira, 19 de outubro de 2010

Por que os patriotas e moralistas do PT me encantam.

Ou: A Farsa dos panfletos
Ou: A mentira da coletiva do PT engolida por jornalistas

José Eduardo Cardozo, secretário-geral do PT, é aquele senhor de ar, se me permitem o neologismo, “serioso”, expressão de um dito “petismo ético” (é curioso que eles próprios admitam a suposta existência de um grupo assim…), que costuma aparecer ao lado de Dilma Rousseff nas entrevistas.

Ele concedeu hoje uma entrevista coletiva para “denunciar” algo gravíssimo, seríssimo, importantíssimo — que já tinha virado matéria da Folha.

A irmã do coordenador de infraestrutura da campanha de Serra, Sérgio Kobayashi, é sócia da gráfica Pana, que imprimia o “Apelo a Todos os Brasileiros”, a mensagem em que católicos pedem que os fiéis não votem em candidatos que apóiem a descriminação do aborto.

Era uma encomenda da Mitra Diocesana de Guarulhos.

O TSE concedeu uma liminar que permitiu à Polícia Federal recolher o material.

Cardozo está tocado pelos mais nobres sentimentos cívicos e legalistas.

Tanto é que concedeu uma coletiva em que uma MENTIRA foi passada aos jornalistas como se verdade fosse.

Afirmou-se que Paulo Ogawa, que trabalha na gráfica Pana, era funcionário do Ministério da Saúde na gestão Serra.

Bem, trata-se de uma mentira.


Agora, 22h39, a informação ainda está, por exemplo, no Estadão Online, onde foi publicada às 17h56.

É um homônimo.


E o jornalismo tem como saber disso. Estamos na fase do “declaracionismo”: O Fulano A diz que o Fulano B fez tal coisa. O Fulano B nega. E a imprensa com isso? Ora, registra as duas coisas e pronto!

O PT tenta “escandalizar” o nada!

A Diocese de Guarulhos encomenda o impresso que quiser para dar instruções aos católicos. O que o moralista Cardozo deveria explicar é a impressão de material da CUT em defesa, aí sim explícita, da candidata Dilma Rousseff.

O comportamento da Igreja não é interditado pela Lei Eleitoral — por enquanto, prevalece a interpretação de um ministro do TSE, em caráter liminar —, já o da CUT é indubitavelmente ilegal.

O impresso encomendado pela Igreja é tratado como escândalo porque uma tucana é sócia da gráfica que o imprimiu; já o material da CUT, bem, é noticiado como coisa corriqueira.

Afinal, parece tão natural que uma central sindical apóie materialmente o PT não é mesmo?, ainda que isso seja proibido por lei…

Só para encerrar: caso Dilma seja eleita, Cardozo é candidato a ministro da Justiça.

A gente vê que está se preparando bem para eventualmente ocupar o cargo.

A primeira vítima de sua entrevista coletiva desta tarde foi a verdade.

A segunda, tudo indica, é a liberdade religiosa, ou a Igreja Universal é livre para imprimir panfletos em favor de Dilma, mas um setor da Igreja Católica não o é para pedir um voto contra o aborto?
18.10.2010

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