Nem tudo está esclarecido na Receita
(O Globo - Editorial)
Desde a primeira notícia sobre a circulação de informações confidenciais sobre Eduardo Jorge Caldas Pereira, vice-presidente do PSDB, em escritório da campanha de Dilma Rousseff em Brasília, era aposta infalível supor a participação no crime de esquemas sindicais petistas aparelhados dentro do Estado.
A primeira reportagem com a denúncia, da “Folha de S.Paulo”, deflagrou na Receita e no governo manobras protelatórias.
Tomada a medida burocrática de abertura de sindicância, o órgão oficial tratou de ganhar tempo à espera do primeiro turno.
Vitoriosa Dilma, estrategistas brasilienses deviam esperar que ficaria mais fácil jogar tudo para debaixo do tapete, com rapidez.
Coincidência ou não, em seguida à confirmação de que a candidata de Lula, apoiada pela máquina sindical, teria de enfrentar um segundo turno contra o tucano José Serra, a Receita divulgou a conclusão da sindicância em Formiga, cidade do interior de Minas, em que o analista tributário Gilberto Souza Amarante, petista de carteirinha, alegara ter acessado dados de Eduardo Jorge nos computadores da Receita por simples engano, ao buscar arquivos de um “homônimo” do tucano.
Mentira, segundo a auditoria.
O número e o tipo de acessos, inclusive a informações cadastrais de três empresas mantidas por Eduardo Jorge, e o fato de tudo ter sido feito sem qualquer necessidade funcional comprovam o crime, cometido por evidente motivação político-eleitoral.
Subordinada à Fazenda, cujo ministro, Guido Mantega, é antigo militante petista, tão engajado na campanha de Dilma a ponto de perfilar-se ao lado da candidata enquanto ela fazia o primeiro pronunciamento após confirmado o segundo turno, a Receita tentou, no início, explicar o roubo de informações fiscais como uma ação de criminosos comuns.
Ora, militantes comuns podem conviver com delinquentes políticos no mesmo balcão de negócios.
E até serem parceiros.
As investigações em Formiga, a possibilidade de o militante ser demitido e medidas tomadas pela Receita para aumentar o controle nos acessos a seus arquivos não encerram o caso.
Falta jogar luz ainda nas delegacias da Receita em Mauá e Santo André, municípios paulistas onde também houve o acesso criminoso a informações da filha do candidato tucano Serra, Verônica, do marido dela e outros tucanos.
Assim como 2006 foi marcado pelos aloprados, 2010 carregará o registro de ataques ao direito à privacidade feitos por aparelhos lulopetistas infiltrados na máquina burocrática.
A ação desses aparelhos é detectada desde a CPI do Collor. Mas, naquele tempo, o grande “inimigo comum” eram PC Farias e seu chefe.
A própria imprensa se beneficiava dos vazamentos, com acesso a contas bancárias e dados fiscais de PC e fantasmas.
Os ventos políticos mudaram de rumo, as redações profissionais azeitaram os controles e robusteceram padrões éticos, enquanto esses aparelhos, com Lula e companheirada no poder, ganharam músculos e autonomia.
Não importa qual o próximo presidente. O Estado brasileiro precisa recuperar o controle de áreas sensíveis (arquivos de bancos públicos, Receita, etc.).
Assim como no Rio o poder público retoma territórios controlados pelo tráfico, no nível federal o mesmo precisa ocorrer na máquina burocrática, parte dela dominada por esquemas político-sindicais.
Aqui.
06/10/2010
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